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Ensino Remoto

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Editorial

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Distantes, porém conectados!

Por Brena Marques Fotos: Acervo pessoal

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Com a pandemia do novo coronavírus, os alunos e professores precisaram se adaptar com as aulas da lousa para a tela do computador. A sociedade em geral encontrou grandes desafios, assim como as instituições de ensino superior. Afinal, como manter a rotina acadêmica durante a pandemia?

“T ivemos que nos replanejar e readequar a implantação de um formato de ensino, quer seja não-presencial ou híbrido, que nos levou a pensar em estratégias que minimizassem os prejuízos ao ensino de graduação, dentre os quais, podemos citar a adequação de oferta de conteúdos que eram ofertados exclusivamente no formato presencial; expertise de docentes e discentes em atividades remotas; adequação da infraestrutura para a execução segura das atividades de ensino; condições socioeconômicas e psicológicas do corpo discente e docente; dentre outras”, conta a pró-reitora de ensino da Universidade Federal da Amazônia – UFRA, Ruth Helena Falesi.

Atualmente, com 9.381 alunos ativos na graduação, a UFRA realizou um questionário aplicado aos discentes para ter uma visão melhor das condições tecnológicas de cada um. O resultado mostrou que uma grande parte utilizava smartfone para acessar a internet fora das dependências da universidade. Os demais, além do celular, dispunham de computador, notebook ou tablet. Sessenta e cinco por cento dos discentes responderam que a principal forma de acesso à internet ocorria por banda larga fixa e 24% utilizavam o serviço móvel com limitação de dados (3G ou 4G).

Nesse contexto, portanto, a UFRA, disponibilizou auxílio inclusão digital (aproximadamente R$200 mil investidos), Kits PCD (que são designados para estudantes com deficiência e de investimento de R$31 mil), bônus internet (chips e bônus). Ressalta-se que além dos recursos financeiros, foram disponibilizadas as infraestruturas dos campi para utilização dos computadores condicionadas ao atendimento do protocolo de biossegurança da universidade. A UFRA investiu aproximadamente R$1.3 milhão no pagamento de auxílios e compra de materiais e equipamentos para garantir a continuidade do ensino, sem o cômputo do investido em outras ações necessárias ao enfrentamento da pandemia.

Com os efeitos da pandemia, o EaD veio para dar continuidade aos estudos, desta forma, os alunos não ficam atrasados nos assuntos acadêmicos. “A retomada das aulas, mesmo em um modelo não presencial, ajudou a diminuir o ócio e até problemas de ansiedade, já que o aluno sem aula acaba se sentindo improdutivo de certa forma”, revela Yuri Matias, aluno do 9° semestre do curso de Agronomia UFRA.

ENSINO E ALIMENTAÇÃO EM CASA

A pró-reitora de ensino da Universidade Federal do Oeste do Pará - UFOPA, Solange Ximenes, comenta que para driblar as dificuldades das aulas remotas, elaborou ações baseadas nos perfis dos estudantes em condição de vulnerabilidade socioeconômica agravada pela pandemia. Desse modo, a Instituição manteve, ao longo de 2020, o fornecimento de refeições no Restaurante Universitário. Os estudantes tinham a opção de pegar as refeições e levar para casa. Além disto, foram distribuídos chromebooks (aparelhos parecidos com notebooks), chips de internet, kits de material didático, além de outros tantos investimentos em soluções tecnológicas, instalação de salas inteligentes.

Solange também ressalta os obstáculos encontrados para dominar minimamente as ferramentas e para fazer a transposição didática de conteúdos preparados para o ensino presencial e que, de repente, passariam a ser trabalhados de forma remota. “Isso não se faz do dia para a noite. A UFOPA promoveu capacitações, fez parcerias com outras universidades que disponibilizaram cursos e elaborou cartilhas de apoio ao ensino re-

Ruth Helena Falesi

Thiago Rocha

moto que foram direcionadas para estudantes e professores”. Foram lançados editais específicos para apoio a ações emergenciais (Paem). Só no edital Paem Covid 19, houve aporte de recursos da ordem de R$380 mil e visava a seleção de propostas de ações emergenciais para a prevenção, enfrentamento e combate à Covid-19.

Thiago Rocha é aluno do 7° semestre do curso de Zootecnia da UFOPA. Para ele, o fato de não ter interrompido o semestre e ter o incentivo dos professores tem sido uma vitória em meio à pandemia. “Não ficamos parados no estudo e isso foi essencial. Os professores, mesmo alguns não estando familiarizados com todas as ferramentas de tecnologia, fizeram esforços para aprender e estão disponibilizando aulas, marcando nossas reuniões, dando aulas on-line e se dispondo nos aplicativos, como o de mensagens no WhatsApp para tirar dúvidas, o que é muito bom! Vemos que os professores realmente se importam e que fazem questão de nos ajudar”, exalta ele.

ADAPTAÇÃO AO MUNDO VIRTUAL

Se ressignificar foi preciso, com as aulas na modalidade de ensino a distância (EaD) os docentes e universitários encontram-se no dia e horário de aula, por meio das ferramentas digitais, como a webconferência. As aulas são administradas com o conteúdo previsto pela instituição, as atividades são pontuadas devidamente, e as dúvidas são respondidas durante as aulas.

Pablo Nunes, 17, estudante do 6° semestre do curso de Técnico em Desenvolvimento de Sistemas, do Instituto Federal do Pará – IFPA, relata que apesar da nova modalidade de ensino ser bem-vinda neste momento emergencial, por conta da segurança, ele também teve muitos problemas com a nova rotina, como dificuldades de concentração, exaustão em reuniões on-line, e os barulhos domésticos, que distraem do aprendizado. Ele conta que a organização do aluno é imprescindível para ajudar nessa mudança. “A minha adaptação foi bastante árdua e consistiu em um processo longo, já que nunca havia tido a experiência das aulas virtuais. Nesse sentido, precisei criar uma nova rotina e um cronograma para organizar minhas atividades do dia. A cada semana, eu revisava o cronograma que tinha criado para fazer ajustes necessários, a fim de melhorar o que não tinha saído como programado na semana anterior”, conta.

Elinilze Teodoro, pró-reitora de Ensino do Instituto Federal do Pará - IFPA, acredita que haverá mudanças na educação depois desta experiência mundial. “Sem dúvida muitas mudanças, mais elementos de transformação digital nos cursos e nos serviços institucionais, inclusive a própria educação EaD deve passar por mudanças, essencialmente porque todos passaram a ter muito mais aproximação com essas ferramentas e tecnologias. Dessa forma, o modo de estudar, o tempo de execução do curso, os materiais usados, são alguns dos elementos que acreditamos que serão fortemente impactados e modificados em pouco tempo”, afirma. O IFPA possui aproxima-

Pablo Nunes damente 16 mil discentes e contou com investimento de 7 milhões para realizar ações que diminuíssem as dificuldades durante as aulas remotas.

ENSINO VIRTUAL APÓS A PANDEMIA?

Maria Clara, 20, é aluna do terceiro semestre do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA. Ela conta que sua maior dificuldade, assim como a realidade de muitos alunos no país, é a questão da falta de estabilidade da internet. “Eu moro na cidade de Bagre, no Marajó, e o sinal [da internet] é muito ruim: usar dados móveis é uma situação que nem dá pra contar, é preciso ter wi-fi e existem dias que ele cai, mas sempre arrumo um jeito para fazer tudo dar certo”, diz.

Maria Clara precisou de tempo para entender a importância das aulas remotas e começar a se organizar, criando uma rotina melhor. Ela também acredita que o ensino e o mundo virtual estão se alinhando para além da pandemia, já que muitos cursos a distância ganharam mais importância. “Pressuponho que tenha sido novo tudo isso e muitos têm aprendido coisas novas. Tudo vai se aperfeiçoando aos poucos, o que é fundamental para se >>>

Elinilze Teodoro

Denilson da Silva Costa

alinhar totalmente e ganhar mais espaço em nossa vida”, explica.

Denilson da Silva Costa, pró-reitor de ensino da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA, explica que foram criados dois programas para ajudar nessa nova jornada. Para os docentes, o Programa Unifesspa On-line, cujo objetivo principal foi possibilitar o desenvolvimento da proficiência na utilização das novas tecnologias de informação e comunicação para o exercício satisfatório das atividades acadêmicas de forma remota, por meio de treinamentos, oficinas e webinários, com especialistas na área de ensino remoto.

Para sanar a dificuldade dos discentes, foi criado o Programa Conecta Unifesspa, com o intuito de apoiar os alunos em situação de vulnerabilidade social com empréstimo de Chromebooks, auxílio financeiro para aquisição de equipamentos de informática e distribuição de planos de dados móveis 3G/4G por meio de chip de telefonia móvel.

Com 5.473 discentes matriculados na UNIFESSPA, o pró-reitor crê que o ensino remoto é uma tendência que pode se concretizar futuramente em algumas disciplinas. “Acredito que estamos caminhando para um ensino no formato híbrido, em que as aulas presenciais serão somente para aquelas situações que necessitem de maior interação entre os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Mas há muitas questões a serem resolvidas, como a falta de equipamentos e problemas de acesso à internet dos nossos estudantes”, finaliza.

OTIMISMO PARA O FUTURO

Há quem veja alguns pontos positivos nessa mudança para ensino remoto. “As aulas EaD ajudam a otimizar o tempo, pois antes, muitas horas do dia eram gastas em pontos de ônibus e engarrafamentos. Também permite uma flexibilização de horários de estudos, [já que] as aulas ficam gravadas, então posso assistir no meu ritmo, pausar, acelerar e rever quando necessário”, relata Stella Moraes, aluna do 7° semestre do curso de Oceanografia da Universidade Federal do Pará - UFPA. A universitária também conta que os professores estão sendo solícitos e flexíveis, e compreende que os esforços são de ambos lados. “Estamos passando por um momento de dificuldade e procurando dar seguimento para as disciplinas da melhor forma para todos”, afirma.

Foi preciso paciência e expertise para realizar mudanças neste cenário, professores e alunos passaram por adaptações desafiadoras, porém, estão colhendo os frutos e obtendo bons resultados.

A competência da Universidade Federal do Pará – UFPA em fornecer aulas remotas e amparar os alunos de vulnerabilidade neste contexto foi fundamental. Fazer gestão da maior instituição pública de ensino de toda a Pan-Amazônia, que contabiliza 50 mil estudantes em seus 12 campi (os quais se distribuem entre graduação, especialização, mestrado, doutorado, e aqueles vinculados às residências médicas), foi um árduo trabalho.

A Administração Superior da UFPA elaborou um Edital de Inclusão Digital, que por sua vez, já atendeu, até o momento, 4.500 estudantes que se autodeclararam em situação de vulnerabilidade e apresentaram a documentação comprobatória necessária. Por meio do edital, o estudante poderia optar por receber um auxílio financeiro de até R$1.200,00 ou um tablet/ notebook que possibilitaria a participação das atividades acadêmicas desenvolvidas na instituição. “A UFPA contou com parcerias com vários setores: a Hydro, que fez a doação de 890 tablets e que doará notebooks, além do Banco Santander, que por meio do Programa Universia, doou 80 chips para acesso à internet”, relata Marília Ferreira, pró-reitora de ensino da UFPA.

Marília Ferreira entende que após a pandemia do Coronavírus, muitas mudanças ocorreram rapidamente, a fim de continuarem suas atividades. Algumas delas dizem respeito ao trabalho e à educação remota. “As tecnologias continuarão marcando presença certamente com incremento, tanto no que se refere à possibilidade de participação de cursos diversos, em instituições nacionais e internacionais, para estudantes de todo o mundo, bem como quanto às ações a serem conduzidas. Acredito particularmente que ainda não temos dimensão do que o homem poderá criar nesses ambientes. O céu não é o limite quando se trata dos ambientes virtuais e da tecnologia. Mais do que nunca tem se verificado a necessidade de contar com equipes bem preparadas em relação ao uso das tecnologias, com indivíduos adaptáveis, resilientes, multitarefas e criativos”, conclui.

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