ed. 5 - ano 1 - R$ 14,90
www.evino.com.br
Harmonização com receitas para o verão
Enoturismo: Chile, Alentejo, Bordeaux e África do Sul
Qual é a temperatura certa de seu vinho?
Nuno Falcão desvenda vinícola Casal da Coelheira
EDITORIAL
Um brinde a 2016
A
edição de janeiro vem repleta de pautas quentes. No mês que marca o auge do verão com seus picos de temperatura, resolvemos mostrar que, nesta época do ano, o vinho não só tem lugar garantido, como pode ser o aliado perfeito para se refrescar e relaxar sob as demasias do calor escaldante. No mundo do vinho o verão é uma das estações mais importantes para os viticultores. Trata-se de um período de muito trabalho nas vinhas a fim de garantir que a uva atinja sua maturidade ótima e assegurar os bons frutos dos esforços de um ano inteiro. Assim sendo, nas páginas que seguem, apresentaremos as projeções - por sinal bastante entusiasmantes - anunciadas para a safra de 2015, que em pouco tempo estará à venda no Brasil. Se a temperatura é o mote, não poderíamos deixar de retomar um tema que gera certa controvérsia: qual a temperatura de serviço ideal para cada tipo de vinho? Nós respondemos. Deixando o território das dúvidas e partindo para o das unanimidades, apresentamos, na seção Comes se Bebes, os badalados restaurantes Alma Cozinha e Eataly, este último reconhecido com o Prêmio de Melhor Restauranteur da Veja São Paulo 2015 para Bernardo Ouro Preto e Victor Leal. As receitas de verão propostas por ambos, é claro, são devidamente escoltadas por vinhos que indicamos para belas harmonizações. É temporada também de colhermos os frutos do aplicativo mobile da Evino (disponível para iOS) que lançamos no fim do ano passado. No Espaço do Sócio compartilhamos a aplicação e dedicação que nosso time empenhou para poder oferecer a você a melhor experiência de navegação possível na ponta dos dedos. E, como não podia deixar de ser, seguimos percorrendo os continentes. Seguimos buscando grandes rótulos e as melhores experiências enoturísticas. Desta vez vamos levá-lo a várias regiões de Portugal, como na entrevista com o grande énologo Nuno Falcão e em tours por territórios vinícolas de prestígio secular, caso das regiões do Alentejo (na seção Em Rota) e, a mais antiga, do Douro (em Terroirs). Ainda teremos tempo de dar uma escapada para a África do Sul, Chile e França, acompanhados por um time de primeira que tirou alguns dias do ano passado para conhecer ofícios vinícolas internacionais fora do HQ da Evino. Estamos certos de que, nesta temporada de verão, que dita recomeços, você vai vivenciar conosco novas experiências, novos sabores, muitos novos rótulos e descobertas. Um brinde a um 2016 de grandes vinhos. Um abraço e saúde,
Ari Gorenstein Editor Giuliano Agmont PUBLISHERS Ari Gorenstein e Marcos Leal CMO Patrícia Komura Coordenadora de Conteúdo Lana Ruff
Diretor de Arte Ricardo Torquetto
Colaboradores Carlos Marcondes, Danilo Marcondes, Jussara Martins, Larissa Mayara, Luciana Ferreira, Mayara Moraes, Raphael Pugliesi e Walter Tommasi
Foto de capa Luna Garcia
PUBLICIDADE publicidade@evino.com.br
ATENDIMENTO AO LEITOR leitor@evino.com.br Impressão Prol Gráfica A Revista Evino é uma publicação da INNER Editora sob licenciamento da Evino
SUMÁRIO
20 SEÇÕES 06 ABRE ASPAS
Leitores da Revista Evino em destaque
07 COM ELA, A PALAVRA
Jessica Marinzeck
08 ALÉM DAS TAÇAS
Novidades que dão mais vida à sua degustação
10 VITI & CULTURA
O universo enocultural em foco
12 ESPAÇO DO SÓCIO
O Clube Evino e seus benefícios
44 PARA BRINDAR
Sugestões para celebrar o ano que começa
50 COM ELE, A PALAVRA
14
Walter Tommasi
32
26 REPORTAGENS 14 VOZES DO VINHO
Nuno Falcão Rodrigues, da Casal da Coelheira
20 EM ROTA
Uma viagem para o Alentejo
26 COMES SE BEBES
Receitas para o verão
30 VINIFIQUE-SE
Qual a temperatura ideal de um vinho?
32 TERROIRS
Douro, em Portugal
34 ENQUANTO ISSO, NA EVINO
Viajamos para Bordeaux, África do Sul e Chile
42 O FAVORITO
Château Lagrange Lussac Saint-Émilion AOC 2011
34
ABRE ASPAS
o seu espaço na Revista Evino
QUAL É O SEGREDO,
NELSON? As regras são simples: não se tornar um “enochato”, vibrar com cada caixa Evino, buscar as referências de todos os vinhos na revista e harmonizá-los sempre que possível. É um aprendizado incrivelmente prazeroso, e o paladar vai se tornando mais exigente a cada rolha, que é devidamente datada e comentada, como um marco de celebração e alegria.” Nelson Machado Neto - Ribeirão Preto - SP
PARA COMEÇAR BEM
2016…
UM FENÔMENO CHAMADO BLACK FRIDAY A Black Friday foi um grande marco. Batemos nossos recordes, superamos expectativas e, sobretudo, conquistamos ainda mais confiança em nosso potencial: desde nossa minuciosa curadoria e operação de produtos até a comunicação eficiente do time de marketing; do preparo do departamento de tecnologia à proatividade do SAC; do sorriso inevitável do financeiro aos esforços do RH para garantir o bom humor no ambiente de trabalho. Mas é da satisfação dos nossos clientes que percebemos um sinal. O sinal de que podemos dar outros grandes passos.” Marcos Leal, co-CEO e cofundador da Evino
6 | revista evino
COM ELA, A PALAVRA...
SAFRA 2015, HISTÓRICA? Especialistas já esboçam comparações dos vinhos deste ano na Europa com os de 2005 Jessica Marinzeck
Já estamos em 2016, a vindima na Europa encerrou-se e o trabalho nas vinícolas está apenas no começo. O ano de 2015 no continente europeu foi mais quente que o esperado para muitos vinhateiros que tiveram, em anos anteriores, diversos desapontamentos como o excesso de chuva, por exemplo. Mas o que, de fato, caracteriza um ano bom ou ruim? Em locais como a Europa, que é o foco deste artigo, a técnica de irrigação dos vinhedos é proibida, e isso faz com que os produtores dependam fortemente das chuvas disponíveis durante o ano todo. Essas flutuações que ocorrem ano a ano fazem com que algumas safras sejam classificadas conforme sua qualidade – de ruins a excelentes. Em termos mais práticos, a vinha necessita da quantidade correta de água e de incidência solar para que a fruta amadureça da forma mais saudável possível. De acordo com uma recente edição da revista Decanter, produtores de Bordeaux, Champagne, Borgonha, Rhône, Rioja e Toscana estão com sorrisos largos por conta da safra 2015. Na Itália, o Conselho UIV (Unione Italiana Vini) cita tão somente problemas mínimos com doenças nas vinhas em todo o país, e há tons otimistas na Toscana e no Piemonte. Já em Rioja, o enólogo Julio Saenz diz: “Comparo 2015 com 2005”. A safra de 2005 foi histórica em toda a Europa, e os vinhos produzidos naquele ano são dignos de serem guardados por décadas para que mostrem seu potencial. As discussões acerca da safra 2015 estão pautadas pela
qualidade que as uvas apresentaram até este momento, mas ainda é cedo para definir o tempo de guarda desses vinhos, que ainda deverão ser degustados nos anos por vir para que sua qualidade seja comprovada. Não somente pela fama precocemente adquirida devido aos fatores climáticos, mas, também, por conta das colheitas bem reduzidas, os preços de vinhos da última safra devem ficar um pouco acima do mercado. É claro que tudo isso depende da região que se está buscando. Muitas vinhas sofreram (no bom sentido) com a quantidade limitada de água disponível e isso gerou menor rendimento. Vale dizer que esse aspecto também colabora para a qualidade dos frutos, que amadurecem com muito mais concentração. Do lado de cá, ficaremos de olho nos movimentos futuros, das próximas avaliações às inevitáveis compras. Vale ressaltar que a velha história “quanto mais velho o vinho, melhor ele é” não passa de um mito. Nem todos os rótulos produzidos na Europa em 2015 terão um enorme potencial de guarda. Isso vai depender de inúmeros fatores, sendo os principais o produtor e o estilo de vinho que ele deseja criar. Muitos rótulos que encontramos no mercado são destinados ao consumo imediato, e poucos se beneficiam se forem armazenados para serem degustados em alguns anos. Em caso de dúvida, é sempre importante pesquisar para que você não compre gato por lebre.
revista evino | 7
ALÉM DAS TAÇAS
ABERTURA SUTIL O saca-rolhas pneumático é uma excelente alternativa para usar diante de vinhos antigos. Basta inserir a agulha, injetar ar cuidadosamente e esperar a rolha sair. R$ 130 | www.quebarato.com.br
BOJO MAIS LARGO As taças com bojo mais largo, ditas Borgonha, como esta, são ideais para apreciar vinhos mais leves, como os Pinot Noir. R$ 30 | www.camicado.com.br
LUZ AZUL Adega Dual Zone com capacidade para 46 garrafas. Iluminação interna de LED azul e prateleiras em madeira com tratamento antifúngico. R$ 5.150 | loja.crissaironline.com.br
8 | revista evino
TAÇAS MARCADAS Costuma se perder com as várias taças sobre a mesa e, no fim, já não sabe mais qual delas é a sua? Utilize marcadores de copos. R$ 40 | www.camicado.com.br
ARTE DECANTADA Mais do que funcional, os decanteres são obras de arte. Este Curly foi inspirado na forma de um rabo de porco e projetado por George Riedel. R$ 830 | www.spicy.com.br
RESFRIADOR PROVIDENCIAL Abriu a garrafa e o vinho ainda não está na temperatura ideal? Em vez de colocar gelo e diluir a bebida, use o resfriador de vinhos em Gotas Skybar. R$ 572 | www.conceptimportados.com.br
revista evino | 9
VITI & CULTURA
FRASES
“O vinho torna o sábio em tolo e o tolo em sábio” Carlos Ruiz Zafón, escritor espanhol
“O vinho é apenas uma conversa esperando para acontecer”
“O vinho é um mensageiro da cultura. Se você o segue, vai conhecer o mundo”
Jessica Altieri, sommelier norte-americana
Alberto Antonini, enólogo e produtor
DICA DE LEITURA
A história do Romanée-Conti Uma história policial verídica no mundo do vinho. Aconteceu no início desta década, quando os vinhedos de um dos vinhos mais famosos do mundo, o Romanée-Conti, foi ameaçado de ter suas videiras envenenadas. O equivalente a um assassinato serial no mundo do vinho. Um resgate milionário foi exigido para que as videiras do Romanée-Conti não fossem destruídas. Uma investigação dramática e a oportunidade de conhecer intimamente os bastidores de uma das vinícolas mais importantes de todos os tempos, e seu proprietário Monsieur Aubert de Villaine. Esse o enredo do livro-reportagem Shadows in the Vineyard - The True Story of the Plot to Poison the World’s Greatest Wine (EUA - 2014), escrito pelo jornalista Maximillian Potter, que acaba de ganhar esta edição em português publicada pela editora Zahar. Imperdível! Título: A história do Romanée Conti / Autor: Maximilliam Potter / Tradutor: George Schlesinger / Páginas: 232 / Dimensões: 16x23cm / Editora: Zahar / Preço: R$ 49,90
10 | revista evino
BATE-PAPO
Um Master Sommelier atrás das câmeras Geoff Kruth é um dos poucos Master Sommelier do mundo. É também coprodutor do aclamado documentário Somm (2012), que acaba de ganhar uma sequência: Somm: Into the Bottle (2015). Segundo ele, o novo filme mergulha mais fundo no mundo do vinho. Nesta entrevista à Revista EVINO, Geoff Kurth, que é também presidente da numerosa comunidade virtual guildsomm.com (com mais de 11 mil profissionais do vinho) e juiz principal do novo programa de TV “Uncorked”, dá mais detalhes sobre o trabalho dirigido por seu amigo Jason Wise. Qual foi o impacto do primeiro documentário Somm? Muito maior do que pensávamos, especialmente por conta de mídias sociais e veículos como Netflix e iTunes. O filme deu reconhecimento aos sommeliers e mostrou como eles podem contribuir para uma melhor experiência nos restaurantes. O que atraiu as pessoas no filme? Ao contrário do novo filme, o primeiro não era realmente sobre o vinho. O exame para Master Sommelier serviu de pano de fundo para mostrar quatro personagens únicos na busca por sucesso diante de um desafio muito difícil. Além do fascínio em torno dos personagens, acho que as pessoas se prenderam também pelo suspense de ver quem teria sucesso. Por que decidiram produzir uma sequência? Into the Bottle é realmente um filme muito diferente, e prefiro usar o termo “sequência” vagamente. O vinho tornou-se o assunto principal e o sommelier, juntamente com os produtores de vinho, tornaram-se os contadores de histórias, explorando alguns tópicos fundamentais para explicar por que o vinho é tão importante. O filme escrutina a história, as famílias, o
comércio, a gastronomia, enfim... Além de extremamente informativo, é realmente engraçado e com algumas cenas surpreendentes! O que mais pode adiantar sobre este novo trabalho? O filme é dividido em 10 segmentos. Cada um reflete sobre um tema específico, como história, safras, preços, harmonização... Cada segmento é amarrado a uma garrafa particular e especial de vinho. Enólogos e sommeliers famosos apresentam um olhar amplo sobre o mundo do vinho. Como extrair o máximo de um sommelier? Nem todos os sommeliers são bons em seu trabalho, mas, se você encontrar alguém que é, deixe-o conduzi-lo em uma viagem. Não tenha medo de dar-lhe algumas informações sobre o seu gosto ou o quanto você quer gastar ou a última garrafa de vinho que você realmente gostou. Se você perguntar a um sommelier por um vinho e ele sugerir um determinado rótulo justificando a escolha em função da pontuação dada por algum crítico, provavelmente não terá diante de si um bom “somm”.
Geoff Kruth no novo programa de TV “Uncorked”
revista evino | 11
ESPAÇO DO SÓCIO
VINHOS DE LOTES ANTERIORES Aproveite para comprar os que mais fizeram sucesso
ARMAS DE GUERRA ROBLE BIERZO DO 2013 Tinto · Espanha · Bierzo · Mencía
Armas de Guerra Lombo de cordeiro assado no sal grosso e alecrim 4 meses em barricas de carvalho francês
17 °C
2020 Melhor Valor pelo China Wine & Spirits Awards 2013
“A vinha é nossa guerra”, prega o lema da vinícola responsável pelo Armas de Guerra Roble. Não se engane, porém, com o vigor desta afirmação. Ela sustenta nada além de uma abordagem incisiva, corajosa e honesta à arte da vitivinicultura, que os produtores praticam tão apaixonadamente na região de Bierzo, na Espanha, com vinhas de 70 anos da espécie Mencía.
evino.com.br/agrb
SUPERTOSCANO VILLA PUCCINI TOSCANA 2009 Tinto · Itália · Toscana · Várias uvas
Villa Puccini Fegato alla Veneziana (fígado acebolado) 12 meses em barricas pequenas eslavas e 6 meses em garrafa
17°C 2018 89 pts Wine Spectator 90 pts Ultimate Wine Challenge
evino.com.br/svpt
12 | revista evino
Talentosamente vinificado a partir das uvas Sangiovese e Merlot, Villa Puccini é reflexo perfeito da contradição única entre tradição e inovação que define a personalidade vinícola da Toscana. Com o caráter aveludado e amável da casta francesa a seu favor, ele revela uma bela e complexa integração dos aromas da madeira, mostrando por que já é considerado um dos grandes Supertoscanos.
HABEMUS
APLICATIVO
Uma adega de possibilidades à sua mão
m celular numa mão, uma taça na outra - não necessariamente ao mesmo tempo. É dessa imagem que alimentamos nossa missão de levar o vinho para o dia a dia do brasileiro. E foi por ela que nossa equipe dedicou meses de trabalho para aperfeiçoar a experiência de qualquer
um que deguste nossa mais nova razão de orgulho: o aplicativo da Evino, que já está disponível para iOS. Pesquise, estude, compre, e o melhor: mantenha-se atualizado sobre as melhores ofertas do mercado vinícola por meio das nossas notificações no celular.
A TODO VAPOR: Convidamos você a experimentar nosso app. Para que sua primeira experiência de compra aconteça da melhor forma possível, oferecemos R$ 20 de desconto em compras feitas pelo aplicativo a partir de R$ 200*. Baixe-o na App Store, digite APP20 no momento da compra e mergulhe de cabeça nesse novo modo de degustar vinho. *Uso único por cliente, não é válido para assinaturas do clube. Válido até 30/04/2016 revista evino | 13
Giuliano Agmont
Fotos: Carlos Marcondes e divulgação
VOZES DO VINHO
14 | revista evino
Da água para o VINHO O enólogo Nuno Falcão Rodrigues narra a transformação nos últimos 30 anos da centenária vinícola portuguesa Casal da Coelheira, às margens do Tejo
D
escendente de uma família com longas tradições agrícolas, o português Nuno Falcão Rodrigues passou grande parte das férias de criança numa das quintas de seus avós. O hoje consagrado enólogo desenvolveu jovem a paixão pela vida ao ar livre. “Nunca quis ser jogador de futebol ou astronauta, como a maioria da garotada. Queria ser agricultor”, diz. No início, não sabia que seu desejo o conduziria aos vinhos, já que as explorações rurais da família dedicavam-se especialmente ao gado e à cortiça. Mas, em 1989, um ano após ingressar no curso de Engenharia Agrônoma, seus pais adquiriram uma quinta, o Casal da Coelheira, às margens do rio Tejo, na província de Ribatejo, com algumas vinhas e uma adega. Desde então, muita coisa mudou, como revela nesta entrevista o gerente da vinícola, Nuno Rodrigues, eleito Enólogo do Ano no Tejo em 2013. revista evino | 15
Hoje, a área de vinha é bem menor, ganhando em qualidade
Qual é a relação da província de Ribatejo com o vinho?
A presença dos vinhedos no Casal da Coelheira é conhecida há séculos. Ainda no século 20, a mancha de vinhas encontrava-se estendida por todo o vale do rio Tejo. Na época, o conceito de qualidade não se beneficiava dos mesmos graus de exigência que se reivindicam hoje. A produção era farta, com relatos de que as barcas típicas do Tejo transportavam vinho e outros produtos agrícolas até Lisboa. No período da colheita, a quinta alojava grandes grupos de pessoas que se deslocavam para cá a procura de trabalho. Hoje, a área de vinha é bem menor, ganhando em qualidade pela escolha mais criteriosa das parcelas e tipos de solo onde a vinha é plantada. Quais as principais características do Tejo e suas vinhas? O que as diferencia em relação a outras
16 | revista evino
regiões, como Douro e Alentejo?
A região do Tejo possuiu diversos tipos de solo, o que por si só já conduz a vários estilos de vinho. O que mais caracteriza a região, no entanto, é o rio que lhe dá o nome, o Tejo. Trata-se do maior rio português. Atravessa o país, e a nossa região. Ele tem uma influência significativa na qualidade das uvas e dos vinhos. Os dias quentes de verão são compensados com noites frescas e até alguma umidade matinal. Isso permite que as uvas tenham uma maturação suave, progressiva e equilibrada. As castas presentes na região são muito diversificadas, tornando-se também uma vantagem para a região por ter a capacidade de originar estilos de vinhos muito diversificados. Encontramos na região as tradicionais Fernão Pires, Arinto, Castelão e Trincadeira, mas também castas importadas de outras regiões e
Encontramos na região do Tejo as tradicionais uvas Fernão Pires, Arinto, Castelão e Trincadeira, além de castas importadas, como as francesas Cabernet Sauvignon, Merlot e Chardonnay”
países. Há cerca de 30 anos, a região começou a viver um período de reconversão, com a entrada de castas francesas, como Cabernet Sauvignon, Merlot, Chardonnay e outras. Com o maior conhecimento que se foi adquirindo nas castas portuguesas, grande parte das vinícolas começou a dirigir suas atenções para castas de outras regiões. Rapidamente, castas como Touriga Nacional, Touriga Franca, Alfrocheiro e Aragonês começaram a dominar as vinhas da região. Essa renovação das vinhas, acompanhada da modernização das adegas, veio trazer uma nova alma aos vinhos do Tejo. Ganharam elegância e frescor, mas, também, concentração e potencial de guarda. Hoje, a região consegue, num nível muito alto, propor-se para harmonizar uma refeição completa, começando com um elegantíssimo espumante ou um rosé bem frutado e encorpado, passando para
um branco mineral e fresco ou um encorpado e complexo, seguindo-se um tinto cheio de fruta madura e terminando num colheita tardia muito elegante ou num tradicional abafado capaz de competir com os melhores Tawny. Nesse contexto, como foi a evolução de sua vinícola?
Em 1989, quando meus pais adquiriram a vinícola, a realidade era muito diferente da atual. Os hábitos de consumo também. A adega, já centenária, não tinha marcas nem engarrafava. O consumidor de então tinha um nível de exigência muito aquém do que se busca hoje e o vinho era escoado a granel. Meus pais perceberam que o mercado iria evoluir e mudar muito, o que acabou acontecendo. Talvez um pouco antes do despertar da região do Tejo para a necessidade de restruturação e revista evino | 17
É necessário que o vinho continue a ser influenciado por seu autor, o enólogo, e pela natureza. O vinho é, acima de tudo, arte, paixão e história”
de traçar novos caminhos, nós já estávamos equipando nossa adega com modernas tecnologias. Ao mesmo tempo, nas vinhas, eliminávamos aquelas que não tinham condições para dar uvas de grande qualidade e que não se enquadrassem no perfil de vinho que tínhamos definido, procurando esse objetivo nas novas plantações, introduzindo novas castas. Os primeiros frutos desta reconversão começaram a surgir em meados da década de 1990. Logo, em 1992 e 1993, a vinícola conquistou os prêmios de “Melhor Vinho Branco” no mais prestigiado concurso, na época, em Portugal. Nos tintos, a consistência começou a definir-se mais tarde, no final da década de 1990. O objetivo inicial restringia-se ao mercado regional, evoluindo mais tarde e de uma forma sustentada para mercado nacional. O prestígio da vinícola, porém, foi se construindo e se consolidando. Começaram a surgir, no início deste século, as primeiras solicitações do mercado externo. Desde então, tudo andou muito rápido. Nossos vinhos já estão presentes em 18 países, nos continentes americano, europeu, asiático e africano, representando já mais de metade das vendas totais da vinícola. Como ocorre na vinícola a mescla entre as técnicas tradicionais de vinificação e as inovações tecnológicas?
Hoje em dia, a tarefa do enólogo está bem mais facilitada... A evolução da tecnologia tem sido benéfica para a qualidade dos vinhos. Temos de saber ‘dosar’ 18 | revista evino
essa tecnologia, para que o vinho não se torne um produto ‘pasteurizado’. É aqui que entram as técnicas tradicionais. Temos de assegurar que o vinho deixe ‘respirar’ as castas, o solo e o clima da região. É necessário que o vinho continue a ser influenciado por seu autor, o enólogo, e pela natureza. Só assim conseguimos ter a diversidade de vinhos que atualmente existe em todo o mundo. O vinho é um negócio, mas, acima de tudo, é arte, paixão e história. Na nossa vinícola temos como exemplo de mescla entre as técnicas tradicionais e as inovações tecnológicas os lagares robotizados e com controle de temperatura. Nesses lagares vamos simulamos o tradicional ‘pisa a pé’, mas com a grande vantagem de conseguirmos controlar minuciosamente o processo, quer pelo robô programável (que substitui o homem), quer por conseguirmos ter o processo de fermentação e maceração à temperatura que idealizamos.
Para Nuno, a evolução da tecnologia tem sido benéfica para a qualidade dos vinhos
Quais os principais vinhos do Casal da Coelheira?
A gama de vinhos do Casal da Coelheira tem crescido progressivamente, mas em fases. Atualmente, a gama divide-se em duas linhas. Por um lado, temos as marcas mais antigas – Terraços do Tejo, Casal da Coelheira e Mythos –, mas recentemente lançamos uma nova linha de vinhos com a marca Quinta Essência, que a Evino selecionou para os seus clientes. Felizmente, os resultados nos concursos têm sido bastante entusiasmantes e motivadores. Em 2015, acumulamos o maior número de prêmios (principalmente internacionais) desde que a vinícola existe: um troféu, sete medalhas de ouro, nove de prata e três de bronze. O que os turistas brasileiros não podem perder ao visitar o Tejo?
Apesar de ser um pequeno país, Portugal é ri-
quíssimo em termos históricos e paisagísticos. A região do Tejo não é exceção. Para complementar uma visita à região vinícola e às suas adegas, sugiro uma visita a Tomar e a seu Convento de Cristo, e a Santarém, conhecida como Capital do Gótico, onde se encontra o túmulo de Pedro Álvares Cabral. Mais perto da vinícola, num dia de sol, é sempre muito agradável um passeio de barco no rio Tejo em volta da ilha que abriga o Castelo de Almourol, ou uma subida à Torre de Menagem do Castelo de Abrantes com uma vista magnífica sobre o vale do Tejo. Sem esquecer a riquíssima gastronomia da região desde a famosa Sopa da Pedra até às deliciosas Tigeladas de Abrantes, para sobremesa. A maior riqueza do Tejo, e de Portugal, é sua grande diversidade de culturas, gentes e paisagens. Acho que é isso que torna nossa região e nosso país tão apaixonantes. revista evino | 19
Carlos Marcondes
Fotos: Carlos Marcondes e divulgação
EM ROTA
20 | revista evino
Além do TEJO e das expectativas Paisagens naturais fascinantes, história, gastronomia, azeites e vinhos espetaculares. Predicados que fizeram do Alentejo o canto mais autêntico de Portugal e uma das mais sedutoras regiões vinícolas do mundo
H
á ocasiões em que é preciso ser franco e direto. Esta é uma delas: se você está em dieta, fuja deste lugar, desista! No Alentejo, controlar-se será a mais inglória de suas missões. Dito isso, seja bem-vindo a este paraíso enogastronômico, uma magnífica região de planícies verdes, a pouco mais de 100 km ao sul da capital Lisboa, batizada Alentejo por estar um bucadinho além do icônico rio Tejo. O cenário é daqueles endêmicos, que dispensa GPS para confirmar sua posição. Nas estradas, enquanto surgem as enumeradas e centenárias árvores de sobreiros – responsáveis pela metade da matéria prima usada para se produzir cortiça no mundo –, vestígios de um binômio de culturas agrícolas explicam o porquê da fama de boa mesa
do lugar: vinhas e mais vinhas com uvas autóctones, como Touriga Nacional, Trincadeira e Arinto, misturam-se às milenares oliveiras, também de alta produtividade, com lagares modernos que geram rótulos consagrados. Sim, onde há bons vinhos e azeites, a mesa tem de ser farta. Da janela do carro alugado (essencial para desbravar a região), a natureza começa a integrar-se com as pequenas vilas e mais uma vez a identidade dá o tom: são as típicas casas térreas e brancas, de janelas e portas amarelas ou azuis, presentes por toda parte. O destino é a impressionante Évora, uma das mais cobiçadas cidades da Europa, tombada pela Unesco como Patrimônio Mundial da Humanidade, por sua importância histórica e por ter aliado charme e turismo à rica e preservada arquitetura milenar. revista evino | 21
Seus mais de dois mil anos são emoldurados por monumentos construídos ao longo de séculos de
POTÊNCIA VITIVINÍCOLA O Alentejo lidera a produção portuguesa de vinhos engarrafados de qualidade com classificação de Denominação de Origem Controlada (DOC) e Indicação Geográfica (IG) tanto em volume (46,4%) como em valor (45,0%). São 263 produtores e 97 comerciantes numa área de vinhas de quase 22.000 hectares, das quais 11.371 são de DOC Alentejano.
22 | revista evino
ocupação romana e moura, como o famoso templo de Diana, o castelo de Évora e as muralhas que circundam a velha cidade. Imensos arcos abertos abrigam pequenas ruelas de paralelepípedo com típicos restaurantes alentejanos, lojas de artesanatos e igrejas exuberantes, como a catedral gótica de granito, finalizada em 1250. É preciso reservar uma noite para caminhar pelo centro histórico, até a praça Giraldo, realçada por uma iluminação especial. O ideal é ficar ao menos uma noite, ou fazê-la de base para desbravar o Alentejo. Um dos melhores endereços é o aconchegante hotel Mar de Ar Muralhas, que mescla arquitetura regional com traços mouros, tendo o histórico muro, quase como parte da propriedade. Uma curiosidade, Évora também abriga uma das unidades industriais da
PROTAGONISTAS E ESTRELAS Uvas nativas estão por toda a parte no Alentejo. Destacam-se as brancas Antão Vaz, Arinto, Fernão Pires e Roupeiro, e as tintas Alfrocheiro, Alicante Bouschet, Aragonez, Castelão, Touriga Nacional e Trincadeira. Já entre os rótulos singulares, muito respeito com: Pera Manca, Tapada do Fidalgo, Cortes de Cima Syrah, Marques de Borba, Herdade São Miguel, Paulo Laureano Selection, Mouchão e Zambujeiro.
truturadas para a arte do enoturismo. Querem mostrar profissionalismo e originalidade. Há muitos anos, o vinho alentejano deixou o estigma de produzir exemplares simples, feitos apenas em escala industrial, para marcar território também como denominação de origem de rótulos de alto quilate.
brasileira Embraer para fabricação de itens de alta tecnologia de seus aviões. NÉCTARES ENDÊMICOS
Não é por acaso que o Alentejo foi eleito a melhor região vinícola do mundo para visitar, em votação promovida pelo jornal USA Today, e um dos 52 mais cobiçados de 2015 segundo o também americano New York Times. É um cantinho plural, de opções esportivas como passeios guiados de bicicletas em vinícolas, voos contemplativos de balão e experiências náuticas em rios, lagos e nas praias do belo litoral que antecede a atraente costa do Algarve. Mas é o poder dos líquidos que enfeitiça comensais. As dezenas de quintas e herdades acolhedoras são exemplos de propriedades es-
Um bom exemplo desse bom momento da viticultura alentejana é a Herdade da Malhadinha Nova, na pequena cidade de Beja. O projeto da família Soares inclui hospedagem, ótimo restaurante e adega onde o turista pode até experimentar a famosa pisa de uvas, dependendo da época do ano.Trata-se de uma história recente, de 1998, com vinhas cuidadas apenas com produtos ecológicos e de colheita manual. O foco é elaborar bons rótulos como os da linha Menino Antônio e da Pequeno João, ambas em homenagem aos filhos dos proprietários. Na fazenda é possível visitar, ainda, a criação em pasto das vacas alentejanas e dos famosos porcos pretos. Do vinho ao azeite, onde dezenas de lagares também investem no bem receber, há o que se poderia chamar ‘oleoturismo’. Uma das que proporciona degustação é a tradicional Quinta de São Vicente, na encantadora propriedade da família Passanha, agricultores desde 1738. João Felipe, um dos donos e responsável pela elaboração de três marcas (Quinta de São Vicente, Dom Diogo e Colheita Premium), explica que há três inimigos capazes de prejudicar a qualidade do azeite: revista evino | 23
luz, oxigênio e variação de temperatura. “Esses são fatores que podem condenar o resultado de toda uma safra. O rigor na higienização do local também é essencial, pois o óleo absorve todos os aromas externos”, explica. SOTAQUE QUASE ESPANHOL
A caminho da impetuosa Monsaraz, na vila de Corval, vale a parada na pitoresca Olaria José Cartaxo, onde diariamente anônimos artistas produzem peças de artesanato alentejanos pintados delicadamente à mão e vendidos a preços bem mais convidativos do que os de grandes centros. Já com os olhos acostumados com as paisagens de planícies, eis que se avista, distante, no alto de uma colina, Monsaraz. É daquelas microcidades cinematográficas que você sabe que irá se apaixonar. Trata-se de uma vila medieval, uma das mais antigas e visitadas de Portugal, encravada na montanha com vista para a vizinha Espanha, apenas 15 km da fronteira. Todos falam português e castelhano e sente-se no ar e na arquitetura a influência da ocupação moura, civilização que conquistou a cidade em 1167. As ruínas do castelo são um dos principais atrativos, onde é possível subir nas torres e contemplar a barragem de Alqueva, que formou o maior lago artificial da Europa, com 250 km2 de superfície. Vários restaurantes com mirantes panorâmicos podem aguçar o passeio, porém, quem busca uma experiência típica deve descer rumo à fronteira, até a vila de Mourão, na Adega Velha – um templo de cultura e sabores, onde luxo é ser autêntico. Vez por outra, a vizinhança se reúne na porta do restaurante para o passional Canto Alentejano. Todos alegres, encostados no balcão do bar e de olho nas enormes talhas de vinhos da casa, que até hoje são usadas para repousar a bebida. A capitã da cozinha, há mais de duas décadas, é a sorridente dona Maria dos Reis, que ao lado do brincalhão e bon vivant Joaquim Bação formam a essência de que é ser um anfitrião acolhedor. A alegria e o carinho deles refletem no sabor dos pratos, como a untuosa sopa de cação, servida em tacho de barro, regada com o puro azeite local. “O segredo é não 24 | revista evino
economizar no azeite e molhar o pão típico alentejano que dará consistência especial na sopa”, revela. O prato pode ser acompanhado de ovos mexidos e aspargos bravos do campo, uma variedade regional do vegetal. Outras célebres opções são o feijão com chouriço e o lombo de porco preto assado. Entre os tentadores doces alentejanos é compulsório provar os três mais requisitados: o bolo de amêndoas chamado Ranchoso; o Enxarcado que leva abóbora, ovos e canela; e o Manjar Real, de nome sugestivo, para encerrar o banquete com chave de ouro. Por horas de prazer, uma conta praticamente familiar de tão barata. Antes da partida, o proprietário, já soltinho de tanta Touriga Nacional de seu quintal, o leva à porta e recita uma de suas pérolas rimadas: “Volte sempre e lembre-se: aqui se come e bebe vinho com alegria, como deveria ser todo dia”, impossível contestá-lo.
PROGRAME-SE Vinhos do Alentejo - Além de informações valiosas sobre a viticultura alentejana, este portal oferece dicas de roteiros enoturísticos, hotéis, restaurantes e todas as herdades abertas à visitação podem ser encontradas em: vinhosdoalentejo.pt Turismo do Alentejo e Visit Alentejo – Dois portais que trazem tudo sobre o destino: turismodoalentejo.com.br e www.visitalentejo.pt Torre de Palma Wine Hotel – Na pequena cidade de Monforte, conta com prestigiado spa, um dos melhores do Alentejo: torredepalma.com
Quinta do Mouro – Outra produtora de vinhos tradicional, com bela propriedade, próximo à cidade de Extremoz: ravasqueira.com/ Vila Galé Clube de Campo – Uma das opções rurais interessantes para quem viaja com crianças e busca hospedagem de interior para toda a família: vilagale.com Portugal Biketours - Operadora que organiza passeios por vinícolas e herdades com ótimas opções: portugalbiketours.com
Herdade da Malhadinha Nova – Vinícola, restaurante e hotel na cidade de Beja: malhadinhanova.pt
Restaurante Adega Velha - Rua Doutor Joaquim José Vasconcelos Gusmão, 13 Mourão: 266 586 443
Herdeiros Passanha – Vale a visita para conhecer um dos melhores produtores de azeite do Alentejo: passanha.eu
Passeio de balão – a Pt Trip organiza um dos modos mais contemplativos para apreciar as belezas rurais do Alentejo: pttrip.pt
revista evino | 25
COMES SE BEBES
Pratos para o verão Com ingredientes marinhos, os restaurantes Eataly e Alma sugerem ótimas receitas para a estação mais quente do ano com as devidas dicas de harmonização
Frutti di mare alla livornese Ingredientes
Chef José Barattino, do Eataly
• • • • • • •
4 lulas 100 g de farinha de rosca 50 g de cebola picada 50 ml de azeite Salsinha Sal e pimenta 4 tentáculos de polvo pré-cozidos
• • • • • •
8 camarões 200 g de tomate pelado ½ cebola picada 3 dentes de alho picado 100 ml de azeite 50 g de azeitona preta
Modo de Preparo
Refogar os 50 g de cebola no azeite, acrescentar a farinha de rosca e a salsinha, e temperar com o sal e a pimenta. Rechear as lulas com a farofa e reservar. Em uma frigideira colocar o azeite e fritar a lula, o polvo e os camarões por 2 minutos, acrescentar a cebola e o alho picado, refogar por mais 1 minuto e acrescentar o tomate previamente batido. Deixar ferver, acrescentar as azeitonas pretas sem caroço, cozinhar por mais 2 minutos. Serve quatro pessoas.
A harmonização
“O Frutti di Mare Alla Livornese tem uma riqueza de sabores devido aos diferentes aromas dos frutos do mar, como o polvo e a lula recheada, que, juntos com o molho de tomate, conferem ao prato boa estrutura e intensidade. Um tinto leve pouco perfumado e com baixa acidez, como o Bardolino da vinicola Famiglia Zonin, harmoniza muito bem com nosso prato”. 26 | revista evino
O vinho
Bardolino Famiglia Zonin Regions 2013 Produtor: Casa Vinicola Zonin Região: Bardolino País: Itália
revista evino | 27
Sashimi caipira: tiradinho de tilápia entre o oeste paulista e o Peru Ingredientes
Chef Ivan Achcar, do Alma
• • • • • • • • • • •
80 g de filé de tilápia 1 doce de batata doce 1 pitada de wasabi 1 colher (sopa) de shoyu 1 porção de coentro 1 colher (sopa) de pimenta biquinho (ou a gosto) 1 limão (suco) Sal a gosto ½ cebola roxa picada 1 porção repolho roxo picado (mais ou menos 1 fatia fina) 1 colher (sopa) de brodo (caldo de carne básico)
Modo de Preparo
Corte os filés de tilápia em fatias finas como um sushi. Corte o doce de batata doce em cubos. Marine o peixe no limão e na cebola roxa por 5 minutos. Reduza o shoyu em uma panela em fogo baixo até obter a metade da quantidade original. Corte a pimenta biquinho em fatias finas. Montagem
Disponha as fatias de peixe no prato, guarneça com algumas folhas de coentro, pimenta biquinho, o repolho e o brodo e coloque os pedaços de batata doce ao redor do peixe. Faça pequenas bolinhas de wasabi e finalize com o shoyu.
A harmonização
“O vinho escolhido foi o Famille Castel VDF Chardonnay 2014, um branco seco com bom corpo e frutas amarelas. Sua boca untuosa com notas de damasco pode harmonizar bem com peixe cru e shoyu por contraste. Ele é um vinho que não briga com a acidez do prato enquanto as notas florais do fundo de boca vão acompanhar bem o brodo e o repolho roxo criando uma experiência agradável e harmoniosa”. 28 | revista evino
O vinho
Famille Castel VDF Chardonnay 2014 Produtor: Grupo Castel Região: Várias Regiões País: França
revista evino | 29
VINIFIQUE-SE
por Raphael Pugliesi
TEMPERATURA IDEAL Dicas de como usar o termômetro antes de abrir um vinho. Acredite, ele pode mudar os rumos de uma degustação...
N
oite de sábado. Amigos em casa, vinhos à mesa, música ambiente, muitas risadas e uma receita especialmente preparada para pôr à prova uma promissora combinação. Um Pinot Noir da Borgonha irá mostrar seu potencial diante de um risoto de cogumelos. Tudo nos conformes, pelo menos até o jantar começar. Mesmo contendo as características exigidas pelo manual de harmonização perfeita, o tinto parece não corresponder às expectativas no nariz e, em boca, a sensação de amargor se pronuncia mais que o esperado. A dúvida paira à mesa, até que alguém sabiamente sugere: “Paciência, galera”. Não porque seja hora de desistir, mas, sim, de esperar. É que, com tantos preparativos, o vinho ficou um tempo a mais na geladeira e precisa passar por um ligeiro aquecimento. Servido a uma temperatura equivocada, nem o rótulo mais desejado do mundo vale uma degustação. Ou seja, para evitar frustrações, precisamos ter em mente duas premissas:
30 | revista evino
1ª Nenhum vinho é favorecido em temperaturas acima de 20ºC. 2ª Nenhum vinho é favorecido em temperaturas abaixo de 5ºC. A lógica acerca da temperatura ideal de um rótulo deve ser pensada analisando tanto o aspecto gustativo quanto o olfativo. À medida que a temperatura sobe, o álcool se torna mais evidente na boca e no nariz, gerando uma sensação de calor, por vezes associada à doçura. E, quanto mais gelado estiver, evidenciará taninos, inibirá aromas e passará sensação de maior acidez. Se incorporar estas dicas, você certamente será capaz de explorar o máximo do potencial de um exemplar – ou até mesmo esconder seus defeitos. Porém, o raciocínio vai muito além de percepções básicas. Não é tão simples assim. Nossa percepção olfativa depende dos compostos voláteis emanados pela bebida. Isso significa que, ao
decidirmos a temperatura de serviço de um vinho, precisamos analisar a sua estrutura. É por isso que rótulos mais encorpados costumam ser servidos a temperaturas mais elevadas (entre 16oC e 18oC) – de modo a evitar que a sensação de adstringência (taninos marcantes) se pronuncie e evidencie demais o bouquet, prejudicando, assim, a degustação – enquanto os exemplares mais leves, como brancos e espumantes, são servidos mais frios, acentuando a sensação de acidez, que está diretamente relacionada à refrescância da bebida. Aliás, por causa do pérlage (borbulhas), espumantes também precisam de alguns pontos a menos no termômetro. Dê uma olhada no infográfico no alto da página:
Ótimo, e agora fica a questão: como medir a temperatura de um vinho? Existem termômetros com um arco metálico que fazem isso antes mesmo de se abrir a garrafa. Com eles, você pode utilizar essa página como objeto de consulta. Ou... pode aprender com a experiência. Certamente, depois de degustar variados tipos de vinho, você logo pegará o jeito. Boas degustações! revista evino | 31
TERROIRS
por Luciana Ferreira
O Douro e suas tradições Conheça as histórias, os segredos e os sabores inebriantes deste pedacinho de Portugal
32 | revista evino
U
m fabuloso conjunto de vales, encostas quase verticais e um dos rios mais míticos da Europa. Este lugar repleto de atrativos, com vinhas e oliveiras oferecendo um cenário que poderia dar vida a grandes aventuras e às mais belas histórias de amor é o Douro. Situado no nordeste português, ele já era habitado por nossos ancestrais cerca de 20 mil anos atrás, e uvas são cultivadas por lá desde o século 20 a.C. Porém, foi quando os romanos desembarcaram nessas terras, que a prática vinícola começou a evoluir. Em 1757, no reinado de D. José I, foi delegada ao primeiro-ministro Marquês de Pombal a honrosa missão de criar a primeira região demarcada do mundo vitivinícola. Assim nasceu a Douro DOC (denominação de origem controlada), berço nobre de alguns dos maiores rótulos lusitanos. Hoje comprovamos que os mais de 40.000 hectares destinados à cultura do vinho gozam de características geoclimáticas favoráveis ao progresso dos vinhedos, e contam com mais de 80 espécies de uvas viníferas permitidas, por isso diversidade e harmonia são as palavras que regem o trabalho dos produtores. Uma das preciosidades desse território é o afamado Vinho do Porto. Fortificado, ou seja, com adição de aguardente vínica, ele apresenta alto teor alcoólico e pode ser doce, meio seco ou seco. É tido como um embaixador duriense por ter conduzido suas distintas expressões às mais longínquas partes do mundo e consolidado a tradição e a maestria da região. Há muitos outros exemplares majestosos nascidos no Douro, dentre os quais estão os elaborados a partir das cepas Touriga Nacional, Tinta Barroca, Tinto Cão e Tinta Roriz (nome português da Tempranillo), para citar algumas das mais populares nestes solos predominantemente xistosos. Apesar da ótima reputação dos vinhos, engana-se quem acredita que o Douro está limitado a eles. Os vários museus ostentados pela icônica região provam que ela também tem cultura e história riquíssimas. Não à toa, muitos artistas dedicaram a ela uma infinidade de homenagens poéticas e musicais. As mais famosas delas foram escritas pelo grande
poeta Miguel Torga, que encontrava inspiração na bela vista obtida a partir do Miradouro de São Leonardo de Galafura, em pleno Douro vinhateiro. Quando se trata da gastronomia, carnes de cabrito e perdiz acompanhadas de arroz são opções de sucesso, mas os peixes com os quais o Rio Douro presenteia seu povo aparecem frequentemente nas receitas preparadas com simplicidade, mas com muito primor. Um prato local que chama a atenção é o Bacalhau à Gomes de Sá, criação de um comerciante portuense. Azeites, oleaginosas como castanhas e amêndoas, e os deliciosos doces conventuais também se fazem presentes na culinária variada, um verdadeiro deleite àqueles que têm a sorte de degustá-la. É nesses banquetes dignos da realeza que emerge uma das qualidades mais singulares dos vinhos portugueses, o caráter gastronômico, quando a versatilidade dos rótulos permite harmonizações equilibradas com as mais diversas receitas. Agora que já conhece um pouco desse território lendário, basta você apreciar um rótulo duriense para finalmente cair de amores. revista evino | 33
ENQUANTO ISSO, NA EVINO‌
Pelo mundo Mulheres da Evino embarcaram para trĂŞs diferentes, e fascinantes, destinos para conhecer mais sobre... sim, vinhos!
34 | revista evino
S
etembro foi um mês agitado aqui no quartel-general da Evino, em São Paulo. Melhor dizendo, o escritório nunca esteve tão calmo. Três mulheres, cada uma com suas propostas, expectativas e malas, embarcaram para um canto do mundo. O motivo? Vinho, obviamente. Jessica Marinzeck, nossa Sommelière e Head of Global Sourcing, a convite da Wines of South Africa, desbravou as terras africanas para ficar por dentro das tendências do mercado local. Entre Pinotages e Sauvignon Blancs, mergulhou de cabeça na maior feira de vinhos da África do Sul. Larissa Mayra, a Assis-
tente de Conteúdo mais dedicada do mundo do vinho, recebeu de presente da Evino uma viagem ao Chile, onde poderia conhecer as origens de tantos rótulos sobre os quais escreve diariamente e visitar nossos parceiros comerciais mais importantes. Finalmente, Lana Ruff, Coordenadora de Conteúdo, juntou-se a 13 sócios do Clube Evino e, em parceria com a Martins Turismo, embarcou numa viagem a Bordeaux. Acompanhando o grupo como representante da Evino, acabou se saindo bem como tradutora e aprendiz muito fascinada. A seguir, os relatos sob olhares muito diferentes, mas igualmente apaixonados. revista evino | 35
ENQUANTO ISSO, NA EVINO…
Jessica Marinzeck
ÁFRICA DO SUL Tradicional feira de vinhos Cape Wine 2015 reúne principais produtores sul-africanos
Como em qualquer profissão, trabalhar como Compradora de Vinhos tem seus ônus e bônus. Nós, profissionais do vinho, dependemos fortemente da situação financeira e econômica mundial, e oscilações são sempre preocupantes. É um estado de alerta contínuo. Quanto aos bônus, bom, existem alguns. Para comprar, às vezes é preciso deslocar-se até o fornecedor, e isso envolve viagens a lugares bastante interessantes. Minha última viagem profissional foi para a África do Sul, mais precisamente à Cidade do Cabo. A cada dois anos a cidade sedia a Cape Wine, uma feira de vinhos com produtores de todo o país e compradores dos arredores do globo. A ideia foi concebida pela WOSA (Wines of South Africa), e fui uma das poucas brasileiras a ser convidada para o evento. O evento tinha início às 10 da manhã e não terminava antes das 5 da tarde. Depois disso, tínhamos direito a merecidas duas horas de descanso até o início dos próximos acontecimentos. Éramos conduzidos a outros locais com atividades diversas, como degustações temáticas, jantares e visitas a algumas vinícolas. Estar inserida nesse meio me fez abrir ainda mais a cabeça para o cenário atual de vinhos naquele país, que é bastante excitante. África do Sul, por muito tempo, foi reconhecida por produzir vinhos baratos e medianos, grande parte deles produzida com a uva Pinotage. Nascida do cruzamento entre Pinot Noir e Cinsault (conhecida na África do Sul como Hermitage), a espécie tinta provou, pelo menos para mim, ser muito versátil. 36 | revista evino
Ainda falando de vinhos tintos, a África do Sul já provou possuir enorme potencial na produção de vinhos com uvas como Shiraz e outras variedades encontradas em boa quantidade no sul do Rhône, como Carignan, Mourvèdre e Cinsault. Além destas, as protagonistas do corte bordalês, Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc, são capazes de desempenhar muito bem. Vale ressaltar que a grande variação existente no clima entre o litoral e o interior do país, em parceria com o relevo favorável, repleto de montanhas e encostas, facilita o cultivo não somente de uvas tintas, como também das brancas. Com origem na França, a Chenin Blanc, considerada a branca-símbolo do país, é capaz de originar tanto bons vinhos secos quanto doces de qualidade. Mas minha atenção, na verdade, ficou para os rótulos da casta Sauvignon Blanc. Lindos, se essa for uma qualidade a ser atribuída a um vinho. Em todo caso, é a única palavra que me vem à cabeça neste momento. Os Sauvignon Blanc que pude provar eram frescos, elegantes, sem aquela pungência enjoativa de muitos exemplares do Novo Mundo. A produção de vinhos na África do Sul passou por uma queda profunda durante o Apartheid, que se encerrou em 1994. Desde então, o país tem buscado se recuperar de forma extremamente eficiente. Pude comprovar (e provar) ao vivo e a cores o esforço empreendido nessa missão por meio da qualidade e diversidade de seus vinhos. Saúde!
revista evino | 37
ENQUANTO ISSO, NA EVINO…
Larissa Mayara
CHILE O prazer de percorrer vinícolas e degustar ótimos rótulos do maior produtor de vinhos latino-americano
Quando fui contratada pela Evino para fazer parte do time de conteúdo, há cerca de dois anos e meio, jamais imaginei que poderia desenvolver um conhecimento tão amplo quanto este do mundo vinícola. É verdade que a maior parte do meu tempo é dedicada a pesquisas, e que muitas vezes tenho de mergulhar fundo para conseguir escrever. Por isso, em setembro do ano passado, tive a incrível oportunidade de ir pessoalmente até o Chile para conhecer de pertinho esse universo delicioso.
No segundo dia, ainda extasiada pela belíssima paisagem, fui até a tradicional Santa Rita, no Maipo, descobrir por que ela permanece um dos maiores ícones chilenos há 135 anos. É uma vinícola, um hotel, um museu, uma capela, um restaurante, um café e uma loja. É um jardim infinito, com videiras e outras variedades de plantas que nem me arrisco a nomear. É cultura, tradição e sofisticação. É, também, distinção na recepção dos visitantes, na serventia oferecida pela equipe e no zelo para que a visita não seja nada menos que inesquecível.
Entre os dias 13 e 15, percorri quase 1.000 km numa viagem que, embora cansativa, foi... extraordinária. O resultado? Três vinícolas, 20 vinhos, 169 anos de histórias, pessoas que me acolheram com o maior carinho da Terra, e uma experiência que vou, com o coração transbordando felicidade, carregar para o resto da vida.
Por fim, parti rumo à Ventisquero. Com a filosofia “um passo além”, a produtora fundada há 17 anos é uma das principais do país no que diz respeito a práticas sustentáveis que prezam pelo meio ambiente. Andando pela adega, situada próxima ao Vale do Rapel, pude perceber que a quantidade de funcionários é bastante reduzida. Para qualquer lado que você olhe, verá máquinas supertecnológicas responsáveis por praticamente todos os processos.
Após desembarcar em Santiago e rodar três longas horas até Talca, no sul da capital, cheguei à Via Wines, uma das nossas maiores parceiras chilenas. Fundada em 1998, a vinícola já figura no ranking dos TOP 15 exportadores de vinhos premium do Chile. São milhares de hectares situados nos vales mais consagrados do país, onde eu pude admirar todo o cuidado tido pela produtora na elaboração dos rótulos que viria a degustar. Naquela manhã gelada e cinzenta, com o vento cortando o meu rosto e a sensação térmica de 4°C, mal via a hora de adentrar a casa de vidro arquitetada magistralmente sobre o lago da propriedade para iniciar a degustação, que seria conduzida pelo enólogo Claudio Ramirez. 38 | revista evino
Um dos rótulos que pude degustar lá, aliás, foi o Chardonnay da linha Tara, que posicionou a Ventisquero como a primeira produtora do Novo Mundo a fazer parte da carta de cinco dos melhores restaurantes do mundo. Com produção ínfima, os exemplares da marca apresentam a paixão da vinícola por sua constante evolução e desenvolvimento. Depois de três dias atravessando o país, lembrei-me de um ditado que, embora clichê, é a definição perfeita não apenas da minha, mas, sim, de todas as viagens daqueles que se arriscam a fazê-las. “Viajar é a única coisa que você compra e que te deixa mais rico”.
revista evino | 39
ENQUANTO ISSO, NA EVINO…
Lana Ruff
BORDEAUX O capricho e a visão do todo nesta cativante região vinícola do sudoeste da França
“Sempre
existe loucura no amor. Mas também sempre existe razão na loucura ”. Friedrich Nietzsche
É insensato levar um empreendimento sem uma visão pragmática, dirão. Há de se mirar no mais comum dos objetivos: a venda. Ouvimos e reproduzimos essa ideia com tal frequência, que até as causas mais nobres parecem não passar de uma manjada estratégia de marketing. A boa notícia é que os produtores de vinho em Bordeaux têm uma visão um tanto diferente quando o assunto é criação. Tudo começa na semente. No momento em que se decide enterrá-la, uma nova história tem início. O prelúdio é o terroir: a consonância de fatores diversos ligados ao clima e à geografia da região, à composição de solo, ao relevo, à sua interação com a genética das plantas. A história segue com capítulos que se desenrolam conforme a safra e, é claro, os cuidados tidos pela mão humana. Em Bordeaux, esse último elemento parece ser de extrema importância, embora dosado com muita cautela. Por ali nunca é demais falar sobre o assunto. Então falemos. Falemos de alguns châteaux que, sempre de um jeito, comprovam certa devoção e meticulosidade em cada etapa e aspecto da produção de um vinho. Château Villemaurine foi a primeira vinícola que visitamos (o maravilhoso grupo de enófilos sócios do Clube Evino e eu). Reconhecida com o status Grand Cru Classé em Saint-Émilion, a propriedade guarda sob seu chão cenários dignos de um conto de Stephen King, com galerias subterrâneas mal ilumina40 | revista evino
das, úmidas e bastante macabras - resumidamente, o ambiente perfeito para abrigar barricas de carvalho. Na contramão dos châteaux tradicionais da região, La Dominique tem uma proposta arquitetônica bem moderna, com um projeto todo feito em tons de vermelho. O restaurante acoplado ao complexo, “La Terrasse Rouge”, tem sua fachada formada por placas acrílicas que reproduzem, de cima a baixo, a passagem do violáceo ao cobre que vive um bom vinho. E, se as tábuas superiores inclinam-se para o solo e, portanto, para a fibra terrosa e frutada de um tinto jovem, as de baixo se viram para cima, refletindo o céu e o caráter divino de um vinho mais evoluído. O ápice da viagem deu-se na bucólica sede dos Domaines Rollan de By, em Médoc. Com inacreditáveis 180 hectares, a propriedade Cru Bourgeois impressiona não só pela imensidão, mas pelo tratamento dado a seus vinhedos com o cuidado cirúrgico necessário à criação de uma obra de arte. Em tempo, falar de arte ali requer um entendimento além. O proprietário Jean Guyon é designer de interiores e, como tal, leva sua maestria ao complexo, garantindo que ele seja repleto de obras de sua autoria. Existem traços de razão no arbítrio de pensar holisticamente. Considerar a relevância ecológica, cultural ou artística de uma atividade é entendê-la em todo seu contexto, valorizando os detalhes que fazem dela importante. Nessa módica região vinícola do sudoeste da França, essa noção torna-se palpável no minuto em que abrimos os olhos e entendemos a relevância do vinho para a história da humanidade – e, é claro, a efetiva participação de Bordeaux nessa história.
revista evino | 41
O FAVORITO
42 | revista evino
ATENÇÃO ESPECIAL AO
LUSSAC SAINT-ÉMILION Do solo onde nascem alguns dos Merlot mais preciosos do mundo vem o tinto que promete abrir 2016 com classe
A
bram alas para o Château Lagrange. Ele atracou recentemente em nossos portos e promete fazer barulho no ano que chega, mostrando ao admirável público dessas terras tupiniquins o que de melhor nasce do solo de Saint-Émilion, em Bordeaux. Eleito nosso primeiro Favorito de 2016, este rótulo da apelação satélite Lussac Saint-Émilion é páreo duro para qualquer Bordeaux, seja margem esquerda ou direita, que apresente a proposta da boa relação investimento x qualidade - e põe foco na palavra ‘qualidade. Analisado e aprovado pela grande crítica, a citar exemplos como Jancis Robinson e Roger Voss, da Wine Enthusiast, ele chega às nossas prateleiras com preço inusitado de dois dígitos. É este o aspecto que mais nos traz satisfação, pelo simples fato de podermos colocar nas taças brasileiras, de forma acessível, um vinho como este. A apelação Lussac Saint-Émilion marca o ponto mais ao norte de toda a região de Saint-Émilion, e assim acolhe um clima mais frio que, aliado ao relevo repleto de colinas e encostas expostas ao sol, propicia o cultivo de uvas como a Merlot, que tem maturação antecipada em relação às outras espécies. É ela a grande estrela do território e deste vinho, que ainda traz a segunda favorita local Cabernet Franc, e uma pequena dose da Cabernet Sauvignon, indispensável aos rótulos que pretendem oferecer estrutura e potencial de guarda.
Roger Voss aconselha-nos a degustá-lo a partir de 2016, mas não descarta a vantagem de guardá-lo durante alguns anos para aproveitar melhor tanto a complexidade aromática, quanto a maciez tão característica à cepa predominante. Território prestigiado, vinícola com séculos de história e preço inigualável são só três dos vários fatores que fazem do nosso Favorito de janeiro um rótulo para se ter na adega em 2016. Convidamos você a descobrir os outros. Boas degustações! Conheça em: www.evino.com.br/lagrange-lussac-saint-emilion-favorito CHÂTEAU LAGRANGE LUSSAC SAINTÉMILION AOC 2011 · Tinto · França · Lussac Saint-Émilion · Várias uvas
Château Lagrange Cortes de vitela com cogumelos selvagens
Em barricas de carvalho francês e tanques de aço inox
18°C 2021 13% Vermelho-rubi brilhante e profundo Aromas frescos de frutos silvestres dão lugar a notas de baunilha Cheio e estruturado, mostra taninos sedosos e sabores decorrentes da madeira.
revista evino | 43
PARA BRINDAR
Boas-vindas a 2016 1
Foram-se as festas, as comemorações e, possivelmente, várias e várias garrafas de vinho. Depois de tantas datas festivas, são poucas as adegas que começam o ano bem abastecidas. Então, para darmos as boas-vindas ao ano de 2016, nossa seleção está cheia de novidades, com rótulos emblemáticos e exclusivos, oriundos das mais diversas regiões vinícolas do mundo. Esta edição promete um tour completo pelos misteriosos vinhedos europeus e latino-americanos. Tudo isso para que você, sócio, brinde às últimas semanas do verão, e comece seu novo ciclo com muito, muito estilo. Feliz ano-novo!
2
Legenda Produtor Harmonização
Envelhecimento
Temperatura
Consumir até
Fotos: Jussara Martins
1
MANNARA NERO D’AVOLA TERRE SICILIANE 2014
· Tinto· Itália· Sicília· Nero d’Avola
MGM Mondo del Vino
Tábua de queijos de pasta dura
Confira estes e outros vinhos em WWW.EVINO.COM.BR
44 | revista evino
Não há 17°C 2019
Revela aromas de ameixas com notas de especiarias. No paladar é aveludado, frutado e muito agradável. evino.com.br/mnts
3
WINEMAKER’S COLLECTION MONTEPULCIANO D’ABRUZZO DOC 2013 Tinto · Itália · Abruzzo · Montepulciano
Casa Vinicola Zonin Kebab e outros pratos árabes Em barricas de carvalho eslavo
3
No nariz é amplo e complexo com traços de frutas vermelhas. O paladar é seco, delicado e macio. evino.com.br/wcma
17°C 2020
4
4
FAMIGLIA ZONIN REGIONS CHIANTI DOCG 2014
· Tinto · Itália · Toscana-Chianti · Sangiovese e Canaiolo 5
ZONIN GRAN CUVÉE EXTRA DRY · Espumante branco · Itália · Vêneto · Pinot Bianco e Glera
Casa Vinicola Zonin Canapés de salmão e ovas
Não há 7 °C 2016
Traz aromas finos e elegantes de frutas de polpa branca e flores, e o perlage oferece sensação agradável de frescor ao paladar. evino.com.br/zgce
Casa Vinicola Zonin
Lasanha à Bolonhesa 6 meses em barricas de carvalho eslavo e 4 em garrafa
2
5
17°C 2020
No nariz mostra frutas silvestres, violetas e traços picantes. O paladar é seco, com bom corpo e frescor. evino.com.br/fmrc
PULKU CABERNET SAUVIGNON 2012
· Tinto · Chile · Vale Central · Cabernet Sauvignon
Via Wines Alcatra ao forno com manteiga Não há 16°C 2017
Seduz o nariz com notas de tabaco, que são muito bem acompanhadas por um paladar cheio, expressivo e balanceado. evino.com.br/pucs
revista evino | 45
PARA BRINDAR 1
LAUDUN CHUSCLAN SOL ELEMENTS CÔTES DU RHÔNE VILLAGES 2013 · Tinto · França · Rhône · Grenache Noir, Carignan, Syrah e Mourvèdre
Risoto de cogumelos
Laudun Chusclan Vignerons
Não há
16°C 2018
Com destaque de cerejas e morangos maduros, ataca a boca com especiarias doces e taninos cheios de estrutura, e termina longo.
1
evino.com.br/sole
2
CODICI SALICE SALENTINO DOC 2012 · Tinto · Itália · Puglia · Negroamaro
Codici
Risoto de carne seca
Não há
17°C 2017 Medalha de prata no Mundus Vini 2013 Pleno no nariz e em boca, com aromas voltados à fruta madura e taninos aveludados. evino.com.br/cssd
3
CIELO VENETO GARGANEGACHARDONNAY CUVÉE · Branco · Itália · Vêneto · Garganega e Chardonnay
Espaguete à Carbonara
Não há
Cielo e Terra Vini
8°C 2016
Revela aromas muito elegantes de flores e notas marcantes de pêssegos maduros. No paladar é redondo e aveludado. evino.com.br/cvgc
46 | revista evino
2
4
LAUDUN CHUSCLAN LUNA ELEMENTS CÔTES DU RHÔNE VILLAGES 2013 · Tinto · França · Côtes du Rhône Villages · Grenache Noir e Syrah Laudun Chusclan Vignerons Costeletas de vitela Não há 17°C 2017
Bouquet vívido com profusão de cerejas maduras, geleia e figo, e um paladar elegante, com frutas que se envolvem em taninos finos.
4
evino.com.br/luna
5
OCTAY CARMÉNÈRE 2012 · Tinto · Chile · Vale do Maipo · Carménère
5
Pizza de pepperoni
Via Wines
Não há
16°C 2018
Com frutas negras e notas picantes no olfato, revela bom corpo, com taninos sutis e um persistente final. evino.com.br/occm
3
revista evino | 47
PARA BRINDAR 1
BUENOS AIRES MALBEC ROBLE 2014 · Tinto · Argentina · Mendoza · Malbec
Fecovita
Bife à Parmegiana Em barricas de carvalho francês
18°C 2020
Com deliciosa profusão de frutas vermelhas e baunilha, garante ataque harmonioso em boca, com taninos bem redondos.
1
evino.com.br/barb
2
MAESTRO PRIMITIVO DI PUGLIA 2014 · Tinto • Itália • Puglia • Primitivo
Pappardelle ao ragù de carne Não há
Cielo e Terra Vini
18°C 2018
Com aromas frutados intensos e sedutores, oferece paladar cheio, redondo e agradavelmente complexo. evino.com.br/mpdp
3
VILLA ALESSIA GRILLO TERRE SICILIANE 2014 · Branco · Itália · Sicília · Grillo
Castellani
Saladas e peixes brancos com molhos cítricos
Em tanques de aço inox
10°C 2016
Um rico bouquet de pêssegos, peras, amêndoas e mel dá espaço a uma sensação aveludada em boca, com acidez equilibrada. evino.com.br/vagt
48 | revista evino
2
4
MONTALCOUR CUVÉE PRESTIGE CÔTES DU RHÔNE 2014 · Tinto · França · Côtes du Rhône · Grenache e Syrah
Montalcour
Steak au poivre
Não há
16°C 2018
Com aromas apimentados, mostra corpo redondo e estruturado, com retrogosto especiado e intenso.
3
evino.com.br/mcpt
4
5 5
LE HAUT PAIS · Tinto · França · Dordogne · Merlot
Couleurs d’Aquitaine
Massa Caprese
Não há
16°C 2017
Revela notas de frutas vermelhas frescas, incluindo cassis. Tem sabor frutado, com os típicos taninos sedosos da casta. evino.com.br/lhpm
revista evino | 49
COM ELE, A PALAVRA...
Branco, verde e amarelo Por que espumantes e rosés combinam com as cores do Brasil Walter Tommasi
Todas as vezes que estou no processo de escolha do vinho que irei beber, faço-me esta pergunta: “Por que estou querendo tomar um vinho hoje?”. As respostas variam, mas, na maioria das vezes, oscilam entre “a fim de tomar algo gostoso”, “quero tomar algo refrescante”, “preciso escolher o que combina melhor com o meu almoço ou o meu jantar”. Essas respostas já podem dar uma dica de por que meu consumo de brancos (espumantes e rosés) quase atinge os 70%. É claro, também, que são apoiadas em uma lógica que pode ser alterada dependendo de onde você vive. O que é que pode mudar essa porcentagem? O clima. Sim, clima... temperatura. Vivemos em um país onde, mesmo com diversos tipos de clima, a maior parte do ano é propícia para o consumo de coisas refrescantes, e isso faz ainda mais senso quando olhamos o consumo de cerveja: 62 litros por ano per capita contra os 2 litros de vinhos. Sim, o brasileiro bebe principalmente para se refrescar. E por que cerveja e não vinho branco? Preço? Honestamente, não acho que a desculpa seja essa, pois uma cerveja popular de 600 ml custa R$ 5, e um vinho simples de 750 ml custa R$ 8,5! Minha conclusão é que só pode ser por “hábito”, e concluo dizendo que demanda se cria com divulgação. Pergunto a você: quantas propagandas de cerveja vemos por dia na TV? E de vinho? Está explicado?
50 | revista evino
Voltando à preferência que tenho pelos vinhos brancos, além de achar que eles se adaptam melhor ao nosso clima, me encanta a versatilidade das suas castas que podem ir desde um frescor quase glacial trazido pelas Riesling alsacianas, à simplicidade de uma Pinot Bianco italiana, à acidez e citricidade de uma Sauvignon Blanc neozelandesa, à elegância perfumada de uma Gewustraminer alemã, ou à cremosidade de uma Chardonnay francesa. São centenas de variedades cada uma delas adequadas a determinados tipos de alimentos ou gosto pessoal. Para aqueles que possam alegar que às brancas faltam os taninos para ajudar a quebrar a gordura de alguns pratos, lembro que existem muitas brancas em que o mosto fica em contato com as cascas em seus processos de fermentação, o que, desta forma, lhes traz a tanicidade desejada. Enfim, uma bebida refrescante, grande parceira de quase todos os bons pratos, que mais podemos pedir? Bem, a fim de tomar algo gostoso agora, que tal um Viura com uns 15 aninhos de garrafa? Afinal, também existem brancas complexas que envelhecem muito bem para deleite de amantes de vinhos maduros como eu. Que tal uma oportunidade às brancas? Estou certo de que você encontrará ótimas alternativas, como as desta revista. Saúde!