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mart pet
CHESF. A MAIOR GERADORA DE ENERGIA ELÉTRICA DO BRASIL.
Além de energia, a Chesf leva algo a mais por onde passa: desenvolvimento. Porque, para crescer, energia é fundamental. E é por isso que a Chesf, a maior empresa de geração de energia elétrica do País e uma das maiores em comercialização e transmissão de eletricidade, trabalha para levar a energia que o povo nordestino precisa para se desenvolver cada vez mais. No Brasil, e muito mais no Nordeste, a força da Chesf é a força de todos.
www.chesf.gov.br
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Sumário EXPEDIENTE ANO V - Edição 18 / 2009 Diretoria da Revista Fernando LaGreca Presidente
CAPA Plataforma de Petróleo
Sérgio La Greca Diretor
Ana La Greca
Diretora de Produção
Fernando Santos
Diretor de Planejamento
Colaboradores:
Fernando Santos, Armando Monteiro Neto, Terence Trennepohl, Luiz F. Alencastro, Alberto Brayner
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Fotografias:
Desempenho econômico do Brasil
Ivaldo Reges, Josué da Mata, João Carlos Mazella, Evaldo Parreira
Projeto Gráfico: Departamento de arte
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Redação:
Muito além da crise
Rua Ministro Nelson Hungria, 180 conjunto 206 - Boa Viagem Recife/PE - CEP: 51020-100 Tel. 81- 3334.9361 revistanegocios-sa@hotmail.com
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Departamento Comercial
A falta de um cinema empreendedor
Rua Ministro Nelson Hungria, 180 conjunto 206 - Boa Viagem Recife/PE - CEP: 51020-100 Tel. 81- 3334.9362/3334.9363 revistanegocios-sa@hotmail.com
Tiragem
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20 mil exemplares Auditada por Baker Tilly Brasil
Petrobras anuncia investimentos de R$ 60 bilhões em 2009
A revista não se responsabiliza por matérias assinadas. Proibida reprodução total ou parcial de matérias ou fotos sem autorização expressa da Editora.
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Por onde anda a inovação?
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Negócios em movimento
52% de consumidores fazem a diferença Este é o percentual que representa a Classe C no Brasil, que segundo a FGV está num patamar de renda entre R$1.064 e R$4.561. Um universo de mais de 90 milhões de pessoas ávidas pelos desejos do consumo, desde a TV a cabo até a lipoaspiração, conforme pesquisa feita pela McCann Erckson. Em alguns casos a participação desse publico chega a 70% como no segmento de celulares pré-pagos. Enquanto os consumidores das Classes A e B tiveram fortes restrições patrimoniais com a crise internacional, este público emergente será a salvação das empresas para sair do sufoco. Mais se estudarmos a composição deste segmento veremos que 10 milhões são de pessoas acima de 60 anos e quase outro tanto são de servidores públicos, ou seja mais de 20% são de uma população ativa e estável o que explica a consistência deste mercado. Se somarmos a este contigente a população da chamada Classe D, aí teremos mais 61 milhões de consumidores prontos a comprar de alimentos a automóveis. E a historia está ai pra contar, mesmo nos anos de turbulência internacional ou mesmo nacional eles não pararam de crescer mostrando-se imunes às reviravoltas do mundo.
Azul : Crescimento comprometido, nem tanto Nem bem começou a Azul Linhas Aéreas já sentiu o poder de fogo das sua rivais. A TAM e a GOL já mostraram a suas garras e anunciaram respectivamente a exploração da linha Porto AlegreCampinas-Salvador e redução das tarifas. Todas estas iniciativas nas rotas exploradas justamente pela novata dos céus brasileiros. Mas não se deu por vencida. No primeiro mês de atividade apresentou uma ocupação de 45% dos assentos enquanto a GOL quando iniciou suas atividades teve um desempenho de 37%. David Neeleman não veio para brincadeiras. Que o diga as empresas de viação aérea dos Estados Unidos onde o empresário mantèm empresas regionais líderes neste segmento.
Brasil mostra o seu turismo de aventura nos EUA
Vila Galé praia do futuro - Fortaleza
Crise não afeta planos de grupo hoteleiro luso no Brasil O grupo português Vila Galé vai manter os projetos hoteleiros no Nordeste do Brasil e em Portugal, disse à Agência Lusa o presidente da empresa, Jorge Rebelo. “Por enquanto, apesar da crise mundial, não paramos os investimentos”,
destacou o empresário adiantando que o grupo deverá investir cerca de 100 milhões de euros, passando a dispor de quatro unidades no Brasil e 17 em Portugal, até 2010. Os planos para expandir os negócios à região sudeste do Brasil, com a aquisição ou construção de uma unidade hoteleira ficam para mais tarde. “Vamos continuar a avaliar essa possibilidade, mas agora com alguma calma”, afirmou. No Ceará, estão em andamento as obras do hotel Vila Galé Cumbuco, no litoral oeste, a cerca 41 quilômetros de Fortaleza, projeto orçado em cerca de 35 milhões de euros, que deverá ser concluído em julho de 2010.
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A mostra, que aconteceu em Los Angeles, Califórnia, no mês de fevereiro, atraiu centenas de destinos de todo o mundo, que apresentaram suas opções turísticas que mesclam cultura, gastronomia e muita aventura, é claro. O encontro é voltado principalmente para o consumidor final interessado em conhecer lugares especiais. “Este foi o segundo ano do Brasil no evento e a participação foi bastante especial, pois foi feita a divulgação oficial da escolha do País como destino Best of Adventure 2009 pela National Geographic Adventure. O anúncio feito pelo editor da NGA e presidente de conferências do Adventures in Travel Expo, Costas Christ, durante coquetel oferecido pelo Brasil no estande da Embratur”, informa Cibele Moulin, coordenadora de Promoção e Comercialização Internacional da ABETA. Para março estão programados outros dois eventos que terão a participação da ABETA e da Embratur divulgando o melhor da aventura no Brasil: o International Tourism Bourse - ITB, em Berlim, entre os dias 11 e 15 de março; e o Adventure Travel Show, que acontece de 20 a 22 de março, em Londres.
O agronegócio no Brasil Se todas as leis ambientais em vigor no Brasil, algo próximo de 37.000 leis,portarias e decretos fossem cumpridos com rigor, o agronegócio brasileiro estaria a ponto de naufragar. Conforme estudo da Embrapa 71% do território brasileiro é impedido de ser cultivado por motivos dos mais variados. Somente a título de exemplo do que ocorre entre as esferas municipais, estaduais e federais, os 7 milhões de arroz do Rio Grande do Sul são produzidos irregularmente segundo o CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente que em 2202 decretou que as várzeas daquele estado são áreas de preservação permanente. O que salva a população brasileira de ter à mesa o arroz é que o órgão regulador do estado concedeu a licença aos produtores. De qualquer forma eles estão sobre um fogo cruzado entre o Estado e a União.
O Bradesco tenta dar o troco Guardem este nome: Luiz Carlos Trabuco. Função: novo presidente do conglomerado Bradesco. Por 50 longos anos uma frase dita pelo fundador do Bradesco, Amador Aguiar ao seu colega Olavo Setúbal, também fundador do Itaú, “ Você terá sucesso, mas seu banco nunca será maior que o Bradesco”, foi seguida a risca pelos sucessores de Aguiar. Neste momento Trabuco assume cinco décadas depois com a espinhosa missão de recolocar o Bradesco no topo, uma vez que esta hegemonia foi perdida com a fusão do Itaú com o Unibanco em novembro passado. Força não falta a este filosofo, casado com três filhos e de 57 anos dos quais 40 anos dedicados ao Bradesco, desde que iniciou como escriturário em 1969. Carismático e criativo foi quem aliou a imagem do Bradesco Seguros, do qual era presidente, à campanha das sete novas maravilhas do mundo, que colocou o Cristo Redentor nesta lista. Mas esta não foi seu cartão de visitas para alçar o maior posto, mas sim a mão do presidente do conselho Lázaro Brandão que acompanhou sua carreira na área de seguros, onde conseguiu a façanha de aumentar de 29% para 36% a participação desta área nos resultados do grupo. Foi ele que transformou o banco e em seguida os concorrentes numa máquina de vender apólices. Sem nenhuma potencial compra imediata que possa reposicionar o banco no topo, a estratégia é concentrar esforços onde tem expertise, a área de crédito a grandes empresas e seu universo de 18 milhões de clientes das classes C, D e E, sem conta corrente, e que se utilizam da poupança e do cartão de crédito. Se conseguir expandir sua margem de lucro, poderá aumentar o valor de suas ações e assim aumentar as chances de compras, inclusive fora do país, principalmente na América Latina, onde sua posição é muito tímida.
O mago da tecnologia sai de cena mais uma vez Steve Jobs, o intratável, obsessivo mas pioneiro e genial mago da Apple sai da empresa pela segunda vez. Na primeira ocasião, foi execrado pelo Conselho de Acionistas que o responsabilizava pelo fraco desempenho da empresa apenas um ano após o lançamento sensacional do Mactintosh em 1985, numa manobra perversa do então presidente John Sculley que ele mesmo havia contratado. Reabilitado pelo mesmo Conselho 10 anos depois, conseguiu reabilitar a empresa que mergulhara numa espiral de desatinos alcançando um aumento real de três vezes da empresa desde então. Mac’s, iPod’s, iMac’s, iPhone’s, MacBook’s. Todos produtos frutos de uma mentalidade criativa fizeram a empresa que hoje todos cultuam. Agora mais uma vez Jobs sai do palco que o mundo o assistiu por questões de saúde. As suspeitas recaem sobre um câncer de pâncreas raríssimo que o acompanha de 2003 e que agora ressurgiu. O homem que vale 70 bilhões de dólares vai se ausentar por tempo indeterminado. O mundo vai ter que sonhar com seu terceiro retorno, mas enquanto isso Jobs nos últimos anos se cercou de talentosos engenheiros e executivos que não deixarão a famosa Maçã cair no ostracismo.
As empresas que se cuidem pois o Leão está novamente à solta A Receita deu um prazo até 31 de maio para as empresas se adequarem ao novo sistema de escrituração fiscal nominado de SPED que irá entre ouitras coisas cruzar os dados contábeis e fiscais das empresas e de todas as notas fiscais eletrônicas emitidas por elas. O objetivo como é de se esperar é diminuir drasticamente a sonegação e as fraudes fiscais. 5 Negócios S.A. 2009
Brasil já tem medicamento genérico contra Aids O ministro da Saúde, José Gomes Temporão participou no Rio de Janeiro, da cerimônia de entrega do primeiro lote produzido no Brasil do medicamento genérico Efavirenz, uma das 17 drogas que compõem o coquetel antiaids. O medicamento teve o licenciamento compulsório decretado em 2007. De acordo com o Ministério da Saúde, atualmente cerca de 185 mil pessoas no Brasil estão em tratamento contra a aids. Delas, 85 mil tomam o medicamento. Até dois anos atrás, o governo brasileiro pagava cerca de US$ 1,56 por comprimido para o laboratório americano Merck, que detinha a patente do produto. Com o licenciamento compulsório, o país começou a importar a droga do laboratório indiano Ranbaxy, ao custo de US$ 0,46, pouco mais do que R$ 1,00, atualmente. Já a produção brasileira sairá por R$ 1,35 a unidade.
Negócios em movimento Royal Caribbean Visa Traz Nova Tecnologia gera mil Antifraude para o Brasil empregos para A tecnologia Advanced Authorization, da Visa, ajuda a prevenir fraudes antes que elas ocorram. brasileiros O Brasil é o 15º país com maior número de tripulantes a bordo dos navios da Royal Caribbean. Atualmente, são cerca de 800 brasileiros trabalhando na frota da companhia, o que significa que a tripulação completa de um navio poderia ser composta apenas de brasileiros. Segundo Ricardo Amaral, diretor geral da Royal Caribbean no Brasil, “o número de brasileiros contratados pode aumentar ainda mais, dependendo do crescimento do mercado e da melhoria da infra-estrutura oferecida para a realização dos cruzeiros no país. A meta, até o final de 2009, é dobrar a quantidade de brasileiros contratados.” Alguns anos atrás, alguns navios contavam com apenas um ou dois tripulantes brasileiros, em alguns casos com nenhum. O Brasil representa, ainda, o 5º país em número de novas contratações em toda a frota, atrás apenas de Filipinas, Índia, Estados Unidos e Indonésia, as nacionalidades mais tradicionais na companhia. O recrutamento é constante, por meio do site www.trabalheabordo.com.br, onde os candidatos têm acesso ao formulário para participarem do processo seletivo, além de diversas informações sobre trabalho a bordo, depoimentos de tripulantes e perguntas freqüentes. E as oportunidades para os brasileiros não estão só a bordo. Com abertura do escritório da Royal Caribbean no Brasil, a contratação de cerca de 120 funcionários, acompanhado do contínuo crescimento da contratação para o trabalho nos navios, o time brasileiro da companhia vai ultrapassar a casa dos mil.
A Visa é a primeira empresa a introduzir no Brasil e na América Latina uma tecnologia antifraude cuja ação ocorre em tempo real. O Advanced Authorization detecta instantaneamente uma possível fraude e cria indicadores de risco para as instituições financeiras, o que lhes permite aceitar ou recusar uma transação imediatamente. A tecnologia é única, pois permite que as decisões sejam tomadas antes mesmo da realização das compras e por oferecer estratégias de gerenciamento de casos. “A segurança é uma das principais razões pelas quais milhares de consumidores preferem usar cartões de crédito e débito ao invés de dinheiro e cheque”, afirma Alejandro Estrada, diretor geral de Risco da Visa Inc., Região América Latina e Caribe. “A Visa está comprometida em investir em tecnologias inovadoras para combater fraudes e proteger os portadores de cartão. O Advanced Authorization chega para agregar mais uma camada de segurança às transações realizadas no Brasil e América Latina.”
Meta voluntária pode fortalecer Brasil na ONU A proposta brasileira de metas voluntárias em direitos humanos no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) pode fortalecer a posição do Brasil como um candidato a vaga permanente no Conselho de Segurança, segundo o ministro da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi. “Isso fortalece o Brasil como uma autoridade nova muito importante nesse momento histórico da diplomacia mundial”, disse à Agência Lusa Vannuchi, em evento de comemoração aos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, no Rio de Janeiro. A proposta brasileira, aprovada no Conselho de Direitos Humanos da ONU em 10 de dezembro de 2007, es-
tabelece 10 metas concretas tal como as Metas do Milênio que deverão qualificar os objetivos comuns de avanço no campo dos direitos humanos ao longo dos anos. Um dos objetivos prevê ensino de direitos humanos em todas as instituições educacionais do país e programas para capacitar agentes de defesa do tema. Segundo Vannuchi, a proposta foi considerada uma “brilhante iniciativa” pelos quase 30 paiíses que aderiram às metas.
Embraer mantém construção de duas fábricas em Portugal Apesar da forte crise que abala a economia mundial, a Embraer pretende manter o projeto de construção de duas fábricas em Évora, a 200 quilômetros de Lisboa. “Neste momento, as ações previstas ainda estão conforme o planejado”, disse a Embraer. O início da produção de estruturas metálicas e de materiais compósitos – usados na construção de aviões – está previsto para o ano que vem. O anúncio da construção das fábricas havia sido feito em julho, durante uma cerimônia em Lisboa que contou com as presenças do primeiro-ministro português, José Sócrates, e do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva. A empresa de aviação vai investir 148 milhões de euros ao longo de seis anos no projeto, que deve gerar pelo menos 570 empregos diretos na região de Évora. Na fábrica de estruturas metálicas o investimento será de 100 milhões e na de materiais compósitos de 48 milhões de Euros. De acordo com o cronograma da empresa, o investimento será feito ao longo de seis anos. Segundo a Embraer, a localização dos centros de excelência
na cidade de Évora resultou de criteriosa avaliação feita pela companhia. Foram considerados vários fatores, como o potencial acesso à mão-de-obra qualificada, infra-estrutura logística e a existência de um parque tecnológico dedicado à indústria aeronáutica, como previsto no Plano Diretor Municipal. Durante a cerimônia de lançamento do projeto, o primeiroministro português disse que as negociações para a instalação da fábrica em Portugal levaram quase dois anos. O objetivo do governo é a criação de um setor industrial de produção aeronáutica com tecnologia avançada no país. Os materiais das novas fábricas serão vendidos para as unidades de produção de aviões da empresa. “Os investimentos representam mais um avanço estratégico no processo de crescimento e internacionalização da empresa”, afirmou Frederico Fleury Curado, presidente da Embraer, à época da divulgação do projeto. Fundada em 1969, a Embraer tem sede em São José dos Campos, no estado de São Paulo, e mantém escritórios, instalações industriais e oficinas de serviços ao cliente no Brasil, Estados Unidos, França, Portugal, China e Cingapura.
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Comércio exterior
Desempenho econômico do Brasil supera o dos demais Brics
Fotos divulgação
O
Brasil registrou a melhor colocação entre os chamados Brics (grupo do qual faz parte com Rússia, Índia e China) na classificação dos indicadores sobre as perspectivas de conjuntura econômica na OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), divulgada recentimente. O índice referente à OCDE como um todo (da qual os Brics não fazem parte) teve o pior resultado desde os anos 70. A classificação do Brasil ficou em 98,8 pontos em dezembro, o que representa uma queda de 1,8 ponto em relação a novembro. A Rússia registrou queda de 3,8 pontos em seu índice, que ficou em 86,7; a China teve queda de 2,4 pontos, para 87,6; e a Índia caiu 0,5 ponto, para 94,4. Na OCDE, o índice geral caiu 1,1 ponto no último mês de 2008, fechando o ano em 92,9 pontos, contra uma média de longo prazo de 100. Os dados refletem “níveis nunca vistos desde os anos 70” para a maior parte dos membros da OCDE e “seguem mostrando um enfraquecimento
das perspectivas de crescimento para as sete maiores economias” do mundo. Entre os países do G7 (grupo formado pelos sete países mais ricos, todos membros da organização) as maiores quedas foram as registradas na Alemanha (1,6 ponto, para 90,9) e Estados Unidos e Japão, com queda de 1,4 ponto cada. No G7 como um todo, a queda foi de 1,2 ponto, para 92,4 pontos. Na zona do euro, a queda no índice foi de 0,9 pontos. Para o grupo de países asiáticos que compõem o G5 (que inclui China, a Índia, Indonésia, Japão e Coreia), a queda foi de 1,7, para 90,9 pontos. “As perspectivas de crescimento se deterioraram seriamente também para as grandes economias que não são membros da OCDE, e enfrentam atualmente fortes esfriamentos”, acrescenta a nota. A OCDE é formada por: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Coreia do Sul, Republica Tcheca, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Islândia, Irlanda, Itália, 10 Negócios S.A. 2009
Japão, Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Reino Unido, Suécia, Suíça e Turquia.
Exportadores apontam entraves para seus negócios Queda na demanda por conta da crise financeira internacional, prática de protecionismo de alguns países e restrições de crédito são as principais dificuldades relatadas pelos empresários brasileiros que exportam. O relato é do secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Welber Barral, feito no lançamento de documento produzido pelo ministério com informações sobre mercados considerados relevantes para os exportadores brasileiros, o cronograma de reuniões bilaterais de comércio e missões empresariais da pasta.
Governo brasileiro anula medidas que dificultavam importações
Segundo Barral, o protecionismo tem sido objeto de debate nas reuniões bilaterais do Brasil com outros países. “Estamos organizando as demandas para saber o que é barreira nova, o que é problema fitossanitário”, disse. O secretário disse que há “reclamações pontuais sobre medidas protecionistas” de outros países e revelou que há reuniões marcadas para tratar do tema, uma com técnicos do Equador e outra entre ministros brasileiros e argentinos . Além de promover reuniões com outros países, o secretário afirmou que o governo tem adotado várias medidas para estimular as exportações. De acordo com Barral, uma delas é a regulamentação do drawback integrado, cujo texto está sendo elaborado juntamente com a Receita Federal. Atualmente está em vigor o drawback verde e amarelo, que prevê a suspensão da cobrança de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e de Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) na compra do insumo quando é destinado à produção
de bens que serão exportados. De acordo com o secretário, o objetivo do drawback integrado é incluir mais insumos na lista, principalmente do agronegócio. O principal deles é a ração animal, como milho e farelo de soja. Barral também informou que o decreto que regulamenta as Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) deve sair ainda este mês. O decreto estabelece os critérios de funcionamento do conselho das ZPEs, que vai definir os critérios de aprovação de projetos. Além disso, o secretário lembrou um decreto publicado no Diário Oficial que estabeleceu que o exportador brasileiro que pretende promover produtos e serviços brasileiros no exterior passou a ter a alíquota do Imposto de Renda zerada. De acordo com o ministério, o benefício incidirá sobre despesas com pesquisas de mercado, aluguéis e arrendamentos de estandes e locais para exposições ou feiras, no exterior, inclusive promoção e propaganda nesses eventos e divulgação de destinos turísticos brasileiros. 11 Negócios S.A. 2009
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou a suspensão da exigência das licenças prévias de importação de uma série de produtos. Segundo ele, com a revogação, voltam a valer as regras aplicadas anteriomente. A decisão, disse Mantega, foi tomada após uma conversa por telefone com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge. Mantega disse que a exigência de licença prévia causou uma série de mal entendidos. “A suspensão das medidas é para cessar ruídos e mal entendidos que surgiram”, afirmou o ministro, acrescentado que as licenças foram adotadas em vista da piora do desempenho da balança comercial. “Foi notada uma agudização da competição da concorrência no mercado internacional. Em função disso, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) resolveu tomar essa medida para fazer o monitoramento mais preciso do que estava acontecendo na nossa balança comercial”, afirmou Mantega. Nas primeiras quatro semanas de janeiro, a balança comercial (exportações menos importações) registrou déficit de US$ 645 milhões. O mês de janeiro de 2008 teve um superávit de US$ 922 milhões. O ministro interino do MDIC, Ivan Ramalho, esclareceu que a suspensão só vale para a lista de produtos que foi divulgada pelo Ministério, que passaram a necessitar da licença prévia. “Existem outros produtos sujeitos a controle de outros órgãos e os licenciamentos não automáticos”, disse. Desde a última semana de janeiro, o governo estabeleceu a exigência de licenças prévias de cerca de três mil itens, que representam 60% do valor das compras do exterior. A medida atingiu produtos como cereais, têxteis, produtos de ferro fundido, ferro ou aço, móveis, brinquedos, instrumentos e aparelhos ópticos, aparelhos de fotografia e de cinematografia, instrumentos e aparelhos médico-cirúrgicos, malte, óleo diesel e bens de capital como máquinas, aparelhos e materiais elétricos, reatores nucleares, automóveis, tratores e aeronaves
Opinião
Muito além da crise
Armando Monteiro Neto Presidente da CNI – Confederação Nacional da Indústria
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CNI lançará no final de março a 14ª Agenda Legislativa da Indústria, que vem sendo construída por meio de um processo amplo e participativo, no qual o Fórum Nacional da Indústria e as Federações de Indústrias desempenham papel fundamental. O desafio sempre presente da Agenda Legislativa é buscar a harmonização dos objetivos de todos os segmentos produtivos para uma ação mais eficaz no âmbito do Congresso Nacional, onde as propostas ganham velocidade proporcional ao entendimento e compreensão de cada um dos participantes.
É preciso levar em conta, porém, que o ano legislativo de 2009 apresenta-se bem diferente do de 2008. Deverá ser marcado por maior ativismo e maior sentido de urgência, em função da crise econômica mundial e da ausência de eleições. O maior ativismo legislativo traz oportunidades e riscos. Temas de alta sensibilidade política, marcados por posições preconceituosas, poderão agora ser tratados sem viés ideológico, como é o caso das relações entre capital e trabalho. Por outro lado, há o risco de termos de conviver com iniciativas paternalistas e demagógicas. Inspiradas
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pelos severos desdobramentos sociais da crise, essas proposições tendem, paradoxalmente, a agravá-la, resultando na elevação dos custos operacionais das empresas. Devemos ainda estar preparados para o ressurgimento dos grandes debates sobre o papel do mercado e do Estado. A escalada da crise econômica mundial trouxe para o Estado, nas mais importantes economias, funções não-tradicionais, em especial na área financeira. Esse novo papel, que esperamos ser temporário, reforça o discurso daqueles que veem no Estado a solução para todos os problemas. O setor privado tem o dever de reafirmar seus valores e princípios. A economia de mercado é pilar pétreo da nossa agenda. Isso não significa a crença em uma sociedade sem regras e leis. Sabemos que os mercados são o resultado de construções institucionais. A qualidade do ambiente regulatório é crítica para a operação das empresas. Entretanto, uma parte expressiva dos problemas que nos afeta está associada à má qualidade da regulação, envolvendo conf litos de competências e controles redundantes. Ao construirmos a 14ª edição da Agenda Legislativa, é ainda mais importante do que no passado que a Indústria tenha foco, defina prioridades e coordene ações. Devemos apoiar proposições legislativas que não só contribuam para a recuperação da economia, mas transcendam as atuais dificuldades. O País precisa estar preparado para o ambiente pós-crise. Isso exige melhorar as nossas instituições, alavancar projetos estruturantes e impedir retrocessos. Enfim, fazer a ponte para o futuro.
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Cultura
A falta de um cinema empreendedor
D Fotos arquivo
o início do governo Collor, até o engavetamento, em 2005, do projeto da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav). “Sem negar as obrigações sociais e econômicas que o Estado tem, de manter políticas para ajudar o desenvolvimento do cinema, a perversão disso é a total dependência que vemos hoje. “Se a política de fomento do período 1990-2005, a tal ‘retomada do cinema nacional’, aumentou a produção de lon-
gas, continua pequena a possibilidade de o produto ter retorno financeiro em salas de exibição, na TV ou no DVD”, observa o pesquisador. “Ainda que a corporação cinematográfica reprise o discurso de que o objetivo do apoio estatal é a atividade alcançar autonomia pela industrialização, nunca como hoje a produção dependeu tanto do Estado para existir”, completa. Em 1993, o escritor e ex-cineasta Arnaldo Jabor elogiou a criação da Lei do Audiovisual, considerando-a “a Carta Magna do cinema, moderna, sem dependências do 14 Negócios S.A. 2009
Estado”. O professor da UFSC ar discorda: “Falar em independência quando se tem que esperar por todas as assinaturas de pessoas ligadas ao governo para que o nosso cinema pudesse ‘sair do labirinto’ é no mínimo incoerente, sem falar que se trata de renúncia fiscal, ou seja, dinheiro público.” Sá Neto observou, em suas pesquisas, a permanência de um discurso “culturalista” nas justificativas dos cineastas para o suporte estatal. Eles enxergam o cinema brasileiro como repositório da nacionalidade, deixando de lado argumentos
econômicos que tiveram valor no passado. “A industrialização já foi o laço ideológico da corporação cinematográfica para acabar figurando de maneira decorativa entre as razões eternamente arroladas pelas quais o Estado deve apoiar o cinema brasileiro”, lamenta o historiador. Ele afirma que refletir seriamente sobre como o cinema pode se inserir de forma minimamente viável do ponto de vista econômico na constelação audiovisual significa ir muito além das leis de incentivo. Abdicar dessa reflexão traduziu-se também em recusar a busca de uma relação artística mais complexa entre cinema e sociedade. “O governo Lula não avançou muito nisso, pois havia a previsão de a agência Ancine ficar ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Mas no final a agência acabou subordinada ao Ministério da Cultura.” Com o tempo, os maiores defensores do cinema brasileiro acabaram por colocar sobre ele as piores pechas possíveis: atrelamento às benesses governamentais, tendência ao encarecimento exagerado da produção e despreocupação em relação ao público. “É preciso mesmo verificar se existe pertinência, diante desse quadro, em ainda pensar uma indústria cinematográfica brasileira, já que há uma quase total incapacidade da área para organizar sua atividade de forma minimamente autossustentável”, avisa o pesquisador. Os problemas da produção cinematográfica brasileira não são de hoje, porém, nota o crítico de cinema Jean Claude Bernadet, professor da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP). “A cinematografia nacional nunca se industrializou efetivamente, apesar de tentativas de vulto quando se tentou copiar o modelo norte-americano de produção com grandes investimentos de capitais, caso da Vera Cruz, na primeira metade dos anos 1950, ou quando o Estado assumiu a tarefa de coordenar e financiar o processo de industrialização, o caso da Embrafilme, nas décadas de 1970 e 1980.” Segundo Bernadet, o cinema passou por quatro fases, de idas e vindas, em relação à industrialização. No primeiro período, entre 1924 e 1940, tomam consistência as primeiras ideias de estruturação empresarial em torno de auxílios governamentais, da
imitação do modelo de Hollywood. No segundo, entre 1941 e 1954, o modelo norte-americano foi contraposto a outras ideias que levam em conta a realidade do mercado brasileiro, como aquelas que desembocam na criação da Atlântida, e nas propostas do cinema independente. Entre 1955 e 1968, houve o fim das “ilusões”, com o fracasso do modelo da Vera Cruz, que pensava em montar uma indústria como a hollywoodiana. Surgiram várias contradições: cinema de autor, cinema independente, mas com intervenção do Estado, e, ao mesmo tempo, associação com o capital externo. Com a Embrafilme, entre 1969 e 1990, o Estado assumiu para si a profissionalização, com o apoio de setores da corporação cinematográfica. “Surgiu daí uma desconfiança em relação a esse modelo, que não era bem aceito pela sociedade. Havia o desejo de criar um projeto de cinema que fosse socialmente reconhecido como legítimo”, observa Bernadet. Ao mesmo tempo, prevalecia a ideia de que a industrialização do meio dependia do Estado para vencer a concorrência do produto norte-americano no mercado. “A confusão ideológica entre cultura e mercado chegou a tal ponto que marcou a própria estrutura da Embrafilme. Ao final da década de 1980, o cinema brasileiro havia perdido a sua ‘legitimidade social’”, observa Sá Neto. É uma ideia aceita por alguns dos protagonistas do cinema brasileiro. “Muitos cineastas não haviam conseguido construir o ‘novo projeto de cinema’, fixados que estavam no favorecimento estatal que sofria do mais completo descrédito junto à sociedade. Isso explica como foi fácil a desmontagem, no governo Collor, da Embrafilme”, analisa o cineasta Eduardo Escorel. Foi mantida, porém, a caracterização do cinema nacional como uma “indústria nascente”, que deveria ser equiparada a outras indústrias, bem como uma perspectiva que isolava a televisão do cinema, sem buscar algum tipo de relação mais efetiva entre os dois meios. “O cinema permaneceu ligado à noção, já superada na época, da substituição de importações. O então presidente Fernando
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Henrique Cardoso argumentava que esse modelo havia sido substituído por outro, voltado para a colaboração com o capital externo. Já o rádio e a televisão superaram facilmente tudo isso ao assumir, desde o início, que teriam uma mentalidade empresarial, em que os fundamentos da lógica econômica tinham um papel mais importante do que as justificativas culturais”, analisa Sá Neto. Em vez de valorizar a produção nacional, no entanto, a transformação do cinema em negócio trouxe queda na qualidade. “O novo discurso permitiu ao meio profissional a aceitação da mediocridade do presente em nome de um futuro brilhante com a afirmação industrial.” A corporação unificou-se pela crença no papel fundamental da indústria, que não se efetivou. “Resta hoje ao cinema a fraca participação de mercado, inviabilidade econômica que implica amparo do Estado. Isso pode se traduzir em tutela ideológica, de certa forma. Mesmo aqueles que invocavam o poder do cinema em refletir a realidade brasileira não pararam para pensar em como fazer isso, preocupados que estavam com o apoio culturalista estatal, o que faz de muitos discursos meras justificativas ideológicas”, afirma Sá Neto.
Capa
Por Fernando Santos - Fotos Arquivo
Petrobras anuncia investimentos de R$ 60 bilh玫es em 2009 16 Neg贸cios S.A. 2009
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presidente da estatal brasileira Petrobras, José Sergio Gabrielli, anunciou que a estatal investirá em 2009 cerca de R$ 60 bilhões para desenvolver os projetos da companhia boa parte deles localizados na camada do pré-sal, onde a empresa descobriu grandes campos de petróleo leve. Falando a empresários ligados ao setor de petróleo, na Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), Gabrielli admitiu, no entanto, que para fazer frente ao ousado e robusto Plano de Negócios da estatal para o período 2009-2013, e que prevê investimentos de US$ 174,4 bilhões no período, a Petrobras terá que aumentar o seu endividamento, sem no entanto comprometer o “grau de investimento” obtido pela estatal. Na ocasião, Gabrielli, assim como já havia feito esta semana o diretor de Gás e Energia da Companhia, Guilherme Estrella, afirmou de forma categórica que os fornecedores de bens e equipamentos da companhia terão que rever seus preços para baixo, uma vez que o país, em particular, e o mundo de uma maneira geral, vivem hoje uma nova realidade imposta pela crise financeira mundial. “É preciso que todos [os empresários] entendam que o mundo vive uma nova realidade e que a conjuntura econômica mudou em razão da crise mundial. Se os preços apresentados ficarem acima do que a Petrobras considera adequado, não vamos contratar. Vamos suspender as licitações e realizar outras, como aliás já o estamos fazendo”. Durante o detalhamento do Plano de Negócios, o presidente da Petrobras anunciou os investimentos recordes feito pela Petrobras no ano passado, que chegaram a R$ 53,4 bilhões – volume 18% superior ao de 2007. Gabrielli sustentou que a estatal brasileira do petróleo já tem os recursos necessários para investir nos próximos dois anos e, desta forma, atravessar o período considerado por muitos como crítico. Ele adiantou, ainda, que os projetos da empresa são viáveis e de retorno garantido, inclusive os da área do pré-sal, mesmo com o preço do barril do petróleo no patamar atual, em torno dos US$ 40 o barril. O executivo não quis falar sobre o início dos trabalhos de exploração na Bacia de Barreirinhas, nos Lençóis Maranhen-
ses, que já tiveram início. Segundo ele, a operadora do campo é a Chevron e que, portanto cabe a ela falar a respeito.Ele, no entanto, confirmou o início dos trabalhos exploratórios na região. O presidente da Petrobras também não quis comentar as declarações do diretor de exploração e produção da Repsol, Nemesio Cuesta, de que as reservas recuperáveis do bloco BM-S-9, têm entre 2 bilhões a 6 bilhões de barris de petróleo e gás natural. Ainda sobre o pré-sal, depois de admitir a possibilidade de antecipação da produção da FPSO a ser instalada no campo de Tupi, com capacidade para produzir até 120 mil barris de petróleo por dia, Gabrielli confirmou para 2010 o início dos trabalhos do Projeto Piloto do mesmo campo – na Bacia de Santos. Gabrielli previu que a estatal deverá dobrar a produção nacional de petróleo em um prazo de doze anos. “Nós estaremos aumentando a produção nacional em média em 8,8% até 2013, mesmo sem levarmos em conta o óleo do pré-sal. Com isto a produção de petróleo e gás equivalente deverá saltar dos atuais 2,7 par 3,6 milhões de barris por dia – fora os 219 mil barris dia que já estaremos extraindo do pré-sal”. Na avaliação de Gabrielli, em 2020 somente a produção do pré-sal deverá chegar a 1,8 milhão de barris por dia mais (o dobro da produção atual), além de outros 40 milhões de metros cúbicos de gás natural.
Investimentos de US$ 29 bilhões na área do pré-sal Dos US$ 92 bilhões que a Petrobras vai investir na área de exploração e produção de petróleo e gás natural, entre 2009 e 2013, US$ 28,9 bilhões serão destinados somente à exploração e desenvolvimento da produção dos campos localizados na área do pré-sal. A informação foi dada pelo diretor de Exploração e Produção da empresa, Guilherme Estrella, ao detalhar os investimentos da estatal para o período em sua área de atuação. Estrella garantiu que a atual crise financeira internacional não afetará os planos de investimento da companhia. “Mesmo com os atuais preços do barril de petróleo tendo despencado para a casa dos US$ 40 o barril, os nossos projetos 17 Negócios S.A. 2009
são robustos, continuam altamente rentáveis e implicam em muito pouco risco”, afirmou. Os US$ 28,9 bilhões destinados aos projetos do pré-sal, segundo Estrella, envolvem as bacias de Santos e Campos e inclui os projetos programados para o Parque das Baleias, no litoral do Espírito Santo. Com os investimentos, o diretor de Exploração e Produção da Petrobras estimou que, em 2013, os campos do présal estarão produzindo 219 mil barris de petróleo por dia, volume que deverá saltar para cerca de 1,8 milhão de barris por dia em 2020 – volume que praticamente dobra a atual produção nacional diária da estatal brasileira. Nos planos da estatal consta chegar a 2013 com uma produção total de óleo e gás natural de cerca de 3,6 milhões de barris de óleo equivalente por dia – volume que deverá alcançar 5,1 bilhões de barris de óleo equivalente por dia até 2020. As informações são da ABr.
Consórcios preveem investir até US$ 200 bilhões no pré-sal Os consórcios de exploração petrolífera na zona do pré-sal brasileiro, onde a portuguesa Galp Energia está presente, preveem investir entre US$ 150 bilhões e US$ 200 bilhões até 2020 para produzir dois milhões de barris de petróleo por dia, disse o presidente executivo da empresa lusa. “Os investimentos que se esperam naquela zona entre 2009/2010 e 2020 vão andar entre 150 a 200 bilhões de dólares, os custos operacionais médios nesta década serão superiores a dois bilhões de dólares/ ano e aquele espaço geológico vai chegar a produzir perto de dois milhões de barris/ dia no dobrar da década de 2020”, disse o presidente executivo da Galp Energia, Manuel Ferreira de Oliveira. Em declarações aos jornalistas durante o “Fórum Científico e Tecnológico Galp Energia”, Ferreira de Oliveira considerou que estes “são números que constituem, indiscutivelmente, um dos maiores projetos empresariais do mundo”. A zona em questão situa-se a 250 quilômetros da costa do Rio de Janeiro numa área que se estende ao longo de
800 quilômetros e que tem uma largura de 150 a 200 quilômetros. Ferreira de Oliveira citou ainda que “não são apenas objetivos da Galp Energia, mas objetivos que existem para a zona do pré-sal brasileiro partilhado por todas as empresas ali presentes”, cuja líder é a Petrobras, seguindo-se a Galp e a British Gas, entre outras. “Temos o privilégio de estar ali; tudo o que ali se pode fazer está na fronteira
da tecnologia, são águas ultra-profundas, são reservatórios novos, é geologia virgem e tudo isto apela ao conhecimento científico aos profissionais do setor”, prosseguiu Ferreira de Oliveira.
Com uma produção diária de dois milhões de barris/dia, a Petrobras planeja
alcançar “um crescimento para 2020 de praticamente o dobro”, disse à Lusa, por sua vez, o diretor-geral da companhia brasileira, Edison José Milani. “Uma boa parte disso (da duplicação da produção) deve-se a entendimentos nos grandes processos ligados à produção e aí entra o papel dos acadêmicos na contribuição com a empresa. Podemos então atribuir uma boa parte ao conhecimento das universidades”, acrescentou.
Fórum
poucos meses), tornando-se a primeira empresa portuguesa que une empresas de base tecnológica na área da energia e a comunidade universitária. A cerimônia de abertura coube ao ministro da Ciência e Ensino Superior, Mariano Gago, que disse tratar-se de “um dos maiores projetos de pesquisa e desenvolvimento que será lançado em Portugal nestes anos”. “O fato de a Galp ter decidido criar um programa de pesquisa e desenvolvimento de longo prazo e com esta ambição (…) proporcional ao envolvimento na própria produção e exploração de petró-
leo, altera radicalmente este setor de pesquisa e de desenvolvimento no nosso país e permite a criação, em Portugal, de uma base de pesquisa e desenvolvimento na área dos petróleos como nunca existiu”, salientou Mariano Gago. O Fórum conta ainda com a presença de mais de 30 cientistas e pesquisadores de várias instituições de Ensino Superior do país, que trocarão experiências com alguns responsáveis da área de exploração e produção da Galp Energia e da Petrobras, com quem a empresa portuguesa tem 23 parcerias no Brasil.
O “Fórum Científico e Tecnológico Galp Energia” que ocorreu em Lisboa, visou promover uma maior interligação com o mundo acadêmico, dinamizar a partilha de informações e experiências e dar maior coerência ao conhecimento acumulado em várias universidades nas áreas científicas aplicadas à exploração e produção de petróleo e gás. Neste sentido, a Galp Energia lançou o portal “Rede Galp Inovação” (que estará totalmente operacional dentro de
Produção
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Meio-ambiênte
Amazônia
pode estar menos vulnerável ao aquecimento global
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Floresta Amazônica irá sofrer com as consequências do aquecimento globlal, mas pode estar menos vulnerável do que se teme. É o que apontam os cientistas da revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências dos EUA. Segundo eles, a maioria das projeções para a região subestima o volume das chuvas. De acordo com os cientistas, o Brasil e outros países da região têm de se empenhar para evitar um ressecamento irreversível do leste da Amazônia, a região mais ameaçada pela mudança climática, o desmatamento e as queimadas, conforme informações da Reuters. O regime de chuvas no leste da Amazônia deve mudar durante o século 21 numa direção que favoreça mais florestas sazonais em vez de cerrados. As florestas sazonais têm estações secas e úmidas, ao contrário da atual floresta tropical, perenemente úmida. A mudança pode favorecer novas espécies de plantas e animais. O novo estudo contrasta com projeções anteriores de que a Amazônia poderia ser substituída pelo cerrado. Em 2007, um relatório do Painel Climático da ONU, que reúne os principais climatologistas do mundo, alertava que “até meados do século, aumentos na temperatura e o correspondente declínio na água do solo devem levar a uma substituição gradual das florestas tropicais pelo cerrado no leste da Amazônia”. O novo estudo diz que quase todos os 19 modelos climáticos globais su-
bestimam as chuvas na maior floresta tropical do mundo - conclusão obtida com base nas comparações dos modelos com as observações do clima ao longo do século 20. As planícies amazônicas têm uma precipitação pluviométrica anual de 2.400 milímetros, e mesmo com as reduções previstas elas devem continuar suficientemente úmidas para sustentar uma floresta, segundo o estudo. Os especialistas também reagiram a estudos de campo sobre como a Amazônia poderia reagir ao ressecamento. Eles mostraram que as florestas sazonais seriam mais resistentes a eventuais secas, porém mais vulneráveis a queimadas do que as atuais matas. O estudo alerta ainda para os riscos agregados pela fragmentação da floresta devido à abertura de estradas e lavouras. “A forma fundamental para minimizar o risco de degradação da Amazônia é controlar globalmente as emissões de gases do efeito estufa, particularmente pela queima de combustíveis fósseis no mundo desenvolvido e na Ásia”, disse Yadvinder Malhi, coordenador do estudo, da Universidade de Oxford. Mas ele afirmou que os governos da região, especialmente o Brasil, também precisam gerenciar melhor as florestas. O aquecimento global, segundo os cientistas, está “acompanhado por uma intensidade sem precedentes na pressão direta sobre as florestas tropicais, por meio da extração de madeira, desmatamento, fragmentação e uso do fogo”.
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Foto Ivaldo Reges
Direito Texto: Soraya Nunes Medeiros
Arbitragem - Rapidez na soluções dos conflitos
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om o advento da Lei nº 9307/96 as empresas ganharam um instrumento para solucionar os conflitos surgidos nos contratos com seus fornecedores, prestadores de serviços, clientes, dentre outros, sem a necessidade de recorrer ao Judiciário e aguardar por longos anos uma decisão final. A arbitragem é um meio alternativo de solução de conflitos, através do qual as partes decidem solucionar a controvérsia surgida no contrato, relativa a direito patrimonial disponível - o que pode ser transacionado, elegendo um árbitro, especialista na área objeto do litígio, que proferirá uma sentença no prazo de 180 dias, da qual não cabe recurso, nem será divulgada a terceiro estranho ao processo e assim mantido o sigilo entre as partes. Como a arbitragem é regida pelo princípio da autonomia da vontade das partes, os contratantes optam por este instrumento ao firmarem o contrato, incluindo a cláusula compromissória, que substitui a “cláusula do Foro”, ou não havendo convencionado no contrato original, podem firmar o compromisso arbitral, caso haja o consenso das partes. Na cláusula compromissória torna-se imperiosa a necessidade dos contratantes escolherem a Câmara que administrará o procedimento arbitral e velará pelos princípios da ampla defesa, do contraditório e da igualdade das partes, evitando assim um impasse quando houver a necessidade de se iniciar a arbitragem. Veja-se o modelo: “As partes têm entre si também ajustado que as eventuais controvérsias surgidas na execução deste contrato e na interpretação de suas cláusulas, estas serão resolvidas por Arbitragem, nos termos da Lei 9.307/96. Parágrafo Primeiro- As partes, desde já, elegem a Câmara de Mediação e Arbitragem do INAMA/PE – Instituto Nacional de Mediação e Arbitragem, Seccional do Estado de Pernambuco, sito à Av. Visconde de Suassuna, nº 426, Boa Vista, Recife/PE, para a administração do procedimento Arbitral de acordo com os seus
Regimentos e Normas e apresentação de relação de candidatos a Mediador e/ou Árbitro singular para seleção pelas partes ou mesmo a constituição, por elas de tribunal arbitral, em número ímpar de membros na forma prevista na Lei de Arbitragem. Parágrafo Segundo- O Árbitro selecionado pelas partes ou o tribunal arbitral constituído, decidirá a controvérsia com base nas normas de direito, na equidade e/ou nos usos e costumes, a seu critério.” A Câmara de Mediação e Arbitragem, a exemplo do INAMA/ PE, possui o quadro de profissionais das diversas áreas(engenheiros, médicos, advogados, psicólogos, administradores, contadores) por ela treinados e avaliados, cujos currículos serão apresentados às partes para escolha do árbitro, que será um especialista na área do conflito. Com o exercício desta atividade de árbitro, torna-se mais uma oportunidade para os profissionais, inclusive para os advogados, que além de atuarem como defensor dos interesses de seus clientes no acompanhamento dos procedimentos arbitrais, propiciando-lhes maior satisfação em virtude da agilidade, também podem ser árbitros julgando processos na área de sua especialidade. A sentença proferida pelo árbitro é considerada um título executivo judicial, conforme prevê o art.475-N, inciso IV, do Código de Processo Civil e não está sujeita a homologação pelo Poder Judiciário, dela não cabendo recurso(art. 18 da Lei nº 9307/96). Sobretudo, se vê a rapidez do procedimento arbitral, que entre o requerimento da instauração da arbitragem até a prolatação da sentença, caso as partes não determinem o prazo, será resolvido em 180 dias(art.23 da Lei 9307/96). A exigência da rapidez nos procedimentos para incrementar o crescimento econômico, a segurança jurídica, e sentenças técnicas são as vantagens proporcionadas pela arbitragem que assegura às partes uma decisão sigilosa que põe fim ao conflito, primando pela continuidade e pacificação das relações comerciais. ( *) Presidente – Instituto Nacional de Mediação e Arbitragem Seccional do Estado de Pernambuco - INAMA/PE
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Tecnologia Reflexão
Por onde anda a
inovação?
Grandes empresas globais enfrentam dificuldades para promover e financiar a pesquisa tecnológica, e tendem a perder espaço para as concorrentes, principalmente nos países emergentes Por Fernando Santos Fotos Divulgação
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om a globalização veio o declínio do domínio dos Estados Unidos na manufatura, energia e até mesmo no setor financeiro. Agora até mesmo a capacidade de inovação das empresas norteamericanas parece estar em perigo. A China tem sido motivo de inveja no Ocidente mais por sua tenacidade do que por sua engenhosidade. Mas o país está criando uma estrutura que, ao longo de alguns anos, deverá torná-la mais inovadora e, portanto, mais competitiva. Cingapura fez o mesmo. A Finlândia juntará sua principal escola de negócios à escola de design e de tecnologia para formar uma “universidade da inovação” multidisciplinar no ano que vem. Na Academia Nacional de Ciências e na Academia Nacional de Engenharia a preocupação é grande, e não é de hoje. Relatório de 600 páginas das duas academias nacionais publicado em 2007 com o título Para vencer a tempestade que se aproxima afirma que “o enfraquecimento da ciência e da tecnologia nos Estados Unidos pode degradar as condições sociais e econômicas do país e, de modo particular, comprometer a capacidade dos seus cidadãos de competir
por empregos de maior qualidade”. Com a crise econômica iniciada no ano passado, os temores cresceram. Avaliase que empresas, o governo e o mundo acadêmico vão estar menos dispostos a correr riscos e a trabalhar com os custos de curto prazo que acompanham o território da inovação. Mas há também quem veja oportunidades no novo cenário. É a opinião do diretor de pesquisas do Mack Center for Technological Innovation, Paul Schoemaker. “A crise tem impactos variados. Os prejuízos vão instalar, num primeiro momento, uma mentalidade de corte de custos, o que não é bom para a inovação. Mas é assim mesmo: quando o paciente está sangrando, primeiro é preciso estancar a hemorragia. Em seguida, começa uma fase em que os líderes procuram saber que partes do seu modelo de negócios não vão bem, talvez até mesmo por serem insustentáveis. Daí poderá decorrer a reestruturação e a reinvenção.” O Mack Center, que Schoemaker dirige, faz parte da Wharton, escola de negócios da Universidade da Pensilvânia. Schoemaker adverte, porém, contra o excesso de precaução, que pode resultar em dependência exagerada da inovação incremental em detrimento de uma inovação transformadora, ou de ruptura.
Esses dois tipos de inovação são conhecidos como “i pequeno” e “i grande”. “Os maiores ganhos de uma empresa provêm das inovações mais ousadas, que desafiam os paradigmas da empresa e do mercado”, aponta Schoemaker.. A dúvida que resta hoje é como convencer os investidores ou os altos escalões de uma empresa do valor de uma idéia radical. Se há alguém que sabe como levar ao mercado as inovações de ruptura é Jeong Kim, presidente do Bell Labs, instituição de pesquisa que faz parte da empresa global Alcatel-Lucent, e um bem-sucedido empreendedor do segmento de tecnologia. Kim apresentou algumas sugestões no programa de Mestrado Executivo em Gestão de Tecnologia da Wharton.. Kim alerta para o fato de que não basta simplesmente a empresa contar com engenheiros brilhantes. Se não houver gestão competente, a tecnologia mais refinada pode acabar na lata de lixo da história corporativa. Ou pior, pode acabar nas mãos da concorrência: “A inovação de ruptura não é suficiente”, diz Kim. “Podemos citar numerosos exemplos de empresas que introduziram novas tecnologias, mas ficaram para trás, suplantadas por outras.” Na linguagem da inovação, essas “outras” são conhecidas como “seguidoras velozes” – empresas com maior saúde financeira ou administração mais ágil, que conseguiram explorar uma tecnologia de maneira mais rápida e eficaz no mercado do que seu criador original. Com isso, chega-se à seguinte questão: qual o melhor modelo de negócio para promover a inovação? Existem numerosas ferramentas de tomada de decisão para auxiliar as empresas a administrarem sistematicamente os programas de inovação, observa Schoemaker, coautor do livro Wharton e a gestão de tecnologias emergentes. De acordo com Schoemaker, considerando-se a alta incidência de projetos de inovação, seria bom que as empresas trabalhassem com uma série de situações e contingências possíveis, em vez de colocar todas as suas esperanças em um plano apenas. Fazer as coisas sempre do mesmo jeito parece ser um bom clichê corporativo, afinal funcionou bem para muitas empresas que sobreviveram à era pontocom. Schoemaker, porém, e outros gurus da inovação advogam a importância de avaliar as áreas próximas ao principal negócio da empresa. Estratégias antigas e lineares que confiam apenas em esquemas de mensuração convencionais são em geral ultrapassadas, portanto não devem ser a única fonte de recursos da empresa. “Ao examinar a lacuna de crescimento da em23 Negócios S.A. 2009
presa, desenvolver cenários, explorar áreas adjacentes e se aventurar mais em ‘oceanos azuis’, as empresas tendem a colher muito mais benefícios”, diz Schoemaker. A expressão “oceano azul”, no jargão da inovação, corresponde a mercados desconhecidos e, portanto, ainda não disputados – quem consegue conquistá-los passa a ter demanda livre de concorrência. A professora de administração da Wharton Mary Benner diz que a acomodação dificulta a resposta das empresas de grande porte às ameaças da concorrência. “Investidores e analistas muitas vezes preferem que as empresas maximizem o valor gerado para o acionista fazendo as coisas do jeito que sempre fizeram. O resultado é que empresas de grande porte, principalmente as que todos esperam que tenham lucros e distribuição de dividendos estáveis e previsíveis, dificilmente serão bem vistas pelo mercado acionário por introduzir novas tecnologias ou inovações radicais. Pelo contrário, serão punidas com a redução dos preços de suas ações e em seu valor de mercado caso persigam esse objetivo.” Benner cita como exemplo típico disso em sua pesquisa o caso da Verizon Communications, uma companhia peso-pesado do setor de telecomunicações. Analistas do mercado de ações questionaram desembolso para a compra da Fios , uma rede de fibra ótica para os segmentos de TV a cabo, internet de alta velocidade e serviço telefônico VoIP. “Pesquisas recentes indicam que o mercado acionário não reage bem a inovações intangíveis e de uso incerto e às mudanças tecnológicas”, diz Benner. “Para empresas de grande porte de capital aberto, isso significa que talvez fiquem em desvantagem se decidirem incorporar alguma inovação radical. Essa inovação é bem-vinda em empresas novas financiadas pelo capital de risco.” Outro obstáculo à inovação é interno: o sucesso, que cria paradigmas e não deixa espaço para que o pensamento novo floresça. Também se podem formar “duplas mistas”, em que um profissional experiente se associa a um indivíduo com muito pouca experiência, porém dotado de uma perspectiva original quanto à forma de resolver os problemas. Para vencer os obstáculos à pesquisa, a terceirização da inovação poderá se tornar moda num futuro não muito distante. “É notória, principalmente no segmento farmacêutico, a disposição com que as grandes empresas incorporam inovações já introduzidas por empresas pequenas de capital fechado, por exemplo no setor de biotecnologia”, diz Benner. “É provável que boa parte das inovações real-
mente radicais migre das grandes empresas para as pequenas.” A inovação aberta, também conhecida como crowdsourcing (literalmente “fonte na multidão”), pressupõe o trabalho em conjunto entre parceiros para a resolução dos problemas da empresa. Um grande exemplo do modelo de inovação aberta é a InnoCentive, de Waltham, Massachusetts. A empresa estabelece o contato entre indivíduos dentro da empresa com problemas nas áreas de ciências, engenharia e negócios com pessoas espalhadas pelo mundo todo e em condições de resolvê-los. Essas pessoas oferecem ajuda em troca do direito de notoriedade e prêmios simbólicos. “A maior parte das empresas não está em busca de uma inovação espetacular que lhes permita um avanço surpreendente. Querem é a solução rápida de uma parte específica de um quebra-cabeças maior”, diz Day. O termo “tecnologia de ruptura” difundiu-se em fins dos anos 90 depois do lançamento do livro O dilema do inovador, do professor da Harvard Business School Clayton Christensen Na prática, porém, Bell Labs, que fica no estado norte-americano de New Jersey, serviu de incubadora para as inovações que mudaram a empresa, dirigido por Jeong Kim, continuará a investir em tecnologia de ponta, mas cortou verbas para pesquisa básica Pesquisadores do Bell Labs ganharam seis prêmios Nobel e foram responsáveis por descobertas que nos levaram a novos patamares tecnológicos. Eles inventaram a célula fotovoltaica, o transistor de silício, o controle do processo estatístico, o sistema operacional Unix, a linguagem de programação C, a tecnologia digital para celular e redes de área local sem fio. Hoje, segundo Kim, os
pesquisadores do Bell Labs trabalham com tecnologias igualmente revolucionárias. Eles estão desenvolvendo, por exemplo, um sensor líquido que pode tomar qualquer forma mediante a aplicação de voltagem – Kim prevê que o sensor possa ser utilizado como uma lente com zoom. O laboratório também recorre à nanotecnologia para criar animações holográficas em três dimensões, como as que se veem em filmes de ficção científica. CONTRA A ESTAGNAÇÃO Kim foi responsável, há algum tempo, por conduzir uma experiência na AlcatelLucent sobre como injetar o espírito de inovação de ruptura em uma cultura estagnada. O laboratório de redes óticas da Lucent havia tido um desempenho terrível e a empresa demitira os principais gerentes da unidade. “Eu sabia perfeitamente a razão pela qual eu havia sido posto ali: ninguém queria fazer o que eu teria de fazer, e eles precisavam de alguém em quem pôr a culpa”, disse Kim. A divisão estava prestes a ser fechada, com resultados financeiros decepcionantes. Kim fez uma faxina na equipe de gestão e levou os sobreviventes para um local distante utilizado para a prática de rafting em corredeiras. “A primeira coisa que todo mundo diz numa situação dessas é ‘Para que tudo isso?’ Pouco depois vem o tédio.” O exercício, cuja finalidade é promover o trabalho em equipe e a cooperação, foi idealizado por um psicólogo. Em vez de se ajudarem mutuamente, os gerentes usavam os remos para jogar água uns nos outros, “como se fossem crianças”. A experiência psicológica não terminou com o fim do rafting. “Depois de seis ou sete horas de exercício, estavam todos cansados.” Naquela noite,
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durante o jantar, aqueles executivos deixaram de lado a postura “profissional” com que haviam chegado ao local e passaram horas aprendendo uns sobre os outros. No dia seguinte, houve novamente várias sessões em que se discutiram estratégias. Depois, mais rafting. No entanto, segundo Kim, a interação foi mais genuína e produtiva do que no dia anterior, em que os participantes não passavam de quase estranhos. No primeiro trimestre posterior ao evento, diz Kim, as receitas do grupo saltaram para US$ 510 milhões; no trimestre seguinte, para US$ 560 milhões; depois, US$ 730 milhões e US$ 970 milhões. Moral da história: “O trabalho em equipe é fundamental para o sucesso de qualquer empresa.” Nem mesmo o célebre Bell Labs, porém, parece estar imune hoje à pressão de produzir uma tecnologia que seja rapidamente utilizável. Em uma atitude que chocou o mundo da ciência, a Alcatel-Lucent cancelou há seis meses o financiamento para pesquisas em física básica do Bell Labs. Funcionários da empresa disseram que tomaram a decisão com o objetivo de aproximar mais o laboratório dos interesses comerciais da matriz nos segmentos sem fio, ótico, de redes e da ciência da computação. Ou, como disse Peter Benedict, porta-voz da Alcatel- Lucent, à revista Wired, em agosto: “No novo modelo de inovação, a pesquisa deverá sempre acompanhar as necessidades dos controladores.” A pesquisa básica lida com a questão mais fundamental da ciência e não tem nenhuma aplicação direta. Ao mesmo tempo, lançou os fundamentos da maior parte das tecnologias de que desfrutamos hoje, como a aviação comercial, o GPS e os vários tipos de laser.
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Artigo Reflexão Por Thiago Vincoletto*
Os fundos de pensão e a crise
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s jornais nos trazem a notícia de que até 90% dos fundos de pensão brasileiros não teriam cumprido suas metas de rentabilidade em 2008. Essa é uma informação importante, mas não tão grave quanto seria uma eventual quebra de entidades previdenciárias privadas diante dos problemas trazidos pelo agravamento da situação econômica internacional a partir de setembro passado. Naquele mesmo mês, o CGPC - Conselho de Gestão de Previdência Complementar aprovou resolução que estabelecia os procedimentos a serem adotados pelos fundos para a utilização de seus superávits para equacionamento de déficit técnico. As medidas visavam preservar a solvência, a liquidez e o equilíbrio econômico-financeiro e atuarial dos planos de benefícios administrados pelas chamadas EFPCs - Entidades Fechadas de Previdência Complementar. Ficou mantido o limite de 25% das reservas matemáticas para a constituição da reserva de contingência, que é decorrente do resultado superavitário do plano de benefício. Além disso, as EFPCs deverão observar a proporção contributiva, mantendo controle dos valores apurados a título de reserva especial em cada exercício. Como não poderia deixar de ser, é essencial que os fundos de previdência privados mantenham suas contas sempre equilibradas, privilegiando a preservação do patrimônio em detrimento de rentabilidades mais chamativas, que, por isso mesmo, refletem investimentos em aplicações de maior risco. Assim como as empresas, que neste momento de crise estão tendo de investir em gestão responsável, governança corporativa e redução da exposição a riscos, as administradoras dos fundos de pensão têm revisto procedimentos e investimentos para garantir a preservação de patrimônio, mesmo que isso signifique no curto prazo a redução da rentabilidade, especialmente diante da que-
da nas taxas de juros a partir do recuo da Selic (referência básica fixada pelo Banco Central para os juros do mercado). É natural que com as quedas significativas dos mercados financeiros, em especial nas Bolsas de Valores, tenha havido reflexos na rentabilidade dos fundos. No entanto, a SPC - Secretaria de Previdência Complementar tem atuado com energia no intuito de monitorar o patrimônio dos fundos, o que, ao fim, redunda em garantia de pagamento dos benefícios aos participantes. Além disso, o baque contra os fundos de pensão não é exclusividade brasileira, pois as entidades estrangeiras, que investem fortemente em ações, foram até mais afetadas que as nacionais. Como já prevíamos em setembro - diante de um cenário econômico que sofria os primeiros e significativos efeitos da crise financeira internacional -, após alguns períodos de balanços superavitários, a maioria das entidades acabou fechando o ano com rentabilidade abaixo da meta atuarial. Dessa forma, os fundos de pensão que acumularam ao longo de anos superávits técnicos estão tendo de usar parte dessas reservas para arcar com as responsabilidades dos planos de benefícios, principalmente os que estão estruturados na modalidade de benefício definido. Vale destacar, contudo, que a situação atual do mercado pode ser percebida como um momento aberto às oportunidades para investidores, podendo, assim, ajudar as fundações a montar planos estratégicos de longo prazo constituídos em bases efetivamente bem fundadas. O sistema de previdência privada complementar é hoje uma realidade em nosso país e, apesar da crise, as instituições têm-se mostrado sólidas e bem preparadas para cumprir o papel para o qual foram concebidas, isto é: ser um porto seguro durante a aposentadoria de seus participantes. *Thiago Vincoletto é atuário da BDO Trevisan.
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Artigo Por Pedro Pereira
RESPONSABILIDADE
ORGANIZACIONAL “Aja de tal maneira que as conseqüências de suas ações não sejam destrutivas da natureza, da vida e da terra”. A grande preocupação das empresas hoje é com a sustentabilidade de seus negócios. A sobrevivência empresarial num ambiente de acirrada concorrência passou a depender de como a estratégia de negócios da empresa lida com o reconhecimento do valor do ser humano, o respeito ao meio ambiente, a busca de uma sociedade mais justa e uma organização que dê maior significado aos seus lucros, onde não apenas os acionistas sejam contemplados, mas também os seus colaboradores, fornecedores, clientes e a sociedade, num jogo de variáveis que conduzem a um resultado de ganho para todos, não só para a geração atual, mas também para as futuras gerações. Com o fenômeno da globalização as organizações foram pressionadas a buscar novos atributos de gestão fundamentados nos princípios da boa governança corporativa e nas práticas da responsabilidade social. A busca da excelência pelas empresas passa a ter como objetivo uma estratégia que privilegia a ética, a transparência, a qualidade nas relações e o desenvolvimento sustentável.
A adoção de atributos que ultrapassam as exigência legais agregam valor à imagem da empresa, aumenta o grau de fidelização de seus consumidores, amplia o seu reconhecimento pela sociedade e possibilita a conquista de novos clientes. As empresas que não compreenderem essa nova “linguagem” de mercado mais dias menos dias terão a sustentabilidade de seus negócios seriamente ameaçada. Por outro lado aquelas que buscam não só a sustentabilidade de seus negócios e ao mesmo tempo do ambiente e da sociedade onde está inserida, apresentam um diferencial competitivo que proporciona a ela, melhor perspectiva de sustentabilidade e conseqüente longevidade de permanência no mercado. As empresas que assim atuam, trazem um novo referencial ético neste tempo de contrastes, paradoxos, controvérsias e profundas desigualdades, um novo referencial ético fundamentado no “fazer o bem comum”. Este novo pensar, em que a arte dos negócios torna-se cidadã, é um caminho sem volta. Quando compreendida na sua essência é lucrativa para a empresa e para a sociedade. É um jogo onde não há perdedores.
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*Eng. Pedro Pereira - Diretor Presidente da JBR Engenharia, Presidente do IAEC Instituto Ação Empresarial pela Cidadania e Diretor do IMMOC - Instituto Maria Madalena de Oliveira Cavalcanti
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Reflexão Por Túlio Vasconcelos
As Galinhas, Os Bois e Os Carrapatos “Quando o boi está cheio de carrapatos, você não precisa matar o boi, precisa apenas tirar os carrapatos”. ( J. J. Arruda)
E
ra um dia nublado, no final daquele mês de junho. Em frente à propriedade de seu Josias, algumas vacas pastavam próximo à antiga casa de engenho. O pasto rasteiro, recém tratado por seu José (solícito vizinho), atraía o gado das proximidades. Seu Josias e o genro observavam admirados a uma cena pitoresca, a qual denotava uma integração curiosa entre vacas e galinhas. Três daquelas aves cercavam uma dentre as reses, enquanto esta se banqueteava, tranqüila, sob os raios singelos de um sol, ainda meio tímido e indisposto. Como especialista no assunto, seu Josias comentava prazerosamente a belíssima cena: Vê o que estão fazendo? – perguntou. O quê? – interrogou o genro, distraidamente... As galinhas estão tirando os carrapatos dos bois. Elas fazem um tipo de faxina. Aquela vaquinha ali está se baixando, para que as aves alcancem os insetos que estão nos pontos mais altos. Ela sabe que as galinhas estão lhe prestando um grande serviço. Compreende que vai escapar de muitas mordidas prosseguiu o ancião. Que interessante!... – exclamou o jovem – Aquela vaca está se comportando de modo a tornar mais fácil o trabalho das galinhas! Ela está esticando o pescoço e quase não se move! – admirou-se. É. Perceba que temos um ciclo da cadeia alimentar se cumprindo, entre as vacas, os carrapatos, o pasto e as galinhas...- completou o anfitrião.
Lucrando Mais Aquele tipo curioso de interação animal nos ensina várias lições práticas, acerca de trabalho em equipe e ajuda mútua. No entanto, o que eu gostaria de destacar está um pouco além desses aspectos. Freqüentemente, somos afetados por circunstâncias desagradáveis em nossas vidas, as quais nos
pressionam e desanimam. Lembro-me de um jovem senhor que atendi em meu gabinete, para um aconselhamento, em relação ao seu casamento. Ele estava convencido de que devido a tantos desencontros e diferenças de opinião, a única alternativa acertada seria a separação. Recordo-me de ter feito uso da idéia, relacionada à luta contínua entre os bois e seus “moradores indesejados”. Tentei levá-lo a pensar que é muito mais sábio retirar os carrapatos do boi, sem que seja necessário matá-lo. Talvez seja mais rápido se livrar do boi e não ter o trabalho de eliminar os carrapatos um a um. Aliás, em se tratando de relacionamentos, a sociedade está a cada dia estimulando cada um de nós a “matarmos o boi para acabar com os carrapatos”, ao invés de combater o problema, gradativamente. É claro que dá trabalho este processo de catar os parasitas; mas, assim como preservar o animal é mais lucrativo e sábio do que sacrificá-lo, o mesmo se aplica aos relacionamentos que podem parecer “empestados de problemas”... Ora, o que fazemos com os doentes? Matamos para acabar com o problema, ou tentamos curá-los?... É interessante esta nossa sociedade tão paradoxal! Homens e mulheres passam anos se preparando em tantas das diversas áreas profissionais e se constituem em especialistas que conseguem superar os obstáculos no seio de empresas e organizações; algumas das quais estão sendo mal administradas e, no entanto, recuperam o seu fôlego, crescendo assustadoramente; médicos e profissionais de saúde que salvam vidas e devolvem a esperança de seus pacientes; artistas que bailam no mundo dos negócios e fecham contratos milionários, removendo os empecilhos que outros evitaram...Alguns desses gênios são os mesmos indivíduos que eliminam de suas vidas pessoas importantes, que um dia talvez tenham prometido amar para sempre, por não possuírem a humildade de uma simples galinha, para tirar os “carrapatos” de sobre a existência; então, decidem “MATAR O BOI!” *Túlio Vasconcelos é teólogo, pastor, conferencista e escritor.
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