Inteligência competitiva: suporte às decisões
Carlos Schneider: uma vida pela inovação
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empreendedor – DEScaminhO DAs CARGAs – ANO 15 N o 173 MARÇO 2009
IS SN 1414-0 152
ANO 15 N o 173 MARÇO 2009
Descaminho das cargas Falta de infraestrutura eficiente de transportes que permita operações intermodais aumenta os custos de logística e diminui a competitividade dos produtos nacionais Gina Paladino, da Finep: PEQUENAS EMPRESAS SÃO BEM-VISTAS PELAS AGÊNCIAS DE FOMENTO
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N E S TA E D I Ç Ã O
18 O DESAFIO DA CARGA A melhor estratégia logística para diminuir os custos do transporte de cargas é a intermodalidade – uso integrado de cada modal (ferroviário, aquaviário, rodoviário e aeroviário) mais adequado ao tipo de produto e destino. No entanto, a infraestrutura deficiente e irracional desfavorece a integração, colocando o País em desvantagem no comércio internacional, além de submeter o próprio consumidor a produtos mais caros.
34 | CRISE Economia na rede
Na hora de contabilizar e rever custos, a área de TI das empresas é cada vez mais estratégica. Serviços que reduzem gastos com transferência de dados entre computadores, telefonia e energia podem fazer a diferença na conta final.
38 | RESPONSABILIDADE Negócio especial
Empreendedorismo também é uma forma de inclusão social de portadores de necessidades especiais. Um belo exemplo é o programa de capacitação criado pela Unilehu, em parceria com a FGV, que já proporcionou o surgimento de vários negócios.
40 | GESTÃO Direto ao ponto
Sistemas de Inteligência Competitiva são vitais para a permanência de uma empresa no mercado. Eles são baseados na coleta, análise e disseminação de dados realmente úteis dentro de um verdadeiro oceano de informações como auxílio à tomada de decisões.
44 | CRÉDITO Sem reembolso
PHOTOSTOGO
empreendedor | março 2009
Empresas brasileiras com projetos inovadores têm até 27 de março para se candidatar aos recursos da chamada pública do Programa de Subvenção Econômica 2009 da Finep. Ao todo, serão disponibilizados R$ 450 milhões.
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62 | FRANQUIA Espaço multiuso
As cafeterias transformaram-se de simples estabelecimentos para se tomar um cafezinho (ainda que especial) em verdadeiros centros multiuso, com cardápio para diferentes situações, revistaria e espaço lounge, além de facilidades como internet wireless.
JOÃO LUIZ RIBEIRO/DIVULGAÇÃO
12 | ENTREVISTA Gina Paladino
O superintendente de Pequenas Empresas Inovadoras da Finep ressalta a importância do País ter uma política de financiamento da inovação nas empresas devido ao retorno ampliado e com benefícios para toda a sociedade.
54 | A VOZ DA EXPERIÊNCIA Carlos Alberto Schneider
58 | TI Sob controle
Hoje é perfeitamente possível que alguém entre na sua empresa e roube dados sigilosos sem passar pela portaria, usando apenas um PC. Por isso cresce a demanda por serviços de proteção e monitoramento de redes, o que também ajuda a aumentar a produtividade.
L E I A TA M B É M 8 16 52 70 74
EMPREENDEDORES NÃO DURMA NO PONTO PEQUENAS NOTÁVEIS PRODUTOS E SERVIÇOS LEITURA
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DINÂMICA EMPREENDEDORA AGENDA ANÁLISE ECONÔMICA E-EMPREENDEDOR
48 PERFIL Jae Ho Lee
A partir de um trabalho de faculdade, o coreano ergueu o Grupo Ornatus, já eleito “Melhor Franqueador” pela ABF e que cresce em média 30% ao ano. A receita, segundo ele, é que as três marcas foram criadas sob medida para o franchising.
empreendedor | março 2009
PHOTOSTOGO
O professor da UFSC e superintendente da Fundação Certi trabalha todos os dias das 7h às 23h e acha tudo um hobby, pois a maioria das coisas é muito interessante para ele. Seu ramo: inovação e empreendedorismo.
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EDITORIAL A Revista Empreendedor é uma publicação da Editora Empreendedor Diretor-Editor: Acari Amorim [acari@empreendedor.com.br] Diretor de Comercialização e Marketing: Geraldo Nilson de Azevedo [geraldo@empreendedor.com.br] Redação Editor-Executivo: Alexsandro Vanin [vanin@ empreendedor.com.br] – Co-edição: Francis França – Repórteres: Andréia Seganfredo, Cléia Schmitz, Diogo Honorato, Francis França e Mônica Pupo – Edição de Arte: Gustavo Cabral Vaz – Projeto Gráfico: Oscar Rivas – Fotografia: Arquivo Empreendedor, Casa da Photo e PhotosToGo – Foto da capa: PhotosToGo – Revisão: Lu Coelho Sedes
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empreendedor | março 2009
odovias esburacadas, voos atrasados, portos assoreados, ferrovias inexistentes, praticamente sem pontos de integração entre os diferentes sistemas viários. Grosso modo, esse é um retrato da infraestrutura de transportes nacional, que se agrava ainda mais pelo desequilíbrio que gera na matriz de movimentação de cargas do Brasil, excessivamente concentrada no modal rodoviário. Chega a ser ridículo para um país de área continental, com rios navegáveis e uma costa de aproximadamente 7,5 mil quilômetros. Diante de tantos obstáculos, é um verdadeiro desafio levar os itens de uma indústria ou plantação até o ponto-devenda ou de exportação. Impedidas de buscar uma solução logística mais adequada ao tipo de carga e destino, baseada em operações multimodais, as empresas veem seus gastos aumentarem e os produtos perderem competitividade no mercado internacional, além de submeter o próprio consumidor brasileiro a preços mais altos. Segundo estudo do Banco Mundial, os custos logísticos representam 20% do PIB do Brasil, sendo que o transporte de cargas
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responde por um terço do montante. Se houvesse um equilíbrio na matriz que permitisse o uso racional de cada modal, a economia poderia chegar a US$ 2,5 bilhões por ano. O impacto, segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento, seria equivalente à derrubada das tão contestadas taxas de importação cobradas pelos países desenvolvidos. Propostas para corrigir este grave problema existem aos montes, inclusive do governo – que dificilmente tira elas do papel ou, quando o faz, o seguinte não dá continuidade. Na reportagem de capa desta edição, apurada pela equipe de redação da Revista Empreendedor, entidades da área de logística e transporte (e também de setores da economia), empresas usuárias e prestadoras de serviços, e inclusive o governo, apontam quais os caminhos a seguir e os investimentos necessários para trilhá-los. Também é levantado para que tipo de carga e trajeto cada modal é mais indicado, e a importância do planejamento de operações intermodais para levar as cargas da porta do produtor à porta do varejo.
CEDOC
Alexsandro Vanin
O Centro de Documentação (Cedoc) da Editora Empreendedor disponibiliza aos interessados fotos e ilustrações que compõem o nosso banco de dados. Para mais informações, favor entrar em contato pelo telefone (48) 2106-8666 ou pelo e-mail imagem@empreendedor.com.br
São Paulo Gerente Comercial: Fernando Sant’Anna Borba – Executivos de Contas: Ana Carolina Canton de Lima e Osmar Escada Jr – Rua Sabará, 566 – 9º andar – conjunto 92 – Higienópolis – 01239-010 – São Paulo – SP – Fone: (11) 3214-1020 [empreendedorsp@empreendedor.com.br] Florianópolis Executivos de Contas: Nelson Rosa [nelson@empreendedor.com.br] – Executiva de Atendimento: Kerlly Corrêa [kerlly@empreendedor.com.br] – Av. Osmar Cunha, 183 – Ed. Ceisa Center – bloco C – 9º andar – 88015-900 – Centro – Florianópolis – SC – Fone: (48) 2106-8666 Escritórios Regionais Rio de Janeiro Triunvirato Desenvolvimento Empresarial Ltda – Milla de Souza [triunvirato@triunvirato.com.br] – Rua São José, 40 – sala 31 – 3º andar – Centro – 20010-020 – Rio de Janeiro – RJ – Fone: (21) 3231-9017 Brasília Ulysses C. B. Cava [ulyssescava@gmail.com] – Fone: (61) 3963-7732/9975-6660 – CLSW 301 – Bloco C – Loja 62 – Sudoeste – 70673-603 – Brasília – Distrito Federal Paraná Merconeti Representação de Veículos de Comunicação Ltda – Ricardo Takiguti [ricardo@merconeti.com.br] – Rua Dep. Atílio Almeida Barbosa, 76 – conjunto 1 – Boa Vista – 82560-460 – Curitiba – PR – Fone: (41) 3079-4666 Rio Grande do Sul Alberto Gomes Camargo [ag_camargo@terra.com.br] – Rua Arnaldo Balvê, 210 – Jardim Itu – 91380-010 – Porto Alegre – RS – Fone: (51) 3340-9116 Pernambuco HM Consultoria em Varejo Ltda – Hamilton Marcondes [hmconsultoria@hmconsultoria.com.br] – Rua Ribeiro de Brito, 1111 – conjunto 605 – Boa Viagem – 51021310 – Recife – PE – Fone: (81) 3327-3384 Minas Gerais SBF Representações – Sérgio Bernardes de Faria [comercial@sbfpublicidade.com.br] – Av. Getúlio Vargas, 1300 – 17º andar – conjunto 1704 – 30112-021 – Belo Horizonte – MG – Fone: (31) 2125-2900 Assinaturas Serviço de Atendimento ao Assinante – Diretor: Ronaldo Cesar Pacheco – Fone: 0800-9797979 – [assine@ empreendedor.com.br] – O valor da assinatura anual (12 edições mensais) é de R$ 118,80. Aproveite a promoção especial e receba um desconto de 20%, pagando somente R$ 95,04. Estamos à sua disposição de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h30. Produção Gráfica Impressão e Acabamento: Coan Gráfica Editora CTP – Distribuição: Distribuidora Magazine Express de Publicações Ltda – São Paulo Empreendedor.com http://www.empreendedor.com.br
CASA DA PHOTO
C A RTA S Valor humano
Os colaboradores não podem mais ser tratados como recurso, e sim como pessoas que geram resultados para a empresa. Este é um grande diferencial. (“Fator RH”, por Diogo Honorato, publicada na edição de janeiro) Gisele Paula
No perfil de Sônia Regina Hess de Souza, presidente da Dudalina (publicado na edição de fevereiro), erramos o nome do marido da empresária. O correto é João Miranda de Souza Júnior.
Parabéns pela matéria. Além de oportuna, foi expressada com muita propriedade. Heloíso Machado
Na mesma matéria, dissemos que a unidade da Dudalina em Luiz Alves produz camisas e t-shirts em malha. A fábrica produz apenas camisas.
Parabéns à Promac. Esse é um exemplo a ser seguido também nas empresas familiares de médio porte. Helcio José Figueira
Solução natural
Parabéns pela iniciativa, não só empreendora mas ambientalmente correta. Sou gerente operacional de uma grande empresa de limpeza e gostaria de mais informações a respeito dos produtos focados em limpeza profissional. Denilson Márcio Rodrigues
Carta do Mês Persistência Parabéns, Célio (“Professor Aprendiz”, por Andréa da Luz, publicada na edição de setembro de 2008). A sua persistência mostrou que um sonho se torna realidade quando se busca conhecimento e planejamento. Junior Moreira
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ERRATA Na matéria “Traços valiosos” (publicada na edição de janeiro) o telefone correto da empresa Centro de Design Paraná é 3018-7332.
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EMPREENDEDORES
Marcelo Checon
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TALENTO NATO
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Há apenas quatro anos no mercado, a empresa de Marcelo Checon já é considerada no setor de eventos uma das cinco maiores em montagem de estandes e cenografia. Aos 31 anos, o empresário comemora o sucesso, incentivado em casa: “Meu pai foi diretor durante muitos anos da CBL (Câmara Brasileira do Livro) e me convidou para ser fiscal durante a montagem de estandes da Bienal do Livro. Topei na hora e me apaixonei pela loucura do setor de eventos”, conta. A MChecon acaba de fechar parceria com o Hotel Mercure de Salvador, da rede Accor Hotels, de 2009 a 2014 para realização do evento Concept Hotel by Mercure.
(11) 3603-7449
Samuel Ferreira Fernandes
BOM COMEÇO A Aroma do Campo recebeu 2009 em ritmo de expansão, com a compra da cosméticos Vita-A, em janeiro. Fundada há 22 anos, a empresa tem forte participação no mercado de henê e tioglicolato e optou pela aquisição da Vita-A para ampliar a presença no mercado cosmético de tratamento capilar. Segundo o diretor de marketing Samuel Ferreira Fernandes, para manter a competitividade diante da crise a empresa decidiu investir em recursos humanos, novas tecnologias e preocupação com o meio ambiente. 0800 217271 www.aromadocampo.com.br
DIVULGAÇÃO/ALI KARAKAS
Fernanda Lancellotti e Marcelle Comi
CARDÁPIO DE IDEIAS A Dreams Arquitetura de Idéias, agência especializada na criação e produção de gifts corporativos e promocionais, comemora os resultados de 2008: 60% de crescimento e a indicação entre os finalistas do 2º Prêmio Empreendedor de Sucesso. Em 2009, as sócias Fernanda Lancellotti e Marcelle Comi vão oferecer novos serviços como Planejamento Estratégico em Gifting, catálogos com pronta-entrega de ideias em brindes e presentes, e newsletters com propostas temáticas de brindes para ajudar os assinantes em datas comemorativas.
www.dreamsideias.com.br
Gustavo Guimarães
A Dínamo Filmes anuncia a chegada do diretor Gustavo Guimarães, que passa a compor a equipe ao lado dos diretores Edu Cama, Ricardo Carelli, Marcus Baldini e Paulo Gandra. Gus, como é conhecido, trabalhou durante 13 anos no departamento de criação da MTV Brasil, onde foi um dos criadores da série de sucesso de humor Hermes e Renato, além de
criar e produzir vinhetas de prevenção à Aids, cidadania, meio ambiente e antiviolência. A Dínamo Filmes é responsável pela criação de filmes finalistas no Festival do Anuário do CCSP, no Prêmio Profissionais do Ano e que integraram as shortlists do Festival de Cannes e do Festival de Londres.
www.dinamofilmes.com.br
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CRIAÇÃO REFORÇADA
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EMPREENDEDORES
Luiz Eduardo Mendonça
LIDERANÇA EXCLUSIVA A Álamo Engenharia apresenta ao mercado a quinta versão do Sismal (Sistema de Manutenção Álamo) com novas funcionalidades para centralização de atendimento, agilidade e controle de operações. O software, desenvolvi-
do com exclusividade pela Álamo, completa 25 anos de mercado e oferece filtros com relatórios de quantidades e valores de materiais gastos por centro de custo e outras informações gerenciais importantes para a tomada de deci-
Pedro e Kiki Carvalho
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NEGÓCIO EM FAMÍLIA
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A goiana QG Pastéis, criada na década de 70 pelo casal Pedro e Kiki Carvalho, planeja começar a operar no sistema de franquias em 2009 e abrir 60 lojas até 2012. Entre as especialidades da casa estão os pastéis, grelhados, sanduíches e sorvetes e as receitas são conhecidas apenas pelo casal e por seus quatro filhos, que também trabalham na empresa. Para enfrentar os desafios de se trabalhar em família, há dois anos a QG Pastéis contratou o serviço de consultoria do Grupo Cherto para desenhar o modelo de negócio para a marca. O faturamento deve saltar dos atuais R$ 10 milhões por ano para R$ 60 milhões. www.grupoqg.com.br
são. Luiz Eduardo Mendonça, vice-presidente de operações, assume a elaboração de estratégia da empresa, com foco em novos clientes, principalmente em manutenção industrial.
www.alamoengenharia.com.br
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E N T R E V I S TA
Gina Paladino
FUNDO PROTEGIDO
JOÃO LUIZ RIBEIRO/DIVULGAÇÃO
Recursos dos programas da Finep para micro e pequenas empresas em 2009 estão assegurados – e ampliados
por Diogo Honorato
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honorato@empreendedor.com.br
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Tão conhecidas quanto os efeitos positivos da inovação tecnológica são as dificuldades para transformar uma idéia em projeto. E não falamos apenas de viabilidade técnica, acesso ao conhecimento e incerteza sobre os resultados. É preciso ter capital para custear pesquisa e desenvolvimento, que só vão gerar retorno a médio prazo. No caso das MPEs, tal dificuldade se agrava: muitas vezes possuem apenas ativos intangíveis – conhecimento –, mas nenhuma garantia real – como máquinas – que possibilite a aquisição de crédito para financiar a inovação. Essa barreira existe mesmo nas instituições públicas de financiamento da inovação, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Para tentar superar essas e outras amarras, a instituição criou, há cerca de dois anos, a Superintendência de Pequenas Empresas Inovadoras. Na mesma época, a financiadora lançava a primeira edição do programa Juro Zero, que constitui, com parceiros estaduais, fundos de garantia para pequenas e microempresas. Este ano, a novidade é a primeira edição do Programa Primeira Empresa Inovadora (Prime), que pretende investir R$ 249 milhões em 2.015 empresas com até dois anos de vida, por meio de convênios com 18 incubadoras. Hoje, a superintendência está a cargo da economista Gina Gulineli Paladino que, segundo ela mesma diz, trabalha na área de inovação “desde sempre”. A expressão inclui passagem pela direção da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inova-
dores (Anprotec), assessoria na Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) e especializações na França e no Japão. Gina considera que a criação da superintendência que dirige “é um sinal significativo de que a Finep está dedicando uma atenção especial e priorizando, com mais intensidade, sua ação para pequenas empresas”. Como resultado, ela aponta que o percentual de aportes destinados a microempresas e empresas de pequeno porte no último edital de subvenção econômica (70%) já ultrapassa a cota estabelecida, que dedica ao menos 40% dos recursos disponíveis a empresas com faturamento anual menor que R$ 10,5 milhões. Além de divulgar algumas das ações da Finep em 2009, a economista ressalta a importância de o País ter uma política de financiamento da inovação nas empresas.
Quando o assunto é inovação, há alguma vantagem em ser uma pequena empresa? Gina – Sim. As pequenas são mais flexíveis e ágeis na hora de mudar ou se movimentar em novos mercados e tecnologias, o que é importante tendo em vista a velocidade da inovação tecnológica. Se pegarmos a história da dinâmica econômica do mundo, veremos que uma empresa nascente como a Microsoft nasceu propondo uma inovação que não estava sendo percebida pela IBM. Dou esse exemplo porque ele se repete em outras áreas. Por isso elas são muito bemvistas pelas áreas de fomento. Que avanços para as pequenas podemos apontar depois que a Finep passou a oferecer recursos nãoreembolsáveis (subvenção econômica)?
Gina – Desde o primeiro ano temos nos editais um percentual mínimo, definido em lei, para pequenas empresas e para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A nossa felicidade é que, em 2008, o volume de recursos para pequenas já foi maior do que o exigido em lei. Isso é sinal de que as pequenas estão concorrendo em igualdade com as médias e grandes, o que mostra uma vitalidade das empresas que trabalham com inovação.
Gina – Seguramente, nas áreas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TICs) e também nas áreas de Tecnologias Sociais o número de propostas das pequenas empresas é disparado. Isso acontece porque essas são áreas de nichos, de muita criatividade e risco alto. E não esqueçamos que subvenção é risco. Na área de TICs, com pouco capital financeiro e muito capital humano você consegue se posicionar bem no mercado.
As pequenas empresas ousam mais nos projetos ao contar com a subvenção econômica do que ousariam caso tivessem que aplicar recursos particulares? Gina – Eu diria que eles podem ter acelerado os processos para ter mais agilidade e rapidez. Não quer dizer que projeto foi tirado da gaveta, e sim que aquele projeto que levaria mais tempo, com muito menos recurso, pode ter sido acelerado um pouco mais. Em alguns, obviamente, pode ter estimulado a ousar um pouco mais. No mais, essa empresa que entrega o projeto hoje, e que vai desenvolver um projeto de um ou dois anos, é potencialmente cliente de crédito da inovação e venture capital lá na frente. Elas entraram na cadeia de fomento e certamente podem e serão clientes de outros instrumentos de financiamento de investimento, se é que já não são em outros projetos.
Quem tentou conseguir recursos através dos editais mas não conseguiu, deve fazer o quê? Gina – A única orientação que podemos dar é que tentem novamente. Porque é um aprendizado, e se não conseguiram na primeira vez, pode dar certo na segunda ou na terceira. Tentem melhorar seu projeto, procurem ser mais claros em sua proposta. Mas a Finep não pode entrar no mérito de nenhuma formalidade de apresentação de projeto.
Em qual das seis áreas do programa de subvenção econômica as pequenas empresas têm se destacado?
As empresas que continuarem investindo em projetos de inovação tecnológica são as que sairão melhor da crise lá na frente
Cinco anos após a lei de inovação tecnológica, podemos considerar que as pequenas empresas agora estão mais próximas das universidades e centros de pesquisa? Gina – Na verdade, quanto mais fomentarmos as empresas no mundo da inovação, mais elas vão precisar se aproximar das universidades e institutos. Não há como fazer uma pesquisa ou inovação relevante sem que a empresa ou seus técnicos tenham uma ligação formal ou informal com uma universidade. Mesmo nas pequenas empresas é possível enxergar que há uma cooperação com especialistas de centros de excelência. Como a crise deve afetar as ações de inovação nas pequenas empresas? Gina – Existem alguns estudos de que, na área de inovação, os momentos de contração econômica são extremamente portadores de futuro. Se por um lado muitas empresas estão em dificuldade em curto prazo, várias outras empresas estão pensando em como vão sair da crise, acessando novos mercados ou mudando o processo produtivo. Inclusive, os projetos de inovação podem ser acelerados durante as crises. Essa é uma boa oportunidade para as empresas continuarem investindo em projetos que tenham uma maturação de médio prazo. Daqui a dois ou três anos, as empresas que hoje continuarem investindo em projetos de inovação tecnológica são as que sairão melhor da crise lá na frente. É um momento promissor, e vemos justamente que
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Como economista, você pode explicar como o investimento público em empresas privadas acaba gerando retorno social e para o próprio mercado? Gina Paladino – Investimento público em inovação, seja em instituições públicas ou privadas, está comprovado há muitos anos, no mundo inteiro, que é um investimento com retorno muito ampliado, com benefícios para a sociedade. Porque o investimento em inovação e tecnologia será útil para aquele negócio e para aquele setor, mas também vai abrir oportunidades para outras tecnologias e outros negócios, proporcionando um efeito virtuoso em toda sociedade. Por outro lado, quando falamos de investimos em inovação e tecnologia, parte considerável desses recursos públicos é aplicada em educação de pessoas, através de formação e capacitação de recursos humanos, seja dos colaboradores das empresas, seja dos consultores. E essas pessoas ora estão em uma empresa, ora estão em outra, mobilizadas para outros projetos e outros empreendimentos. E a sociedade está ganhando. Se abrirmos um projeto de inovação para entender quais são os componentes essenciais, vamos enxergar que uma parte fundamental desse investimento é em capacitação, pois tecnologia nada mais é do que conhecimento acumulado aplicado em utilidade para todos. Então estamos, na verdade, promovendo gente, bolsas de estudo, cursos de mestrado e doutorado, especializações, viagens de visitas técnicas ao exterior para conhecer e entender novos ambientes tecnológicos e novas soluções no mundo. Há muita gente envolvida na inovação tecnológica. E o efeito multiplicador disso é muito grande.
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E N T R E V I S TA muitas empresas não vão paralisar projetos, e sim justamente ampliar. Temos que lembrar que a crise apresenta várias oportunidades de negócios. Historicamente, vários produtos foram desenvolvidos em época de crise. Alguns negócios só vão existir daqui a alguns anos se as empresas tomarem a decisão de investir em pesquisa e inovação hoje. A crise pode gerar inadimplência entre as empresas que participam de financiamento reembolsável? Gina – Até o momento não temos nenhuma sinalização em relação a isso. Pelo contrário, o que vemos são mais empresas, inclusive pequenas, nos consultando. A todo momento elas perguntam sobre linhas de financiamento e prazo, e nós tratamos todas caso a caso, já que muitas nunca contraíram financiamento para inovação e é a primeira vez que se apresentam para uma instituição de fomento.
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Há previsão de como os cortes no orçamento do governo afetarão os recursos do MCT e da Finep? Gina – Não creio que eu seja a pessoa mais abalizada para dar essa informação. Até porque acredito que seja cedo para qualquer prognóstico dessa natureza. Mas posso dizer que crédito para pequena empresa inovadora é prioridade. Quando falamos de orçamento, falamos de recursos não-reembolsáveis. Mas na área de crédito, que é a minha área, a informação que tenho é que teremos os recursos suficientes para atingir toda demanda qualificada.
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Quais as dificuldades que as pequenas em geral têm para conseguir financiamento à inovação? Gina – Não só para inovação, mas em geral, o ponto crítico é a falta de garantias reais para empréstimos, como aval dos sócios e as finanças bancárias. É por isso que, no Programa Juro Zero, temos um fundo de aval para minimizar a necessidade de garantia que a própria empresa tem que apresentar. Pela questão das garantias ser a mais crítica, temos que encontrar alternativas cada vez mais criativas e diferenciadas para poder lidar com isso. Esse é nosso grande desafio ao trabalhar com pequenas empresas. Que outros incentivos a Finep desenvolveu? Gina – Este ano teremos a novidade do
Pequena empresa inovadora é prioridade, e teremos os recursos suficientes para atingir toda a demanda qualificada
programa Inova Brasil, que começou a operar. É um programa totalmente alinhado à política de desenvolvimento do governo, com taxas de juros diferenciadas. Ele terá uma rapidez de análise, aprovação e contratação muito grande e muda completamente a forma como a Finep operava o programa de crédito até agora. O Programa Primeira Empresa Inovadora (Prime) teve grande repercussão entre as incubadoras, na ocasião de seu anúncio. Como ele funcionará? Gina – O programa vai começar em março, quando começam as chamadas públicas para convidar os empreendedores a participar do programa através de uma das 18 incubadoras que vão operá-lo. Serão duas fases – seleção e capacitação. Ao longo de 2009, 2 mil empresas serão selecionadas e contratadas. Essa é a grande novidade para as pequenas empresas inovadoras. O programa é inédito, com uma forma capilar e descentralizada de execução, mais próximo dos empreendedores, o que pode ser bem interessante para essas empresas. E por que a opção de focar em empresas com até dois anos de criação? Gina – O Prime foi desenhado para aportar recursos para empresas nascentes, para suprir uma lacuna que a gente identificou. Ele parte de um conhecimento muito
grande da dinâmica dos empreendimentos inovadores no Brasil, com os quais nós convivemos há muitos anos. A razão fundamental desse foco é que os empreendedores de pequenas empresas de base tecnológica nascentes – que são pessoas criativas, inovadoras, com formação técnica sólida e boas ideias de novos negócios não têm condição de dedicar todo o seu tempo para esse novo empreendimento. Aí eles se dispersam, pois têm que dar conta de sua sobrevivência pessoal: vão dar aula, consultoria, ajudar outras empresas, e a empresa nascente fica em segundo plano. O Prime vai tentar justamente suprir essa necessidade: se esse empreendedor mostrar que tem um projeto inovador e viável, vai receber recursos de R$ 120 mil não-reembolsáveis para ajudá-lo nessa fase. Então ele poderá contratar um gestor para estruturar o empreendimento, consultoria para entender melhor o mercado de sua empresa e de seu produto, por exemplo. E esperamos pegar essas empresas no final do ciclo do Prime e orientá-las para que elas consigam fazer um bom projeto para operações de crédito, como para o programa Juro Zero. Ou algumas delas podem estar aptas e interessadas em receber capital de risco, ou seja, abrir seu capital e receber um sócio capitalista em seu negócio. A ideia é que essas empresas sejam acompanhadas ao longo do tempo, até para ajudá-las na sua escalada de crescimento. Porque nós gostamos de empresa pequena, mas elas não têm a vitalidade que a economia precisa em termos de emprego, renda e novas tecnologias, que é o que o País necessita, queremos que elas cresçam. Há expectativa de aumentar o número de incubadoras-âncora? Gina – Sem dúvida esse número terá que aumentar. E nós vamos trabalhar nisso já em 2009, para que na próxima fase novos agentes estejam operando. Este ano, teremos uma fase experimental, com 18 operadores. Mas está previsto expandir ainda mais a atuação.
LINHA DIRETA Gina Paladino: (21) 2555-0654
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NÃO DURMA NO PONTO
A VIÁVEL CONSTRUÇÃO DE UM MUNDO MELHOR Dois fóruns aconteceram simultaneamente no início do ano: o econômico, em Davos, na Suíça, e o social, em Belém do Pará. Ambos de caráter mundial. A imprensa qualificou o primeiro como “dos ricos” e o segundo, “dos pobres”. Normalmente, costumamos aceitar esses recursos de retórica mais ou menos naturalmente, sem refletir muito a respeito. Mas proponho alterar a visão. Lá, o econômico vivenciava a ressaca do excesso de liberalismo, das tais leis de livre mercado, que sabemos podem ser bastante manipuladas, uma onda perversa que desembarcou na crise que, ainda com as garras contidas, já colocou no olho da rua milhões de trabalhadores no mundo todo. Aqui, tendo como luxuriante cenário as plagas amazônicas,
gerador de pobreza econômica. Tais fórmulas excludentes são muito conhecidas e sabemos dos seus efeitos devastadores. Dissociar o econômico do social é a semente perfeita para gerar as catástrofes humanas das quais, mantida essa separação, jamais nos livraremos. Precisamos fazer com que o econômico se enamore do social e vice-versa, para que ambos, unidos e em constante harmonia, possam gerar filhos promissores, capazes de criar uma nova humanidade, a verdadeira terra prometida. Não se trata, porém, de geração espontânea. Nós somos responsáveis pela concretização do que ainda é um sonho. Esse futuro promissor, em grande parte, está nas mãos das empresas, dos líderes, dos empresários
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Dissociar o econômico do social é a semente perfeita para gerar as catástrofes humanas das quais, mantida essa separação, jamais nos livraremos
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se discutia as mazelas sofridas por dois terços da população mundial, excluída do banquete que ora causa convulsivas indigestões. O cerne do problema, no entanto, está nesse persistente apartheid que separa o econômico do social, como se fossem campos opostos e não mescláveis: a água e o azeite, ou os belos personagens românticos do feitiço de Áquila – um que só podia viver à luz do dia; outro, que só à noite. O econômico pelo econômico é causador de misérias sociais. O social pelo social é
e dos empreendedores. Não há como nos esquivar. Fazemos escolhas, todos os dias, e elas são geradoras de riquezas ou de antirriquezas. Podemos contribuir tanto para a miséria social e a pobreza econômica como para fazer desse mundo um lugar melhor. O futuro e a riqueza estão em nossas mãos. É sempre uma questão de escolha. Vejamos como!
Os verdadeiros sujeitos Primeiramente, é preciso identificar com
lucidez o que é sujeito e o que é objeto no mundo dos negócios. Sujeito é geralmente representado pelo pronome “quem”. Quem planeja, elabora, produz, atende, serve é sujeito. Quem demanda, compra, consome, usufrui e é servido também é sujeito. Todo o resto é objeto: o produto, o maquinário, o processo, os insumos, os controles, a nota fiscal, a duplicata, a comercialização, o dinheiro e o balanço. O econômico tende a transformar tudo em objeto. O “quem” é tratado como coisa, não importa se faz ou compra. É o que acontece quando o lucro se transforma em sujeito e senhor de tudo. Sim, porque leva a um desvio cruel: transforma pessoas em objetos descartáveis, sejam funcionários, clientes, fornecedores, investidores. Sem distinção, todos são vistos apenas como meios de aumentar o volume do caixa. Quando o econômico se sobrepõe ao social fica automaticamente eliminada qualquer possibilidade de evolução humana, ainda que se possa conseguir acumulação de renda, durante um certo período de tempo. Paulo Freire dizia que o “homem é objeto por distorção, mas sujeito por vocação”. Toda calamidade humana decorre dessa inversão de valores e de trocar os fins pelos meios. As crises são os avisos de que as coisas estão fora da sua ordem natural. Assim como o corpo humano produz febres, náuseas, vômitos e diarréias diante de uma ameaça ou de um agente estranho, a crise é a reação do sistema quando o objeto persiste em se sobrepor ao sujeito, acionando – no ápice do processo – um alerta de que a saúde precisa ser restaurada.
Agente poderoso de evolução A empresa é a instituição que mais se desenvolveu, no final do último milênio e
sistemas orçamentários. Quando uma instituição é capaz de tratar seus colaboradores como seres humanos, em todas as suas dimensões, está preparada para fazer o mesmo com os outros seres humanos, do mundo externo, e que adquirem seus produtos e serviços. Palavras como qualidade e excelência ingressaram nos vocabulários organizacionais e hoje são imprescindíveis para qualquer empresa que queira se destacar. Ao se interessar verdadeiramente pelo cliente, uma empresa deixa de ser uma firma mercantil e passa a ser uma instituição que quer verdadeiramente contribuir com o outro. Numa abordagem mais sistêmica, esse outro pode ser também o fornecedor, o investidor, a sociedade como um todo.
Ao se interessar verdadeiramente pelo cliente, uma empresa deixa de ser uma firma mercantil e passa a ser uma instituição que quer verdadeiramente contribuir com o outro
com a qualidade dos relacionamentos e de diálogo entre as pessoas. Foi ela que absorveu com abertura as teorias das múltiplas inteligências e, entre elas, deu destaque especial à emocional, antes não só subestimada como até rejeitada, nas instituições que então dominavam. Assimilou um modelo de gestão participativa, um avanço diante dos tradicionais, sempre hierarquizados e autoritários. Introduziu práticas de decisão em consenso, planejamento participativo, indicadores de desempenho e sofisticados
Essa empresa une o social, a parte do negócio que está a serviço da sociedade, com o econômico, a parte do negócio geradora de resultados. Riquezas sociais e econômicas, juntas, uma retroalimentando a outra, constituem um processo autopoético.
A riqueza que faz bem A empresa progressista é essa nova instituição moldada para o futuro da economia. É um agente econômico, como qualquer em-
por Roberto Adami Tranjan
Educador da Cempre Conhecimento & Educação Empresarial (11) 3873-1953/www.cempre.net roberto.tranjan@cempre.net
presa, mas também um agente social. Toda empresa tem um valor econômico, mas a progressista assume claramente o seu valor social, porque respeita a natureza, o ser humano, os seres vivos, a vida. Seus líderes compreendem que um negócio existe para contribuir com o mundo, e não o inverso. Considera-se parte de uma obra maior, pela qual todos são responsáveis e sabe que é missão de cada negócio contribuir para o todo, com a sua própria parcela. A empresa progressista funciona como uma comunidade de trabalho e aprendizado. Tem no conhecimento sua principal força. Não apenas o conhecimento voltado a uma especialidade técnica daquele determinado ramo de atividade, mas um conhecimento que aumenta o significado da democracia, da liberdade, da dignidade humana, da melhoria da qualidade de vida, da autorrealização, imprescindível para a construção de uma humanidade mais completa. Uma empresa social e humana, portanto. Sem deixar de ser econômica. É este o grande segredo de viver plenamente o presente, semeando o que há de melhor para o futuro, na certeza de que a vida não é um conjunto de partes isoladas, mas sim um processo amplo, complexo e feito de relações.
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início do presente. Absorveu as boas práticas esquecidas pelas instituições que dominaram o mundo até então e foi além. Hoje, são as empresas que possuem um credo ou uma carta de valores e procuram seguir os acordos, com toda a coerência. São elas que redigem suas “constituições” e “cartas magnas”, ou seja, os princípios que orientam decisões e ações. São direcionadas por uma visão de futuro, um propósito revestido de significado para todos que nela trabalham. São capazes, assim, de tocar a mente e o coração de todos os seus colaboradores. Investem nas dinâmicas de grupo e nos trabalhos em equipe. Aliás, nestes últimos anos a empresa tem sido a instituição que mais se preocupa
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Porta a
porta Operações intermodais diminuem o custo logístico, mas seu avanço no Brasil esbarra na infraestrutura deficiente e irracional
Não faz muito tempo, os caminhões faziam toda a operação de transporte de frangos congelados das fábricas da Sadia no Rio Grande do Sul para o Porto de Rio Grande, percorrendo distâncias de até 450 quilômetros. Hoje, a carga ainda segue por rodovia, mas só até o terminal da América Latina Logística Intermodal (ALL), em Esteio, distante cerca de 100 quilômetros das fábricas. Lá é feito o transbordo para vagões com plataformas adaptadas a contêineres frigorificados. A carga é então transportada de trem até o Tecon, o terminal de contêineres do Porto de Rio Grande. A operação trouxe competitividade às exportações da Sadia para países da Ásia, Oriente Médio e Europa. De acordo com a ALL, a redução de custo pode chegar a 15%. “Atualmente, o preço do frete de uma carreta com 25 toneladas no trajeto Porto Alegre-São Paulo gira em torno de R$ 2,5 mil. É uma média de R$ 100 por tonelada, enquanto nossa operação sai por R$ 85. Se pegarmos um cliente que movimenta 10 mil toneladas por ano, a economia é de R$ 150 mil por mês, R$ 1,8 milhão por ano. É dinheiro em qualquer lugar”, afirma Bruno Lino, gerente de negócios industrializados da ALL. Operações como a da Sadia são bem menos frequentes do que deveriam. O Brasil ainda é excessivamente rodoviário. O desequilíbrio da matriz
de transporte é significativo se compararmos com os Estados Unidos, país com aspectos geográficos semelhantes aos nossos – costa longa, rios navegáveis e vasto território. Enquanto nós concentramos 58% do transporte de cargas no modal rodoviário, 25% em ferrovias e 17% em hidrovias (navegação marítima e fluvial), dutos e aéreos, os americanos movimentam suas cargas utilizando cada modal de forma mais adequada, com 32% no rodoviário, 43% no ferroviário e 25% no hidroviário. Essa distorção da matriz de transportes implica altos custos logísticos. E, obviamente, coloca o País em desvantagem no comércio internacional, além de submeter o próprio consumidor brasileiro a produtos mais caros. Estudo realizado pelo Banco Mundial mostra que os custos logísticos representam, em média, 20% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. No Peru e na Argentina, esse percentual é ainda maior, 24% e 21%, mas em países melhor organizados o número cai pela metade: 10,5% nos Estados Unidos, 11,3% na Holanda, 13% na Alemanha e em Taiwan, e 13,9% em Cingapura. No Brasil, o transporte de cargas representa 31,8% desses custos. Ainda segundo o Banco Mundial, se a matriz fosse mais equilibrada, a redução dos custos logísticos poderia chegar a US$ 2,5 bilhões por ano. Outro estudo, divulgado no ano passado pelo Banco Interamericano de Desenvol-
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por Cléia Schmitz, Andréia Seganfredo, Francis França e Diogo Honorato
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FOTOS VALE DO RIO DOCE/DIVULGAÇÃO
Vale do Rio Doce: maior prestadora de serviços de logística no Brasil, com soluções completas de integração de ferrovias, portos e terminais marítimos próprios
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vimento (BID), concluiu que o impacto dos custos da ineficiência dos transportes nas exportações é muito mais expressivo para a América Latina e o Caribe do que as contestadas taxas de importação cobradas pelos principais mercados. “Se fôssemos mais eficientes no transporte de cargas, economizaríamos uma Rodada de Doha”, afirma Luiz Antônio Fayet, consultor da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), referindo-se às negociações na Organização Mundial de Comércio. A intermodalidade – o uso adequado e integrado de cada tipo de transporte – é a solução mais óbvia para reduzir os custos de movimentação de carga. No Brasil, a integração dos diferentes sistemas viários esbarra na falta de infraestrutura. “Quando se faz uma fotografia de nossa malha viária, vemos rodovias esburacadas, ferrovias obsoletas, portos sobrecarregados e escassez de armazéns”, afirma José Ribamar Miranda Dias, vice-presidente da Associação Nacional dos Usuários de Transportes (Anut). “Impossível falar em integração de modais com o sistema de transportes que temos hoje”, completa Flávio Benati, presidente da Associação Nacional de Transportes de Cargas e Logística (NTC&Logística). Para estimular o uso de diferentes modais, o País já criou a figura do operador multimodal, empresa que concentra a responsabilidade em escolher o transporte mais indicado para o tipo de carga e trajeto. Mas na opinião de Benati, falar em integração de modais atualmente é “literatura”, exceto em casos específicos como da Companhia Vale do Rio Doce. A empresa construiu ferrovias e seu próprio porto para transportar minérios. “A Vale faz uma logística perfeita. Muitas vezes, a gente se pergunta se a companhia ganha dinheiro com a exploração de minério ou com a logística que ela montou para exportar sua produção”, destaca Benati. Não é à toa que a empresa é a maior prestadora de serviços de logística no Brasil, oferecendo soluções completas com a integração de ferrovias, portos e terminais marítimos próprios. Do total de investimentos realizados pela companhia no ano passado – US$ 18,6 milhões –, 12,8% foram aplicados em logística. Entre 2003 e 2007, a Vale investiu US$ 3,5 bilhões no segmento. Entre as compras realizadas no período, destaca-se a aquisição de 16 mil vagões. Neste ano, a empresa já anunciou a compra de 49 embarcações e o lançamento do Trem Combustível, que prevê a utilização da mistura gás natural e diesel em suas locomotivas, um projeto de R$ 2,4 milhões na fase de testes. A estrutura de logística da Vale é formada por cerca de 10 mil quilômetros de ferrovias. A
Lopes: “Problema é que avançamos sempre por necessidade, solucionando deficiências pontuais”
Fayet: “Se fôssemos mais eficientes no transporte de cargas, economizaríamos uma Rodada de Doha”
empresa administra a Estrada de Ferro Carajás (EFC), Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) e MRS Logística. No ano passado, o sistema ferroviário da Vale transportou 25,9 bilhões de toneladas por quilômetro útil (TKU) de carga geral para clientes. Os cinco portos e seis terminais da companhia movimentaram 26,17 bilhões de toneladas. Ainda no mesmo período, os serviços de logística geraram receita bruta de US$ 1,6 bilhão, um crescimento de 5,3% em relação a 2007.
dos caminhões pelos navios é a redução das emissões de CO2. Em tempos de sustentabilidade, o fator é importante para empresas que têm este compromisso em sua agenda socioambiental. “Um navio gasta pelo menos três vezes menos combustível por tonelada transportada, comparando com um caminhão”, diz Artur Bezerra, diretor da Mercosul Line Navegação e Logística, empresa do grupo Maersk. Para Roberto Galli, vice-presidente-executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma), o que mais tem contribuído para a migração de cargas do
rodoviário para a cabotagem é a mudança de postura dos armadores. “A navegação costeira deu um salto há três anos, quando os armadores passaram a oferecer um serviço de transporte porta a porta. Eles perceberam que as empresas querem uma solução completa, ver sua carga sair da fábrica e ser entregue no depósito do cliente”, afirma Galli. “Não podemos ficar restritos a receber a carga no porto. Isso nos obriga a ser um operador multimodal”, completa José Balau, diretor de cabotagem da Aliança Navegação e Logística. Segundo Fábio Bermudez, diretor de desenvolvimento de mercado da operadora logística Tito Global Trade Services, o operador multimodal traz redução de custo para a operação. “Hoje temos que contratar vários fornecedores, o que acaba onerando o processo”, explica. A estratégia do serviço porta a porta vale também para as operadoras de ferrovias. De acordo com Bruno Lino, desde que adquiriu a transportadora Delara, em 2003, a ALL tem focado sua operação na integração entre o ferroviário e o rodoviário. Há ainda outros paradigmas a serem quebrados. Um deles é pensar que só algumas cargas podem ser transportadas por trens. “Transportamos desde produtos siderúrgicos e petroquímicos até alimentos. Como a ferrovia trabalha com escala, o modal só não é economicamente viável para movimentações inferiores a 1 mil toneladas.” O serviço da ALL tem crescido a taxas médias de 20% ao ano. A empresa atua em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e nos três estados do Sul. São 20 mil quilômetros de
Sustentabilidade A Vale do Rio Doce também é a principal acionista da Log-In Logística Intermodal, com 31,3% do capital total. A subsidiária, que abriu seu capital em 2007, foi criada especialmente para prestar serviços integrados de transporte marítimo e ferroviário de contêineres para terceiros. “A proposta da Log-In é substituir o transporte rodoviário de cargas conteinerizadas em longas distâncias por alternativas mais eficientes e sustentáveis. Estamos falando de distâncias médias de 1,5 mil quilômetros por ferrovia e 3 mil quilômetros por via marítima”, afirma Mauro Dias, presidente da operadora logística. Segundo o executivo, a redução de custo oferecida pela empresa é de, no mínimo, 10%. “Depende muito da combinação de serviços, mas 10% é o mínimo que temos que oferecer para convencer o cliente a mudar o modal”, explica Dias. Outro argumento que tem sido utilizado para estimular a substituição
CUSTOS LOGÍSTICOS Transporte ...................................31,8% Administração .............................20,5% Armazenagem ................................19% Estoque .......................................18,7% Trâmites legais ............................10,1%
19%
19%
20%
10% 32%
Fonte: Banco Mundial
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Benati: “Impossível falar em integração de modais com o sistema de transportes que temos hoje”
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C A PA malha ferroviária e sete terminais intermodais, onde são realizadas as operações de transbordo entre rodoviário e ferroviário. Os clientes podem acompanhar on-line o andamento da carga, um serviço que garante mais segurança. Atualmente, a ALL investe para aumentar a capacidade da malha atual com a aquisição de vagões e locomotivas e melhoria da via permanente. “Ainda temos muito espaço para crescer, há vários segmentos que podem migrar para a ferrovia”, avalia Lino. Mas para que isso aconteça o executivo afirma que muitas empresas precisam investir em planejamento logístico. Se o custo do modal ferroviário pode cair 15% em relação ao rodoviário, por outro lado é preciso considerar o tempo para a entrega. Enquanto um caminhão leva dois dias de Porto Alegre a São Paulo, um trem precisa de cinco dias. Esse diferencial requer um novo cronograma de produção das indústrias para que a carga possa viajar e chegar ao cliente no momento certo. É como no transporte de passageiros. Se você quer ir mais rápido, vai de avião, mas se quer reduzir custos, melhor escolher o ônibus. Só não pode esquecer que precisará sair antes.
Conexões
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É importante levar em conta também que alguns modais não são competitivos por si só e requerem uma estrutura de apoio com outros meios viários. É o caso das hidrovias flu-
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TRANSPORTE NO BRASIL Atual 2025 Rodoviário ........................ 58% ............33% Ferroviário ........................ 25% ............32% Aquaviário ......................... 13% ............29% Dutoviário........................ 3,6% ..............5% Aéreo................................ 0,4% ..............1% Fonte: PNLT
fraestrutura nacional de transportes. O Plano CNT de Logística prioriza a intermodalidade, a conexão com os países da América Latina, o acesso aos pontos de exportação e a integração entre as zonas de produção e consumo interno. Para isso, foram definidos nove eixos estruturantes de logística: Nordeste-Sul, Litorâneo, Norte-Sul, Amazônico, Centro-Norte, Norte-Sudeste, Leste-Oeste, Nordeste-Sudeste e Eixo da Cabotagem. Para reverter a carência do Brasil em termos de infraestrutura de transportes, o Plano CNT lista 587 projetos prioritários. A implementação dessas ações demandaria hoje R$ 280 bilhões em investimentos. Levando em conta um horizonte de 10 anos, seriam R$ 28 bilhões anuais, valor que corresponde a 1,1% do PIB de 2007. “Diante da expressividade de recursos mínimos necessários para melhorar a oferta e qualidade do sistema de transportes, é fundamental a
efetiva alocação de recursos do orçamento da União, dos estados e também de parcerias público-privadas”, recomenda o Plano. “O plano da CNT é mais objetivo e prático e propõe uma integração multimodal em todas as regiões do País”, afirma Pedro José de Oliveira Lopes, diretor da CNT e presidente da Federação dos Transportadores de Cargas de Santa Catarina. Para o dirigente, o problema da infraestrutura de transportes no Brasil é que avançamos sempre em função da necessidade, solucionando apenas deficiências pontuais, em vez de investir em obras que resolvam situações atuais e futuras. Ou seja, estamos sempre correndo atrás do prejuízo. “Colocamos projetos no papel, levamos até o debate, mas não executamos.” A falta de continuidade dos projetos a cada mudança de governo é outro agravante. Para Flávio Benati, todas essas variantes transformam o futuro do sistema de transportes brasileiro numa incógnita. Até mesmo porque para que tivéssemos um novo cenário em dez anos seria necessário transformar o Brasil num canteiro de obras. “No ritmo em que se tocam essas questões, não sabemos se nós mesmos vamos assistir a isso”, comenta Benati. “É uma situação lamentável. Vemos muitos países com sérios problemas climáticos serem extremamente competitivos em virtude de seus investimentos em logística. Isso mostra que se tivéssemos uma integração de transportes adequada, seríamos imbatíveis.” PHOTOSTOGO
viais. “É fundamental que, junto com o desenvolvimento de uma hidrovia, existam pontos de interconexão com sistemas de transporte terrestres, sejam eles portos ou terminais interiores, especializados em movimentar as cargas geradas ou atraídas no sistema fluvial. Só existe transporte hidroviário numa conjuntura de transporte intermodal”, afirma Murillo Barbosa, diretor da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), entidade vinculada ao Ministério dos Transportes (MT). Segundo Barbosa, o governo federal trabalha com a meta de elevar a participação do transporte aquaviário (fluvial e cabotagem) de 13,8% para 19% em 2023. O Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT), elaborado pelo Centro de Excelência em Engenharia de Transportes (Centran), estabelece para 2025 uma mudança drástica na matriz de transportes: 33% rodoviário, 32% ferroviário, 29% aquaviário, 5% dutoviário e 1% transporte aéreo. Para isso, o PNLT recomenda investimentos de mais de R$ 172,4 bilhões até o ano de 2023. Desse total, 43% seriam consumidos pelas rodovias, 29,4% pela malha ferroviária, 7,4% pelas vias fluviais, 14,6% pelo sistema portuário e 5,6% pelo modal aeroportuário. O Plano já identifica pontos de estrangulamento no futuro e prevê projetos para solucioná-los. No ano passado, a Confederação Nacional de Transportes (CNT) também divulgou um conjunto de propostas de projetos para adequação, construção e recuperação da in-
TRANSPORTE NO MUNDO Comparativo internacional
Fonte: PNLT/ANTT
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Rodovia Ferrovia Hidrovia/Duto/Aéreo Brasil .....................................58% .............................. 25% ................................... 17% Estados Unidos ....................32% .............................. 43% ................................... 25% Rússia......................................8% .............................. 81% ................................... 11% Alemanha .............................72% .............................. 15% ................................... 14% México ..................................55% .............................. 11% ................................... 34%
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Vento em popa
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A navegação de cabotagem vem crescendo ao longo da década, mas tributação pesada e burocracia a impedem de singrar a pleno vapor
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O Brasil está longe de usar todo o seu potencial para a navegação de cabotagem, mas tem dado alguns sinais de crescimento no transporte de cargas entre os portos nacionais. Com uma costa de mais de 7,5 mil quilômetros, era de se esperar que a participação do modal marítimo na matriz de transportes brasileira fosse bem maior do que 15%. E já foi. Nos anos 60, esse percentual era maior do que 20%. O País vivia outra conjuntura, as rodovias estavam só começando a concentrar os investimentos do governo em infraestrutura de transportes, mas há quem afirme que tivemos um retrocesso na navegação realizada entre os portos brasileiros nas últimas décadas. Em contraponto, as empresas que concentram os serviços de cabotagem no Bra-
sil registram atualmente um crescimento anual muito acima do PIB e anunciam investimentos significativos em novas embarcações. “Estamos gradualmente tirando das rodovias o transporte de cargas de longa distância”, afirma Roberto Galli, vice-presidente-executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Navegação Marítima (Syndarma). No ano 2000, o transporte marítimo movimentava por ano menos de 100 mil TEUs (Twenty feet Equivalent Unity, contêiner equivalente a 20 pés), hoje esse volume chega a 600 mil TEUs. A média é de um acréscimo de 40 mil TEUs a cada ano. A Log-In Logística Intermodal anunciou um crescimento de 50,9% no volume da navegação costeira em 2008. “Temos um progra-
ma de investimento bastante agressivo para a expansão da nossa capacidade de transporte de cargas. Estamos construindo cinco navios porta-contêineres e devemos anunciar a construção de mais dois em breve”, afirma Mauro Dias, diretor-presidente da companhia. Atualmente, a empresa conta com sete navios de bandeira brasileira, garantindo frequência semanal nos principais portos da costa brasileira, além de Buenos Aires e Zárate, na Argentina, e Montevidéu, no Uruguai. Das embarcações já anunciadas pela LogIn, o primeiro navio deve ser entregue no ano que vem, e o quinto em 2013. Cada um terá capacidade para 2,7 mil TEUs e vai representar um aumento de 300% na capacidade de serviço de cabotagem da empresa. Segundo Dias, são mais de R$ 1 bilhão em investimentos, só em novos navios, além de R$ 500 milhões na melhoria de serviços com a expansão de terminais portuários e intermodais, armazéns, centros de distribuição e tecnologia da informação. A empresa tem uma carteira com mais de 1 mil clientes, mas ainda responde por um percentual muito pequeno das cargas
AQUAVIÁRIO Cabotagem e fluvial
Mais adequado para transporte de cargas em percursos longos 7.500 km de vias marítimas 40.000 km de vias fluviais 40 portos hidroviários e marítimos organizados 42 terminais de uso privado 448.180 TEUs (contêineres) movimentados em 2008 (crescimento de 12%) 13,6% da matriz
movimentadas por eles. “Confiamos muito no crescimento deste mercado, daí nosso apetite”, destaca Dias. A Aliança Navegação e Logística, empresa do grupo alemão HamburgSüd, também aposta no crescimento contínuo da cabotagem. No final de 2008, a empresa colocou em operação dois novos navios com capacidade unitária de 2,5 mil TEUs. “Estamos negociando com estaleiros a construção de mais quatro navios que devem entrar em operação nos próximos quatro, cinco anos”, afirma José Balau, diretor de cabotagem da Aliança. Atualmente, a empresa opera com 11 navios na cabotagem e, em 2008, movimentou 230 mil TEUs. Segundo Balau, mais de 300 empresas fazem parte da carteira de clientes do armador, mas 100 delas concentram 90% do volume transportado.
Investimento Em parceria com a Portinvest, a Aliança está construindo um porto marítimo na Baía da Babitonga, no Norte de Santa Catarina.
É a primeira vez que a companhia investe num empreendimento deste tipo em território brasileiro. Será um dos mais modernos portos da América do Sul e terá capacidade para movimentar 350 mil TEUs por ano em sua primeira fase. Santa Catarina é o segundo maior estado em movimentação de contêineres. “Um contêiner de chip eletrônico pode ter o valor de um navio inteiro de soja. Isso dá uma dimensão do que a carga conteinerizada representa”, afirma Balau. Localizado na cidade de Itapoá, o porto deve começar a operar em 2010. A Aliança aposta na organização da área portuária como um diferencial em relação aos portos vizinhos de São Francisco e Itajaí, hoje sufocados pela urbanização das cidades. Um condomínio logístico vai concentrar as atividades portuárias como depósito de contêineres, câmaras frigoríficas, armazéns e bancos. “É um projeto que vai atender às necessidades da cabotagem e permitir a integração da navegação costeira com o Mercosul. Vamos atender a Aliança e também outros armadores”, destaca Balau. A empresa responde por 30% dos investimen-
tos no empreendimento. Outro grande player do segmento de cabotagem, a Mercosul Line Navegação e Logística também está aumentando sua frota de navios para navegação costeira. A empresa, que faz parte do grupo dinamarquês Maersk Group, anunciou recentemente a importação de dois navios novos, com capacidade nominal de 2,5 mil TEUs, e o afretamento de um terceiro. A expectativa é de que o processo de nacionalização das novas embarcações esteja concluído em março, e que ainda no final do mês já estejam operando. Com o investimento, a Mercosul garante a cobertura dos principais portos do País: Santos, Paranaguá, Salvador, Suape e Manaus, entre outros. “Vamos mais que triplicar nossa capacidade estática e oferecer alternativa para a demanda de carga na cabotagem, que a nosso ver está reprimida”, afirma Artur Bezerra, diretor da empresa. Para o executivo, 1 milhão de contêineres poderiam migrar hoje do rodoviário para o marítimo. São cargas como eletroeletrônicos, geladeiras e motocicletas que deixam a Zona Franca de Manaus e ru-
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Fonte: CNT
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Mauro Dias (ao lado): investimentos em novos navios aumentarão em 300% a capacidade de serviço de cabotagem da Log-In
mam para o Sudeste e Sul de País em cima de caminhões por rodovias em estado crítico de tráfego. “A economia com a substituição do modal pode chegar a 20%”, afirma Bezerra. Segundo ele, a carência do serviço inibe o desenvolvimento da cabotagem.
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Obstáculos
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“O problema é que hoje você não tem garantia de frequência de navio. Se você sabe que passa ônibus a cada meia hora, fica mais fácil se programar e as chances de perder tempo no ponto serão bem menores”, compara Luiz Antônio Fayet, consultor da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) para questões de logística e transporte. A entidade é uma das maiores críticas do atual sistema portuário brasileiro. Segundo Fayet, alguns produtores deixam de plantar determinados produtos porque o custo do transporte rodoviário é muito alto e inviabiliza o negócio. “Um exemplo é o milho. O frete do caminhão não compensa e, no Nordeste, vale mais a pena importar dos Estados Unidos do que do Paraná ou do Rio Grande do Sul.” Nesse caso, o problema é o preço do combustível, tributado para a cabotagem e isento para a navegação de longo curso (exportação e importação). Ao mesmo tempo, o processo de desembaraço administrativo para cargas do comércio interno é o mesmo exigido aos navios do trade internacional. São dois fatores que, segundo os armadores, ajudam a encarecer a logística marítima, diminuindo a competitividade da cabotagem. “Um frete entre Ro-
sário, na Argentina, e Recife, com cerca de 5,2 mil quilômetros, custa menos do que o frete Paranaguá, no Paraná, e Recife, que tem quase metade da distância”, compara Fayet. Há ainda outros fatores que complicam o desenvolvimento da cabotagem no Brasil. A infraestrutura portuária, com acessos complicados e alto custo da mão-de-obra, é um deles. O maior alvo de críticas dos armadores e usuários do sistema, no entanto, é a pesada tributação e burocracia para a importação de navios. Para Fayet, ao seguir esses princípios, a legislação brasileira praticamente obriga os armadores de cabotagem a comprarem navios nos estaleiros nacionais, cujos preços, segundo ele, são 50% maiores. “Por causa dessas questões, hoje a cabotagem não consegue ser competitiva em relação ao rodoviário”, afirma Wilen Manteli, presidente da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP). Para Manteli, resolver os problemas da cabotagem no Brasil exige muito mais decisões políticas do que investimentos propriamente ditos. Medidas como a isenção de PIS e Cofins para as operações na navegação costeira, tomada pelo governo no ano passado, aliviando os custos em cerca de 8%. “Quem sabe o momento de crise que estamos passando não seja a oportunidade para promover mudanças”, afirma o dirigente. O executivo José Balau, da Aliança, concorda. “Numa fase em que todos buscam a redução de custos, o transporte marítimo é a melhor solução para longas distâncias num país com longa costa e alta densidade populacional na faixa litorânea.”
Portos à deriva A melhoria da infraestrutura portuária é um fator importante para o crescimento da navegação de cabotagem no Brasil. A lógica é simples. Os portos e terminais marítimos precisam dar suporte adequado para que o transporte de cargas pela costa brasileira seja ágil, confiável e competitivo em custos. Do contrário, fica difícil convencer os responsáveis pela logística das indústrias a migrarem suas cargas dos caminhões para os navios. Para usuários da cabotagem, a infraestrutura portuária está longe de ser perfeita. É preciso melhorar as vias de acesso, reforçar a gama de equipamentos para movimentação de carga e ampliar a capacidade de armazenagem. Estas são algumas reivindicações de quem utiliza a logística oferecida pelos portos brasileiros. “São itens que ajudariam a atrair mais carga para a cabotagem”, afirma Artur Bezerra, diretor da Mercosul Line. As deficiências se estendem a áreas distantes dos portos. “Hoje se perde muito tempo com o transbordo. Todo caminhão que vem ou vai para o Porto de Santos, por exemplo, passa pelo engarrafamento da Avenida Bandeirantes, na cidade de São Paulo. Nosso papel é encontrar formas de reduzir os custos do cliente, mas esse cálculo está cada vez mais complexo”, afirma
Fábio Bermudez, diretor de desenvolvimento de mercado da Tito Global Trade Services. O Porto de São Francisco do Sul, no Norte de Santa Catarina, está fazendo a sua parte. Quem garante é Gilberto de Freitas, diretor de logística e operação. “Sempre procuramos garantir espaço para a cabotagem. É importante para a economia da região, fortemente industrializada. Nossos clientes precisam deste serviço”, afirma Freitas. A expectativa da administração é triplicar até o final de 2010 a atual movimentação de contêineres do porto – 315 mil TEUs por ano. Para isso, será construído um quinto berço público. Com recursos de R$ 90 milhões do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), o porto também terá seu canal de acesso alargado e aprofundado de 13 metros para 14 metros, permitindo o acesso de navios maiores. Nos últimos anos, o Porto de São Francisco investiu cerca de R$ 20 milhões em obras de aprofundamento de berços, ampliação de cais, reforço da estrutura de acesso aquaviário e terrestre. Com isso, pôde aumentar em cerca de 70% os contratos com novos serviços. “Esses investimentos trouxeram oferta de infraestrutura no momento em que a região mais precisava”, destaca Freitas, referindo-se à enxurrada que atingiu o Vale do Itajaí em novembro. As fortes chuvas provocaram o
assoreamento da foz do Itajaí-Açu, que reduziu o calado de 12 metros para 7 metros, comprometendo as operações do Porto de Itajaí e Portonave. Até meados de fevereiro, a movimentação de contêineres ficou limitada ao sistema de cabotagem. Navios menores fizeram a transferência de cargas armazenadas para outros portos. Em caráter emergencial, o governo federal investiu cerca de R$ 200 milhões na dragagem do Rio Itajaí-Açu. Bom seria se a
mesma agilidade fosse vista em outros projetos na área. Luiz Antônio Fayet, consultor da CNA, cita o caso do Terminal de Grãos em construção no porto estatal de Itaqui, em São Luís (MA). Segundo ele, a obra está atrasada em quatro anos. “Enquanto isso, milhões de toneladas de soja estão sendo transportadas por mais de 2 mil quilômetros em estradas sofríveis rumo aos portos do Sul e Sudeste, gerando bilhões de prejuízos.”
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Artur Bezerra, da Mercosul: 1 milhão de contêineres poderiam migrar hoje do rodoviário para o marítimo
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Caminho de buracos
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Más condições da malha rodoviária e uso excessivo e inadequado por falta de opções de modais aumentam as despesas de logística
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Com participação de 61,1% na matriz de transporte de carga realizado no País, o modal rodoviário oferece vantagens como a proximidade maior com o destinatário final ao mesmo tempo em que esbarra na falta de investimento de infraestrutura e encarecimento de insumos. A malha rodoviária de 1,6 milhão de quilômetros atende todas as regiões, mas nem todas apresentam estradas em boas condições. A última Pesquisa Rodoviária da Confederação Nacional do Transporte (2007) revelou que 73,9% das rodovias analisadas apresentavam problemas em relação ao pavimento, sinalização ou geometria – fatores que comprometeriam a qualidade e a segurança do fluxo de carga e de pessoas, gerando custos operacionais elevados. Nos custos logísticos de transporte no Brasil, o modal rodoviário representa 81,9% dos gastos – cerca de R$ 109,2 bilhões. Dados do relatório executivo do Plano Nacional de Logística de Transporte mostram que a utili-
zação de ferrovias e hidrovias seria vantajosa para transporte de médias e grandes distâncias, diminuindo a dependência da economia brasileira em relação ao transporte rodoviário. Com uma matriz diversificada, a estimativa apresentada no estudo seria reduzir o custo logístico para US$ 2,5 bilhões por ano. “O ideal são viagens curtas, em vez de passar dias para chegar ao destino ou ainda para descarregar a mercadoria nos portos”, diz Mateus de Paula, executivo da Associação de Transporte Rodoviário do Brasil (ATR Brasil). Grandes distâncias exigem processos de logística bem estruturados das transportadoras e também acarretam custos adicionais. “Como uma empresa de São Paulo que tem problemas com um caminhão em Rondônia vai dar suporte?”, indaga De Paula. Já os problemas de segurança nas estradas chegam a inviabilizar algumas operações. Em São Paulo, o transporte rodoviário corresponde a 93% da matriz e concentra cerca de 60%
dos roubos de carga, o que leva as empresas a investirem em gerenciamento de risco e aquisição de equipamentos, como rastreadores. “Se não tiver esses requisitos, as seguradoras não fazem o seguro, que gira em torno de 10% do valor do caminhão por ano.” As mesmas exigências também valem para clientes, que podem se recusar a embarcar seus produtos. São os insumos do transporte rodoviário que mais contribuem para o encarecimento do frete. “Primeiro o gasto com combustível, que chega a 30%, caso haja uma boa logística da empresa. Depois, pneus, pedágio e impostos”, diz De Paula. No último ano, o óleo diesel subiu cerca de 15%, e o pedágio no Estado de São Paulo sofreu reajuste de 11,75%. “A variação desses preços, estradas ruins e a informalidade do setor aumentam não apenas o frete, mas o custo de toda cadeia do transporte rodoviário. Inevitavelmente, encarece o produto para o consumidor final”, afirma Paulo Roberto Macena, analista setorial da All Consulting, que realizou um estudo sobre o desempenho do setor. A má qualidade das estradas traz mais custos e menos competitividade. Aumentam os gastos com combustível e avarias dos caminhões, o tempo de transporte e a ocorrência de acidentes são maiores. Na Pesquisa Rodoviária da CNT, dos trechos analisados,
RODOVIÁRIO
em 12% das rodovias a redução de velocidade era obrigatória e em 1,1% a condição para trafegar era de baixíssima velocidade – quando o pavimento apresentava muitos buracos, afundamentos e ondulações. “Devido às más condições de estradas, que às vezes são a única forma de ligação e acesso entre duas cidades, as transportadoras deixam de atender determinada região”, diz Macena. Segundo estimativas do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT), seriam necessários cerca de R$ 2 bilhões por ano apenas para recuperação, manutenção e conservação da malha existente.
Sobrepeso Um fator que colabora para a deterioração das vias é o sobrepeso. A frota brasileira de veículos rodoviários de carga é de 1,7 milhão de unidades, formada por caminhões unitários de carga, cavalos-mecânicos e reboques – veículos que podem carregar até 70 toneladas. Das rodovias analisadas pelo estudo da CNT, 54,5% apresentavam pavimentação em estado crítico, e 12,1%, trechos com afundamentos, ondulações ou buracos. “Numa via mal sinalizada e com pavimento deficitário, o risco de tombamento pode aumentar”, afirma De Paula, da ATR Brasil. Apesar do custo dos
pedágios, a parceria com a iniciativa privada pode ser uma alternativa para melhorar essa situação – 77,6% da extensão pedagiada apresenta estado ótimo ou bom. “Embora as concessionárias tenham preferência por trechos de maior circulação, poderia ser um modelo viável”, diz Macena, da All Consulting. Outro gasto incluído no transporte rodoviário são os impostos. A incidência de tributos federais – como Cofins e PIS – e também estaduais encarece o frete. “No caso do ICMS, ele varia de acordo com o estado. Uma transportadora do Paraná tem vantagem em relação a uma empresa paulista nesse aspecto”, afirma Mateus de Paula, executivo da ATR Brasil. Por isso, a entidade apoia a unificação desse valor ou mesmo a substituição tributária de outros insumos da cadeia de transporte, o que atualmente ocorre apenas com o óleo diesel. O setor também espera a aprovação do Sistema Público de Escrituração Digital (SPED), que vai obrigar o cálculo da tributação no momento de emissão do conhecimento de transporte – documento emitido pela transportadora com informações relativas a mercadorias, remetente, destinatário e valor do frete contratado. À falta de um marco regulatório bem definido soma-se a falta de profissionalização do setor, que conta com cerca de 1 milhão de motoristas autônomos. “Eles enfrentam
dificuldades para investir e renovar a frota”, diz Macena. Enquanto a idade média dos veículos costuma ser bem menor entre as transportadoras, com cerca de cinco anos, pode chegar a 20 anos quando de trata de profissionais autônomos. “Poderia ter renegociação do Finame como existe para o setor agropecuário. Temos até plano de renovação de geladeiras, mas não de caminhões”, diz De Paula. No início do ano, segundo dados divulgados pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), o segmento de vendas de caminhões sofreu uma queda de 24,45% em relação ao mês de dezembro de 2008, como reflexo direto da crise financeira. Para melhorar condições para motoristas e para o setor em geral, além de investir nas estradas, é necessária uma infraestrutura complementar. “Faltam áreas de descanso para motoristas e até mesmo serviços no entorno dos portos durante os dias em que precisam ficar esperando para descarregar a mercadoria”, conta o executivo da ATR Brasil. Ainda assim, há boas perspectivas para o modal rodoviário, que continuará atuando fortemente no transporte de cargas perigosas. “Há produtos que só podem ser transportados durante quatro horas do dia e essa logística é difícil de estabelecer em outros modais.” (AS)
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Mais adequado para transporte de curta e média distância, para chegar em pontos não alcançados por outros modais Extensão da malha: 1.603.131 km, com 196.280 km de pistas pavimentadas Volume transportado: 1,14 bilhão de toneladas de cargas Percentual de participação: 61,1% Infraestrutura: 1.735.023 veículos de carga Diferencial: 10.800 km sob concessão. É o modal que atende bem às exigências legais de transporte de cargas perigosas
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Investimento nos trilhos
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Setor ferroviário deve responder por 32% da movimentação de cargas até 2025 se a estrutura receber os recursos anunciados
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O setor ferroviário deve ver concluídos até o final de 2010 cerca de 2,5 mil quilômetros de novos trechos, contornos, integrações e adequações na malha. O dinheiro veio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), cujo plano era investir R$ 7,9 bilhões desde 2007 em 14 obras. Até 2023, o Plano Nacional de Logística de Transportes recomenda mais R$ 118 bilhões para manter a competitividade das ferrovias brasileiras, recurso que deve vir também da iniciativa privada. Quase metade desse volume (R$ 50,5 bilhões) deve ser investida até 2015 em 20,2 mil quilômetros de ferrovias. A malha ferroviária nacional em operação tem aproximadamente 29,5 mil quilômetros, o que coloca o Brasil na nona posição no ranking mundial, atrás de países bem menores em território, como Alemanha e Argenti-
na. Do total, 28.334 quilômetros são operados pelas 12 concessionárias privadas que assumiram quando o setor foi privatizado, em 1996. Desde o programa de concessões, as operadoras já investiram R$ 14,5 bilhões na compra de locomotivas e vagões, tecnologia, capacitação de recursos humanos e melhorias nas estradas de ferro. Ano a ano, a estrutura se torna cada vez mais inadequada para atender à produção, que já aumentou em 76% desde a privatização do setor, enquanto a malha continua estagnada. No mesmo período, a participação no total do transporte de cargas também aumentou de 16% para 26% em 2007, e a meta do Ministério dos Transportes é chegar a 32% em 2025. De acordo com o presidente da Transnordestina Logística S/A, Tufi Daher Filho, há boas perspectivas de melhora para o setor ferroviário brasileiro, cujo volume de carga mais que
dobrou nos últimos dez anos. “Se fizermos uma retrospectiva, foram promovidos esforços financeiros, e a matriz de transporte no Brasil se movimenta para a racionalidade. No entanto, essa evolução se deu mais nos corredores de exportação de granéis sólidos (minerais e agrícolas), faltando agora nos concentrarmos na intermodalidade”, diz. Daher Filho explica que as empresas têm feito esforços para contornar as limitações de infraestrutura, e essa “ginástica” afeta diretamente o que os especialistas chamam de custo Brasil, isto é, o conjunto de fatores que encarecem os investimentos no País. A Transnordestina Logística S/A é uma empresa de capital aberto que tem como acionistas a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Taquari Participações e o BNDES, com concessão de 4.238 quilômetros de ferrovias em sete dos nove estados do Nordeste. Antiga Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), a Transnordestina Logística obteve a concessão da Malha Nordeste – SR1 (Recife), SR11 (Fortaleza) e SR12 (São Luís), pertencentes à Rede Ferroviária Federal S/A em 1997. A empresa atua nos principais portos do Nordeste: Suape (PE), Pecém (CE) e Itaqui (MA). O Plano Nacional de Logística e Trans-
FERROVIÁRIO
portes pretende equilibrar a participação dos modais rodoviário, ferroviário e aquaviário no transporte de cargas. Nessa divisão de tarefas, a vocação das ferrovias são as longas distâncias. Os trens oferecem menor custo, graças à eficiência energética, maior segurança e integridade da carga e menor impacto ambiental. As desvantagens ficam por conta das limitações na infraestrutura e também por demandar prazo maior para entregar a carga.
Agenda fundamental A Associação Nacional de Transportes Ferroviários (ANTF) estruturou uma agenda com 11 itens fundamentais para o desenvolvimento do modal. Eles incluem expansão da malha, eliminação de gargalos, investimentos em intermodalidade e tecnologia, incentivo a fornecedores, capacitação de recursos humanos, segurança contra acidentes e cuidado com o meio ambiente. A agenda estratégica também trata de problemas complexos como o da RFFSA, quem tem passivos ambientais e trabalhistas não liquidados antes da extinção da empresa, o que ainda causa problema de bloqueio de bens das
concessionárias e até de seus dirigentes. Há ainda o problema da tributação. De acordo com a ANTF, desde 1997 as transportadoras já recolheram aos cofres públicos cerca de R$ 6,2 bilhões, incluindo impostos, concessão e arrendamento, volume que substituiu o prejuízo que a extinta RFFSA acumulava antes da desestatização (R$ 2,2 bilhões). No entanto, os recursos não foram revertidos em melhorias da malha, como previsto. As empresas pedem isenção de impostos na importação de itens nos quais o Brasil não é competitivo. De acordo com a Câmara de Comércio Exterior (Camex), em 2006 as concessionárias conquistaram isenção na importação de trilhos e locomotivas. Segundo Rodrigo Vilaça, diretor-executivo da ANTF, falta superar uma série de gargalos físicos e operacionais para o desenvolvimento do setor. Entre eles estão 434 invasões na faixa de domínio das ferrovias e 2.611 passagens em nível críticas, das quais 230 são consideradas altamente prioritárias pelas concessionárias. Para a associação, os recursos do PAC foram importantes, mas chegaram com certo atraso, já que as ações têm sido anunciadas há cinco anos. “Apesar do expressivo volume de
investimentos anunciado no PAC e da ênfase às obras de infraestrutura logística, não estão previstas as soluções para passagens em nível críticas, principalmente nos cruzamentos de rodovias federais e estaduais ou vias urbanas com as ferrovias. Outros gargalos que precisam ser solucionados com urgência, e que infelizmente também não foram considerados no PAC, são as invasões nas faixas de domínio das ferrovias”, diz Vilaça. O setor observa com expectativa o andamento de projetos como a construção da Ferrovia Nova Transnordestina, Ferrovia Norte-Sul, Ferronorte, a ampliação da capacidade do corredor ferroviário do Oeste do Paraná, o novo acesso rodoferroviário ao Porto de Suape (PE) e o tramo norte do Ferroanel de São Paulo, apontado como obra urgente e capaz de solucionar um dos maiores gargalos ferroviários do País. A expectativa, no entanto, vem acompanhada da cautela de quem está habituado a ver o modal crescer com parcimônia. “Projetos de expansão da malha ferroviária são obras de médio e longo prazos que trazem resultados duradouros, desde que saiam do papel e se concretizem sobre trilhos.” (FF)
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Mais adequado para longas distâncias Extensão da malha: 29.596 km Volume transportado: 164,8 bilhões de TKU 24 % da participação do volume 20,7 % de participação na matriz de transporte de cargas Número de veículos: 90.119 vagões de carga e 2.492 locomotivas (ANTF, 2007)
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Voo rasante
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Alto custo e deficiências estruturais impossibilitam o transporte aéreo de ganhar espaço ante os outros meios
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As mudanças econômicas no último trimestre de 2008 afetaram diretamente a rota de recuperação que o setor de transporte aéreo de cargas seguia desde 2006, ano em que ocorreu o chamado “apagão” e a movimentação teve o menor desempenho dos últimos cinco anos. Segundo dados da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), cerca de 1.252.997 toneladas de mercadorias passaram pelos 67 aeroportos administrados pela estatal no ano passado, resultado 4,97% menor que o apresentado em 2007. Depois do destaque do transporte internacional de cargas nos últimos anos, a logística doméstica deve ganhar mais potência. Confiante na melhora da economia brasileira e na maior utilização do modal entre destinos nacionais, a Infraero estima que o transporte cresça 3% este ano, retomando altitudes próximas às registradas em 2007, quando os aviões carregaram 1.318.614 toneladas de carga. Com horizontes mais limpos no mercado doméstico, o grupo Beta espera aumentar em 20% seu faturamento, que fechou 2008 com R$ 200 milhões. Para isso, vai inaugurar mais duas rotas, com destinos a definir, e adquirir três aeronaves do tipo all cargo (leva exclusivamente carga), com a metade da capacidade dos sete aviões usados atualmente. “Estamos tentando especificar, de acordo com a demanda do mercado, usando aeronaves menores em trechos curtos ou onde a demanda de cargas é menor”, explica Glaucia Megna, diretora comercial corporativa da Beta Cargo. Assim como muitas empresas de transporte aéreo de cargas, a Beta atua no trajeto Manaus-São Paulo, que leva os produtos da Zona Franca aos centros consumidores. As outras duas rotas (para o Nordeste e para Brasília, saindo de Guarulhos) transportam exclusivamente mercadorias enviadas pelos Correios. Mas a direção da empresa estuda retomar, nos próximos meses, a rota Guaru-
lhos-Recife-Salvador-Porto Alegre para atender à demanda dessas regiões. Na ABSA Cargo, que opera voos regulares para destinos da América Latina e do Norte, uma das aeronaves passará a fazer exclusivamente a rota Manaus-Campinas. Segundo o presidente da empresa, Norberto Jochmann, a redução no comércio internacional exigiu mudanças na estratégia. “Vamos operar mais voos domésticos para contrabalançar as perdas com os internacionais. Dos 13 voos semanais que operávamos para Miami, teremos que reduzir para oito”, informa. Apesar de participar com apenas 0,4% da matriz de transporte do País, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Jochmann pondera que esse percentual chega a quase um terço quando se considera o valor movimentado total, e não seu peso. Essa diferença acontece porque as aeronaves levam principalmente mercadorias de grande valor agregado (como eletroeletrônicos e fármacos), perecíveis ou vivas (como flores e animais). Além de ser o modal mais rápido, outros atrativos do aeroportuário são a eficiência e a confiabilidade. Como o tempo de manuseio é menor, os riscos de atraso, dano ou roubo também diminuem, o que tende a baratear o prêmio dos seguros. A embalagem utilizada em geral também é menos robusta e dispendiosa que a necessária em outros modais. Todos esses benefícios têm um preço, e ele não é barato: o aeroportuário é o mais caro dos modais. As companhias argumentam que grande parte das despesas é em dólar, inclusive as taxas cobradas pela utilização dos terminais de carga, e por isso a recente queda no preço do barril de petróleo não foi suficiente para reduzir o valor cobrado pelo frete. Os elevados custos operacionais e a carga tributária também seriam fatores que oneram o frete. “O problema é que os clientes querem transportar, com rapidez, algo que está acostumado a cotar no modal
ABSA, uma das cinco empresas que atuam com aviões exclusivos para carga no Brasil
rodoviário, pelo mesmo valor. E o custo de uma aeronave é muito diferente do custo de um caminhão”, defende Paulo Roberto Daneliczen, sócio da Rodoajax, empresa de agenciamento de carga de Itajaí (SC), que atua com diversos modais. De acordo com estimativa de Daneliczen, quando o envio de remessas é regular, o frete aeroviário tem valor em média 35% maior em comparação com o terrestre. Segundo explica Norberto Jochmann, da ABSA, o valor do frete é determinado pela demanda, já que os custos operacionais dos aviões são os mesmos, independente da lotação.
Transporte misto Apesar de existirem empresas especializadas no transporte de carga, a maior parte do frete aéreo é feita por companhias que também transportam passageiros. Estimase que 70% das cargas sejam transportadas nos porões de aeronaves mistas, junto com as bagagens. Mas a utilização desse tipo de aeronave limita o tipo de mercadoria, que
AEROVIÁRIO Mais adequado para cargas de grande valor ou que necessitem urgência de entrega Frota: 6.824 aeronaves Volume transportado: 1.252.997 toneladas (só nos aeroportos da Infraero) Participação em volume: 0,4% Número de aeroportos com terminais de carga: 42
porto de Viracopos, em Campinas (SP), a estatal pretende investir R$ 19 milhões na implantação do sistema de transportadores automatizados, para agilizar o processo de movimentação, armazenagem e liberação de carga importada. “Quem procura esse modal é quem tem pressa no transporte e desembaraço da carga. Por isso já temos transportadores automatizados em alguns terminais de carga, onde toda a distribuição é feita por um sistema de elevadores acionados por meio de computadores”, explica o diretor comercial da Infraero, Fernando Nicácio da Cunha Filho. Existe ainda um projeto em discussão para criar um terminal intermodal em Viracopos, aproveitando a proximidade do aeroporto com ferrovias e rodovias em boa condição, que “facilitaria o escoamento de cargas e a integração entre modais, o que vai ao encontro do que o mercado tem interesse”, segundo o diretor da Infraero. A pressa dos clientes, pelo visto, não é a mesma dos governos em modernizar e racionalizar o sistema brasileiro de transporte de cargas. (DH)
LINHA DIRETA ABSA: (21) 2215-8972 ABTP: (21) 2533-0499 ATR Brasil: (16) 3911-9390 Aliança Navegação e Logística: (11) 5185-5600 All Consulting: (11) 3565-1701 América Latina Logística: 0800 7012255 Antaq: (61) 3447-1035 ANTF: (61) 3226-5434 Anut: (21) 2532-0503 Beta: (11) 3538-2695 CNA: (61) 2109-1400 CNT: 0800 7282891 Infraero: (61) 3312-3222 Log-In: (21) 2111-6500 Mercosul Line: (11) 3527-2500 NTC&Logística: (11) 2632-1500 Rodoajax: (47) 3344-6304 Syndarma: (21) 3232-5600 Transnordestina: (85) 4008-2525
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precisa ser de pequeno volume e não pode exigir procedimentos específicos, como acontece no caso de materiais inflamáveis ou animais de grande porte. No entanto, a oferta de aviões exclusivamente de cargas se concentra em poucos destinos, sendo que apenas cinco empresas atuam com esse tipo de aeronave, segundo informações da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O Plano Nacional de Logística de Transporte (PNLT) prevê aumento da participação do modal aéreo na matriz de transporte, que deve representar 1% do volume até 2025. Para isso, o plano sugere investimentos de R$ 6,5 bilhões nos aeroportos e terminais de cargas do País até 2015, principalmente nos vetores logísticos Leste, Nordeste e Centro-Sudoeste. Para este ano, a Infraero anuncia que vai investir R$ 75,2 milhões só em estrutura de cargas. Um dos destaques será o investimento na reforma, modernização e ampliação dos Terminais de Carga Aérea (Teca) I e II de Manaus, que receberão quase R$ 20 milhões em recursos. No Teca do aero-
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CRISE
rede A conta da
Serviços que reduzem gastos com transferência de dados entre computadores, telefonia e energia fazem a diferença na hora de contabilizar e rever custos por Andréia Seganfredo
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deia@empreendedor.com.br
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A área de TI das empresas é cada vez mais considerada estratégica e um diferencial competitivo. Em constante evolução, as redes de computadores passaram a integrar novos dispositivos como telefones IP, câmeras e pontos de acesso, transmitindo voz e imagem além de dados. Horas com esse sistema parado ou perda de informações podem acarretar danos irreparáveis às organizações, causando problemas para negócios e clientes. Por outro lado, manutenção e cuidado na escolha dos equipamentos apropriados podem garantir agilidade nos procedimentos e economia nos custos. As soluções apresentadas no mercado permitem a automatização e otimização de processos, como também redução no consumo de energia. A economia pode começar ainda na fase de planejamento da rede. “O empresário deve considerar questões com análise de impacto em curto, médio e longo prazos”, diz João Marcelo Corrêa, diretor da Cianet Networking. Devem ser analisadas as aplicações que serão utilizadas, a qualidade
de serviço e necessidade de banda para transmissão de dados. Níveis de segurança, quantidade de pontos de rede que serão atendidos e forma de cabeamento devem entrar no projeto também. “Onde se pretende mobilidade com restrição de banda, a solução wireless é a ideal”, afirma Corrêa, que recomenda cabos de fibra e coaxial para maiores demandas de banda. Da mesma forma, o fornecimento de energia estável, a utilização de tecnologias com padrões mundiais e o uso de equipamentos com acesso e configuração remota são importantes. Depois disso, o total a ser investido com a implementação da rede precisa ser comparado com os custos de manutenção. “O gasto com mão-de-obra e operação da rede pode superar o de instalação”, explica Corrêa. Segundo ele, esse conhecimento fica concentrado em profissionais de Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC), e os empreendedores podem perder oportunidades de economia. Um exemplo seria integrar uma rede externa de câmeras de segurança, utilizadas por empresas de vigilância, com uma de internet banda larga de uma companhia provedora de acesso.
Atentas a essas necessidades de economia e agilidade, empresas especializadas em equipamentos de rede tem desenvolvido soluções integradas. A linha de switches (dispositivos centrais das redes) da Extreme Networks tem aplicativos de segurança e foi toda desenvolvida em Linux, o que garante a convergência com sistemas de outras empresas. Graças a isso, a Extreme atendeu um cliente norte-americano que havia migrado para a telefonia IP, mas viu a conta de energia elétrica dar um salto. “Apesar de não tirar do gancho, há um gasto de ele-
engenheiro de sistemas. Isso só é possível porque a Extreme utiliza um sistema operacional aberto. “Disponibilizamos todas as ferramentas para as pessoas desenvolverem aplicações para conversar com os nossos switches.” Qualquer empresa pode desenvolver um script – maneira de automatizar a configuração do switch – e postá-lo no site da Extreme, onde será analisado e colocado em um fórum para compartilhamento com outros clientes. Outra vantagem é que os pacotes de funcionalidades podem ser habilitados com
Horas com o sistema parado ou perda de informações podem acarretar danos irreparáveis às organizações, causando problemas para negócios e clientes
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tricidade contínuo porque o display desse telefone é digital. Uma automatização de recursos pode programar o desligamento dele quando não está em uso”, informa Hilmar Becker, gerente de vendas. No projeto apresentado, os técnicos da Extreme desenvolveram um software compatível com o sistema do switch e o controle de acesso da empresa. “Quando a pessoa passa o crachá, o software sabe que ela está sentada no segundo andar, na mesa determinada, e habilita o telefone para o uso”, explica Alexandre Sanchez Alvarez,
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CRISE Switch da Extreme o equipamento em funcionamento. “Nosso software do switch é modular e, por isso, não precisa ser trocado com a inserção de novas aplicações”, afirma Alvarez. Através de um script, recursos da rede podem ser automatizados sem necessidade de intervenção manual e constante, reduzindo os custos de operação. “A empresa não cobra a mais por isso. São funcionalidades que alguns consumidores não conhecem ou não têm o hábito de utilizar e que apresentam uma série de vantagens”, diz Becker, gerente de vendas. Dessa forma, alterações no tráfego podem ser corrigidas, dispositivos novos na rede podem se configurar automaticamente quando conectados e perfis de acesso podem ser definidos. Outra possibilidade é estabelecer uma prioridade no atendimento no switch, ou seja, definir que aplicação será atendida primeiro numa situação de congestionamento da rede – o que geralmente ocorre com os tráfegos de voz e de vídeo, mais sensíveis a atrasos. Da mesma forma, ações de segurança integradas também podem ser automatizadas, economizando em mão-de-obra. Nos switches da Extreme há uma funcionalidade embutida que analisa todos os fluxos e toma ações baseadas neles. “Se o switch detecta algum vírus, pode desligar a porta do usuário, ou mandar esse tráfego para uma estação de gerenciamento e monitoramento de vírus para tomar uma ação”, diz Alvarez.
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Economia e agilidade
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Os equipamentos da Extreme foram planejados para consumir menos energia elétrica e todos os switches possuem a versão 6 do Protocolo de Internet (IP), sistema de endereçamento necessário para conexão à rede mundial de computadores. “Como a versão 4 já acabou, a migração para o IPV6 é apenas uma questão de tempo. A quantidade de endereços foi multiplicada muitas vezes e os switches terão que migrar junto”, explica Alvarez. Outro fator levado em conta no cenário futuro na montagem da rede é a velocidade de transmissão de dados. “Às vezes não compensa comprar switches com capacidade muito alta se não há perspectivas de expansão da rede.”
Atentas às necessidades de economia e agilidade, empresas especializadas em equipamentos de rede têm desenvolvido soluções integradas Líder mundial, a Cisco também oferece soluções para otimização de recursos, todas com segurança e redundância de rede – se uma parte do sistema apresenta falhas e para, outro equipamento pode desempenhar suas funções instantaneamente. Em grandes empresas o link secundário para acesso à internet pode ter a mesma qualidade do original, enquanto nas menores pode ser usada uma conexão alternativa, como a banda larga, ou fazer uma ligação por celular, graças ao encaixe de um chip telefônico no roteador da rede. “Todo equipamento mais crítico pode ser colocado redundante ou ter duplicado dentro dele as partes mais vulneráveis à falha”, diz Marco Sena, diretor da área comercial da Cisco. Em questão de segurança, a Cisco apresenta também um roteador com software que atua como firewall, impedindo ataques à rede. Com isso, pode haver acessos remotos e de forma segura, sem risco de intercepta-
ção na comunicação. “O funcionário pode acessar dados e voz da rede interna, porque estará tudo codificado e protegido”, explica Sena. Essa medida é importante também porque a Cisco tem solução de VoIP que permite ligar de lugares remotos utilizando a rede da empresa. Desde que o funcionário esteja em um ambiente wireless, pode efetuar chamadas com o celular ou laptop, como se fosse o telefone do escritório. Devido à economia nas chamadas telefônicas, o interesse em soluções VoIP tem crescido nas empresas, que contam com boa parte de funcionários trabalhando remotamente e precisam se comunicar com várias filiais. “Não é apenas uma tendência de mercado, há uma grande redução de custos e o retorno do investimento é muito rápido”, diz Sena. Nesse mesmo suporte, a Cisco oferece uma solução mais sofisticada, a Telepresença – videoconferência em alta resolução, composta por telas de 65 polegadas de plasma e mobiliário. “Fornecemos mesas e cadeiras padronizadas porque queremos dar a impressão de continuidade do ambiente, como se fosse uma reunião presencial.” Ao utilizar a Telepresença, a própria Cisco realizou mais de 144 mil reuniões e estima ter diminuído os custos em US$ 237 milhões, além de ter reduzido a emissão de gases de efeito estufa. A aposta da empresa em soluções voltadas para responsabilidade ambiental ganhou novo impulso em janeiro, com o lançamento da tecnologia EnergyWise, que deverá medir, relatar e reduzir o consumo de energia de dispositivos IP e será ampliada para gerenciamento de ativos de sistemas de construção, como aquecimento, ventilação e ar-condicionado, luzes, sistemas de acesso e controle crachás de funcionário. Diante de tantas soluções, investir na otimização e desempenho da sua rede pode sair barato.
LINHA DIRETA Cisco: 0800 702 4726 Extreme Networks: (11) 5185-2797 Cianet Networking: (48) 2106-0101
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Negócio
especial
e prreeend em n ed edor o | março març ma rço 2009 2009 20 09 empreendedor
Os mecanismos de inclusão social que beneficiam pessoas portadoras de necessidades especiais vão além da busca pela carteira de trabalho assinada. Eles agora também levam o empreendedorismo para a vida desses cidadãos e de suas famílias. Dados do Censo 2000 mostram que eles representam 14,5% da população, mas apenas 9 milhões trabalham. E, dessa parcela, de acordo com o Ministério
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do Trabalho e Emprego (MTE), apenas 348,8 mil possuíam vínculo empregatício formal em 2007 – menos de 1% do total de trabalhadores contratados no País. A conclusão é que, embora haja uma lei de cotas vigente desde 1991 que garanta de 2% a 5% das vagas em médias e grandes empresas para esses trabalhadores, a grande maioria ainda trabalha como autônomo e na informalidade.
Com apenas 20% da visão, Rafael Bastos pinta desde os 13 anos e montou o próprio ateliê
Portadores de necessidades ganham independência com cursos de capacitação sobre empreendedorismo por Francis França francis@empreendedor.com.br
Rafael Bastos, 33 anos, conseguiu emprego em um banco há três meses. Casado e com um filho de dois anos, ele tem apenas 20% da visão, por um problema no nervo ótico, desenvolvido no período da gestação. “A gente sabe que tem que se superar a cada dia e provar que pode tanto quanto qualquer outra pessoa”, diz ele, que está em fase de treinamento no novo emprego. A carteira assinada trouxe estabilidade à vida de Bastos, mas sua verdadeira vocação é a arte. Pintor desde os 13 anos de idade, ele chegou a montar um ateliê, mas o ganho incerto o fez procurar uma vaga no mercado formal. Ele já trabalhou como arte-finalista em gráficas e chegou a fazer ilustrações para um jornal. Por intermédio da esposa, conheceu um artista plástico com quem passou a trabalhar para entender como funcionava o mercado da arte. “Comecei a vender os trabalhos dele para saber se era o que eu queria para mim. Percebi as dificuldades, mas como é o que gosto de fazer, comecei a pintar profissionalmente”, conta. Começou em casa, depois montou um ateliê para dar aulas de pintura, e, com a ajuda de um apresentador de televisão, conseguiu vender seus quadros em leilões. Até que a crise financeira internacional chegou ao bolso de seus clientes, e ele precisou procurar alternativas. Bastos faz parte da parcela de portadores de necessidades especiais que conseguiu romper a barreira mais difícil, que é acreditar em si mesmo e não confundir limitação com incapacidade. “Com a lei de cotas podemos mostrar que somos capazes de fazer qualquer coisa, desde que seja uma atividade adaptada para a pessoa, que ofereça meios para ela crescer”, afirma. Durante um curso de serviços administra-
MERCADO DE TRABALHO 14,5% da população brasileira apresenta
Incubadora Para estimular essas pessoas a não apenas procurar emprego, mas a montarem negócios próprios, a Universidade Livre para a Eficiência Humana (Unilehu), de Curitiba, estruturou um programa de capacitação em parceria com a incubadora do Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getulio Vargas (Isae/FGV). As entidades desenvolveram uma metodologia já experimentada em oito turmas, com cerca de 240 alunos, para ensinar as disciplinas de empreendedorismo, plano de negócios e planejamento estratégico. De acordo com a diretora-geral da Unilehu, Yvy Bustamante, o primeiro desafio no processo é superar limitações psicológicas. “As pessoas com deficiência têm uma história de vida que não as estimula a buscar oportunidades, e o empreendedorismo está intimamente ligado a pensar em possibilidades, em saber o que se poderia fazer para melhorar alguma coisa, encontrar habilidades e transformar isso em retorno financeiro”, explica. O curso da Unilehu oferece módulos de capacitação e inclusão social. Em parceria com agências de emprego, são mapeados os segmentos ou empresas que mais contratam em determinado momento. Também são identificadas oportunidades para novos negócios. “Capacitamos muito para a área de produção, que geralmente é a porta de entrada
da indústria, e também para o setor administrativo”, diz. Há cursos de auxiliar administrativo, auxiliar de mecânica básica, técnico em manipulação de alimentos, treinamento em call center, entre outros. A iniciativa deu resultados. Do programa já surgiram negócios como locadoras de vídeo, lanchonetes e artesanato. Evandro Marcondes tem uma agência de viagens. Com apenas 5% da visão, ele é guia de turismo, especialmente em excursões para Aparecida do Norte (SP). “Quando levo as pessoas para um lugar que eu não conheço, vou antes, faço um levantamento técnico do lugar, verifico as dificuldades, questões de segurança”, diz Marcondes, mais conhecido como Tito, que deve concluir em julho o curso de guia de turismo regional. Com uma média de 400 clientes regulares, ele consegue público para suas excursões com o bom e velho marketing boca a boca. Mas a sazonalidade deixa sua vida muito instável, e Tito ainda precisa lidar com outro problema. “Em uma viagem daqui para Aparecida do Norte, que é meu carro-chefe, os guias cobram em média R$ 250. Eu não posso cobrar isso, dou um preço menor, com qualidade equivalente, para poder concorrer.” Aos 37 anos, Tito trabalha desde os oito. É massagista desde 1998, e em 2002 fez um curso de massoterapia para atender melhor os clientes. Trabalha com turismo desde 1988 e está fazendo curso superior em Marketing na Faculdade Internacional de Curitiba (Facinter). Ele conheceu o curso de capacitação da Unilehu por intermédio de amigos e lá aprendeu desde como se portar em uma entrevista de emprego até como profissionalizar os negócios em que já atua. Depois do curso ele conseguiu uma vaga em uma multinacional para trabalhar em call center, onde ficou 11 meses. Seu plano agora é juntar dinheiro para conseguir formalizar a Viagens do Tito. “Tudo o que aprendi na Unilehu pude aplicar no meu trabalho, e o meu desempenho melhorou significativamente, até na forma de lidar com os clientes, tudo”, conta. Para Yvy Bustamante, a lei de cotas ainda é vista com preconceito por muitos empregadores. “Parte-se do princípio de que eu terei que engolir uma lei e aceitar uma pessoa incapaz. Muita gente ainda não entendeu que essas pessoas têm limitações, sim, para algumas coisas, mas não para tudo. O conceito de deficiência é que está errado”, afirma. Segundo ela, as pessoas com necessidades especiais
algum tipo de necessidade especial
9 milhões de portadores de deficiência trabalham
348,8 mil trabalhadores registrados
no Brasil em 2007 se declaram portadores de necessidades especiais
5,6 milhões são homens 3,5 milhões são mulheres 4,9 milhões (mais da metade)
ganham até dois salários mínimos
LEGISLAÇÃO A Lei 8.213/1991 determina que as empresas que têm entre 100 e 200 colaboradores reservem 2% das vagas para portadores de necessidades especiais. De 201 a 500 trabalhadores, a cota é de 3%. De 501 a 1 mil funcionários, 4%. E de 1.001 em diante, 5%. Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego/IBGE
têm comportamento igual a todas as outras. “Não podemos dizer que o resultado será 100% positivo, até porque não se tem como garantir isso com pessoas que não tenham deficiência, mas a grande maioria vai fazer bem para as empresas, inclusive no ambiente de trabalho, porque seu esforço acaba motivando toda a equipe”, diz Yvy. Segundo dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), existem cerca de 650 milhões de pessoas em todo o mundo com algum tipo de necessidade especial, cujos direitos são protegidos por leis nacionais e internacionais. Exemplos como Tito e Rafael Bastos, e entidades como a Unilehu e o Isae/FGV trabalham para que não precise haver leis.
LINHA DIRETA Rafael Bastos: www.atelierafaelartes.blogspot.com Evandro Marcondes (Tito): viagensdotito@hotmail.com Yvy Bustamante: (41) 3333-6921
empreendedor | março 2009
tivos que fez no Senac, teve a prova disso. Em uma dinâmica de grupo em que havia cadeirantes, deficientes auditivos e visuais, o grupo recebeu a tarefa de montar um quadrado com uma série de triângulos. O problema, que tradicionalmente demora uma hora para ser resolvido, foi solucionado em 15 minutos. “Nossa instrutora ficou emocionada. Acho que o resultado é porque ali as pessoas estavam mais dispostas a se compreender e a trabalhar juntas”, diz. Segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do MTE, 50,28% dos trabalhadores com necessidades especiais têm limitações físicas, 28,16% auditivas, 2,95% visuais, 2,41% mentais e 1,67% são portadores de deficiências múltiplas. Foram declarados 14,02% empregados na situação de reabilitados. Os homens têm maior representatividade em todos os tipos de deficiência, com participação média de 62,76%, e a maior parcela de trabalhadores (31,5%) está no setor de serviços ou são vendedores no comércio.
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G E S TÃ O
Direto ao
ponto Sistema de Inteligência Competitiva ajuda empresas a selecionar informações relevantes sobre o mercado e a economizar esforços e recursos na hora do planejamento
por Andréia Seganfredo
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deia@empreendedor.com.br
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Tomar decisões faz parte da rotina de qualquer empreendedor. Seja na escolha de fornecedores, no lançamento de um produto antes da concorrência ou na disputa por novos clientes, estar informado sobre as tendências e ameaças do mercado é o primeiro passo para garantir a sobrevivência do negócio. No entanto, com o alto volume de informações produzido diariamente, é difícil identificar o que é relevante saber e quais dados podem ser aproveitados de forma estratégica pela empresa. Para isso, se torna cada vez mais comum entre as organizações o sistema de Inteligência Competitiva (IC) – baseado na coleta, análise e disseminação de informações. “O empresário deve entender que IC não é algo a mais para a empresa dele, mas algo vital para a permanência no mercado”, diz Douglas Luís Três, do Sebrae/SC. O processo de Inteligência Competitiva começa com a análise das necessidades da empresa, ou seja, o que ela pretende saber a partir do monitoramento constante de informação. “Pode ser a comparação de preços em relação à concorrência, uma situação comercial futura ou o planejamento
de negócios a longo prazo”, explica Alfredo Passos, professor da disciplina na Escola Superior de Propaganda e Marketing. Segundo ele, esse momento é extremamente importante para criar foco no trabalho evitando esforços e recursos em vão. “Quem busca muita informação, deixa de selecionar o que é importante e acaba se confundindo. Muitas vezes, não consegue responder à pergunta inicial do cliente.” A segunda etapa, geralmente feita com o auxílio de softwares, é a coleta de informações. “Essa fase depende do uso de metodologias, ferramentas e da compreensão em relação às demandas do cliente”, afirma Giancarlo Proença, gerente de IC da Knowtec, que presta o serviço. Por isso, a seleção do que é relevante para a empresa depende da habilidade dos profissionais de IC em compreender as suas necessidades. “O uso
Inteligência competitiva é saber antes. E nosso trabalho é avisar antes, diz Proença, da Knowtec
de programas que varrem fontes e buscam textos contendo assuntos predeterminados é uma consequência disso. O importante é fazer a pergunta certa.” No caso da Knowtec, a empresa customizou o programa Árvore Hiperbólica, construindo uma espécie de mapa mental, que varre mais de 2,5 mil fontes em busca de textos com as informações pedidas pelos clientes. Durante a coleta vários documentos podem ser utilizados. Além das fontes secundárias, como jornais, revistas e internet, pessoas são entrevistadas – as chamadas fontes primárias. “Podem ser funcionários da empresa ou vendedores e clientes que estão fora dela”, diz Elisabeth Gomes, diretora de IC da Plugar, outra empresa do ramo. A Plugar desenvolveu um software próprio, o Sapic, que busca informações em mais de 50 mil fontes. Devido ao volume de material analisado, é comum que empresas com estruturas internas de IC terceirizem essa parte do processo. “É uma questão de mercado. Elas não conseguem coletar rapidamente porque têm estruturas menores que as especializadas e esse não é o seu corebusiness (negócio principal)”, avalia Passos. Depois de toda informação de interesse ter sido selecionada, é feita a análise desse
Giancarlo Proença, da Knowtec: “O importante é fazer a pergunta certa”
material, considerando as perguntas feitas pelos clientes. O objetivo é prospectar oportunidades e ameaças presentes no mercado, antecipando-se à concorrência. “Inteligência competitiva é saber antes. E nosso trabalho é avisar antes”, diz Proença, da Knowtec. Como produtos do processo de IC podem ser elaborados planos de ação para a empresa, análise de situação, projeções de cenário e alertas – uma previsão meteorológica para produtores rurais, por exemplo. No entanto, a utilização e o aproveitamento desses serviços dependem da atitude do cliente. “Vamos até a porta da empresa, mas a tomada de decisão será sempre dela.” A análise das informações para a produção de relatórios é uma das fases mais importantes de todo o processo, mas alguns cuidados devem ser tomados. “Percebo uma tendência em criar análise de vários tipos e esse excesso pode atrapalhar também, porque são muitos dados”, diz Passos, professor da ESPM. É também nessa etapa que o potencial dos profissionais de IC é mais exigido. “Juntar a informação é trabalho do software, mas relacionar diversos dados e apresentar tendências é essencialmente humano.” Como exemplo, ele cita a previsão da crise econômica atual pelo economista Nou-
riel Roubini, que acertou as duas empresas norte-americanas que iriam à falência com o colapso da bolha imobiliária. As etapas seguintes, de distribuição de produtos e avaliação servem para medir o alcance e o acerto do planejamento feito com o cliente. “Avaliamos o quanto as recomendações, o relatório e as análises foram úteis para tomar a decisão”, afirma Elizabeth Gomes, da Plugar. A árvore de inteligência do sistema, que contém as demandas de informação do cliente, é também atualizada nesse momento ou quando houver a percepção de novas necessidades da empresa. “Se o projeto foi entregue e a pergunta respondida, começa o processo de novo, com novas perguntas”, diz Passos.
Faltam analistas Uma das dificuldades para conseguir análises bem fundamentadas está na própria escassez de profissionais. “É impressionante o número dos pedidos de empresas para indicarmos pessoas. Mas sem um instrumento de avaliação e mediação é difícil fazer isso”, afirma Fernando Fernandes, presidente da Associação Brasileira dos Analistas de Inteligência Competitiva (Abraic). A associação
pretende lançar neste ano um curso para certificação, já que no País os cursos voltados à área são especializações, MBAs e pósgraduação. A exceção é a disciplina de Inteligência Competitiva ministrada por Alfredo Passos na faculdade de Administração na ESPM. “São várias pessoas envolvidas, como coletores e analistas. Em comum, devem ter perfil analítico, perseverança, raciocínio lógico e curiosidade”, diz Fernandes. Essa diversidade de profissionais pode também ser um ponto positivo na hora da análise. No caso da Knowtec, parcerias são firmadas com especialistas para que analisem o conteúdo recolhido pelos consultores e, com isso, aproximem-se mais do ramo de atuação dos clientes – procedimento feito quando as empresas terceirizam o sistema de IC. A Knowtec também monta a área de IC dentro de uma organização, oferecendo treinamento de pessoal, metodologias, ferramentas e técnicas de análise. Há ainda um modelo misto, quando o cliente terceiriza apenas a coleta de informação, mas se responsabiliza pela análise. Já a Plugar trabalha de modo um pouco diferente. Ao invés de contratar especialistas externos, utiliza uma rede de profissionais do próprio cliente, formando uma rede de
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FOTOS TALITA GARCIA/DIVULGAÇÃO
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PAULO URRAS/DIVULGAÇÃO
G E S TÃ O
Alfredo Passos: “Quem busca muita informação, deixa de selecionar o que é importante” inteligência. “O responsável pelo relatório se comunica com quem entende do assunto e o conhecimento de todos é registrado”, explica Elizabeth Gomes. A empresa implementa sistema de IC, faz relatórios de inteligência e disponibiliza ferramentas de apoio ao processo. Em alguns casos, faz a parte de análise das informações recolhidas.
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Parceria
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Por mais paradoxal que possa parecer, há projetos setoriais de Inteligência Competitiva em que diversas empresas compartilham dos mesmos serviços. “As micro e pequenas empresas não têm dinheiro para fazer inteligência. É caro comprar informação”, diz Elizabeth, da Plugar. A empresa ajudou a formatar o primeiro sistema de IC nesse modelo no País, em funcionamento desde 2004. Inicialmente reunindo 470 farmácias de manipulação e homeopatia, o Nics Farma apoia o setor farmacêutico do Estado do Rio de Janeiro e hoje conta com 1.870 associadas. “Não importa que as empresas sejam concorrentes. Cada uma interpreta análise para o seu negócio.” Interessado pelo exemplo, o Sebrae solicitou um termo de referência à Plugar, que ficou pronto no final de 2007, para replicar o modelo nos estados. Santa Catarina já possui
Elizabeth Gomes: projetos setoriais para empresas concorrentes
um projeto consolidado: o Sistema de Inteligência Setorial (SIS), voltado para os setores de confecção, calçados femininos, apicultura e móveis seriados de madeira. Quase 400 empresários, integrantes de projetos e arranjos produtivos locais organizados pelo Sebrae, estão cadastrados no portal. “Sentimos a necessidade de ofertar esse serviço porque o empresário toma decisões que não refletem seu esforço na organização, às vezes tomado pela emoção ou sem ter informação da realidade do mercado”, afirma Douglas Luís Três, gestor do SIS. No começo do projeto, foram feitas reuniões com todos os empresários para verificar quais as necessidades de informação e os produtos que gostariam de receber. “O processo de IC só se estabelece quando há um monitoramento constante de informação e, para isso, tem que conhecer a segmentação dentro de cada setor”, diz Três. Apesar de empresas terem a mesma atividade produtiva, competem com estratégias diferentes na dinâmica econômica: menor custo total, diferencial ou nicho de mercado. “Tivemos que considerar isso dentro dos APLs para não perder o caráter estratégico da informação.” Entre os produtos oferecidos aos participantes estão a clipagem de notícias, relatórios semanais e mensais. Outro serviço voltado para o empresá-
rio cadastrado no portal do SIS é o atendimento personalizado. Ele pode solicitar um estudo para os especialistas do projeto sobre novos materiais, tendências e tecnologias, que ficará disponível durante 90 dias para ele, antes de ser incluído no sistema. “Com isso, ele tem tempo de agregar essa informação à sua atividade”, explica Três. Além dos integrantes dos quatro APLs, o portal é visitado por empresários de outros estados e entidades do setor. “É impossível mensurar o alcance e aproveitamento de todo esse material, apesar de termos mecanismos de avaliação entre os associados.” O impacto de um projeto bem elaborado de IC é uma questão de tempo: a sobrevivência do negócio.
LINHA DIRETA Alfredo Passos: (11) 5087-8857 Douglas Luís Três (Sebrae/SC): 0800 570 0800 Elizabeth Gomes (Plugar): (21) 3541-0326 Fernando Fernandes (Abraic): (61) 3342-3532 Giancarlo Proença (Knowtec): (48) 3338-0175
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empreendedor | marรงo 2009
CRÉDITO
única Mão
Pequenas empresas inovadoras podem ter acesso a recursos da Finep sem precisar devolver o valor recebido por Diogo Honorato
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honorato@empreendedor.com.br
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Os nomes são variados: “financiamento não-reembolsável”, “dinheiro de retorno indireto”, “recursos a fundo perdido” ou simplesmente “subvenção econômica”. Mas qualquer que seja a nomenclatura usada, o significado é o mesmo: quem recebe não precisa devolver o dinheiro, como acontece no crédito. E quando um desses termos aparece, sempre chama a atenção das empresas inovadoras, interessadas em parceiros que aceitem dividir o risco de um novo projeto. Por isso, até o dia 27 de março, muitas dessas empresas estarão focadas na formulação de propostas para a Chamada Pública de Subvenção Econômica à Inovação da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), que visa apoiar o desenvolvimento de produtos, serviços e processos inovadores em empresas brasileiras. Só o edital da Finep vai destinar R$ 450 milhões à subvenção, com valores que variam de R$ 500 mil a R$ 10 milhões por projeto. Em 2008 – o primeiro ano em que a financiadora aprovou aportes correspondentes ao total de recursos disponíveis – esse montante de re-
cursos foi distribuído entre 209 projetos, menos de 8% do total de propostas submetidas. Segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), existem pelo menos mais 11 editais de subvenção do Programa de Apoio à Pesquisa em Empresas (Pappe Subvenção), operados pelas fundações de amparo à pesquisa de cada estado e do Distrito Federal. A quarta edição da chamada de subvenção da Finep é a primeira a estipular um teto por projeto, em resposta às críticas de que grande parte dos recursos se concentrou em poucas empresas. Para evitar que pequenas empresas subsidiárias de grandes gozem dos mesmos benefícios que as demais com faturamento anual inferior a R$ 10,5 milhões – às quais se destinam 40% dos recursos – a financiadora passou a considerar o faturamento global do grupo ao qual um negócio pertence. Na avaliação de Joel Weisz, consultor da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (Protec) que dá cursos sobre programas de apoio à inovação, outra novidade desta edição foi o aumento do prazo entre a publicação do edital (em meados de janeiro) e a data-limite para envio eletrônico das propostas (final de março). Assim, as empresas terão mais tempo para
Antônio de Macedo, da Armtec: projeto de inovação precisa ser atraente mesmo cinco anos após sua formulação
melhorar suas apresentações de projetos. O instrumento de subvenção econômica ganhou força a partir da Lei de Inovação Tecnológica, promulgada em 2004. Desde então a legislação permite a destinação de recursos públicos no financiamento da inovação das empresas de forma direta, reduzindo o trajeto que esse dinheiro percorria até chegar à iniciativa privada (em geral por meio de instituições de Ciência e Tecnologia). Mas para ter acesso a esses recursos é preciso atender a uma série de exigências, o que justifica em grande parte o fato de que apenas 238 das 2.664 propostas do ano passado receberam recomendação dos analistas da Finep para aprovação. E como não havia recursos suficientes para todas as boas ideias, 29 projetos não foram selecionados. As propostas precisam se enquadrar em uma das seis áreas associadas às prioridades da política nacional de desenvolvimento produtivo (Tecnologias da Informação e Comuni-
MARCELLO CASAL JÚNIOR/DIVULGAÇÃO
propôs o desenvolvimento do Equipamento Unificado para Execução de Compósitos e/ ou Polímeros para substituição de Aços (Eureca), que atenuará o problema de corrosão na indústria de petróleo e gás. Segundo afirma Macedo, o equipamento ainda vai proporcionar “um controle maior da flutuabilidade que ocorre no mercado de minério para a forja de três tipos de aço, garantindo a competitividade do País”. Nos próximos 36 meses a empresa utilizará o aporte de quase 1,6 milhão na contratação de especialistas, material de consumo e serviços.
Tecnologia nacional Outra empresa com histórico de aprovações em editais de subvenção é a Cianet Networking, de Florianópolis, que teve projetos aprovados nos editais de 2006 e 2007 da Finep. A empresa acompanhou a chegada da tecno-
DICAS Proponha um projeto que sua empresa já tenha histórico de vendas; Crie uma rede de parceiros de P&D, formada de fornecedores e universidades; Conheça bem as políticas públicas de desenvolvimento produtivo; Formalize os processos de inovação de sua empresa e participe do Prêmio Finep. A experiência pode ajudar a acertar até 40% do edital de subvenção; A apresentação de um projeto deve ser um misto de tese de doutorado com pedido de crédito. Uma boa idéia que não é clara e argumentada compromete a aprovação. Fonte: Antônio de Macedo
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cação, Biotecnologia, Saúde, Defesa Nacional e Segurança Pública, Energia e Desenvolvimento Social) e estar relacionadas aos temas definidos no edital. Conseguir a aprovação no mais nobre e visado instrumento de incentivo à inovação também exige dos interessados provar que uma ideia, além de boa e original, terá impactos sociais e comerciais que façam valer o investimento. Nesse aspecto, mostrar que o dinheiro aplicado na empresa vai gerar retorno ao governo faz a diferença. “Só proponha algo que se justifique pelo retorno, em impostos, do valor que você está pedindo para o projeto”, indica Antônio Roberto Lins de Macedo, diretor-executivo da Armtec Tecnologia em Robótica, empresa cearense que teve projetos aprovados em duas das três seleções para subvenção econômica da Finep e mais uma no programa Pappe Subvenção. No projeto mais recente, aprovado no edital de 2008, a equipe de P&D da empresa
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DIOGO HONORATO
CRÉDITO
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Norberto Dias, da Cianet: projetos aprovados nos editais de 2006 e 2007 da Finep
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logia da TV Digital no Brasil e conseguiu aprovar o projeto de desenvolvimento do Codificador Escalonável MPEG-4 H.264. O aparelho será utilizado pelas operadoras de TV e fará o tratamento dos vídeos em alta definição, para que eles possam ser transmitidos aos receptores de sinal digital. “Os equipamentos usados hoje nas cidades que já têm TV digital são adquiridos no exterior, com um preço mais elevado. A intenção do governo é que o Brasil tenha tecnologia e fabricação para esse tipo de equipamento para justamente maximizar a transmissão do sinal digital”, explica o diretorpresidente, Norberto Dias. O diretor também destaca a importância social do projeto de equipamento de multiacesso à banda-larga, a ser usado em projetos de cidades digitais, que podem facilitar o uso da internet. Embora sejam úteis para viabilizar o financiamento da inovação, os recursos de subvenção exigem planejamento de execução em médio prazo e, em alguns casos, até mudanças de planos. Os recursos aprovados em 2006 para o projeto do codificador de sinal digital,
por exemplo, só foi repassado à Cianet no fim do ano passado, adiando a execução do projeto. De acordo com Dias, o valor também foi reduzido – dos R$ 1,4 milhão orçados para o desenvolvimento do produto para R$ 700 mil –, o que exigiu da empresa adequar seus gastos à nova realidade. Na Armtec, os recursos do edital de 2007 também só chegaram quase um ano depois da seleção e, por isso, o cronograma de execução ainda está na fase de preparação de processo. Em razão da margem de tempo atípica, o diretor-executivo da empresa sugere que um projeto de inovação financiado com recursos da Finep precisa ser atraente mesmo cinco anos após sua formulação, uma vez que só o processo burocrático de seleção, contratação e transferência de recursos leva, em média, 18 meses – que se somam aos 36 meses necessários para o desenvolvimento do produto ou processo. Para Macedo, há outra preocupação da equipe que formula o projeto: certificar-se de quanto a empresa deverá faturar nos anos seguintes, já que a Finep exige uma contra-
partida das empresas, cujo valor varia de 5% (para microempresas) a 200% (para grandes empresas) do valor solicitado. Tudo isso sem falar na prestação de contas que as empresas que recebem recursos de subvenção precisam fazer, periodicamente. “Os recursos não-reembolsáveis são os mais amarrados e os mais certinhos que existem”, comenta o diretor da Armtec. Por isso, não estranhe se ouvir a expressão “dinheiro amarrado” também como sinônimo de subvenção econômica nas conversas informais entre empresários.
LINHA DIRETA Antônio de Macedo (Armtec): (85) 3477-3321 Norberto Dias (Cianet): (48) 2106-0101 Joel Weisz (Protec): (21) 2294-9008
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empreendedor | marรงo 2009
PERFIL
Jae Ho Lee
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Local de nascimento: Seul, Coréia do Sul Idade: 44 anos Formação: Administração de Empresas (FEA/USP) Empresa: Grupo Ornatus Ramo de atuação: Franquia das marcas Jin Jin Wok, Morana, Balonè Sede: Barueri (SP) Funcionários: 1.600
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Sob Empresário põe em prática projeto da faculdade e cria empresas desenhadas especialmente para o sistema de franquias por Mônica Pupo monica@empreendedor.com.br
Apostar em novos nichos de mercado é uma das especialidades do coreano Jae Ho Lee, diretor do Grupo Ornatus, responsável pela administração das franquias Jin Jin Wok, Morana e Balonè, que somam 160 lojas localizadas no Brasil e exterior. Administrador de empresas formado pela Universidade de São Paulo, Lee conheceu o sistema de franchising ao fazer um trabalho acadêmico em 1987 – época em que o tema era pouco conhecido no País. Em 1992, decidiu transportar seu projeto para a vida real e fundou a rede de fastfood Jin Jin, especializada em comida chinesa. A partir daí, o empresário diversificou as áreas de atuação e hoje comemora o sucesso de sua rede, que cresce em média 30% ao ano. De acordo com Lee, os bons resultados alcançados pelo Grupo Ornatus – eleito em 2007 como o melhor franqueador do ano pela ABF – se devem ao fato de que as três marcas foram criadas sob medida para o sistema de franchising. “Na maioria das vezes as franquias
surgem a partir de um comércio que já existe e se deseja expandir. No nosso caso é o contrário, pois todos os negócios foram elaborados para se tornarem franquias.” A estratégia consiste em eleger um nicho de mercado em evidência, formatar um modelo de franquia e lançar uma loja piloto, onde serão avaliados todos os pontos fortes e fracos do negócio. “Nossa ideia é primeiro cometer os erros na loja piloto até ajustar a operação, minimizando os riscos para os futuros franqueados”, explica. O know-how em franchising também justifica a atuação bem-sucedida do Grupo Ornatus em segmentos tão distintos como gastronomia e moda. Segundo Lee, “não tem muita diferença se vendemos brincos ou comida oriental: nosso foco é a gestão de rede”. Talvez por isso as unidades próprias – oito ao todo – são as menos lucrativas, já que o empresário prefere se concentrar na administração e expansão das franquias. “E para uma loja ter bons resultados é preciso garantir uma administração muito eficiente na ponta, de preferência com a presença do proprietário no ponto-de-venda.”
Antes de ingressar no ramo de franquias e se tornar uma referência no assunto, Lee chegou a trabalhar como estagiário na Nielsen, companhia multinacional de informações e pesquisas de mídia. Mas o desejo de investir em sua própria empresa falou mais alto e, aos 27 anos, ele decidiu retomar um antigo projeto de faculdade e abriu a primeira unidade da Jin Jin Chinese Fast Food, que desde 2007 se reposicionou e mudou de nome para Jin Jin Wok Gastronomia Asiática. Prestes a completar 17 anos no mercado e com 50 unidades em funcionamento, a rede surgiu impulsionada pelo boom do fast-food vivido no início dos anos 1990 com a popularização de marcas como McDonald’s e Pizza Hut. Um dos primeiros a investir no segmento de fastfood de comida oriental, Lee foi pragmático ao escolher o tipo de produto a ser comercializado. “Quando se pensa em franquia é preciso escolher uma mercadoria de grande aceitação, que será comercializada em praças tão distintas como São Paulo, Cuiabá, Porto Alegre e Manaus”, explica. O espírito empreendedor e o gosto pelo varejo são heranças de família. Nascido em Seul, Lee chegou ao Brasil com oito anos de idade acompanhado dos pais e de dois irmãos mais velhos. O ano era 1972, período em que a Coréia do Sul enfrentava constantes con-
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encomenda
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LINHA DO TEMPO
PERFIL
1964 1972
1979
1987 1992 2002
empreendedor | março 2009
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2008 2009
Jae Ho Lee
Jin Jin Wok, Morana, Balonè
Nasce Jae Ho Lee Vindos da Coréia do Sul, Jae Ho Lee e seus familiares chegam ao Brasil e se instalam na cidade de São Paulo Inaugurada a primeira unidade da Poppy Art & Bijoux, na Rua Augusta, em São Paulo. Administrada pela mãe do empresário, inspiraria a criação da Morana, anos mais tarde Lee conclui a faculdade de Administração de Empresas na USP Inauguração da primeira loja da Jin Jin Início da operação da Morana, primeira rede de lojas de bijuterias do Brasil Além do lançamento da marca Balonè, no mesmo ano é criado o Grupo Ornatus e são inauguradas as primeiras unidades internacionais da rede O empresário conclui o MBA Executivo na ESPM A convite da ABF, no mês de março o Grupo Ornatus participa da Franchise Expo Paris com um estande da Morana
flitos políticos. “Naquele tempo o sonho de qualquer coreano era fugir do país”, relembra. Sem saber falar português, a família se estabeleceu em São Paulo e, sete anos depois, já possuía duas lojas de bijuterias na cidade. Quase três décadas mais tarde, a Poppy Art & Bijoux – que chegou a ter dez unidades administradas pela mãe do empresário – serviu de inspiração para criar a Morana, primeira rede de lojas de bijuterias finas do País. Entusiasta do franchising, Lee costuma utilizar o exemplo da família para ilustrar as vantagens das franquias em relação às empresas próprias. “Aos poucos minha mãe precisou fechar os pontos-de-venda, porque hoje em dia é difícil para uma marca própria competir com as grandes redes de varejo, motivo que explica o sucesso cada vez maior das franquias”. Com esse pensamento em mente e valendo-se da experiência adquirida com a operação da Jin Jin Wok, em 2002 o empresário formatou o modelo de negócio da Morana, convertendo as duas unidades que restaram da Poppy Art & Bijoux em lojas piloto. Foi o início de uma rede que, em menos de sete anos, já possui 102 unidades localizadas no Brasil e no exterior. Ao criar a rede de franquias a partir de um antigo negócio de família, Lee soube tirar pro-
veito de um segmento promissor. Para o empreendedor, a evolução do design e das matériasprimas contribuiu para que as bijuterias – que até um passado não muito distante costumavam ser discriminadas e vistas como bugigangas – se tornassem objetos de moda cobiçados pelas mulheres. “Observei que não havia nenhuma marca especializada no segmento. Quem quisesse comprar brincos, por exemplo, só encontrava numa lojinha multimarcas escondida debaixo da escada rolante de determinado shopping”, diz. Outro fator que ajuda a explicar o crescimento vertiginoso da Morana é a presença cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho, o que impulsionou os setores de cosméticos, vestuário e acessórios de modo geral.
Expansão internacional O sucesso da Morana no Brasil motivou o empreendedor a dar um dos passos mais ousados de sua trajetória: expandir a rede de lojas de bijuterias para o exterior. Dessa forma, em 2007 o Grupo Ornatus inaugurou unidades nos Estados Unidos e em Portugal. Com a crise financeira deflagrada no segundo semestre do ano passado, os planos de expansão internacional mudaram de foco. A estratégia da
empresa para 2009 é priorizar mercados menos suscetíveis à crise e que possuem maior identificação e proximidade com o Brasil. Ao invés de se concentrar nos mercados europeu e norte-americano, Lee agora direciona as negociações para países da América Latina, com uma unidade recém-inaugurada na cidade de Bogotá, na Colômbia. Entretanto, com a recente participação da Morana na Franchise Expo Paris – um dos mais importantes eventos do setor, que aconteceu em março na França – novas oportunidades internacionais podem surgir a qualquer momento. Adaptar-se ao mercado externo tem sido um dos grandes desafios enfrentados pelo empresário nos últimos dois anos. Para ajudar na operação das franquias internacionais, Lee conta com a ajuda do irmão mais velho, o engenheiro Marcos Ho Lee, que atualmente vive nos Estados Unidos. “Ainda estamos nos adaptando à realidade estrangeira. Não se trata de uma operação de loja pura e simples. É preciso ter muito mais cautela, planejamento e logística, até porque a burocracia é grande”, relata. Sempre atento às oportunidades do mercado, ao mesmo tempo em que administrava a expansão internacional da Morana, Lee dedicava-se à criação de sua terceira marca, a
Balonè, que também comercializa bijuterias e acessórios femininos, só que para um público-alvo mais jovem, composto por meninas de oito a 16 anos. Inaugurada em 2007, no momento a rede conta com 11 unidades e a perspectiva é fechar 2009 com 30 lojas. Apesar da agenda cheia, Lee faz questão de manter um relacionamento próximo com os franqueados. Em sua opinião, o ponto principal de qualquer parceria é a acessibilidade e, por isso, ele faz questão de atender os franqueados pessoalmente e incluiu o número do celular pessoal em seu cartão de apresentação. “Há 15 anos, por exemplo, eu estava mais voltado às questões técnicas e operacionais da empresa. Hoje, cerca de 80% do tempo eu utilizo em processos de seleção, formação de pessoas ou em reuniões com parceiros e colaboradores”, conta. Seguindo essa lógica, o Grupo Ornatus investe no treinamento constante dos lojistas e vendedores. Além disso, os franqueados recebem, quinzenalmente, um DVD com conteúdo corporativo, feito sob medida para motivar os colaboradores e trazer informações sobre lançamentos e novidades da rede. A rotina de compromissos profissionais também não impede que o empresário de 44 anos continue estudando. Para Lee, que aca-
ba de concluir o MBA Executivo na ESPM, o segredo para se tornar um empreendedor de sucesso está na preparação contínua. “As mudanças são constantes e é preciso correr atrás de novos conhecimentos, literaturas e contatos. A vida toda eu passei me aprimorando e me preparando para crescer”, conta. A despeito da crise, as expectativas do empresário para 2009 são otimistas, ainda que cautelosas. “Sempre comparo a evolução empresarial com o sentido de entropia: crescemos bastante nos últimos dois anos e agora, usando a crise como desculpa, é hora de estabilizar as operações antes de dar início a novos projetos.” Ainda assim, a perspectiva de crescimento para o ano prevê a abertura de outras 60 unidades, somando-se as três marcas representadas pelo Grupo Ornatus. “Chegamos a um ponto em que, mesmo que eu não queira crescer, a rede se desenvolve naturalmente. Só em março inauguramos 12 lojas no Brasil”, comemora.
LINHA DIRETA Jae Ho Lee: (11) 4208-6200 www.grupoornatus.com
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Focado em franchising, Lee desenvolveu segmentos distintos como fast food e acessórios
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P E Q U E N A S N O TÁV E I S
Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato anuncia vencedores Agência Sebrae de Notícias
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As 100 melhores unidades produtivas de artesanato do País já estão selecionadas. Os vencedores da segunda edição do Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato estão distribuídos em 24 estados e no Distrito Federal. Piauí lidera o número de unidades produtivas vencedo-
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ras, com nove premiados. Em seguida vem a Paraíba, onde há oito unidades selecionadas, e Pernambuco, onde há sete. Minas Gerais, Ceará, Rio de Janeiro e São Paulo contam com seis unidades que serão premiadas. A cerimônia de premiação será realizada no Rio de Janeiro ainda no primeiro semestre do ano. Os vencedores recebem o custeio de deslocamento e de hospedagem para a participa-
ção no evento. Ganham também uma autorização de uso do selo ‘Prêmio Sebrae Top 100 de Artesanato – 2ª edição’, além de um certificado de premiação e da divulgação de três produtos nos sites do Sebrae Nacional e nos estados, no CD promocional e no catálogo do prêmio. Após a premiação, haverá dois dias de rodadas de negócios. “A ideia é promover o encontro entre compradores e fornecedores para incentivar a criação de grandes parcerias de negócios”, destaca Beatriz Rossetto, analista da Unidade de Acesso a Mercados. Ela ressalta que os premiados também terão direito à participação em outra rodada de negócios que será realizada seis meses após a primeira. Esta segunda edição do prêmio recebeu 1.025 inscrições, entre artesãos independentes ou ligados a associações e cooperativas, além de micro e pequenas empresas. Desses inscritos, os 188 mais bem pontuados receberam a visita de consultores especializados para avaliar in loco as informações recebidas. Depois dessa análise, 150 unidades foram selecionadas para serem avaliadas pela comissão julgadora.
À esquerda: Opalas de Pedro II. Acima: Casa das Rendeiras, ambos do Piauí. Abaixo: Flor do Cerrado, do Distrito Federal
Na premiação deste ano, os inscritos foram avaliados em 11 critérios: grau de inovação dos produtos, adequação econômica dos produtos, adequação ergonômica dos postos de trabalho, adequação ambiental, eficiência produtiva, adequação cultural, adequação logística, qualidade percebida, práticas comerciais, responsabilidade social e gestão estratégica da unidade. “Esse último critério foi novidade nessa segunda edição, ressaltando que se trata de um prêmio de gestão voltado para o mercado. Selecionamos as 100 unidades mais competitivas do País de acordo com critérios mercadológicos”, explica Rossetto. A coordenadora de Artesanato do Sebrae Nacional, Durcelice Mascêne, destaca mais uma mudança introduzida na edição deste ano: as 20 unidades mais bem pontuadas de cada estado receberão uma análise devolutiva para ajudar na formulação de estratégias futuras. “Acreditamos que, com isso, teremos unidades mais consolidadas e competitivas no mercado”, afirma.
1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. 30. 31. 32. 33. 34. 35. 36. 37. 38. 39. 40. 41. 42. 43. 44. 45. 46. 47. 48. 49. 50.
Cooesa Iba Produtos Florestais Sustentáveis Marchetaria do Acre Aisbope Artesanato Ouricuri Artesanato Taboa Art-Ilha Caleidoscópio Mulheres Artesãs do Setor de Coraci J. Rayssa Biojóias Artesanais Nov’Arte Rita Prossi Fundart Apaeb Assoc. Artesãos do Distrito do Raso Camapet Cores da Terra Arte Vida Criações Aspraca Assoc. Artesãos do Padre Cícero Ceará Designer Libertar Grupo Prod. Artesanal Mãos de Fada Tauarte Agave Papéis Artesanais Bordadeiras de Taguatinga Brincando com Linhas Flor do Cerrado Thelma Regina Artesanato em Taboa Cerâmica Boa Nova Instituto Flamboyant Jazidas de Goiás Magda Santos Joalheria Tecelagem Olhos d’Água Artecoop Associação Santa Maria Bilros de Ouro Grupo Mulheres de Fibra Brasil Pitanga Casa do Artesão Com Arte Dedo de Gente Fio Brasil Futurarte Atelier Florada do Tagy Flor de Xarães Oficina Tecelagem Andalucia Mato Forte Pacová Toco Design
AC AC AC AL AL AL AL AL AM AM AM AM AP BA BA BA BA CE CE CE CE CE CE DF DF DF DF DF ES GO GO GO GO GO MA MA MA MA MG MG MG MG MG MG MS MS MS MT MT MT
51. Trançada de Arapiuns 52. Assoam 53. Assoarti 54. Cooban 55. COOMAJT 56. Cuiuiú 57. Desfiar 58. Natural Fashion 59. Terra do Sol 60. Alexander Mont´Elberto Fernandes 61. Arte Primitiva 62. Artesanato de Pitombeiras 63. Associação Cestaria Cana-Brava 64. Ceramistas do Cabo 65. Isnaldo Reis Design 66. Mar e Arte 67. ACCBT Bordados 68. APP – Assoc. Artesãos de Pedro II 69. Ateliê de Prata 70. Casa das Rendeiras 71. Cerâmica Serra da Capivara 72. Cooperart 73. Coop. dos Garimpeiros de Pedro II 74. Opalas de Pedro II 75. Trapos e Fiapos 76. Atelier Fedalto e Otero 77. Ateliê Monica Carvalho 78. Cooperativa Nós da Trama 79. Élson Angelim 80. Ethos Brasil Design 81. Homem de Barro 82. Tábua de São Francisco 83. Assoc. de Artesãos Lajes Pintadas 84. Bordadeiras de Timbaúba 85. Apae Ji-Paraná 86. ASAOAMA 87. Coopflora 88. Rio Terra 89. Favos do Sul 90. Lã Pura 91. Caminho das Fibras 92. Toca Tapetes 93. Tranças da Terra 94. 1001 retalhos 95. Adere 96. Brotos e Gomos 97. Café Igaraí 98. Evamaria 99. Junco 100. ABA
PA PB PB PB PB PB PB PB PB PE PE PE PE PE PE PE PI PI PI PI PI PI PI PI PI PR RJ RJ RJ RJ RJ RJ RN RN RO RO RO RO RS RS SC SC SC SP SP SP SP SP SP TO
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VENCEDORES
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A VOZ DA EXPERIÊNCIA
inovação Uma vida pela
Carlos Schneider liderou a criação de uma das primeiras incubadoras tecnológicas do País e foi o pivô da construção do polo tecnológico em Florianópolis por Francis França
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francis@empreendedor.com.br
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Há 33 anos ele é professor titular do departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), orientador de alunos de mestrado e doutorado, diretor de um dos centros de tecnologia mais respeitados do País e ainda encontra espaço na agenda para encabeçar projetos de incubadoras de empresas, parques tecnológicos e centros de inovação. Carlos Schneider trabalha todos os dias das 7h às 23h e acha tudo um hobby. “A maioria das coisas que a gente faz aqui é muito interessante. Projetar a urna eletrônica, por exemplo, não pode nem ser considerado trabalho”, diz. O fundador do polo tecnológico que se instalou na Capital catarinense – e que hoje já ultrapassa o turismo no PIB municipal – de fato tem feito coisas tão impressionantes que nem ele sabe explicar como conseguiu. “Ah, é simples, a gente vai lá e faz. Com a ideia e a determinação as coisas acontecem.” Sua primeira inovação foi criada quando ele tinha apenas 16 anos. Junto com o pai, fundador das Indústrias Schneider S/A, líder nacional na fabricação de bombas e motobombas centrífugas, Schneider projetou uma bomba hidráulica antes mesmo de entrar na faculdade de engenharia. “Aprendi com o meu pai esse
processo de desenvolver uma ideia e levar isso para o mercado. Entendi o que era empreendedorismo muito cedo, mas naquela época fazia isso de forma incompleta, muito diferente de como hoje procuramos ensinar”, conta. Algumas das invenções foram arrojadas até demais para sua época e acabaram ficando no fundo da gaveta. No final dos anos 1960, Schneider e seu pai desenvolveram o projeto de uma prancha acoplada a um motor a jato movido a gasolina, muito antes de a japonesa Kawasaki Motors lançar o primeiro jet ski (1989). No papel, a prancha a jato funcionou perfeitamente, e eles chegaram a fazer um protótipo do motor, mas como a invenção não se encaixava nas atividades do dia a dia, acabou ficando em segundo plano. Apesar de todos os projetos de sucesso que liderou até hoje, Schneider ainda se chateia quando se lembra de um deles que nunca pôde desenvolver. Ele era estudante quando o departamento de Engenharia Mecânica da UFSC comprou o primeiro computador da universidade, que ocupava uma sala inteira e tinha 16 kb de memória. Os alunos com as melhores notas foram convidados para participar do projeto de implantação do computador, e Schneider percebeu que a máquina tinha facilidade para fazer desenhos. “Eu sou mecânico, o que eu mais gostava de fazer era desenho, e o computador fazia bem, só que
era burro. Para fazer uma linha a gente tinha que explicar exatamente como queria, então eu desenvolvi um software que fazia o computador gerar gráficos fantásticos, como um engenheiro precisa, coisa que até hoje o Windows tem dificuldade de fazer”, diz. Schneider utilizou o software em todo o curso de graduação, na dissertação de mestrado, emprestou para vários amigos e chegou a levá-lo para o doutorado na Alemanha, mas quando voltou ao Brasil, os computadores já tinham mudado, e o software, que ele tem guardado até hoje, ficou para trás. “Se eu tivesse lançado na época como um produto bem empacotado, vendável, com esforço de marketing, poderia ser um software parecido com uma coisa dessas aí que o Bill Gates faz, e o Brasil teria uma grande empresa internacional de software”, lamenta. De fato, lançar programas de computador naquela época não era nada simples. O empreendedorismo era desenvolvido de forma amadora, sem incentivo ou orientação, e a universidade também não estava preparada para lidar com invenções que não fossem exclusivamente acadêmicas. Mais tarde, já como professor, no final da década de 1970, Schneider fez parte de uma equipe que projetou um torno de alta precisão, com velocidade e desempenho inéditos. Quando o protótipo ficou pronto, funcionou bem, todos ficaram felizes. E o projeto voltou para a gaveta. O que hoje parece inconcebível, na época era o único destino possível para um projeto desenvolvido dentro da universidade. Os primeiros financiamentos para inovação só foram surgir muitos anos depois, ainda não havia parcerias com a indústria e nenhuma
Nascimento: 1949, Joinville (SC) Formação: Doutor em Engenharia Mecânica Empresa: Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi) Ramo de atuação: Tecnologia Cidade-sede: Florianópolis Faturamento: R$ 14,3 milhões
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Carlos Alberto Schneider
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A VOZ DA EXPERIÊNCIA
BÚSSOLA EMPRESARIAL
O QU E FAZER Investir em tecnologia para desenvolver novos produtos Ter coragem para fazer o que for necessário Trabalhar com foco no objetivo Estar atento às oportunidades
O QUE N ÃO FA ZER
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Tentar subir na vida passando por cima dos outros Querer acabar com os concorrentes – aprenda com eles Tentar inovar sozinho – é preciso ter bons parceiros Abrir uma empresa sem um estudo de viabilidade
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incubadora para desenvolver o produto. Schneider só iria criá-la mais tarde. Quando se tornou professor do curso onde havia se formado, decidiu que seus alunos fariam coisas práticas, que funcionassem, não queria saber de projetos apenas no papel. Implantou o programa de pós-graduação em Metrologia e começou a fazer projetos para empresas. Como a universidade não podia tratar diretamente com a iniciativa privada, Schneider foi convidado a criar um instituto na área de informática e automação industrial. “Começou a se disseminar a ideia de que era importante ajudar a indústria a desenvolver novos produtos usando a informática, e como eu tinha participado da implantação do primeiro computador da UFSC e também pela
minha experiência na Alemanha, fui estimulado a tomar frente no projeto”, explica. Ele nem sabia o que era um instituto. Teve que estudar como se criava, como funcionava, quais eram as vantagens, desvantagens, obrigações, e foi fazendo. Desenvolveu a concepção, buscou parceiros para trabalhar na captação de recursos e no convencimento da universidade, até que recebeu carta branca e um orçamento irrisório. Não seria possível comprar um terreno para construir um prédio, comprar equipamentos e contratar pessoas para começar a trabalhar. “Fizemos um projeto com investimento inicial pequeno, porque nem adiantava sonhar muito alto, e precisávamos de uma solução rápida, então tivemos a ideia de
fazer um instituto dentro do campus”, diz. No dia 31 de outubro de 1984 foi criada a Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi) e no mesmo dia foi assinado um convênio com a UFSC estabelecendo que esse “ente teórico” se instalaria no departamento de Engenharia Mecânica, no laboratório de Metrologia. Na prática, a Certi era a mesa de Schneider. E como o convênio permitia que a fundação utilizasse os equipamentos da universidade, com o capital inicial que recebeu das empresas, Schneider comprou escrivaninhas, telefone e contratou dez engenheiros. No dia 1º de novembro, a Certi já estava instalada e trabalhando em três projetos. “Começamos a trabalhar imediatamente, e tinha que ser assim, porque somos uma
Pioneirismo
entidade privada, precisávamos ter dinheiro no final do mês para pagar a turma”, lembra. Embora seja uma instituição sem fins lucrativos, em 2007 a Certi alcançou receita operacional de R$ 14,3 milhões, 21% a mais do que no ano anterior, e atuou em mais de 80 projetos durante o ano. Para Schneider, o crescimento é natural quando se dá condições para que as pessoas se desenvolvam. “Eu fico impressionado com o que nossa equipe é capaz de fazer. Somos o centro número 1 em TV Digital no Brasil e eu, pessoalmente, não entendo nada do assunto. Se dependesse de mim, não iríamos para esse lado, mas cinco anos atrás surgiu a oportunidade de participar de um projeto de cooperação internacional, e resolvemos encarar. Foi gente bastante jovem
Dois anos depois da criação da Certi, Schneider fundou uma das primeiras incubadoras do Brasil – a primeira segundo alguns livros, mas o tema é controverso. Tudo começou com uma provocação. No princípio, a sigla da fundação tinha outro significado, chamava-se Centro Regional de Tecnologia em Informática, e durante uma reunião do conselho um cidadão se levantou no auditório e disse: “O trabalho da Certi está muito bom, mas vocês fazem projeto para Mercedes-Benz, Volkswagen, Embraco, e eu achei que fariam projetos com as empresas daqui. Esse centro não tem nada de regional”. A fundação não tinha projetos com empresas locais porque elas simplesmente não existiam. “E aquilo ficou na minha cabeça”, diz Schneider. Em 1985, Florianópolis estava em campanha política para eleição de prefeitos e vereadores e apareceu no discurso pela primeira vez o desenvolvimento da indústria de informática, que ninguém sabia bem o que era. “Passada a campanha, o governador veio nos perguntar o que era essa tal de indústria da informática. Dissemos para ele que eram empresas de tal e tal tipo, que não tínhamos aqui, e se quiséssemos tê-las, precisaríamos criálas”, conta Schneider. E se fosse para criar, havia uma universidade cheia de gente talentosa e sem dinheiro para desenvolver projetos, e surgiu a ideia de criar um lugar para desenvolver empresas nascentes. Ninguém sabia ainda que isso se chamava incubadora. Quem dá ideia tem que mostrar viabilidade, e a Certi foi incumbida de apresentar um projeto para desenvolver a indústria da informática. Schneider não contou para ninguém, mas lembrou até do seu antigo software. Infelizmente sua missão era criar uma incubadora, não uma empresa. Já na época eles sabiam que as empresas ficariam poucos anos no primeiro estágio e precisariam caminhar com as próprias pernas, e o governo não podia deixar que elas fossem
para outros estados ou municípios. Planejaram então um distrito de indústrias de alta tecnologia, que viria a ser conhecido mais tarde como parque tecnológico. Depois de vários projetos e muita discussão, em 1995 surgiu o ParqTec Alfa, que já nasceu pequeno demais para o potencial do projeto. “Está lá, é considerado o parque de maior sucesso do Brasil, mas eu digo que aquilo lá não deu certo.” O que Schneider queria para o ParqTec Alfa só agora está sendo feito, que é o Sapiens Parque. O projeto surgiu no ano 2000, quando a comunidade científica se perguntava: o que vamos fazer no novo milênio? “Criamos a empresa Sapiens Parque S/A com um projeto impecável, e o governo entrou com o terreno, que tem um valor enorme, então eles acabaram como sócios majoritários. Ficamos com uma pequena parte referente ao capital intelectual, mas isso não tem problema, só procuramos manter a força para não desvirtuar o projeto”, diz. Segundo ele, todas as suas investidas inovadoras foram respostas a provocações, demandas e oportunidades, e ele já pensa lá na frente, além do Sapiens. “Será fantástico quando conseguirmos introduzir na Ilha de Santa Catarina o conceito e a prática da Reserva da Biosfera Urbana, que vai combinar sustentabilidade ambiental, cultural e econômica”, prevê. Segundo Schneider, o Sapiens Parque está sendo construído de acordo com esses princípios, e a ideia é contagiar toda a sociedade. “A Certi ainda não está envolvida no projeto, que é público e está sendo discutido no âmbito do plano diretor, mas, se entrarmos, faremos um trabalho bastante sério para concretizar.” A postura visionária fez de Schneider um dos homens mais importantes da inovação brasileira. Em 1998, recebeu do presidente da República o título de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico em Ciências da Engenharia. Em 2005, recebeu a Medalha do Mérito Anita Garibaldi, mais alta condecoração do governo de Santa Catarina, e em 2007 recebeu a Medalha do Conhecimento, iniciativa do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, em parceria com a CNI, o Sebrae, Iedi e Banco da Amazônia. Mas ele não foi o criador do jet ski, nem se tornou o Bill Gates brasileiro. Ainda bem.
LINHA DIRETA Carlos Alberto Schneider: (48) 3239-2000
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que se envolveu e, de repente pela dedicação e objetividade, dentro de um grupo com 20 entidades da Europa e do Brasil, a fundação Certi se tornou importante”, diz. Mais tarde, a Certi foi convidada pelo governo federal a participar dos estudos para definição do modelo brasileiro. Atualmente, é o centro de desenvolvimento das soluções de TV Digital para o sistema brasileiro da Philips.
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Tecnologia da Informação
TI
O VALOR DO FILTRO Ferramentas de controle de internet protegem dados, reduzem custos e aumentam a produtividade com soluções personalizadas por Francis França
empreendedor | março 2009
francis@empreendedor.com.br
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A internet surgiu para acelerar a comunicação e estreitar distâncias entre pessoas, empresas e entidades, mas também trouxe problemas que não existiam antes de ela ser criada. Na Era Digital, as informações das empresas se tornaram seu bem mais precioso, e também o mais vulnerável. Hoje é perfeitamente possível que alguém entre na sua empresa e roube dados sigilosos sem precisar passar pela portaria. De acordo com números divulgados pela organização norte-americana Privacy Rights Clearinghouse, nos últimos dois anos vazamentos de dados comprometeram mais de 150 milhões de registros pessoais, e a empresa de análises Forrester calculou que uma falha de segurança pode custar entre US$ 90 e US$ 305 por registro. Os ataques podem vir de programas espiões que monitoram as informações financeiras da companhia, ou mesmo pela interceptação de dados sigilosos no momento da transferência de arquivos dentro de uma rede. O tamanho do estrago que uma invasão como esta pode causar fez surgir empresas especializadas em proteção e monitoramento de dados. Elas oferecem ferramentas de controle da internet que limitam o acesso a sites perigosos, rastreiam invasões e situações suspeitas na estrutura digital de uma companhia. Além de proteger a rede de ataques, o serviço também ajuda a reduzir custos. Depois da falta de segurança, o segundo mal da internet é o parque de diversões que trouxe para dentro das empresas. E-mails, bate-papo, redes de relacionamento, vídeos, música, está tudo ao alcance de um clique. “O tempo desperdiçado na internet pode chegar a 25%, quando mal administrado”, diz Adriano Fila-
doro, sócio-diretor da On Line Brasil, empresa especializada em soluções de segurança na internet, responsável por monitorar mais de 10 mil usuários. As variáveis de controle de internet são adaptadas para cada tipo de empresa e podem ser personalizadas de setor para setor, usuário para usuário. É possível limitar o acesso a determinadas páginas, ou permitir acesso monitorado, com limite de tempo, etc. “Uma coisa é controlar as informações de uma agência de propaganda, outra é monitorar toda a estrutura de rede de uma indústria. Há elementos comuns, como departamento financeiro, administrativo, etc., mas as permissões de acesso são diferentes para cada tipo de negócio. Não posso censurar a navegação de quem trabalha com a criatividade, por exemplo”, explica Filadoro. Nesses casos, a solução é conscientizar os usuários. A On Line Brasil precisou criar serviços de informação, como relatórios, newsletters e cursos de capacitação para diretores de TI. Segundo Filadoro, os ataques na internet são como uma moda. “A pessoa recebe um e-mail dizendo ‘meu amigo, você está sendo traído’. Todo mundo sabe hoje que isso é vírus, mas três anos atrás não se sabia. Investigamos permanentemente as ameaças e informamos nossos clientes sempre que surge um novo golpe”, conta. Na prática, a On Line Brasil tem dois painéis que acompanham as operações digitais dos clientes e, ao identificar uma ameaça, resolvem o problema antes que ele aconteça, como a infecção da rede por vírus, ou mesmo problemas nos equipamentos. “O disco rígido do servidor X vai encher, o sistema nos avisa e ajudamos o cliente a decidir se vai ampliar a capacidade de armazenamento ou remanejar dados”, diz.
O Grupo Back, que possui empresas de vigilância, limpeza, comércio e recursos humanos, precisava de uma solução que interligasse seus equipamentos ao ambiente operacional da empresa, que é todo da Microsoft. Há três anos, a companhia investiu no sistema de segurança da norte-americana Websense para controlar o conteúdo virtual que circulava entre seus usuários. “Adotamos uma solução que deixa transparente para o usuário que ele está sendo monitorado. São liberados apenas sites de instituições financeiras e intranet para o pessoal administrativo. No nível de gerência definimos outra categoria de permissão, em que se pode acessar qualquer conteúdo, exceto e-mails externos, sites de pornografia e redes de relacionamento”, afirma Rodolfo Bernardi, gerente de TI do grupo. Com turnos de 24 horas por dia, a Back tem cerca de 600 usuários com acesso à inter-
PHOTOSTOGO
Resultado A companhia comemora o ganho com segurança e economia, já que, com a redução de transferência de arquivos e acesso a sites não vinculados ao trabalho, a pressão sobre a capacidade de conexão também diminuiu. “Recebemos relatórios de tudo o que é acessado dentro do grupo, e se um colaborador tentou acessar uma página não permitida, isso também fica registrado. Otimizamos o link de internet e sabemos que as pessoas estão de
fato trabalhando. Sem contar que podemos ver quais são os sites mais acessados, quem acessa mais a internet, uma série de dados que me permitem gerar indicadores para medir a produtividade do nosso pessoal”, explica. O custo do ócio virtual é difuso: diz respeito à estimativa simples de quanto o tempo desperdiçado corresponde percentualmente ao salário do colaborador, mas também a uma conta mais difícil, que é quanto de riqueza ele deixa de gerar para a empresa pela queda na produtividade e quanto se gasta com conexão para sustentar o acesso a bobagens. “Instalamos o Websense em uma faculdade que tinha dois links de internet com 20 mega cada, e a utilização caiu 30% só com o bloqueio de sites como YouTube, rádios on-line, sites de relacionamento e páginas perigosas”, afirma Marcelo Eduardo da Silva, analista de suporte da V.Office, parceira da Websense em Santa Catarina.
Para estar plugado e, ao mesmo tempo, seguro, é preciso buscar o equilíbrio e entender a diferença entre monitoramento de risco e invasão de privacidade, o que pode também inibir a produtividade e a capacidade de inovação da equipe em determinadas atividades. Cada empresa precisa buscar a justa medida do bom senso.
LINHA DIRETA Adriano Filadoro (On Line Brasil): (11) 2227-9797 Marcelo Eduardo Silva (V.Office): (48) 3025-8550 Rodolfo Bernardi (Back): (48) 3281-3537
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net. O grupo nunca registrou quebra de segurança, mas também não há como ter certeza sobre o vazamento de dados antes da instalação do sistema de monitoramento. Hoje, até os notebooks são rastreados para não haver risco de serem atacados fora e trazerem ameaças para dentro da empresa.
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LIO SIMAS
TI
ERP para vestuário O software Linx Global Fashion é uma solução de sistema de gestão empresarial específico para empresas do segmento têxtil e de vestuário. O ERP é dividido em módulos que abrangem desde o início da confecção até a finalização da venda ao consumidor final. A solução também dispõe de ferramentas que apoiam a decisão em nível estratégico, como os módulos de Business Intelligence e de relacionamento com clientes (CRM). No Brasil, a Linx atende empresas como Hering, Fórum e TNG.
www.grupolinx.com.br
PHOTOSTOGO
Padrão automático
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Disco protegido
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A SonicWall lançou soluções de backups e recuperação em disco destinado a pequenas e médias empresas. Os equipamentos da Continuous Data Protection (CDP) recuperam desastres e fazem backups automáticos, com requisitos simples de instalação e gerenciamento. A série é indicada para a automatização de tarefas rotineiras e que precisam de menos recursos dedicados de TI para serem administradas.
(11) 5095-3490/www.sonicwall.com
Para atender às novas exigências do governo federal sobre elaboração e divulgação de demonstrações financeiras nas grandes empresas, a Sispro lançou um pacote de serviços especializado para adequação do patrimônio às normas internacionais de demonstrações financeiras. O serviço inclui a aplicação do sistema de testes Impairment, aplicáveis a ativos de longa duração e capaz de evidenciar a perda da capacidade de recuperação. A prática facilita auditorias e garante a fidelidade das informações aos investidores. www.sispro.com.br
Gestão de cobrança A Interfile pode ser considerada uma das poucas empresas que pode comemorar a atual crise. A empresa de Business Process Outsourcing registrou um crescimento de 30% na procura pela ferramenta de recuperação de crédito desde outubro, quando a instabilidade começou, até dezembro do ano passado. O serviço
faz a gestão integral da informação e processos de cobrança, gerando notificações e formando kits de ajuizamento a partir de documentos eletrônicos. Todo esse processo é controlado por meio de certificação digital, o que garante o reconhecimento da autenticidade.
www.interfile.com.br
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empreendedor | marรงo 2009
SARA LEE
FRANQUIAS
Para todos os
gostos
Cafeterias investem em novos serviços e ambiente aconchegante para manter o cliente mais tempo à mesa
por Andréia Seganfredo
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deia@empreendedor.com.br
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Foi-se o tempo em que o cafezinho era a atração principal nas cafeterias. Cada vez mais especializadas, elas se transformaram num ambiente confortável e aconchegante, onde o cliente tem opções de cardápio para qualquer momento do dia e pode desfrutar de espaços lounge, além de serviços como internet wireless e revistaria. O sucesso dessa receita está nos números: as cafeterias tiveram crescimento de 33,91% dentre as franquias de alimentação – segmento que mais cresceu em 2008, segundo a Associação Brasileira de Franchising. Mais animadora ainda é a constatação de que o consumo interno não para de crescer. Dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) mostram que o consumo per capita no País já passou dos 5,5 quilos ao ano – comparável a mercados como o francês e o italiano. Esse crescimento pode ser explicado por uma evolução do setor, que levou à mudança de hábito dos brasileiros. “Os cafés especiais tornaram-se mais conhecidos, e os clientes, mais exigentes, estão descobrindo que há atributos semelhantes aos do vinho, com aromas e sabores diferentes”, diz Rodrigo Morgan Cavalcante, gerente de franquias do Café do Ponto. Além da qualidade do produto, o oferecimento de cardápio com mix amplo e sazonal, com refeições para vários momentos do dia, ajuda a atrair mais consumidores. “A cafeteria
passa a ter uma conotação de lanche rápido que começa a concorrer com restaurantes, lanchonetes e até fast-food”, afirma Ana Vecchi, consultora em franchising. Com a grande maioria das lojas em shopping centers, o Café do Ponto começou a expansão nos pontos de ruas, com opções para café da manhã, almoço e happy hour. “Não queremos perder o foco do café, nem deixar de acompanhar tendências e de trazer inovações alinhadas com o negócio”, diz Cavalcante. Há cerca de dois meses, a primeira loja Café do Ponto & Cia foi inaugurada, e a expectativa é que os produtos testados ali sejam transferidos para o restante da rede. Diferente das outras unidades, onde o cliente pode pedir para moer o grão e fazer um blend próprio, a loja conceito possui também um torrador e uma linha de suvenires, com xícaras, bules, canecas e cafeteiras à venda. “Queremos mostrar para nosso público as diversas possibilidades de se apreciar um bom café e ajudar nessa descoberta.” O Café do Ponto oferece 13 tipos de café expresso e continua agregando novos itens ao cardápio da rede. Cerca de 50% da receita das lojas é proveniente do café, incluindo os pacotes vendidos no varejo e nas cafeterias, e bebidas à base do grão. Essa variedade também influencia no perfil do público, concentrado na faixa entre 25 e 50 anos. “Drinques gelados e não-alcoólicos foram uma quebra de paradigma no consumo brasileiro e também garantem opções para toda a família”, afirma Cavalcante. Além de aumentar o con-
sumo entre jovens, os clientes passam mais tempo nas lojas com ambiente lounge e internet wireless – presente em 50% da rede. Aumentar o mix de produtos e oferecer serviços não é mais considerado inovação no mercado. “Houve a diferenciação de produtos, de serviços e até mesmo na arquitetura e louça das cafeterias, mas isso já virou commoditie”, diz Ana Vecchi. Segundo a consultora, nesse processo de evolução, algumas redes acabaram deixando de lado a preocupação com o atendimento. “Não adianta ter wireless, e o café chegar frio na mesa. A principal forma de fidelizar o cliente ainda é a qualidade do serviço.” Por outro lado, a consultora aponta que os empresários brasileiros acertaram ao incluir pratos sazonais no cardápio, como sopas no inverno e sucos naturais gelados no verão, atraindo clientes durante o ano inteiro. Na Fran’s Café, o cardápio amplo e sazonal pode ser regionalizado de acordo com a necessidade do franqueado. “Se ele acreditar que é importante para o sucesso do negócio, pode incluir três a quatro itens”,
explica Henrique Ribeiro, sócio-diretor e responsável pelas franquias da rede. Com mais de 80% das lojas atendendo 24 horas, o cardápio da rede é extenso, incluindo bebidas alcoólicas e à base de café. Segundo a consultora Ana Vecchi, o fato de a rede ter se lançado como um lugar descolado onde as pessoas poderiam ir depois de qualquer programa ajudou a mudar o perfil do consumo brasileiro. “Eles fizeram isso há uns 20 anos e ajudaram a consolidar um hábito que não era tipicamente nosso, mas do europeu e do argentino.”
Espaço lounge Além de atender a qualquer horário, a Fran’s Café aposta na permanência do consumidor nas lojas. Por isso, investiu também na arquitetura, projetando espaços lounge, com mobília mais baixa, como também mesas grandes e espaços delimitados para reuniões de trabalho. Todas as unidades possuem conexão wireless e telas para disposição do cardápio. “Queremos proporcionar um ambien-
te agradável para que o cliente se sinta bem e fique mais tempo ali, consumindo mais”, diz Ribeiro. Uma das primeiras cafeterias a oferecer revistaria dentro das unidades, hoje a Fran’s Café mantém parceria Store in Store com a livraria FNAC, do grupo Multiplan, e tem lojas em shoppings e galerias. Com 122 unidades, a rede tem crescido mais de 20% nos dois últimos anos e atende cerca de 4 milhões de pessoas por mês, a maioria na faixa entre 25 e 45 anos. “É justamente esse público, com valor cultural forte e que busca qualidade de vida, que exige um bom serviço”, afirma a consultora Ana Vecchi. Diferente de quem toma um café numa padaria, na correria do dia-a-dia, as cafeterias são um espaço para apreciadores da bebida, mais exigentes em relação ao atendimento. “Não é fácil atender tanta gente, mas essa é a nossa principal preocupação. Depois, vamos conduzindo e implementando inovações”, diz Ribeiro. Há apenas dois anos e meio no mercado, a Vanilla Caffè também aproveita o bom crescimento das cafeterias no franchising.
Ana: cafeterias passam a concorrer com restaurantes, lanchonetes e até fast-food
Com 20 unidades, outras 14 deverão ser abertas até o fim do ano. “Quando construímos a marca, pensamos em três pilares: ambiente agradável, qualidade de produto e bom atendimento”, afirma Sérgio Freire, sócio da rede. Cerca de 70% da receita das lojas é proveniente da carta de cafés, que inclui bebidas geladas à base do grão e sodas italianas, e será ampliada com dois blends – orgânico e descafeinado. Em todas as unidades, localizadas principalmente em ruas, há espaço lounge e para reuniões, internet wireless e revistaria. “O brasileiro está transformando a cafeteria no seu terceiro ambiente, depois da casa e do escritório”, conta Freire. Então, vai um cafezinho aí?
LINHA DIRETA Ana Vecchi: (11) 3841-9676 Fran’s Café: (11) 4191-3141 Café do Ponto: 0800 055 42 62 Vanilla Caffè: (11) 3881-1452
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Cavalcante (à esquerda), do Café do Ponto: opções para café da manhã, almoço e happy hour
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FRANQUIAS
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Casa arrumada
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Paraíso orgânico A rede de produtos naturais e orgânicos Mundo Verde inaugurou uma unidade na ilha de Fernando de Noronha, com novidades para turistas, surfistas e adeptos da vida saudável. A loja oferece alimentos light, diet, orgânicos e sem glúten, chás, bebidas energéticas, sanduíches integrais
e naturais, suplementos alimentares para atletas, além de fitoterápicos, aromáticos (incensos, essências, velas), livros, CDs de relaxamento e meditação, entre outros produtos voltados para a saúde do corpo, da mente e do planeta.
(81) 3619-0058/www.mundoverde.com.br
A LigLig, especializada em comida chinesa, decidiu reduzir custos para ampliar o resultado de seus franqueados mesmo em meio à crise. Só com os cardápios, cortou 47% no custo de impressão, o que permitiu aumentar a distribuição de material promocional e o número de pedidos. As lojas da rede ampliaram seus ganhos entre 25% e 42%. O crescimento consolidado da marca em 2008 foi de 8%. A Lig-Lig fechou o ano com o lançamento de um novo formato de operação, uma loja com cozinha adaptada para feiras e eventos. Em 2009, a meta é crescer em São Paulo e no Rio de Janeiro, e chegar a 60 lojas.
(11) 5571-5666/www.liglig.com.br
CASA DA PHOTO
Rede planejada
www.formaplas.net
Doce expansão A rede de franquias Cacau Show cresceu 61% em número de lojas em 2008, e pretende outros 33% em 2009. A meta é chegar a 800 unidades franqueadas até o final do
ano. O foco de expansão da fabricante de chocolates finos será o Estado de Minas Gerais e a Região Nordeste.
www.cacaushow.com.br
Beleza em foco Premiada como melhor franquia do segmento de saúde e bem-estar em 2008, a Depyl Action inaugura sua primeira unidade em Florianópolis. Com mais de 50
franqueados em todo o País e um no exterior, a casa se dedica exclusivamente à depilação e oferece nove salas aos clientes, que não precisam marcar hora para serem
atendidos. A rede também possui programas de fidelidade com descontos e promoções especiais para aniversariantes.
www.depylaction.com.br
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A Formaplas, fabricante de móveis planejados para cozinhas, dormitórios e lavanderias, chega a 16 unidades franqueadas com a recente inauguração em Brasília. Para 2009, a meta é abrir mais duas lojas. Fundada em 1964, a empresa está presente em 11 estados, e vendeu em 2008 cerca de 12 mil metros quadrados de armários. A empresa planeja atender o mercado externo a partir de 2010 e chegar a 30 lojas em 2011.
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FRANQUIAS
Grife à mão Operando no sistema de franquias há um ano, a Kargo está presente nas quatro maiores cidades de Santa Catarina, estado de origem da
marca, e também no Paraná, São Paulo, Amazonas e Bahia. A expectativa até 2010 é chegar a 20 franqueados e atender todo o Brasil. Também
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Negócio divertido
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Lego e Franquia Líder firmaram parceria para desenvolver um projeto de liderança empreendedora voltada para crianças entre 10 e 15 anos. O programa é baseado em atividades extracurriculares com aventuras robóticas e tecnologia para desenvolver as habilidades e competências de jovens e estudantes. O projeto pode ser aplicado em diferentes escolas e instituições. Os interessados na franquia não precisam de ponto comercial e o produto é voltado para educadores. A expansão da marca será nacional e a meta são 95 franquias em 2009.
www.franquia lider.com.br
presente em mais de 700 multimarcas nacionais e internacionais, a grife pretende ampliar a atuação em outros países. (48) 3233-1467
Convenção de franqueados A Akakia Cosméticos realizou em fevereiro sua 3ª Convenção Nacional de Franqueados, com a participação de 140 representantes de unidades em todo o Brasil. A empresa fechou 2008 com crescimento 30% superior ao ano anterior, com um leque de mais de 300 produtos masculinos e femininos.
www.akakia.com.br
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PA- PROJETO ARQUITETÔNICO, PM- PROJETO MERCADOLÓGICO, MP- MATERIAL PROMOCIONAL, PP- PROPAGANDA E PUBLICIDADE, PO- PROJETO DE OPERAÇÃO, OM- ORIENTAÇÃO SOBRE MÉTODOS DE TRABALHO, TR- TREINAMENTO, PF- PROJETO FINANCEIRO, FI- FINANCIAMENTO, EI- ESCOLHA DE EQUIPAMENTOS E INSTALAÇÕES, PN- PROJETO ORGANIZACIONAL DA NOVA UNIDADE, SP- SOLUÇÃO DE PONTO
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F ra nq u i a e m exp ans ã o
PA- PROJETO ARQUITETÔNICO, PM- PROJETO MERCADOLÓGICO, MP- MATERIAL PROMOCIONAL, PP- PROPAGANDA E PUBLICIDADE, PO- PROJETO DE OPERAÇÃO, OM- ORIENTAÇÃO SOBRE MÉTODOS DE TRABALHO, TR- TREINAMENTO, PF- PROJETO FINANCEIRO, FI- FINANCIAMENTO, EI- ESCOLHA DE EQUIPAMENTOS E INSTALAÇÕES, PN- PROJETO ORGANIZACIONAL DA NOVA UNIDADE, SP- SOLUÇÃO DE PONTO
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P R O D U T O S E S E RV I Ç O S
Banquinho resistente Um banquinho feito de papelão ondulado 100% reciclável é a novidade da Orsa Celulose. O acessório pode ser utilizado em eventos, campanhas de marketing, lançamentos de produtos e demais ações como uma solução inteligente e criativa. Se desejar, a empresa compradora pode imprimir seu logo e aplicar verniz de alto brilho. Fácil de montar, armazenar e carregar, o banquinho vem com uma alça de transporte, pesa 1,14 kg e suporta até 800 kg.
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www.orsaembalagens.com.br
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Venda e reciclagem A JGB, fabricante de equipamentos de proteção individual (EPIs), passa a oferecer a partir de abril uma opção de logística reversa e reciclagem de sobras de couro. A intenção é transformar os resíduos de couro em adubo orgânico, evitando passivos ambientais para seus clientes. O serviço poderá ser contratado juntamente com a venda dos EPIs comercializados pela JGB, que utilizam couro em sua confecção. A primeira das duas plantas de reciclagem que estão sendo construídas será instalada no Sul de Santa Catarina e terá capacidade para beneficiar até 60 toneladas de adubo por mês.
www.jgb.com.br
Marca sensível
Térmica compacta
O conceito de inclusão agora pode ser estendido para a identificação de uma peça de roupa. A empresa catarinense Haco lançou uma linha de etiquetas que utilizam a linguagem Braille, o que permite que as marcas das grifes sejam reconhecidas por deficientes visuais. A ideia surgiu a partir de um trabalho em conjunto com grupos de deficientes, quando foi identificada a carência de produtos que facilitem o acesso destas pessoas ao universo da moda. www.haco.com.br/braille
A impressora térmica não fiscal PR 100 foi apresentada pela fabricante CIS como a menor da categoria, tendo como dimensões 86 mm de altura, 97 mm de comprimento e 79 mm de largura. O produto é especial para as soluções de automação comercial, em tarefas auxiliares aos terminais de venda que requerem impressão, mas que dispõem de pouco espaço. A PR 100 imprime em bobina de papel de 57 mm, é compatível com aplicativos de 32 e 40 colunas e pode ser comprada com as interfaces serial e USB. O preço sugerido ao usuário final é de R$ 490. www.cis.com.br PHOTOSTOGO
Telefonia terceirizada A Voitel trouxe para o mercado nacional um pacote de serviços para empresas que não possuem uma central de PABX, ou que queiram atualizar o sistema existente. A empresa utiliza o conceito full outsourcing e fica responsável pela gestão de todo o sistema de telefonia da contratante, incluindo a instalação, programação e manutenção da infraestrutura e pela assessoria técnica. Outro serviço é o V-Card, que permite fazer ligações interurbanas através de telefones públicos ou celulares, utilizando um cartão pré ou pós-pago. www.voitel.com.br
O novo sistema de localização em tempo real com tecnologia UWB (UltraWideband) tem precisão de até 15 cm mesmo em ambientes entes internos complexos. os. A tecnologia, desen-volvida pela Ubisense, utiliza sensores para detectar tags relacionadas a um determinado item. A partir da localização, o sistema cria uma visão detalhada do ambiente em 2D ou 3D. O recurso pode ser usado para precisar a localização de clienntes em shoppings e supermercados, para determinar padrões de tráfego e compras, ou agilizar o rastreamento de mercadorias em armazéns. No Brasil, o sistema é comercializado pela In Mídia.
www.inmidia.com.br
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Localização precisa
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P R O D U T O S E S E RV I Ç O S
Saúde do motor Através do serviço de “biópsia do motor”, lançado pelo Instituto de Avaliações e Perícias (Iapa), é possível examinar as reais condições dos motores automotivos e industriais, mesmo quanto a seu funcionamento interno. O processo começa com a retirada de uma pequena quantidade de fluido, feita com o uso de um equipamento especial, que é analisado pela equipe técnica. O diagnóstico consegue definir a vida útil, existência de oxidação, a presença de água ou óleo e a qualidade do combustível utilizado.
www.iapa.com.br
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Superfície precisa
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O Smoothing Station, lançado pela Sisgraph, é capaz de melhorar a superfície final de peças termoplásticas fabricadas em ABS, produzindo um acabamento similar ao de uma peça produzida por injeção moldada, mas sem a necessidade de finalizar o processo manualmente. O processo é feito em alguns minutos e fornece uma superfície final de 32 a 63 mícrons. O novo sistema é ideal para todas as empresas que necessitam e procuram protótipos funcionais, mas que não abrem mão de uma boa apresentação visual de seus produtos.
Prevenção contra raios Por ano, cerca de 50 milhões de descargas elétricas acontecem no Brasil, fenômenos que podem causar danos em equipamentos, explosões e incêndios. Para prevenir prejuízos e garantir a segurança de funcionários, a Ag Solve monitoramento ambiental comercializa um sistema que permite antecipar a chega-
da de raios. A prevenção de acidentes é feita através de antenas, que detectam pulsos magnéticos e softwares que indicam a incidência de raios nas proximidades. Há ainda a opção de caixa com alerta sonoro e luminoso, que substitui o uso de computadores.
www.agsolve.com.br
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LEITURA
Ideias em ordem Autor mostra como estimular a criatividade e transformá-la em ações práticas para o crescimento da empresa Há quem diga que ser criativo é a primeira competência necessária em um executivo. O mercado exige novas soluções, novos produtos, novos processos, e tudo precisa sair da cabeça de uma equipe em prazos cada vez mais curtos. A dúvida é: como, afinal, ser criativo? Para ajudar no processo, Roberto Dualibi e Harry Simonsen Jr. prepararam esta edição atualizada e informatizada de Criatividade e marketing, livro que explica como funciona o pensamento criativo e como conduzi-lo para formular soluções a problemas específicos de marketing. Dividida em oito capítulos, a obra começa com uma apresentação do contexto dos
Sugestões técnicas para ter boas ideias 1. Imagine outros usos, outras aplicações 2. Imagine uma adaptação 3. Imagine uma ampliação, ou uma adição 4. Imagine uma diminuição, ou redução 5. Imagine uma substituição 6. Imagine um rearranjo 7. Imagine o inverso 8. Imagine uma combinação
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A essas oito proposições técnicas o autor adiciona uma última: 9. Imagine deixar como está
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negócios e discute o papel e o impacto da criatividade no sucesso das empresas. Na sequência, mostra princípios lógicos de heurística e algoritmo para orientar a tomada de decisões criativas. O livro é indicado para estudantes, empresários e demais pessoas interessadas no tema, e apresenta modelos de aplicação do sistema de marketing, explica como a mente busca a combinação de percepções, ideias e reflexões para gerar uma conclusão nova e original, e quais são as características necessárias em uma pessoa criativa e o que se deve exigir de um profissional de marketing. Os autores também mostram quais são as características das empresas criativas, com ambiente de trabalho que favorece a produção criativa. No capítulo final, trata da gestão da mudança, comparando e contrastando criatividade, diferenciação e inovação, e analisa as dificuldades e entraves de se quebrar paradigmas, estudando os fatores que inibem a criatividade. Para ampliar a interatividade, é possível baixar, na página da internet do livro, a Régua Heurística, que traz uma combinação de perguntas para ajudar pessoas criativas a encontrarem soluções para diferentes aspectos do negócio. Nos apêndices do livro estão explicações sobre a construção do modelo heurístico e a base da definição da Régua Heurística, enfatizando que a boa resposta depende da boa formulação de perguntas. Há ainda um tutorial sobre como usar a régua e um diagnóstico com checklist para orientar o processo criativo.
Criatividade e marketing
Roberto Dualibi e Harry Simonsen Jr. M.Books R$ 65
FRASES “Criatividade é a habilidade de formular novas respostas ou ideias aos problemas ou situações novas ou já conhecidas.” “O processo criativo tem a ver com a própria sobrevivência, pois surgem a cada momento novos problemas e situações que exigem, cada vez mais e em uma rapidez inusitada, soluções inovadoras e decisões criativas.” “O profissional de marketing consciente usa toda a sua imaginação não apenas para levar adiante projetos anteriormente estabelecidos, mas para detectar possíveis mudanças que terão influência decisiva sobre a vida de sua empresa.” “Toda empresa é a solução criativa para uma angústia gerada por um problema. Um empreendedor identifica uma necessidade não satisfeita, ou mal satisfeita, e vê nela uma oportunidade.” “Quanto maior o número de perguntas, maior a probabilidade de encontrar uma boa resposta.”
O milionário no espelho
Gene Bedell – Campus-Elsevier – R$ 59,90 O livro é um manual de instruções para o autogerenciamento profissional. O autor parte do pressuposto de que todo mundo tem a capacidade de obter sucesso financeiro e
felicidade no trabalho ao assumir o controle da própria carreira. Para ajudar o leitor, ele dá sete dicas estratégicas para o sucesso, incluindo as diretrizes para implementá-las.
Segundo Bedell, não é necessário ter diplomas em escolas de prestígio, nem MBA ou qualquer talento gerencial espetacular. E o melhor: preservar a vida pessoal.
George Niaradi Editora Pearson R$ 49
O objetivo do autor, atual presidente da Comissão de Comércio Exterior e Relações Internacionais da OAB/SP, é tornar o direito mais acessível para administradores de empresas. A obra fundamenta-se nos quatro pilares do direito empresarial: Civil e Comercial, Tributário, Penal Econômico e Internacional. É indicada para gestores que têm interesse em conhecer mais sobre direito para garantir maior segurança na hora de tomar decisões que envolvem questões jurídicas.
Os segredos dos grandes CEOs
A atitude vencedora
Em tempos de crise, conhecer um pouco da experiência dos maiores executivos mundiais é uma boa indicação de leitura. Os segredos dos grandes CEOs traz a trajetória de vida e de negócios de 150 deles, profissionais que comandam ou comandaram empresas como Tesco, Infosys, Lenovo, Google, Dell e News Corporation. Os líderes falam, por exemplo, sobre como lidar com a pressão pessoal de saber onde estará o dinheiro nas situações de mercado em queda livre. Nada mais atual.
Especialista em liderança, John Maxwell é autor de mais de 50 livros, com 13 milhões de cópias vendidas. Em A atitude vencedora, recém-lançado no Brasil, ele destaca a importância do comportamento para o sucesso de um líder. “Aptidão é importante para o sucesso. Porém o sucesso ou o fracasso, em qualquer situação, é resultado de atitudes mentais, mais do que da capacidade mental”, afirma Maxwell. Para o autor, a habilidade é o que o líder é capaz de fazer, a motivação responde pelo que ele faz e a atitude determina quão bem ele fará.
Steve Tappin e Andrew Cave Campus-Elsevier R$ 76
E-empreendedor Richard J. Goossen Campus-Elsevier R$ 57
O autor relaciona o que ele considera os cinco passos necessários para lançar um empreendimento bem-sucedido no mercado virtual. “E-empreendedores são aqueles que reconhecem e exploram por completo as oportunidades que o mercado emergente da internet traz. Eles não veem mais os clientes como espectadores e sim como colaboradores – diretores de criação, comentaristas, críticos e inventores”, diz Goossen. Para ele, a massa global que fica em frente aos computadores vai definir políticas, aconselhar empresas e influenciar o destino dos países.
Descubra a chave do sucesso pessoal e profissional John Maxwell – Thomas Nelson Brasil R$ 29,90
Brasil – A trajetória de um país forte
Alcides Domingues Leite Júnior Trevisan Editora Universitária R$ 59 Professor de economia, o autor de A trajetória de um país forte destaca na obra as condições necessárias para o Brasil atingir o grau de país desenvolvido. “O desenvolvimento pressupõe ampla liberdade de pensamento e de manifestação, fortalecimento da sociedade civil e dos poderes autônomos, boa distribuição de renda, suficiente padrão de qualidade de vida, dentre outros pontos”, comenta Alcides Leite. O livro analisa o processo de desenvolvimento brasileiro desde a implantação da indústria de base até o combate à inflação e a adoção de programas sociais.
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Direito empresarial para administradores
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DINÂMICA EMPREENDEDORA
Tempo de mudança No artigo de fevereiro tratei das fases de desenvolvimento de uma empresa. Embora este seja um processo permanente, muitas vezes ele é pressionado por circunstâncias externas, tais como este período em que navegamos pela crise financeira internacional. De fato, crises são bemvindas, pois não podem ser vistas como o fim. Apenas como um momento de reorganização e reestruturação. Vale lembrar que crise, em chinês, é a soma de oportunidade mais ameaça. Ou seja, podemos encontrar nisso novos caminhos. Os antigos hábitos, as velhas fórmulas que foram úteis em algum momento, mas são inadequadas neste, devem ser descartadas. Isso exigirá a busca de novas oportunidades, ampliação do mix de produtos, acréscimo de clientes em novas áreas. Talvez até uma inovadora estrutura de empresa, com a inclusão ou exclusão de sócios, novas parcerias. Para isso, vejo a importância de compreender como funciona, na mente das pessoas, dos homens de negócios, o processo de mudança e suas quatro fases: negação, autojustificativa, exploração e resolução. A negação funciona como a principal mecânica de defesa. É utilizada para negar uma situação e nos manter condicionados. Neste momento, a mudança deve ser vista como troca e não como perda. Mesmo com a sensação de perda devemos procurar os ganhos secundários. Enquanto
do dono de negócio, entramos na autojustificativa. Nesta fase ainda defendemos nosso ponto de vista diante da situação, mas já considerando que será possível – e inevitável – que mudanças ocorram. Entretanto, esta justificativa é condicionada ao jeito que cremos que deva ser. Essa fase faz a transição até a ocasião da conscientização. A autojustificativa faz com que expliquemos os maiores afetos construídos por nós nas relações existentes, nas escolhas mais difíceis como as demissões, no descarte de algum produto que temos um afeto maior. Na terceira fase temos a exploração. Ela permite que ousemos um pouco mais. Com a conscientização podemos fazer alguns descartes, enxugar custos, construir planos de ação junto com a equipe, inovar produtos, abrir novas frentes. É o momento de utilizarmos melhor nossas competências essenciais. Como obter melhores resultados com aquilo que sabemos fazer bem-feito. É o caso de, no mesmo ponto-de-venda, oferecer novos produtos ou serviços, agregados ou não. É nesta fase que descobrimos novas oportunidades, aumentamos ou utilizamos com mais ênfase a rede de contatos, buscando ajuda com pessoas de confiança, pedindo indicações, solicitando contribuições em todos os sentidos. Esse é o momento que devemos estar mais abertos para novos caminhos.
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Crises são bem-vindas, não podem ser vistas como o fim, apenas como momento de reorganização e reestruturação. Vale lembrar que crise, em chinês, é a soma de oportunidade mais ameaça
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permanecemos na negação, estamos mantendo o status quo. Assim, a negação atua para manter o mesmo padrão, inibindo a capacidade de inovar, transgredir, reorganizar, transformar. Essa fase é vencida com um pouco de dor, angústia, sofrimento. Estende-se até gerar um núcleo de insatisfação quase insuportável. Após esse período, que pode demorar de três a seis meses, dependendo da capacidade da reação
Em seguida, chegamos à quarta fase do ciclo de mudança – a resolução. É o momento onde percorremos o caminho escolhido e nos encorajamos para ver a essência de um processo de mudança. Também devemos considerar os medos que emperram essa mudança. São três os registros atávicos na espécie humana: medo de ser preterido, humilhado; medo da perda do status quo, das coisas como estão; medo da per-
por Luiz Fernando Garcia
Consultor especialista em manejo comportamental e empreendedorismo em negócios. Fone: (48) 3334-5585 www.rendercapacitacao.com.br
da de controle. São esses medos que vão atuar no processo psíquico do indivíduo inibindo a capacidade de resolução. É fundamental que nos apropriemos e nos conscientizemos desses medos. Um inimigo conhecido é um inimigo dominado. Embora manter a “vaca leiteira” – foco na sobrevivência – seja o maior afeto, não podemos abrir mão da ousadia, da criatividade, descartando os pressupostos desnecessários. Recordando algumas estratégias essenciais em épocas de mudança: mantenha controlado tudo o que seja possível controlar – custos em particular. Mantenha o foco nos controles e ouse em doses homeopáticas. Experimente saídas, “insights”, o que de diferente que possa acontecer no processo. Lembrando que o melhor caminho se faz ao caminhar. Tenha dois planos – um plano de ação estruturado para o melhor ambiente e um plano B para circunstâncias mais desfavoráveis. Como diria James Bond, o clássico 007, tenha sempre um plano de retirada e nunca deixe que te vejam sangrar. E trabalhe sempre focado em resultados com as seguintes características: verbo de ação no infinitivo, parâmetros de medida e de tempo, contemplando as visões de curto prazo. É imprescindível que os planos de ação sejam escritos e compartilhados. Isto promoverá uma conscientização das escolhas feitas, a minimização de risco e a clareza das oportunidades. E mantenhase atento ao negócio até essa retomada ser reconstruída. Boa sorte, bom trabalho, e lembre: tudo o que não nos mata, nos fortalece.
AGENDA
FASHION WEEK DA ARQUITETURA E CONSTRUÇÃO 24 a 27/03/2009
7ª Feira Internacional de Revestimentos – Revestir Transamerica Expo Center – São Paulo – SP – www.exporevestir.com.br Conhecida como a Fashion Week da arquitetura e construção, a Revestir está entre as quatro maiores feiras mundiais do setor. O evento antecipa tendências em tecnologia e design de revestimentos como cerâmicas, porcelanatos, mosaicos, pastilhas, laminados, vidros, pisos cimentícios e de madeira bruta, rochas ornamentais, entre outros. A Anfacer (Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento), responsável pela feira, espera que em 2009 sejam gerados US$ 145 milhões em negócios, um crescimento de 12% em relação à última edição. A Revestir 2009 contará com 180 expositores, entre fabricantes nacionais e representantes de países como Itália, Espanha, Argentina, Peru e Turquia.
24 a 28/03/2009
13 a 16/04/2009
14 a 19/04/2009
17ª Feira Internacional da Indústria da Construção – Feicon Batimat Pavilhão de Exposições do Parque Anhembi São Paulo – SP – www.feicon.com.br
26ª Feira Brasileira de Brinquedos – Abrin Expo Center Norte São Paulo – SP www.abrin.com.br
Tecnotêxtil Brasil Expo Center Norte São Paulo – SP www.tecnotextilbrasil.com.br
A Feicon é um dos principais eventos do setor na América Latina. A 17ª edição deve reunir cerca de 650 expositores e apresentar mais de 2 mil lançamentos. A feira apresenta novidades em esquadrias, portas, ferragens, tintas, vernizes e acessórios para pintura, chuveiros e aquecedores, metais sanitários e acessórios, telhas, móveis, banheiras de hidromassagem, iluminação, lâmpadas em geral, interruptores, fios e cabos elétricos.
Promovida pela Associação Brasileira de Brinquedos, a feira reúne os maiores fabricantes nacionais do segmento. Em destaque, os principais lançamentos de produtos que estarão nas prateleiras das lojas de brinquedos em 2009.
Máquinas de última geração, tecnologias de ponta e novidades em serviços para o segmento têxtil serão apresentados aos empresários do segmento na Tecnotêxtil Brasil. A organização espera um público de 25 mil visitantes.
8ª Feira Internacional de Beleza, Cabelos e Estética – Hair Brasil Expo Center Norte São Paulo – SP – www.hairbrasil.com A Hair Brasil lança novos produtos, sinaliza tendências e promove negócios na área de beleza. Na última edição, 75 mil cabeleireiros, esteticistas, manicures e maquiadores visitaram a feira, onde cerca de 500 marcas expuseram seus produtos. O evento ainda oferece congressos e workshops com técnicas mundiais.
9ª Feira Internacional de Autopeças, Equipamentos e Serviços – Automec Pavilhão de Exposições do Parque Anhembi São Paulo – SP www.automecfeira.com.br
Expo Money www.expomoney.com.br
A feira é referência para o setor e apresenta as novidades tecnológicas em produtos e serviços do setor de autopeças. A perspectiva é que a nona edição receba cerca de 96 mil visitantes e compradores. Estarão presentes 1.400 expositores do Brasil e de outros 30 países.
25 e 26/03 - Expo Money Curitiba 7 e 8/04 - Expo Money Recife 14 e 15/04 - Expo Money Fortaleza
O circuito de eventos focado na educação financeira começa o ciclo 2009 por Curitiba. Veja as datas:
Para mais informações sobre feiras e outros eventos comerciais, acesse a seção Agenda do site Empreendedor: www.empreendedor.com.br
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28 a 31/03/2009
14 a 18/04/2009
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INFORMAÇÃO E CRÉDITO
Serasa Experian traz ao Brasil Nouriel Roubini, o profeta da crise O maior evento sobre crédito e marketing da América Latina será aberto por Nouriel Roubini, que ficou conhecido como o Doutor Catástrofe por ter antecipado, em 2006, a atual crise econômica
empreendedor | março 2009
A Serasa Experian vai trazer ao Brasil o economista Nouriel Roubini, hoje reconhecido mundialmente como um dos únicos a antever a crise financeira mundial. O economista vai abrir o Credit and Marketing Vision 2009, o maior evento sobre crédito e marketing da América Latina, com a palestra “Perspectiva da economia mundial: visão geral e os impactos no Brasil”. O evento é promovido pela Serasa Experian, maior empresa de informações para todas as etapas do crédito e serviços de marketing da América Latina, e será realizado nos dias 21 e 22 de maio, no Hotel Hyatt, em São Paulo. O economista Nouriel Roubini, consultor de empresas e professor da Universidade de Nova York, é conhecido pelo alto índice de acerto em suas previsões e vai falar, durante
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Nouriel Roubini
o Vision 2009, como, na sua análise, a crise afetará o Brasil. Em 7 de setembro de 2006, Roubini, 51 anos, alertou para a crise financeira. Ele previa que o estouro da bolha no mercado imobiliário doméstico levaria os Estados Unidos a uma de suas piores crises. Naquela ocasião, a plateia de economistas que assistia à sua palestra na sede do FMI (Fundo Monetário Internacional), em Washington, riu das suas previsões e não o levou a sério. Quando as suas profecias se realizaram, Roubini passou a ser aclamado como um dos grandes analistas contemporâneos e se transformou numa figura indispensável ao debate econômico. Referem-se a ele como “Doctor Doom” (Doutor Catástrofe). Nascido em Istambul, numa família de judeus iranianos, Roubini está hoje radicado nos Estados Unidos. Graduou-se em economia e obteve o doutorado em 1988, pela Universidade Harvard. Naturalizado norte-americano, atualmente é professor da Universidade de Nova York e dirige sua consultoria, a RGE Monitor.
Além de Roubini, o evento contará com a presença do comentarista econômico Anatole Kaletsky, que escreve para o jornal inglês The Times, desde 1990. É um dos mais destacados comentaristas econômicos do mundo. Ele apresentará a palestra “Os estragos ocorridos nas bases estruturais do capitalismo americano e mundial”. Outro participante é Bill Tancer, gerente-geral de Pesquisa Global da Hitwise, na qual é responsável pela análise das principais tendências relacionadas ao e-commerce nos EUA, no Reino Unido e na Austrália. Ele ministrará a palestra “O que milhões de consumidores estão fazendo na internet e as oportunidades que pode trazer para as empresas”.
Oportunidade única O Credit and Marketing Vision é realizado pela Experian há mais de dez anos nos EUA, reunindo sempre as principais competências em crédito e em marketing do mundo. Esta é a primeira edição no Brasil. Para o presidente da Serasa Experian, Fran-
cisco Valim, “participar do Vision é estar presente no debate global, é acompanhar os fatos e ter informações direto da fonte. É uma oportunidade única para aqueles que tomam decisão no País e para os que vivem o cotidiano dos negócios e da economia.” Os participantes do evento poderão trocar experiências com grandes empresas do Brasil, Reino Unido, Estados Unidos, Chile e Argentina sobre melhores práticas de crédito e serviços de marketing. Participarão do Vision 2009 empresas como HSBC, Santander, Citi, Bradesco, Claro, Contax, Holcim, Ripley, Vodacom, AIG, GE e Money. No site www.cmvision2009.com.br há informações de roteiros para palestras e os seis wokshops do evento, compostos por palestras conceituais e apresentações de cases de sucesso: prospecção e aquisição; concessão de crédito; gestão de carteiras; cobrança e recuperação; prevenção a fraude e otimização de processos. O jornalista William Waack será o moderador do Credit and Marketing Vision 2009.
empreendedor | março 2009
Grand Hyatt São Paulo
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ANÁLISE ECONÔMICA
Spread bancário
empreendedor | março 2009
Estimativas preveem altas taxas de juros no cheque especial e no cartão de crédito, além de redução na expectativa de crescimento de 4% para 1,5% em 2009
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Um assunto que frequentemente tem causado polêmica voltou à tona com a desaceleração econômica recente, o spread bancário. Os consumidores e o governo culpam os bancos pelo elevadíssimo diferencial entre a taxa de captação e de empréstimo, levando o Brasil a ter um dos maiores juros reais do mundo e na disparada o maior juro para empréstimos e financiamentos. Não temos a intenção de defender o setor bancário, porém, parte da culpa cabe ao próprio governo, que mantém a exigência de depósitos compulsórios. Este mecanismo (depósitos compulsórios) exige que os bancos depositem, sem remuneração, parte dos recursos que seriam designados para empréstimos numa conta no Banco Central. Atualmente o depósito compulsório é de 45% sobre os depósitos à vista e 15% sobre os depósitos a prazo, bem elevados quando comparados com padrões internacionais. Uma medida interessante seria forçar os bancos federais a diminuir a taxa de financiamento, elevando assim a competitividade no setor. O governo tem atuado nesta direção apenas no financiamento imobiliário. Outra sugestão seria a criação de um cadastro de bons pagadores. Muito se fala em preconceito e discriminação, mas o justo é beneficiar o bom pagador com taxas diferenciadas. Pode-se ainda, em momentos de forte queda da demanda, diminuir os impostos sobre operações
financeiras, e ao mesmo tempo fiscalizar os bancos no sentido de verificar se realmente estão repassando este benefício para o consumidor final. A forte desaceleração econômica iniciada no segundo semestre de 2008 trouxe uma nova realidade econômica para o Brasil. A projeção do Focus – boletim semanal do Banco Central – apontou que o crescimento econômico do Brasil para 2009 está agora em 1,5%, contra 4% da projeção de julho de 2008. Ocorreu uma piora significativa nas expectativas de crescimento mundial juntamente com a acomodação da inflação, fatos estes que possibilitaram (ou forçaram) o início do afrouxamento monetário (queda nas taxas de juros) efetuado pelo Banco Central em janeiro. Surpreendentemente as taxas de financiamento subiram no período, fato de difícil justificativa por parte dos bancos. Pesquisas de mercado apontam taxas para o cheque especial na casa dos 150% ao ano e do cartão de crédito em 350%, inaceitáveis diante do desaquecimento da economia e das taxas de juros próximas de zero praticadas atualmente nas economias desenvolvidas. Não podemos apontar apenas um culpado para o elevado spread. Todos os setores podem contribuir: governo, instituições financeiras e até mesmo o consumidor, que tem a obrigação de pesquisar melhores taxas de financiamento. A velha frase: “A união faz a força”.
por Paulo Fernando Petrassi Gestor de renda fixa da Leme Investimentos Ltda
Pesquisas de mercado apontam taxas para o cheque especial na casa dos 150% ao ano e do cartão de crédito em 350%, inaceitáveis diante do desaquecimento da economia e das taxas de juros próximas de zero praticadas atualmente nas economias desenvolvidas
Nome Ação ALL Amer Lat Ambev Aracruz B2W Varejo BMF Bovespa Bradesco Bradespar Brasil T Par Brasil T Par Brasil Telec Brasil Braskem CCR Rodovias Celesc Cemig Cesp Comgas Copel Cosan CPFL Energia Cyrela Realty Duratex Eletrobrás Eletrobrás Eletropaulo Embraer Gafisa Gerdau Met Gerdau Gol Itaubanco Itausa JBS Klabin S/A Light S/A Lojas Americ Lojas Renner Natura Net Nossa Caixa P. Açúcar-CBD Perdigão S/A Petrobras Petrobras Redecard Rossi Resid Sabesp Sadia S/A Sid Nacional Souza Cruz TAM S/A Telemar N L Telemar Telemar Telesp Tim Part S/A Tim Part S/A Tran Paulist Ultrapar Unibanco Usiminas Usiminas VCP Vale R Doce Vale R Doce Vivo
Inflação (%)
Até 17/02
Tipo Ação
Participação Bovespa
Fevereiro
UNT N2 PN PNB ON ON PN PN ON PN PN ON PNA ON PNB PN PNB PNA PNB ON ON ON PN ON PNB PNB ON ON PN PN PN PN PN ON PN ON PN ON ON PN ON PN ON ON PN ON ON ON PN ON ON PN PNA ON PN PN ON PN PN PN UnN1 ON PNA PN ON PNA PN
1,18 1,03 0,52 0,76 4,57 3,30 1,43 0,26 0,32 0,32 2,11 0,52 0,55 0,10 1,54 0,99 0,10 0,55 0,54 0,47 1,20 0,54 0,92 0,90 0,64 0,61 0,98 0,88 2,98 0,67 3,01 1,97 0,56 0,31 0,21 1,01 0,70 0,64 0,92 0,37 0,48 0,79 3,39 18,04 0,92 0,51 0,34 0,88 4,10 0,47 0,56 0,22 0,35 0,90 0,17 0,23 0,77 0,34 0,44 2,08 0,61 3,09 0,41 3,93 14,00 0,81
-3,40 2,90 -10,60 -14,70 -2,70 3,60 1,50 1,00 -5,30 -4,50 -3,90 -2,50 -0,60 -3,20 1,30 8,60 -1,80 -1,30 1,00 -0,80 1,80 -2,20 0,50 -1,00 5,00 -2,80 8,40 -2,50 -0,90 -5,60 2,30 1,00 -5,80 -12,00 5,70 -12,50 -4,30 5,50 2,80 -0,20 -3,20 -7,80 6,40 5,50 4,80 -18,00 -0,60 -7,50 1,90 -1,50 -7,20 2,90 2,60 10,80 -2,60 -3,00 3,90 -0,10 4,00 3,30 -4,40 -4,90 -7,10 5,00 3,70 8,20
Variação % Ano -15,00 -3,20 -28,50 -10,90 9,40 -4,60 23,80 2,40 -16,80 -16,80 -7,00 0,40 -3,90 -5,70 0,30 -10,10 -7,40 -10,40 -5,70 -1,20 2,90 6,30 1,60 -0,10 7,10 -4,10 20,90 -3,40 -1,10 -2,30 -8,10 -7,20 -8,30 -6,90 14,50 -10,80 -13,60 10,60 13,70 0,90 -6,80 -0,80 17,50 15,60 7,00 -2,60 -8,60 -18,10 23,70 4,50 -16,00 -15,90 -5,40 -1,20 -3,80 33,40 17,60 3,10 9,20 -8,50 -0,20 3,50 -29,40 23,20 21,60 28,50
Índice
Janeiro
IGP-M IGP-DI IPCA IPC - Fipe
-0,44 0,01 0,48 0,46
Ano -0,44 0,01 0,48 0,46
Juros/Aplicação (%) CDI Selic Poupança Ouro BM&F
Janeiro
Ano
1,04 1,05 0,68 5,55
1,04 1,05 0,68 5,55
Indicadores Imobiliários (%) Janeiro
Ano
0,21 0,18
0,21 0,18
CUB SP TR
Juros/Crédito (%) 17/Fevereiro Desconto Factoring Hot Money Giro Pré (taxa mês)
16/Fevereiro
2,03 4,07 3,52 2,23
2,03 4,08 3,52 2,24
Câmbio
Até 17/02 Cotação
Dólar Comercial Ptax Euro Iene (US$ 1,00)
R$ 2,3131 US$ 1,2602 $ 92,5500
Mercados Futuros
Até 17/02
Março
Maio
Dólar Juros DI
Abril
R$ 2,330 R$ 2,351 12,64% 12,19%
Contratos mais líquidos Ibovespa Futuro
17/02 39.950
R$ 2,368 11,97%
empreendedor | março 2009
Carteira Teórica Ibovespa
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E–EMPREENDEDOR
Formalização para crescer De acordo com o Sebrae, há no Brasil cerca de 11 milhões de empreendedores informais. Mas conforme Paulo Melchor, consultor jurídico do Sebrae, a nova legislação do Microempreendedor Individual (MEI), criada pela Lei Complementar 128/08, pode enquadrar esses empresários que ganham até R$ 36 mil por ano, incentivando o crescimento dos negócios. Melchor defende que a maioria das pessoas que trabalham na informalidade enfrenta dificuldades para crescer. “O trabalhador informal pode até se sentir em desvantagem por ter que cumprir obrigações fiscais e tributárias se fosse formal, porém não terá grandes
chances de crescer”, enfatiza. Segundo Melchor, os informais sofrem risco de fiscalização e podem ser autuados, além de não recolherem contribuição previdenciária. Ele destaca que a nova legislação é uma oportunidade ímpar para sair da informalidade. “Até atividades desenvolvidas na residência serão permitidas e terão regulamentação específica. E esses microempresários não precisarão emitir nota para pessoas físicas”, ressalta. Para ler a reportagem completa sobre formalização dos negócios, acesse a seção “Reportagens”, no menu à esquerda do site, e procure pelo título: “Formalização favorece crescimento dos negócios”.
Enquete
empreendedor | março 2009
Após ler a reportagem sobre formalização dos negócios, participe da nova enquete do site Empreendedor. Responda qual é, na sua opinião, o maior benefício de ser um empreendedor formal. Para dar o seu voto, acesse a seção “Enquetes”, no menu à esquerda do site, e escolha uma das alternativas: acesso a crédito; direito à Previdência Social; há mais vantagem em ser informal.
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Redução de custos
Artigos
As decisões e os desafios dos empreendedores durante a atual crise econômica foi o assunto tratado na enquete de fevereiro do site Empreendedor. De acordo com a pesquisa, a maioria dos internautas (43,42% do total de 228 votos) acredita que a melhor maneira de reduzir custos em uma empresa é renovar o mix de produtos.
Empreendedorismo, negócios e tendências do mercado integram alguns assuntos dos artigos publicados diariamente no site Empreendedor. Temas focados na atualidade analisados por especialistas, empresários e profissionais com larga experiência informam os empreendedores com propriedade. Para acessá-los, clique na seção “Artigos”, no menu à esquerda do site, e escolha o tema desejado. Você também pode contribuir com a seção enviando sugestões de artigos sobre temas importantes para o mundo dos negócios. Envie o artigo com nome, qualificação profissional e e-mail para Carla Kempinski, editora de conteúdo do site Empreendedor, através do e-mail carla@empreendedor. com.br. Os artigos serão analisados e, se estiverem de acordo com o perfil do portal, serão publicados.
Renovar mix de produtos ....... 43,42% Implantar TI ............................. 41,67% Aumentar preços ....................... 8,33% Demitir funcionários ................. 6,58%
8% 42%
7% 43%
Interatividade Confira os últimos comentários postados no site durante o mês de fevereiro: Há anos defendo esta tese sem muito sucesso. Trabalho num setor que exige muita concentração, e quando peço para não ser interrompida não sou compreendida. A matéria é muito interessante e possibilita uma reflexão sobre os “ralos” na atividade corporativa. Clementina Pinto da Silva sobre a reportagem “Pensódromo aumenta produtividade de quem precisa trabalhar sem interrupções” Concordo plenamente, crise é oportunidade. É só relembrar o que ocorreu nos primeiros anos do governo Getúlio, logo após a crise de 1929. Modelo substituição das importações. Naquela época o Brasil não tinha como pagar as importações. Começou a produzir internamente. Atualmente, pelo alto valor do dólar que encarece as importações, é uma excelente oportunidade para o mercado interno crescer. As autoridades não podem perder esta oportunidade. Luis Luz sobre o artigo “Em tempos de crise, surge o líder século 21”, de Heloisa Capela Achei muito interessante a matéria e concordo com os dois comerciantes. Cada cliente tem seu jeito, mas um atrativo, seja onde for, é sempre bem-vindo. Silvio sobre a reportagem “Sex shops adotam estratégias para deixar clientes mais à vontade” O autor do artigo tem uma sutileza exata do que está acontecendo. Vejo muitos se queixarem da crise, dispensando funcionários, parando de investir. Exemplos de gestores incompetentes que a usam para se desculpar de seus fracassos. Helcio José Figueira sobre o artigo “Afinal, a crise já existe ou estamos esperando por ela?”, de Dieter Kelber
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empreendedor | marรงo 2009
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