Empreendedor 214

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MERCADO DE CAPITAIS: CONQUISTE (MUITOS) INVESTIDORES PARA SUA EMPRESA CRESCER

www.empreendedor.com.br

ANO 18 No 214 AGOSTO 2012

R$ 9,90

AgroBrasil

IS SN 1414-0 152

+20

Os desafios para o País ser líder mundial do agronegócio de baixo impacto em 2030

fRANqUIA MAIS DE UMA MARCA NO MESMO ESPAÇO

CASSIANO fARANI FALA SOBRE MODELAGEM DE NEGÓCIOS INOVADORES

PERfIL A ARTE SUSTENTÁVEL DE NARA GUICHON






NES TA EDI Ç Ã O

18 | HORA DE SEMEAR

O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos e de agroenergia da atualidade. E tem tudo para continuar assim. O grande desafio é como conciliar crescimento da produção e redução do impacto no meio ambiente, ao mesmo tempo em que se promovem melhorias para quem vive ou tira seu sustento do campo. Isso vai exigir a quebra de muitos paradigmas, com a ajuda de novas técnicas e tecnologias, como produção orgânica, manejo florestal, produção integrada e agricultura de precisão. Conheça as perspectivas para o agronegócio brasileiro nos próximos 20 anos e as estratégias para que se colham resultados positivos, com exemplos de quem já vem quebrando paradigmas. 26 | MUELLER Empresa desenvolve fogão para uso com biogás, gerado a partir do tratamento adequado dos excrementos de porcos 30 | KORIN Exemplo de que é possível produzir em escala e de maneira sustentável e saudável – inclusive para os animais 34 | AMATA É possível tirar árvores de floresta nativa sem prejudicá-la – e ainda beneficiá-la, promovendo sua revitalização

10 | ENTREVISTA Cassiano Farani

42 | FRANQUIA Unindo forças

54 | PERFIL Marcelo Politi

O diretor e fundador da 99Canvas fala sobre habilidade para criar ou remodelar um negócio, ganhando alta escalabilidade e melhores resultados.

Reunir duas ou mais franquias consolidadas num mesmo espaço vem se mostrando uma excelente estratégia para aumentar a rentabilidade da operação e, principalmente, para viabilizar a expansão das redes em cidades menores. Veja exemplos de quem já adota a estratégia.

O incansável empreendedor trouxe da Itália a inspiração para seu novo negócio, a Tramezino, empresa de catering que tem como estrela os sanduíches frios.

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38 | ESTRATÉGIA Caminho para crescer

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Ao ver os noticiários, a bolsa de valores parece ser um mercado restrito às grandes companhias. Mas não é, e pode ser uma forma muito interessante de captar recursos para expandir os negócios. Saiba como funciona o mercado de capitais e como sua empresa pode se beneficiar com isso.

50 | PERFIL Nara Guichon A preocupação em preservar a natureza soma-se à extrema habilidade e criatividade da tecelã para produzir peças, referência do design sustentável brasileiro.

LEIA MAIS 08 45 46 58 60 61 62 63 66

NÃO DURMA NO PONTO MEGAFONE FRANQUIAS PRODUTOS E SERVIÇOS EMPREENDEDORISMOJÁ.COM BANHO DE LOJA LEITURA PENSE GRANDE AGENDA


EDI TO RIA L

A Revista Empreendedor é uma publicação da Editora Empreendedor

E

m 2030, a população brasileira deve ser superior a 230 milhões de pessoas. Já a população mundial deve chegar a 8,3 bilhões de pessoas, elevando a demanda por alimentos e energia em 50%, e por água potável em 30%. A ONU espera que, ao lado dos emergentes China, Indonésia, Tailândia, Rússia e Ucrânia, o Brasil – hoje um dos maiores produtores de alimentos e de agroenergia do mundo – supra esse grande aumento da demanda. O grande desafio é como conciliar crescimento da produção e redução do impacto no meio ambiente, ao mesmo tempo em que se promove melhorias para quem vive ou tira seu sustento do campo. Isso vai exigir a quebra de muitos paradigmas, com a ajuda de novas técnicas e tecnologias que resultem em ganhos de produtividade e reduzam impactos ambientais, como produção orgânica, manejo florestal, produção integrada e agricultura de precisão, além de recuperar áreas degradadas. Segundo o estudo “Agricultura de baixo impacto: construindo a economia verde brasileira”, desenvolvido pelo Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), o Brasil pode sim conciliar aumento da produção com desenvolvimento sustentável. Mas, para isso, o agronegócio brasileiro, do produtor familiar ao empresarial, deve agregar cada vez mais práticas de baixo impacto, levando à construção da economia verde brasileira. Isso inclui a regularização ambiental das propriedades diante do novo Código Florestal, a redução do desmatamento, o incremento na conservação da biodiversidade e o uso racional de água e de insumos. A partir do estudo “Agricultura de baixo impacto: construindo a economia verde brasileira”, a Revista Empreendedor foi em busca das perspectivas para o agronegócio brasileiro nos próximos 20 anos e apresenta estratégias para que se colham bons frutos – e as oportunidades que surgem para que se atinja os resultados esperados –, com exemplos de quem já vem quebrando paradigmas. Alexsandro Vanin

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Diretor-Editor: Acari Amorim [acari@empreendedor.com.br] Diretor de Comercialização e Marketing: Geraldo Nilson de Azevedo [comercial@centralcomunicacao.com.br] Redação Editor-Executivo: Alexsandro Vanin [vanin@ empreendedor.com.br] – Repórteres: Ana Paula Meurer, Cléia Schmitz, Mônica Pupo, Raquel Rezende – Edição de Arte: Gustavo Cabral Vaz – Projeto Gráfico: Oscar Rivas – Fotografia: Arquivo Empreendedor, Carlos Pereira e Shutterstock – Foto da capa: Shutterstock – Revisão: Lu Coelho Sedes São Paulo Coordenador: J. A. Calderellyh – Executivo de Contas: Carlos Chagas [chagas@empreendedor.com.br] e Fernando Sant’Anna Borba [empreendedorsp@empreendedor. com.br] – Rua Pamplona, 1.465 – Conjunto 74 – 01405-002 – Jardim Paulista – Fone/Fax: (11) 3214-1020 / 3887-2193 Florianópolis Coordenador: Paulo Henrique Martins [anuncios@empreendedor.com.br] – Executiva de Contas: Joana Amorim [joana@empreendedor.com.br] – Rua Padre Lourenço Rodrigues de Andrade, 496 – Santo Antônio de Lisboa – 88050400 – Florianópolis – SC – Fone: (48) 3371-8666 Central de Comunicação – Rua Anita Garibaldi, nº 79 – sala 601 – Centro – Florianópolis – SC – Fone (48) 3216-0600 [comercial@centralcomunicacao.com.br] Escritórios Regionais Rio de Janeiro Triunvirato Empresarial – Milla de Souza [milla@triunvirato.com.br] – Caixa Postal nº 105.051 – 24230970 – Niterói – RJ – Fones: (21) 2611-7996/9607-7910 Brasília Ulysses Comunicação Ltda. [ulyssescava@ gmail.com] – Fones: (61) 3367-0180/9975-6660 – Condomínio Ville de Montagne, Q.01 – CS 81 – Lago Sul – 71680-357 – Brasília – Distrito Federal Paraná Merconeti Representação de Veículos de Comunicação Ltda – Ricardo Takiguti [ricardo@merconeti.com.br] – Rua Dep. Atílio Almeida Barbosa, 76 – conjunto 3 – Boa Vista – 82560-460 – Curitiba – PR – Fone: (41) 3079-4666 Rio Grande do Sul Nenê Zimmermann [nene@starteronline.com.br.com.br] – Floresta – 90440-051 – Porto Alegre – RS – Fone: (51) 3327-3700 Pernambuco HM Consultoria em Varejo Ltda – Hamilton Marcondes [hmconsultoria@hmconsultoria.com.br] – Rua Ribeiro de Brito, 1111 – conjunto 605 – Boa Viagem – 51021310 – Recife – PE – Fone: (81) 3327-3384 Minas Gerais SBF Representações – Sérgio Bernardes de Faria [sbfaria@sbfpublicidade.com.br] – Av. Getúlio Vargas, 1300 – 17º andar – conjunto 1704 – 30112-021 – Belo Horizonte – MG – Fones: (31) 2125-2900/2125-2927 Departamento Financeiro Gerente: Claudia C. C. do Prado [financeiro@empreendedor.com.br] – Fone: (48) 3371-8666 Assinaturas Serviço de Atendimento ao Assinante – [assine@empreendedor.com.br] – O valor da assinatura anual (12 edições mensais) é de R$ 118,80 à vista. Renovação de Assinatura R$ 112,86 à vista. Produção Gráfica Impressão e Acabamento: Coan Gráfica Editora CTP – Distribuição: Dinap – Distribuidora Nacional de Publicações Empreendedor.com http://www.empreendedor.com.br Editora: Carla Kempinski

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NÃO DU R M A NO P O NT O

UM NOVO OLHAR SOBRE OS NEGÓCIOS “Existia simplicidade e beleza nas formas, capazes de despertar emoções e admiração, mas ao mesmo tempo perfeitamente harmonizadas com a função.” Esta é a descrição feita por Domenico de Masi de como se fabricava uma cadeira na era pré-industrial. Estava lá a arte, junto dela o artista, que a olhava maravilhado tão logo terminava sua obra. Ao examiná-la, o artesão examinava a si próprio. Enxergava o seu talento, avaliava a sua habilidade, comemorava o tempo bem empregado. O trabalho produzia cansaço e até sofrimento, mas era como uma dor de parto. Orgulhava-se da sua obra. Uma cadeira tinha utilidade e beleza, serventia e design. Inserido no trabalho estava o aprendizado. Por isso, uma cadeira, mesmo que fosse de modelo semelhante, não era igual à outra. A última trazia toda a experiência acumulada naquela série e a somava aos conhecimentos adquiridos. O artesão se superava a cada nova obra e o maior desafio estava em exceder a si próprio nas competências adquiridas. Os bons mestres da época, nas oficinas de produção, pouco ensinavam. Deixavam seus discípulos livres para expor em seus trabalhos o que sabiam. Os mestres sabiam que algumas habilidades podiam ser partilhadas, mas o talento é de cada um. E é da natureza humana deixar que aflore, sem bloqueios e restrições. As antigas oficinas de trabalho eram ambientes de conversação, relacionamento e aprendizado. Enquanto trabalhavam, os artesãos colocavam as conversas em dia, fossem relacionadas ao trabalho, ou à vida na aldeia e aos dilemas pessoais.

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No piloto automático

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A era industrial trouxe a economia de escala, ou seja, fazer mais com menos. No mesmo lapso de tempo em que se fazia uma cadeira, faziam-se outras 100. Tornou-se impossível, para o artesão, competir em preço e prazo com os produtos industrializados. A beleza deu lugar à eficiência, o design foi substituído pelo padrão, o artesão se transformou em mão de obra. Ao olhar a obra que ajudou a fazer, o empregado “mão de obra” não a reconhece e nem se reconhece nela. Sua alma não está lá. O que vê é insosso e insípido. O trabalho foi dividido em processos e os processos em tarefas. As tarefas são organizadas em

funções e essas, por sua vez, aglutinadas em especializações. O produto, quando pronto, é anônimo, sem personalidade, sem alma. O objetivo do lucro fez com que as empresas buscassem desesperadamente ganhos de produtividade. Produtividade implica o máximo de produto com o mínimo de insumo. A mão de obra transformou-se em insumo. A meta da produtividade é tornálo mínimo, em troca do produto que almeja ser o máximo. Há uma inversão dos valores: as coisas valem mais do que as pessoas. E não se trata apenas das pessoas que produzem (os funcionários), mas também das pessoas que compram ou consomem (os clientes). A padronização da produção é o ápice para se atingir os ganhos de produtividade. Mas, junto com o apogeu, vem a ruína. Sem a alma humana presente, os produtos, inertes, tornaram-se iguais, produzidos em processos iguais, feitos por pessoas que se tornaram também iguais. Líderes e dirigentes de empresas assistem, atônitos, às margens dos produtos despencarem a cada dia, clientes infiéis migrando para os concorrentes e funcionários desmotivados reivindicando melhores condições de trabalho.

Desaprenda agora mesmo!

Uma nova era se instalou e não foi sem motivo: a industrial morreu da sua própria voracidade. Durante toda a sua vigência, as atenções estavam concentradas na busca incessante dos ganhos de produtividade, na economia de escala, na produção em massa, no retorno sobre os ativos, nas capturas de fatias cada vez maiores do mercado. Esse jogo deu certo até certo ponto e algumas empresas persistem, aferradas ao passado, seguindo aquelas mesmas regras, num suplício de fim de era, mergulhadas em um torvelinho de fusões e incorporações. Com isso, adiam o ingresso na era do conhecimento. Lá, o jogo é outro, os propósitos são outros, assim como


por Roberto Adami Tranjan

Educador da Cempre Conhecimento & Educação Empresarial (11) 3873-1953/www.cempre.net roberto.tranjan@cempre.net

que, apesar das turbulências econômicas, algumas empresas se dão bem, enquanto outras sobrevivem a duras penas? Aceite, por ora, o fato de que o maior desafio dos líderes e trabalhadores da era do conhecimento é desaprender muito do que a era industrial nos ensinou, para então aprender toda a grandeza que essa nova era nos oferece. A esse processo damos o nome de metanoia, ou seja, mudança de modelo mental.

O desafio da mudança de modelo mental

Reconhecemos apenas aquilo que somos capazes de conhecer. Mudança de modelo mental implica mudança de olhar. Expandir a visão e enxergar o que antes estava ali, mas era impossível de ser visto. Mas, para enxergar melhor a realidade, é preciso pedir os óculos emprestados daqueles que já conseguem ver. E se torna possível quando somos capazes de suspender os julgamentos e administrar os nossos preconceitos. Está aí o nosso maior desafio, capaz de nos transformar enquanto transformamos nossos negócios.

Reconhecemos apenas aquilo que somos capazes de conhecer. Mudança de modelo mental implica mudança de olhar. Expandir a visão e enxergar o que antes estava ali, mas era impossível de ser visto

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são outros os métodos de trabalho e as relações com clientes e funcionários. Quem insistir nessa atitude vai viver uma rotina de perdas: a queda nas margens de lucro, o esvaziamento do fluxo de caixa, um quadro de pessoal cada vez mais passivo e letárgico e o êxodo dos bons clientes. Ficarão só aqueles que leiloam condições comerciais favoráveis a cada compra, na velha cantilena do menor preço e do maior prazo. Alguns dirão: “No mercado em que atuo é assim que as coisas funcionam”. Ou: “No meu mercado, a concorrência é predatória”. Enganam-se! A era do conhecimento surge como um novo jogo, diferente desse a que já estamos acostumados e que precisamos desaprender. Surge uma nova esperança de vida no trabalho. O sistema humano retorna triunfante, tal como era no tempo dos artesãos. Mas não pense o leitor que isso é uma volta à bigorna e aos métodos rudimentares de produção. A tecnologia aí está, e dela não podemos abrir mão, principalmente no que ela pode contribuir para substituir o trabalho mais braçal e deixar para os humanos aquilo que existe de mais humano: o exercício da criação. Mas não pense que a era do conhecimento tem um pórtico largo, por onde todos podem passar, sem mais nem menos. Como o nome já diz, a travessia tem tudo a ver com novos conhecimentos. Mas eles não podem se instalar, enquanto os antigos permanecem. Examine algumas dessas indagações: por que, com toda a tecnologia disponível, as empresas ainda deixam tanto a desejar? Por que, se o cliente é tão importante, muitas empresas insistem em maltratá-lo? Por que algumas empresas conseguem e outras, no mesmo ramo de atividade e no mesmo mercado, não conseguem? Por

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ENTREVI S TA

Cassiano Farani

POR DENTRO DO CLIENTE

Saber o que as pessoas precisam resolver é a base de qualquer modelo de negócios, que deve ser viável e replicável para garantir a competitividade da empresa por Raquel Rezende | raquel@empreendedor.com.br

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Compreender que o foco de qualquer cliente é contratar uma solução para seu problema e, sobretudo, entender que essa solução não é função do cliente saber identificar. Esta é uma das linhas mestras para a criação de negócios inovadores e que exploram seu máximo potencial. A ideia defendida por Cassiano Farani, fundador e diretor da 99Canvas, agência brasileira de treinamento em desenvolvimento de clientes e modelagem de negócios, é trabalhada em seu curso Criação de Negócios Inovadores. Com 16 anos de experiência na criação e gestão de negócios, MBA em Gestão de Negócios pelo Ibmec, especialização em “Construção de negócios de alto potencial” por Babson College, nos Estados Unidos – considerada a melhor escola de negócios do mundo –, e em Business Model Generation (Última geração de modelos de negócios) pela Osterwalder Strategy, em Zurique,

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na Suíça, Farani incentiva a habilidade para criar ou remodelar um negócio, ganhando alta escalabilidade e melhores resultados. Farani explora o Business Model Generation que foi descrito em uma tese de Ph.D. sobre inovação empresarial e começou a ser aplicado em todo o mundo com base no blog sobre Modelos de Negócios do suíço Alexander Osterwalder (alexosterwalder.com) em empresas como IBM, 3M, Ericsson, Deloitte, Telenor, Public Works e no governo do Canadá. Considerado o maior nome mundial de inovação em modelo de negócios, Osterwalder estará em São Paulo, no Hotel Hilton Morumbi, nos dias 24 e 25 de setembro, no evento MasterClass SP – Última Geração de Modelo de Negócios, promovido pela 99Canvas. Na entrevista a seguir, o professor do Centro de Empreendedorismo do Ibmec fala mais sobre o assunto.


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As mudanças mais duradouras e profundas nas indústrias ocorrem quando trazemos a inovação aplicada ao modelo de negócios. As grandes oportunidades estão nesse ponto

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ENTREVI S TA Qual o conceito de modelagem de negócios inovadores que você utiliza no seu curso? Cassiano Farani – Utilizamos como base de nosso curso o conceito desenvolvido por Alexander Osterwalder em seu livro Business model generation (BMG) – Inovação em modelos de negócios. Esta é a linha mestra do curso. Além disso, utilizamos a lógica de Desenvolvimento de Clientes, criada por Steve Blank, do Vale do Silício, e todo o trabalho de inovação em proposta de valor desenvolvido pela Universidade de Harvard, por Clayton Christensen.

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Quais são os principais passos para criar negócios inovadores? Farani – Antes de mais nada, entender que o cliente não compra um produto ou serviço, mas “contrata” uma solução para seu problema. Não é função do cliente saber o que ele precisa. Se Henry Ford, no advento do automóvel, fosse perguntar aos seus clientes o que eles queriam, eles diriam: “Um cavalo mais rápido”. A solução foi ‘carro’, mas o problema era ‘locomoção’. Entender o que o cliente precisa resolver é o primeiro passo para qualquer modelo de negócios, e na nossa metodologia essa questão é tratada como a proposta de valor, o coração do modelo. Depois, instigamos o aluno a criar soluções de dentro para fora, ou seja, com base no aprendizado e validação pelo cliente antes da escala.

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Quais estratégias as empresas podem utilizar para tentar explorar o seu melhor potencial? Farani – Ter 100% claro os nove aspectos cruciais de qualquer modelo: segmento de clientes, proposta de valor, estrutura de canais para fazer isso funcionar, tipo de relacionamento que deve ter com cada um deles, fontes de receitas, estrutura de custos, parceiros-chave, atividades-chave e recursoschave para dar suporte à operação. De posse desse entendimento, toda a lógica da empresa deve levar em consideração o aprendizado com o cliente, a validação das soluções com o mercado e, principalmente, a correta pontuação se a solução proposta realmente encontra eco com o que as pessoas/empresas estão dispostas a pagar. Existem modelos de empresas? E de que maneira a empresa pode melhorar seu modelo?

Farani – Não diria que existem modelos de empresas, mas modelos de negócios para as empresas. As mudanças mais duradouras e profundas nas indústrias ocorrem quando trazemos a inovação aplicada ao modelo de negócios. As grandes oportunidades estão nesse ponto. Costumo dizer em meus seminários que as ideias não precisam ser novas, devem ser melhores. O correto entendimento do seu modelo atual leva a equipe gestora a fazer poderosos questionamentos sobre melhorar a atuação em determinado nicho de mercado. Para isso, recomendo utilizar o Business Model Canvas, ferramenta desenvolvida por Osterwalder em seu livro Business model generation, já citado aqui. Por que o Business model generation que originalmente é uma tese de Ph.D. sobre inovação empresarial faz tanto sucesso em todo o mundo? Farani – Porque define, por meio de uma lógica simples e visual, algo que todo mundo entendia mais ou menos, porém não conseguia descrever: o modelo de negócios. Para Osterwalder, um modelo de negócios pode ser descrito como a forma de uma empresa criar, entregar e capturar valor. Para demonstrar isso, criou uma ferramenta visualmente impecável, chamada Business Model Canvas, que é bem simples de ser utilizada. A aplicabilidade da metodologia é imediata e serve para qualquer indústria, setor ou, até mesmo, para a carreira do indivíduo, como vem explorando Tim Clark em sua obra Business model you. Como a aplicabilidade do Business Model Generation (BMG) ajuda a criar empreendimentos de alto potencial? Farani – Uma boa ideia sem execução não leva ninguém a lugar nenhum. E a recíproca é verdadeira. Ideias por ideias todos nós temos diariamente e não é por isso que temos sucesso ou fracassamos. A primeira coisa que devemos levar em consideração é se a ideia atende a uma necessidade real de uma pessoa/empresa, e, em caso positivo, se a pessoa/empresa está disposta a pagar pela solução proposta. Uma das máximas de nosso curso é o choque de ideias. A interface com o mercado é que torna uma ideia

viável. Empresas de alto potencial são entendidas de fora para dentro, ou seja, no melhor processo de aprendizado com seus potenciais clientes antes da construção. Em nosso curso ressaltamos sempre esse ponto, que é central nas metodologias do Business Model Generation (de Osterwalder) e de Desenvolvimento de Clientes (de Steve Blank). As empresas não fecham as portas porque têm produtos ruins, mas porque não possuem clientes dispostos a pagar pelas soluções oferecidas. Em outras palavras, quando uma empresa fracassa certamente faltou um modelo de negócios viável e replicável. Fale mais sobre o Business Model You (BMY), metodologia que aplica o modelo de negócios para a carreira do empreendedor. Farani – Como um profissional de educação e empreendedor, eu sempre estive à procura de formas inovadoras de fazer negócios. Isso é importante para minha empresa e, principalmente, para meus alunos, porque nossa missão foi sempre levar o melhor material de negócios para a sala de aula. Sempre nos deparávamos com conteúdos em livros de negócios tradicionais, revistas de negócios e internet, mas ainda tínhamos dificuldades em encontrar uma lógica simplificada sobre o funcionamento dos negócios. Foi quando encontramos a obra Business model generation, de Osterwalder e Pigneur, e seus métodos visuais simples e uniformes. Uma abordagem revolucionária! Mas ainda faltava uma peça para mudar totalmente as regras e tornar o jogo mais interessante: a mente das pessoas. Empresas e organizações são arranjos estruturados de indivíduos que trabalham para um objetivo comum. É imperativo que haja entendimento entre os integrantes de uma organização – qual a missão, as habilidades, os interesses, como contribuir para uma empresa melhor, para uma vida melhor... Com a mesma lógica visual, de fácil utilização, e com


Ideias não precisam ser novas, devem ser melhores. O correto entendimento do modelo atual leva a equipe gestora a poderosos questionamentos sobre como melhorar a atuação

O que o aluno pode esperar do curso Criação de Negócios Inovadores? Farani – Um negócio inovador deve pontuar a solução de uma necessidade real de um cliente. O fato de alguém ter entre 40 e 50 anos e ser pós- graduado não o motiva a comprar um produto. Existe até uma correlação entre esses fatores, não é o real motivo para consumir. O mecanismo por trás de uma compra é, em geral, a resolução de uma necessidade, ou um job to be done, como explica o guru de inovação da Universidade de Harvard, Clayton Christensen. Você não compra um prego, mas sim um quadro pendurado na parede. As pessoas “contratam” soluções para problemas específicos que possuem e toda a lógica de funcionamento de uma corporação deve trabalhar nesse sentido. As empresas devem segmentar seus mercados de acordo com os jobs to be done, e não na clássica divisão de mercado em categorias de produtos baseada em demografias, escopo geográfico, função ou preço. Além disso, negócios inovadores são aqueles criados para possuir alta escalabilidade, baixo burn rate inicial e que utilizam a lógica de desenvolvimento de clientes. Nosso aluno encontrará exatamente isso: orientação e ferramentas para construir empresas utilizando o Business Model Canvas, entender os jobs to be done de suas soluções e, com base neles, testar suas hipóteses por meio do Desenvolvimento de Clientes.

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a mesma abordagem de modelos de negócios, Tim Clark criou uma ferramenta poderosa para entender tudo isso. O Business Model You é um guia pessoal que pode ter um impacto profundo para carreiras, gestão de pessoas e empresas.

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empreendedores

Acari Menestrina – Gran Mestri

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Empreendedor incansável

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O empresário Acari Menestrina ajudou a fazer do Oeste de Santa Catarina um polo de produção leiteira. Agora, está transformando a região numa zona exclusiva de elaboração do grana padana, considerada a variedade de queijo mais nobre do mundo. No dia 18 de agosto, a Gran Mestri, marca que criou há dez anos em parceria com empresários italianos, inicia as atividades do parque industrial de Guaraciaba, a 730 quilômetros de Florianópolis. A nova unidade recebeu investimentos de R$ 28 milhões, tem 12 mil metros quadrados de área construída e capacidade para produzir 1 milhão de quilos de queijo. O faturamento previsto é de R$ 150 milhões ao ano. Com a Gran Mestri, Menestrina introduziu o grana padana no Brasil, reproduzindo as mesmas características do grana elaborado na Itália. “Estamos focados na qualidade exigida e no rigoroso controle diário de todos os lotes e etapas da cadeia produtiva. Temos o acompanhamento de mestres queijeiros europeus para garantir a essência de um produto diferenciado e especial”, explica o empresário. São necessários 15 litros de leite para produzir um quilo do queijo. Como as peças têm, em média, 40 quilos, são necessários 600 litros para a produção de uma peça. “Não é simplesmente um queijo, mas um conceito alimentar diferenciado”, observa Menestrina. A produção de leite permeia toda a trajetória profissional de Menestrina. Filho de pequenos agricultores, aos 17 anos ele ingressou no Colégio Agrícola e foi trabalhar como técnico no Oeste catarinense. Foi então que vislumbrou um grande potencial para a criação de gado leiteiro pelas propriedades rurais de mão de obra familiar. “Em menos de 30 anos a produção saltou de 1 mil litros/dia para 3 milhões de litros de leite/dia”, lembra o empresário. Em 1990, Menestrina fundou a indústria de laticínios Cedrense, vendida em 2009, quando decidiu investir na produção de queijos especiais e fundou a Gran Mestri. www.granmestri.com.br


Leonardo Correa do Carmo e Victor Bernacchi dos Santos – Casa do Construtor

Eles têm nome de dupla sertaneja, mas os sócios Victor e Léo fazem sucesso mesmo como franqueados da Casa do Construtor, rede com 120 lojas que atua no ramo de locação de equipamentos para a construção civil. Recentemente, Leonardo Correa do Carmo e Victor Bernacchi dos Santos, ambos com 38 anos, inauguraram mais duas franquias da marca, uma em Juiz de Fora (MG) e outra em Duque de Caxias (RJ), somando oito unidades. Os franqueados se conheceram durante a faculdade de Engenharia de Produção, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e usam os conhecimentos

aprendidos naqueles tempos para expandir sua rede de lojas. “Montar um modelo que seja replicável por meio de processos administrativos e financeiros é exatamente o que a faculdade de Engenharia de Produção ensina”, afirma Leonardo. A história com a Casa do Construtor começou em 2007, quando Victor conheceu a franquia em uma feira de negócios e apresentou ao futuro sócio. Depois de montar um plano de negócios, conhecer melhor a marca e ir à convenção anual da rede, a dupla inaugurou sua primeira loja, em maio de 2008, em São Cristóvão, bairro da capital carioca. O negócio deu tão certo que seis meses

depois eles abriram a segunda unidade. Ambas foram abertas com as economias de Victor e Leonardo. A estratégia de expansão dos sócios é geográfica. Uma nova unidade da Casa do Construtor é implantada cada vez que outra loja mais antiga começa a ter demanda excedente ou quando se percebe a necessidade de estar mais perto de clientes de determinada região. Atualmente, todo o valor gerado pelo negócio é reinvestido. O plano dos sócios é ter 10% de todas as franquias da Casa do Construtor. A rede planeja chegar a 250 unidades em 2015. www.casadoconstrutor.com.br

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Expansão programada

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empreendedores

Victor Noda e Marcelo Marques – Mobly

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Sucesso imediato

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Sócios do portal Mobly, especializado em móveis, decoração e artigos para casa, Victor Noda e Marcelo Marques têm currículos invejáveis. Ambos são engenheiros mecânicos – Noda pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e Marques pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Os dois também são mestres pela Kellogg School of Management, uma das mais famosas escolas de negócios da Universidade Northwestern, em Evanston (Illinois, EUA). A dupla ainda acumula uma boa ex-

periência na área de comércio eletrônico. Noda trabalhou na consultoria norteamericana Booz & Company e fundou as empresas Looki, voltadas aos leilões online, e GlossyBox, consultoria e assinatura de beleza. Marques passou pela A.T. Kearney, montou e vendeu uma start-up de internet nos Estados Unidos e, em julho do ano passado, fundou a empresa de artigos esportivos Kanui. Com esse know-how não é de se estranhar o sucesso da Mobly, que em menos de sete meses já é uma das maio-

res lojas virtuais do segmento no Brasil. Fundada por Noda em novembro de 2011, a loja tem um mix com cerca de 30 mil itens e recebe mais de 6 milhões de visitas por mês. “Nos últimos três meses vendemos mais de 90 mil produtos”, destaca Noda. “Com poucos competidores com foco on-line e barreiras de entrada como a complexidade logística e a necessidade de capital significativo, observamos uma oportunidade única de sucesso”, acrescenta Marques.

www.mobly.com.br


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CA PA

por Ana Paula Meurer

anapaula@empreendedor.com.br

Com a proliferação dos problemas ambientais no mundo, muito se fala sobre a importância de se buscar um equilíbrio entre a natureza e questões sociais e econômicas. A preocupação aumenta ainda mais se levarmos em conta que, até 2050, a produção agrícola mundial precisa ser elevada em 60% para atender as necessidades de alimentação de uma população de 9 bilhões de pessoas. Como atender a essa alta demanda, manter a qualidade de vida dos agricultores e reduzir os impactos ao meio ambiente? O Brasil, um dos

principais produtores de alimentos do mundo, está pronto para esse desafio? Segundo o estudo “Agricultura de baixo impacto: construindo a economia verde brasileira’’, o Brasil pode sim conciliar aumento da produção com desenvolvimento sustentável e aproveitar essa oportunidade de negócio. Desenvolvido pelo Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone) em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), União da Indústria de Cana-deAçúcar (Unica) e União Brasileira de Avicultura (Ubabef ), o relatório busca en-

tender como será a agricultura em 2030 (quando a população brasileira chegará a 220 milhões de pessoas), partindo do panorama atual da produção de alimentos e de bioenergia no Brasil. De acordo com o gerente-geral do Icone, Rodrigo Lima, o cenário foi projetado a partir de medidas de boas práticas agrícolas como a regularização ambiental das propriedades diante do novo Código Florestal, a redução do desmatamento, o incremento na conservação da biodiversidade e o uso racional de água e de insumos. O conjuntura traçada pelo estudo do Icone é clara: o agronegócio brasileiro, do produtor familiar ao empresarial, deve

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Semeando

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competi Estudo aponta o que governo e produtores precisam fazer para o Brasil ser líder mundial do agronegócio de baixo impacto em 2030


tividade

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agregar cada vez mais práticas de baixo impacto, levando à construção da economia verde brasileira. Esse conceito é definido pelos pesquisadores como a conversação de áreas de vegetação nativa e biodiversidade, a produção de alimentos saudáveis e energias renováveis, o uso de tecnologias que resultem em ganhos de produtividade e reduzam impactos ambientais. Além disso, economia verde no campo significa recuperar áreas degradadas, adotar práticas de baixo carbono, e premiar quem conserva os recursos naturais. Para Rodrigo Lima, a chave para o sucesso da expansão sustentável do agronegócio brasileiro passa pela recuperação

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Vinibiodigestor, da Sansuy, processa resíduos acumulados pela produção de gado leiteiro

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Lima, do Icone: a expansão sustentável do agronegócio brasileiro passa pela recuperação de áreas degradadas para uso da pecuária

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de áreas degradadas para uso da pecuária, deixando áreas férteis para outras culturas, reduzindo as emissões de gases do efeito estufa e minimizando os impactos. Estima-se que existem cerca de 200 milhões de hectares de áreas degradadas e de baixa produtividade atualmente, em função de processos erosivos, construção de estradas e represas e outras ações que resultam no empobrecimento do solo. O relatório do Icone indica que a demanda por novas áreas será suprida pela recuperação das degradadas, sendo factível esperar a recuperação de ao menos 30 milhões de hectares de áreas produtivas até 2030 – desde que se criem políticas de fomento. Diante do debate do novo Código Florestal, o gerente explica que, ao contrário do que muitos pensam, a nova lei não incentiva os desmatamentos. Ele defende que, com o Cadastro Ambiental Rural, será possível monitorar de forma eficaz a regularização e desmatamento. “O novo texto prevê reflorestamento de áreas e determina novas alternativas para os produtores rurais que desmataram até julho de 2008. As obrigações de conservação de vegeta-


Necessidade mundial

plano abc

Área agropecuária

Uma das metas do Plano de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC) é a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2020, significando a redução de 83 milhões a 104 milhões de toneladas de CO2 equivalente.

A expansão da produção indica uma área de 64,3 milhões de hectares para lavouras em 2030, contra os atuais 60 milhões. Já a área de pastagens passará de 182 milhões de hectares em 2011 para 177,4 milhões, o que acarreta um total de 238,7 milhões de hectares de área agropecuária até 2030.

ção nativa, ou seja, das Áreas de Preservação Permanente (APPs) e das Reservas Legais (RLs), continuam a existir”, destaca. Para exemplificar, Lima explica que o produtor que quiser continuar utilizando parte de uma APP precisa recompor outra. Da mesma forma, precisa compensar a RL em áreas que poderiam ser legalmente desmatadas. Quem não assim o fizer será penalizado, e quem desmatou após 2008 não terá esses benefícios.

Quebrando paradigmas Se até pouco tempo atrás era difícil imaginar a adoção de certas ações no campo, como o uso das inovações tecnológicas para auxiliar os produtores, hoje essa já é uma realidade que contribui para a concretização de boas práticas agrícolas. O cenário desenvolvido pelo Icone aponta que o papel da tecnologia, do acesso e da capacitação dos produtores é um dos fatores essenciais para incrementar a produção de alimentos e promover a diversificação dos produtos de acordo com a escala produtiva, o que pode tra-

zer benefícios socioeconômicos. Foi essa preocupação que levou a empresa Sansuy a criar o Vinibiodigestor. Trata-se de um equipamento capaz de processar os resíduos acumulados pela produção de gado leiteiro, que podem contaminar a água e o solo, mas, por outro lado, são excelentes matérias-primas para o biodigestor. “Empresas e consumidores estão cada vez mais exigentes: querem produtos mais saudáveis, descarte correto de materiais, produção que não agride o meio ambiente, preservação dos recursos naturais. E essas são premissas que não excluem o agronegócio, que pede produtores rurais cada vez mais conscientes de sua responsabilidade ambiental”, avalia Valter Saka, gerente comercial da empresa. Dentre os benefícios para o produtor rural, Saka cita a melhora no aspecto de saneamento, o que diminui a presença de moscas e odores, e a produção de biofertilizante de qualidade, já que biodigestor estabiliza a matéria orgânica e melhora o aproveitamento dos minerais. Outra vantagem é a disponibilidade de

combustível – biogás –, que pode ser utilizado no aquecimento de caldeiras, galpões, refrigeração, iluminação, motobombas, aquecimento de instalações para animais e outros, gerando economia para toda a propriedade. O produto é só um exemplo que confirma que a agricultura está acompanhando as evoluções do mundo e, cada vez mais, novas técnicas e tecnologias estão sendo implementadas. Atuando no ramo de consultoria ao agronegócio há 15 anos, a empresa Exagro é procurada diariamente por pecuaristas que querem se engajar no caminho da pecuária rentável, limpa e que desempenha sua função social. Na avaliação do consultor Márcio Garcia, essa mudança está ocorrendo não só devido à tecnologia, como também à necessidade de gestão profissional para se manter na atividade e obter sucesso, situação que afeta todos os setores da economia. “No Brasil, ao mesmo tempo em que temos fazendas sendo conduzidas nos moldes do passado, temos ilhas de prosperidade que não deixam nada a desejar quando comparadas com os me-

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Até 2050, a produção agrícola mundial precisa incrementar 60% para atender as necessidades de alimentação. Isso porque a população mundial deverá ser de 9 bilhões de pessoas em 2050, de acordo com estimativa da Organização para a Alimentação e a Agricultura das Nações Unidas (FAO) e da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). O crescimento da produção agrícola significa produzir 1 bilhão de toneladas de cereais e 200 milhões de toneladas de carne a mais por ano em relação aos níveis de 2007. Segundo as organizações, o crescimento de produção virá principalmente dos países emergentes, como Brasil, China, Indonésia, Tailândia, Rússia e Ucrânia.

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CA PA Sistema de orientação Ostera Tangram GPS serve para guiar a maioria das operações agrícolas, desde a adubação, passando pelo plantio e pulverização, até a colheita

lhores resultados mundiais”, opina.

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Tecnologia x resistência cultural

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A resistência à utilização de novas técnicas pode ser maior em pequenas e médias propriedades, que pertencem às mesmas famílias há várias gerações. Desde 2009 como diretora de comunicação e mar­keting da Ceres, a empresária Kelly Magalhães constatou que em certas regiões do País ainda há um certo conflito cultural perante o uso da tecnologia na agricultura. “Felizmente, nos últimos anos, este cenário, assim como o perfil do agricultor, está mudando. Ele está se dando conta de que, tendo um controle mais preciso das operações, é possível reduzir não apenas desperdícios e economizar dinheiro, mas também otimizar e profissionalizar a gestão da sua propriedade. Sem contar que, cuidando melhor da terra e reduzindo impactos no meio ambiente, ele está con-

servando o patrimônio da família para as próximas gerações”, afirma. Quem investe na tecnologia para ajudar o trabalho no campo tem inúmeros instrumentos a seu favor. Um produto desenvolvido pela Ceres, por exemplo, evita que o agricultor tenha desperdícios por sobreposição e ainda garante a uniformidade das aplicações, tendo um manejo melhor e mais controlado de sua lavoura. Trata-se do Ostera Tangram GPS, um sistema de orientação que serve para guiar a maioria das operações agrícolas, desde a adubação, passando pelo plantio e pulverização, até a colheita. Conforme explica Kelly, o diferencial deste equipamento é que ele não é apenas um GPS. De acordo com a necessidade, o agricultor pode adicionar funções ao equipamento, tais como taxa variável de fertilizantes, corte de seções de pulverização, monitor de plantio e piloto automático. “Acreditamos que a utilização da agri-

cultura de precisão só tende a aumentar, por isso estamos sempre desenvolvendo novas soluções que não apenas tragam benefícios para a produção, mas que também melhorem a rotina do agricultor.”

Em família Agregar valor à produção dos agricultores familiares e de pequenas escalas é uma das maiores necessidades em busca da economia verde no campo – fator também citado pelo estudo do Icone. A diversificação da agricultura familiar, inclusive, é apontada como fator fundamental na erradicação da pobreza no campo. A conclusão é compartilhada pelo secretário nacional da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Laudemir Müller. Ele confirma que, de norte a sul do País, há um conjunto de práticas sustentáveis adotadas pelos agricultores familiares, dinamizadas com au-


Estima-se que existam cerca de 200 milhões de hectares de áreas degradadas e de baixa produtividade

utilizarem adubação verde e obedecerem a regras de sucessão de plantio, o meio ambiente não sofre impactos. “Como somos agricultores familiares, entendemos que a própria família deve assumir as responsabilidades na preparação ou compra de insumos, manejo na propriedade e comercialização, priorizando a venda direta”, afirma Müller. O último Censo Agropecuário revelou que há mais de 4,3 milhões de estabelecimentos de agricultores familiares no Brasil, o que corresponde a 84% do número de estabelecimentos rurais. O relatório cita que este segmento produtivo responde por 10% do Produto Interno Bruto (PIB), 38% do Valor Bruto da Produção Agropecuária e 74,4% da ocupação de pessoal no meio rural (12,3 milhões de pessoas veiculadas). Como este levantamento foi realizado em 2006, estima-se que atualmente estes números sejam ainda maiores. Nessa produção, os produtos que mais se destacam são man-

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mento na geração de renda e conservação dos recursos naturais. Um exemplo citado por Müller é a incorporação do manejo rotativo de pastagens na produção leiteira. Esta prática permite a formação de pastagens sem a movimentação do solo e diminui o emprego de fertilizantes químicos, de agrotóxicos e de produtos químicos para o tratamento de animais, resultando em um sistema produtivo com maior eficiência na fixação de carbono no solo e manutenção das suas qualidades químicas, físicas e biológicas. “Somado a estas questões ambientais, o manejo rotativo de pastagens permite um maior número de animais por área, menor custo de produção e maior rendimento econômico, fundamental para os agricultores familiares com pequenas extensões de terra”, complementa. O manejo praticado pelos agricultores da Associação dos Agricultores Ecológicos do Sul de Minas (Ecominas) é assim. Ao

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dioca, feijão, suíno, leite, aves, milho, café, arroz, bovino e trigo. De acordo com Laudemir Müller, a principal medida para aumentar ainda mais o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar aliando crescimento, estabilidade econômica e preservação ambiental é o estabelecimento de políticas públicas. Ele ressalta que essas políticas devem possibilitar aos agricultores familiares o acesso a tecnologias adequadas para a produção agrícola e para as suas organizações econômicas, somadas a políticas que garantam a chegada destes conhecimentos por meio da assistência técnica e extensão rural e oferta de mercados institucionais e convencionais. A Produção Integrada é outro exemplo que possibilita qualidade de vida tanto para quem tira seu sustento do campo

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como para o ambiente em que está inserido. Desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o processo de certificação é voluntário. Exige-se que o produtor adote rigorosamente uma série de normas técnicas que asseguram o mínimo de produtos agroquímicos, com níveis aceitáveis de resíduos tóxicos e com controle quanto ao manejo correto da água de irrigação, do solo e das plantas. A compra desses produtos, que passam a ser identificados por um selo, é preferida pelos grandes canais de comercialização, contribuindo para que o produtor possa competir com vantagens no mercado interno e externo. Muito utilizada em diversos países, a Produção Integrada por aqui começou em 1995, com a cultura da macieira na região de Vacaria (RS) e Frai-

Cerca de 40% da produção orgânica brasileira é vendida no mercado interno. Commodities são exportadas

burgo (SC). Depois da maçã, outras frutas receberam a certificação: manga, uva, mamão, caju, melão e pêssego.

Mercado em expansão Outra oportunidade é a procura por alimentos livres de agrotóxicos, que aumenta em todo o mundo. Dados apresentados pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) em fevereiro de 2011 informam que a demanda de consumo de alimentos naturais cresce 20% ao ano no Brasil. Segundo a empresa de pesquisas Euromonitor, o valor obtido com a venda de alimentos orgânicos teve um aumento de 9,8%. Mesmo assim, ainda é possível evoluir muito. Segundo José Pedro Santiago, membro do Conselho de Certificação da IBD Certificações, enquanto no mundo


Pinazza, da Abag: “Nossa agricultura está competitiva e sustentável. E a sociedade começa a se conscientizar disso”

faturam-se US$ 50 bilhões com produtos orgânicos, por aqui a cifra é de somente US$ 200 milhões. O Brasil tem muitos diferenciais nesse contexto, como área disponível, boa base produtiva e disponibilidade de crédito. Possuindo o maior mercado consumidor de orgânicos da América do Sul, é considerado o país de maior potencial de produção orgânica para exportação, com cerca de 60% da produção em valor exportada. “Perto de 40% dos orgânicos são vendidos no mercado brasileiro. As commodities – açúcar, soja, café – são quase que totalmente exportadas, e todos os legumes, verduras e frutas são vendidos no Brasil”, informa José Pedro Santiago. Até o momento, a IBD já realizou mais de 2 mil certificações e possui 950 contratos de produções em certificação, o que, entre cooperativas e Sebrae, engloba 5 mil produtores. Um fator que ajudou muito o segmento nos últimos anos foi a regulamentação da Lei Brasileira de Produtos Orgânicos. De acordo com Santiago, a legislação uniformizou os procedimentos de certificação e definiu os órgãos responsáveis pela acreditação e credenciamento das certificadoras. “Mas a lei precisa de aperfeiçoamentos e o setor governamental é lento nesse sentido”, ressalta.

Apesar desse constante crescimento, números da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) mostram que o público consumidor de orgânicos ainda reclama da oferta deste tipo de alimento, do preço elevado, da baixa variedade e da dificuldade de encontrá-lo. Por esses motivos surgiu o Organomix, um supermercado virtual que só comercializa produtos orgânicos, desde verduras até bebidas, massas e pães. “Acreditamos que, concentrando uma diversidade grande de produtos e tornando a cadeia mais eficiente, atacamos diretamente o que ainda representa um desafio importante para o público consumidor. Nosso objetivo é reinventar a forma de o público brasileiro consumir alimentos orgânicos”, explica Marcelo Schiaffino, CEO do estabelecimento. As vantagens também alcançam os produtores de alimentos orgânicos, que ganham uma forma mais rentável de divulgar, comercializar e distribuir seus produtos. Em um mundo que está em constante crescimento, o diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Antônio Pinazza, concorda que debates envolvendo a conciliação da alta produção e da preservação da natureza são imprescindíveis. “Hoje podemos dizer

que a nossa agricultura está competitiva e sustentável. E a sociedade começa a se conscientizar disso. A reunião de líderes mundiais na Rio+20 foi uma grande oportunidade para mostrarmos alguns de nossos programas bem-sucedidos em busca da sustentabilidade”, declara. Pinaz­za ainda prevê que, caso o Brasil enfrente problemas como queimadas e desmatamentos, sofrerá barreiras não tarifárias. “Por isso é importante desenvolver políticas que busquem a sustentabilidade, o que exige treinamento, conscientização e quebra de paradigmas.” Ações como essas ajudarão a conciliar o desenvolvimento da agricultura com a preservação da natureza, aumentando ainda mais a importância do agronegócio na economia brasileira. No ano passado, setores ligados ao agronegócio representaram 22% do Produto Interno Bruto (PIB). Suas exportações registraram novo recorde com a soma de US$ 94,59 bilhões, o que representa um aumento de 24% e quase 30% da quantia total exportada pelo Brasil. A meta do Ministério da Agricultura para 2012 é ultrapassar US$ 100 bilhões, com estimativa de 5,7% de crescimento. E as perspectivas para termos ainda mais relevo no agronegócio em 2030 são animadoras.

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Agricultura de precisão evita desperdícios por sobreposição e ainda garante a uniformidade das aplicações

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MOVIDO A PORCO Empresa de eletrodomésticos desenvolve fogão que funciona à base de biogás gerado a partir do aproveitamento de dejetos suínos, um grave problema ambiental por Raquel Rezende

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raquel@empreendedor.com.br

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Uma das mais tradicionais empresas fabricantes de eletrodomésticos do País, a Mueller, trabalha para evitar a degradação ambiental e ainda gerar lucro para a empresa. Em um projeto inusitado, a Mueller é a primeira do seu segmento, no País, a adaptar fogões para uso domés-

tico utilizando o biogás como fonte de energia. Mas, em um primeiro momento, a empresa não pretende comercializar o fogão. Por enquanto, somente 33 famílias da cooperativa dos produtores Cooperbiogás (Cooperativa de Produtores de Agroenergia do Paraná), localizada no Condomínio Ajuricaba, em Marechal Cândido Rondon (PR), vão utilizar os fogões, doados pela Mueller. A parceria firmada

entre a Mueller e a Itaipu Binacional, por meio do Centro Internacional de Energias Renováveis, busca desenvolver produtos que funcionem com energias alternativas, contribuindo com a sustentabilidade ambiental e demonstrando que a indústria também faz a sua parte. Para realizar o projeto, a Cooperbiogás providenciou a canalização do biogás até as casas e a Mueller adaptou um modelo


de sua linha de produção para funcionar com o combustível alternativo. A Mueller fez alguns ajustes no sistema de combustão e em outros componentes do fogão com o objetivo de produzir chamas contínuas e regulares, possibilitando o uso doméstico de forma segura. Segundo a empresa, a potência da chama, a cor e o cheiro são iguais aos do fogão convencional, com a vantagem de não precisar mais trocar e abastecer o botijão, ajudando na preservação ambiental – já que o biogás emite menor quantidade do gás metano e sua geração aproveita dejetos de animais, que deixam de ser dispensa-

dos no meio ambiente. O diretor industrial da Mueller, Robson Azevedo, conta que a empresa, junto com as parceiras do projeto, perceberam a possibilidade de beneficiar os produtores com o uso dessa energia alternativa como combustível nos fogões. O biogás, resultante do processo de tratamento dos dejetos suínos, já vinha sendo usado de outras formas na cooperativa e a Mueller garantiu mais um uso para esse combustível. “A adaptação dos fogões para uso do biogás permitirá que os produtores deixem de usar o GLP. Em vez de comprar botijões do tradicional ‘gás de cozinha’,

eles vão usar o gás gerado pelo tratamento dos dejetos da suinocultura. Assim vão economizar e dar uma destinação mais ‘nobre’ ao gás”, afirma Azevedo. A propriedade de Isolde Regelmeier foi a primeira a receber a inovação, que foi avaliada positivamente. “Para mim é melhor que o fogão convencional que eu tinha antes. O fogo está bom e não deixa mais as panelas pretas. Está bem mais prático para nós agora”, elogia. A transformação que o projeto provocou pode ser percebida também no dia a dia do produtor Pedro Regelmeier, que utiliza o esterco para transformá-lo em

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Isolde, a primeira a testar o equipamento: “O fogo está bom e não deixa mais as panelas pretas. Está bem mais prático agora”

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biogás e em biofertilizante, uma de suas fontes de renda. “A cada dia a gente tem mais melhorias e agora o fogão é mais uma delas.” O produtor já sonha com outros avanços. “Imagino que seria muito bom se tivesse como usar o biogás no chuveiro, um dos maiores ladrões de energia elétrica. Isso diminuiria ainda mais o nosso consumo”, completa. Outra beneficiada com o fogão foi a produtora Maide Pinz, que agora consegue conciliar os trabalhos domésticos com os do campo. “Ficou muito mais prático. Colocamos o fogão aqui perto da estrebaria onde ficamos o dia todo. Aí posso deixar o feijão cozinhando enquanto fazemos outros trabalhos. Também ajuda a esquentar a água para poder lavar os equipamentos, principalmente agora no frio”, conta. Segundo o diretor industrial da Mueller, a produção industrial que respeita o meio ambiente é um caminho sem volta e a pesquisa de produtos que utilizam novos combustíveis cresce em importância a cada dia. Ele destaca que a Mueller mantém uma rígida política

de preservação e proteção ambiental, e o projeto do fogão a biogás ajudou a consolidar na equipe a filosofia da pesquisa de produtos mais sustentáveis. Azevedo complementa ainda que o projeto demonstrou que é possível encontrar soluções que respeitem o meio ambiente e gerem ganhos econômicos para a comunidade.

Filosofia verde A pesquisa de produtos “verdes” se consolida como uma tendência em toda a indústria. E de acordo com Azevedo, a Mueller já desenvolve eletrodomésticos com grande eficiência energética e sabe que as pesquisas são essenciais para seguir avançando. “A venda dos produtos a biogás, porém, depende da produção em escala industrial e da adequação das normas que regulam o mercado, que incluem ações como a regulamentação das características básicas do produto pelo Inmetro”, explica. “Todos os fogões da Mueller têm

classificação energética A segundo os padrões do Inmetro, na mesa e no forno, e os fornos elétricos consomem menos energia que os disponíveis no mercado”, garante Azevedo. Esse foco da empresa se fortaleceu a partir de 2009 com a implantação da ISO 14001, em que todo o processo produtivo foi repensado com o objetivo de reduzir, reciclar e reutilizar os recursos naturais. Ele enfatiza que a empresa quer oferecer cada vez mais alternativas para os consumidores levarem a questão da preservação ambiental para casa. “Cuidar do meio ambiente já faz parte do nosso dia a dia, e oferecer alternativas para os nossos clientes é nossa responsabilidade”, declara. Alguns fatores levaram a empresa a adotar essa postura. Azevedo explica

Produção industrial que respeita o meio ambiente é um caminho sem volta


Na propriedade de Pedro Regelmeier (ao lado), o tratamento de dejetos suínos gera biogás e biofertilizante

Azevedo, da Mueller: “É a proteção local que acaba refletindo na preservação global”

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que a Mueller tem suas raízes fixadas há mais de seis décadas no município de Timbó (SC) e a empresa participa da vida da comunidade – a maior parte de seus colaboradores nasceu na região. Portanto, existe uma preocupação de proteger o local, onde vivem e viverão filhos e netos. “É a proteção local que acaba refletindo na preservação global. Essa preocupação teve papel importante na adoção de práticas cada vez mais sustentáveis por toda a empresa”, destaca. Em paralelo, a Mueller percebeu que a preocupação com o meio ambiente pode ser positiva para a marca da empresa. O consumidor também está preocupado com o futuro do planeta, e o melhor de tudo é que os investimentos realizados na produção de itens mais “verdes” vêm tornando os produtos mais eficientes, o que gera benefícios para o consumidor, como a economia de gás e energia elétrica. Além disso, a maior conscientização ambiental resultou em redução de custos e em melhorias nos processos industriais da empresa.

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Galinha dos ovos de ouro A Korin Agropecuária prova que é possível produzir em escala de forma saudável tanto para o produtor quanto para o consumidor – e também para o produto por Cléia Schmitz

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cleia@empreendedor.com.br

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Preste atenção na foto acima, uma cena típica de pequenas propriedades agrícolas do interior. As galinhas ciscam soltas no quintal em vez de se espremerem em aviários confinados e estão livres do consumo de antibióticos e promotores artificiais de crescimento. Coisa do passado? Nem tanto. Há 18 anos no mercado – e com um crescimento do faturamento e da produção que ultrapassa a casa dos 20% nos últimos três anos – a empresa paulista Korin Agropecuária quer provar que é possível produzir em escala e de forma totalmente sustentável. E mais: sem prejuízo às necessidades atuais e futuras da população mundial por alimentos.

A marca produz cerca de 8 mil toneladas de carne de frango e 6,5 milhões de ovos por ano. Motivada por um crescimento de 170% do segmento de frangos nos últimos dois anos, a Korin lançou em maio deste ano a carne suína orgânica. O mix ainda é composto por mel, extrato de própolis, água mineral, sopa instantânea, vegetais orgânicos cozidos e congelados, café e um extenso portfólio de frutas, verduras e legumes in natura isentos de agrotóxicos – além de uma linha de insumos para agricultura que leva a marca Bokashi. Toda a produção segue os princípios da agricultura natural do japonês Mokiti Okada, conceito que inspirou a fundação da Korin, em 1994. Para a Korin, o modelo convencional de produção de alimentos é insustentável

porque impacta negativamente no meio ambiente e na sociedade. A marca defende, por exemplo, que o uso de agrotóxicos na agricultura favorece o desenvolvimento de doenças e a poluição do solo e dos mananciais. Consequentemente, resulta em elevadas somas de recursos financeiros – geralmente públicos – para resolver os problemas gerados. “Está claro que os malefícios deste modelo são muito maiores do que os benefícios que ele traz com relação ao aumento da produção”, afirma o médico veterinário Luiz Carlos Demattê Filho, gerente industrial da Korin. Cada vez mais consumidores têm pesado esses contras na hora de escolher entre um alimento orgânico mais caro e outro convencional mais barato, segundo o executivo. “No início de nossas atividades


éramos vistos com desconfiança. Depois, passamos a ser uma empresa de vanguarda e, nos últimos sete anos, ganhamos muita visibilidade e apoio dos nossos clientes. A demanda por alimentos orgânicos vem crescendo e se estabelecendo. Muitos consumidores já entenderam que, ao pagar mais caro na gôndola, estão minimizando o custo ambiental e social de práticas insustentáveis. A conclusão é: o custo do alimento convencional não é mais barato”, avalia Demattê. Com o mercado mais aberto aos orgânicos, a marca decidiu em 2012 expandir sua presença no varejo por meio de franquias. A meta é alcançar 100 franqueados nas principais regiões do País, em cinco anos. A curto prazo, a Korin planeja abrir 15 franquias até o final do ano. Com essa

Luiz Demattê Filho: “Carecemos de apoio para pesquisa na área de produção orgânica. Essas pesquisas são fundamentais para aumentar a produtividade desse modelo”

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A Korin produz cerca de 8 mil toneladas de carne de frango e 6,5 milhões de ovos por ano

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“Na Korin, o pequeno produtor rural é recompensado de forma justa”, diz Luiz

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estratégia, a expectativa é de alta de ao menos 15% nas receitas anuais. A marca mantém desde 1996 uma loja própria, no formato de showroom, no Bairro Vila Mariana, em São Paulo. “A Korin se tornou sinônimo de produto saudável. Nosso objetivo com a franquia é levar estes produtos a locais onde a demanda não é suprida com a oferta atual”, afirma o gerente comercial Edson Shiguemoto . O sistema de produção da Korin foi destaque no fórum de discussão sobre cidades e segurança alimentar na Rio+20, a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, realizada em junho passado, no Rio de Janeiro. A Korin foi apresentada como exemplo de que é possível produzir em escala e de maneira sustentável, inclusive do ponto de vista econômico. A produção de frango orgânico da marca aumentou cinco vezes desde que o produto foi lançado, há quatro anos. “O problema é que carecemos de

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apoio para pesquisa na área de produção orgânica. Essas pesquisas são fundamentais para aumentar a produtividade desse modelo”, destaca Demattê. Na Rio+20, a Korin também foi destaque pelo relacionamento que mantém com sua cadeia produtiva, formada por pequenos produtores rurais. Para Demattê, o modelo convencional promove a exclusão porque empobrece os trabalhadores do campo que acabam migrando para as cidades. “Na Korin, o agricultor é recompensado de forma justa. A empresa produz alimentos promovendo o bemestar de produtores rurais; dinamiza o campo por meio da compra e aquisição de agroprodutos, como milho, soja, frango, ovos, vegetais orgânicos, entre outros; desenvolve e aplica tecnologias limpas; e, sobretudo, oferece alimentos puros de alta qualidade nutricional, contribuindo assim para a saúde de produtores e consumidores. É um modelo ideal.”

Agricultura Natural A Korin produz alimentos nos moldes da Agricultura Natural de Mokiti Okada, filósofo e espiritualista japonês que, em 1930, liderou o movimento da agricultura orgânica no Oriente. Seus preceitos fundamentais são: resgatar a pureza do solo e dos alimentos, preservar a diversidade e o equilíbrio biológico e contribuir para a elevação da qualidade da vida humana.

Korin Agropecuária Fundação: 1994 Crescimento em 2011: 23% (faturamento bruto) Mix de produtos: - carne orgânica de frango e suíno - ovos - frutas, verduras e legumes in natura - água mineral - mel e derivados - café - congelados e sopa instantânea - insumos agrícolas, como fertilizante orgânico Modo de produção: - galinhas e suínos criados soltos e com alimentação totalmente vegetal e livre de antibióticos; - frutas, verduras e legumes produzidos sem uso de adubos químicos e agrotóxicos; - cadeia produtiva sustentável, seguindo os princípios do comércio justo.


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Madeira da lei Empresa atua no manejo florestal sustentável, demonstrando que é possível extrair árvores com equilíbrio ambiental e social por Raquel Rezende

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raquel@empreendedor.com.br

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Em um mercado em que predomina a extração predatória de madeira, a Amata – uma empresa florestal brasileira criada em 2005 – busca produzir madeira certificada de forma sustentável com total conhecimento da origem. Além disso, desenvolve ações de responsabilidade ambiental, social e econômica na região onde a madeira é extraída. A empresa surgiu com a união de três sócios que acreditam na

possibilidade de gerir florestas naturais e plantadas com tecnologias que garantam uma exploração econômica, social e ambientalmente consistente. A Amata tem hoje duas operações de florestas manejadas em andamento: a Concessão Pública da Floresta Nacional do Jamari, localizada no Estado de Rondônia, e a Concessão Privada da Fazenda São Joaquim, no Amazonas. A Amata possui ainda duas fazendas no escopo do programa de reflorestamento com espécies nativas de importância comercial para recuperação

de áreas degradadas: a Fazenda Cauã e a Fazenda Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, ambas localizadas no município de Castanhal, Estado do Pará. A produção de madeira para comercialização aliada à recuperação ambiental das propriedades é o foco da empresa. Um dos sócios da Amata é Etel Carmona que, há 20 anos, trabalha usando madeiras nativas em móveis e objetos com design brasileiro exclusivo que podem ser encontrados nas principais capitais do mundo. O outro sócio é Roberto Waack, que geriu por


cinco anos um dos maiores projetos de manejo florestal tropical certificado do mundo, integrado a uma das maiores plantações de eucalipto do País. O bom exemplo de economia da floresta nativa, transformando uma área em risco em um empreendimento industrial com reconhecimento social e ambiental, fez com que Waack fosse eleito membro do Board Internacional do Forest Stewardship Council (FSC). Para completar o time de sócios, Dario Guarita Neto trouxe a experiência do mundo da administração de portfólios e vislumbrou grande oportunidade de investimento em um ativo alternativo, porém seguro e dinâmico, ligado a um segmento em que o Brasil possui diferencial competitivo em relação ao resto do mundo. Juntos, criaram a Amata com o

propósito de ser uma empresa profissional, baseada nas melhores informações sobre florestas disponíveis no Brasil e no mundo, para atender os mercados de madeira sólida (móveis, pisos, construção civil), fibras (celulose e papel) e energia (biomassa, gusa e, no futuro, álcool celulósico). De acordo com Roberto Waack, a empresa trabalha em três frentes. Uma delas é o plantio de florestas em áreas normais; a outra é o plantio de florestas com espécies nativas em áreas degradadas pela agricultura. E o terceiro plano da empresa foca no manejo sustentável de floresta nativa. O resultado desse plano de ação é produzir a madeira certificada que pode ser vendida como tora, madeira serrada bruta, aplainada, seca ou industrializada

sob a forma de pisos, molduras, móveis ou acessórios. Como produto final, a madeira certificada tem também aplicação como fonte renovável de geração de energia. O vasto uso e as diferentes aplicações permitem à madeira certificada ter valores de mercado que variam de US$ 25 a US$ 25 mil por metro cúbico. “O mercado se concentrou na extração de madeira predatória – cerca de 80% da extração madeireira é feita dessa maneira”, contabiliza Waack. Por isso, a Amata, segundo ele, foi em busca de criar alternativas para fugir dessa realidade. Waack cita diversas maneiras para evitar a extração predatória: uso da tecnologia que permite identificar a idade do ciclo das árvores, auxílio da engenharia florestal

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Amata atende os mercados de madeira sólida (móveis, pisos, construção civil), fibras e energia

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Waack: “As instituições precisam reconhecer e valorizar mais as empresas com foco social e ambiental”

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Preocupação do consumidor com a origem da madeira também contribui para que as florestas sejam preservadas

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com possibilidades de fazer um estudo da árvore com imagem de satélite, utilização de mapas e conhecimentos de botânica. “A floresta pode e deve ter valor econômico, pois o proprietário quer aproveitar a floresta economicamente. Mas para fazer isso há maneiras sustentáveis”, afirma Waack. A preocupação do consumidor com a origem da madeira que está comprando também contribui para que as florestas sejam preservadas. Segundo Waack, atualmente essa realidade está mudando a cada dia. “Realmente, ninguém se preocupava com a nota fiscal de quem comprava a madeira para distribuição. Agora com a certificação da madeira pode-se comprovar de onde a madeira vem e como foi extraída”, relata. Além disso, uma auditoria é realizada nas empresas desse segmento, como a Amata, a cada seis meses para fiscalizar toda a operação. Outro aspecto que a Amata se preocupa em seus negócios é com as comunidades que vivem nas regiões onde a empresa

atua. “Por isso é necessário fazer um diagnóstico socioambiental do local. Conhecer a realidade social de cada uma das regiões e depois elaborar projetos que incluam as pessoas”, destaca Waack. Ele conta que a Amata, em seu trabalho nas regiões das florestas, procura sempre incluir a população. “Temos comunidades que oferecem a alimentação para nossos colaboradores e outras que vendem suas matérias-primas para nós. Damos ênfase ao desenvolvimento social da localidade”, explica Waack. A Amata conseguiu atrair investidores e bancos de desenvolvimento pela característica socioambiental do seu negócio. “Conseguimos atrair capital, então isso foi positivo. Mas as instituições precisam reconhecer e valorizar mais as empresas com foco social e ambiental”, opina Wa­ ack. Para o futuro, a Amata planeja expandir suas frentes de trabalho – ampliar áreas de manejo, áreas de plantio no Sudeste e Centro-Oeste e começar a distribuição de madeira certificada em São Paulo, con-

siderada a maior cidade consumidora de madeira tropical do planeta. Waack chama a atenção para o fato de que a sociedade despreza muito o valor da biodiversidade, porém depende muito dela para se alimentar, para ter acesso a remédios, enfim, para viver. “As florestas são essenciais para o equilíbrio do planeta. São reguladoras das chuvas, ciclos do clima e recursos hídricos, por isso a importância da preservação ambiental.”


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ESTR AT ÉG I A

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Caminho para

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Pequenas empresas também podem captar recursos no mercado de capitais, mas é preciso avaliar vários aspectos da gestão para alcançar o sucesso antes de lançar ações por Raquel Rezende raquel@empreendedor.com.br

Durante muitos anos, lidar com ações na bolsa de valores era algo restrito a grandes investidores, empresários e corporações. Porém, nos últimos tempos este cenário vem mudando. As transformações na economia brasileira com a estabilidade da inflação desanimam o poupador de colocar o dinheiro na poupança por causa dos juros baixos. Assim, as ações se tornam mais atrativas pelas possibilidades de ganhos maiores. E as informações sobre como operar em bolsa de valores estão mais democráticas, possibilitando o acesso de pessoas físicas e de micro e pequenos empresários ao mercado de capitais. Mas, na prática, para operar com sucesso neste mercado é preciso muito conhecimento ou consultoria especializada para acompanhar as tendências. Segundo Luís Abdal, diretor da Expo Money, evento que percorre o Brasil de-

batendo temas como finanças pessoais, investimentos, empreendedorismo e carreira, o mercado de ações brasileiro ainda é pequeno. Ele lembra que para a pessoa física, por exemplo, este mercado se abriu há apenas 10 anos. E os pequenos empresários também continuam distantes desta opção. Ele acredita que diversos fatores podem explicar essa atitude dos empreendedores – e um deles é a exigência da empresa ter uma gestão empresarial transparente. “A maioria das micro e pequenas empresas brasileiras é familiar, então abrir a empresa para novos sócios desconhecidos com a entrada na bolsa e a necessidade de divulgar balanços e resultados aos acionistas provocam o afastamento desses empreendedores”, observa Abdal. Para as pequenas empresas abrirem seu capital é necessário seguir vários passos. O primeiro deles é solicitar à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) uma autorização para começar a operar no mercado de capitais. A empresa

Luís Abdal, da Expo Money: mercado de ações brasileiro ainda é pequeno e recente

NÚMEROS DO MERCADO DE AÇÕES Entre 2004 e 2012, as ofertas de ações no Brasil movimentaram R$ 376,8 bilhões, num total de 237 operações, entre aberturas de capital e distribuições secundárias de empresas já listadas.

Até o momento, ocorreram em 2012 três IPOs (ofertas públicas iniciais) e dois follow-ons (ofertas subsequentes) que resultaram numa captação estimada em R$ 6,05 bilhões, de acordo com os valores que constam nos respectivos anúncios de início de negociação e de encerramento das companhias. Fonte: BM&FBovespa

Em abril de 2012, as 182 empresas integrantes dos Níveis Diferenciados de Governança Corporativa da BM&FBovespa representavam 65,64% do valor de mercado, 80,97% do volume financeiro e 84,81% dos negócios realizados no mercado à vista. Os segmentos especiais de listagem atualmente contam com 185 companhias assim distribuídas: 127 no Novo Mercado, 35 no Nível 1, 20 no Nível 2 e 3 no Bovespa Mais.

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Das 467 empresas listadas, 373 empresas negociam, com valor de mercado de R$ 2,48 trilhões.

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ESTR AT ÉG I A deve atender a vários pré-requisitos e, principalmente, se adequar às regras de governança corporativa. “Para abrir capital, a empresa deve ter uma gestão transparente e estar disposta a divulgar seus balanços ao público”, alerta João Pedro Brugger, analista da Leme Investimentos. Por outro lado, Abdal lembra que toda empresa que decidir entrar no mercado de capitais terá que se profissionalizar. E essa escolha será positiva para os negócios, mostrando evolução e crescimento do empreendimento. Além disso, ele destaca que a bolsa é a melhor forma de captação de recursos. “O caminho natural de uma empresa que quer crescer é, sem dúvida, sua entrada no mercado de capitais”, afirma.

Para abrir capital, a empresa deve ter uma gestão transparente e se dispor a divulgar seus balanços Abdal reconhece também que atualmente falta um projeto bem definido que acolha a pequena empresa no mercado de ações. E aconselha àquelas que têm interesse a procurarem o Bovespa Mais, formatado para atender às expectativas das MPEs. O Bovespa Mais foi criado em 2005 pela BM&FBovespa com o propó-

sito de oferecer acesso ao mercado de capitais às companhias de pequeno e médio portes que necessitam captar recursos para financiar seus projetos ou para companhias maiores que desejam o acesso gradual no mercado. O diferencial do Bovespa Mais é permitir que as companhias, ao se listarem no segmento, tenham o período de até sete anos para ter 25% do seu capital social em circulação no mercado, seja realizando uma oferta pública das ações existentes ou através da emissão de novas ações no mercado. Em relação à governança corporativa, a companhia também tem uma flexibilização relativa para compor o Conselho de Administração, sendo exigido, no mínimo, três conselheiros, diferente do

EDUCAÇÃO fINANCEIRA

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Martin Iglesias, do Itaú Unibanco, ensina estratégias para pessoas físicas investirem no mercado de ações. Ele enfatiza que toda pessoa deveria dividir os recursos que recebe em três frentes, focando o curto, médio e longo prazo. Para o curto prazo é ideal ter na poupança o valor referente a três vezes o salário recebido para atender possíveis emergências do dia a dia. No médio prazo, os investimentos já poderiam ser feitos em ações visando à construção do patrimônio. E os recursos aplicados no longo prazo seriam destinados para a aposentadoria. Diante disso, é fácil concluir que investir em ações significa o resgate do tão sonhado montante no longo prazo.

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Para comprovar isso, o professor Jurandir Macedo estudou três opções de investimento no mercado de capitais: primeiramente envolvendo investimentos de uma única vez na compra de ações e venda dessas ações dez anos depois; a outra opção seria investir durante dez anos e efetuar retiradas com a venda das ações ao longo de cinco anos; e a última tentativa realizada por Jurandir, se consolidando como a mais rentável, seria a compra de ações durante dez anos e a retirada com a venda durante várias vezes em um período de cinco anos. Esse movimento trouxe o melhor retorno com 14% de rentabilidade e o menor risco na casa dos 7%. O melhor disso é que, para trabalhar dessa forma sugerida pelo professor Jurandir, basta contratar no banco a compra programada de ações e todo dia de recebimento de salário, por exemplo, é realizada a compra. De acordo com Iglesias, esse comportamento, denominado compra de ação passiva, é ideal para quem não sabe sobre o mercado de ações e nem pode acompanhar. “A compra de ação ativa é para aquele investidor que já tem conhecimento e acompanha o mercado para escolher a ação que acredita ser mais rentável.”


Iglesias, do Itaú Unibanco: investir em frentes de curto, médio e longo prazo

Jurandir Macedo: compra de ações passiva é a melhor opção de investimento

Novo Mercado, em que são exigidos pelo menos cinco conselheiros com no mínimo 20% dos membros independentes. As pequenas empresas que estiverem inseridas no programa Bovespa Mais também podem realizar uma oferta de ações concentrada em poucos investidores, normalmente institucionais, com expectativa de retorno de longo prazo. Atualmente, três empresas estão listadas no segmento: Nutriplant, Desenvix Energias Renováveis e Senior Solution.

que chegam a 7,7% e 14% sobre o total captado, respectivamente. Na visão de Carlos Alberto Widonsck, professor do curso de Especialização em Gestão de Operações e Serviços Bancários (MBA) na Fundação Vanzolini, a iniciação no mercado de capitais é uma forma interessante de captar recursos para as empresas. “É uma maneira de capitalizar a empresa a um custo menor e, com isso, aumentar a sua participação no mercado”, diz. Segundo ele, através do IPO (do inglês Initial Public Offering – oferta pública inicial) a empresa consegue levantar recursos para investimento e ficar competitiva ante seus concorrentes. Widonsck recorda casos de médias e pequenas empresas que fizeram IPOs e foram bem-sucedidas. Porém, ele observa que as empresas que tinham a intenção de fazer o IPO diminuíram bastante o interesse em função da economia mundial estar passando por um momento delicado. “Os Estados Unidos, que desde a crise de 2008 vêm tentando se recuperar dos danos causados à sua economia, ainda não conseguiram chegar a um crescimento satisfatório, estando hoje bem abaixo do que o mercado esperava”, comenta. Outro fator determinante, citado por ele, é a crise que os países europeus estão enfrentando e que vem piorando dia após dia. Widonsck destaca ainda que um levantamento dos últimos IPOs realizados

Vitrine Outra possibilidade que a pequena empresa tem no Bovespa Mais é somente se listar, sem ofertar ações. Essa modalidade permite que a empresa aumente o grau de exposição junto ao mercado, divulgando informações, apresentando resultados e familiarizando o investidor com seu modelo de negócio. E quando optar por realizar a oferta de ações, teria condições de conseguir uma precificação mais adequada. O custo para a empresa ao participar do mercado de ações é, em média, 7,1% sobre o total captado. E de acordo com estudos, realizados pela própria BM&FBovespa, esse valor é considerado baixo quando comparado com outros mercados de acesso internacionais, como no AIM, da Bolsa de Londres, e no TSX Venture, da Bolsa de Toronto,

aponta que, na maioria deles, os preços das ações apresentaram queda em relação ao preço de lançamento. “Isso faz com que os investidores fiquem receosos em investir em novos IPOs e, principalmente, em ações que estão estreando na bolsa”, afirma. Diante desse cenário, o professor conclui que o momento é delicado e merece uma análise bem crítica, não só da empresa que está fazendo o IPO, mas da conjuntura atual do mercado financeiro mundial como um todo. No caso do Facebook, Widonsck explica que se criou uma grande expectativa no mercado de que as ações valorizariam logo no seu lançamento e isso fez com que os investidores comprassem esses papéis, esperando grandes lucros quando as ações estreassem na bolsa. Entretanto, ocorreram problemas com as análises feitas antes do lançamento para precificar as ações e tiveram que ser revisadas – e essa informação não foi passada para o mercado. Também houve uma espécie de pane no sistema eletrônico de negociação da Nasdaq no dia do lançamento das ações, trazendo enormes prejuízos aos investidores que não conseguiram operacionalizar suas ofertas através de seus terminais. “Acredito que esses fatores foram determinantes pelo insucesso das ações do Facebook no mercado acionário.” Na visão de Brugger, da Leme Investimentos, apesar dos analistas de mercado lançarem análises otimistas com a IPO do Facebook, o valor das ações foi alto. “Todo o negócio chamou muita atenção também pelo fato de ser uma empresa de tecnologia muito conhecida mundialmente. E, praticamente, pela primeira vez a bolsa negociou ações de uma empresa virtual.”

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Mercado de capitais é uma maneira de capitalizar a empresa a um custo menor, diz Widonsck

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Grandes marcas se juntam e dividem mesmo espaço para viabilizar operação em cidades menores

Reunir duas ou mais franquias consolidadas num mesmo espaço vem se mostrando uma excelente estratégia para aumentar a rentabilidade da operação e, principalmente, para viabilizar a expansão das redes em cidades menores. O exemplo mais marcante é da Love Brands, rede de franquias formada por três marcas que dispensam apresentação: Puket (meia, lingerie, pijama), Imaginarium (presentes) e Balonè (acessórios femininos). “A estratégia é inédita e inteligentíssima. Aumenta o poder do investimento dessas marcas e responde a um desafio enfrentado pelas grandes franquias brasileiras: como continuar crescendo no País?”, afirma Luis Henrique Stockler, sócio da consultoria de varejo ba}Stockler. O Brasil tem mais de 5 mil cidades,

Imaginarium uniuse a duas marcas complementares (Puket e Balonè) para vender seus produtos num mesmo espaço

mas as operações das principais marcas de franquia do País foram formatadas para atender apenas uma centena delas e não se viabilizam financeiramente em cidades menores. A proposta da Love Brands é justamente preencher essa lacuna. A rede foi pensada para municípios com mais de 50 mil habitantes e que não têm shopping center. “Nós enxergamos novas oportunidades no Brasil daqui para frente. E sozinhos não conseguiríamos chegar a essas cidades”, diz Carlos Zilli, diretor-geral da Imaginarium e idealizador da Love Brands com os executivos Jae Ho Lee, da Balonè, e Adolfo e Cláudio Bobrow, da Puket. As três marcas têm, juntas, 200 unidades no Brasil. A Love Brands deve superar esse número até 2016. A expansão da Love Brands começou em maio com a inauguração da unidade de São José do Rio Pardo (SP). Em julho, a rede já contava com quatro lojas. O plano inicial

inclui cidades do interior de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. Segundo Zilli, a meta é abrir dez unidades em 2012, 40 em 2013, 60 em 2014, 70 em 2015 e 80 em 2016. O executivo conta que, durante a primeira participação da Love Brands na ABF Franchising Expo, em junho passado, a rede cadastrou 120 candidatos dispostos a investir no projeto. “Oferecemos um modelo de franquia com um custo baixo e com marcas já testadas”, destaca Zilli. O investimento inicial numa loja de 40 metros quadrados é estimado em R$ 170,5 mil, aproximadamente 40% do valor de uma franquia padrão. Preocupado em aumentar a rentabilidade de seus franqueados, o Grupo Trigo, detentor das marcas Spoleto (fastfood de massas), Domino’s (pizzaria) e Koni Store (culinária japonesa), também lançou um modelo de negócio que abriga duas marcas num mesmo lugar. Chama-

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por Cléia Schmitz cleia@empreendedor.com.br

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mini-onodera

franquia

Zilli, da Imaginarium: “Nós enxergamos novas oportunidades no Brasil daqui para frente. E sozinhos não conseguiríamos chegar a essas cidades” do de Store in Store, o projeto permite as combinações Spoleto+Domino’s ou Do­ mino’s+Koni, ou ainda Spo­le­to+Koni. A proposta contempla tanto capitais quanto cidades menores, a partir de 120 mil habitantes. A ideia é que as marcas convivam de forma harmoniosa. “Essas duas operações se completam perfeitamente, porque o Spoleto é consumo imediato e tem pico no almoço, enquanto a Domino’s é mais delivery e tem pico no jantar”, explica Renata Rouchou, diretora

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As operações das principais marcas não se viabilizam financeiramente em cidades menores

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Stockler: “Com preços em baixa e custos em alta, é preciso otimizar o negócio”

de expansão do Grupo Trigo. As primeiras lojas Store in Store Domino’s+Spoleto iniciaram operação no Rio de Janeiro há um ano. Em junho, havia sete unidades em funcionamento em três estados: cinco no Rio de Janeiro, uma em Belo Horizonte e uma em Belém. Segundo Renata, a performance das vendas já demonstra que o modelo Store in Store foi uma decisão acertada do Grupo Trigo. As lojas tiveram aumento de 50% nas vendas e de até 60% na rentabilidade. Entre as vantagens do projeto estão redução de custos com aluguel e administrativo, aumento do leque de clientes e fluxo contínuo. Segundo Renata, como o Store in Store foi desenvolvido para espaços com no mínimo 150 metros quadrados, há maior oferta de espaços comerciais: “É mais fácil encontrar lojas com 150 a 200 metros quadrados”, afirma a executiva. Para o consultor Luis Henrique Sto­ ckler, a estratégia do Grupo Trigo é reflexo da pressão que o varejo vem passando para seguir expandindo num cenário de fatores nada favoráveis: a mão de obra está mais cara e os espaços comerciais, especialmente em shopping centers, também. Segundo o consultor, a taxa de vacância, que costumava ser de 8% a 10%, nos últimos anos está em 1%. “A questão é que os preços dos produtos estão cada vez mais baixos e os custos da operação cada vez mais altos. É preciso simplificar e otimizar o negócio”, explica Stockler. Nesse contexto, tanto o modelo Store in Store do Grupo Trigo quanto a nova franquia Love Brands estão seguindo o velho e bom ditado: “É preciso dividir para somar”.

As cidades de menor porte também estão nos planos de expansão da Onodera, rede de franquias de clínicas de estética corporal e facial. A empresa criou um novo formato com menos da metade do tamanho e 40% mais barata que o modelo tradicional. A rentabilidade do negócio para o franqueado é a mesma, entre 15% e 20%. A meta é abrir 120 unidades no novo formato até 2017. Hoje, a Onodera tem 54 unidades que juntas realizam mais de 60 mil tratamentos por mês. O novo formato faz parte do projeto de expansão da rede. “Estamos em um momento de ampliação dos negócios: a cada dia, recebemos cerca de 20 pedidos de consultas para a compra de franquias de várias partes do Brasil e, por isso, acreditamos que este ano vamos intensificar nossa presença, principalmente nos estados do Nordeste, Minas Gerais e cidades do interior de São Paulo”, afirma Lucy Onodera, diretora da rede. Segundo a franqueadora, existem muitas cidades de médio porte com grande potencial para abrigar uma unidade da Onodera. “Sentimos dificuldade em adaptar a franquia no formato convencional à demanda de clientes dessas cidades”, destaca Lucy. A Onodera quer aproveitar o excelente momento do segmento de estética no Brasil e aumentar sua presença no País. Na última década, o setor cresceu 20%. A expectativa é que até 2015 o Brasil se torne o maior mercado de estética do mundo.

Lucy Onodera: meta é abrir 120 unidades no novo formato até 2017


megafone

Oportunidades do Mundial de Clubes

No ponto de vista de oportunidades para as empresas, outro ponto superbacana que podemos destacar com a realização deste grande evento são as ações de relacionamento que podem ser implementadas em muitas companhias. O Mundial da Fifa é um espetáculo que envolve muita emoção e admiração para quem gosta de futebol. O turismo pode ser superexplorado no Japão. Além do evento esportivo, o convidado corporativo poderá desfrutar o conhecimento da cultura oriental. Realizar experiências exclusivas para este público é um desafio do mercado de marketing, pois o leque de oportunidades é enorme. Outro fato que pode ser interessante para explorar em termos de negócios e responsabilidade social é o resgate dos nossos grandes ídolos do futebol, que podem ser convidados para acompanhar os grupos corporativos para comentar os jogos e abordar curiosidades que não são ditas na mídia, assim como os bastidores dos clubes na véspera deste grande evento. Atenção, empresário: prepare sua ação de relacionamento e incentivo e aproveite este que será um dos grandes eventos de 2012. Nos encontraremos no Japão!

por Rodrigo Geammal

Fundador e diretor-executivo da Elos Cross Marketing – agência brasileira pioneira no marketing de resultados de vendas, que tem o esporte e o entretenimento como conteúdo estratégico. rodrigo@eloscrossmarketing.com.br www.eloscrossmarketing.com.br (11) 3432-2028

O futebol internacional vem investindo em diferenciadas estratégias de marketing para atrair mais público

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Este ano, o Mundial da Fifa de 2012, a ser realizado no Japão, será uma excelente oportunidade para o mundo do marketing e empresarial. Além da presença de alguns times que participam do torneio pela primeira vez, este megaevento a cada ano tem atraído um número maior de fãs. O futebol internacional, nos últimos tempos, vem investindo em diferenciadas estratégias de marketing para atrair mais público para as transmissões ao vivo como também para levar mais espectadores aos estádios. As mídias sociais estão sendo utilizadas para divulgar as novidades dos campeonatos e dos times, e também atuam como excelente canal para realização de concursos culturais e promoções. Ou seja: inúmeras oportunidades envolvendo o futebol e que podem ajudar a potencializar ações de muitas empresas e promover marcas. O Corinthians acaba de ser campeão da Taça Libertadores da América e, com toda certeza, o Japão será “invadido” por sua torcida, que desde a tão sonhada vitória já planeja a presença maciça na arquibancada para vibrar pelo Timão. Com isso, o mercado de turismo está aquecido e a movimentação em busca de pacotes de hospedagens e traslados só aumenta. Entretanto, considero que existem muitas oportunidades para este evento especialmente para empresas de mídias sociais no desenvolvimento – por exemplo, de conteúdos diferenciados sobre os times e o torneio. Há também ótimo momento para empresas de brindes na criação de peças exclusivas e, certamente, os veículos de comunicação terão novas receitas – afinal, estamos falando de um time abraçado por cerca de 39 milhões de torcedores. O mercado estará aquecido com todas as opções de marketing que podem ser desenvolvidas, já que este é um momento superespecial para o Corinthians.

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f ranquia

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NE atraente

Presente de aniversário

Em franco processo de expansão, a rede de franquias Seu Professor, especializada no reforço escolar via internet, abriu 13 unidades nas últimas semanas. Fundada em setembro de 2011, a empresa já conta com 25 franquias e espera chegar ao fim de 2012 com 60 unidades franqueadas. O foco no momento é a Região Nordeste. Todas as novas franquias estão localizadas no Estado de Pernambuco. De acordo com o diretor de expansão da rede, Ricardo Althoff, o crescimento da região é um fator que estimula novos empreendedores. “O Nordeste é a região que apresenta os maiores índices de crescimento econômico no País e tem uma demanda muito grande por educação. Há campo para investir mais na região”, avalia. www.seuprofessor.com.br

A rede Bob’s lançou em julho a Campanha 7 Sanduíches com a expectativa de aumentar as vendas dessa categoria em 12%. Os clientes poderão saborear, a cada dia da semana, um sanduíche diferente por R$ 5. O cardápio inclui Big Bob, Bob’s Picanha 90g, Double Cheddar, Bob’s Burger Duplo, Bob’s Salad Duplo, Bob’s Clássico Duplo e Picanha Grill. “Com esta campanha vamos levar ao consumidor todo o sabor dos nossos produtos a preços especiais. Nosso objetivo é aumentar a experimentação e estimular a frequência em nossas lojas. Temos certeza de que essa promoção, inédita na rede, será um verdadeiro sucesso”, explica o diretor de marketing do Bob’s, Carlos Pollhuber. A marca mantém posição de destaque no ranking do setor de fast-food brasileiro e está na liderança como a rede de alimentação com a maior cobertura geográfica do Brasil. Atualmente, são quase 1 mil pontos de venda distribuídos em todos os estados brasileiros. O Bob’s pertence à BFFC (Brazil Fast Food Corporation), holding que também controla, no Brasil, a marca Doggis, Yoggis, Pizza Hut de São Paulo e atua como franqueada da marca KFC. O Bob’s completa 60 anos em 2012, e a rede lançou uma logomarca especial para comemorar a data. As ações de aniversário incluem lançamentos de livro, novos produtos e ações com interatividade do público. Os eventos acontecem até dezembro em todos os 26 estados brasileiros, além do Distrito Federal. www.bobs.com.br


Rótulos próprios

A rede de restaurantes Divino Fogão, que oferece comida típica da fazenda, apostou na figura da Sinhá como representante oficial da marca. As simpáticas senhoras, que ficam à frente do bufê atendendo os clientes que chegam ao restaurante, são a marca registrada da empresa. São mulheres acima dos 50 anos que dão as boas-vindas e esclarecem as dúvidas dos consumidores em relação aos alimentos, preparação, temperos, etc. “Elas dão o tom acolhedor que queremos que as pessoas sintam ao chegar em nossos restaurantes. Trata-se de uma praça de alimentação, mas nem por isso precisa ser impessoal e robotizado”, afirma Reinaldo Marques Varela, fundador da rede. Além do atendimento ao público na frente da loja, as sinhás estão presentes nas peças publicitárias e em todas as ações de marketing da rede. “Nossa intenção é ter sinhás em todas as unidades Divino Fogão, mas, por incrível que pareça, temos dificuldade em encontrar pessoas para a função”, comenta Varela. Cerca de 15% das unidades ainda não contam com a figura. Fundada em 1984, a Divino Fogão iniciou a expansão por franquias há 18 anos. Hoje conta com 117 unidades e abrirá outras 24 lojas ainda em 2012. www.divinofogao.com.br

A Mr. Beer, rede de franquia de cervejas especiais, completa três anos em agosto. Em comemoração, lançou no fim de julho uma edição especial com linha de rótulos próprios produzidos pela cervejaria Rasen Bier, de Gramado (RS). Serão quatro estilos: Pilsen, Weiss, Dunkel e Ambar Ale. “Unimos o útil ao agradável. Lançaremos esta edição especial de três anos da Mr. Beer junto à data do Dia dos Pais. É uma ótima opção de presente”, destaca Fabiano Wohlers, sócio e diretor-geral da rede. A marca surgiu em 2009 com um quiosque no Shopping Ibirapuera, em São Paulo. Em 2010, a rede virou franquia e hoje está presente em quase todo o País. Em 2011, a Mr. Beer criou seu segundo modelo de negócio – os espaços gourmets, lojas em ruas ou em shoppings destinados à harmonização de cervejas especiais e petiscos. Neste ano, abriu mercado para a importação – o que baixou os preços dos rótulos nas unidades – e adquiriu 50% da Casa da Cerveja, importadora com a melhor

qualidade em rótulos do País. As unidades Mr. Beer chegam a oferecer de 200 a 250 rótulos de cervejas, 70% delas importadas de, em média, 15 países. A rede prevê crescimento de 100% para este ano, chegando a R$ 12 milhões de faturamento e a 60 unidades. No ano passado, o faturamento girou em torno de R$ 6 milhões, com 30 lojas. A rede já tem contratos assinados para futuras inaugurações – em Manaus, Juiz de Fora (MG), Goiânia, Belo Horizonte, Aracaju e São Luís –, e os principais pontos de interesse são todas as capitais do País e todas as cidades do interior de São Paulo. “O interior de São Paulo e as capitais brasileiras são pontos importantíssimos de expansão para o Mr. Beer. Nas cidades interioranas paulistas devido ao poder aquisitivo e grau de instrução da população. No Sul, maior consumo per capita do país, os focos principais são Florianópolis e Balneário Camboriú”, afirma Fabiano Wohlers, diretor-geral da rede. www.mrbeercervejas.com.br

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Sinhás hostess

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Novidade na praça

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A not guilty®, rede suíça de fast-food saudável, chega ao Brasil com a meta de instalar 30 restaurantes até 2015. A primeira loja foi inaugurada em julho, em São Paulo (Rua do Rócio, 209, Vila Olímpia). Nascida em 2007, a empresa foi criada por Roland Wehrle com o objetivo de oferecer alimentação rápida e saudável para todas as pessoas que querem comer bem, sem o rótulo de comida vegetariana. “Somos uma empresa sustentável, preocupada em servir alimentação saudável, equilibrada, gostosa e com um jeito twist (algo surpreendente) que só nós sabemos preparar. Queremos que os nossos clientes se sintam em um pedaço do paraíso quando estiverem em um restaurante da not guilty®”, afirma o empresário Sérgio Freire, CEO da empresa no País. Saladas crocantes, molhos naturais, sucos de fruta, sopas e sanduíches feitos na hora e na frente dos clientes fazem parte da proposta da empresa. Para ter ingredientes, legumes, frutas, verduras e temperos fresquinhos, a not guilty® faz uma seleção criteriosa de fornecedores e só adquire produtos daqueles que estejam comprometidos com a sustentabilidade, com a saúde e o bem-estar dos consumidores.

www.notguilty.com.br


Estreante no franchising A Triângulo Moda, marca de moda feminina fundada há 27 anos em Monte Sião (MG), decidiu aderir ao sistema de franchising para expandir a atuação da marca para todo o País. A meta é chegar a dezembro de 2015 com 40 unidades franqueadas. Para formatar seu modelo no setor de franquias, a empresa contou com a consultoria da DubNet Varejo & Franchising. A Triângulo Moda produz mais de 500 diferentes itens por coleção e atende mulheres de 20 a 40 anos, principalmente das classes B e C. A marca atua no varejo desde 2004. Atualmente, conta com dez lojas próprias. “Nosso foco é comercial. Somos uma marca de moda feminina e atendemos as mulheres de forma democrática, mantendo sempre uma ótima relação custo/benefício”, afirma Mauricio Santos, diretor da empresa. O investimento inicial numa franquia Triângulo Moda é de R$ 271.500, sem o ponto comercial. A previsão de retorno do investimento é de 16 meses.

www.triangulomoda.com.br

formato reduzido A Fitta Turismo, rede de agências de turismo com foco em câmbio, lançou um formato inédito no setor, o Corner Fitta. A proposta é inserir a rede no conceito “loja dentro de loja”, em que duas marcas ou mais dividem o mesmo ponto comercial, criando sinergia entre os produtos e serviços oferecidos. “Nosso objetivo é sublocar espaços em agências de turismo, hotéis ou comércio com grande afinidade com o mercado de câmbio”, explica o diretor comercial Luiz Ramos. A meta é instalar 15 corners em 2012. O formato, comum nos Estados Unidos e na Europa, vem se consolidando no Brasil. “Quando a parceria é bem formada, a consequência natural é o aumento do fluxo de clientes e da rentabilidade do negócio”, afirma Ramos. Com espaço médio de 6 metros quadrados, o Corner Fitta foi criado para atender ao mercado de câmbio de cidades com até 200 mil habitantes ou capitais. As franquias Fitta comercializam moedas estrangeiras, assistência ao viajante e remessas internacionais, além de cartões pré-pagos de bandeira MasterCard no Brasil. A rede tem mais de 65 unidades e está presente de Roraima ao Rio Grande do Sul. www.grupofitta.com

A Restaura Jeans, rede de serviços de lavanderia, tingimento, costura e customização de roupas com mais de 200 lojas e pontos licenciados no Brasil, lançou uma técnica de tingimento mais ecológica. O serviço, disponível nas cores azul, verde e preto, utiliza uma quantidade mínima de água para renovar as cores das roupas e não gera resíduos. “Recuperar as roupas é uma das melhores maneiras de preservar o meio ambiente, diminuindo o impacto do consumo sobre o planeta. Com esta nova técnica de tingimento, a empresa inova mais uma vez”, afirma o franqueador da rede, Flávio Conrad. Estima-se que são gastos cerca de 120 litros de água para fabricação de uma única peça nova. Com o tingimento ecológico, são utilizados apenas 250 mililitros por peça. A nova técnica é indicada para tecidos compostos por, no mínimo, 60% de algodão. www.restaurajeans.com

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Política sustentável

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perfil

Nara Guichon Ateliê Nara Guichon Costa de Dentro – Pântano do Sul – Florianópolis Técnicas utilizadas: Tecelagem manual, tricô, patchwork, costura Produtos: Artigos de vestuário (blusas, vestidos), acessórios (echarpes, lenços, bolsas) e peças de decoração (tapetes, mantas, jogos americanos, cortinas, almofadas) Matéria-prima: Lã, linho, rami, algodão, redes de pesca, miçangas de madeira, sementes, conchas e resinas Colaboradoras: Dez artesãs, entre bordadeiras, costureiras e tecelãs de Santa Catarina e Minas Gerais Loja virtual: www.naraguichon.com

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A preocupação em preservar a natureza somase à extrema habilidade e criatividade da tecelã para criar peças, sinônimo de design sustentável por Cléia Schmitz

cleia@empreendedor.com.br

“Minha vida é a história de meu envolvimento com fios. Poucos anos após o corte daquele, umbilical, que me ligava à mãe, as vizinhas já se espantavam pela familiaridade com que manejava agulhas e novelos.” Esta é Nara Guichon, uma empreendedora apaixonada pelo ofício de tecer fios e costurar tecidos manualmente. O texto acima é como a tecelã e designer se apresenta em seu portal na web. O talento para transformar fios em peças de lã começou

cedo. A habilidade em vendê-los também. As primeiras peças – um casaquinho e sapatinhos de bebê – foram vendidas aos nove anos. Como não tinha mesada, o jeito que encontrou para comprar seus próprios novelos de lã foi poupar o dinheiro que lhe davam para a passagem de ônibus. Foram os primeiros passos de uma trajetória que transformou Nara numa das maiores e mais criativas tecelãs do Brasil. Seu trabalho já foi premiado com uma menção honrosa no renomado concurso


de design do Museu da Casa Brasileira, de São Paulo. Em 2009, a bolsa Farta, elaborada pela artesã a partir da reciclagem de velhas mas resistentes redes descartadas por pescadores, foi selecionada para fazer parte da Bienal do Design Brasileiro 2010, em Curitiba. Em abril deste ano, a mesma bolsa foi exposta na mostra “Brasil: design, inovação e sustentabilidade – Um olhar sobre a Bienal Brasileira de Design 2010”, durante o Design Week de Milão, na Itália, evento que acontece paralelamente ao Salão Internacional do Móvel de Milão. A habilidade em reaproveitar materiais inusitados e descartados como lixo é um dos diferenciais do trabalho de Nara. Tanto que ela se tornou referência quando o assunto é design sustentável. Nas mãos da tecelã, as redes de pesca de poliamida que são abandonadas na praia – e que repre-

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Nara faz questão de realizar todo o processo de manufatura da lã, valorizando cada etapa da transformação do material

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perfil

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sentam uma ameaça aos animais marinhos – se transformam em preciosa matériaprima. E ao contrário do que muita gente pode pensar, trata-se de um material resistente que imprime qualidade, além de um tom de exclusividade às peças. A inspiração veio do amigo artesão Henrique Schuck­mann. Foi ele que, em 1998, mostrou a Nara as possibilidades criativas do uso de redes de pesca no artesanato. Quem vê o estado em que as redes chegam ao ateliê de Nara custa a acreditar que aquele emaranhado de fios sujos serve para alguma coisa. Mas após um cuidadoso processo de limpeza e tratamento, as redes se juntam a lãs, sedas, ramis e linhos para compor roupas, bolsas, lenços e artigos de decoração como mantas e capas de almofadas. É um trabalho de muita paciência e dedicação. Duas características que não faltam a Nara. Desde que adquiriu seu primeiro tear manual, há cerca de 30

Nara quer fortalecer o consumo de peças de longa duração em detrimento da cultura do descartável anos, a tecelã faz questão de realizar todo o processo de manufatura da lã. Por isso, ela compra a lã bruta, lava, carda e fia. O objetivo é valorizar cada etapa de transformação do material. Cooperar com a preservação ambiental é uma preocupação presente em todo o trabalho de Nara. A artesã aproveita a coloração natural impressa nas redes pelo tempo e pelas intempéries. Para tingir a lã que compra diretamente dos criadores de ovelhas, utiliza corantes naturais como

casca de cebola, semente de urucum e eucalipto. Nara também só compra lã depois de se certificar que a tosa dos merinos é feita sem agredir os animais. As peças de patchwork levam tecidos reciclados de alta qualidade, grande parte doada por empresas têxteis e lojas especializadas. A artesã ressalta que sua preocupação é com a qualidade do produto porque um dos seus objetivos é fortalecer o consumo de peças de longa duração em detrimento da cultura do descartável. Desta forma, a artesã espera que suas criações sejam valorizadas principalmente pela qualidade, beleza e atemporalidade, já que em seu método de produção uma peça nunca é igual a outra. Nara cria em média uma nova peça por semana que passa, então, a ser manualmente produzida em tiragens limitadas com a ajuda de dez colaboradoras – costureiras, bordadeiras e tecelãs que, em sua maioria, são mulhe-


res de comunidades pesqueiras de Florianópolis que fazem do artesanato uma importante fonte adicional de renda para suas famílias. Aliás, manter viva a cultura do trabalho manual é um dos objetivos de Nara, cuja infância foi rodeada de agulhas e novelos que em mãos habilidosas davam forma a gorros e ponchos que ajudavam a aplacar o frio do Sul do Brasil.

Trajetória Nascida em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, Nara passou parte da infância e da juventude em Porto Alegre. Aos 17 anos vendia casacos de lã colorida, no estilo conhecido como jacquard, para butiques da cidade, além de pães integrais feitos por ela mesma. Paralelamente, Nara ajudava a administrar a farmácia da família. De personalidade inquieta, no final da década de 1970 – com 20 e poucos anos de idade –,

Nara decidiu largar tudo e viajar para a Europa. “Um dia eu pensei: não vou ficar a vida inteira aqui infeliz.” Ao final de dois anos de andanças pelo velho continente, grande parte na França e na Itália, voltou a Porto Alegre onde montou com dois amigos um restaurante especializado em comida vegetariana. Pouco depois, durante um Carnaval chuvoso em Florianópolis, se encantou com uma casa cercada por mata atlântica na comunidade de Costa de Dentro, no interior da Ilha. “Lembro como se fosse hoje. O chão estava coberto de borboletas azuis e as cigarras cantavam tão alto que não era possível ouvir mais nada. No mesmo dia olhei outras sete casas, mas não conseguia tirar a primeira da cabeça”, conta Nara. Para comprar o sítio junto com a irmã, vendeu todo o estoque da farmácia em Porto Alegre. No local, montou o ateliê Nara Guichon Têxtil, onde há 30 anos

produz e vende suas peças, especialmente para os turistas que frequentam Florianópolis no verão. Os artigos também são comercializados pela loja virtual. A casa na Costa de Dentro é seu porto seguro. De lá só sai para suas frequentes incursões pelo mundo da tecelagem. Recentemente, passou três meses em Londres visitando feiras do setor. Em meados de julho voltou para a cidade, onde mantém uma máquina de costura. Em outubro vai participar da maior feira de tricô da Europa, a Knitting and Stiching Show. “Só viajo para cidades que tenham algo a ver com o segmento têxtil”, afirma. Desde 1983, faz duas viagens para São Paulo com as malas cheias de sua produção. Os artigos são vendidos para um grupo de clientes fiéis. Assim, de uma forma tranquila, Nara cumpre sua missão de perpetuar técnicas ancestrais de produção têxtil – sem deixar de adicionar elementos novos ao ofício.

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Pelo método de produção de Nara, uma peça nunca é igual a outra

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PERfI L

Marcelo Politi Idade: 50 anos Local de nascimento: São Paulo Formação: Hotelaria e MBA Empresa: Tramezino Ano de fundação: 2012 Ramo de atuação: Sanduíches gourmets artesanais Cidade-sede: São Paulo Número de funcionários: 7

quente

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Negócio

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por Ana Paula Meurer anapaula@empreendedor.com.br

“Não há limite para a criatividade e somente a imaginação pode limitar o que pode se servir entre duas fatias.” É assim que o empresário Marcelo Politi define o seu negócio. Cada pão recebe cuidadosamente uma camada de recheio, pasta gourmet e salada. Após uma delicada finalização, transforma-se em um produto que vai muito além do que simples sanduíche. Muito comuns na Itália, esses são os tramezzinis, que serviram de inspiração para Politi criar, em março deste ano, a marca Tramezino. A inspiração veio do hábito dos italianos servirem e comerem lanches frios. “Nas viagens que fazia para lá, eu me perguntava por que as pessoas encomendam lanches quentes no Brasil. Depois de al-

guns minutos ele perde muito do sabor, da textura, do frescor, enfim, vira outro produto, de qualidade muito inferior ao do momento em que foi feito”, explica. Os tramezzinis, assim chamados os sanduíches gourmet artesanais na Itália, logo conquistaram o gosto do empreendedor. Com ampla experiência em gestão de negócios, gastronomia e em realização de eventos, Politi percebeu que o mercado brasileiro estava maduro para receber um conceito novo de alimentação. Inserido no segmento de catering, ele destaca que a intenção é oferecer um produto diferente e simples, mas elaborado em seu sabor, prático e ao mesmo tempo elegante na sua apresentação. “Queríamos apresentar este novo conceito de uma maneira fresca e saborosa, da mesma forma que os melhores tramezzinis que eu encontrei na Itália.” O conceito do alimento vai ao encon-

tro da proposta do estabelecimento. Por ser servido frio, o sanduíche tem uma durabilidade maior e se adapta melhor a encomendas para a casa das pessoas ou escritórios. Essa diferença faz com que ele possa ser oferecido em lugares que vão desde feiras em ambientes fechados até eventos ao ar livre. Usando recheios que vão desde mortadela a salmão defumado, livros, viagens e internet viram fontes de inspiração para as receitas, que englobam somente ingredientes artesanais frescos. O empresário ressalta que qualquer ingrediente, desde que de boa qualidade em seu estado natural, pode se transformar em um bom e atrativo sanduíche. “As possibilidades de combinação entre ingredientes são infindáveis. Por outro lado, não queremos oferecer tudo para todos. Bolamos algumas categorias e va-

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Sucesso na Itália, os tramezzinis, espécie de sanduíche frio, são a nova aposta de negócio do empreendedor Marcelo Politi

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perfil

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mos testando novas possibilidades dentro destas categorias”, explica. Sanduíche é o carro-chefe da marca. Mas o objetivo é ir aos poucos aumentando a grade, principalmente quando se trata do mix servido nos eventos. “Para sermos reconhecidos como fornecedores de excelência no mercado de light catering, temos que expandir o mix”, conta. Para isso, ele espera abrir a primeira loja Tramezino, que oferecerá uma linha de cafés italianos, doces, sucos especiais e, logicamente, o sanduíche. O investimento para a abertura do Tramezino foi de aproximadamente R$ 700 mil. Apesar do pouco tempo, a resposta dos consumidores já tem sido muito positiva. Mais de 30 mil sanduíches foram produzidos pela companhia até o momento e a expectativa é aumentar expressivamente este número. Tanto é assim que Politi conta que a estimativa inicial de retorno do investimento de dois anos deve ser revisada para baixo em breve. O cenário em que a marca está inserida vive uma situação favorável. Projeções indicam que o mercado de catering no Brasil crescerá a taxas chinesas nos próximos anos, não só nas grandes cidades, mas principalmente no interior dos estados e no Nordeste do País. “O mercado de food service é um investimento seguro

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Sanduba italiano A palavra tramezzino foi inventada por Gabriele D’Annunzio como um substituto para a palavra “sandwich”, em uma época em que as palavras de origem inglesa foram banidas do dicionário italiano durante o governo de Mussolini. “Tramezzino” – “tra il mezzo” – significa alguma coisa como “entre duas partes”, que é o princípio do sanduíche, e com a adição do sufixo diminutivo “-ino” criou-se um nome que se popularizou na cultura italiana.

desde que você tenha confiança absoluta na qualidade do seu produto”, afirma. Com histórico de sucesso na área de eventos, basta observar o currículo de Marcelo Politi para entender a origem dessa visão inovadora. Ítalo-brasileiro, Marcelo Politi é formado em Hotelaria pela Ecole des Roches (Association Suisse d’Hôtellerie), na Suíça, e tem pós-graduação em Gestão de Negócios pelo Ibmec. Atuou como o mais jovem gerente-geral do grupo de hotéis Sofitel (Accor), com 29 anos. Atualmente é presidente da Associação de Alumni da Escola Suíça de Hotelaria Les Roches no Brasil e sócio-fundador das empresas Nove Eventos e Frog. Além de ter sido o diretor de operações na T4F, foi o responsável por implementar e gerir a operação do Hard Rock Café no Brasil. Ao relembrar sua carreira, ele diz que seu maior desafio foi encontrar e manter pessoas boas na equipe. “Digo pessoas boas no sentido do perfil. Pessoas que tenham uma boa base de matemática e de português, que tenham bom raciocínio lógico, que interajam bem com outras pessoas. Quando encontramos pessoas assim, nosso desafio passa a ser estimulá-las para que deem o melhor de si, desafiá-las com projetos cada vez mais interessantes e fazê-las evoluir na carreira e na remuneração. Tudo para não perdê-las.”


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PR ODU TOS E S ER V IÇ O S

Múltiplos meios de pagamento

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As compras pela internet estão mais atrativas para os consumidores brasileiros. A MundiPagg – empresa que oferece soluções em meios de pagamento on-line – desenvolveu uma plataforma inédita que permite dividir o valor da mesma compra em diversos meios de pagamento. Numa compra de R$ 500, por exemplo, o consumidor poderá pagar R$ 200 em um cartão de crédito, R$ 150 em outro cartão de crédito e R$ 150 no boleto bancário. “Esta tecnologia ajuda principalmente os consumidores com pouco limite no cartão de crédito, que muitas vezes deixam de comprar por isso”, explica Verena Stukart, cofundadora da MundiPagg. Criada no início do ano pelos sócios Fabio Barbosa e Verena Stukart, que participaram da criação e desenvolvimento de outras empresas no segmento, a MundiPagg tem o propósito de atingir 30% a 40% do mercado de pagamentos on-line até o final de 2012. Para isso, além da utilização de vários meios de pagamento e um único pedido, a empresa oferece gateway com inteligência de rede neural em que a plataforma aprende à medida que é utilizada e passa a entender os comportamentos do mercado e as ações que devem ser tomadas para aumentar a conversão de vendas. Outra novidade é o Instant Buy, inspirado na gigante do comércio eletrônico Amazon. A ferramenta possibilita que, após um primeiro cadastro, todas as compras sejam feitas com apenas um clique. “Uma vez que a pessoa compra pela internet e aprecia esta comodidade, ela passa a ter isso como um hábito. Ter vantagens à disposição facilita a geração de novos e-consumidores e a fidelizá-los ao e-commerce”, afirma Verena Stukart. www.mundipagg.com

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PDV as a service Uma parceria estratégica firmada entre a Microcity, empresa brasileira de Outsourcing de Infraestrutura de TI de LAN e Desktops, e a Bematech, líder em soluções de tecnologia para o varejo e setor hoteleiro, busca consolidar a presença da Microcity no segmento varejista com o lançamento da oferta de negócios inédita “PDV as a Service”. A oferta possibilita ao cliente terceirizar a infraestrutura de tecnologia nas suas lojas para facilitar a atualização, ampliação e abertura de novas lojas, além de gerar benefícios financeiros, operacionais e gerenciais. A Microcity vai implementar hardwares fabricados pela Bematech no modelo de serviço modular realizado de acordo com a necessidade de cada cliente. Isso é possível porque, ao contratar o PDV as a Service, o cliente fica isento da necessidade de adquirir de forma definitiva os produtos, uma vez que a compra dos equipamentos da Bematech é realizada pela Microcity. Por sua vez, a Microcity aloca os produtos para os respectivos estabelecimentos comerciais e assume a responsabilidade integral de todos os serviços referentes a logística, instalação, suporte técnico e gerenciamento do ciclo dos equipamentos, incluindo manutenção e troca dos mesmos. Além da implementação dos produtos de acordo com as necessidades específicas de cada varejista, a contratação do PDV as a Service gera uma série de vantagens aos clientes, dentre os quais se destacam: eliminação de investimento inicial por parte do usuário, pois esse investimento fica 100% sob responsabilidade da Microcity; flexibilidade para negociação do prazo de contrato (12 a 60 meses); gestão de contratos por SLA (Acordo por Nível de Serviço); e possibilidade de adicionar produtos, serviços ou recursos específicos da necessidade de cada cliente no decorrer do contrato. Os equipamentos da Bematech disponibilizados para o modelo de negócios PDV as a Service da Microcity são: CPUs de varejo, gaveteiro de notas e moedas, monitores, leitores de código de barras, PDVs móveis, totens e impressoras térmicas e fiscais. www.microcity.com.br


Comprador eletrônico

foco na construção civil Desenvolver softwares de gestão para o setor atacadistadistribuidor e, assim, garantir precisão no gerenciamento de processos internos de diferentes empresas é o foco da PC Sistemas. O carro-chefe da companhia é uma ferramenta ERP, denominada WinThor ( Varejo Material de Construção), que agiliza e facilita o controle dos processos de negócios das empresas do setor. Com sede em Goiânia e mais oito filiais, incluindo a matriz em Belo Horizonte, a companhia já exportou seu know-how para o México, Angola e Portugal. Considerando as estimativas de crescimento para o setor de construção civil, a PC Sistemas considera estratégica a atuação do seu software de gestão específico para esta cadeia de atendimento ( WinThor Varejo Material de Construção). A empresa busca ofertar uma solução especializada em atender às demandas desta área, contando com uma equipe exclusiva no desenvolvimento de soluções que suportam as especificidades do segmento. www.grupopc.com.br

Para simplificar rotinas e processos do setor de compras das companhias, a empresa Outplan Tecnologia, especializada em desenvolver soluções corporativas em TI e web com foco nos negócios, criou o software OutBuyCenter. Entre as principais funcionalidades da ferramenta estão a qualificação dos fornecedores, que podem ser classificados de acordo com o perfil de cada empresa; mapa de cotação, em que o sistema faz uma análise das propostas dos fornecedores e as apresenta ao comprador; gestão do almoxarifado, em que é feita uma análise profunda da necessidade de compra da empresa; e a gestão orçamentária, que garante que não haverá um acréscimo de gastos maior do que o previsto pelo comprador. A Haco, líder mundial nas vendas de etiquetas de diversos tipos e formatos, adotou o novo software de e-procurement em janeiro deste ano e avalia positivamente a ferramenta. A facilidade do uso da ferramenta, tanto pelos usuários internos da Haco quanto pela cadeia de fornecedores, é um dos pontos destacados. O fornecedor, por exemplo, quando recebe um e-mail com o pedido de cotação, pode clicar e acessar diretamente o sistema sem necessitar usuário e senha. Todos os processos – da cotação à compra propriamente dita – são transparentes e os envolvidos são comunicados por e-mail a cada passo. A Outplan é uma das primeiras empresas do Brasil especializada em e-business, fundada em 1996, em São José (SC). www.outplan.com.br

Atualmente, a maioria das empresas possui um website e, apesar da internet ser uma aliada para impulsionar as vendas de qualquer corporação, há outros caminhos mais baratos para interagir com potenciais clientes. Foi pensando dessa maneira que a empresa BrazilBiz resolveu adotar um modelo para gerar negócios apenas com um e-mail. Na base de clientes formada por pequenas e médias empresas, brokers e representantes comerciais, verifica-se que 62% deles não têm um website cadastrado. Além do

e-mail, quando a conversa evolui, clientes e fornecedores costumam continuar o contato por Skype. No mercado de vendas entre empresas em que compras são feitas geralmente através de algum tipo de negociação, estar disponível para atender pessoalmente o cliente, através de e-mail ou Skype, é mais eficiente do que ter um website com muitas informações e até e-commerce, pois na grande maioria das vezes o negócio não será fechado por esses meios. www.brazilbiz.com.br

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Negócios sem website

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empreendedorismo já . com

R EC I PR OCI DADE

Gestão de pessoas

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Quando iniciei minha empresa, muito rapidamente percebi que o maior de todos os desafios que eu enfrentaria, entre tantos que se mostravam necessários, seria a difícil tarefa de gerir pessoas, principalmente no meu segmento de prestação de serviços, em que tudo simplesmente é conduzido, transformado, produzido e encerrado diretamente pelas cabeças e mãos de pessoas. Hoje, com muita convicção, posso afirmar que gerir pessoas é conduzir seres humanos a fazer com prazer aquilo que se deseja que elas façam. Na teoria, esta é uma frase digna de moldura. Na prática, foi preciso anos e anos para afinar as inúmeras características e atitudes que precisamos desempenhar para que não só os resultados, mas também o exercício da gestão, chegassem perto de um nível aceitável. Existe um pensamento muito simples para gerir pessoas, que é a lei da reciprocidade. Somos espelhos e, na grande maioria das situações, gostamos do que a maioria das pessoas gosta e repelimos a maioria das coisas que as pessoas repelem. Um ótimo exemplo que tenho – e grande companheiro – é o simples ato do sorriso. Não aquele em que só se movem os lábios, mas aquele que realmente nos abre ao próximo e de maneira mágica demonstra nossa verdade e transparência. Sempre digo que de nada vale um sorriso se a atitude do gestor for demagoga: o sorriso real é, na verdade, a consequência de um trabalho estruturado de gestão de pessoas, em que ele, gestor, também

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Gerir pessoas é conduzir seres humanos a fazer com prazer aquilo que se deseja que elas façam

sinta prazer em estar com as pessoas no exercício de suas funções. Na vida e nos relacionamentos não existe a possibilidade de esconderijo ou mentiras, não existe ninguém que consiga enganar tantas pessoas por tanto tempo. Somos diretamente percebidos pelas nossas ações, somos julgados diretamente pela máxima de causa versus efeito. Há muito tempo me exercito para gerar um guia das características pelas quais devo conduzir meu trabalho, para ser aquilo que eu acredito ser um bom gestor. Procuro relacionar todas as características que tenho como expectativa de alguém que está à frente de uma equipe: empenho-me para continuar com as características que julgo satisfatórias e separar aquelas em que deixo a desejar. Normalmente, não são poucos os pontos negativos, mas não os ignoro simplesmente: entendo que preciso ter foco nos meus defeitos e procurar corrigi-los. Sei que jamais serei exímio em transformar defeitos em predicados, mas com atenção e cobrança própria consigo resultados razoáveis. Também procuro dar muito feedback aos meus liderados, bem como ter o deles em relação à minha pessoa. Procuro ser franco e permitir que eles também sejam, mesmo sabendo que receber críticas não é fácil para ninguém. Sei que somente dando liberdade para que

por Marcelo Ponzoni

Publicitário e diretor-executivo da agência Rae,MP, que atua há 23 anos no mercado; e autor do livro Eu só queria uma mesa, da Editora Saraiva. (11) 5070-1294 – marcelo@raemp.com.br www.raemp.com.br

elas sejam manifestadas é que se pode reagir e apresentar sinais de melhora, ou pelo menos mostrar força de vontade para que tais características sejam amenizadas. Existem vários estudos, literaturas e exemplos a seguir nesta árdua tarefa de aprendizado da função de gestor de pessoas, mas existe algo que é pouco comentado e que jamais poderá ser dispensado do processo: gostar de pessoas. Para gerir qualquer pessoa ou processo é preciso gostar de quem e do que está sendo gerido. Eu, particularmente, adoro pessoas, gosto de conhecê-las, entendê-las, ajudá-las. Gerir pessoas é amar o próximo, sabendo que somos diferentes, que pensamos diferente, que vivemos diferente e que o processo não poderia acontecer de outra maneira se não houver entendimento das situações e das características vivenciais para evoluirmos como pessoas e como gestores delas.


BANH O DE LOjA

Rio+20 e o varejo

Se analisarmos a população hoje, o número de brasileiros adultos e em idade ativa é superior ao de crianças e idosos. Esse fato confere ao Brasil uma extrema capacidade produtiva denominada “bônus demográfico”, propiciando condições de aceleração de crescimento. As projeções indicam que em 2022 o Brasil viverá o que alguns economistas estão chamando de ano dourado, pois se estima que neste ano a proporção de pessoas inativas atingirá seu nível mais baixo em toda a história do País. Trazendo estes dados para o nosso raciocínio inicial “sua empresa+20” percebemos as grandes oportunidades que a projeção demográfica acima nos aponta, e também a grande necessidade que temos de entender como os indivíduos que são crianças agora e em 2032 serão adultos com maior poder de compra consumirão produtos e serviços. Será que a consciência ecológica dos nossos adultos de 2032 banirá do mercado empresas que não demonstrem responsabilidade com o meio ambiente? Será que a economia verde defendida pela ONU deixará de ser um conceito e teremos a chance de vivenciar na prática uma economia que proporcione melhor igualdade social, bem-estar para a humanidade,

Por Kátia Bello

Kátia Bello é arquiteta, especialista em comunicação estratégica de varejo e sócia-diretora da Opus Design. katia@opusdesign.com.br

reduzindo os riscos do meio ambiente? Será que nós, como líderes em nossas empresas, estaremos mais capacitados para avaliar, além da saúde financeira, o impacto social e ambiental de nossas atividades? E como gestores do “nosso planeta”+20 seremos competentes o bastante? Estas são perguntas sem respostas prontas, rápidas ou fáceis, que o tempo responderá. Guardarei este artigo e espero daqui a 20 anos ter a oportunidade de ver nossas indagações não só respondidas, mas superadas com excelentes soluções implantadas, ilustrando o artigo que escreverei para vocês. Sucesso a todos na “nossa missão”+20!

Gostaria de fazer aqui um paralelo para nós, que trabalhamos no varejo, propondo um exercício mental intitulado “sua empresa+20”, no qual você tenta visualizar sua loja daqui a 20 anos. Tarefa nada fácil

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O nome de forte impacto na divulgação ganhou espaço na mídia e a Conferência das Nações Unidas, realizada no Rio de Janeiro entre os dias 20 e 22 de junho (a Rio+20, que marcou os 20 anos decorridos desde a Eco 92), pretendeu ser uma reunião de avanços para o desenvolvimento sustentável do nosso planeta. Inevitavelmente, nesses momentos de discussão e planejamento surgem vários líderes defendendo o que é melhor para seus países, mas não necessariamente para o nosso planeta. Gostaria de fazer aqui um paralelo para nós, que trabalhamos no varejo, propondo um exercício mental intitulado “sua empresa+20”, no qual você tenta visualizar sua loja (ou rede de lojas) daqui a 20 anos. Tarefa nada fácil prever como serão os pontos de venda em 2032, não é verdade? A resposta nos faz pensar em que público estaremos atendendo daqui a 20 anos. Mesmo que fossem as mesmas pessoas que atendemos hoje, elas seriam duas décadas mais velhas e, certamente, teriam necessidades diferentes das atuais. Pensando em uma rede com atuação no mercado brasileiro, algumas projeções sobre o perfil da população podem nos ajudar neste raciocínio.

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LEIT URA Busque e destrua – Por que você não pode confiar no Google Inc

O outro lado

Scott Clelan – Matrix Editora – R$ 39,90

Obra questiona modelo de negócios do Google e faz acusações graves sobre invasão de privacidade dos usuários e violação dos direitos de propriedade intelectual Muito se fala da meteórica ascensão do Google, relatando como a empresa surgiu, os inúmeros benefícios concedidos aos funcionários e o crescimento acima da média em faturamento e lucro. Contrariando essa tendência, a obra relata os “objetivos escusos” por trás dessa imagem de perfeição. Dentre as falhas mais graves apontadas está o fato de o Google ignorar princípios de propriedade intelectual, privacidade e segurança de informações dos usuários. O autor sugere que o modelo de negócio do Google está totalmente ligado à destruição da privacidade dos usuários. “Quanto maior a eficácia do Google no direcionamento de anúncios, mais dinheiro ele ganha – e são rios de dinheiro”, revela. Quando um internauta apaga uma informação de sua conta, por exemplo, está apenas negando o próprio acesso a ela, porque o Google mantém uma cópia. Clelan ressalta ainda que o Google, além de digitalizar e organizar conteúdos que não lhe pertencem, desrespeitando a propriedade intelectual, também ganha dinheiro anunciando em sites da web que traficam conteúdo pirateado. “O Google viola repetidamente os direitos de propriedade intelectual dos outros, enquanto protege zelosamente os seus próprios”, afirma, entre outras acusações de violação de direitos autorais, danos morais e práticas comerciais não competitivas.

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Quando o Google viola a sua privacidade, não demonstra remorsos. Quando lhe perguntaram se os usuários deveriam confiar no Google, Eric Schmidt inverteu a questão, sugerindo que, se alguém é antiético, são os usuários prejudicados: ‘Se você tem algo sobre o qual não quer que ninguém saiba, talvez nem devesse fazê-lo, para começar’. Falando sobre temores de vigilância onipresente, Schmidt sugere que os jovens podem mudar seus nomes quando se tornarem adultos, para escapar de indiscrições passadas. E se você não gostar de ter sua casa exibida no Google Street View, ‘pode simplesmente se mudar’.”

Contabilidade geral e tributária

Planejamento financeiro pessoal e gestão do patrimônio: fundamentos e prática

Com o objetivo de atualizar os profissionais do ramo de finanças, a obra contempla as últimas alterações introduzidas na contabilidade brasileira através das Leis da Contabilidade para Pequena e Média Empresa. De forma didática, apresenta as mudanças conceituais, reconhecimento, registro e avaliação de ativos e passivos, alterações na estrutura do balanço patrimonial, bem como as demais demonstrações contábeis exigidas pelas novas regras e alinhadas com o mercado contábil internacional. Inclui ainda questões retiradas de provas de concursos públicos, possibilitando ao leitor testar seus conhecimentos na área.

O controle inflacionário adotado após a implantação do Plano Real, em 1994, trouxe uma série de benefícios ao País, como o aumento da confiança dos investidores externos, estabilidade da moeda e fim das desvalorizações forçadas, permitindo às pessoas planejar o uso do dinheiro a médio e a longo prazo. Impulsionada por esse novo contexto econômico, a função de planejador financeiro ganhou cada vez mais importância, tanto no âmbito pessoal como corporativo. Para elucidar questões referentes à profissão, a obra traz informações sobre certificações em finança, ética e perfil profissional. Inclui ainda informações sobre como elaborar o planejamento financeiro pessoal e família, além das conexões com as áreas de Relações com Investidores (RI), Gestão de Riscos, Governança Corporativa, Securitização e Planejamento Sucessório e Tributário. O livro encerra com uma reflexão dos autores, que apontam as maiores oportunidades e desafios para as finanças pessoais no Brasil.

Lourivaldo Lopes da Silva Editora IOB Folhamatic – R$ 109

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“O Google se importa com a sua privacidade? Ele afirma que sim. Mas sua missão, tecnologia e histórico dizem o contrário. Em um estudo com 23 empresas líderes na internet, a Privacy International (PI) classificou o Google em último lugar em privacidade, concedendo à empresa a fita negra por ‘Vigilância detalhada dos consumidores e arraigada hostilidade à privacidade’.

Caio Fragata Torralvo, Almir Ferreira de Sousa e Ricardo Humberto Rocha Editora Atlas – R$ 44


EMP RES á R IO R I CO E fEL I Z

PENSE GR AND E

Linha de chegada

Por Joel Fernandes

Autor dos livros Eu quero ser empresário rico!, Empresário rico também vai para o céu e Sua pequena empresa: muito além da sobrevivência! e do site www.euqueroserempresariorico.com.br

prazo. As de curto prazo são relativas ao ano corrente, enquanto que as metas de longo prazo miram os próximos três, cinco, oito ou 10 anos. Por exemplo, se você dirige uma empresa emergente de tamanho micro, cuja receita é igual ou menor que R$ 360 mil/ano, deve estabelecer como meta para os próximos anos tornar-se uma empresa de pequeno porte, cuja receita é de R$ 3,6 milhões/ano, e assim por diante. Ao longo dos meses temos procurado estimular e inspirar você a pensar grande. Hoje propomos a você definir como linha de chegada tornar-se um empresário rico e feliz. Então, pense grande, aja como presidente!

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Enquanto outros pilotos corriam para vencer todas as corridas, Prost calculava em qual posição deveria chegar a cada corrida para ganhar o campeonato

endem porque precisam corresponder ao apelo do ser. À sua essência. Oferecem ao mundo o que há de melhor de si. São fiéis aos seus estilos próprios de ser. Têm a atitude nobre de servir. E se podem servir a uma centena de pessoas, por que não servir a milhares e milhões delas? Como consequência, o rumo para se tornar grande parece natural e estimulante: ajudar milhões de pessoas com algo que podemos fazer. Isto é maravilhoso! Tratei do lado espiritual da meta de ser livre. Outro aspecto é o lado material: alcançar a liberdade de poder trabalhar por opção e nunca mais por obrigação. Isto requer a definição de um valor financeiro acumulado para a pessoa física que gere uma renda suficiente para poder trabalhar por opção, e não por obrigação. Por exemplo, R$ 1 milhão. No entanto, podem ser R$ 200 mil, R$ 800 mil, R$ 2 milhões ou R$ 7 bilhões. Cada um decide o valor acumulado de seu evento final. O presidente – Como posso estabelecer minhas metas? Imagine-se como um presidente de uma grande empresa. Um presidente de empresa sempre tem que prestar contas de sua gestão para os acionistas. Como ele faz isso? Faz mostrando os resultados de sua gestão e as ferramentas adequadas para isso são o ‘demonstrativo de resultados’, ou ‘DRE’, e o ‘balanço financeiro’. Convido você a fazer exatamente a mesma coisa. As metas empresariais são de duas naturezas: de curto prazo e de médio/longo

STU SEEGER/CREATIVE COMMONS

No artigo anterior escrevi sobre a ‘linha de partida’. Hoje vou tratar do tema ‘linha de chegada’. A questão a ser abordada é a seguinte: por que o empreendedor deve estabelecer metas? ALAIN PROST – Você já ouviu falar do professor Alain Prost? Ele foi um piloto tetracampeão de corridas de Fórmula 1. Foi um profissional e tanto. Mas a designação de professor lhe foi dada por sua maestria de vencer campeonatos, e não corridas. Enquanto os outros pilotos corriam para vencer todas as corridas, e batiam, estouravam motores, e não faziam nenhum ponto, pois acabavam saindo das mesmas, Prost corria com cautela e de forma inteligente calculava em qual posição deveria chegar a cada corrida para pontuar, manter-se na frente e assim ganhar o campeonato. A meta para ele estava bem estabelecida: ser o vencedor do campeonato. Você deve estabelecer metas exatamente para isso: para saber com clareza e precisão a sua ‘linha de chegada’, antes de sair por aí, correndo e trabalhando feito um louco. Quais são as suas metas? – Quando faço esta pergunta aos clientes que atendo, a imensa maioria não tem uma resposta para dar. Aqueles empresários com espírito investidor sabem: sua intenção prévia (meta) primordial é a liberdade. Eles vislumbram no empreendimento por conta própria a realização de duas intenções: (1) um canal para poder expressar livremente seus talentos e (2) a possibilidade de ganhos desproporcionais aos esforços físicos e financeiros. Em outras palavras, o desejo de se tornarem ricos fazendo aquilo que amam. A exemplo do craque de futebol, que ama o que faz, aqueles que investem numa empresa por conta própria, com consciência do investimento realizado, empre-

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ANáL I S E E C ONÔ MIC A

Horizonte incerto Políticas de estímulo devem continuar por um bom tempo e a economia deve seguir se arrastando pelos próximos meses

empreendedor | agosto 2012

Notícias de complicações e os problemas com endividamento nos países periféricos na Zona do Euro já fazem parte do dia a dia de quem acompanha o mercado financeiro. Todo esse desgaste influencia nas demais economias mundiais, o que inclui o próprio Brasil. O País vem descendo uma ladeira maior do que se imaginava nesses últimos meses. O Brasil, que chegou a registrar um PIB de 7,5% em 2010, sofre com o desaquecimento do mercado interno e externo. O principal foco de preocupação hoje é a deterioração do cenário europeu que já contagia países de grande importância como a China, que é responsável por importar grande quantidade de matérias-primas do nosso país. Com o mercado externo enfraquecido e o mercado interno sofrendo em determinados setores, como no setor automotivo, o Brasil acaba criando expectativas negativamente exageradas aos olhos de investidores estrangeiros, o que leva a um impacto maior

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sobre o produto que já tem uma previsão de crescimento abaixo de 2% para 2012. Para driblar tal situação, medidas de estímulo foram tomadas pelo Banco Central, como o afrouxamento monetário, feito através de cortes na taxa básica de juros (selic) desde agosto de 2011, que vem em declínio de 12,5% até 8% no atual momento. A redução nos juros ajuda a aquecer a economia em pontos como investimentos produtivos e um aumento no consumo, além de interferir na tomada de crédito para consumidores e empresas. A dívida do governo brasileiro, que ainda tem uma grande quantidade de títulos indexados à própria taxa de juros, também é reduzida. Podemos citar ainda nesse ponto a desvalorização do real ante a moeda americana – os produtos brasileiros que são exportados ganham competitividade no mercado internacional, o que impulsiona vários setores internos do nosso mercado. Neste ano, o governo colocou em prática uma redução na política fiscal através da diminuição do

O principal foco de preocupação hoje é a deterioração do cenário europeu, que já contagia países como a China, responsável por importar grande quantidade de matérias-primas do nosso País

Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para linha branca e automóvel, que é um setor que vem mostrando estagnação decorrente também de um grau elevado de inadimplência. Mesmo com um longo período de luta contra a desaceleração da economia, o cenário externo não está melhor do que o de meses atrás, e com isso o mercado continua com a previsão de mais uma queda de 0,5 ponto percentual na selic, o que leva a taxa básica de juros para uma nova mínima histórica. Olhando para um horizonte no curto prazo, há muitos fatores que não nos deixam criar um sentimento de segurança em relação ao que está por vir; logo, essas políticas de estímulo devem continuar por um bom tempo e a economia deve seguir se arrastando pelos próximos meses.

por Makian Costa Pereira Leme Investimentos


Nome Classe Ação All Amer Lat ON Ambev PN B2W Varejo ON BMF Bovespa ON Bradesco PN Bradespar PN Brasil Telec PN Brasil ON Braskem PNA BRF Foods ON Brookfield ON CCR Rodovias ON Cemig PN Cesp PNB Cielo ON Copel PNB Cosan ON CPFL Energia ON Cyrela Realty ON Duratex ON Ecodiesel ON Eletrobras ON Eletrobras PNB Eletropaulo PNB Embraer ON Fibria ON Gafisa ON Gerdau Met PN Gerdau PN Gol PN Ibovespa Itausa PN ItauUnibanco PN JBS ON Klabin S/A PN Light S/A ON Llx Log ON Lojas Americ PN Lojas Renner ON Marfrig ON MMX Miner ON MRV ON Natura ON OGX Petroleo ON P.Açúcar-Cbd PNA PDG Realt ON Petrobras ON Petrobras PN Redecard ON Rossi Resid ON Sabesp ON Santander BR UNT N2 Sid Nacional ON Souza Cruz ON Tam S/A PN Telemar N L PNA Telemar ON Telemar PN Telesp PN Tim Part S/A ON Tim Part S/A ON Tim Part S/A PN Tran Paulist PN Ultrapar PN Usiminas ON Usiminas PNA Vale ON Vale PNA Vivo PN

Participação Bovespa 1,104 0,979 0,701 3,902 3,130 0,993 0,390 2,726 0,596 1,341 0,622 0,802 1,134 0,685 1,539 0,598 0,784 0,441 1,866 0,589 1,311 0,890 0,743 0,530 0,755 1,498 1,648 0,660 2,574 1,211 100,000 2,315 4,015 0,934 0,404 0,541 0,914 1,207 1,098 0,546 1,440 1,233 0,845 3,773 0,808 2,745 2,206 8,517 1,283 1,163 0,352 1,097 2,359 0,443 1,041 0,225 0,268 0,923 0,155 0,125 0,170 0,840 0,229 0,486 0,592 2,462 2,925 11,956 0,793

Inflação (%)

Até 31/07 Tipo de Ativo Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação 9 Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação Ação

Índice IGP-M IGP-DI IPCA IPC - Fipe

Julho

Ano

1,34 1,1* 0,29* 0,31*

4,57 4,74 2,62 2,12

Juros/Aplicação (%) CDI Selic Poupança Ouro BM&F

Julho

Ano

0,68 0,68 0,51 2,56

5,30 5,35 3,82 11,58

Indicadores Imobiliários (%) Julho CUB SP TR

- 0,01

Juros/Crédito (%) Desconto Factoring Hot Money Giro Pré (taxa mês)

31/Julho

30/Julho

N/D 3,66 3,11 1,76

N/D 3,65 3,11 1,76

Câmbio

Até 31/07

Cotação Dólar Comercial Ptax Euro Iene (US$ 1,00)

R$ 2,0499 US$ 1,2314 $ 78,1000

Mercados Futuros Dólar Juros DI

Até 31/07

Setembro

Outubro

R$ 2,070 7,80%

R$ 2,072 7,61%

Contratos mais líquidos Ibovespa Futuro

31/07 56.050

empreendedor | agosto 2012

Carteira Teórica Ibovespa

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AGENDA

MERCADO AfINADO

De 13/08/2012 a 16/08/2012

38º Congresso Nacional sobre Gestão de Pessoas

Expo Center Norte São Paulo – SP www.conarh.com.br

O Conarh 2012 oferece aos participantes quatro dias de vivência para um debate sobre o papel e a contribuição do RH e dos gestores de pessoas no desempenho das organizações e, claro, no crescimento do País. Em cada edição, o público – cerca de 18 mil pessoas entre congressistas e visitantes – tem acesso ao que há de mais atual em gestão de pessoas, promovendo o convívio entre os participantes e gerando grandes negócios.

Dia 15/08/2012

6º Encontro Estadual de Vendas e Gestão

Teatro Municipal Carlos Gomes Rio de Janeiro – RJ www.cdpv.com.br/eevg

Tendências, ferramentas e estratégias para a alta performance das empresas são temas de palestras no evento, que contará com seis cases de sucesso: Hotel Urbano, BrasilBrokers, Zamboni Distribuidora, Carta Fabril, Radix Engenharia e Alterdata Software.

De 15/08/2012 a 18/08/2012

8ª feira do Empreendedor

empreendedor | agosto 2012

Centro de Convenções e Feiras da Amazônia Belém – PA www.feiradoempreendedorpa.com.br

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Um dos eventos de maior visibilidade do Sebrae, a Feira do Empreendedor é uma grande oportunidade para pequenas, médias e grandes empresas exporem produtos e serviços. Além de gerar negócios, abre importante canal de comunicação para que empreendedores e candidatos a empresários possam se qualificar para desenvolver ou manter o seu próprio negócio.

De 19/09/2012 a 23/09/2012

29ª feira Internacional da Música, Instrumentos Musicais, áudio, Iluminação e Acessórios

Expo Center Norte – São Paulo – SP www.expomusic.com.br

A Expomusic, considerada a maior feira de música da América Latina, é uma oportunidade para músicos e profissionais se atualizarem com os lançamentos e produtos das grandes marcas de instrumentos musicais, áudio, iluminação e acessórios. O evento movimenta negócios que representam parcelas significativas do faturamento anual do setor, estimulando o desenvolvimento da indústria musical no País.

De 16/08/2012 a 18/08/2012

Congresso fenabrave e Expofenabrave

Expo Center Norte – Pavilhão Azul São Paulo – SP www.congresso-fenabrave.com.br

O 22º Congresso Fenabrave se consolida como o maior evento da distribuição automotiva da América Latina. O objetivo é trazer novos conceitos, diferentes metodologias e processos inovadores para preparar as concessionárias para enfrentar os desafios futuros.

De 20/08/2012 a 22/08/2012

18º fórum Internacional de Logística & Expo Logística

Hotel Royal Tulip Rio de Janeiro Rio de Janeiro – RJ www.ilos.com.br

Palestrantes dos continentes americano, europeu e asiático vão abordar temas atuais como logística de megacidades e logística reversa de resíduos nas empresas brasileiras. O evento conta ainda com o 12º Prêmio Ilos – os melhores prestadores de serviços logísticos do Brasil – e com a 13ª Expo.Logística, feira de produtos e serviços.

De 10/09/2012 a 13/09/2012

8ª Beauty fair

Expo Center Norte São Paulo – SP www.beautyfair.com.br

Evento anual do segmento de beleza com participação de profissionais, indústria, comerciantes, distribuidores, importadores e exportadores. Em 2011, atraiu mais de 130 mil visitantes e o volume de negócios gerado foi de R$ 390 milhões, o que a consolidou como o maior e mais completo evento do segmento de beleza das Américas e o segundo maior do mundo.

De 12/09/2012 a 15/09/2012

feira Internacional da Construção

Centro de Convenções da Bahia Salvador – BA www.feiraconstruir.com.br/ba

Reune a cadeia produtiva da construção do Nordeste: arquitetos, engenheiros, mestres de obras, construtores e lojistas em uma das mais importantes feiras do mercado. Ótima oportunidade para sua empresa divulgar produtos e serviços, incrementar negócios e agregar valor à sua marca.


2a Feira Internacional de Edificações & Obras de Infraestrutura Serviços, Materiais e Equipamentos.

empreendedor | agosto 2012

A INTEGRAÇÃO DA CADEIA DA CONSTRUÇÃO A Construction Expo 2013 é apoiada pelas principais entidades, construtoras e fornecedores do setor, por reunir, em um único local, serviços, materiais e equipamentos para obras e o Sobratema Congresso – Edificações e Infraestrutura. Se a sua empresa faz ou quer fazer negócios no mercado brasileiro da construção, esta é a oportunidade. Participe da Construction Expo 2013. Informações e reservas de áreas: contato@constructionexpo.com.br | 11 3662-4159

Construction Expo 2013 - De 5 a 8 de Junho de 2013 Centro de Exposições Imigrantes | São Paulo | Brasil www.constructionexpo.com.br

REALIZAÇÃO:

LOCAL:

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