ed. 3 - ano 1 - R$ 14,90
www.evino.com.br
Felipe Tosso fala sobre a Ventisquero
Harmonização com culinária japonesa
Qual escolher: rolha ou tampa de rosca?
Os segredos da Bodega Zuccardi
EDITORIAL
Vinho: um produto com papel social
É
com muita satisfação que chegamos à terceira edição de nossa revista. As páginas que seguem estão repletas de pautas muito especiais: desde vinhas “regadas” a música, passando pela quebra do tabu que envolve as tampas de rosca na vedação do vinho, percorrendo os vinhedos de produtores ícones da América do Sul, e viajando pelas incríveis regiões do Douro, em Portugal, e do Vêneto, na Itália. Mexemos nossos pauzinhos - mais especificamente nossos hashis - para preparar uma matéria especial sobre o casamento da milenar culinária japonesa com a também milenar cultura do vinho. Acompanhados do chef Fabio Koyama, preparamos duas sugestões de harmonização com receitas da cozinha japonesa. A preocupação com a harmonização ideal para um vinho é presente entre os entusiastas do vinho. Porém, o que se esquece com frêquencia é que a experiência de degustação também está fortemente associada ao contexto no qual uma garrafa é aberta e às pessoas que se reunem em torno dela para compartilhar suas taças. Na Evino acreditamos que o vinho se presta a consolidar amizades, a unir (e porque não, reatar) casais, a selar parcerias, comemorar conquistas e celebrar datas - sejam elas especiais ou não - sempre aproximando as pessoas e cumprindo um papel social de grande importância. Paralela à nossa participação ativa em enriquecer momentos de convivência e confraternização, vem a missão de disseminar conhecimento sobre a bebida em questão. Nas páginas seguintes, portanto, viajaremos ao Vêneto para explorar o terroir e os rótulos desta região. Explicaremos ainda os impactos que os modos de vedação trazem à evolução do vinho na garrafa, e responderemos à inquietante pergunta: “Vinhos com rolha ou tampa de rosca?”. Da tecnologia de vedação das garrafas passamos à tecnologia por trás da estrutura do nosso site. Abrimos as portas de nosso departamento de TI e desvendamos os bastidores do time responsável pelo assemblage de códigos que oferecem a você a melhor experiência de navegação possível. Ainda nesta edição, festejamos a parceria da Evino com a renomada vínicola francesa Laudun Chusclan Vignerons, que ganha espaço de destaque aqui com o Favorito do Mês: Luna Elements Côtes du Rhône Villages Laudun 2013. Celebramos também nossa amizade com dois grandes produtores sul-americanos com reportagens especiais: Familia Zuccardi e Viña Ventisquero. Espero que você já não veja a hora de pular para a próxima seção. Desejo uma agradável leitura e nos vemos em breve. Grande abraço,
Ari Gorenstein
PUBLISHERS Ari Gorenstein e Marcos Leal CMO Patrícia Komura Coordenadora de Conteúdo Lana Ruff
Editor Giuliano Agmont
Revisão Larissa Mayra
ATENDIMENTO AO LEITOR leitor@evino.com.br
Diretor de Arte Ricardo Torquetto
Foto de capa Luna Garcia
Impressão Prol Gráfica
Colaboradores Alexandra Corvo, Carlos Marcondes, Jessica Marinzeck, Larissa Mayra e Raphael Pugliesi
PUBLICIDADE publicidade@evino.com.br
A Revista Evino é uma publicação da INNER Editora sob licenciamento da Evino
SUMÁRIO
20 SEÇÕES 06 ABRE ASPAS
Seu espaço de interação da Revista Evino
08 ALÉM DAS TAÇAS
Novidades para sofisticar sua degustação
10 VITI & CULTURA
Um panorama do universo enocultural
12 ESPAÇO DO SÓCIO
Benefícios do Clube Evino
24 COM ELA, A PALAVRA
Jéssica Marinzeck
44 PARA BRINDAR
Sugestões de rótulos para você apreciar
50 COM ELA, A PALAVRA
14
Alexandra Corvo
32
26 REPORTAGENS 14 VOZES DO VINHO
Felipe Tosso, da Viña Ventisquero
20 LARES DO VINHO
Bodega Zuccardi, de Mendoza
26 EM ROTA
Enoturismo em Douro, Portugal
32 COMES SE BEBES
Culinária japonesa
36 VINIFIQUE-SE
Rolha ou rosca?
38 TERROIRS
Vêneto, Itália
40 ENQUANTO ISSO, NA EVINO
TI por trás do site da Evino
42 O FAVORITO
Luna Elements
38
ABRE ASPAS
o seu espaço na Revista Evino
ÁLBUM DE RÓTULOS Sócio do Clube Evino há um ano e meio, Marcelo Cascapera, além de amante de vinhos e legítimo connoisseur, é um médico dedicado… Percebemos isso ao saber do cuidado quase cirúrgico que toma com uma de suas maiores paixões: colecionar rótulos. Para montar e manter seus álbuns de coleção, ele:
1
Não faz distinções, mantendo como único requisito ter bebido na companhia da família ou de amigos. Assim, guarda um significado especial de cada um.
2
Cola na garrafa, em cima do rótulo, um adesivo especial “label lift” e aguarda dois dias para retirá-lo. A retirada é delicadíssima - trabalho para um artesão.
3
Recorta uma folha de papel branca para dar uniformidade e, ainda, outra folha de uma cor que combine com o design do rótulo e garanta a ele um aspecto divertido.
4
Cola no álbum, anota suas observações junto ao nome do vinho e algumas informações básicas como produtor e uva, e pronto. Arte feita.
DIRETAMENTE DO INSTAGRAM @EVINOBR
“Um brinde ao avanço do branco, ao distinto vinho tinto, ao doce que você trouxe e aos espumantes dos amantes... #ISTOMERECEUMBRINDE”
Pedimos aos nossos seguidores do Instagram que respondessem à pergunta “O que merece um brinde?”. Presenteamos os autores das duas melhores respostas com um quadro colecionador de rolhas, como o da nossa foto. Do auge de sua inspiração, nossos enofãs revelaram-se verdadeiros poetas!
Pablo Reguera Kühl @pablo_kuhl
Fique atento às próximas ações no Instagram da @evinobr e tire sua foto para aparecer na Revista Evino!
6 | revista evino
“Um brinde a quem ama sem pudores, a quem não se esquece dos seus amores. Um brinde aos sonhos realizados e a todos que ainda serão concretizados. Um brinde à nossa família e a todos que nos acompanham nessa trilha. E, por fim, um pedido à vida: que nunca nos falte vinho, seja qual for o nosso destino!”
Nancy Anuvale @nancyanuvale
ALÉM DAS TAÇAS
TRANSPORTE SEGURO Ideal para transportar seus vinhos. Com espaço para duas garrafas, este prático kit de camurça da Trudeau inclui sacarolhas e corta-gotas. R$ 152 | www.casaflora.com.br
TAÇA COM GRIFE Esta taça de espumante (Atelier Spumante) faz parte da coleção High Tech Crystal Glass, de Luigi Bormioli, um dos mais conceituados cristaleiros do mundo. R$ 32 | www.maisondescaves.com.br
GEOMETRIA IRREGULAR Um suporte para acomodar de forma diferente seus vinhos em casa, com geometria irregular. Cada exemplar da marca Delicá tem espaço para seis garrafas.
R$ 1.726 | www.benedixt.com.br
8 | revista evino
DUAS ZONAS TÉRMICAS Especialista em adegas climatizadas, a Art des Caves concebeu esta linha, a Sophistiqué Colors Dual, com espaço para 60 garrafas acomodadas em duas zonas de temperatura independentes.
PARA DECANTAR Com alça, o decanter Pisa, da Spiegelau, facilita o trabalho de servir o vinho. R$ 400 | www.pluslink.com.br
R$ 8.230 | www.artdescaves.com.br
SACA-ROLHAS RETRÔ O Legacy Corkscrew (Antique Pewter) é uma réplica estilizada dos antigos saca-rolhas. Ele pode tanto tirar a rolha da garrafa quanto colocá-la de volta.
US$ 60 | www.amazon.com
revista evino | 9
VITI & CULTURA
FRASES
“O vinho alegra o coração do homem; e a alegria é a mãe de todas as virtudes”
“Na água refletimos nossa própria face. No vinho visualizamos a alma de outrem”
Johann Goethe, pensador e escritor alemão
Provérbio francês
SAÚDE
“O vinho é composto de humor líquido e luz” Galileu Galilei, físico, matemático, astrônomo e filósofo italiano
Vinho oferece benefício similar ao de academia O vinho garante efeitos correspondentes aos obtidos com exercícios a pessoas impossibilitadas de fazer atividade física. É o que revela um estudo na Universidade de Alberta, no Canadá. O trabalho concluiu que uma taça de vinho tinto proporciona ao corpo benefícios similares aos de uma hora de academia. O líder da pesquisa, Jason Dyck, afirmou que isso ocorre em razão da quantidade de resveratrol – que possui alto efeito antioxidante – nos vinhos tintos. Tendo evidências de que o resveratrol melhora a força muscular, a performance física e as funções cardíacas e aumenta os batimentos cardíacos, da mesma forma que os exercícios físicos, os pesquisadores concluíram que o vinho pode auxiliar pessoas que, por algum motivo, estejam incapacitadas de realizar exercícios físicos. “O resveratrol pode simular um exercício ou potencializar os benefícios de alguma atividade que uma pessoa fisicamente incapacitada faça”, afirma Dyck. Evidentemente, para quem tem condições, exercitar-se com regularidade continua sendo um hábito indispensável para preservar a saúde, bem como ingerir vinho moderadamente, pondera o pesquisador.
10 | revista evino
BATE-PAPO
Música para os vinhos O enólogo Juan José Ledesma usa a música para dar personalidade aos vinhos que produz na região de Biobio, no Chile. Para conceber seu “Terroir Sonoro”, pesquisou os efeitos de vibrações e sons no processo de envelhecimento de seus rótulos. Em entrevista à Revista Evino, ele explica sua teoria. Qual é a sua relação com a música e como percebeu que o som poderia ser usado para melhorar a qualidade do vinho?
Venho de uma família de músicos. Por outro lado, fazer vinho está em meu sangue. Uma parte da família de meu pai veio de Rioja, na Espanha, e outra de Colchágua, no Chile. Como enólogo, sempre degustava vinhos ouvindo música. Um dia, esqueci os fones e coloquei o celular diretamente no bocal de uma barrica vazia. O som melhorou, mas percebi que o barril vibrava, na verdade, ressoava certas notas ou frequências. Foi o começo de minha pesquisa sobre os efeitos da vibração e, também, da música no envelhecimento do vinho. Como a música pode interferir na produção de um vinho?
As lias ou borras têm propriedades que tornam o vinho mais suave, mais fácil de tomar. O aproveitamento dessas proteínas é melhor e mais rápido se os sedimentos estão suspensos. É por isso que os produtores fazem a chamada “battonage”, agitando o vinho na barrica com um bastão. Nos nossos processos, com as vibrações, mantemos os sedimentos suspensos indefinidamente sem precisar movê-los com um bastão. Assim, por 12 meses, as vibrações mantêm os sedimentos sus-
pensos, melhorando a extração de suas propriedades. Essa é a parte possível de ser explicada, mas há também um efeito sobre o perfil de sabor, impossível de explicar. Como funciona o “Terroir Sonoro”?
Depois de determinarmos a frequência de ressonância, imergimos dentro da barrica um transdutor eletromagnético de som, que gera as vibrações.Tomamos os vinhos logo que completam sua fermentação malolática. Em seguida, faço uma degustação e uso minhas descrições de aroma para elaborar um esboço de trilha sonora. Submeto o resultado a outros músicos que, no estúdio, improvisam a partir dessa ideia original até chegar a um modelo final. As gravações para cada um dos vinhos são reproduzidas via transdutores dentro das barricas de carvalho francês 24 horas por dia, sete dias por semana, durante 12 meses. Que tipo de música você usa?
Varia conforme o vinho e a colheita. OTerroir Sonoro “o Cronopio” é um Cabernet muito suave, amigável, fácil de beber, com aromas reconhecíveis e muito familiares. Isso resultou em um estilo suave descontraído, com melodias muito básicas, três ou quatro notas, como pode ser visto em cada uma de suas trilhas. Em contrapartida, o Malbec “o Perseguidor” é mais complexo, um vinho mais intelectual, se é que posso chamá-lo assim, com muitas camadas de sabor, de modo que seu estilo é mais para o jazz, com mudanças na estrutura rítmica, muito improviso e técnica. revista evino | 11
ESPAÇO DO SÓCIO
VINHOS DE LOTES ANTERIORES Aproveite para comprar os que mais fizeram sucesso CHÂTEAU ROLLAN DE BY LA DEMOISELLE DE BY MÉDOC AOC 2012 Tinto · França · Bordeaux · Merlot e Cabernet Sauvignon Château Rollan de By
Ossobuco cozido no vapor
Não há
17 °C 2018
Não há
Poucos châteaux em Bordeaux carregam a bagagem histórica que fez de Rollan de By um nome legendário no mundo todo. “Um dos melhores Cru Bourgeois” e “sempre uma das mais belas escolhas de sua região”, segundo Robert Parker, a propriedade é autora do La Demoiselle de By, um rótulo atemporal que traz mais que taninos, acidez e equilíbrio: traz tradição.
evino.com.br/crbd
MELLIANUM MURELLE MONTEPULCIANO D’ABRUZZO DOP 2013 Tinto · Itália · Abruzzo · Montepulciano Cantina Miglianico Costeleta de porco com geleia de pimenta
Em barricas de carvalho
17°C 2018
Não há
Murelle foi o primeiro Montepulciano d’Abruzzo que trouxemos ao Clube Evino, e orgulhosamente com a excelência que imaginávamos ter num rótulo de estreia da apelação italiana. Com afinamento em barricas de carvalho, Murelle expressa o potencial e a qualidade tânica da uva Montepulciano, que aqui se mostra versátil e muito refinada. evino.com.br/mmma
92 NINETY WINES CRIANZA RIOJA DOCA 2012 Tinto · Espanha · Rioja · Tempranillo Ninety Wines Tagliatelle com molho de calabresa 15 meses em barricas americanas (70%) e francesas (30%), e 12 meses em garrafa
17°C 2019
Não há
12 | revista evino
Ninety Wines segue o estilo moderno de produtoras espanholas ousadas, e propõe a linha 92 para consumidores exigentes que queiram apreciar vinhos complexos no dia a dia. Com 15 meses de envelhecimento em carvalho e mais 12 em garrafa, além de um período de maceração bastante longo, o vinho 92 entrega uma expressão intensa e cheia de personalidade da uva Tempranilevino.com.br/nwcr lo em Rioja.
ARMAS DE GUERRA ROBLE BIERZO DO 2013 Tinto · Espanha · Bierzo · Mencía Armas de Guerra Lombo de cordeiro assado no sal grosso e alecrim 4 meses em barricas de carvalho francês
17°C 2020 Melhor Valor pelo China Wine & Spirits Awards 2013
“A vinha é nossa guerra”, prega o lema da vinícola responsável pelo Armas de Guerra Roble. Não se engane, porém, com o vigor desta afirmação. Ela sustenta nada além de uma abordagem incisiva, corajosa e honesta à arte da vitivinicultura, que os produtores praticam tão apaixonadamente na região de Bierzo, na Espanha, com vinhas de 70 anos da espécie Mencía.
evino.com.br/agrb
CALLAWAY CELLAR SELECTION CABERNET SAUVIGNON 2013
Tinto · Estados Unidos · Califórnia · Cabernet Sauvignon Callaway Vineyards & Winery Carré de cordeiro com molho de ervas 3 meses em carvalho francês e 6 meses em carvalho americano
17°C 2019
Não há
Produzido com a consultoria do enólogo Robert Pepi, o Callaway Cabernet traz consigo expressões de castas cuidadosamente selecionadas de vinhedos próximos à região costeira da Califórnia. Fresco, com ótima complexidade e revelando frutas maduras, ele confirma a fama da vinícola Callaway na elaboração de rótulos de alta qualidade e grande estilo.
evino.com.br/cscs
DOÑA PAULA ESTATE BLACK EDITION 2013
Tinto · Argentina · Mendoza · Malbec, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot
Doña Paula Baby beef no molho da própria carne
10 meses em barricas de carvalho francês 17°C 2021
Não há
Eleita a “marca mais valiosa do ano” pela revista Wine & Spirits, Doña Paula detém grande reputação na região de Mendoza. Um de seus rótulos mais especiais, Black Edition tem passagem de dez meses por barricas francesas e traz a expressão de Malbec, Cabernet Sauvignon e Petit Verdot no terroir de Luján de Cuyo. Aqui, elas intercalam-se e intervalem-se em suas complexidades, estruturas e aromas.
evino.com.br/dpbe
revista evino | 13
VOZES DO VINHO
Por Giuliano Agmont
Paixão pela terra Enólogo-chefe da chilena Viño Ventisquero, Felipe Tosso explica a relação entre sua devoção pelo campo e a qualidade dos rótulos que produz
C
onsiderado um dos principais conhecedores de vinho do Chile, o enólogo-chefe da Viña Ventisquero nasceu na capital Santiago, mas mudou-se ainda criança para os Estados Unidos, onde viveu por cerca de seis anos entre os seis meses e os nove anos de idade. Filho de agrônomos, desenvolveu cedo o fascínio pelo campo. Também cresceu acostumado a almoços de família na casa da avó em torno de boas mesas e bons vinhos. “Minha avó colecionava vinhos e, desde os 15 anos, já me serviam vinho, misturado com água, para preservar essa tradição familiar”. Antes de optar pela Agronomia com especialização em Enologia e Viticultra, chegou a pensar em se tornar um tenista profissional e estudar por dois anos para se tornar engenheiro civil. Pai de quatro meninas entre 5 e 12 anos, além de cinco cachorros e um gato, gosta de esquiar, jogar tênis, pedalar, praticar windsurf e agora até surfar. Aprecia boa gastronomia e ouve música todos os dias. Seu principal hobby, porém, continua sendo comprar vinhos do mundo todo e degustá-los com a família e os amigos. Sua adega conta com cerca de 400 garrafas. Prestes a chegar aos 40 anos de idade, Felipe Tosso revela nesta entrevista concedida com exclusividade para a Revista Evino os segredos de sua paixão por vinhos.
14 | revista evino
Consegue explicar sua paixão por vinhos?
Tem a ver com minha ligação com a terra. Sempre soube que não viveria na cidade. Amo o ar livre e a luz, especialmente a cor azul do céu, o mar, e tudo isso é azul. Quando conheci o mundo do vinho, soube que poderia me expressar através dessa bebida. Hoje, o vinho faz parte da minha vida, não é só um emprego, mas parte do cotidiano. Todos os dias, tomo vinho, faço mesclas de vinho, degusto vinho, penso vinho. Eu vivo no campo e sinto uma profunda ligação com a terra. Como começou sua carreira?
Como operário em uma bodega de vinhos de mesa da Concha y Toro. E foi no laboratório de lá que percebi que queria ser um enólogo. Trabalhei duro por alguns meses antes de pedir para ser transferido para a vinícola Puente Alto da Concha y Toro, onde tive contato com vinhos Premium, como o Don Melchor. Finalmente, acabei indo para a vinícola Peumo, uma das mais antigas da Concha y Toro. Lá me especializei em Merlot e Carménère. Trabalhei com grandes enólogos, como Pablo Morandé, Goetz von Gersdorf, Ignacio Recabarren, Enrique Tirado e Carlos Halaby. A primeira produção de vinho que chefiei foi a do Santa Emiliana Cabernet Sauvignon, um clássico até hoje.
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Como se tornou enólogo da Viña Ventisquero?
Quase por acaso, há 15 anos. Tinha sido vizinho do Recaredo Ossa, então diretor da Ventisquero, em Viña La Rosa e também participado de uma degustação com Aurelio Montes, assessor da vinícola na época. Eles estavam procurando um enólogo e acabei sendo selecionado. De lá para cá, nosso maior desafio tem sido o de construir um projeto com filosofia, com estilo. Acho que conseguimos. Temos um estilo claro, vinhedos de alta qualidade e uma excelente equipe. Você foi eleito “Enólogo do Ano” pelo Círculo de Cronistas Gastronômicos do Chile em 2012. Quais técnicas o consagraram?
E quanto aos solos onde produz seus vinhos? Fale também sobre as uvas e o blend...
Para produzir vinhos de alta qualidade, é preciso ter um grande terroir e saber reconhecer suas grandes uvas. O processo e o estilo são muito importantes, mas a qualidade das uvas ainda é a coisa mais importante. Uma das principais técnicas que usamos na busca do estilo do vinho é trabalhar a qualidade dos taninos. Executamos uma fermentação lenta, cuidando da extração de taninos diariamente. Mas, na prática, um grande vinho é feito de milhares de pequenos detalhes e uma boa dose de paixão.
Temos seis vinhedos diferentes, com uma grande diversidade de solos, da argila com granito e os solos de pedra até os solos de calcário (Atacama) e vulcânicos. Essa diversidade faz com que nossa equipe de enólogos e viticultores possa experimentar uma ampla gama de possibilidades para as variedades individuais. Nosso trabalho tem sido reconhecer quais solos são melhores para cada variedade, e em que clima.
Com quantas safras você já trabalhou ao todo? O que muda de uma para outra?
É um projeto extremo ter um vinhedo no deserto. O maior desafio foi conseguir que as parreiras crescessem em um meio adverso, em solos com pouca argila vermelha e pedras de rio, e também com alto teor de calcário ou carbonato de cálcio, um solo de cores diferentes, onde se misturam vermelhos, brancos e cinzas de pedras de rio. Além de tudo isso, a água é muito salgada, o que é o maior desafio. Porém, com todas essas limitações, nossas parreiras crescem com pouca força,
No Chile foram 21 safras. No exterior foram três, nos Estados Unidos, França e Itália. Cada safra é muito diferente, um desafio novo, por causa de mudanças de temperaturas, chuvas, primaveras e assim por diante. É como ter filhos todos os anos. Eles podem ter o mesmo sangue e até se parecer, mas cada um apresenta sua personalidade. 16 | revista evino
Quais foram os maiores desafios na produção da linha Tara, no deserto do Atacama?
produzindo uvas de grande concentração e caráter, que amadurecem com baixo teor de açúcar. Mesmo enfrentando clima extremo, com frio todas as manhãs. Máxima de apenas 16 graus na parte da manhã e à tarde com máxima de 25-26 graus e muito vento. Ou seja, é um deserto costeiro frio, muito difícil de ser encontrado em outras partes do mundo, o que torna sua uva única. Portanto, o desafio é compreender um terroir antigo, mas também muito novo para clássicas variedades de uva, como Chardonnay, Syrah e Pinot Noir. Como tem sido sua relação com John Duval?
A gente se conheceu em 2003, com sua primeira visita ao Chile. Depois, fizemos a primeira colheita juntos em 2004. John é consultor e, simultaneamente, parceiro. Mas, para mim, também é um mentor, além de amigo. Ele é um dos maiores enólogos da Austrália, é um produtor com grande sabedoria e grande experiência. Muito humilde e calmo, com uma grande capacidade para degustação e grande expertise para fazer blends. Um craque, e uma pessoa de grande humanidade.
Para produzir vinhos de alta qualidade, é preciso ter um grande terroir e saber reconhecer suas grandes uvas. O processo e o estilo são muito importantes, mas a qualidade das uvas ainda é a coisa mais importante”
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E quanto aos demais vinhos Ventisquero?
Temos vários vinhos muito distintos. São rótulos emblemáticos como Pangea, Enclave, Vertex e Heru, além do Tara e do Grey. O Enclave é feito com uvas provenientes de Alto Maipo, especificamente de Pirque, colhidas de vinhedos com mais de 23 anos de idade. Mistura Cabernet, Petit Verdot, Carménère e Cabernet Franc. Um estilo clássico e moderno. Foi o último projeto que fizemos com John Duval, que consumiu 10 anos até encontrarmos a mistura que queríamos. O Pangea foi nosso primeiro vinho Grand Premium com o John. É um vinho com identidade forte e caráter, 100% Syrah de Apalta. Já o Vertex foi a primeira mistura de vinho com John Duval. É uma mescla de Carménère e Syrah, talvez o único vinho chileno Premium de uma mistura dessas duas variedades. Por fim, o Heru é um elegante Pinot Noir de Casablanca, mágico, que vem de uma colina em forma de concha de tartaruga. É um terroir perfeito para Pinot. Há também a linha Grey...
A linha Grey existe desde o início da Ventisquero. Tínhamos pensado em fazer apenas o Grand 18 | revista evino
Reserva, chamado hoje Queulat. Mas ao percebemos o potencial do nosso vinho, fizemos uma pequena quantidade e a deixamos em barricas de carvalho francês por mais tempo, 18 meses. Era um experimento. Ao provar o vinho e constatar sua qualidade, tomamos a decisão de vendê-lo como Grey. Quais os planos da Ventisquero?
Um enólogo está sempre experimentando. Hoje, temos vários projetos acontecendo simultaneamente. Mas, enquanto não se tornam realidade, é difícil comentar. O que posso dizer é que esperamos uma evolução a partir dos vinhedos de Apalta, provavelmente em dois anos. Quais suas dicas para quem está entrando no mundo do vinho?
Experimentar sempre. Estamos em um dos melhores momentos da era do vinho. Sugiro que quando encontrar um produtor de que goste, compre várias garrafas e guarde algumas. Em seguida, continue experimentando vinhos de diferentes países, feitos com diferentes uvas, procurando sempre identificar o melhor para cada ocasião.
LARES DO VINHO
por Giuliano Agmont
DESERTO NAS
ALTURAS Com nove vinícolas aos pés da Cordilheira dos Andes, a Bodega Zuccardi expressa como poucas as particularidades de Mendoza, na Argentina
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T
udo começou com a construção de um sistema de irrigação de solo em uma porção de terra improdutiva aos pés da Cordilheira dos Andes. A ideia era aproveitar os recursos dos rios abastecidos pelo degelo das montanhas para o cultivo de uvas em uma região essencialmente desértica. Isso aconteceu em 1963, no distrito de Maipú, em Mendoza, oeste da Argentina. Na ocasião, o engenheiro civil Alberto Victorio Zuccardi, nascido do norte do país, nem imaginava que seu sobrenome um dia rodaria o mundo estampado nos rótulos de alguns dos mais famosos vinhos argentinos. Os resultados dos testes com o invento se mostraram tão animadores que, cinco anos depois, em 1968, o jovem empreendedor já tinha aberto sua própria adega, canalizando parte do gelo derretido até pipas subterrâneas nas proximidades das parreiras. Até hoje, a água usada na irrigação das vinhas da Bodega Zuccardi vem dos Andes. Passados quase 50 anos, o negócio se expandiu, sem se restringir a Maipú. Pronta para inaugurar uma moderníssima vinícola, a família cultiva atualmente nove vinhedos em diferentes lugares de Mendoza, dos quais sete estão no Vale de Uco, em regiões como Altamira, La Consulta, Vista Flores e San Pablo. No total, já são mais de 750 hectares de terras plantadas, sendo 280 hectares apenas no Vale de Uco.
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distâncias muito curtas, o que garante um plantio e uma colheita mais precisos, e também, variedades interessantes de vinho”, explica Sebástian. Esse trabalho de pesquisa de solo criou condições para a construção de uma nova vinícola da Z uccardi em Altamira. “É uma vinícola projetada a partir da vinha. É um vinho que vai envelhecer em tonéis de concreto sem epóxi, um aliado para a expressão dos nossos terroirs. A bodega tem reservatórios de 2.000, 3.000, 5.000 e 7.500 litros, o que nos permite manter e expressar a diversidade que vem da vinha. Essa nova vinícola está preparada para vinificar até 800.000 litros por ano”.
O enólogo Sabástian Zuccardi, neto de Alberto, diz que produz em Mendoza um vinho de montanha, com características de clima, água e solo determinadas pelos Andes. Nas palavras dele, com o bloqueio da influência marítima pela cordilheira, Mendoza é um deserto, mas um deserto de altura, o que lhe dá potencial viticultor. “A altura permite-nos cultivar em áreas mais frescas, gerando maior amplitude térmica, importante para o amadurecimento de nossas uvas, além de nos trazer para mais perto do sol, o que nos dá luz pura, vital na definição de nossos vinhos”, explica Sebástian. “A água também vem das montanhas, já que aproveitamos o degelo para irrigar as vinhas. E, finalmente, todo o solo sobre o qual cultivamos tem sua origem nos Andes. São solos aluviais, que foram formados há milhões de anos a partir de grandes movimentos de água das montanhas. À medida que aproximamos o cultivo dos Andes, o solo se torna mais rochoso e com um aporte de minerais que dá aos vinhos uma identidade única”. As decisões técnicas e administrativas da Bodega Zuccardi são tomadas para que cada vinhedo expresse a particularidade do lugar onde germina. “Trabalhamos duro para dividir os vinhedos por tipo de solo, uma vez que os solos aluviais são heterogêneos e podem mudar em
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Os vinhos da família Zuccardi passaram por diferentes momentos nas últimas décadas. Depois de construir uma bodega respeitando a tradição de Mendoza, erguendo paredes de pedra e cimento de tons cinza, com detalhes em madeira e ferro, sem muito refinamento, apelando justamente para manter o ambiente de zonas rurais, Alberto e a esposa Emma prosperaram. Mas a participação do filho José Alberto acabou sendo decisiva para a vinícola se tornar o que é hoje, já com atuação de três gerações da família e pelo menos 700 funcionários. Foram diversas passagens. Em 1980, os Zuccardi iniciaram um processo de conversão de seus vinhedos para produzir vinhos variados, de alta qualidade. Essa decisão foi crucial para a criação da linha Santa Júlia (em homenagem à única filha de Alberto e Emma). Em 1999, lançaram o vinho Zuccardi Q Tempranillo, primeiro vinho Ultra Premium elaborado na Argentina com as uvas Tempranillo. Nos anos seguintes, outros Ultra Premium foram desenvolvidos com uvas Malbec, Cabernet Sauvignon e Chardonnay. Enfim, no início dos anos 2000, nasceram novos projetos com a adesão de outros membros da família, como Sebástian, que está à frente justamente das vinícolas agrícolas da região do Vale de Uco onde a família produz as uvas de maior qualidade, usadas na fabricação dos vinhos de alta gama. Já a irmã de Sebástian, Julia, abriu na adega um restaurante e um centro de visitantes (Casa
Igenduciist pla nis exercia delistem. Ut fugiam sectorestis etus sum velectu reratem sumquundio
delVisitante) enquanto o terceiro filho, Miguel, se dedica à produção de azeite de oliva. Mais recentemente, eles inauguraram o Pan y Oliva, também em Maipú. O terceiro restaurante será montado em Altamira, junto com a nova bodega. Entre os vinhos Zuccardi estão os da linha Finca, o Piedra Infinita e o Canal Uco, ambos 100% Malbec, e o Los Mebrillos, um Cabernet Sauvignon de três solos diferentes do mesmo vinhedo; a linha Aluvial (Consulta, Altamira e Vista Flores), que expressa a região do Vale de Uco através da mesma variedade, Malbec; dois rótulos em homenagem aos fundadores da bodega, o Tito e o Emma; e o Q, que mescla as variedades Chardonnay, Malbec, Cabernet Sauvignon e Tempranillo. José Alberto Zuccardi, que perdeu o pai e fundador da bodega em 2014, se diz “um agricultor, um produtor”. Para ele, o vinho não é uma bebida, mas, sim, uma forma de viver, tanto para o produtor quanto para quem bebe vinho. “O vinho significa muita coisa num conjunto social, numa mesa. É um vínculo entre as pessoas, uma conexão turística, que vincula gastronomia e muitas outras atividades. É incrível. Como uma cebola, a cada camada compreendemos algo novo. E surgem novas e novas camadas, algo espetacular”.
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COM ELA, A PALAVRA...
Quer ganhar dinheiro com VINHO? Existem maneiras que vão além do exercício de profissões como sommelier ou consultor Jessica Marinzeck
O
mercado de vinho está em grande expansão. Cada vez mais pessoas se interessam pelo assunto, buscam aprofundar seu conhecimento na área e acabam até se profissionalizando. Mas não pense que explicaremos aqui como se tornar um sommelier ou como ingressar nesse mercado. Nada disso. A ideia é outra. Já pensou em investir mesmo em vinho? Não é de hoje que o investimento na bebida mostra-se frutífero. Bem antes do boom do vinho nos anos 1990, algumas pessoas já compravam mais do que o necessário para ser degustado em casa, com a intenção de que essas mesmas garrafas financiassem compras futuras de rótulos mais qualitativos. Hoje é a Ásia, mais precisamente Hong Kong, o grande centro dos negócios, onde leilões de dimensões inacreditáveis são realizados. Em outubro de 2014, a venda mais cara de um lote de vinho aconteceu por lá, em um leilão da Sotheby´s – empresa inglesa de maior renome no ramo. Exatas 114 garrafas de Romanée-Conti, o famoso Domaine da Borgonha, foram arrematadas por £ 1.035.000,00 (libras esterlinas), cerca de R$ 5.429.592,00. Ou, num número mais fácil de assimilar, o equivalente a R$ 47.628,00 a garrafa. Qual o primeiro passo para chegar a patamares tão altos? Antes de tudo, entender o que se está comprando e comprar o que se gosta de beber. Sim, trata-se de um investimento e, como os demais, este tem alguma chance de dar errado. Por isso, se sua aposta não prosperar, você pode degustar seu valioso vinho.
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Minha dica é: leia bastante, e inteire-se a respeito do que está em alta no mercado e o que provavelmente estará nos próximos anos. Estude.Assim como faria para investir na bolsa. Bordeaux 1er Cru, como Château Lafite Rothschild, Margaux, Latour, Haut-Brion, os tops Domaines da Borgonha, alguns produtores do norte e do sul do Rhône, além das casas mais tradicionais de Champagne são boas opções. França sempre foi – e provável que nunca deixe de ser – berço de artefatos de grande preciosismo. Alguns Supertoscanos, como Ornellaia, vêm performando muito bem e de modo bem estável nos últimos anos. Se deseja aventurar-se fora da Europa, alguns ‘cult wines’, como são chamados os vinhos de alta gama nos Estados Unidos, podem ser um caminho arrojado, embora interessante, se fizer as escolhas certas. Screaming Eagle é um rótulo que está no radar do pessoal. É claro que investir em vinhos deste valor requer outros cuidados de sua parte que não somente o estudo do mercado. Providenciar uma boa adega ou mesmo alugar um espaço para o correto armazenamento da bebida é fundamental para manter seu investimento bem cuidado. Em todo caso, tenha paciência. Geralmente, leva-se de cinco a dez anos para começar a obter os resultados desejados de um investimento em vinhos. Falemos de números? Quanto é necessário para entrar na brincadeira? Na realidade, não existe um valor mínimo. Porém, de acordo com a Berry Bros & Rudd, o maior merchant de vinhos no mundo, que teve suas portas abertas em 1698 na Inglaterra, o equivalente a R$ 30.000,00 é o suficiente para começar com um bom portfólio de produtos. E aí, vai encarar?
EM ROTA
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por Carlos Marcondes
Vinhas
RELUZENTES Conhecer o mítico Douro, em Portugal, uma das regiões vitivinícolas mais belas da Terra, é uma missão compulsória para quem ama o vinho ou pretende se apaixonar por ele
E
ntardeceres causam fascínios em diversas partes do planeta. Mas há certos lugares em que a natureza foi mais generosa, superou expectativas e, sabiamente, o homem soube integrar-se a ela com maestria. Assim a luz brilha no Douro, penetra em suas escarpas recheadas de vinhas e avança dentro do famoso rio que sofre uma metamorfose de cores ao encontrar-se com o astro rei. Compreende-se, então, o porquê do nome dourado, em um espetáculo que emociona. Pode soar poético, mas não é por acaso que a região chamada de Alto do Douro Vinhateiro (ADV) – que faz brotar uvas que dão origem ao icônico Vinho do Porto – foi tombada pela Unesco em 2001, garantido sua preservação. Desde então, tornou-se um dos principais cartões-postais de Portugal. A cidade do Porto é ponto de partida para conhecer o Douro. É pertinho dela que o rio encontra sua foz, na vizinha e histórica Vila Nova de Gaia, onde evoluem muitos dos famosos vinhos licorosos. O percurso é longo, são 927 km desde a nascente, na Espanha (chamado de Duero), cortando o norte de Portugal, até seu repouso em águas atlânticas.
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De Vila Nova de Gaia saem diversos charmosos cruzeiros que desbravam o rio, com degustações programadas em renomadas quintas produtoras de Porto e excelentes vinhos tranquilos. São passeios de um dia que percorrem dezenas de quilômetros, podendo retornar de trem, até opções mais intensas, de até uma semana, a bordo de luxuosos navios que avançam à Espanha.
Seixo. Na visita à propriedade, que pertence à gigante, é possível degustar diversos estilos de Porto da marca do grupo Sandeman, uma das mais tradicionais do país, com louváveis 225 anos de fundação. Foram investidos milhões de euros na construção de um moderno edifício enoturístico, que inclui um museu interativo da bebida.A panorâmica é uma das mais belas do Douro.
Reservar um dia, ou uma tarde ensolarada, para navegar é essencial. Mas o recomendável é mesclar os passeios em água, com a liberdade de poder desbravar o interior de carro, conduzindo pelas estradinhas que cortam os vinhedos escarpados e os pitorescos vilarejos.
O visual dali compete com o da emblemática Quinta do Crasto, reconhecida principalmente por seus vinhos tranquilos e por premiados azeites. A propriedade de 130 hectares, sendo 70 de vinhas, tem uma das piscinas mais cobiçadas do país. O cultuado arquiteto Eduardo Souto de Moura foi o criador do projeto que faz das águas do Douro a extensão do fundo infinito da borda piscina.
NO CORAÇÃO DO RIO Para muitos, a acolhedora Peso de Régua é considerada a capital da região. É nessa vila, de pouco mais de 5.000 habitantes, que se encontra o Museu do Douro, um santuário de histórias e peças que conectam o vinho ao terroir. Patrimônio Cultural de Portugal, o acervo fica na antiga casa da Real Companhia Velha, clássica quinta lusitana. Na visita tem-se um incrível panorama da força do Douro, que é aclamado pelos portugueses como a primeira Denominação de Origem Protegida (DOP) do mundo, declarada em 1756. A disputa é com a húngara Tokay, que afirma ser ainda mais velha. Encontram-se ao lado de Régua outros cativantes vilarejos, como Mesa Frio e Pinhão, este último base para provar rótulos de algumas das principais produtoras, como a Quinta do
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No local estão disponíveis quatro exclusivas suítes para afortunados, e fãs dos vinhos elaborados pela família Roquette. Miguel, da terceira geração, que possui um aguçado sotaque carioca por ter vivido no Rio, conta que boa parte dos hóspedes e visitantes é composta por brasileiros. “Promovemos nossa Quinta pessoalmente no Brasil diversas vezes por ano e é, sem dúvida, um dos nossos mais importantes e carinhosos mercados”, revela. Para quem prefere hospedar-se bem ao lado do rio, uma das opções mais requintadas é o “cinco estrelas” CS Vintage House. Cercada por vinhas, o charmoso
hotel preserva traços históricos do século 18, dos tempos em que a casa era uma herdade e produzia bons vinhos. Das varandas dos quartos o cenário bucólico do Douro é cinematográfico. DELÍCIAS DA TERRINHA A diversidade de pratos e receitas deste pequeno país é de dar inveja a muitos gigantes. O norte de Portugal é celeiro de ótima gastronomia, receitas que se integram a dezenas das quase 300 castas endêmicas da nação, como touriga nacional, touriga franca, tinta barroca, tinto cão, malvasia e rabigato. A maioria dos restaurantes presentes nas pequenas vilas serve especialidades simples e caseiras, que retratam a real cultura local, na qual o comensal deve comer bem e pagar o justo, o que, para padrões europeus, significa encontrar verdadeiras pechinchas.
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A lista de típicos é vasta, como o pão regional da Lapa, os embutidos caseiros, o carneiro assado em antigos fornos de lenha, os torresmos à moda de Cinfães, as icônicas bolas de Lamego (torta com recheio de carne), os pescados e as emblemáticas trutas dos vilarejos. Entre os açucarados, destaques para os doces de amêndoa, cavacas de Resende (pão de ló) e o tradicional bolo-rei da cidade de Tabuaço. Se o simples já aguça o paladar, há também o lado sofisticado e delicado da gastronomia dourense, afinada para compor com o enorme repertório de bons vinhos. Um dos melhores exemplos dessa vocação, de modernizar o tradicional, é o original restaurante DOC, do conceituado chef Rui Paula. Entre Régua e Pinhão, ele brilha nas margens do rio, em um projeto autêntico, assinado pelo arquiteto Miguel Saraiva.
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A premiada carta de vinhos conta com mais de 600 rótulos, quase todos locais e com diversas raridades. Já o menu é inspirado nas receitas tradicionais da avó do chef, como o carneiro ao forno e o bacalhau com batatas ao murro. Rui Paula, que já publicou alguns livros da gastronomia regional, busca usar da influência cultural para recriar propostas originais à altura dos vinhos do Vale. “Fazemos uma cozinha etno-emocional, sem limites geográficos à criação, porém ligada às nossas raízes”, revela o chef. Além de talento, Rui tem o privilégio de poder mostrar sua arte em um lugar inspirador. No Douro, o tempo nunca teve pressa, ele evolui sem deixar danos, e a saudável harmonia entre o homem e a natureza gera um magnífico paraíso enoturístico.
PROGRAMA-SE O IVDP (Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto) disponibiliza informações valiosas sobre a região. No site ivdp.pt também é possível acessar o mapa interativo com a Rota do Vinho do Porto, que traz 54 locais relacionados com a cultura do vinho, além de informações sobre dezenas de quintas, das rústicas às gigantes portuguesas. Alguns sites como dourovalley.eu e douro-turismo.com oferecem dicas úteis para deixar a viagem mais completa. A Douro Cruzeiros Turísticos e a Roterio do Douro são duas das principais operadoras que oferecem variadas opções de pacotes para conhecer os arredores do rio in loco: douro.com.pt e roteirododouro.com ENTRE PRATOS E TAÇAS • Restaurante “DOC” – ruipaula.com na vila de Folgosa. • Em Peso da Régua, o restaurante e wine bar “Castas e Pratos” oferece gastronomia dourense moderna, dentro de um armazém bem descolado: castasepratos.com
• Em Pinhão, vale conferir o caseiro “Segredos do Douro”, onde se come enguias, sardinhas e outras especialidades lusitanas com um preço atrativo. Telefone: +351 254 732 436. • Outro tradicional é o “Restaurante do Paulo”, em Vila Real. Tripas, joelho de porco e arroz de pato à antiga estão entre as especialidades rústicas locais. Mais informações no restauranteopaulo.pt/. HOSPEDAGENS • Hotel CS Vintage House – csvintagehouse.com • Hotel Rural Quinta do Pego - quintadopego.com • The Wine House Hotel - quintadapacheca.com VINÍCOLAS PARA WINETASTING • Quinta do Crasto – quintadocrasto.pt • Quinta do Seixo/Sandeman – http://www.sandeman.com • Quinta dos Murças – esporao.com/quinta-murcas • Quinta da Romaneira – quintadaromaneira.pt/en/
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COMES SE BEBES
Culinária japonesa O chef Fabio Koyama, do badalado restaurante Minato Izakaya, de São Paulo, sugere um prato com frutos do mar para harmonizar com um espumante branco e carne de wagyu para combinar com um vinho tinto
Bife de wagyu Ingredientes
• 300 g de contrafilé de wagyu • Sal a gosto chef Fabio Koyama, do Minato Izakaya
Molho • Alho ralado • Limão • Wasabi • Pimenta togarashi • Gengibre • Cebolinha
Modo de Preparo
Dois tombos no fogo alto, 2 minutos de cada lado. Sal a gosto. Sirva com o molho à parte.
A harmonização
Por se tratar de uma carne vermelha mais gordurosa, um tinto com bons taninos e de rica acidez como este italiano é uma opção certeira para harmonizar com Wagyu. Por ser mais gordurosa, a carne ajuda a equilibrar a acidez do vinho e vice-versa. Com relação aos taninos, por sua sensação de adstringência, sua harmonização por contraste se dá com alimentos gordurosos como essa carne.
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O vinho
Winemaker’s Collection Montepulciano d’Abruzzo 2013 Produtor: Casa Vinicola Zonin Região: Abruzzo País: Itália
Fotos: Luna Garcia/Est煤dio gastron么mico
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Umi no sati Ingredientes
chef Fabio Koyama, do Minato Izakaya
Molho • 3 camarões rosa • Polvo • Vieira (congelada) • Tofu / Uni (ova de salmão) / Ikura (ouriço) • Ostra
Molho (ostra) • Shoyu • Limão siciliano • Pimenta togarashi Temperos • Peixe katsuo ralado (vieira) • Cebolinha • Chissô desidratado (polvo)
Modo de Preparo
Ferva o polvo por 21 minutos e tempere com chissô desidratado. Seque e rale o peixe katsuo para depois aplicar na vieira descongelada. Ferva o camarão rosa por dois minutos e posicione no prato. Monte o uni e a Ikura sobre o tofu. Abra as ostras e sirva com o molho de shoyu com limão siciliano e pimenta tagarashi. Salpique a cebolinha.
A harmonização
Os espumantes são versáteis e vão bem com aperitivos ou entradas em geral e também com frutos do mar e carnes brancas. A boa acidez e as borbulhas deste francês seco, leve e frutado ajudam a limpar o palato cada vez que levamos o alimento à boca, além de refrescar o picante do prato trazido pela pimenta e o salgado trazido pelo shoyu. 34 | revista evino
O vinho
Famille Castel Cuvée Blanche Brut Produtor: Grupo Castel Região: Anjou País: França
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VINIFIQUE-SE
por Raphael Pugliesi
ROLHA OU ROSCA? De um lado, séculos de tradição. Do outro, os benefícios da modernidade e inovação
O
mundo é cercado de questões sem respostas. Das mais prosaicas às existenciais. Algumas são inquietantes, outras apenas fazem rir. No universo do vinho, os dilemas também permeiam acalorados debates. E uma das mais frequentes perguntas recai sobre a vedação das garrafas: “Rolha de cortiça ou tampa de rosca?”. A palavra mais oportuna para uma pergunta como essa não poderia ser outra senão “depende”. Extraída da árvore sobreiro, a rolha de cortiça surgiu em meados do século 14, quando o vinho passou a ser armazenado em garrafas de vidro. Graças à sua eficiência, em poucos anos, já era considerada uma espécie de troféu por apreciadores da bebida. Ela trouxe consigo não apenas uma forma mais eficaz de preservar rótulos, mas
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também uma paixão ainda maior pelo universo vinícola ao emprestar certa mística ao ato de beber. Entretanto, os fãs da boa e velha rolha não poderiam imaginar que seis séculos depois surgiria uma nova tendência de fechamento: a tampa de rosca. Em resposta ao preço alto da cortiça, resultante da escassez do sobreiro, nos anos 1960, surgiu a screwcap (ou tampa de rosca). Trata-se de uma cápsula de metal com ranhuras que tornam possível abrir e fechar garrafas girando a tampa. Por ser mais acessível e infinitamente mais prática, ela rapidamente se tornou tendência em grande parte do Novo Mundo vinícola. Porém, os produtores mais tradicionais, especialmente os poderosos da vinificação europeia, ainda se negam a utilizá-la. Daí a questão: qual seria o problema com a tampa de rosca?
Toda a polêmica gira em torno da interferência da oxigenação durante o envelhecimento
DIZEM POR AÍ:
Tampa de rosca serve apenas para brancos, rosés e tintos de consumo imediato, pois o vinho necessita de um mínimo de oxigenação para evoluir em garrafa, o que é proporcionado apenas pela rolha. É FATO POR AQUI:
Na verdade, graças ao avanço tecnológico, hoje é possível produzir screwcaps que permitem uma entrada calculada de oxigênio. Alguns vinhos já conseguiram evoluir de 10 a 15 anos com tampa de rosca. DIZEM POR AÍ:
Em 2005, o respeitado enófilo neozelandês Alan Limmer escreveu um artigo cravando a palavra contra: o processo de engarrafamento com tampa de rosca pode gerar aromas de enxofre, chamados de “SLO” (Sulphur-Like Odour). Por isso, jamais será tão eficiente quanto a rolha. É FATO POR AQUI:
Sim, existe a possibilidade de o processo de engarrafamento com a tampa de rosca ocasionar o “SLO”. Por outro lado, a rolha pode ter um problema chamado bouchonner, cientificamente conhecido como “TCA” (Tri-Cloro-Anisol), que geralmente acontece por um lapso no processo de higienização da cortiça e também interfere em aromas e sabores do vinho. A boa notícia é que em ambos os casos fabricantes e produtores têm como interceder para evitar que os problemas venham a acontecer.
CONCLUSÃO
Apesar de ainda precisar superar muitas barreiras, parece certo que a tampa de rosca conquistará, em breve, boa fatia do mercado. Contudo, ela jamais substituirá a rolha, por mais prática que seja. É como lápis e lapiseira – uma invenção não extinguiu a outra. São simplesmente propostas diferentes. Um vinho com screwcap pode evoluir 15 anos, mas dificilmente chegará aos 30. E mesmo que, um dia, a rosca seja aperfeiçoada e consiga atingir essa marca, existe algo que até mesmo o mais moderno produtor precisa aceitar: a rosca nunca superará o charme e a tradição da rolha de cortiça. Então, entre uma e outra fique com ambas. Quem disse que todas as perguntas precisam ser respondidas? revista evino | 37
TERROIRS
por Larissa Mayra
Cores,
Sabores
e amores
Conheça segredos, minúcias e detalhes de Vêneto, a maior região vinícola do nordeste italiano
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Método de Appassimento seca as uvas durante três ou quatro meses
E
studos indicam que o início da história do vinho no Vêneto remonta à Antiguidade, quando povos que viviam na península Itálica, em Etrúria, conquistaram a região e começaram a comandar o mercado local, composto pelas práticas agrícola e vinícola. Localizada no nordeste da Itália, entre os territórios de Lombardia, Trentino-Alto-Adige, Friuli-Venezia-Giulia e Emilia-Romagna, fazendo divisa também com o mar Adriático, a região do Vêneto tem produção vinícola correspondente a aproximadamente 10% do total do país. Subdividida em seis zonas, a área, que é a maior do nordeste italiano, abrange uma extensão de 18.364km², sendo que cerca de 70.000 hectares (ou 700 km²) são destinados à atividade da viticultura. Trata-se de um território com produção estimada em 850 milhões de litros por ano, o que equivale ao triplo do que se engarrafa no Brasil. A região do Vêneto é conhecida por sua infindável gama de Proseccos, Bardolinos, Soaves, Valpolicellas, Reciotos e Amarones. Ela compreende cidades como sua capital Veneza, o cenário da história de Romeu e Julieta; Verona, a comuna conhecida pela paisagem arquitetônica; Vicenza, o local tido como berço dos Proseccos; e Pádua, a terra do turismo. O Vêneto está situado numa região que se beneficia de excelentes características geológicas e climáticas para a prática da viticultura. Ele desfruta de grandes variações de altitude (como a elevada perto dos Alpes e a baixa próxima ao mar Adriático), clima (mediterrâneo adjacente ao oceano e do continental influente no interior) e solo (com sedimentos minerais e orgânicos, de calcário e granito). Um dos três principais produtores de vinho da bota ao lado da Puglia e da Sicília, o Vêneto é capaz de acolher uma diversidade de castas. As autóctones Corvina Veronese, Molinara e Rondinella e as estrangeiras Merlot e Cabernet Sauvignon são algumas das principais uvas tintas que encontraram seu esplendor nas terras da região. Responsável por comporem o vinho tinto Bardolino junto à cepa Negrara, o trio nativo também é encarregado de originar, ao lado de outras minorias, o famoso Valpolicella. Ambos os rótulos têm
como características a leveza, a deliciosa profusão de frutas vermelhas e a degustação necessariamente jovem. Mas aqui vale o lembrete: não confunda Valpolicella com Recioto della Valpolicella ou Amarone della Valpolicella. Basicamente, o Recioto é um vinho doce enquanto o Amarone é estruturado, frutado e concentrado. Elaborados a partir do método Appassimento, no qual as uvas utilizadas para a sua produção são deixadas para secar durante três ou quatro meses, ambos revelam maior concentração de açúcar, sabores, aromas, taninos e material colorante. Aliás, é interessante saber que o segundo é um dos rótulos mais imponentes, robustos e alcoólicos do mundo e, não à toa, tem um preço bastante elevado no Brasil. Já quando o assunto é vinho branco, o Soave lidera a lista. Vinificado com as duas castas brancas mais importantes do Vêneto, Garganega e Trebbiano, ele, ao contrário do que parece, é seco e nada suave. Por fim, o Prosecco, tão conhecido pelos clientes da Evino. Ele é um dos espumantes mais famosos do mundo e é fabricado por meio do método Charmat (diferente do Champenoise, utilizado em Champagne). Elaborado 100% da ex-uva homônima – “ex” porque hoje ela não atende mais pelo nome de Prosecco e, sim, Glera –, ele é apreciado na Itália há mais de um século. Há uma conexão muito mais enraizada entre o Vêneto e o mundo do vinho do que se pode colocar em palavras. Ou seja, para poder verdadeiramente conhecer, explorar e desvendar essa terra repleta de segredos, minúcias e detalhes, só a conhecendo mais a fundo. revista evino | 39
ENQUANTO ISSO, NA EVINO…
O QUE EXISTE POR TRÁS DA SUA COMPRA
U
ma janela se abre em sua tela com dezenas de opções de vinhos com foto, conteúdo e preço. É possível navegar por eles, descobrir suas histórias, escolher alguns e, em poucos cliques, efetuar uma compra. Dias depois, eles estarão na porta da sua casa. Todo esse procedimento é realmente muito simples, e proporciona um conforto que faz até a vida parecer um pouquinho mais divertida. Pois é. A questão é que, por trás de tudo isso, existe um trabalho fascinante de entender opções de usabilidade para o site e decidir como se faz bom uso delas. Tudo gira em torno do objetivo de criar uma plataforma que possa proporcionar uma experiência interessante ao usuário - melhor dizendo, a você. E é aí que entra nosso time de Tecnologia da Informação - o famoso TI. Entenda como funciona o fluxo de criação, por exemplo, de uma nova funcionalidade para o site:
Primeiro, surge a ideia. Na verdade esta é a etapa mais fácil, que costuma acontecer entre trezentas e oitocentas vezes por dia. É por isso que precisamos de um bom filtro, capaz de identificar as ideias verdadeiramente promissoras para que, depois, possamos aperfeiçoá-las. Aí entra a parte filosófica do processo todo: entendemos qual a aplicabilidade de um recurso, avaliamos qual sua prioridade em relação aos outros, e calculamos seu impacto no sistema, bem como o retorno esperado por sua implementação. Uma vez aprovada em todas as “instâncias”, a função é desenvolvida pelos programadores e, quando finalizada, é direcionada à área de QA (Controle de Qualidade, na sigla em inglês), responsável por testá-la primariamente num ambiente de simulação. Se o QA consentir, ela entra no site - mas com algumas condições… a implantação é feita primeiramente num teste A/B, portanto aparece apenas para alguns clientes selecionados randomicamente. Neste período de maturação (como um vinho!), recebemos os primeiros feedbacks de usuários, identificamos os potenciais problemas que o recurso possa gerar e já os solucionamos antecipadamente. Comparamos as versões A e B, avaliando se a mais nova está, de alguma forma, facilitando a vida dos clientes. Se a conclusão for positiva…
Habilitamos a nova funcionalidade no site para todos os clientes.
Imagine só que, em cada uma de todas essas etapas, muitas ideias vão sendo descartadas, portanto são poucas as que, de fato, passam no nosso crivo para compor o site da Evino. Com o mantra “menos é mais”, a equipe de TI trabalha não para fazer o máximo possível, mas sim para implementar o mínimo possível sem deixar de garantir um site simples, prático, limpo e de usabilidade incrível. 40 | revista evino
O FAVORITO
LUA BRILHANTE Luna Elements é um exemplar do grupo Laudun Chusclan que revela toda a elegância de uma das mais importantes regiões vinícolas da França
P
roduzido pelo grupo francês Laudun Chusclan Vignerons, ‘O Favorito’ desta edição é sinônimo de sucesso. Há alguns meses importamos algumas centenas de garrafas do Luna Elements e, em pouquíssimos dias, não havia nenhuma no estoque para contar história.
e Syrah, a estrela do mês de outubro traz na bagagem a qualidade indiscutível dos frutos utilizados no processo de produção. Cultivadas em solos pobres, que limitam a fertilidade das vinhas e, portanto, fornecem bagas mais saudáveis, as uvas revelam equilíbrio impecável.
Elaborado em Côtes du Rhône Villages, uma das denominações mais importantes do Rhône e a segunda maior da região, ele traz consigo a tradição e excelência da milenar Laudun, comuna francesa que tem em seu território vinhas antigas datadas de 300 a.C.
Enquanto as facetas frutadas da Grenache se fazem notar no nariz, a complexidade e os taninos ricos e presentes da Syrah seduzem no paladar. Atraente como a Lua, Luna encanta pelo caráter minimalista.
Apresentando uma belíssima harmonia entre as castas típicas da área, Grenache Noir
Conheça em: www.evino.com.br/luna-elements-favorito
LAUDUN CHUSCLAN LUNA ELEMENTS CÔTES DU RHÔNE VILLAGES 2013 2013 Tinto · França · Côtes du Rhône · Várias uvas
Laudun Chusclan Vignerons Costeletas de Vitela
Não há
17°C 2017
14% Vermelho rubi profundo com reflexos granada Bouquet vívido com profusão de cerejas maduras, geleia e figo. Elegante, atraente e tem notas frutadas que se misturam com taninos macios e aveludados.
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DE R$ 79,80
POR
R$ 41,90 revista evino | 43
PARA BRINDAR
Vinhos para alegrar a vida
O mês de outubro representa o auge da primavera. As ruas, os bosques e os parques são dominados pelos mais diferentes tipos de cores. É por isso que precisamos dar uma atenção especial a nossas adegas, garantindo a elas rótulos que não deixem a vida cair no preto e branco e que possam acompanhar o romantismo da estação. Nossa primeira seleção apresentará a elegância francesa. A segunda é para ser apreciada na cozinha, enquanto você banca o chef. A terceira é para não deixar faltar um brinde à palavra que todos zelamos: a amizade.
Legenda
Produtor
Harmonização
Envelhecimento
Confira estes e outros vinhos em WWW.EVINO.COM.BR
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Temperatura Consumir até
Grandes franceses
COLLIER DE LA TOISON D’OR SHIRAZ 2013
BORDEAUX CHÂTEAU LE SABLEY 2011
· Tinto · França · Languedoc-Roussillon · Shiraz
· Tinto · França · Bordeaux · Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc
Fiée Des Lois (FDL) Carré de cordeiro Não há
16°C 2017
Frutas vermelhas maduras no nariz. O paladar é rico e carnudo, com um fim de boca longo e saboroso. evino.com.br/ctds
Château Le Sabley
Carnes vermelhas
Não há
17°C 2018
Aromas de mirtilos maduros, couro, geleia e caramelo. Macio em boca, tem um ataque sedoso e sensação de persistência frutada. evino.com.br/bcls
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CARRAIA IN FONTEROMA PRIMITIVO DI PUGLIA 2013
ARMELI MONTEPULCIANO D’ABRUZZO DOC 2014
· Tinto · Itália · Puglia · Primitivo
· Tinto · Itália · Abruzzo · Montepulciano
Castellani Canelone de queijo
Não há
Castellani Capeletti all’amatriciana Não há
17°C
17°C 2017
Bouquet com destaque para frutas vermelhas e alcaçuz. Em boca mostra corpo vigoroso e persistente com taninos fortes.
Profusão intensa de frutas vermelhas, como ameixas. O corpo é redondo com taninos bem equilibrados e tem final longo.
evino.com.br/cfpp
evino.com.br/amda
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2018
Vinhos gastronômicos
VIÑAS RIOJANAS BONARDA
BALZI FRATTI CHIANTI DOCG 2014
· Tinto · Argentina · La Rioja · Bonarda
· Tinto · Itália · Toscana · Sangiovese, Canaiolo e Ciliegiolo
La Riojana
Espaguete ao sugo
Castellani Lasanha à bolonhesa
Não há
Passagem em tanques de aço inox
16°C
2017
17°C 2018
No nariz revela frutas vermelhas maduras com notas picantes e especiadas. É elegante, harmonioso e frutado.
Bouquet que revela frutas vermelhas maduras quase em compota. Em boca tem taninos firmes, boa estrutura e final persistente.
evino.com.br/vrbo
evino.com.br/bfch
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RUBINELLO ROSSO TOSCANA 2014 - 1,5L
MIRAPIANA ROSSO TOSCANA 2013
· Tinto · Itália · Toscana · Sangiovese e Cabernet Sauvignon
· Tinto · Itália · Toscana · Sangiovese e Cabernet Sauvignon
Castellani Nhoque com ragu de linguiça Não há
Castellani Pesto basilico
Passagem em tanques de aço inox
18°C
2019
17°C 2017
Complexo no nariz com notas de frutas vermelhas esmagadas. Em boca é redondo com taninos bem estruturados.
Destaque para frutas vermelhas pisadas e em compota. No paladar é estruturado com taninos presentes e redondos.
evino.com.br/rrto
evino.com.br/mirt
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Para festejar com amigos
LA GRUPA BIVARIETAL CABERNET-MALBEC 2014
COLOMB’ FIZZ BLANC 2012
· Tinto · Argentina · Mendoza · Cabernet Sauvignon e Malbec
· Espumante branco · França · Gascogne · Colombard e Ugni Blanc
Fecovita Churrasco Não há
17°C 2018
Plaimont
Aperitivos
Não há
8°C 2016
Jovem e frutado, desabrocha com flores e especiarias no olfato. O corpo é cheio, com acidez alegre e final prolongado.
Com perlage fina e intensa, é extremamente aromático destacando frutas cítricas. Em boca é vívido, saboroso e fresco.
evino.com.br/lgcm
evino.com.br/cofi
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COM ELA, A PALAVRA...
Um amor de
2000 anos Sede de grandes e nobres sentimentos, Bourgogne ainda é um dos santuários viticulturais do mundo Alexandra Corvo
O
coração de todo bebedor de vinho – pelo menos dos que realmente desfrutam de suas nuances – dá um pulinho afobado toda vez que ouve a palavra “Bourgogne”. A região, cujos mais antigos registros escritos sobre vinhas datam de 312, pode ser considerada um santuário viticultural. A expressão não é exagerada, basta consultar algumas definições: “Lugar vedado ao público, onde se guardam ou conservam objetos dignos de veneração” ou “Sede de grandes e nobres sentimentos; a parte mais íntima (do nosso coração)”.
e conflitos, são chamados de “climats” – uma instituição da Bourgogne e o símbolo máximo da relação de amor daqueles seres humanos dali com a natureza geológica.
Talvez hoje, quando turistas inundam com sua presença – curiosa e sedenta – antigas construções, antes sagradas, a Bourgogne não pareça tão “vedada ao público”. Mas ela continua, sim, sendo a “sede de grandes e nobres sentimentos”.
Acima deste nível, estão os “village”. São vinhos feitos com uvas provenientes exclusivamente de uma só cidade, como, por exemplo, Gevrey-Chambertin, Meursault, Pommard ou Mercurey.
A Bourgogne tem, essencialmente, duas grandes uvas – pinot noir para os tintos, e chardonnay, para brancos. Vale a pena, no entanto, mencionar a delicada aligoté, que dá brancos sutis, e a gamay, encontrada no extremo sul, na região de Mâcon, que dá tintos perfeitos para o verão. Mas, mesmo se apoiando majoritariamente em duas variedades, é curioso pensar em como seus vinhos provocam tantas emoções com seus perfumes e sabores tão variados. E, em cada pessoa que beberica uma taça de Bourgogne, surge uma emoção diferente. Isso porque o sabor não vem só das uvas. O vinho bourguignon é resultado supremo da interação das uvas, com o solo e com cada ser humano que as cria. Esses pedacinhos de terra, diferentes entre eles, divididos por monges desde o século 17, e mantidos apesar de guerras
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Os vinhos da Bourgogne são divididos em quatro níveis. No nível “regional”, estão os vinhos produzidos com uvas de dentro da região, mas que não vêm precisamente de uma cidade ou climat específico. Vemos no rótulo apenas a menção “Bourgogne”, ou “Côtes de Nuits” ou, ainda, “Côte de Beaune”, que são regiões dentro da Bourgogne, mas não correspondem exatamente a nenhuma cidade.
Já no nível acima, dos Premier Crus, há a menção ao nome desses vinhedos – os climats, que correspondem aos “crus”. Eles foram identificados e separados há séculos por monges cistercienses em seus passeios silenciosos pelos vinhedos, quando percebiam que alguns davam vinhos de qualidade mais consistente. Assim, no momento da organização da Bourgogne para o sistema de denominação de origem, já no século 20, colocar o nome do climat no rótulo revelou-se peça chave para explicar diferenças, diversidades e qualidades dos vinhos provenientes de cada terroir. O mesmo vale para os Grand Crus, nível máximo de qualidade dos vinhos da Bourgogne. Romanée-Conti, Chambertin e Montrachet são alguns deles. Para coroar essa história de amor de quase 2000 anos, em 12 de julho de 2015, os climats da Bourgogne foram elevados ao status de “Patrimônio Mundial da Humanidade”.