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Cultura

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Confiança no futuro

Por Lorena Filgueiras

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Fotos: Estúdio Tereza & Aryanne*

Reeleito com quase 93% dos votos válidos, Emmanuel Tourinho, Reitor da maior instituição superior de ensino de toda a Pan Amazônia, estampa a capa desta edição de estreia. Em entrevista, ele fala das significativas conquistas da Universidade Federal do Pará, sobre os desafios que já se apresentam, em função do cenário atípico e dramático que a sociedade toda vive, além de refletir sobre o papel fundamental das fundações de amparo ao desenvolvimento e à pesquisa, em especial, da Fadesp.

Revista Fadesp: Quais as principais conquistas, dos últimos 4 anos, os desafios deste novo período?

Emmanuel Tourinho: Uma universidade precisa ser um centro de excelência acadêmica e científica e uma

Universidade no Brasil e na Amazônia precisa ser também um grande agente de transformação da realidade social, em favor da inclusão e da cidadania.

Trabalhamos sempre nas duas direções e temos colecionado avanços muito significativos. Para citar apenas alguns [avanços], criamos, em 4 anos, 35 novos cursos, sendo 6 de graduação e 29 de mestrado e doutorado.

Elevamos nossa produção científica internacional em 40% e o impacto dessa produção, em número de citações internacionais, cresceu 60%.

Figuramos como uma das melhores universidades do mundo no ranking do Times Higher Education. Aprovamos a flexibilização curricular dos cursos de graduação para estimular a formação multidisciplinar e criamos o polo

UFPA|Mercedários, conferindo uma nova dimensão à nossa atuação nas áreas de cultura e conservação do patrimônio histórico e arquitetônico da

Amazônia. Além disso, aumentamos o investimento em assistência estudantil, para garantir a permanência de discentes em vulnerabilidade, criamos novos programas voltados à inclusão de indígenas e quilombolas, além de A iniciativa inédita da FADESP reforça o seu “ compromisso com a UFPA e a projeta como modelo a ser seguido por outras fundações”

fortalecer os programas já existentes, passamos a dar uma atenção inédita aos discentes com deficiência e criamos Processo Seletivo Especial (PSE) para estrangeiros em vulnerabilidade socioeconômica. Estabelecemos colaborações importantes com organizações que atuam na defesa de direitos e promoção da cidadania, tornando a UFPA uma instituição mais presente e parceira na luta contra a desigualdade e a exclusão.

Revista Fadesp: E sonhos do reitor da maior universidade pública da Pan Amazônia?

Emmanuel Tourinho: Nossa expectativa é de que a UFPA siga se fortalecendo como Universidade Pública, produtora da ciência necessária ao desenvolvimento social e econômico da Amazônia, transformadora da realidade social da região, um grande polo irradiador de ciência, arte e cultura, com respeito à diversidade e à pluralidade de ideias.

Revista Fadesp: Vivemos um ano muito atípico, que foi 2020, e com perspectivas de um 2021 ainda desafiador. Como a UFPA avalia o ano acadêmico que passou e como será este ano?

Emmanuel Tourinho: A pandemia mudou a vida de toda a sociedade, incluindo as universidades, que tiveram que buscar soluções originais para manter os discentes em atividades de formação. Na UFPA, frente à impossibilidade de retomada das aulas presenciais, adotamos o ensino remoto emergencial. Para 2021, programamos três períodos letivos, em que as atividades poderão ocorrer no formato remoto, híbrido, ou presencial, a depender da “bandeira” epidemiológica vigente em cada campus. A definição das bandeiras para a UFPA, com o detalhamento do que pode ou deve ser feito em cada uma delas, em cada situação usual do nosso trabalho [aulas teóricas, práticas, de laboratório, de campo etc.] serve de referência para o planejamento das unidades acadêmicas, mas continuamos sem poder prever quando as mudanças de bandeira acontecerão. Os muitos atropelos que temos enfrentado são inevitáveis nesse cenário e comuns às universidades do mundo todo. Por outro lado, temos estado ativos ao longo de toda a pandemia, servindo à sociedade não apenas com o ensino, mas, também, com pesquisa de problemas relacionados à pandemia, extensão, assistência à saúde, como no atendimento a pacientes da COVID-19 no Hospital Universitário João de Barros Barreto, produção de insumos para a proteção da população, realização de exames diagnósticos e treinamento de equipes de saúde. As Universidades Públicas, assim como o Sistema Único de Saúde – SUS, têm demonstrado ainda mais intensamente a sua importância para a sociedade nesta conjuntura de crise sanitária e humanitária.

Revista Fadesp: Como driblar a diminuição do orçamento das universidades públicas?

Emmanuel Tourinho: Temos que lutar permanentemente para recuperar um padrão adequado de financiamento público para as Universidades Federais. Precisamos também dialogar com potenciais parceiros, buscar emendas ao orçamento junto à Bancada Parlamentar do Pará e mapear oportunidades de captação de recursos adicionais. A UFPA precisa não apenas manter as atividades que já realiza, mas continuar se desenvolvendo, concebendo e executando novos projetos que representem maior impacto na região. Isso requer investimento e parcerias com vários atores na sociedade.

Revista Fadesp: Qual o papel da Fadesp e sua importância para as Instituições que ela apoia – em especial à UFPA?

Emmanuel Tourinho: A Fadesp cumpre um papel fundamental no desenvolvimento da UFPA, sendo parceira na execução de projetos acadêmicos, na interação com entes financiadores da pesquisa e no suporte a ações institucionais. Sem essa parceria, muitos projetos ficariam inviabilizados e limitariam o impacto da UFPA no estado. Com o sucesso na sua organização interna, a FADESP também teve condições de apoiar a UFPA, em 2020, em um dos principais programas para o avanço do ensino de graduação, o LabInfra, Programa de Apoio à Infraestrutura de Laboratórios de Ensino. Essa iniciativa inédita da FADESP reforça o seu compromisso com a UFPA e a projeta como modelo a ser seguido por outras fundações.

Revista Fadesp: O senhor mencionou o LabInfra – qual o impacto dele na formação acadêmica?

Emmanuel Tourinho: Precisamos atualizar o nosso modelo de formação na graduação. A sala de aula tradicional não tem mais o mesmo papel de décadas atrás. Hoje, há informação abundante (e desinformação) facilmente disponível para qualquer aluno que tenha um aparelho ligado à internet. As universidades precisam formar pessoas não apenas para acessar conhecimentos, mas para interrogar os discursos que circulam em todos os espaços e para solucionar problemas complexos. O processo formativo deve priorizar a interação com situações concretas que permitam desenvolver as capacidades de análise e de elaboração de respostas, assim como a atuação em ambiente multidisciplinar. Colocar os alunos por mais tempo em laboratórios é parte desse esforço, desde que tenhamos bons laboratórios, com boas propostas pedagógicas, o que requer investimentos consideráveis. O LabInfra atende essa necessidade.

Revista Fadesp: É inevitável lhe perguntar sobre todo o momento que culminou com sua nomeação, no dia 14 de outubro de 2020, após um período de muitas incertezas...

Emmanuel Tourinho: Daqui a um tempo, talvez tenhamos uma medida mais exata do que representou todo o processo que culminou com a nomeação para o novo mandato. Pessoalmente, vivi esse período com o entendimento de que era parte de um tensionamento político que transcendia a própria UFPA, tendo o dever e a alegria de liderar uma grande resistência em defesa da Universidade Pública. Quando soube da nomeação, no dia 14 de outubro passado, fiquei muito feliz e emocionado – pela vitória de toda uma comunidade que lutou por democracia e por autonomia das Universidades Públicas e pela possibilidade de dar continuidade a um projeto a meu ver importante para todo o estado do Pará.

Revista Fadesp: Por fim, Reitor, gostaria de falar da importância da Ciência, especialmente neste momento em que esperamos ansiosamente pela vacina. O senhor, em um artigo emocionante publicado em uma revista de circulação nacional, falava sobre como somente a Ciência e Solidariedade nos salvariam. Nesse sentido, como maior celeiro de cientistas de toda a Amazônia, como contribuir e valorizar para/a produção desse conhecimento?

Emmanuel Tourinho: A pandemia tem trazido muitas lições para quem consegue vê-las. Aprendemos com ela, mais do que já sabíamos, por exemplo, sobre o enorme valor do Sistema Único de Saúde – SUS e das Universidades Públicas, onde se produz a ciência que está salvando vidas. Precisamos, ainda, que fique mais evidente que essa pandemia não é um problema fortuito ou episódico. Ele resulta, em grande medida, do modo como organizamos a nossa vida em sociedade e como alteramos os nossos ambientes naturais. Organismos que não circulavam em ambientes urbanos agora estão entre nós e são vetores de doenças que não conhecemos e com as quais não sabemos lidar. A ciência será cada vez mais indispensável para enfrentarmos essas ameaças à saúde pública. E não haverá saída só para alguns. Ou cuidamos de todos, ou ninguém estará protegido. Temos motivos adicionais para lutar por uma sociedade que valorize a ciência e que promova a cidadania plena para todas as pessoas, com saúde, educação, moradia e segurança. O que me entusiasma na Universidade é que nela lutamos por isso todos os dias.

(*) As fotos foram feitas respeitando todos os protocolos de segurança, com distância de mais de 3 metros entre o reitor e as fotógrafas. A entrevista foi concedida presencialmente, com uso de máscaras e distanciamento de mais de 3 metros.

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