Empreendedor 197

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Panorama: a universalização da banda larga Empreendedorismo: o papel formador da empresa jÚnior

www.empreendedor.com.br

MARÇo 2011 R$ 9,90

IS SN 1414-0 152

ANO 17 N o 197

Construção de barcos e navegação de cabotagem ressurgem com força total e perspectivas animadoras após décadas de estagnação

Ressurreição naval Movimento Brasil Eficiente apresenta projeto de eficiência fiscal para economia crescer 6% ao ano


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NE STA E DI Ç Ã O

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todos ao mar Os últimos dez anos mostraram que a indústria da construção naval deixou definitivamente para trás duas décadas de estagnação e retrocesso. E a perspectiva é seguir crescendo para atender um programa de encomendas garantido até 2020. Impulsionados pela demanda do segmento offshore (plataformas de produção de petróleo, navios petroleiros e barcos de apoio), os estaleiros também têm pela frente a recomposição da frota de cabotagem e um mercado ávido por embarcações de esporte e lazer. Expansão de um setor que gera milhares de empregos e diferentes oportunidades de negócios, além de aumentar a eficiência do transporte de cargas e pessoas, como é demonstrado na matéria de capa desta edição.

50 | Franquia Redes sustentáveis

34 | Panorama Universalização da banda larga

16 | Entrevista Carlos Schneider

40 | Empreendedorismo Primeira empresa

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A Afras, em parceria com 19 redes, lançou um programa inédito para fazer o levantamento das emissões de gás carbônico, reduzir e neutralizar os gases gerados em seus processos. Aquelas que reduzirem suas emissões receberão um selo de franquia de baixo carbono.

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O coordenador do Movimento Brasil Eficiente (MBE) apresenta projeto de lei de eficiência fiscal que pode levar a economia brasileira a um crescimento médio de 6% ao ano.

De 2002 a 2008, o acesso à banda larga cresceu em média 49% por ano. Mas, para ampliar o acesso de camadas mais pobres e de localidades remotas, o governo federal lançou o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). Conheça o potencial de geração de negócios e empregos e o impacto que esta medida pode ter na economia do País.

O Brasil é um dos países com maior número de empresas juniores, instituições formadas por estudantes universitários que oferecem serviços profissionais no mercado. Descubra o papel que estas entidades acadêmicas têm na formação de novos empreendedores.

46 | Perfil Jorge Torres O desejo de empreender sempre foi tão forte em Jorge Torres que aos 15 anos ele começou a trabalhar como lavador de pratos e aos 23 abriu seu próprio restaurante, o primeiro de uma rede de 16 unidades.

LEIA TAMBÉM 8 14 60 63 64 66

EMPREENDEDORES NÃO DURMA NO PONTO PRODUTOS E SERVIÇOS leitura ANÁLISE ECONÔMICA AGENDA


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ed i t ori a l

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revista Empreendedor inicia nesta edição uma série sobre a indústria da mobilidade nacional e o impacto que melhorias nos sistemas de transporte de cargas e pessoas teriam sobre o setor e a economia do País em geral, diante do peso que têm no orçamento de governos, empresas e famílias, na qualidade de vida dos cidadãos e na competitividade dos produtos e serviços brasileiros. Segundo dados de 2006 da UFRJ, os custos logísticos no Brasil representam 12,1% do PIB, enquanto nos EUA esse mesmo custo é de 8,19%. Isso faz com que os empresários brasileiros gastem R$ 4,4 bilhões a mais que os americanos. Já o gasto com transporte urbano, em 2010, comprometeu 20,1% do orçamento familiar (praticamente o mesmo que a alimentação), enquanto em 2000 abocanhava 18,7% da renda, conforme pesquisa do Ipea. Além disso, 69% da população afirma sofrer com congestionamentos. A principal causa destes problemas está na dependência exagerada do modal rodoviário – o segundo mais caro, atrás apenas do aéreo – e na falta de integração com outros meios, mais adequados a um país com dimensões continentais como o Brasil. Em relação às cargas, 60% é transportado por rodovias, enquanto nos EUA esta participação é de 26%, na Austrália 24%, e na China 8%. E, para piorar a situação, menos de um quarto das rodovias brasileiras pode ser considerado muito bom ou excelente, além da segurança ser deficiente. Pouco mais de 20% das cargas são transportadas por ferrovias, que somam cerca de 30 mil quilômetros de extensão, menos da metade da malha ferroviária do Canadá e oito vezes menor do que a norte-americana. A Empreendedor inicia esta série de reportagens, desenvolvida pela jornalista Cléia Schmitz, pelo modal mais barato e adequado às características do Brasil: o aquaviário. Apesar de possuirmos 45 mil quilômetros de rios navegáveis e uma costa de 7,5 mil quilômetros, menos de 15% das cargas são transportadas por este meio. A boa notícia é que, junto com o renascimento da indústria da construção naval, ressurge com força a navegação de cabotagem. Já no transporte de pessoas, especialmente o urbano, o reflexo ainda não foi sentido. Alexsandro Vanin

A Revista Empreendedor é uma publicação da Editora Empreendedor Diretor-Editor: Acari Amorim [acari@empreendedor.com.br] Diretor de Comercialização e Marketing: Geraldo Nilson de Azevedo [geraldo@empreendedor.com.br] Redação Editor-Executivo: Alexsandro Vanin [vanin@ empreendedor.com.br] – Repórteres: Beatrice Gonçalves, Cléia Schmitz e Mônica Pupo – Edição de Arte: Gustavo Cabral Vaz – Projeto Gráfico: Oscar Rivas – Fotografia: Arquivo Empreendedor, Casa da Photo, Lio Simas e PhotosToGo – Foto da capa: Divulgação – Revisão: Lu Coelho Sedes São Paulo Diretor: Fernando Sant’Anna Borba – Executivos de Contas: Ana Carolina Canton de Lima e Osmar Escada Jr – Rua Sabará, 566 – 9º andar – conjunto 92 – Higienópolis – 01239-010 – São Paulo – SP – Fone: (11) 3214-1020/2649-1064/2649-1065 [empreendedorsp@ empreendedor.com.br] Florianópolis Executiva de Atendimento: Samantha Arend [anuncios@ empreendedor.com.br] – Rua Padre Lourenço Rodrigues de Andrade, 496 – Santo Antônio de Lisboa – 88050-400 – Florianópolis – SC – Fone: 3371-8666 Central de Comunicação – Rua Anita Garibaldi, nº 79 – sala 601 – Centro – Florianópolis – SC – Fone (48) 3216-0600 [comercial@centralcomunicacao.com.br] Escritórios Regionais Rio de Janeiro Triunvirato Empresarial – Milla de Souza [milla@triunvirato.com.br] – Rua São José, 40 – 4º andar – Centro – 20010-020 – Rio de Janeiro – RJ – Fone: (21) 2611-7996/9607-7910 Brasília Ulysses Comunicação Ltda. [ulyssescava@gmail. com] – Fone: (61) 3367-0180/9975-6660 – condomínio Ville de Montagne, Q.01 – CS 81 – Lago Sul – 71680-357 – Brasília – Distrito Federal Paraná Merconeti Representação de Veículos de Comunicação Ltda – Ricardo Takiguti [ricardo@merconeti.com.br] – Rua Dep. Atílio Almeida Barbosa, 76 – conjunto 3 – Boa Vista – 82560-460 – Curitiba – PR – Fone: (41) 3079-4666 Rio Grande do Sul Flávio Duarte [commercializare@terra. com.br] – Rua Silveiro, 1301/104 – Morro Santa Teresa – 90850-000 – Porto Alegre – RS – Fone: (51) 3392-7767 Pernambuco HM Consultoria em Varejo Ltda – Hamilton Marcondes [hmconsultoria@hmconsultoria.com.br] – Rua Ribeiro de Brito, 1111 – conjunto 605 – Boa Viagem – 51021310 – Recife – PE – Fone: (81) 3327-3384 Minas Gerais SBF Representações – Sérgio Bernardes de Faria [sbfaria@sbfpublicidade.com.br] – Av. Getúlio Vargas, 1300 – 17º andar – conjunto 1704 – 30112-021 – Belo Horizonte – MG – Fones: (31) 2125-2900/2125-2927 Assinaturas Serviço de Atendimento ao Assinante – [assine@empreendedor.com.br] – O valor da assinatura anual (12 edições mensais) é de R$ 118,80. Aproveite a promoção especial e receba um desconto de 10%, pagando somente R$ 106,92 à vista. Estamos à sua disposição de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. Produção Gráfica Impressão e Acabamento: Coan Gráfica Editora Ctp – Distribuição: Distribuidora Magazine Express de Publicações Ltda – São Paulo Empreendedor.com http://www.empreendedor.com.br Editora: Carla Kempinski – Repórter: Raquel Rezende


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EMPREE NDED O R ES

Simone Oliveira

NA TERRA DO TIO SAM

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Simone Oliveira era uma executiva bem-sucedida quando, há dez anos, se encantou tanto por Miami que decidiu ficar por lá mesmo. Mas não perdeu seu elo com o Brasil. Pelo contrário, criou a America Expert, uma consultoria que oferece soluções para brasileiros que querem expandir seus negócios nos Estados Unidos. Os serviços incluem pesquisas e levantamentos de mercado, abertura e gestão de filial de empresa, registro de marca e patente, caixa postal, entre outros, sempre com a ajuda de profissionais do comércio exterior. “A diferença entre os tributos americanos e brasileiros é grande, por isso a necessidade de se ter uma consultoria. Além disso, a baixa do dólar influenciou muitos brasileiros a expandirem seus negócios”, destaca Simone. Entre seus clientes, Lenny USA LLC, Invel USA, Cia Paulista de Energia, Dualtec, Fast Way Imports, Personare e Câmara Americana de Comércio (Amcham) do Rio de Janeiro e de São Paulo. Simone também acabou de fechar uma parceria com a Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex). A America Expert, que tem escritórios em Miami e São Paulo, já auxiliou mais de 100 empresas. www.americaexpert.com

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Rumo ao topo

Filho do meio entre sete irmãos, o empresário Afonso Celso de Barros Santos, master franqueado da Avis Rent a Car no Brasil, é protagonista de uma história de superação. Como tantos, começou sua trajetória profissional trabalhando de officeboy, no Bradesco. A diferença é que aproveitou cada minuto para aprender algo mais, aguçando seu senso empreendedor. Tornou-se escriturário no departamento responsável pelo repasse de recursos ao BNDES. Logo ascendeu para chefe de seção, subgerente, gerente e chefe da área de leasing. Foram 22 anos no Bradesco até aceitar a superintendência do Banco Excel, em 1995. No décimo mês pediu demissão e, com US$ 100 mil no bolso, esposa e um filho pequeno, decidiu alçar voo solo. Montou o Grupo Dallas, que administrava as operações da locadora norte-americana Fleet no Brasil. Em 2003 comprou a licença da marca Avis, passando a atuar como empresa independente. “Sou um dos poucos exemplos de franqueado que virou franqueador”, afirma. Nos últimos cinco anos, a locadora ampliou em 120% sua presença em território nacional e ultrapassou 100 lojas. “Quero que a Avis seja a maior locadora do Brasil. Hoje já somos a segunda”, destaca Barros Santos. www.avis.com.br

Maíra Teles

DNA e força de vontade A administradora de empresas Maíra Teles, 26 anos, herdou o DNA empreendedor da família, que fundou a Rede Leitura de livrarias há mais de quatro décadas. Ela é sócia-proprietária da Leitura Boulevard, loja inaugurada no final de 2010 no Boulevard Shopping, em Belo Horizonte. Maíra faz parte da segunda geração da família Teles e trabalha há nove anos na Rede Leitura. “Como a maioria dos meus familiares envolvidos no segmento de livraria, passei por vários setores da empresa antes de chegar a sócia. Fui caixa de loja e trabalhei como assistente nos departamentos de marketing, RH e financeiro”, conta Maíra, que é pós-graduada em Gestão de Varejo com Ênfase em Livraria. Ela explica que a família administra o negócio, mas cada sócio cuida de sua unidade. Por isso, é importante conhecer cada área da empresa. A Leitura Boulevard é uma das megalojas do shopping e recebeu investimentos de R$ 2,5 milhões, incluindo obra civil, projeto arquitetônico, mobiliário e estoque. São 800 metros quadrados de loja, com design inspirado nas grandes redes mundiais de livrarias. A cafeteria e a área para acesso à internet devem ser inauguradas em abril próximo. Atualmente, a Rede Leitura é formada por 27 lojas localizadas em seis estados brasileiros. www.leitura.com

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Afonso Celso de Barros Santos

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em preendedores

Jeanine Mendonça

Passo a passo

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Decidida a ter seu próprio negócio – mais especificamente uma loja de objetos de design e arte – a designer Jeanine Mendonça planejou como poucos sua entrada no mundo dos negócios. Primeiro, ela decidiu cursar Design de Produto, na Fundação Mineira de Educação e Cultura (Fumec). O objetivo era conhecer as principais etapas de desenvolvimento dos objetos e a melhor forma de apresentá-los para comercialização. Em seguida, ela foi buscar orientação no Sebrae de Minas Gerais para aprender como abrir e administrar um negócio de forma eficiente. O resultado é a Obj’teria, uma loja instalada em

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novembro passado no Shopping Plaza Anchieta, localizado na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. A loja comercializa objetos com arte, incluindo presentes diferenciados, peças de design inovador, objetos decorativos e artigos infantis. Para oferecer novidades constantes aos seus clientes, Jeanine investe na participação de feiras e eventos especializados. “O perfil empreendedor sempre fez parte da minha vida. Seguindo as orientações corretas e buscando as ferramentas de gestão adequadas tenho certeza que o sucesso é uma questão de tempo”, acredita a empresária.


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em preendedores

Peka Toenjes

Visão de negócios A empresária Peka Toenjes não contou tempo quando soube que os donos da Katz Chocolates, seus amigos de longa data, colocaram o negócio à venda. Embora nunca tivesse trabalhado no ramo da gastronomia (sua experiência como empreendedora era em confecção), ela decidiu comprar a marca, criada em 1953 em Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. Peka vislumbrava na Katz um grande potencial de mercado. E para isso investiu na construção de uma nova fábrica, na capacitação da mão de obra e no reposicionamento da marca. O passo seguinte à reestruturação foi descer a serra e abrir uma loja conceito no Leblon. O espaço, uma verdadeira butique de chocolate, tem a elegância das pâtisseries europeias. O sucesso da loja conceito levou à abertura, em 2010, da segunda unidade no Rio e à primeira franquia da marca, instalada no Shopping da Gávea. Hoje já são três unidades e uma meta de chegar a 100 nos próximos três anos, com foco principal nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Distrito Federal e Minas Gerais.

www.katz.ind.br

Fernando Brandão

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Trajetória premiada

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Depois de vencer o Concurso Nacional para o Pavilhão Brasileiro na Expo Xangai 2010, o arquiteto Fernando Brandão abriu de vez as portas do Oriente para o seu trabalho. Convidado pela Beijing De Tao Masters Academy para ministrar aulas na China, em janeiro deste ano ele instalou uma filial do seu escritório em Xangai. “Nossa presença em Xangai será uma mostra do potencial brasileiro, da nossa capacidade de exportar serviços e uma abertura para futuras demandas”, diz o arquiteto. O escritório terá uma equipe formada por dez arquitetos, entre brasileiros e chineses. Brandão criou a Fernando Brandão Arquitetura+Design (Arqfebra) em 1996 e, nos últimos anos, venceu vários prêmios de arquitetura, como o Caio 2007, Caio da Década, CasaOffice 2009/2010, Idea Brasil 2008/2010 e o Popai 2006/2007/2008. Seus projetos se concentram nas áreas corporativa, comercial e promocional. Entre eles, destaque para o projeto arquitetônico desenvolvido para a Livraria Cultura, de São Paulo, pelo qual ganhou o Red Dot Award 2009. www.arqfebra.com.br


Carla Teixeira

MENSAGEM SOCIAL

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Carla Teixeira queria um negócio que oferecesse algo novo e surpreendente ao consumidor e ao mesmo tempo tivesse uma proposta social. Assim, criou a Jeitos & Formas, empresa que vende bonecas de pano com mensagens impressas em tecidos feitos a partir de garrafas pets recicladas. A proposta é que as bonecas tenham a mesma função de um ramalhete de flores ou de uma cesta de presentes: levar uma mensagem a quem a recebe. O recado é personalizado e vai dentro de uma sacolinha, que depois pode ser utilizada como porta-celular. A boneca de pano, totalmente artesanal e antialérgica, é feita por cooperativas sociais que mantêm núcleos de costureiras de comunidades carentes em Santa Cruz, Niterói e Cidade de Deus, todas no Rio de Janeiro. “Além de ter nosso processo produtivo em comunidades que necessitam de valorização, pensamos com muito carinho na matéria-prima utilizada na confecção dos modelos”, afirma Carla, diretora da empresa. As bonecas são vendidas na loja virtual da Jeitos & Formas. www.jeitoseformas.com.br

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NÃO DU R MA NO P O NT O

pensar o trabalho, dignificar a vida “Abençoado é aquele que encontrou seu trabalho; que ele não peça nenhuma outra bênção.” – Thomas Carlyle

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Cada um de nós está diante de um desafio: ser humano. Sim, porque somos todos seres incompletos, seres em processo de acabamento. E na mesma medida em que somos seres inacabados, somos também uma promessa de evolução. Aí está toda a grandeza da existência! E é nesse gap entre a incompletude e a promessa de evolução que entra o elemento vital: o trabalho. O ser se faz humano, se completa e evolui através do trabalho. Podemos dizer que somos feitos para o trabalho. Mas atenção: nem todo trabalho é feito para nós. Há trabalhos que causam enfado. Não me refiro ao efeito físico, mas ao fastio psicológico. São trabalhos sem significado, que nada aproveitam do que verdadeiramente somos, das nossas competências, da nossa vocação.

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O desafio que sempre atravessará os tempos é viver a sua vocação. Quando encontramos a nossa vocação, aprendemos com facilidade, trabalhamos com gosto, nos tornamos automotiváveis

Fala-se muito do conjunto dos conhecimentos, habilidades e comportamentos adequados para determinadas épocas ou culturas. Então, recomenda-se aprender outra língua, lidar com a informática, desenvolver habilidades de relacionamento. Sem dúvida, todas essas competências humanas são importantes. Mas o desafio que sempre atravessará os tempos é viver a sua vocação. É ser capaz de ouvir a “voz interior” que diz o que precisa ser feito. Quando encontramos a nossa vocação, aprendemos com facilidade, trabalhamos com gosto, nos tornamos automotiváveis. Quando o trabalho está alinhado com a vocação, experimentamos a bemsucedida tríade trabalho/prazer/sucesso. Não existe diferença entre trabalho e lazer, entre esforço e divertimento. Tudo se funde numa única experiência, que é a expressão da própria vida. E isso é viver a vida no contentamento.

O trabalho com consciência

Somos os nossos valores, estamos os nossos comportamentos. Comportamentos podem ser ensinados e aprendidos, mas valores são referências de caráter. Caráter é uma palavra de origem grega que significa “marcas resistentes”. Ou seja, valores humanos. Ter valores virtuosos é um grande passo. Tudo o mais pode ser aprimorado, aprendido, expandido. Os valores formam a base que sustenta as demais competências. São eles que nos tiram da anomia e conferem significado ao trabalho. Existem alguns estágios de consciência. Esses estágios partem do ego-envolvimento (preocupação exclusivamente consigo), evoluem para o alter-envolvimento (preocupação com o outro) e emergem para o hólos-envolvimento (preocupação com o todo). Desenvolver-se, em todos esses estágios de consciência, é o desafio mais

importante que cada um de nós tem pela frente. Portanto, é mais do que um desafio profissional e empresarial. Trata-se de um desafio humano, cuja superação nos transforma em pessoas melhores. E isso pode ser feito através do aprendizado, da experiência e, principalmente, da metanoia, que implica mudança de olhar.

O trabalho e o dinheiro

Curiosamente, somos mais bem-sucedidos financeiramente quando expressamos a nossa vocação. Nós nos sentimos autorrealizados. E a autorrealização é o estágio máximo de satisfação que uma pessoa pode atingir. É também o que encerra o maior potencial de geração de riqueza que uma pessoa é capaz durante a sua existência. Infelizmente, não são poucas as pessoas que enterram seus talentos em troca da mera sobrevivência. A sobrevivência é a pior escolha que alguém pode fazer na vida profissional. Quem escolhe sobreviver luta contra a pobreza, o que é muito diferente de conquistar riquezas. Sobreviver é uma armadilha em que muitos caem. E não acontece por escolha consciente, mas por falta de informação, de conhecimento, de crença, de fé. Quem pensa em sobreviver não consegue refletir sobre outra coisa além disso. Por ironia, a riqueza está justamente nas outras coisas. Quem pensa em sobrevivência, trata de competir, ao invés de se superar. Pensa em evitar o risco, ao invés de acreditar e ousar. Pensa em autopreservação, ao invés de contribuição.

O foco na vocação

O que fazer, então, para romper com um trabalho que não realiza? Primeiramente, olhe para dentro de si e, depois, para fora. Pergunte-se: que tipo de trabalho me traz grande satisfação? O que me encoraja? O que consigo fazer sem muito sacrifício? Essas questões ajudam a sondar a sua vocação. O talento é algo muito parecido com um hobby. Mas ninguém nos pagaria pelo nosso hobby. No entanto, nosso talento é o nosso maior valor e o que gera valor. Depois, é preciso olhar para fora. E


O mundo dos negócios é muito grande para você se aventurar sozinho.

Educador da Cempre Conhecimento & Educação Empresarial (11) 3873-1953/www.cempre.net roberto.tranjan@cempre.net

as perguntas a serem feitas são: Qual é a minha melhor contribuição? Como posso oferecer o melhor de mim? Como posso ajudar? O que devo fazer para deixar as minhas melhores pegadas? Todos somos merecedores de um trabalho que nos dignifique e que nos faça melhores. Só depende de nós saber que trabalho é esse. Ninguém poderá nos oferecer a correta resposta para esse sagrado enigma. Que o nosso trabalho seja uma bênção! Sempre.

Quando o trabalho está alinhado com a vocação, experimentamos a bem-sucedida tríade trabalho/ prazer/sucesso. Não existe diferença entre trabalho e lazer, entre esforço e divertimento

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por Roberto Adami Tranjan

As publicações da editora Empreendedor têm sempre artigos, notícias e dados atualizados sobre o mundo dos negócios. Com 17 anos de história, a Empreendedor é a maior editora brasileira voltada ao empreendedorismo e às inovações do mundo dos negócios. Publica as revistas Empreendedor, Empreendedor Rural e Dirigente Lojista, e o Guia Empreendedor de Franquias, além de manter o mais acessado site sobre empreendedorismo: www.empreendedor.com.br. Na hora de buscar informações ou falar com empreendedores de todos os portes, conte com as nossas publicações.

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ENTREVI S TA

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Carlos Schneider

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EFICIร NCIA FISCAL


por Cléia Schmitz cleia@empreendedor.com.br

Maior eficiência dos gastos, mais fiscalização e transparência dos impostos pagos ao governo e redução da carga tributária. Com estas propostas em mãos, o Movimento Brasil Eficiente (MBE), criado no ano passado pelo setor produtivo, vai levar ao Congresso Nacional ainda neste primeiro semestre um projeto de lei de eficiência fiscal. “Se a lei for aprovada, o crescimento médio da economia brasileira será de 6% ao ano”, garante o empresário Carlos Schneider, um dos coordenadores do MBE. Elaborado pelos economistas Paulo Rabello de Castro e Raul Velloso, o projeto deve ganhar um apoio importante para convencer deputados e senadores a aprová-lo: um abaixo-assinado popular com pelo menos 1 milhão de assinaturas, que será lançado em breve pelo Conselho Federal da Organização dos Advogados do Brasil (OAB). O MBE defende que para o País crescer é fundamental elevar a taxa de investimentos. Na entrevista a seguir, Schneider detalha o que é necessário para viabilizar essa proposta.

Qual é a proposta da Lei Brasil Eficiente? Carlos Schneider – Desde o início do Movimento Brasil Eficiente (MBE), sempre tivemos o objetivo de formular uma lei que transformasse nossas propostas em termos práticos. A primeira delas, elaborada pelos juristas Gastão Todelo e Ives Gandra Martins, quer fazer com que se regulamente uma parte da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) ainda não regulamentada. Estamos propondo a criação de um Conselho de Gestão Fiscal, órgão previsto pela LRF, que estabeleceria e fiscalizaria a política fiscal brasileira. Sua função seria disciplinar os gastos públicos e a carga tributária. Hoje, estados e municípios já estão tendo que fazer um exercício intenso para não ultrapassar os limites de gastos correntes estabelecidos pela LRF, mas a União ainda depende de regulamentação. Nosso objetivo é que os gastos correntes da União cresçam abaixo da taxa de crescimento da economia. Uma situação que não vem acontecendo, pelo contrário. No governo Lula os gastos cresceram o dobro da economia. Se continuar assim, teremos um horizonte perigoso pela frente com um desajuste fiscal intenso. A presidenta Dilma já percebeu isso, tanto que está tentando reduzir despesas. O problema é que vinhase numa euforia com a situação internacional do Brasil e se gastava muito mais do que o recomendado. Como o Conselho pode resolver esse desequilíbrio? Schneider – Ele teria um papel fundamental de buscar esse equilíbrio consistente das finanças do País. Mas não faria isso sozinho. Nós propomos também a criação de uma Secretaria de Despesa Pública, um órgão de fiscalização que seria subordinado ao Conselho, nos mesmos moldes da Secretaria da Receita Federal. Enquanto a Secretaria da Receita administra a arrecadação, a Secretaria da Despesa administraria os gastos públicos. Aliás, se nós conseguirmos que a despesa pública seja tão bem gerida neste País quanto a arrecadação, teremos um ganho imenso. Afinal, a arrecadação vai muito bem, nisso o governo é muito eficiente. Se colocarmos essa mesma eficiência na gestão da despesa, provavelmente precisaremos cobrar menos impostos. Quais são as perspectivas de aprovação desse

Uma dificuldade na proposta de mobilizar toda a sociedade é o fato de que 80% da população não é contribuinte direta de impostos e, por isso, acha que não paga imposto

projeto de lei no Congresso Nacional? Schneider – Queremos transformálo num projeto popular. E para isso ele terá como base um abaixo-assinado que será lançado pelo Conselho Federal da Organização dos Advogados do Brasil (OAB), o mesmo que lançou o projeto Ficha Limpa. A meta é recolher cerca de 1 milhão de assinaturas para levar um projeto de redução dos gastos públicos ao Congresso Nacional. Como vocês esperam que o projeto seja recebido pelos congressistas? Schneider – A gente sabe que o Congresso Nacional é um ambiente fértil para o aumento da despesa pública. Existe uma pressão constante de senadores e deputados para aumentar os gastos. O próprio Poder Executivo sabe disso e se preocupa com essa questão. Tanto que, no ano passado, quando entregamos nossa proposta aos candidatos à Presidência da República, todos manifestaram preocupação de que o trabalho do Movimento deveria ser feito junto ao Executivo, mas também ao Legislativo. Nesse sentido, estamos trabalhando também para criar uma bancada do MBE no Congresso, não só para aprovar nossos projetos de lei,

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Proposta do Movimento Brasil Eficiente busca incremento médio de 6% ao ano na economia brasileira

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eNTRE VISTA mas também para conter um pouco essa pressão pelo aumento das despesas. Uma pressão que começou com o aumento do próprio salário em 61,8%... Schneider – É, mas infelizmente esse é o espírito do Congresso hoje. Falta responsabilidade fiscal aos congressistas e nós precisamos mudar isso.

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O senhor é otimista em relação à aprovação da Lei Brasil Eficiente ou acredita que será uma batalha? Schneider – Acho que temos que ser realistas. Sabemos que as dificuldades serão muitas, mas se não fizermos esse trabalho pagaremos uma conta muito alta amanhã. E quanto mais cedo fizermos isso, menor será o custo para a sociedade brasileira. Eu acredito que não é uma questão de otimismo, mas de bom senso. Precisamos fazer o possível, temos que batalhar – quando mais avançarmos, melhor para o Brasil. Nós do MBE não estamos prometendo nada, nem podemos fazê-lo, mas temos que agir.

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Como está a adesão ao Movimento? Schneider – Somos um movimento que tem sido da sociedade organizada num primeiro momento, mas que pretende ser da sociedade como um todo. Hoje temos mais de 80 entidades apoiando o nosso trabalho, desde entidades empresariais a conselhos federais de profissionais. Também estamos conversando com as centrais sindicais e queremos conversar com as donas de casa. Uma dificuldade na proposta de mobilizar toda a sociedade é o fato de que 80% da população não é contribuinte direta de impostos e, por isso, acha que não paga imposto. Nesse sentido, queremos transparência na cobrança dos tributos porque só quando o imposto for discriminado na nota é que o consumidor vai enxergar quanto ele paga de tributo. Estamos preparando uma campanha nacional, com o apoio de rádios e televisões, para que as pessoas percebam o peso dos impostos. Mobilização é a palavrachave para que tenhamos sucesso. Precisamos chacoalhar a população brasileira. Por que é tão urgente que o Brasil reduza seus gastos públicos correntes?

Se o gasto corrente do governo crescer 1% a menos do que a economia, até 2020 conseguiremos elevar a taxa de investimento para 25% do PIB e reduzir a carga tributária de 40% para 30%

Schneider – Para o País crescer em torno de 5% a 6% ao ano – como é desejo de todos e tem sido prometido pelo governo – é preciso investir, no mínimo, 25% do PIB. No ano passado essa taxa foi de 19% e, em 2009, de 16,7%. É um índice muito baixo, que não sustenta um crescimento acelerado, mesmo com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em andamento. Só para ter uma ideia, a Índia investe 35% de seu PIB e a China algo em torno de 45%. O que é necessário para que nos aproximemos desses índices? Schneider – O que nós precisamos é aumentar a taxa de poupança. O Brasil é um país com uma taxa de poupança muito baixa, a população brasileira poupa pouco. Hoje, cerca de 65% das famílias gastam mais do que ganham – o famoso modelo Casas Bahia, onde se compra tudo a prestação. E o governo é um despoupador, ou seja, ele gasta mais do que arrecada, tanto que tem um déficit nominal na faixa de 3% do PIB. O que o governo precisa fazer é criar uma poupança positiva e reduzir a carga tributária para que a iniciativa priva-

da também aumente seus investimentos. E como se faz isso? Aumentando a eficiência com os gastos públicos para que se possa fazer mais com menos. Hoje, o poder público, em suas três esferas – União, estados e municípios –, investe pouco mais de 2% do PIB. Esse índice tem que chegar, no mínimo, a 5%. Se o governo for mais eficiente, terá condições de aumentar seus investimentos e, ao mesmo tempo, reduzir a carga tributária. Quais são as metas propostas pelo Movimento Brasil Eficiente? Schneider – A projeção do Movimento é que se o gasto corrente do governo crescer 1% a menos do que cresce a economia, até 2020 conseguiremos elevar a taxa de investimento para 25% do PIB e reduzir a carga tributária de 40% para 30%. Só assim teremos consistência para um crescimento acelerado.

LINHA DIRETA Movimento Brasil Eficiente (MBE): www.brasileficiente.org.br


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CA PA

vapor

A todo

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Lanรงamento do Jacarandรก, um dos sete navios encomendados pela Log-In

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Construção naval ressurge após duas décadas de inércia e cresce sem parar para atender um programa de encomendas garantido até 2020 por Cléia Schmitz Depois de dez anos de crescimento e um futuro para lá de promissor, é possível afirmar sem medo: a indústria da construção naval brasileira retomou seu espaço no cenário econômico brasileiro após quase 20 anos de inércia. A evolução do número de trabalhadores contratados é um dos maiores indicadores desse fenômeno. No ano 2000, eram 1,9 mil empregos diretos; 2010 fechou com 56 mil trabalhadores. As vendas do segmento alcançaram R$ 5,5 bilhões no ano passado, mas as expectativas mostram que é só o começo. Para 2012, a meta é dobrar esse faturamento e chegar a R$ 11 bilhões. Há cerca de 300 projetos em andamento, considerando a carteira de encomendas de 2010 e a lista de empreendimentos anunciada para 2011. “As perspectivas são boas. Existe um programa de encomendas que permite um planejamento até 2020”, afirma Ariovaldo Rocha, presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), associação que congrega 37 estaleiros. Segundo relatório divulgado pela entidade, outros 13 estaleiros estão em construção no País. Muitos deles já nascem com encomendas garantidas. Entre eles, o Estaleiro Rio Tietê, em São Paulo, que venceu licitação da Transpetro, subsidiária de logística da Petrobras, para a construção de 20 comboios de empurradores e 80 barcaças; e o Promar, segundo estaleiro de Suape, em Pernambuco, que vai produzir oito navios gaseiros, também para a Transpetro. Como se vê, as encomendas do segmento offshore (plataformas de produção de petróleo, navios petroleiros e navios de apoio) representam o maior mercado da indústria naval. Através do Programa de Modernização e Expansão da Frota (Promef ), a Transpetro contratou aos estaleiros nacionais 41 novos petroleiros. Outros oito devem ser encomendados neste primeiro semestre. Em 2010, três navios foram lançados ao mar: João Cândido, encomendado ao Estaleiro Atlântico Sul (EAS), empreendimento inaugurado em 2008, em Pernambuco, para atender às demandas do Promef; e Celso Furtado e Sér-

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Italiana Azimut-Benetti foi atraída pelo potencial de crescimento do mercado brasileiro de barcos de lazer

gio Buarque de Holanda, contratados ao Estaleiro Mauá, erguido em Niterói (RJ) no século 19, que não construía um navio de grande porte há 16 anos. Em 2011, cinco embarcações devem ser entregues para integrar a frota da Transpetro e outras seis serão lançadas ao mar para finalização dos serviços. A previsão é que todos os 49 navios do Promef sejam concluídos até 2015. Os investimentos chegam a quase R$ 10 bilhões. O programa impulsionou a indústria naval do País ao fixar como premissas a construção dos navios por estaleiros de empresas nacionais fixados em território brasileiro, além de exigir dos vencedores de seus processos licitatórios a garantia de empreendimentos modernos e competitivos. Hoje, o Brasil já tem a quarta maior carteira mundial de encomendas de navios petroleiros, incluindo embarcações solicitadas por empresas privadas que atuam no segmento offshore.

Façam estaleiros Há ainda as 39 embarcações que integram o Programa Empresas Brasileiras de Navegação (EBN), da Petrobras. O programa prevê o afretamento, pelo período de 15 anos, de navios a serem

Os maiores estaleiros brasileiros

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Estaleiro Localização TPB em construção Empregos diretos

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1º Estaleiro Atlântico Sul (EAS) Suape (PE)

3 milhões 22 navios/casco da P-55

10,5 mil

2º Estaleiro Ilha S/A (Eisa) Rio de Janeiro

1,2 milhão 26 navios

3,4 mil

3º Estaleiro Ecovix Rio Grande (RS)

1,1 milhão 8 cascos de navios-plataformas

3 mil

4º Estaleiro BrasFels Angra dos Reis (RJ)

NI 5 plataformas

10,2 mil

5º Estaleiro Mauá Niterói (RJ)

192 mil 4 navios

4 mil

6º Estaleiro Rio Tietê Araçatuba (SP)

320 mil 20 comboios fluviais

NI


contêineres, embarcações militares e “A indústria naval para transporte fluvial, como as barcaças que farão o escoamento de etanol pelo brasileira está sendo trecho Tietê-Paraná. recriada após 20 anos de quase nenhuma atividade, Mercado de lazer um grande desafio para O forte impulso na construção naval brasileira não se limita às embarcações todos”, diz Bellelis para exploração de petróleo e transporte

Estaleiro Atlântico Sul, no Suape

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capacidade produtiva é de 160 mil toneladas de aço por ano. Atualmente, 11 mil trabalhadores atuam no estaleiro. “A indústria naval brasileira está sendo recriada após 20 anos de quase nenhuma atividade, o que é um grande desafio para todos os envolvidos”, afirma Angelo Bellelis, presidente do EAS. “No nosso caso, já entramos em operação como um estaleiro de quarta geração, comparável aos asiáticos”, destaca o executivo. Segundo ele, neste momento o maior cliente é o governo, mas muitas empresas brasileiras ou que atuam no Brasil precisam de frota marítima, fato que prolonga o otimismo do segmento. De acordo com o Sinaval, além das encomendas dos programas Promef e EBN, a indústria naval atende a pedidos de navios graneleiros e porta-

de mercadorias. A produção de barcos para esporte e lazer também vem apresentando evolução acima do PIB. Os indicadores divulgados pela Associação Brasileira dos Construtores de Barcos (Acobar) comprovam: no ano passado, os cerca de 150 estaleiros nacionais fabricaram 4,7 mil barcos de fibras de vidro, 500 unidades a mais do que no ano anterior e 1 mil a mais do que em 2006. Em 2010, o mercado náutico de novos e usados movimentou US$ 580 milhões. Quatro anos antes, esse volume era de US$ 423,5 milhões. Hoje, a frota nacional de embarcações construídas em fibra de vidro e acima de 14 pés é de 63 mil unidades. Se somarmos os diferentes tipos e tamanhos de barcos, incluindo infláveis, barcos de alumínio, caiaques e pequenos veleiros, o número chega a 660 mil unidades. É pouco comparado a países hans von manteuffel

construídos por estaleiros de empresas brasileiras. A estatal estima gastar até US$ 400 milhões ao ano com o afretamento desses navios. Em coletiva realizada no dia 2 de março, o gerente de Transporte Marítimo, Rogério Figueiró, disse que a expectativa é dobrar a produção em dez anos. Segundo ele, a frota de carga da Petrobras aumentou de 110 para 187 navios entre 2003 e 2010, acompanhando a demanda que passou de 127 milhões para 170 milhões de toneladas por ano. Na coletiva, o diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, foi enfático: “Façam estaleiros, vamos precisar muito”. Um dos maiores players da construção naval brasileira é o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), financiado pelo governo. O empreendimento tem uma carteira de 22 embarcações, além do casco da plataforma P-55. Estas encomendas somam US$ 3,5 bilhões. Recentemente, o EAS venceu licitação da Petrobras para construção de sete navios sondas com valor final de US$ 4,6 bilhões. As primeiras embarcações serão entregues ainda neste ano. O EAS entrou em operação em 2008, em Pernambuco, e recebeu investimentos de R$ 2 bilhões para a construção de um complexo que envolve uma área industrial coberta de 130 mil metros quadrados. Sua

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agência petrobras

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Tonelagem em construção TPB** mil Em obras PartICIPAÇÃO % 1º Pernambuco 3.072 23 49,12 2º Rio de Janeiro 1.571 64 25,12 3º Rio Grande do Sul 1.120 9 17,91 4º São Paulo* 335 117 5,36 5º Pará 84 21 1,34 Outros 72 35 1,15 Total 6.254 269 100 Celso Furtado, um dos primeiros navios do Promef lançado ao mar

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desenvolvidos. No Brasil, a relação é de um barco para cada 300 habitantes, enquanto na Europa a média é de um para 60. Sinal de que há um mercado gigantesco a ser explorado, um cenário que vem chamando a atenção não só de empresários brasileiros, mas também de grandes estaleiros com marcas já consolidadas no mercado internacional. Entre elas, a italiana Azimut-Benetti, líder mundial no setor. Em agosto do ano passado, a empresa desembarcou no Brasil – mais especificamente em Itajaí, Litoral Norte de Santa Catarina, onde está construindo um polo náutico numa área de 200 mil metros quadrados. Quando o estaleiro estiver com toda sua capacidade instalada, a meta é produzir 100 megaiates da marca Azimut por ano. Em cinco anos, os investimentos no empreendimento devem somar R$ 200 milhões. A estimativa é de que sejam gerados 1 mil empregos diretos. Hoje, são cerca de 160 trabalhado-

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“Muitas pessoas estão comprando o seu primeiro barco, estimuladas pela facilidade de crédito e queda nos preços”, diz Ferreira

* Inclui o Estaleiro Rio Tietê, em implantação em Araçatuba (SP) **TPB – Tonelada de Porte Bruto, uma unidade que mede a capacidade de transporte de carga de uma embarcação

res atuando na construção dos primeiros dois modelos, com lançamento previsto para maio próximo. De acordo com o presidente da empresa no Brasil, Luca Morando, o mercado interno é o foco inicial dos investimentos do grupo no País. “O Brasil é um dos mercados que mais cresce no mundo no setor náutico”, destaca o executivo. Ele ressalta a costa privilegiada, o clima propício em todas as épocas do ano e a estabilidade do câmbio e da inflação como fatores preponderantes para a atração de novos investimentos no segmento de iates. “Os clientes brasileiros da Azimut estão buscando iates cada vez maiores. Há dez anos, a dimensão média dos barcos vendidos era de 30 pés. Hoje, a faixa de referência do mercado está compreendida entre 50 e 60 pés”, afirma Morando. O potencial do segmento náutico brasileiro ficou mais evidente em 2009, em meio à crise econômica mundial. “O Brasil foi um dos poucos mercados do mundo que não reduziu seu tamanho durante a crise, período em que muitos produtos de lazer foram relevados a segundo plano”, afirma o empresário Márcio Ferreira, proprietário do estaleiro catarinense Fibrafort. A marca é um dos principais players do setor no Brasil, com uma produção mensal de 100 barcos. Nos últimos anos, tem crescido entre 17% e 20%. A expectativa é continuar aumentando o faturamento entre 15% e 20% nos próximos cinco anos,

investindo principalmente na atualização do mix de produtos. Para Ferreira, o aumento da demanda do setor náutico pode ser avaliado sob dois aspectos. O primeiro deles é o crescimento do mercado de luxo no Brasil, um fator que tem impulsionado o consumo de grandes embarcações, como iates e cruzeiros. Atenta a este mercado – quase imune a crises – a própria Fibrafort iniciou em 2008 a produção da Focker 280, lançamento que marcou a entrada da empresa no segmento de barcos Day Cruiser. A estratégia foi tão acertada que, hoje, são três modelos nesta linha de produção, incluindo a versão Custom, onde o consumidor pode customizar seu barco de acordo com suas necessidades.

Novos consumidores Outro fator que tem contribuído para o crescimento do mercado de barcos de passeio é a chegada de novos consumidores. Segundo o presidente da Fibrafort, muitas pessoas estão comprando o seu primeiro barco, estimuladas pela facilidade de crédito e queda nos preços das embarcações. “Hoje é possível comprar um Focker 160 (modelo mais básico da Fibrafort) pelo preço de um carro popular”, compara Ferreira. Para o empresário, o segmento náutico só não se desenvolve mais pela falta de estrutura náutica no


eudes santana

Empregos diretos em estaleiros Empregos Participação % 1º Rio de Janeiro 25.987 46,31 2º Pernambuco 10.581 18,86 3º Amazonas 9.244 16,47 4º Rio Grande do Sul 5.500 9,80 5º Santa Catarina 1.958 3,49 Outros 2.842 5,07 Total 56.112 100

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Fonte: Sinaval

Estaleiro Atlântico Sul 25


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números K-Jet, jet ski anfíbio, deve custar cerca de R$ 100 mil

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Pioner, primeiro barco de polietileno feito no Brasil, material comum em embarcações na Europa

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Existem cerca de 150 estaleiros em operação no Brasil, 1.518 lojas náuticas, 654 marinas, iates clubes e garagens náuticas O Sudeste responde por 71% da produção, o Sul por 17% e o Nordeste por 12% A produção da Região Norte é composta essencialmente por embarcações de alumínio e, por isso, não foi incluída nos dados do mercado de fibra 85% das embarcações produzidas no País têm até 32 pés de tamanho Em 2010, o mercado de novos e usados movimentou US$ 580 milhões, contra US$ 510 em 2009 As exportações de barcos, veleiros e jet skis somaram US$ 28 milhões em 2010. Em 2009, ano da crise econômica mundial, esse volume foi de US$ 12,3 milhões e, em 2008, US$ 19 milhões As importações também cresceram de US$ 80 milhões, em 2009, para US$ 133 milhões em 2010 Cada mil barcos construídos geram 8 mil empregos diretos e indiretos A frota nacional de barcos de esporte e recreio, acima de 14 pés, em fibra de vidro, é de 63 mil unidades Fonte: Acobar


barcos de esporte e recreio

Crescimento da produção de barcos em fibra de vidro – Fonte: Acobar

Fibrafort: aumento da demanda é gerado pelo crescimento do mercado de luxo e pela entrada de novos consumidores

Brasil, como marinas, rampas de acesso nas praias e represas. “Temos um enorme potencial de litoral e águas de interiores, mas falta a cultura da navegação.” Para conquistar esse novo consumidor, o projetista de barcos Fernando Kraljevic aposta em novas tecnologias. Gerente comercial da Smart Pier, empresa especializada em flutuantes e equipamentos náuticos, ele lançou em outubro do ano passado o Pioner 17, o primeiro barco feito de polietileno no Brasil. Muito mais resistente a impactos, a embarcação de 17 pés e com capacidade para oito pessoas requer menos manutenção. Por isso, parece perfeita para marinheiros de primeira viagem, em geral mais sujeitos a provocar pequenos choques. “Além disso, o Pioner é leve, portátil, fácil de rebocar até em casa e barato – a partir de R$ 24 mil”, afirma Kraljevic. As vendas têm surpreendido. Sucesso entre os participantes da última São Paulo Boat Show, nos últimos dois meses de 2010 a Smart Pier comercializou 70 unidades. A meta para este ano é 250. Kraljevic conta orgulhoso que, durante o evento, o navegador Amyr Klink elogiou a iniciativa da empresa em trazer para o Brasil uma tecnologia já consolidada em outros países, especialmente na Europa. “Ele comentou que é um barco para a vida toda, que o comprador deixa para seus netos.”

2006

3,9 mil

2007

4,2 mil

2008

2009

A tecnologia do Pioner é norueguesa, e para ter o direito de fabricar o barco no Brasil, a Smart Pier investiu R$ 1,2 milhão. A empresa já começou a projetar o Pioner 23, que deve ser lançado em 2011. Outra sensação na última São Paulo Boat Show foi o protótipo do K-Jet, um jet ski desenvolvido para andar no mar e em terra. Com lançamento previsto para o segundo semestre deste ano, o projeto é o primeiro produto da catarinense K-Jet Technology Amphibious Machine. O empresário Fábio Knorr conta que trabalhava havia oito anos no segmento de lojas náuticas quando, em 2008, começou a se questionar: por que ninguém faz um veículo que una o jet ski e o quadriciclo utilizado para rebocá-lo? Engenheiro de produção formado pela Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), Knorr decidiu levar a ideia adiante e em apenas dois

O segmento náutico só não se desenvolve mais pela falta de estrutura no Brasil, como marinas, rampas de acesso nas praias e represas

4,7 mil

2010

anos já estava com o projeto pronto. O K-Jet tem motor alemão com 143 HP que permite velocidade de 70 km/h na água e 80 km/h em terra. Na água, as rodas são recolhidas. A meta inicial é montar quatro unidades por mês e ir aumentando gradualmente a produção até chegar a 12 jet skis mensais no final de 2012. Segundo o empresário, não é por falta de compradores que a empresa decidiu manter uma linha de produção de baixa escala. “Temos várias revendas interessadas e um cliente chegou a nos oferecer pagamento à vista na Boat Show para garantir a entrega de uma das primeiras unidades, mas precisamos priorizar a qualidade do produto”, explica Knorr. Inicialmente o veículo não sairá de fábrica com homologação para andar em rodovias. Mesmo assim, Knorr acredita que sua qualidade de anfíbio trará mais mobilidade ao usuário e será um diferencial importante porque permitirá que o piloto do jet ski coloque e retire o equipamento da água sem precisar de ajuda. O K-Jet deve sair da fábrica com preço aproximado de R$ 100 mil. Parece salgado para pobres mortais, mas Fábio Knorr não tem dúvidas sobre o potencial de mercado de seu invento. “Estamos bastante confiantes em relação a isso. Nosso foco de mercado é o público AA, para quem não existe crise econômica”, afirma o empresário.

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3,5 mil

4,4 mil

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mar aberto

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Navegação de cabotagem renasceu na última década e expansão da frota e serviços ainda deve crescer muito ante os custos e impacto ambiental menores

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O mar está mesmo para peixe. A navegação de cabotagem – transporte de cargas entre portos da costa brasileira – também passa por um período de forte crescimento. Dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) apontam um aumento de 24% na movimentação de cargas de cabotagem entre 2002 e 2009. Em 2010, as operações de afretamento de embarcações para operação na cabotagem cresceram 35% em relação a 2009. As três principais empresas que operam no segmento – Aliança, Log-In e Mercosul Line – movimentaram em 2010 cerca de 540 mil TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés), 33% a mais do que em 2009 (ano da crise econômica mundial) e de 15% em relação a 2008. A última década deve ficar marcada como a retomada de um modal que teve anos de glória até 1960, quando o governo do presidente Juscelino Kubitschek passou a priorizar os investimentos em rodovias. A cabotagem foi à bancarrota e chegou em 1999 praticamente inutilizada por conta das péssimas condições dos portos brasileiros e da inflação alta, muito desfavorável ao transporte marítimo. Com o Plano Real e a estabilização da moeda brasileira, a navegação costeira começou a se reerguer e trabalhar forte para retomar a credibilidade perdida. O segmento teve que começar praticamente do zero. Hoje o cenário é de expansão da frota e dos serviços oferecidos, incluindo novas escalas e rotas. Para o superintendente de Navegação Marítima e de Apoio da Antaq, André Arruda, o crescimento da cabotagem está diretamente relacionado ao aumento da oferta de capacidade de transporte. “Esse cresci-

mento é traduzido pelo maior número de navios operando nas rotas, maior número de escalas nos portos nacionais e também pelo aumento da competitividade das empresas brasileiras de navegação.” Para ele, a oferta de serviços de logística integrada cada vez mais eficientes e baratos tem sido um estímulo importante à cabotagem. Não existem estatísticas oficiais, mas estima-se que a cabotagem responda atualmente por apenas 3% de toda a movimentação de cargas do País. O Plano Nacional de Logística de Transportes (PNLT), elaborado pelo Ministério dos Transportes, tem como meta para o modal aquaviário a participação de 29% até 2025. Um caminho longo que passa por uma mudança de cultura da maioria das empresas, acostumadas a usar caminhões para levar seus produtos. Para Arruda, da Antaq, a perspectiva é de transferência de novas cargas do rodoviário para o aquaviário, principalmente em função do aumento do preço dos fretes rodoviários, motivado por medidas mais rigorosas de controle sobre o transporte terrestre. Um cálculo feito pelo Ministério de Ciência e Tecnologia pode ajudar o aquaviário a atingir a meta do PNLT. A constatação é de que um caminhão pode emitir até quatro vezes mais dióxido de carbono (CO2) do que um navio para transportar uma tonelada por quilômetro. Um navio com capacidade para 2,8 mil TEUs tira da estrada 2,8 mil caminhões. Segundo Roberto Rodrigues, diretor da Mercosul Line, pertencente ao Grupo A. P. Moller – Maersk, alguns clientes já pedem cálculos de emissão de gases de efeito estufa. “Não é o fator mais importante, mas deve ser consi-


derado no crescimento da cabotagem”, afirma o executivo. Em 2010, a Mercosul Line transportou 73 mil TEUs, um crescimento de 85% em relação a 2009. “O mercado está bastante aberto à cabotagem, principalmente pela melhoria dos serviços e também em função dos gargalos logísticos”, afirma Rodrigues. O desempenho da Mercosul Line em 2010 também é reflexo de investimentos em novas embarcações. No final de 2009, o armador colocou em operação dois novos navios, aumentando sua capacidade de atendimento a cargas refrigeradas em sete vezes. Hoje ele opera com três navios próprios e um em parceria com outro armador. A expectativa é crescer 30% em 2011. A cabotagem também é a aposta da Log-In Logística Intermodal. A empresa encomendou ao Estaleiro Ilha (Eisa) a construção de sete navios – cinco porta-contêineres com capacidade para 2,8 mil TEUs e dois graneleiros. Os dois primeiros, Log-In Jacarandá e Log-In Jatobá, foram entregues em 2010 e os demais seguem um cronograma de lançamento até 2013. “O que temos observado é que quanto maior a capacidade que oferecermos ao mercado, maior a captação de cargas”, afirma Fábio Siccherino, diretor comercial da Log-In. Os investimentos somam R$ 1 bilhão, recursos do Fundo da Marinha Mercante repassados pelo BNDES. Nos últimos três anos, a Log-In tem crescido em média 26% ao ano. No ano passado, o índice foi de 31%. Para Siccherino, as perspectivas da cabotagem são excelentes porque, além do crescimento industrial do País, há um enorme potencial de cargas já existentes a serem exploradas pelos armadores da

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A Aliança, líder em cabotagem no Brasil, pretende aumentar a frota até 2014

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navegação costeira. O executivo aposta numa forte migração do modal rodoviário para o marítimo nos próximos anos, mas reconhece que essa transferência passa por uma mudança de cultura. “Requer uma forma diferente de planejamento das empresas”, destaca. Siccherino cita o exemplo dos eletrônicos produzidos na Zona Franca de Manaus. Segundo ele, mais de 90% da produção ainda segue para as outras regiões do Brasil pelas rodovias, mas há um crescimento de utilização do modal marítimo. Os argumentos dos armadores são bastante convincentes: a distância percorrida pelos caminhões para levar os eletrônicos de Manaus ao Sudeste do País é muito grande e feita por estradas muito ruins e inseguras, o que leva a roubo e avaria de cargas. Além disso, segundo o diretor da LogIn, o transporte por navio tende a ter um custo menor do que o rodoviário. Os altos índices de crescimento da navegação costeira também resultam do aumento significativo da demanda por logística de transporte. Gerente de cabotagem da Aliança Navegação e Logística, empresa do Grupo Oetker, o executivo Gustavo Costa lembra que essa demanda cresce, em média, o dobro do PIB. Segundo ele, no Brasil, esse índice é ainda maior – duas vezes e meia. Assim, se o PIB no ano passado foi de 7,5%, estima-se que a demanda

A Mercosul Line transportou 73 mil TEUs em 2010, um crescimento de 85% em relação a 2009

Siccherino, diretor da Log-In, aposta numa forte migração do modal rodoviário para o marítimo nos próximos anos, mas reconhece que essa transferência passa por uma mudança de cultura por logística cresceu quase 19%. “O impacto desse crescimento no rodoviário é muito grande, tanto que já está faltando motorista de caminhão no Brasil”, destaca Costa. Para absorver esse crescimento, a Aliança também tem planos de aumentar sua frota de navios na cabotagem. Hoje, são oito embarcações com capacidade totalmente utilizada. Até 2014, a

empresa espera colocar mais navios em operação, mas prefere não adiantar a quantidade de embarcações porque depende da disponibilidade dos estaleiros nacionais, abarrotados com encomendas da Petrobras. “Temos que achar uma janela”, afirma Costa. No ano passado, a Aliança completou dez anos de atuação no segmento de navegação costeira. O executivo lembra que nos primeiros


novas esperanças Retomada da indústria naval pode ajudar a tirar do papel projetos de transporte aquaviário de pessoas A retomada da indústria naval traz novas esperanças de que o modal aquaviário aumente sua participação também no transporte de pessoas. Num país com grande potencial para a navegação, a oferta de embarcações poderia ajudar a resolver questões de mobilidade urbana, um problema que atinge cada vez mais cidades brasileiras. Os congestionamentos já afetam 69% da população, segundo pesquisa divulgada recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Refém do modal rodoviário, muitas cidades param nos horários de pico. Não é para menos. Dados do Ipea dão conta de que para cada ônibus novo colocado em circulação nos últimos dez anos, apareceram 52 carros. “No passado, a gente achava que para se sobressair, um modal tinha que matar o outro. A questão agora é criar uma sinergia de modais em benefício da mobilidade urbana”, destaca Walter Boschini, executivo da TWB, empresa que administra o ferry boat entre Salvador e a Ilha de Itaparica. Para ele, o avanço da indústria naval – tanto no segmento de navios de cargas

quanto de barcos de passeio – pode ser um passo para que o modal aquaviário seja mais usado como alternativa de transporte coletivo. Tecnologias necessárias para transportar pessoas com conforto têm sido desenvolvidas em função das novas demandas do segmento offshore. Segundo Boschini, 70 mil pessoas são transportadas ao mês só nas operações de pesquisa e exploração do pré-sal. “O problema é que o Brasil ainda caminha no sentido da sinergia de modais por necessidade. A intermodalidade não faz parte das estratégias de políticas públicas do País”, lamenta Boschini. Cidades como Florianópolis e Vitória hoje têm seu trânsito totalmente dependente de pontes. A condição de ilha, que poderia ser uma solução se o mar fosse utilizado, agrava a situação. Em Porto Alegre, a necessidade de solucionar problemas de mobilidade para a Copa de 2014 fez a prefeitura lançar o projeto de uma hidrovia entre a zona sul e o centro da capital gaúcha. Estimase que distâncias hoje percorridas em quase duas horas de ônibus poderiam

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anos houve prejuízo por conta do descrédito do modal. Hoje, a Aliança é líder no transporte de cabotagem no Brasil. E Gustavo Costa manda um recado para empreendedores de plantão: “Precisamos de caminhões para fazer o transporte do porto ao cliente, além de área de armazenagem para ova e desova. Essa demanda acontece principalmente na Região Nordeste. Escreva aí que os interessados podem mandar e-mail para mim”, diz o executivo. A preocupação se estende ao forte crescimento da demanda por mão de obra, especialmente para tripulação dos navios., com a entrada dos navios encomendados pela Petrobras. Outro indicador do crescimento da cabotagem é o aumento do número de outorgas concedidas pela Antaq a empresas brasileiras interessadas em operar no segmento. Em 2010, o crescimento foi de 14% em relação a 2009. Hoje são 40 empresas com diferentes portes e capacidades de transporte de cargas. “Para 2011 espera-se um número expressivo de novas outorgas na cabotagem, em razão do aumento na movimentação de cargas decorrentes do crescimento econômico sustentado do País, do crescimento das atividades de transporte de petróleo e derivados, e da consequente modernização e crescimento da frota mercante nacional”, afirma Arruda.

Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

Segundo dados do Ipea, congestionamentos já afetam 69% da população brasileira

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Projeto de barco solar desenvolvido pela UFSC tem viabilidade comercial se montado em linha de produção

ser feitas em menos de 30 minutos pelo Rio Guaíba. Mas, por enquanto, é só projeto, como tantos outros no País.

Novas tecnologias

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Correndo por fora, há projetos importantes se transformando em realidade. Caso do barco solar, desenvolvido pelo Laboratório de Energia Solar Fotovoltaica (Labsolar) da Universidade Federal de Santa Catarina. O equipamento será entregue ainda neste semestre ao Instituto

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“A questão agora é criar uma sinergia de modais em benefício da mobilidade urbana”, destaca Walter Boschini, executivo da TWB

Ekko Brasil, que precisava de uma embarcação não-poluente para atuar na Lagoa do Peri, região declarada patrimônio natural de Florianópolis. Hoje, o trabalho é feito com caiaques. Segundo Marília Carlini Freire, que integra a equipe do Labsolar, esse é o primeiro barco movido a energia fotovoltaica para transporte de pessoas. O custo ainda é alto – R$ 200 mil –, mas Marília lembra que é preciso levar em conta o fato de que não há uma linha de produção, além da economia com combustível. A meta do Labsolar é de que este seja só o primeiro de muitos barcos solares desenvolvidos pelo laboratório. Dois já foram encomendados pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Energias Renováveis e Eficiência Energética da Amazônia. Há ainda a proposta de desenvolver embarcações com o mesmo princípio para serem utilizadas no trajeto para a Costa da Lagoa, região sem acesso rodoviário, e para passeios turísticos às fortalezas históricas construídas nas ilhas em torno de Florianópolis. “Eu acho que

é possível imaginar uma aplicação comercial para barcos movidos a energia fotovoltaica, mas precisaríamos de uma linha de produção para diminuir os custos e tornálos mais baratos”, afirma Marília.

LINHA DIRETA Acobar: (21) 2262-2483 Aliança Navegação e Logística: (11) 5185-5600 Antaq: (61) 2029-6500 Azimut: www.azimutyachtes.com Estaleiro Atlântico Sul Fibrafort: (47) 3249-9999 K-Jet Technology: (48) 3346-3787 Labsolar UFSC: (48) 3271-9379 Log-In Logística Intermodal: www.loginlogistica.com.br Mercosul Line: (11) 3527-2500 SAE Brasil:(11) 3287-2033 Sinaval: (21) 2523-6962 Smart Pier: (11) 4191-2678 TWB:(13) 3348-4848


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pa nora m a

mundo Estrada para o

Universalização da banda larga gera empregos e negócios e terá impactos significativos na economia do País por Beatrice Gonçalves

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beatrice@empreendedor.com.br

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O Banco Mundial estima que o aumento de 10% no número de usuários de internet de banda larga signifique um incremento de 1,4% no Produto Interno Bruto (PIB). Isso porque a inclusão digital gera empregos, negócios e ainda melhora o desenvolvimento econômico de um país. Apesar de toda potencialidade da banda larga, esse ainda é um serviço para poucos no Brasil. Segundo a Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), dos 190 milhões de brasileiros, apenas 36 milhões têm acesso à internet de banda larga fixa

ou móvel. O preço alto e a falta de infraestrutura para oferecer o serviço inviabilizam que a internet de alta velocidade chegue a regiões rurais do País e aos subúrbios dos centros urbanos. Para ampliar o acesso, o governo Lula lançou o Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) em 2010, que tem como meta oferecer conexão com velocidade mínima de 512 kbps a um preço de R$ 35. A proposta é que até 2014 a banda larga seja oferecida em 4.283 municípios, atendendo mais de 160 milhões de brasileiros. Ao assumir a Presidência, Dilma Rousseff elegeu o plano como um de seus principais compromissos de governo e se comprometeu a

trabalhar para que a proposta saia do papel e comece a funcionar a partir de maio. Para viabilizar o projeto, o Ministério das Comunicações tem procurado formas de reduzir os impostos que incidem sobre o serviço, que hoje chegam a representar 43% do valor que o usuário paga pela banda larga, e resolveu recriar no fim de 2010 a Telebrás. A estatal volta ao mercado para vender infraestrutura de rede no atacado como têm feito hoje as concessionárias de telecomunicações como Telefônica, Oi, Embratel e Intelig. A ideia é que a Telebrás ofereça preços mais baixos pelo serviço aos provedores de internet e que, dessa forma, estimule a concorrência do setor.


photostogo

Parajo, da Abranet: “Quanto mais competição, melhor. Concorrência é saudável”

Aumento de 10% no número de usuários de internet de banda larga proporciona um incremento de 1,4% no PIB

a proposta do governo é que 14 milhões de moradores dessas regiões passem a utilizar internet de alta velocidade ainda este ano. O Ministério das Comunicações entende que por essa medida será possível promover a inclusão digital e movimentar a economia das cidades. Para conseguir promover isso, o governo pretende oferecer financiamentos através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para pequenos provedores e lan houses desses municípios para que eles se estruturem e consigam oferecer banda larga às camadas mais pobres da população. O Ministério das Comunicações estuda a possibilidade de criar um cartão BNDES-PNBL para que empresas de pequeno porte do setor consigam ter crédito a partir do fundo garantidor do Banco. Hoje, pelo atual sistema, os provedores pequenos têm dificuldade em conseguir financiamentos com o órgão porque não têm garantias a oferecer. Além disso, o governo pretende conversar com distribuidoras de energia de todo o Brasil para que elas ofereçam preços mais baixos aos provedores que utilizam postes para levar internet por meio da rede elétrica,

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Para isso, estão previstos investimentos de R$ 5,7 bilhões, sendo que, desse total, R$ 3,22 bilhões vêm de recursos do Tesouro Nacional e outros R$ 2,5 bilhões do retorno pela venda do serviço. A proposta da Telebrás para levar a banda larga até regiões que hoje não têm o serviço é usar fibras ópticas já existentes de estatais como a Petrobras e a Eletrobras. A expectativa é que o preço do megabit a ser cobrado seja de R$ 230 para os provedores. Hoje esse mesmo serviço é oferecido nas capitais do Sudeste por valores que chegam a até R$ 400 e em Manaus a até R$ 4 mil. A Telebras já tem a autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para começar a operar o serviço, mas isso só deve acontecer a partir de maio de 2011. Por enquanto, o órgão está realizando editais para escolher as empresas que vão oferecer produtos e serviços para viabilizar a infraestrutura e cadastrando provedores que tenham interesse em adquirir os megabits. Nessa primeira etapa do plano será oferecida internet de banda larga para 1.163 municípios do Nordeste e do Sudeste do País, e

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Porto, da Datacom: “Quando o governo compra um produto de alto valor agregado com tecnologia nacional, ele está investindo no Brasil”

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um valor que hoje varia de R$ 2 a R$ 9 pelo uso de cada poste. Para Eduardo Parajo, presidente da Associação Brasileira dos Provedores de Acesso (Abranet), que reúne 200 provedores do Brasil, a medida do governo vai beneficiar todo o segmento. “Para nós é importante que haja mais concorrência no setor de telecom, que hoje é bem restrito. Temos apenas quatro grandes grupos que oferecem megabits para todos os provedores. Para nós, que somos compradores desses insumos, quanto mais competição do setor, melhor. Essa concorrência é saudável.”

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Infraestrutura deficiente Parajo explica que uma das regiões mais deficitárias em infraestrutura para banda larga é o Norte do País, e que hoje, por mais que os provedores tenham interesse em levar internet de alta velocidade para lá, fica inviável porque não há fibras

ópticas suficientes disponibilizadas pelas concessionárias de telecomunicações. “Atu­almente, a maior parte dos sistemas oferecidos para os internautas do Norte do País é através de rádio ou via satélite. Com a universalização da banda larga conseguiremos atender melhor o Norte e isso tende a trazer um ganho significativo para a economia local.” Além da dificuldade de levar a banda larga até lugares distantes, Parajo considera que os custos para ter internet de alta velocidade ainda são muitos altos. O consumidor chega a pagar em média R$ 60 por mês pelo serviço. “Para uma família da classe A e B esse é um valor baixo, mas para as de classe C, que hoje são as que mais compram computador, isso já pesa no orçamento.” Sem internet em casa, muitos brasileiros costumam acessar a rede através de lan houses. Mário Brandão, diretor da Associação Brasileira de Inclusão Digital (Abcid), entidade que reúne 12 mil

lan houses do País, explica que a maior parte dos usuários de lan houses é de pessoas de camadas sociais mais pobres que encontram nesses estabelecimentos internet barata e com alta velocidade. “As mais de 12 mil lan houses existentes no Brasil são as maiores agentes de inclusão digital no País. Elas conseguiram oferecer banda larga para uma grande população que não tinha acesso ao serviço. Só na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, existem 140 lan houses de moradores da comunidade e são elas que permitem que a população que vive lá tenha acesso à banda larga.” Brandão explica que a maior parte das regiões localizadas nos subúrbios dos centros urbanos também não tem infraestrutura para oferecer internet, não há cabeamento e há pouco interesse das concessionárias em expandir o atendimento para esses lugares. “Nós, empresários do setor de lan houses, temos interesse em ser grandes agentes


Metas do Plano Nacional de Banda Larga Popularizar o acesso à internet de alta velocidade no Brasil Levar a banda larga até as áreas rurais e os subúrbios dos centros urbanos Ampliar a infraestrutura de rede de banda larga e oferecer o serviço para 4.283 municípios do País até 2014 Oferecer internet com velocidade mínima de 512 kbps ao valor máximo de R$ 35

da democratização da internet no Brasil e estamos discutindo com o governo federal para que, com o Plano Nacional de Banda Larga, as lan houses venham a se tornar também microprovedores.” Por esse sistema proposto pela Abcid, as empresas do setor passariam a oferecer também banda larga através de equipamentos wi-fi, wireless ou mesmo a cabo para os moradores que vivem próximos a uma lan house. Segundo o diretor da entidade, se o governo conseguir fazer essa mudança na legislação e baratear os custos das licenças, as lan houses que se tornarem também microprovedores podem triplicar o seu faturamento. “Há lugares em que a lan house poderia beneficiar muito o entorno, se tornando um agente de banda larga. Essas são empresas que já têm uma estrutura técnica pronta e que costumam contratar pessoas da própria comunidade para trabalhar no negócio.” Além de baratear os custos para os provedores e dar a chance de ampliar os

serviços oferecidos pelas lan houses, o Plano Nacional de Banda Larga também movimenta a indústria nacional. A Datacom, empresa de telemática do Rio Grande do Sul, participou do leilão da Telebras e foi a companhia escolhida para oferecer a solução de rede backhaul e acesso IP/ MPLS que vai garantir a infraestrutura para que a estatal possa oferecer megabits aos provedores. “Vamos oferecer aparelhos que fazem o roteamento da rede em alta velocidade, o equivalente a 10 gigabit por segundo”, afirma Antônio Carlos Porto, diretor da Datacom. Nessa licitação, a Datacom foi a empresa que apresentou a melhor proposta em 15 itens do edital, o que fez a Telebras economizar o equivalente a R$ 2 milhões em comparação com a proposta de uma companhia chinesa que participava do edital. “Quando o governo compra um produto de alto valor agregado que foi produzido com tecnologia nacional, ele está investindo no Brasil. Isso dá visibili-

dade à indústria nacional e gera empregos no País. Para atender à demanda do serviço, já planejamos contratar mais 60 engenheiros este ano”, afirma Porto. O diretor da Datacom considera que o Plano Nacional de Banda Larga é uma grande oportunidade para ampliar o desenvolvimento do País. “Vejo a popularização da internet de alta velocidade como a abertura de uma estrada porque ela abre o acesso ao mundo. Uma pessoa pode criar um negócio em qualquer lugar e vender seus produtos pela web para qualquer outro lugar. Isso movimenta a economia.” Além da Datacom, foram assinados contratos no valor de R$ 35 milhões com as empresas brasileiras Networker e Bimetal para o fornecimento de postes e torres para a entrega de sinal até a sede dos municípios atendidos pelo PNBL. No mês de março, a Telebras deve assinar ainda contratos com consórcios de empresas do País para o fornecimento de equipamentos de radioenlaces.

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Desonerar o ICMS que incide sobre os serviços de banda larga

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Norberto, da Acate: problema seria resolvido se ao invés de um único plano nacional fossem adotados 27 planos estaduais

Tarefa árdua

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Para baixar os preços da internet de banda larga, governos dos estados precisam cortar ou reduzir o ICMS, que chega hoje a 25% do valor total

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Para fazer com que a internet de banda larga seja oferecida a preços mais baixos no Brasil, o Ministério das Comunicações terá que firmar parcerias com os governos dos estados. Isso porque hoje o maior imposto que incide sobre os serviços de telecomunicações é o ICMS, que chega a representar 25% do valor total cobrado pelo uso de internet de banda larga. O próprio ministério considera que convencer os estados a diminuírem ou mesmo a cortarem o imposto do serviço não será uma tarefa fácil. Um problema que poderia ser resolvido, segundo Norberto Dias, diretor da Vertical de Telecomunicações da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate), se ao invés de um único plano nacional de banda larga fossem adotados 27 planos estaduais. “O governo federal só consegue ser um indutor da popularização da internet de alta velocidade. O papel dos governos estaduais para a redução dos impostos é fundamental. Além disso, parte das fibras ópticas disponíveis no País pertence a empresas controladas pelos estados e dependem de autorização dos governadores para serem utilizadas.” O diretor da Acate conta que já propôs ao governo de Santa Catarina a criação de um plano estadual de banda larga e que a proposta chamou a atenção do executivo.

“A intenção da Vertical de Telecomunicações da Acate é realizar um estudo aprofundado sobre a infraestrutura oferecida hoje em Santa Catarina e, depois disso, apresentar propostas ao governo para viabilizar o plano estadual de banda larga.” No caso de Santa Catarina, Dias explica que é possível ampliar a rede de internet para todas as regiões do estado utilizando fibras ópticas já existentes da Centrais Elétricas de Santa Catarina S/A (Celesc) e da Fundação de Apoio à Pesquisa Científica do Estado (Fapesc). “Se for utilizada a infraestrutura de fibras ópticas já existentes e houver a redução dos impostos, o estado tem capacidade de garantir internet de alta velocidade a preços mais baixos do que o previsto pelo Plano Nacional de Banda Larga. Santa Catarina pode oferecer internet de 1 megabit por valores entre R$ 18 e R$ 29.” Dias considera que o plano estadual de banda larga também pode dar mais visibilidade aos produtos fabricados no estado. “As empresas de Santa Catarina desenvolvem equipamentos de banda ultralarga, roteadores, modens e softwares que permitem que o processo de popularização da banda seja feito com tecnologia catarinense. Na Vertical de Telecomunicações da Acate nós temos 30 empresas que fabricam produtos para o setor e que po-

dem oferecer aos provedores e aos usuários de internet soluções para que eles utilizem a conexão de alta velocidade.” A tecnologia HPNA3 da Cianet Net­ working, por exemplo, foi desenvolvida em Santa Catarina e permite a transmissão de dados por cabos coaxiais e telefônicos e o uso de banda ultralarga de até 320 mbps. Com o sistema, os provedores de internet podem oferecer banda larga aos usuários e com preços reduzidos. “Com o sistema da HPNA3, mesmo sem o plano nacional ou o estadual de banda larga, já é possível reduzir os custos da banda. Um provedor que comprou o nosso sistema já conseguiu levar conexão de alta velocidade para um condomínio residencial popular e oferecer o serviço a um preço mais baixo do que o que costuma ser cobrado pelo mercado”, afirma João Francisco Santos, diretor da Cianet.

LINHA DIRETA Abcid: www.abcid.org.br Abranet: www.abranet.com.br Acate: www.acate.com.br Cianet: www.cianet.ind.br Datacom: www.datacom-telematica.com.br


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Samuel Pinheiro busca aplicar em seu negócio os princípios assimilados em empresa júnior da UERJ

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Aprender na

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Empresas juniores são ambiente ideal para o desenvolvimento de técnicas de gestão, do espírito de liderança e de competências empreendedoras

por Mônica Pupo

monica@empreendedor.com.br

O Brasil é atualmente uma das nações com maior número de empresas juniores (EJ) do mundo. No total, existem aproximadamente 1,2 mil instituições do tipo, espalhadas em todos os estados do País, segundo dados da Confederação Brasileira de Empresas Juniores – Brasil Júnior. Considerada um local de aprendizagem, a empresa júnior é também um ambiente propício para o desenvolvimento da liderança e empreendedorismo. Não por acaso, muitos empresários que hoje se

destacam pelo lançamento de ideias e conceitos inovadores têm em comum a passagem por empresas juniores. Segundo Carlos Nepomuceno, presidente da Brasil Junior, isso acontece devido às maiores chances de crescimento e autonomia dentro destas organizações. “A experiência de gestão é um diferencial muito grande, pois não é algo que você vai conseguir rápido no mercado. A empresa júnior oferece um escopo muito amplo e a oportunidade de ter cargos e responsabilidades sobre projetos muito grandes, que normalmente não se teria tão cedo”, diz.


no Brasil e no mundo

Segundo o Conceito Nacional de Empresa Júnior estabelecido pela Brasil Júnior, “empresa júnior é uma associação civil, sem fins econômicos, constituída e gerida exclusivamente por alunos de graduação de estabelecimentos de ensino superior, que presta serviços e desenvolve projetos para empresas, entidades e sociedade em geral, nas suas áreas de atuação, sob a orientação de professores e profissionais especializados”. Na prática, trata-se de uma empresa que presta consultoria empresarial e que deve proporcionar aos estudantes a aplicação prática de conhecimentos teóricos, além de desenvolver habilidades críticas, analíticas e empreendedoras. Por ser uma instituição sem fins lucrativos, a empresa júnior não pode captar recursos financeiros e nem realizar aplicações com fins de acúmulo de capital. “Todo o lucro obtido pela EJ não pode ser distribuído, mas sim reinvestido em treinamento, equipamentos e melhorias internas”, esclarece Carlos Nepomuceno.

4O conceito de empresa júnior surgiu na França, em 1967, na Essec – L’Ecole Supérieure des Sciences Economiques et Commerciales de Paris; 4No Brasil, a primeira EJ foi fundada em São Paulo no final da década de 1980; 4São 1,2 mil empresas juniores no País hoje, distribuídas por todos os estados brasileiros; 4Destas, 166 são afiliadas à Confederação Brasileira de Empresas Juniores – Brasil Júnior; 4Em 2010, o PIB Júnior foi de R$ 8 milhões, considerando-se apenas as instituições ligadas à Brasil Júnior; 4A maioria está concentrada nas regiões Sul e Sudeste, especialmente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro; 450% das EJs são da área de Humanas, sobretudo Administração de Empresas, Economia e Contabilidade; 4Aproximadamente 30% são da área de Exatas, ligadas principalmente às diversas áreas de Engenharia; 4Menos de 10% são da área de Biológicas, sobretudo Nutrição; 410% correspondem a EJs multidisciplinares, comuns principalmente em instituições privadas; 485% das EJs estão vinculadas a universidades públicas federais ou estaduais.

Foi o que aconteceu com Ana Astí, que durante a faculdade de Administração de Empresas no Ibmec/RJ trabalhou numa empresa júnior, chegando ao cargo de gerente de projetos. Hoje, aos 32 anos, ela é proprietária da empresa Parceria Social – que presta consultoria na área de comércio justo – e diretora da World Fair Trade Organization ( WFTO) na América Latina. Segundo a empresária, o desejo de ter o próprio negócio já existia antes da faculdade, mas foi consolidado com a experiência. “Atuar numa empresa júnior faz toda a diferença para a formação do perfil empreendedor, já que inclui muito mais responsabilidades e comprometimento do que um estágio”, reflete. Além do espírito empreendedor, a participação em uma empresa júnior fez com que Ana desenvolvesse também o gosto pela inovação, o que a fez investir numa área até então inexplorada no Brasil. Oficialmente fundada em 2008,

a Parceria Social é a primeira empresa brasileira de consultoria que atua na consolidação do comércio justo e solidário no País. Incubada no Instituto Genesis, na PUC-Rio, a organização oferece apoio à certificação, implementação de projetos de cadeias produtivas, cursos e capacitações, design gráfico e organização de eventos na área. Alguns dos projetos desenvolvidos incluem a criação e aplicação da metodologia de diagnóstico e

“A empresa júnior oferece responsabilidades sobre projetos que normalmente não se teria tão cedo”, diz Nepomuceno

plano de negócios em comércio justo para o Sebrae, a formatação da fábrica de comércio justo de produção de óleo de andiroba da Cooperativa da Ilha de Marajó (Coopemaflima) para a Fundação L’Occitane e a certificação em organização de comércio justo da rede de franquias MegaMatte, com foco na cadeia produtiva da erva-mate orgânica. De acordo com Nepomuceno, as empresas juniores estimulam ainda o trabalho em equipe e o cumprimento de prazos e metas, priorizando valores como ética, profissionalismo e inovação. “O espírito empreendedor é desenvolvido de uma forma que, independente do caminho que esses universitários sigam posteriormente, eles levarão um apoio diferenciado e inovador ao mercado.” Segundo Ana, o empresário júnior sabe que não basta a força interna que ele carrega para vencer os desafios, é preciso também de planejamento e ferramentas concretas de gestão e captação de recursos.

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conceito

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Ana: desejo de ter o próprio negócio já existia antes da faculdade, mas foi consolidado com a experiência na empresa júnior do Ibmec/RJ

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Os empresários pós-juniores tendem a trazer a cultura do movimento para dentro de seus negócios, segundo Nepomuceno, já que aprendem a trabalhar em busca dos resultados e da excelência no que fazem. “O estudante fica mais habilitado a enfrentar desafios e tem maiores chances de se tornar bemsucedido, com capacidade de aplicar os conhecimentos aprendidos em qualquer área de atuação”, explica. É o caso do empresário Samuel Pinheiro, que busca aplicar em seu negócio todos os princípios de organização e planejamento que aprendeu nos tempos em que cursava Economia na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). “Atuei numa empresa júnior no setor administrativo-financeiro durante um semestre e meio e, neste período, compreendi a importância de manter os processos funcionando, porém com custos baixos, e tento aplicar essa estratégia hoje na minha empresa”, diz ele, que é fundador da Petrocenter, rede de escolas de qualificação profissio-

nal especializada nas áreas de petróleo e gás. Quando abriu a empresa, Pinheiro tinha apenas 22 anos e já havia inaugurado anteriormente uma franquia de idiomas. Decidido a crescer ainda mais, ele resolveu investir num nicho em crescente expansão por conta da descoberta das bacias de petróleo no País e das pesquisas referentes ao pré-sal, que demandam cada vez mais mão de obra qualificada. “Sem dúvida, a minha experiência na empresa júnior me aproximou do mercado logo cedo e facilitou o desenvolvimento de minhas habilidades para gerir um novo empreendimento”, avalia. Hoje, aos 25 anos, Pinheiro comemora os bons resultados da Petrocenter, que atualmente conta com quatro unidades em funcionamento e três em fase de implantação através do sistema de franquias. “Trabalhar numa empresa júnior me ajudou no que diz respeito à

organização. Essa característica fez toda a diferença para que entrássemos no mercado de franchising e foi determinante para facilitar a padronização dos processos que temos atualmente”, afirma. Até o final do ano que vem, o empresário planeja ter 50 franquias em operação em todo o Brasil, sobretudo nas áreas com maior desenvolvimento da indústria petrolífera, como Rio de Janeiro, Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.

LINHA DIRETA Brasil Júnior: www.brasiljunior.org.br Parceria Social: www.parceriasocial.com.br Petrocenter: www.petrocenterbrasil.com.br


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m a r keti ng

consumo Sonho de

A Editora Empreendedor apresenta em edição especial as 21 marcas que se destacarão no mercado e se manterão presentes na mente dos consumidores

Em 2000 a Empreendedor quis medir a expectativa das principais entidades associativas, federativas e sindicais do Estado sobre o que aconteceria, na opinião delas, com as empresas catarinenses durante a primeira década deste século. Pediu, então, que elas indicassem as 20 que mais se destacariam. Algumas empresas citadas naquele ano desapareceram, outras surgiram com força total. Também houve as que cresceram e as que permaneceram no mesmo lugar. A Empreendedor entendeu, então, que passados 10 anos, tinha chegado o momento de medir novamente as expectativas do setor. E desta vez o foco foi deslocado para o ativo mais importante das empresas: as suas marcas. Assim, a Empreendedor foi ouvir, a respeito, 21 das mais importantes personalidades catarinenses no mundo dos negócios, do marketing e da comunicação pedindo-lhes que indicassem as 21 marcas catarinenses que deverão se destacar no

mercado na próxima década. De 2000 para cá, quando foi realizada a primeira edição do projeto “Marcas do Século 21” da Editora Empreendedor, 13 das catarinenses permanecem na lista e exibem maduro desempenho na segunda década. Caminham equilibradas as marcas Aurora, Döhler, Eliane, Hering, Karsten, Malwee, Marisol, Portobello, Perdigão, Sadia, Tupy, Tigre e Weg na aposta do corpo de jurados formado por profissionais de renome da área de comunicação, publicidade, propaganda e marketing do Estado. E surgem aquelas que também vão ganhar a cena e ingressar na seleção: Angeloni, Colcci, Consul, Duas Rodas, Dudalina, Intelbras, Seara e Tractebel. “Neste início de 2011, após 10 anos da realização da primeira edição do projeto “Marcas do Século 21”, novamente reunimos algumas das mais expressivas figuras do mundo dos negócios para a seguinte questão: quais as marcas que vão se destacar nesta década no mercado catarinense?”, diz o publicitário e professor Eloy Simões, um dos idealizadores da publicação ao lado

do também publicitário Francisco Socorro. A pesquisa será desdobrada em uma edição especial da Editora Empreendedor, que apresentará o resultado da votação, evidenciando a opinião dos jurados, suas visões de mercado e negócio. Com lançamento marcado para abril deste ano, além de textos inteligentes e diagramação criativa, a publicação exibe o conhecimento de profissionais da área de comunicação e marketing, empresários e empreendedores que desejam ter a dimensão dos bastidores de uma grande marca. “Com a revelação de como as marcas encantaram os verdadeiros protagonistas do seu show de talentos, os consumidores. Cada vez mais bem informados e, por isso, mais exigentes e difíceis de serem conquistados. Apresentar a trajetória de sucesso, estratégias de comunicação e processo de formação da marca também é falar sobre o comportamento contemporâneo, as aspirações de hoje e necessidades cotidianas que envolvem o consumo”, diz Francisco Socorro. Informações: www.marcasdoseculo21.com.br

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as 21 marcas do século

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1. ANGELONI 2. AURORA 3. COLCCI 4. CONSUL 5. DÖHLER 6. DUAS RODAS 7. DUDALINA

8. ELIANE 9. HERING 10. INTELBRAS 11. KARSTEN 12. MALWEE 13. MARISOL 14. PERDIGÃO

15. PORTOBELLO 16. SADIA 17. SEARA 18. TIGRE 19. TRACTEBEL 20. TUPY 21. WEG


JÚRI DA EDIÇÃO CATARINENSE MARCAS DO SÉCULO 21 Adir Mazzuco Júnior | Florianópolis/SC

Ligia Fascioni | Florianópolis/SC

Amarildo Passos | Criciúma/SC Diretor da Criativacom de Criciúma/SC. Diretor Regional Sul do Sinapro/SC.

Marcelo Corrêa Petrelli | Florianópolis/SC Vice-presidente-executivo da RIC Record SC. Membro do Conselho Fiscal da Acaert.

Celso Cover | Florianópolis/SC

Marcos Antônio Bedin | Chapecó/SC

Responsável pela área de importação e exportação de conteúdo da TVBV – Band/SC. Jornalista e publicitário.

Christiane Hufenüssler | Jaraguá do Sul/SC Presidente da CMC – Central de Marketing de Comunicação, em Jaraguá do Sul/SC. Diretora Regional de SC da Abap. Dagoberto Dalsasso | Florianópolis/SC

Consultora de Design e Marketing. Doutora em Gestão Integrada de Design e pós-graduada em Marketing.

Assessor de Comunicação pela MB Comunicação, de Chapecó/SC. Diretor Regional Oeste da ACI – Associação Catarinense de Imprensa.

Mário Neves | Florianópolis/SC

Diretor de Mercado da RBS SC. Vice-presidente de Relação Institucional com o Governo e Mercado de Santa Catarina da Acaert.

Diretor-executivo da D/Araújo, de Florianópolis/SC. Administrador de empresas e engenheiro, com MBA em Marketing.

Marise Westphal Hartke | Florianópolis/SC

Daniel Carlos Andrade de Araújo | Florianópolis/SC

Oscar Hector Benvenutto Queirolo | Blumenau/SC

Presidente da D/Araújo Comunicação, de Florianópolis/SC. Presidente-executivo e membro do Conselho Editorial do Sinapro/SC.

Estela Benetti | Florianópolis/SC

Jornalista e economista. Colunista do “Informe Econômico”, no Diário Catarinense, de Florianópolis/SC.

Jailson José de Sá | Florianópolis/SC

Idealizador e editor do Portal AcontecendoAqui. Publicitário. Juarez Beltrão | Florianópolis/SC

Diretor da Neovox Comunicação, de Florianópolis/SC. Diretor de Relações com Entidades da ADVB-SC.

Julio Jorge Lobo Pimentel | Florianópolis/SC

Sócio da Página Um Propaganda, de Florianópolis/SC. Publicitário e consultor de Marketing e Comunicação.

Laudelino José Sardá | Florianópolis/SC

Diretor de Comunicação e Marketing da Unisul em Florianópolis/SC. Jornalista e colunista do Portal AcontecendoAqui.

Membro titular do Conselho Superior da Abert. Presidente da Acaert.

Diretor da Vince/Studio Gama, de Blumenau/SC. Membro do Conselho de Ética do Sinapro/SC. Publicitário.

Paulo Vitório Reginato | Joinville/SC

Diretor da PEB – Planejamento e Comunicação, em Joinville/SC. Publicitário.

Roberto da Luz Costa | Florianópolis/SC Presidente da Propague Serviços de Comunicação, de Florianópolis/SC. Membro do Conselho Vitalício da ADVB-SC. Rosa Senra Estrella | Florianópolis/SC

Diretora-executiva da Fórmula Comunicação, de Florianópolis/SC. Presidente Regional de SC da Abap.

Saulo Silva | Florianópolis/SC

Fundador e diretor na Quadra Comunicação, em Florianópolis/SC. Publicitário.

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Sócio-diretor e fundador da IncaGiacometti de Florianópolis/ SC. Vice-presidente de Mercado e membro do Conselho Editorial do Sinapro/SC.

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Jorge Torres

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Idade: 39 anos Formação: Processamento de Dados, na Faculdade Santana (SP) Local de nascimento: São Paulo Empresa: China House Número de funcionários: 300 na rede e 95 nas unidades próprias


Desejo

incontido por Mônica Pupo monica@empreendedor.com.br

O desejo de abrir o próprio negócio fez com que o paulistano Jorge Torres se lançasse logo cedo no mercado de trabalho. Seu primeiro emprego foi aos 15 anos como lavador de pratos. Aos 16, era gerente de uma rotisserie. Aos 23, após se formar em Processamento de Dados, resolveu colocar o sonho de criança em prática: ter um restaurante. Hoje, aos 39, ele comemora o sucesso da China House, rede de franquias especializada em comida chinesa, que atualmente possui 16 unidades em operação no País. O espírito empreendedor surgiu ainda na infância por influência da família. Descendente de portugueses, Torres acompanhou os pais numa sucessão de empreendimentos. “Como típicos portugueses, meus familiares sempre tiveram negócios ligados ao comércio, como açougue, pa-

daria, supermercado e lanchonete”, conta. Fascinado com a ideia de um dia também ter a própria empresa, ele buscou a independência financeira ainda na adolescência, trabalhando sempre em restaurantes. Mas, embora seus pais tenham sido proprietários de churrascaria e lanchonete, Torres não se contentou em trabalhar com a família. “Eu sempre fui um pouco desgarrado, tinha uma visão diferente da deles, achava que era preciso expandir e aprimorar o negócio, então preferi traçar meu caminho de forma independente.” De lavador de pratos a gerente, passando por caixa e garçom, Torres fez um pouco de tudo em restaurantes e cafeterias na capital paulista. Até que, em 1994, foi contratado para o cargo de gerente de uma das lojas da Lig Lig, rede de restaurantes de comida chinesa pioneira no segmento no Brasil. A experiência durou apenas cinco meses, mas foi fundamental para que Torres decidisse o

tipo de negócio que queria para sua vida. “Sempre me vi como operador de uma empresa do ramo alimentício, mas ainda não sabia de qual segmento, quando me deparei com a gastronomia chinesa, que até então eu conhecia muito pouco”, relembra o empresário, que na época havia recém-concluído a faculdade de processamento de dados. Outro motivo que levou Torres a optar pelo ramo de comida chinesa foi a maior facilidade no preparo das receitas, que são feitas na hora e exigem menos pré-preparo. “Eu via meus familiares trabalhando em outros tipos de restaurantes e a rotina era muito sofrida. O pessoal tinha que chegar às 6h para começar a fazer o almoço, que seria servido às 11h, depois já começava a preparar o jantar, e a casa só fechava à meia-noite.” Com o dinheiro que havia juntado, Torres resolveu abrir a primeira unidade da China House, inaugurada em 1995 no

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Jorge Torres sempre quis ter seu próprio negócio. Aos 23 anos abriu seu restaurante e hoje, aos 39, é dono de uma rede de 16 lojas de comida chinesa

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Bairro Santana, zona norte de São Paulo – mesmo local onde ele cresceu e morou a maior parte da vida. “Começamos do zero e foi um aprendizado, pois o espaço e o formato da loja não eram adequados”, conta o empresário, que aproveitou a oportunidade para adequar o ponto e testar todos os aspectos do negócio, entre equipamentos, receitas e processos de trabalho.

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Divisão de tarefas

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As melhorias e adequações foram definitivamente colocadas em prática com o lançamento da segunda unidade da China House, dois anos mais tarde, localizada no Bairro Tatuapé, na capital paulista. Até esse momento, o empreendedor dividia todas as funções administrativas, financeiras e práticas com a mulher, Cristina Torres. “Eu ficava numa loja, minha esposa em outra e fazíamos de tudo no restaurante, correndo de um lado para o outro, do caixa para a cozinha, e assim por diante”, recorda. Além de ser o responsável pela gestão da empresa, o empresário sempre fez questão de participar do desenvolvimento dos pratos, literalmente colocando as “mãos na massa”. “Gosto de cozinhar, todas as receitas da China House foram elaboradas e testadas por mim”, orgulha-se. Foi a partir do ano 2000 que Torres decidiu tomar as rédeas do crescimento da

empresa, que a cada dia atraía mais clientes e pessoas interessadas em se juntar ao negócio. Para expandir de forma gradual e planejada, ele optou pelo sistema de franquias. “Percebemos que só por meio do franchising seria possível crescer com segurança, sem comprometer a qualidade e a padronização da marca”, afirma o empreendedor, que se afiliou à Associação Brasileira de Franchising (ABF) no mesmo ano. Com o auxílio da ABF e de um consultor especializado, teve início a formatação do plano de franquias da China House. Segundo Torres, essa foi uma das fases mais complexas da empresa – e de sua carreira como um todo. “Foi preciso repensar todo o plano de negócios, de forma que nossa proposta se transformasse em algo palpável para os candidatos”, comenta. Atento aos novos rumos do negócio, o empresário acompanhou de perto cada etapa do processo, incluindo a elaboração dos manuais de recursos humanos, operação e ferramentas de gestão, entre outros. Um ano depois, em 2001, foi inaugurada a primeira franquia da rede, no Bairro Tucuruvi. “Começamos a testar o projeto de franquias e demos total atenção a esta primeira experiência, como se fosse um filho”, rememora. “Se hoje costumamos manter um supervisor na loja por 15 dias após a inauguração, da primeira vez ficamos por dois meses.”


que estejam realmente de acordo com as metas e padrões da marca”, informa. Com a média de uma inauguração por ano, foi apenas a partir de 2008 que a China House começou a crescer de forma mais acelerada, com a abertura de três a quatro novas unidades ao ano. Para ajudar nesse processo, Torres contratou a consultoria empresarial Fábrica3. Hoje a empresa conta com um profissional contratado para cuidar exclusivamente dos novos contratos. A iniciativa tem feito a China House expandir os horizontes. No ano passado, a rede inaugurou seu primeiro restaurante fora do Estado de São Paulo, localizado na cidade de São Luís (MA). Até o segundo semestre de 2011, a expectativa é chegar a dois outros estados, com unidades em Brasília e Manaus. Dois novos contratos na região da Grande São Paulo também estão em negociação para este ano. “Vamos manter nosso ritmo cauteloso de expansão, porém de forma mais pró-ativa, com a meta de aumentar em 10% o faturamento da rede em relação ao ano passado”, revela Torres.

LINHA DIRETA China House: www.chinahouse.com.br

China House

1972

Nasce Jorge Torres, em São Paulo

1987

Aos 15 anos começa a trabalhar como lavador de pratos num restaurante da capital paulista

1988

Aos 16 torna-se gerente de uma rotisserie

1994

É contratado como gerente de uma unidade da Lig Lig, rede pioneira em comida chinesa do Brasil

1995

Inaugura a primeira unidade da China House, no Bairro Santana, em São Paulo

1997

Inaugura a segunda loja própria da rede

2000

Dá início à formatação do plano de franquias da China House

2001

Inaugura a primeira franquia da rede, localizada no Bairro Tucuruvi

2008

Tem início o plano de expansão, com a contratação de consultoria especializada

2010

Inauguração da primeira loja da China House fora do Estado de São Paulo, localizada em São Luís (MA)

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LINHA DO TEMPO

O segundo franqueado surgiu logo em seguida e com um novo desafio: ao invés de começar com uma loja do zero, o candidato teve interesse em comprar uma das unidades já em operação. “Vendemos o restaurante do Tatuapé e, na sequência, abrimos mais uma unidade própria na Mooca”, conta Torres, que mantém a postura de continuar investindo no crescimento da rede com a abertura de lojas próprias – que hoje em dia somam cinco unidades, das 16 em operação. “Depois da primeira franquia, aparamos algumas arestas e demos início ao plano de expansão, sempre focando a qualidade ao invés da quantidade”, reflete. Para cumprir essa meta, o empresário adotou uma postura cautelosa na hora de abrir novas unidades. “Não corríamos atrás de franqueado, éramos muito mais receptivos do que pró-ativos”, diz, referindo-se aos inúmeros e-mails e telefonemas que recebia diariamente de interessados em abrir uma franquia da China House. O progressivo aumento do número de candidatos também não foi suficiente para que Torres mudasse sua estratégia. Pelo contrário, só reforçou ainda mais os critérios de seleção da rede. “Não me interessa se existem cinco, dez ou 100 interessados, pois não tenho intenção de expandir agressivamente. Abrimos novos restaurantes conforme encontramos candidatos

Jorge Torres

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rede

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Responsabilidade em

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Empresas ligadas a programa da Afras vão reduzir e neutralizar gases de efeito estufa gerados em seus processos

por Beatrice Gonçalves

bea@empreendedor.com.br

Em 2011, 19 redes de franquias aceitaram o desafio de reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa. Ao longo deste ano, cinco unidades de cada uma dessas 19 marcas vão participar do

Programa Franchising de Baixo Carbono criado pela Associação Franquia Sustentável (Afras), entidade ligada à Associação Brasileira de Franquias (ABF). Com isso, as empresas se comprometem a fazer o levantamento das emissões de gás carbônico, a reduzir e neutralizar os gases gerados em seus processos. O programa é o primeiro


essas emissões é baixo porque para elas é difícil organizar toda a rede de franquias e contratar uma consultoria específica para isso, já que os custos para um levantamento desse tipo são altos, chegando a R$ 100 mil por empresa”, explica Tieghi. A ideia da entidade foi então criar um programa específico para o setor capaz de auxiliar as franquias em todo esse processo. Para isso, a Associação procurou a consultoria Fábrica Éthica Brasil para que juntas pudessem montar o Programa Franchising de Baixo Carbono. Para viabilizar o trabalho, a proposta foi criar um pequeno grupo de redes de franquias de diferentes formatos e perfis e auxiliá-las no processo de levantamento de dados sobre a emis-

Programa é o primeiro no mundo a ser estruturado especialmente para o sistema de franquias

são de gases estufa e no de elaboração de ações que possam reduzir esses danos ao meio ambiente. “Nos mobilizamos para criar um programa que permitisse a ampliação dos conceitos de ecoeficiência no sistema de franquias e que ao mesmo tempo pudesse criar mecanismos para que as redes conseguissem fazer isso de forma mais fácil e barata”, afirma Tieghi. Ao longo de 2010 a Afras apresentou o projeto em reuniões da ABF para seus associados e 19 redes – entre elas a Água Doce Cachaçaria, a Casa do Construtor, o Grupo Ornatus, a MegaMatte e o Yázigi Internexus – resolveram participar da iniciativa. Cada uma das franquias vai investir R$ 10 mil por ano no programa e terá direito a consultoria para o levantamento das emissões de carbono em cinco unidades da rede. O programa começa a ser aplicado em março deste ano e, nesta primeira etapa, um grupo de líderes de cada marca receberá treinamento da consultoria para entender e promover os conceitos da ecoeficiência em toda a rede. Depois desse processo, cada franqueadora receberá uma planilha para

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no mundo a ser estruturado especialmente para o sistema de franquias. Com a entrada em vigor da Política Nacional dos Resíduos Sólidos, que responsabiliza fabricantes, distribuidores e vendedores de fazer o manejo correto de seus resíduos, a Afras resolveu auxiliar as redes de franquias a se adequarem à lei e, por isso, está investindo em programas que promovam a ecoeficiência nas empresas do setor. “Hoje nós não temos ideia de quanto carbono é emitido pelas franquias no País. Mas sabemos que é preciso diminuir para alcançar a meta do governo federal, que é reduzir cerca de 40% as emissões de carbono no Brasil até 2020”, afirma Cláudio Tieghi, presidente da Afras. Apesar da necessidade de mudanças nos procedimentos das empresas, o executivo explica que ainda são poucas as que conseguem implementar um sistema de redução das emissões. Isso porque os custos para promover essa adequação acabam sendo muito altos para empresas de pequeno e médio portes. “Percebemos que o investimento das franqueadoras em reduzir

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Franquias de Baixo Carbono

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Água Doce Cachaçaria Quiosque Brahma BigXPicanha Nobel Casa do Construtor Flytour Franchising Jin Jin Spoleto Genadi Imaginarium MegaMatte Moldura Minuto Mundo Verde Rei do Mate Restaura Jeans Trópico Seletti Culinária Saudável Vivenda do Camarão Yázigi Internexus

fazer o levantamento do que foi consumido de água e energia elétrica e do volume total de efluentes líquidos e resíduos sólidos gerados durante o ano de 2010 em cada uma das unidades participantes do programa. A consultoria vai receber todas essas informações e fazer um cálculo para estimar qual é o volume de carbono emitido durante o ano pelas empresas. Além disso, vai estudar medidas para reduzir o consumo de água e energia e para neutralizar os gases que provocam o efeito estufa. “Com esse levantamento, pretendemos propor mudanças na gestão dessas unidades, que pode ser desde a troca de torneiras até mesmo no caso de uma franquia de alimentação sugerir a substituição de fogões a gás por elétricos. Cada sugestão que vamos dar será acompanhada de um cálculo para mostrar qual será o investimento necessário para fazer essas modificações e quanto isso pode trazer de ganhos para a empresa”, afirma Marcelo Rocha, consultor da Fábrica Éthica Brasil. Por esse programa, caso a franquia não consiga promover ações que redu-

zam todas as suas emissões de carbono, ela poderá neutralizar esses danos através do plantio de árvores. A Afras fez uma parceria com o projeto YIkatu Xingu, mantido pelo Instituto Socioambiental, para promover através do programa o plantio de espécies nativas no Rio Xingu, em Mato Grosso. Mesmo ainda sem ter a estimativa de quanto será preciso neutralizar, estão previstos investimentos de cerca de R$ 80 mil nesta primeira edição do Programa Franchising de Baixo Carbono para o plantio de árvores na região.

Divisão de custos A franquia MegaMatte, especializada em bebidas de erva-mate orgânica, é uma das que estão implementando o programa. “Nós entendemos que essa é uma boa oportunidade para iniciar esse trabalho de redução das emissões de carbono, porque para uma rede conseguir fazer um levantamento de suas emissões sozinha, ela precisa de uma equipe muito grande e de investimentos altos. Por esse programa,


Casa do Construtor: processo em cadeia atingirá consumidor

Vanessa, da MegaMatte: custos divididos entre empresas facilitam levantamento será um processo em cadeia que de forma indireta atingirá o consumidor.” Ela explica que a rede tem a intenção de mudar seus manuais técnicos após o levantamento do Programa Franchising de Baixo Carbono para que as ações de ecoeficiência façam parte da estrutura do negócio. “Queremos aprender com esse programa para implementar ações de redução das emissões de carbono em outras unidades e em outros processos da rede.”

O Programa Franchising de Baixo Carbono será realizado pela Afras e pela Fábrica Éthica Brasil com essas 19 redes de franquia até o fim do ano, e as empresas que conseguirem reduzir suas emissões receberão um selo de franquia de baixo carbono que poderá ser colocado nas unidades que participaram do projeto. Em 2012, as entidades esperam ampliar o programa para conseguir fazer o levantamento das emissões de carbono em outros processos das empresas e para que mais redes de franquias também participem da iniciativa.

LINHA DIRETA Associação Franquia Sustentável: www.afras.com.br Associação Brasileira de Franquias: www.portaldofranchising.com.br Casa do Construtor: www.casadoconstrutor.com.br Fábrica Éthica Brasil: www.fabricaethica.com.br MegaMatte: www.megamatte.com.br

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dividimos o custo da consultoria com outras empresas”, explica Vanessa Medeiros, gerente de comunicação da rede. Nesta primeira etapa, cinco unidades da MegaMatte de São Paulo e do Rio de Janeiro farão o levantamento de suas emissões. Dentre as lanchonetes escolhidas, somente uma é própria da rede, as outras são franquias. “Para sensibilizar nossos franqueados a participar do programa, diretores da Afras vieram à nossa convenção explicar o projeto e falar sobre os benefícios que ele trará para a marca. Muitos franqueados ficaram interessados.” A Casa do Construtor, franquia de aluguel de equipamentos para obras, também está participando dessa primeira edição do programa. Para Margarete Elias, coordenadora de recursos humanos da franqueadora, esse trabalho pioneiro vai melhorar os processos de gestão das unidades. “Acreditamos que esse levantamento vai promover uma maior conscientização dos nossos franqueados e dos funcionários deles sobre a necessidade de redução das emissões de carbono, e isso

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Marca global Em 2011, a grife carioca de óculos de sol Lupalupa pretende transformarse em uma marca global, com lojas em diversos países. Na primeira fase da expansão, ainda no primeiro semestre, a rede inaugura as duas primeiras unidades no exterior: um estande e uma loja na Flórida, nos Estados Unidos. Mas o Brasil não está fora da rota de

expansão da grife: em abril será inaugurada a primeira loja em Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, somando 64 pontos de venda em 15 estados brasileiros. Até junho, outras duas unidades entrarão em funcionamento no Espírito Santo e uma nova loja será aberta no Rio de Janeiro, no Shopping Via Brasil. Para o segundo semestre de 2011,

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Na palma da mão

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Especialistas na criação de conteúdos para dispositivos móveis, a CMF Mídia agora aposta no franchising para ampliar sua atuação em todo o País. A empresa trabalha com a comercialização de espaços publicitários através de um projeto de comunicação mobile, onde o consumidor final tem acesso a informações sobre diversos segmentos, 24 horas por dia, gratuitamente e na palma da mão. Em parceria com os maiores provedores de tecnologia SMS e torpedo de voz, a CMF Mídia já conta com os guias Casal & Festas, Compras e Serviços Mob2go, Bares e Restaurantes Drinks2go, Guia Médico Personalizado, Imóveis Imov2go e Feiras & Eventos. Os guias veiculam informações gratuitas e exclusivas sobre os temas em questão, colocando à disposição do cliente a visualização da empresa

no momento em que procura determinado serviço ou produto, proporcionando visibilidade aos parceiros. Os conteúdos são desenvolvidos para as seguintes plataformas: iPhone, Android, Blackberry, Symbiam, Windows Phone 7, e distribuídos através de ações de Bluetooth Marketing e download via portal da CMF Mídia e de empresas parceiras. O franqueado poderá comercializar os guias já existentes, sugerir a criação de novos, além de ter a possibilidade de vender anúncios com o valor que julgar mais interessante para a região em questão. Além disso, o modelo de negócio requer pouco investimento e permite que a atuação seja feita em diversos segmentos de mercado, atendendo público de todas as classes sociais. www.cmfmidia.com

a expectativa é ampliar a expansão internacional para a Bolívia. Além disso, a Lupalupa já avalia o mercado de outros países para abrir lojas nos próximos anos, sempre com o mesmo conceito das unidades brasileiras. A meta é obter um crescimento de 20% na receita até o final do ano.

www.lupalupa.com.br


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F RA NQU I A

Cidade do Franchising Com inauguração prevista para o dia 15 de março, a Cidade do Franchising foi idealizada pela ABF-Rio com o objetivo de ser um espaço para a oferta de serviços aos interessados em abrir seu próprio negócio. Localizado numa área de 200 metros quadrados dentro do Shopping Città América, na Barra da Tijuca, o espaço abrigará 120 franqueadoras de renome no franchising nacional. A área de negócios conta ainda com sala de reuniões e orientações ao empreen-

dedor, estações computadorizadas para consulta sobre franquias e apoio financeiro da Caixa Econômica Federal para avaliação de financiamento. Segundo a entidade, os segmentos varejistas que têm se destacado na procura por espaços na Cidade do Franchising são alimentação e educação, mas o espaço é destinado a todos os segmentos de franquias. Isso porque, de acordo com Alain Guetta, presidente da ABFRio, o franchising é transversal a todos os setores econômicos. “Praticamente tudo pode ser franqueado, não é questão de se podemos ou não franquear um determinado negócio. A questão é sempre como fazê-lo. De operações mais usuais

às mais exóticas, esperamos na Cidade do Franchising todos os que queiram expandir no Rio de Janeiro”, explica. O objetivo é trazer para o Rio de Janeiro ainda mais empresas interessadas em desenvolver franquias, atrair o interesse de pessoas que desejam ter um negócio próprio, bem como valorizar negócios em decorrência dos grandes eventos esportivos que acontecerão no estado carioca nos próximos anos. “O Rio tem tudo para se transformar num dos maiores polos de importação e exportação de franquias, novas tendências, novos conceitos empresariais e novos negócios para o mundo inteiro”, destaca Guetta. www.abfrj.com.br

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Mulheres no comando

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Pesquisa da Rizzo Franchise sobre o desempenho de franqueados homens e mulheres revela: o faturamento de franquias lideradas por mulheres apresentou aumento de até 32% a mais do que o faturamento de lojas gerenciadas por homens. O levantamento aponta ainda que hoje, no Brasil, há 61 mil mulheres à frente do próprio negócio em franquias, de um total de 160.272 franqueados no Brasil, e a maioria tem idade entre 36 e 45 anos. Segundo Marcus Rizzo, especialista em franchising e um dos responsáveis pelo estudo, os motivos que levam as mulheres a faturarem mais do que os homens estão nas características da liderança feminina para os negócios. “As mulheres se adaptam melhor aos padrões, são mais organizadas e possuem maior estabilidade com a equipe de funcionários, gerando, assim, menor rotatividade de pessoal”, explica Rizzo.

www.rizzofranchise.com.br


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F r an q ui a e m e x p a ns ão

PA- Projeto Arquitetônico, PM- Projeto Mercadológico, MP- Material Promocional, PP- Propaganda e Publicidade, PO- Projeto de Operação, OM- Orientação sobre Métodos de Trabalho, TR- Treinamento, PF- Projeto Financeiro, FI- Financiamento, EI- Escolha de Equipamentos e Instalações, PN- Projeto Organizacional da Nova Unidade, SP- Solução de Ponto

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Empreender março/2011 – WWW.SEBRAE.COM.BR - 0800 570 0800

informe do sistema brasileiro de apoio àS micro e pequenas empresas

Atuar como dono da própria empresa pode ser um bom negócio De acordo com pesquisa, mais da metade dos empreendedores ganha acima de dois salários mínimos

T

er o próprio negócio pode ser mais rentável que ser assalariado. A conclusão consta em pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Segundo o levantamento Sips (Sistema de Indicadores de Percepção Social), feito com 2.773 pessoas em todas as unidades da federação durante o segundo semestre de 2010, 25,31% dos assalariados recebem salários equivalentes a dois salários mínimos ou mais. Entre os trabalhadores por conta própria e os microempresários que têm, no máximo, cinco funcionários, a proporção é duas vezes maior. Do total, 54,59% lucram acima de dois salários mínimos todos os meses. Apesar da rentabilidade maior, abrir uma empresa não está entre as principais opções dos brasileiros que estão desempregados. Ainda há um receio em relação ao processo, de acordo com a pesquisa. A concorrência acirrada é o maior entrave para o crescimen-

to das micro e pequenas empresas no momento atual da economia brasileira, segundo os próprios empresários. A redução da disputa pelo cliente é o fator que mais contribuiria para a melhoria do desempenho do empreendimento, de acordo com 41,2% dos donos de negócios de pequeno porte. O levantamento mostra que a questão é mais preocupante até mesmo do que a carga tributária elevada e a dificuldade de acesso ao crédito, opções tradicionalmente citadas como empecilhos para a ascensão empresarial. “A preocupação dos empresários com a concorrência reforça a importância de ter uma situação econômica favorável, com crescimento da economia e aumento da demanda”, afirma o responsável pelo levantamento, o técnico de planejamento e pesquisas do Ipea, Bruno Marcos Amorim. Mas quem opta por abrir o próprio negócio tem que estar preparado para se dedicar em tempo integral. A pesquisa mostra que

“Quem quer empreender precisa ter o pé no chão, reinvestir o capital que entra, ficar de olho nas mudanças do mercado, acreditar no sonho e não desistir diante das dificuldades” Divulgação

A empresária paulistana Adriana Ribeiro é um exemplo de profissional que deixou de trabalhar como assalariada para se dedicar ao próprio negócio


Vinícius Fonseca

15,3% dos empregadores e trabalhadores por conta própria apontam a falta de uma jornada de trabalho como um dos problemas de não ser assalariado Apesar da rentabilidade maior, abrir uma empresa não está entre as principais opções dos brasileiros que estão desempregados

15,3% dos empregadores e trabalhadores por conta própria apontam a falta de uma jornada de trabalho como um dos problemas de não ser assalariado. // Dos ônibus para os shoppings A empresária paulistana Adriana Ribeiro é um exemplo de profissional que deixou de trabalhar como assalariada para se dedicar ao próprio negócio. E neste mês, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, ela tem muitos motivos para festejar. Há 10 anos, Adriana mal conseguia juntar o dinheiro da passagem de ônibus para trabalhar. Atualmente, mora em uma casa confortável, é dona de uma microempresa e não precisa mais se preocupar se terá dinheiro para pagar as contas no final do mês. O empreendimento de Adriana começou dentro de um ônibus. Gerente financeira de uma pequena agência de publicidade, sua vida não era fácil. Decidida a ter uma renda extra, ela comprou uma revista de pequenos negócios caseiros. Encontrou um curso de produção de sabonetes. Arranjou com amigas os R$ 45 que precisava para o curso. Adriana pagou os R$ 100 da primeira matéria-prima em várias vezes no cartão de

crédito e fez cestas de banho com sabonetes artesanais. Ela passou a vender na linha de ônibus que pegava todo dia para o trabalho. “Quando eu ia ou voltava sempre oferecia as minhas cestas. No final do mês, eu fazia o trajeto recolhendo o dinheiro. Foi assim que fiz minha primeira clientela.” Aos poucos Adriana foi desenvolvendo os produtos. Passou a utilizar essências de frutas nos sabonetes, fazendo um grande sucesso. O dinheiro em casa aumentou, mas um ano depois o marido ficou desempregado. Sem renda, Adriana ensinou a ele como fazer os sabonetes. “Eu criava o design e ele fazia o sabonete. O marido virou sócio.” O passo seguinte foi sair do ônibus para o shopping center. Com uma cesta na mão, entrou na primeira loja e teve uma decepção. “Ouvi um grande não, que jamais venderia aqueles sabonetes na loja.” De cabeça erguida, Adriana parou em um quiosque e ofereceu cinco sabonetes de brinde. Três dias depois a proprietária do quiosque ligou encomendando 500 sabonetes. “Eu não sabia, mas ela era dona de vários quiosques em shoppings de São Paulo.” Depois de alguns meses, a empresária vendia mensalmente para essa empresa 1 mil Serviço Textos: www.agenciasebrae.com.br Mais informações: www.sebrae.com.br

Empreender – Informe do Sebrae. Presidente do Conselho Deliberativo Nacional: Roberto Simões. Diretor-Presidente: Luiz Barretto. Diretor-Técnico: Carlos Alberto dos Santos. Diretor de Administração e Finanças: José Claudio dos Santos. Gerente de Marketing e Comunicação: Cândida Bittencourt. Edição: Ana Canêdo, Antônio Viegas. Endereço: SGAS 604/605, módulos 30 e 31, Asa Sul, Brasília/DF, CEP: 70.200-645 Fone: (61) 3348-7100 – Para falar com o Sebrae: 0800 570 0800 Na internet: sebrae.com.br // twitter.com/sebrae // facebook.com/sebrae // youtube.com/tvsebrae

sabonetes por semana. Em 2004, Adriana pediu para sair da agência de publicidade, pois estava difícil conciliar os dois trabalhos. Os sabonetes fizeram grande sucesso e a empresária chegou a vender para a Bolívia, Portugal e Estados Unidos. A casa com um quarto e cozinha ficou pequena para tanta produção. Ela lembra que muitas vezes não havia lugar para dormir. Era hora de se formalizar. “A dona dos quiosques queria nota fiscal.” Quando teve que mudar o nome de seus produtos, foi até o Instituto Nacional de Propriedade Industrial e entrou com o pedido da marca 5º Elemento. O registro saiu no ano passado e ela possui a marca por 10 anos. Adriana Ribeiro hoje está no Simples Nacional como microempresa. Trabalha com o marido na administração e produção e possui 15 revendedoras porta a porta, que oferecem sabonetes, hidratantes e outros produtos. “Meu objetivo agora é tornar minha marca conhecida e expandir os negócios. Quem quer empreender precisa ter o pé no chão, reinvestir o capital que entra na empresa, ficar de olho nas mudanças do mercado, acreditar no sonho e não desistir diante das dificuldades”, diz. E


PR ODUT OS E S ER VIÇ O S

Eficiência ecológica O Cart-TV é um dispositivo acoplado ao carrinho de supermercado que permite que seja inserido um catálogo de produtos com informações sobre preços e promoções do dia. Por ser fixado, o Cart-TV reduz o desperdício de papel porque permite que um mesmo folheto possa ser reutilizado por di-

ferentes clientes. Segundo André Ranschburg, diretor da RDS, empresa que desenvolveu o sistema, com o Cart-TV um supermercado que fazia a impressão de 5 mil folhetos por dia pode reduzir esse número em até 80% e obter a mesma eficiência na divulgação de seus produtos. www.digimidia.com.br

Painel digital

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A BroadNeeds lança o painel digital miniPlayer para aplicações de sinalização digital e de TV corporativa. O equipamento tem processador de alta performance com dois núcleos, capacidade para processadores Intel e memória DDR3 com suporte de até 4 GB. O miniPlayer possui ainda interfaces de vídeo VGA, DVI e HDMI, áudio de alta

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definição 7.1 e sistema de alta refrigeração para evitar paralisações e manter a placa funcionando por 24 horas. O gabinete é padrão Vesa para montagem em monitores e já vem equipado com brackets laterais, que permitem anexar o miniPlayer diretamente na parede. O preço sugerido para o equipamento é de R$ 2.470. www.broadneeds.com.br

Solução em português A Spamina, fabricante de soluções de segurança para correio eletrônico, anuncia a inclusão de quatro novos idiomas a suas soluções de cloud e-mail firewall. Além de oferecer o sistema em espanhol e inglês, a solução está agora disponível em alemão, francês, catalão e português. Os novos idiomas podem ser utilizados em todas as interfaces da web, tanto para as áreas administrativas de uma empresa – como seus domínios, atribuições e linguagens – quanto para os usuários finais, que podem ainda acessar dados exilados no recurso de quarentena ou regime de avaliação do conteúdo no idioma desejado. Da mesma forma, as informações recebidas pelo correio eletrônico estão disponíveis em qualquer uma das novas linguagens. A inclusão dos novos idiomas faz parte da estratégia de internacionalização da companhia. www.spamina.com


Porta sanfonada A porta sanfonada da Infibra é leve e de fácil fixação, podendo ser utilizada em estruturas de madeira e de metal. O material é anti-inflamável, resistente e durável, o que permite ser utilizada em diversos ambientes como fábricas, escritórios e residências. O produto faz parte da nova linha PVC da marca e está disponível nas versões 70, 80 e 90 cm, nas cores bege e branco. www.infibra.com.br

A Castor amplia sua linha de ferramentas da Divisão Efeitos Decorativos, com o lançamento do rolo de pintura indicado para criar efeito jeans em paredes. O Rolete de Aço para Efeito Jeans é fabricado com rosetas de aço galvanizado e tem cabo anatômico de plástico resistente. O Rolete é mais firme do que os demais vendidos no mercado e diminui a necessidade de limpar a ferramenta a todo momento porque evita que o gel ou o glaze aplicados na parede grudem.

www.castor.com.br

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Efeito jeans

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PR ODU TOS E S ER V IÇ O S

Água potável O Grupo Ecogeo traz para o Brasil dessalinizador movido a energia solar da Trunz Water Systems que é capaz de transformar água salobra em potável. Um dos diferenciais da tecnologia é o sistema de pré-filtração, formado por quatro filtros e que controla a qualidade da água que entra no processo

de osmose reversa. Este recurso aumenta a qualidade da água tratada e diminui a necessidade de trocas e manutenção, além de aumentar a vida útil do equipamento. O dessalinizador possui ainda um sistema automático de autolavagem que é acionado quando as impurezas da água atingem determinado

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Sob medida

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A Bematech apresenta uma novidade para o setor varejista. O SB-9090 POS Touch é um computador projetado especialmente para resistir às condições adversas de operação em bares, restaurantes e hotéis. O equipamento possui design exclusivo e de vanguarda, com proteção contra a penetração de vapores, gorduras ou derramamento de líquidos. Além disso, tem tecla touch screen, que proporciona ganho operacional e agilidade no atendimento.

www.bematech.com.br

volume. O dessalinizador pode ser controlado remotamente e isso permite que os profissionais do Grupo Ecogeo, independentemente do local onde estiverem, monitorem as funções do equipamento a distância. O mecanismo já vem sendo testado no Nordeste do País. www.ecogeo.com.br


le i t ura

Condicionamento criativo Obra traz práticas e dicas de comportamento para se preparar para o processo de criação

Fruto da parceria entre um acadêmico e um publicitário, a obra propõe um mergulho no mundo da criatividade e afirma que qualquer pessoa pode ser criativa, desde que se prepare para isso. “Ninguém nunca disse que ser criativo era fácil. Divertido, talvez. Mas o trabalho criativo não é fácil. Desistir dele que é”, dizem os autores. Sendo assim, da mesma forma que é necessário treinar gradativamente o corpo para uma maratona, a capacidade de criar também depende de condicionamento. Para eles, não se vence uma maratona por acidente. É preciso treino, dedicação e vontade para ser um bom atleta; a mente funciona de forma semelhante. Como se preparar para o processo criativo; mitos sobre a criatividade e como lidar com eles; o papel do erro e do planejamento, da sorte e do trabalho duro; o perigo de se achar um gênio criativo; práticas e comportamento para ter resultados mais criativos são alguns dos temas abordados na obra. O livro traz ainda um programa de exercícios e dicas para melhorar o processo criativo. Dividido em tópicos, permite que o leitor escolha de forma aleatória o assunto que mais cabe à sua necessidade, seja em um projeto ou no cotidiano.

Criatividade sem segredos

Fábio Zugman e Michel Turtchin – Editora Atlas – R$ 35 Seis dicas de como montar e manter uma equipe criativa: 1) Valorize a diversidade: Dificilmente você terá uma perspectiva nova em um grupo formado por pessoas iguais. Por isso, procure apimentar sua equipe com pessoas de origens, culturas e experiências diferentes. Procure pessoas de diferentes idades, sexos, formação e o que mais conseguir para trabalhar juntas. 2) Críticas e discussões são bem-vindas, mas devem ser direcionadas às ideias, não às pessoas. “A regra deve ser: ideias sempre devem ser discutidas, pessoas não”, dizem os autores. 3) Aceite os erros: A produtividade é algo cada vez mais valorizado no mundo empresarial. O problema quando se trata de criatividade é que nem sempre vamos contar com ela. Os membros da equipe devem ter conforto e liberdade para voltar atrás e começar de novo, bem como sugerir novas direções para um projeto. 4) Forneça os meios: Esqueça a ideia de que colocar um monte de pessoas “criativas” em uma sala e pedir para elas fazerem algo vai dar certo automaticamente. Pagar mais por si só não faz ninguém ser mais criativo. Mas se o pessoal está preocupado em pagar as contas no fim do mês, dificilmente será muito criativo. É preciso um certo nível de conforto para ser criativo. 5) Lembre-se do poder dos prazos e restrições: Criatividade não é sinônimo de caos. Uma equipe criativa deve aprender que há prazos e restrições a serem seguidos. “Ao ver um prazo se aproximar, as pessoas de um grupo tendem a se concentrar e focar mais em ideias que tenham boas chances de dar certo.” 6) Cuidado com as divisões: É preciso tomar cuidado para não criar uma divisão entre equipes voltadas a projetos criativos e outras focadas em tarefas mais tradicionais. É preciso que exista um sentimento de que todos estão trabalhando para o mesmo resultado, não importa qual tarefa cada equipe esteja executando.

O supervisor – A dimensão supervisional na empresa Além de ter a capacidade de liderar os colaboradores, o supervisor também deve conhecer a fundo todos os processos do trabalho em que está envolvido. A publicação aponta a importância desses profissionais no mercado de trabalho atual e destaca as principais diferenças entre o seu trabalho e a atuação de gestores, gerentes e diretores. O autor aponta também a questão da desvalorização profissional e da estruturação antiquada da função de supervisor e mostra que a educação empresarial disponível no mercado, fortemente concentrada nos níveis estratégico e gerencial, tem se tornado falha quando o assunto é a operação.

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Antônio Jorge Gordilho Freire de Carvalho – All Print Editora – R$ 35

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Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

ANÁ L ISE E C ON Ô MICA

Os primeiros desafios do novo governo

empreendedor | março 2011

Dilma e equipe precisam convencer mercado de que cumprirão meta fiscal sem artifícios contábeis

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O novo governo já terá um grande desafio em seu primeiro ano de mandato. A economia brasileira se encontra extremamente aquecida, e a aceleração da inflação nos últimos meses trouxe preocupação para o mercado. Durante a crise de 2008/2009 o governo adotou uma série de medidas para estimular a demanda. A redução do IPI para o setor automotivo e para a linha branca e a diminuição do depósito compulsório são exemplos da política fiscal e monetária expansionista adotada nos referidos anos. A estratégia surtiu efeito, e os resultados foram verificados em 2009, com o PIB brasileiro caindo bem menos que o dos países desenvolvidos. Em 2010, a economia brasileira recuperou-se rapidamente e o governo demorou a retirar os estímulos. Paralelamente, o aquecimento da demanda, o desemprego em níveis historicamente baixos, o crescimento do crédito, o dólar enfraquecido e as commodities em alta resultaram em uma inflação atingindo patamares indese-

jáveis. O governo iniciou em dezembro do ano passado um aperto na política monetária, elevando o depósito compulsório. Em janeiro deste ano, o Banco Central elevou a taxa Selic em 0,5 ponto percentual. O governo não pode, entretanto, limitar-se em usar a política monetária como único instrumento para conter a alta do índice de preços. E sabendo disso anunciou nas últimas semanas um corte de R$ 50 bilhões no orçamento deste ano. Porém, a falta de detalhamentos do corte, bem como as declarações de parte da equipe econômica do governo, ainda geram incertezas no mercado sobre o comprometimento da atual gestão com uma política fiscal mais austera e controlada. É importantíssimo que já nesses primeiros meses o governo convença o mercado que de fato cumprirá a meta fiscal estabelecida, e mais importante, sem artifícios contábeis. Além disso, o Banco Central deverá continuar tendo autonomia para a tomada de decisão, o que passa credibilidade para

Falta de detalhamentos do corte e declarações da equipe econômica geram incertezas sobre comprometimento com uma política fiscal mais austera e controlada

o mercado. Os desafios serão muitos nesses quatro anos de governo Dilma. O Brasil está às vésperas de sediar os dois eventos esportivos mais importantes do mundo, o que deverá ser um catalisador de investimentos para o País, e ajudará a economia a crescer num ritmo forte. Portanto, agora é a hora de “preparar o terreno” para os anos que virão, fazendo uma política monetária e fiscal em sintonia, e que permitam que os frutos sejam colhidos no futuro.

por João Pedro Brugger Martins Analista, Leme Investimentos


Nome Classe Participação Ação Bovespa All Amer Lat ON Ambev PN B2W Varejo ON BMF Bovespa ON Bradesco PN Bradespar PN Brasil Telec PN Brasil ON Braskem PNA BRF Foods ON Brookfield ON CCR Rodovias ON Cemig PN Cesp PNB Cielo ON Copel PNB Cosan ON CPFL Energia ON Cyrela Realty ON Duratex ON Ecodiesel ON Eletrobras ON Eletrobras PNB Eletropaulo PNB Embraer ON Fibria ON Gafisa ON Gerdau Met PN Gerdau PN Gol PN Ibovespa Itausa PN ItauUnibanco PN JBS ON Klabin S/A PN Light S/A ON Llx Log ON Lojas Americ PN Lojas Renner ON Marfrig ON MMX Miner ON MRV ON Natura ON OGX Petróleo ON P.Açúcar-Cbd PNA PDG Realt ON Petrobras ON Petrobras PN Redecard ON Rossi Resid ON Sabesp ON Santander BR UNT N2 Sid Nacional ON Souza Cruz ON Tam S/A PN Telemar N L PNA Telemar ON Telemar PN Telesp PN Tim Part S/A ON Tim Part S/A ON Tim Part S/A PN Tran Paulist PN Ultrapar PN Usiminas ON Usiminas PNA Vale ON Vale PNA Vivo PN

1,104 0,979 0,701 3,902 3,130 0,993 0,390 2,726 0,596 1,341 0,622 0,802 1,134 0,685 1,539 0,598 0,784 0,441 1,866 0,589 1,311 0,890 0,743 0,530 0,755 1,498 1,648 0,660 2,574 1,211 100,000 2,315 4,015 0,934 0,404 0,541 0,914 1,207 1,098 0,546 1,440 1,233 0,845 3,773 0,808 2,745 2,206 8,517 1,283 1,163 0,352 1,097 2,359 0,443 1,041 0,225 0,268 0,923 0,155 0,125 0,170 0,840 0,229 0,486 0,592 2,462 2,925 11,956 0,793

Inflação (%)

Até 25/02 Tipo de Ativo Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação 9 Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação

Índice

Fevereiro

Ano

IGP-M IGP-DI IPCA IPC - Fipe

1,01 0,98 0,84 1,15

1,81 1,36 1,68 1,70

Juros/Aplicação (%) CDI Selic Poupança Ouro BM&F

Fevereiro

Ano

0,86 0,86 0,63 5,12

1,73 1,73 1,20 -4,75

Indicadores Imobiliários (%) CUB SP TR

Fevereiro

Ano

0,28 0,05

0,56 0,12

Juros/Crédito (%) 23/Fevereiro Desconto Factoring Hot Money Giro Pré (taxa mês)

22/Fevereiro

1,94 3,86 3,44 2,14

1,93 3,85 3,44 2,14

Câmbio

Até 23/02

Cotação Dólar Comercial Ptax R$ 1,6720 Euro US$ 1,3757 Iene (US$ 1,00) $ 81,7750

Mercados Futuros Dólar Juros DI

Em 25/02

Março

Abril

R$ 1,675 11,15%

R$ 1,687 11,57%

Contratos mais líquidos Ibovespa Futuro

25/02 67.515

empreendedor | março 2011

Carteira Teórica Ibovespa

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photostogo

agenda

De 21/03 a 9/05/2011

Curso de Capacitação em Governança de TI

Febracorp – São Paulo – SP www.ebusinessbrasil.com.br

O curso oferecido pela Febracorp ensina práticas para planejar a governança de TI de um ambiente corporativo e escolher os indicadores de desempenho KPIs a serem utilizados em cada empresa.

De 21/03 a 9/05/2011

Curso de Capacitação em Gestão de Pessoas

Febracorp – São Paulo – SP www.capacitacao.inparh.org.br

Oferece técnicas e práticas para profissionais de recursos humanos. Entre os assuntos abordados estão o mapeamento e mensuração de competências e alinhamento dos valores da empresa com os da equipe.

Megassalão de beleza De 2 a 5/04/2011

Hair Brasil – Feira Internacional de Beleza, Cabelos e Estética

Expo Center Norte – São Paulo – SP – www.hairbrasil.com

A décima edição do Hair Brasil apresenta os principais lançamentos em produtos para cabelos, estética, equipamentos e serviços. Durante o evento é realizado o Seminário do Sebrae para Micro e Pequenos Empreendedores de Beleza, Congresso de Podologia e Campeonato Hair Brasil. São esperados mais de 70 mil visitantes.

De 22 a 25/03/2011

6ª Kitchen & Bath Expo – Feira Internacional de Produtos e Acessórios para Cozinha e Banheiro

Transamerica Expo Center – SP www.kitchenbathexpo.com.br

Fabricantes do Brasil e do exterior apresentam as principais novidades em produtos e acessórios para cozinha e banheiro na sexta edição do Kitchen & Bath Expo. Durante o evento é realizada a nona edição do Fórum Internacional de Arquitetura e Construção (Revestir).

De 28/03 a 1º/04/2011

FIEE – Feira Internacional da Indústria Elétrica, Energia e Automação

empreendedor | março 2011

Pavilhão de Exposições do Anhembi – SP www.fiee.com.br

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Apresenta produtos e serviços para a indústria elétrica como componentes para máquinas, equipamentos industriais e de geração e transmissão de energia. É realizada a sexta edição do Eletronic Americas, feira internacional de componentes, subconjuntos, equipamentos para produção de componentes, tecnologia laser e optoeletrônica.

De 29/03 a 1º/04/2011

De 4 a 7/04/2011

Pavilhão de Exposições do Anhembi – SP www.feimaco.com.br

Centro de Exposições Imigrantes – SP www.cemat-southamerica.tpm.br

Feimaco – Feira Internacional de Máquinas e Componentes para a Indústria de Confecções

A Feimaco apresenta as principais novidades em máquinas para modelagem, corte, costura, bordados, acessórios e peças para o setor têxtil. A feira é exclusiva para industriais, comerciantes, compradores e técnicos do setor.

De 1º a 10/04/2011

Feincartes – Feira Internacional de Artesanato e Decoração Artesanal

CentroSul – Florianópolis – SC www.feincartes.com.br

Mais de 300 artesãos do Brasil e do exterior expõem objetos de decoração, acessórios e confecções na quarta edição da Feincartes, em Florianópolis. Além da capital catarinense, a feira será realizada em maio em Novo Hamburgo (RS) e em setembro em Belém.

CeMAT South America – Feira Internacional de Movimentação de Materiais e Logística

Promovida pela Hannover Fairs em cooperação com a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, reúne empresas da cadeia de logística e movimentação do Brasil e do exterior. Será realizada também em Istambul, Hannover e Moscou.

De 14 a 17/04/2011

Reatech – Feira Internacional de Tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade

Centro de Exposições Imigrantes – SP www.reatech.tpm.br

Apresenta novidades em soluções para pessoas com deficiências físicas, mentais, visuais, auditivas e múltiplas. São realizados o 10º Seminário de Tecnologias de Reabilitação e Inclusão e o 5º Seminário Internacional de Educação Inclusiva.


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