AS PERSPECTIVAS PARA O PIB EM 2010 Revista de informação ANO VI — Nº 66 OMNI EDITORA
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doutor em patativa do assaré O escritor Gilmar de Carvalho, um dos mais originais intelectuais voltados para estudos de cultura de massa, lança antologia sobre Patativa do Assaré onde consagra a riqueza criativa do poeta popular brasileiro que rompeu as fronteiras nacionais e chegou à prestigiosa Universidade de Sorbonne, na França
Painel do artista plรกstico cearense Aldemir Martins no Centro Cultural Dragรฃo do Mar em Fortaleza - Cearรก.
TRANSFORMAR O ENSINO PÚBLICO, MELHORANDO A QUALIDADE DA EDUCAÇÃO, EXIGE TEMPO, DEDICAÇÃO E
PERSEVERANÇA.
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MOTORISTA LEGAL É MOTORISTA CONSCIENTE
FIQUE ATENTO AOS MOTOCICLISTAS E SINALIZE SEMPRE ANTES DE MUDAR DE FAIXA.
No trânsito é preciso ter sempre em mente o perigo que você pode causar aos outros e a si mesmo. Lembre-se que motos e bicicletas são mais frágeis e a segurança de quem as conduz depende da sua atenção. Dirija com consciência.
ISSN 1519-9533
REVISTA DE INFORMAÇÃO
EDITOR&PUBLISHER Luís-Sérgio Santos EDITOR SENIOR Isabela Martin Editor Associado Luís Carlos Martins EDITOR DE ARTE Everton Sousa de Paula Pessoa e Jon
Romano ASSISTENTE DE ARTE Luís Sérgio Santos JR Revisão Francisco Gomes Segundo COLABORADORES Roberto Martins Rodrigues e Roberto Costa IMAGEM Agência Brasil, Reuters REDAÇÃO E PUBLICIDADE Omni Editora Associados Ltda. Rua Joaquim Sá, 746 Fones: (85) 3247.6101 e 3091.3966 CEP 60.130-050, Aldeota, Fortaleza, Ceará e-mail: fale@revistafale.com.br home-page: www.revistafale.com.br Fale! é publicada pela Omni Editora Associados Lltda. Preço da assinatura anual no Brasil (12 edições): R$ 86,00 ou o preço com desconto anunciado em promoção. Exemplar em venda avulsa: R$ 9,00, exceto em promoção com preço menor. Números anteriores podem ser solicitados pelo correio ou fax. Reprintes podem ser adquiridos pelo telefone (85) 3247.6101. Os artigos assinados não refletem necessariamente o pensamento da revista. Fale! não se responsabiliza pela devolução de matérias editoriais não solicitadas. Sugestões e comentários sobre o conteúdo editorial de Fale! podem ser feitos por fax, telefone ou e-mail. Cartas e mensagens devem trazer o nome e endereço do autor. Fale! é marca registrada da Omni Editora Associados Ltda. Fale! é marca registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Copyright © 2009 Omni Editora Associados Ltda. Todos os direitos reservados. Impressão Halley Impresso no Brasil/Printed in Brazil. Fale! is published monthly by Omni Editora Associados Ltda. A yearly subscription abroad costs US$ 99,00. To subscribe call (55+85) 3247.6101 or by e-mail: df@fortalnet.com.br
Vem aí O Livro do Ano 2009-2010. A história é de quem faz. O mais completo documento de 2009 e os cenários para 2010. Mais um lançamento da Omni Editora.
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ArenaPolítica TalkingHeads Online BrasíliaOff Blogosfera
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POLÍTICA
A evolução do PIB
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As projeções para 2009 mostram uma ligeira alta, de 0,20% para 0,21%, segundo o boletim Focus, elaborado pelo Banco Central com base em estimativas dos analistas do mercado finaneiro. Para 2010, a projeção leva o PIB a 4%
22Corrupção global
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Brasil melhora no ranking da Transparência Internacional que mede a corrupção. País subiu cinco posições em relação a 2008, diz Transparência Internacional. Nota 3,7, em uma escala até 10, indica problema grave de corrupção
economia
38Câmbio, o gargalo
No 4º Encontro Nacional da Indústria, promovido pela CNI o ministro Guido Mantega apresentou estudo sobre o câmbio ideal para o Brasil, de R$ 2,60
42Grendene, recorde
O lucro líquido da Grendene bate recorde e registra R$ 187,2 milhões no acumulado de janeiro a setembro. Valor é 19,5% superior a igual período de 2008
26100 Patativa
Gilmar de Carvalho, um dos mais originais intelectuais voltados para estudos de cultura de massa, doutor em Semiótica PUC-SP, lança uma antologia sobre Patativa do Assaré
SEÇÕE S
10 Talking Heads 13 Arena Política 14 Online capa: foto francisco souza
15 Blogosfera 16 Periscópio 51 Persona
Foto: Marcello Casal Jr _ABr
diplomacia sob pressão
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe o presidente da República Islâmica do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, no Itamaraty. Lá fora, manfestantes fazem protesto contra a presença no país de Mahmoud Ahmadinejad.
“
É um desafio fazer uma campanha sem Lula. Acho que esta será uma eleição difícil. Não subestimo nem o Serra nem o Aécio. José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil
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TalkingHeads Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é uma cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro. Ela fala bem. declarando voto a Marina Silva, pré-candidata pelo PV à presidente da República, e dando estocada no presidente Lula, em entrevista ao jornal O Estado de s. Paulo
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CAETANO VELOSO,
Queremos impedir o excesso de atração fatalem seminário em relação ao Brasil. sobre o Brasil realizado em Londres, GUIDO MANTEGA,
—organizado pelos jornais Financial Times e Valor — argumentando que preocupação com a valorização do real tem o objetivo de evitar uma “exuberância irracional” no Brasil, referindo-se ao termo cunhado pelo ex-presidente do Federal Reserve Alan Greenspan.
Foto janine moraes _ ABr
Se Dilma ganhar as eleições, sobrará um subperonismo (o lulismo) contagiando os dóceis fragmentos partidários, uma burocracia sindical aninhada no Estado e, como base do bloco de poder, a força dos fundos de pensão. fernando henrique cardoso, em crítica ao Governo Lula
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Foto josé cruz_abr
Os problemas são criados na expansão e aparecem na retração. Henrique Meirelles, presidente
do Banco Central fazendo uma referência aos efeitos provocados na economia mundial pela quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, em palestra no 8º Seminário de Economia, promovido pela Febraban.
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d i n h e i r o
Os bancos se sentem obrigados a financiar o desenvolvimento. Se os bancos não cobrassem nada, o spread já seria de partida 29,4% por causa dos tributos.
A expansão nessa área é enorme. O crescimento econômico e a criação de empregos sempre tem reflexo positivo na baixa renda.
da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) e do Bradesco, mostrando que o Governo também participa da composição do spread
do Banco Itaú, prevê para o próximo ano um aumento de 25% até 30% nas operações de financiamento ao consumo
Márcio Cypriano, presidente
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Roberto Setubal, presidente
Foto Fabio Rodrigues Pozzebom _ ABr
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Não deixe pra depois a gravação de uma imagem achando que ela estará lá mais tarde. É provável que você perca a imagem. Flávio Fachel,
jornalista, repórter da TV Globo, pelo endereço twitter/ flaviofachel
terminar a fase do achismo, vamos entrar na fase mais objetiva, que são os resultados concreto.” presidente Luiz Inácio Lula da Silva , sobre as causas do blecaute que deixou 18 Estados sem luz na terça-feira, 10 de novembro
“Só posso confiar em informações técnicas para saber se tem coisa além do que eles, ministros da área energética, me colocaram, de que seria por conta das intempéries.” Idem
Celina Ramalho,
professora de planejamento e análise econômica da FGV-SP
Particularmente o mercado brasileiro [...] tem projeção de inflação em torno de 4,5% em 2010 pela tendência de crescimento da economia.
atriz, pelo endereço twitter/ NanaGouvea
Nana Gouvêa,
O que norteia o meu caminho é idealismo, determinação, coragem e trabalho. E o compromisso com a modernidade e a mudança.
S A Í D A
P E L O
VERDE Foto josé cruz _ ABr
marconi perillo,
senador, pelo endereço twitter/marconiperillo
Será que também consigo me hospedar com 70 amigos numa embaixada brasileira? Tava pensando em ficar na da Itália? Hélio de la Peña,
humorista, no endereço twitter/Lapena
O cenário favorável da economia brasileira para o longo prazo deve-se à política econômica restritiva de altas taxas de impostos e altas taxas de juros pela meta de inflação aplicadas até o ano de 2008, anteriormente à crise. Estamos na fase de revisão dos preços de mercado.
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Madonna ao invés de de dar dinheiro pra gente veio foi pedir. Ninguém merece. Pior que se pedir para minha ONG as Organizações Nana Gouvêa ninguém dá.
apagão. “Quando
A ministra Dilma está mais verde.
Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente, revelando uma mudança
no perfil da ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff.
Não disputo com a ministra Dilma, que é candidata à Presidência. Eu sou candidato a deputado estadual. minc, evitando polêmica e confronto.
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Já estamos vendo a crise pelo retrovisor. A crise, hoje, é só para gringo.
carlos lupi, ministro do Trabalho, ao anunciar que o Brasil ultrapassou, em outubro, a marca de 1 milhão de empregos formais gerados desde o início do ano
Aposentado é que nem mato, aonde você vai tem. henrique alves, líder
do PMDB na Câmara dos deputados, sinalizando apoio ao reajuste dos aposentados novembro de 2009 | Fale
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talkingheads
A ação do governo não é só em defesa do interesse público, é [em defesa] da saúde da mulher também. Embora, hoje, câncer de mama seja uma doença masculina também, né? Deve ser consequência dessas paradas gay.
Nosso problema agora é administrar o sucesso, que às vezes cria custo, todos nós sabemos.
Roberto Requião, Governador do Paraná (PMDB), sobre o câncer de
Henrique Meirelles,
mama em homens.
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presidente do Banco Central
O setor industrial cearense trabalha com a expectativa de que o pior já passou e a economia brasileira deverá experimentar, ano que vem, um crescimento de 5%. Roberto Macedo,
Se o sistema é robusto como nós acreditamos que seja, [...] por que que então nós tivemos este desastre?
altacomissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para Assuntos de Direitos Humanos
Navanethem Pillay,
ainda intrigado com o apagão
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o presidente da Federação das Indústrias do Ceará — Fiec
A maior parte dos povos indígenas do Brasil não está se beneficiando do impressionante progresso econômico do país e está sendo retida na pobreza pela discriminação e indiferença, expulsa de suas terras na armadilha do trabalho forçado.
presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
de 2009
Parada Gay de Brasília, _ Foto Fabio Rodrigues Pozzebom _ ABr
Não me sinto acusada de jeito nenhum pelo Gilmar Mendes [presidente do STF]. Primeiro porque não estamos fazendo vale tudo no Brasil. Estamos fazendo projetos e inaugurando, fiscalizando. Dilma Rousseff,
ministra-chefe da Casa Civil, sobre comentário de uso eleitoral da máquina
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Não pretendo mudar o jeito de ser e de me vestir. geisy arruda, a jovem
hostilizada na faculdade Uniban em São Paulo por usar minissaia
ArenaPolítica A NAMORADINHA DO BRASIL SE RENDE AOS AFAGOS DO pt
transporte escolar para aposentar o pau de arara
Crianças se deslocando para as escolas em paus de arara, a pé ou em canoas são realidade nos sertões do Nordeste. No Ceará, no entanto, há uma política pública para resolver o problema. Contrato assinado com a Caixa assegura a compra de 247 ônibus para o transporte dos alunos da rede pública na zona rural. “O montante representa 10% de tudo o que já foi adquirido no Brasil, desde o início do programa Caminho da Escola”, informa o governador Cid Gomes. Em 2009, serão 100 veículos. Os outros, em 2010. Todos virão com inovações para melhorar a trafegabilidade e o conforto dos estudantes.
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epois de uma sucessão de
informações reticentes, uma dasquais atribuindo à raios o apagão da noite de terça-feira, 10 de novembro, o Ministério de Minas e Energia divulgou hoje nota de esclarecimento afirmando que um curto-circuito foi o motivo do blecaute em 18 estados. O blecaute deixou 60 milhões de brasileiros sem luz. De acordo com o ministério, o curto-circuito derrubou três linhas de alta tensão o que provocou o desligamento de Itaipu. Com a perda da usina binacional, outras usinas foram desligadas por questões de segurança. Na nota, o MME voltou a ressaltar que no momento do blecaute a região de Itaberá (SP) sofria com chuva intensa, ventos fortes e descargas atmosféricas — embora moradores da região digam que foi “só uma chuvinha”. O ministério também assegura que os consumidores que tiveram aparelhos queimados pela queda de energia têm até 90 dias para cobrar o ressarcimento das suas concessionárias. Segundo informações do ministério, um grupo de trabalho do Comitê de Mo-
O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, durante entrevista coletiva sobre o blecaute que atingiu 18 estados e o Paraguai Foto Renato Araújo _ ABr nitoramento do Setor Elétrico vai buscar medidas que “aumentem o grau de segurança e confiabilidade do sistema interligado de fornecimento de energia elétrica”. O Operador Nacional do Sistema (ONS) deve divulgar documento como resultado das análises feitas nos aparelhos que medem o fluxo de energia nas linhas e que fizeram um retrato do que houve no momento do blecaute.
Glória Pires interpreta a mãe de Lula e chora ao ver o filme A atriz Glória Pires, que interpreta dona Lindu, a mãe do presidente, no filme de Fábio Barreto “Lula, o Filho do Brasil”, falou à coluna Mônica Bergamo, do jornal O Estado de S. Paulo
sobre o filme, que estreia em circuito comercial em janeiro. “Eu vi uma cópia bruta, uma primeira montagem que mandaram para Paris. Gostei muito do que vi. Agora, eu,
particularmente, acho muito difícil me assistir. É uma coisa extremamente desconfortável para mim, eu tenho muita dificuldade. Então, cada estreia é um sofrimento. Eu não consigo relaxar, não consigo.” Glória torce para que as pessoas assistam ao filme. “E que levem um lençol. Eu chorei muito. O filme é muito bonito, tocante.” Lula, o Filho do Brasil abriu o Festival de Brasília dia 17 de novembro em sua primeira apresentação pública. Multimídia, o site do filme Lula O Filho do Brasil vai de twitter a flickr passando pelo orkut facebook e youtube. www.
lulaofilhodobrasil.com.br www.revistafale.com.br
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O blog Gente de Mídia, do jornalista Nonato Albuquerque registrou que a atriz Regina Duarte se rendeu aos afagos do PT. “Ela, que durante a campanha presidencial apareceu num vídeo dizendo ter medo da possibilidade de Lula chegar à presidência, agora é garota-propaganda, adivinhe de que partido? Do PT.” “Numa série de anúncios da Prefeitura de Fortaleza, Regina Duarte aparece sorridente, de vermelho, falando maravilhas. Nada contra, muito pelo contrário. Acontece que, por dinheiro, algumas pessoas mudam de ideia com rapidez de um raio.”
E O APAGÃO VEIO DE UM CURTO-CIRCUITO
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Online Microsoft demite 800 em política de ajustes
A Microsoft anunciou, em San Francisco (EUA) cerca de 800 demissões dentro de um plano mais amplo de eliminação de vagas anunciado em janeiro deste ano. O plano foi o primeiro a prever significativas demissões nos 34 anos da companhia e deve totalizar 5,8 mil cortes, acima dos 5 mil anunciados em janeiro. Na época, a Microsoft afirmou que o programa de demissões era destinado a deixar os custos da companhia mais em linha com a piora da economia.
TIM sai de prejuízo para lucro de R$ 60,811 mi
A TIM Participações obteve no terceiro trimestre de 2009 lucro líquido de R$ 60,811 milhões, ante prejuízo de R$ 12,053 milhões no mesmo período do ano passado. A receita líquida na mesma comparação caiu 2%, para R$ 3,337 bilhões. O Ebitda (lucro antes de impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 758,782 milhões, o que representa uma queda de 5,0% em relação ao terceiro trimestre de 2008.
As perspectivas da Sony e Panasonic. Recuperção
A Sony e a Panasonic sinalizaram que o pior já pode ter passado para as duas maiores fabricantes de bens eletrônicos de consumo, e apresentaram projeções melhoradas para os resultados anuais, com a ajuda de cortes de custos. Isso se segue a anúncios de projeções otimistas pela Samsung Electronics, a maior fabricante mundial de LCD, e pela Sharp. A Sony registrou seu quatro prejuízo trimestral consecutivo no período julho-setembro, devido às vendas fracas de celulares e dos cortes de preços de seu console de videogames PlayStation 3. 14 | Fale!
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smartphone da Dell, restrito A Dell entrou no mercado de celulares com o smartphone Mini 3 em parceria com a Claro — que tem contrato de exclusidade no Brasil — e a China Mobile. O aparelho usa o sistema operacional Android, do Google. O Mini 3 passa a concorrer com o iPhone (Apple), o BlackBerry (RIM), o Windows phone e vários aparelhos basea-
dos no Android. Em visita ao Brasil, Michael Dell destacou a importância do mercado de celulares para a empresa. A Dell negocia com a América Móvil, controladora da Claro, o lançamento do aparelho em outros países da América Latina. A exclusividade com a Claro pode ser um tiro no pé da Dell, considerando as limitações para uma só operadora.
O aparelho tem suporte à Microsoft Exchange, IM do Google, AIM, Yahoo e MSN, câmera de 3 megapixel com auto-focus, flash, zoom digital 8x, vídeo a 30fps e editor de imagens. USB 2.0, Bluetooth 2.0, teclado Qwerty na tela, reconhecimento de escrita e interface multitoque dentre outros apetrechos.
Sony Vaio NW com Blu-ray e HD de 400GB O novo notebook Sony Vaio NW custa US$ 880 (no exterior) e oferece um drive Blu-ray, tela de 15.5”, processador Intel Core 2 Duo de 2GHz, placa gráfica Radeon HD4570 com 512MB de memória, HD de 400GB e até 4GB de
NET. A finlandesa Nokia entrou no “mundo dos netbooks” e lançou o portátil Booklet 3G. Em relação aos modelos já existentes no mercado, não há nenhuma grande surpresa. O equipamento será lançado com tela de 10,1”, processador Intel Atom, porta HDMI, leitor de cartões SD e poderá oferecer também Wi-Fi, A-GPS, conexão à internet 3G/HSPA e Bluetooth.
memória RAM DDR2. Ele também tem duas saídas de vídeo (VGA e HDMI) e um leitor para cartões MemoryStick Pro, Express Card e SD. É possível optar entre dois tipos de bateria de lítio-íon, uma com duração
de uma hora e meia e outra com duração de 5 horas e meia.
O Nokia Booklet 3G tem com bateria com autonomia de 12 horas, espessura máxima de 2 cm e peso de 1,25 quilo. O sistema operacional padrão é o Windows.
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A Polícia cai na rede
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O novo B.O. Mesmo sem perceber eles podem estar mudando a cara da polícia. O tenente Alexandre de Sousa, 25 anos, é considerado um dos pioneiros na chamada blogosfera policial. Seu blog, o Diário
de um PM, foi pioneiro e virou referência para dezenas de policiais. O aspirante-a-oficial baiano Danillo Ferreira, de 23 anos, criou o blog Abordagem Policial. Focado em discussões sobre segurança pública
O blog Liberdade Digital destacou que usuários brasileiros do Twitter mostraram sua força durante o apagão ocorrido na noite de 10 de novembro. Com alguns dos grandes portais de notícias fora do ar, devido a problemas de conexão, foi o microblog que serviu de suporte para cobertura de muitos jornais. Com a colaboração de usuários de fora da área atingida pelo blecaute, o nome da usina de Itaipú ganhou os “Trending Topics” do Twitter.
Ranking dos blogs brasileiros 2009
Não é oficial mas, mas o ranking elaborado pela blog do Dossiê Alex Primo vale a pena ser conferido. Alex Primo é professor do curso de Comunicação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e para realizar o levantamento contou com o apoio do blog MundoTecno, que já havia publicado rankings de blogs em anos anteriores. O levantamento também dividiu os sites por tema, assim, podemos conhecer os blogs mais influentes em cada área de interesse. Veja no site da Fale! a relação completa do 100 melhores blogs segundo a pesquisa.
nova fase na Blogosfera cubana A blogosfera mundial ficou comovida com os caso da blogueira Yoani Sánchez – que foi proibida de viajar para receber um prêmio. Para piorar Yoani acusa, “agentes de segurança cubanos” de agredi-lá após um detenção sem motivos. Os protestos online que partem da ilha de Cuba, tem ficados “mais duros”, conta Juan Tamayo no Jornal Miami Herald. “Com cuidado, mas com determinação, alguns blogs cubanos, que eram centrados, principalmente, nas
e sociedade, o blog foi criado junto com colegas na academia de polícia – hoje é apontado como leitura obrigatória no universo policial. As esperiências dos dois militares foram compartilhadas
com outros colegas durante uma oficina na Conferência Nacional de Segurança, em Brasília. Agora são milhares de políciais escrevendo o novos Boletins de Ocorrência vituais. Quem ganha é a sociedade.
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frustrações da vida cotidiana na ilha estão trazendo comentários ácidos, e alguns temem sofrer represálias por parte do governo comunista”, diz ele. O governo dos irmãos Castro tentou, há muito tempo, restringir o acesso dos cubanos à internet, “mas os cidadãos da ilha têm encontrado formas de se manter mais adiantados que os agentes de segurança, cujo conhecimento de tecnologia deve ser inferior”, contou um blogueiro à Tamayo. n
plugado...
Liberdade Digital www.liberdade.blogueisso.com Dossiê Alex Primo www.interney.net/blogs/alexprimo MundoTecno www.mundotecno.info Yoani Sánchez www.desdecuba.com/generaciony Diário de um PM www.diariodeumpm.net Abordagem Policial www.abordagempolicial.com
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blogosfera policial, como é chamada pelos seus integrantes, é um fenômeno recente da internet brasileira, mas já reúne dezenas de páginas assinadas por policiais civis, militares e rodoviários de várias patentes, bombeiros e jornalistas especializados. “Com um conteúdo diversificado, visões divergentes e ambições variadas, estas páginas começam a exercer influência sobre instituições e formadores de opinião”, aponta o estudo “A Blogosfera Policial no Brasil – do Tiro ao Twitter”, pesquisa realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco, no Brasil, com o Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes – CESeC. O objetivo do inédito estudo é analizar o crescente uso dos blogs e seu impacto na esfera da segurança pública. A pesquisa foi realizada através de entrevistas, mesas redondas e um questionário de 35 perguntas, respondidas por autores de 70 blogs, entre maio e junho deste ano. O fenômeno da blogosfera policial é recente, o estudo da UNESCO e do CESeC revela que, entre os conteúdos avaliados, apenas 12 foram criados em 2006 ou em anos anteriores. Os dados caracterizam o franco desenvolvimento: entre janeiro e início de agosto deste ano, foram criados 15 novos blogs policiais. Segundo a pesquisa, o predomínio é de policiais militares por trás das postagens. No universo pesquisado, 58% dos entrevistados são oriundos da PM, 15,1% das guardas municipais e 13,7% da Polícia Civil. Um dado chamou a atenção na pesquisa, o “temor às retaliações” é forte entre os donos dos blogs. Dos 73 entrevistados, 27 disseram já terem sido censurados ou reprimidos. As ameaças de prisão e transferência foram as mais citadas. Além disso, a política salarial e condições de trabalho, e outros temas sensíveis, como direitos humanos, investigações de corregedorias, projetos comunitários e inquéritos abandonados, são tratados pelos blogs com frequência e destaque. “Como é que pode sob a justificativa de preservar a hierarquia e disciplina, ressalte-se em tempo de paz, cercear direitos humanos e fundamentais como é o caso do direito de reunião?”, dizem os autores de um dos blogs pesquisados ao atribuírem o nascimento da página a uma “demanda reprimida”.
Apagão no Brasil bombou no Twitter
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Periscópiofernando maia O mais votado
Já nasceu eleito o candidato a ser mais votado para a Câmara Federal nas próximas eleições. Trata-se do estreante Domingos Neto, jovem político bom de lastro e bom de bico. Candidatos à representação federal — detentores de mandato e novos —, estão trabalhando com a convicção de que ninguém poderá superar em votos o filho do presidente da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Domingos Filho. Não repetirá a extraordinária façanha de Ciro Gomes que ultrapassou os 600 mil votos, mas será o fora de série do próximo pleito. Estimativas apontam em 250 mil o numero de eleitores que apoiarão o postulante do PSB na contingência de experimentar, pela primeira vez, a eficácia do pai, deputado Domingos Filho.
mandato
lnácio Arruda, senador da República e ex-chefe dos baderneiros que atanazavam diariamente a paciência do prefeito José Maria de Barros Pinho, renunciou as suas bandeiras e faz péssimo mandato. Desapareceu no circuito das viagens internacionais a que tem se dedicado ultimamente na Câmara Alta.
Choque frontal Em andamento, fortes ruídos na Mesa Diretora da Assembleia Legislativa. O deputado Hermínio Resende, terceiro secretário, está em rota de colisão com o presidente Domingos Filho. Noticia do serviço de difusão dos corredores do Legislativo.
Sob nova direção
A insubordinação de 4 deputados do PSDB provocou reações imediatas junto a tropa, e de efeito retardado mas de maior virulência junto a cúpula tucana. Teodoro Soares, Nenen Coelho, Julio César e Osmar Baquit tinham razões particulares para apoiar a votação da mensagem 16 | Fale!
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O CONFUSO QUADRO ELEITORaL NO CEARÁ
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ão se sabe se é desatino
ou ato de coragem a favor da democracia, mas a candidatura de Roberto Pessoa está encontrando ressonância e pode mudar a correlação de forças da política estadual. Vitorioso ou derrotado na empreitada a que se entrega, o Ceará deve ser grato a Pessoa, prefeito de Maracanaú, por possibilitar ao povo uma alternativa para o exercício pleno da democracia. O governador Cid Gomes parece decidido a não se pronunciar antecipadamente sobre o tema sucessório, mas é certo que, respaldado por uma administração firme e segura, será candidato com louvores a um segundo mandato. Quem os conhece sabe que ele e Roberto Pessoa continuarão perseguindo o essencial que é a disputa pelo governo do Ceará. O PSDB alimenta esperanças, e só esperanças, mas não terá candidato. O senador Tasso Jereissati, único tucano que poderia ameaçar essas postulações, não acatará a convocação dos seus pares. Mas a exemplo do que ocorreu no ultimo pleito, seu apoio será decisivo. No momento pode se dizer que dificilmente o
governamental do Refis, discrepando da orientação do líder João Jaime, que tentava salvar do cadastro impeditivo do Serasa, empresários inadimplentes com o Erário. A inesperada posição dos seus representantes, levou o presidente Marco Penaforte a fazer advertência numa reunião com direito a puxão de orelhas: daqui por diante quem não obedecer www.revistafale.com.br
governador conseguirá manter o arco de alianças que o apóia. É impossível num firmamento de nove partidos agradar a todos. Há insatisfações mas é certo que, dos grandes, pelo menos o PMDB estará a seu lado. A prefeita Luizianne Lins é confiável, mas o PT é escorregadio, e tem motivos para mudar de rumo se Ciro Gomes for candidato a presidência da República. Esse quadro poderá ser outro se Aécio Neves for o candidato do PSDB. O governador de Minas é o único político capaz de acomodar Ciro Gomes numa vice que não lhe interessa, unindo PSB, PMDB e PSDB para eleger Cid Gomes. Nessa situação, seria difícil para Roberto Pessoa chegar ao segundo turno em 2010. Mas se os fatos não convergirem nessa sequência, podem ter certeza que a terceira via terá chance de chegar ao poder. O clímax dessa expectativa será o período que se abrirá em fevereiro indo até março, quando expira o prazo de definições. É importante garantir iguais oportunidades a todos os concorrentes. Afinal, o eleitor continua sendo o rei no dia da eleição. ao comando partidário será sumariamente expulso. O maior pito foi para Osmar Baquit que denunciou ao líder João Jaime uma tentativa de traição de colegas de bancada no dia da votação, mas não citou nomes. “João Jaime, se a sua emenda tiver um só voto, esse voto será o meu.” O resultado da votação mostrou que ele também ficou com o governo.
Periscópio
ser ou não ser
Tasso Jereissati, primeiro e único líder inconteste do PSDB no Ceará e alhures, têm dado a entender nos encontros públicos do partido que poderá aceitar a disputa pela sucessão governamental, mas não faz a mesma afirmação para os seus colegas dirigentes da Executiva. Lá todos sabem que não será. Embora a sua candidatura seja
tributação
Não é conveniente convidar para a mesma mesa o deputado Lula Morais e qualquer dirigente da COELCE. O parlamentar do PC do B ainda não sarou a ferida da CPI que tentou contra a fornecedora de energia elétrica, morta por inanição, depois que o presidente da eletricitária forneceu um dado assustador a Casa. De cada R$100 arrecadados pela empresa, 72% são pagos de impostos ao fisco estadual.
O empresário Ivens Dias Branco já deu o ponta-pé para o início da sua fábrica de cimento que ficará localizada em Jaguaruana, a 120 km de Fortaleza, no sopé da Chapada do Apodi. Terá como sócio um grupo de empresários paulistas. Um dos maiores produtores
de massas alimentícias do país com fabricas espalhadas Brasil afora, e detentor de um porto privado para escoamentos dos seus produtos, Ivens enfrentará novo desafio. Competir com os grupos João Santos e Ermírio de Morais.
Uma fraude
Freio de arrumação
E
speram peemedebistas da bancada federal, à frente os deputados Aníbal Gomes e José Gerardo Arruda, que Eunicio Oliveira desista da sua plataforma senatorial para candidatarse a vice-governador na chapa de Cid Gomes. Uns, por maldade, passam adiante a informação comentando que ele dificilmente se elegeria. Não conseguirá superar em votos as candidaturas de Tasso e José Pimentel. Outros asseguram, que os que assim pensam, defendem o fortalecimento do partido no Ceará, já que o vice de Cid, se o pessebista for eleito, assumirá a Chefia do Executivo quando o governador se afastar para disputar o Senado em 2014. Na verdade, existe um claro dissídio de alguns do PMDB com o presidente da executiva estadual, Eunício Oliveira. Poucos correligionários dão crédito a conquista do Senado por Eunicio. O governador Cid Gomes tem trabalhado muito mais a seu favor, do que os seus companheiros de Brasília e daqui. Está na hora do candidato dar um freio de arrumação na sua própria carroceria.
O claustro de padre Fred Solon
P
adre Fred Sólon que faleceu aos 78 anos no dia 18 de novembro, surpreendeu a sociedade cearense na década de 50, ao trocar os luxuosos salões do Ideal Clube pelo Convento dos Irmãos Franciscanos, onde viveu até os seus últimos dias.
Quem visita Parambú, cidade a 408 km de Fortaleza fica surpreso. Pequena, mas limpa com ruas de meio fio pintados em branco. O clima de rachar durante o dia contrasta com frio das noites. É um paraíso de conto de fadas, onde o povo, incrível, está satisfeito com o seu governante, um agricultor filho da terra que enriqueceu lá pelas bandas de Belém do Pará, onde é tido como o Rei do Crediário. Chama-se Genecias Noronha e tem boa fama. É conhecido como o Lula do Sertão, na região, e também no vizinho Piauí, onde o município é fronteiro. Tem um programa similar ao Bolsa Família com recursos do município que dá pra tudo se bem aplicados. “Sou um homem rico e não preciso de dinheiro público” é a sua resposta aos incrédulos. Sim, é dificil, mas pode existir exceção a regra.
Fervoroso convicto, abandonou o café-soçaite pela reclusão em claustro. Discute-se o porque dessa abrupta mudança. Uns falam em forte paixão não correspondida. Outros, que foi convocado por uma voz em sonho para pregar o evangelho de Cristo .
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Bernardo Cabral passou por Fortaleza para proferir palestra na Unifor sobre os 21 anos da Constituinte de 1988, da qual foi relator. Saulo Ramos, ex-Ministro da Justiça na mesma época, conta em seu livro “Código da Vida”, excelente por sinal, que ele é uma fraude, não entende nada de direito, e não poderia ser o relator de uma ciência que desconhece. E mais: aponta o cearense José Lins como o verdadeiro relator da revisão da nossa carta constitucional. Pelo visto estamos mal. Zelins era engenheiro e Cabral, um impostor.
injustiçado
Isidro Morais, correto superintendente estadual do BNB foi atirado às feras, acusado pelo PSDB de Mauriti, de beneficiar com empréstimos os petistas do município onde nasceu. Julgado inocente, deu-se novo aproveitamento político do episódio para tentar denegrir a sua imagem e comprometer a instituição que representa. novembro de 2009 | Fale
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a salvação da bancada estadual que poderá minguar de 16 para 7 gatos pingados se não contar com um carro chefe puxador de votos, sabe-se a boca pequena que o senador não vai ser candidato, em nenhuma hipótese, ao governo do estado. Quando afirma que poderá ser, tenta segurar correligionários com retórica para manter viva a esperança de maus políticos que o gênero humano não dispensa nem mesmo no ninho tucano. Na maioria dos partidos, político sem perspectiva de poder tende a voar rápido. E com muito mais facilidade numa agremiação onde todos têm asas.
Dias Branco, novas fronteiras
Rei do crediário
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10Perguntaspara
faustino paiva
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foi a para a cidade, comeu o pão que o diabo amassou e virou um dos mais respeitados chefs da região, após uma temporada no Sul do brasil. José Faustino Paiva é hoje a locomotiva do apreciado restaurante que leva seu nome, na avenida Beira Mar, em Fortaleza. Ali comanda uma equipe de profissionais formada por ele mas não abre mão de escolher seus próprios insumos e dar o toque de mestre em todos os pratos. Até chegar à posição de empresário foi preciso muita determinação e intuição. Faustino iniciou sua carreira em 1976 no Rio de Janeiro como lavador de pratos, numa fase onde também foi faxineiro e camareiro. Ele escalou passo a passo a hierarquia de uma cozinha de restaurante até chegar ao de chef do renomado Hotel da Glória. Com o trabalho aliado à curiosidade e muita criatividade, voltou ao Ceará como chef de cozinha em 1986 e trabalhou para o Hotel Praia Verde e a Rede Othon. Em 1991, montou o Restaurante Cantinho do Faustino em Fortaleza e, agora, se instalou na Beira-Mar com o Faustino Fortaleza, um dos restaurantes de melhor frequencia na cidade. Faustino é um dos chefs convidados do I Festival Internacional do Camarão, na neo-batizada Costa Negra, região que abrange as cidades de Acaraú, Itarema e Cruz, no Ceará. LE NASCEU EM Reriutaba, no SERTÃO DO Ceará, SAIU DA ROÇA E
Fale! Faustino, o que o fez deixar a vida na roça e as feiras do interior do Ceará para ir tentar a vida no Rio de Janeiro?
Faustino. Saí da minha terra natal aos 17 anos, praticamente fugindo da seca. Me mudei para ajudar meus pais a sobreviverem, já que da terra não conseguíamos tirar o sustento. Minha primeira visita ao Rio de Janeiro foi em 1974, mas me mudei definitivamente pra lá em 1977. Comecei trabalhando no Hotel Glória, fazendo serviços gerais, assim como todo nordestino. Lavava panelas e pratos e limpava o chão. Para mim, assim como um prédio, que precisa de um alicerce para poder “subir”, temos que começar de baixo. No momento que um garçom chega e diz que quer trabalhar comigo, mas nunca lavou uma panela, ele não é profissional. O profissional é aquele que vai crescendo e conhece todas as regras de um estabelecimento, seja ele um restaurante ou um hotel...
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Fale! Quando e em que situação você deixou de lavar pratos e assumiu o comando das receitas? Alguém lhe ajudou?
Faustino. Muitas pessoas me aju-
daram, mas lavei prato e panela quase um ano. Nesse período, também, nas horas vagas, ia trabalhar, sem receber nada, com algum cozinheiro. Não é muito comum a pessoa chegar no restaurante onde trabalha e trabalhar a mais, sem receber hora extra. Eu não. É sempre um recado que eu deixo pra quem esta começando: procuwww.revistafale.com.br
re o lado profissional. O que você planta, você colhe. Trabalhava de 7 às 21h em um hotel, tomava um banho e descansava. Em vez de assistir televisão, por exemplo, ia trabalhar sem custo algum ao lado de um chef. Quando pensaram em me colocar como ajudante de cozinha, eu já era cozinheiro profissional. Foi bem mais lucrativo do que ficar à toa no meu tempo livre.
A criatividade vem na frente do tempero. Nós, cozinheiros, temos que ser criativos.
Fale! Por que voltar ao Ceará depois de iniciada uma fase de sucesso no Rio de Janeiro?
trabalhei para os outros com muita vontade e respeito, com hora para entrar, mas sem ter hora para sair. Depois de descobrir que eu amo trabalhar em hotéis, me dei conta de que a carga horária que eu cumpria era suficiente para ser dono do meu próprio negócio.
Faustino. É do nordestino voltar a sua terra natal. Eu quero é ver um nordestino que está no Sul não querer voltar. O que impede é o medo, a vida que criou, mas sempre deseja voltar. Eu não. Voltei porque sabia que ia me dar bem.
Fale! Ao voltar ao Ceará, em 1986, pouco tempo depois você montou seu próprio negócio...
Fale! A vontade de ser empresário já era presente mesmo quando estava no Rio?
Faustino. A gente começa a enxergar as coisas com o tempo. Sempre
Faustino. Penso todos os dias. Eu amo o interior. Se eu puder, quero morrer no meu torrão. Eu saí do mato, mas o mato não saiu de mim. E essa cultura do interior eu mantenho até hoje. Fale! Um dos pontos fortes na sua culinária é a utilização de condimentos orgânicos, cultivados por você. Onde fica o seu sítio e por que se ocupar da matéria prima, uma vez que ela pode ser facilmente obtida?
Faustino. Em cima do meu prédio tem 252 m² de canteiro. Troquei a telha por canteiros. Lá eu tenho salsinha, coentro, cenoura, alface... Acredito que qualquer pessoa pode manter a sua horta em casa. Em
Fale! A que você atribui o sucesso de uma receita? O que é necessário pra que ela tenha sucesso? Vale mais o tempero ou a criatividade do chef?
Faustino. A criatividade vem na frente do tempero. Nós, cozinheiros, temos que ser criativos. Quando eu cheguei em Fortaleza, todos os cozinheiros faziam as receitas todas iguais. Era tudo igual. E eu tenho batido contra isso. Dá pra criar um cardápio bom sem imitar o colega. É só ter criatividade.
Fale! Alguns nomes importantes da culinária local, como o chef Ronaldo Nascimento (chef do Hotel Gran Marquise), chamam você de professor. Essa lição de culinária é formal ou é pelo trabalho?
Faustino. Pelo trabalho. Tudo o que eu adquiri até hoje, de premiação e reconhecimento, foi pelo trabalho.
Fale! A que você atribui o sucesso do Restaurante Faustino Fortaleza?
Faustino. Tudo depende do atendimento e do seu trabalho. Se você atende bem e faz o seu trabalho como tem que ser, dá certo. Faz seis meses que eu estou aqui na BeiraMar e com esse tempo já ganhei uma estrela da Quatro Rodas. E essa premiação eu já tinha recebido lá no Cantinho [Cantinho do Faustino, na Varjota]. Não sei se é sorte ou trabalho. Será sorte? n
Camarão, o prato principal do Festival Para consolidar a ideia de que é no Ceará onde se produz o melhor camarão do mundo, carcinicultores dos municípios de Acaraú, Itarema e Cruz, patrocinam o I Festival Internacional do Camarão e o I Encontro do Arranjo Produtivo Local da Carcinicultura no Litoral Oeste. O evento reúne produtores, técnicos, empresários e chefs de cozinha nacionais e internacionais. Eles terão
como matéria prima central o camarão da região. Uma das ambições do Festival é trazer para o Ceará o selo de indicação geográfica que denomina a origem do cultivo do crustáceo. O selo é emitido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial — INPI, e, além de agregar valor ao camarão produzido na denominada Costa Negra do Ceará, com ele os produtores ganham o reconhecimento do
mercado. O cultivo de camarão é o segmento da aquicultura que mais se destaca no setor pesqueiro mundial. Segundo o Centro Internacional de Negócios do Ceará, a produção de camarão atingiu quase US$ 3 milhões até o último mês de setembro e o crustáceo ocupa o 14º lugar no ranking de produtos exportados pelo Estado. Números da Agência de Desenvolvimento do
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Estado do Ceará – Adece, apontam que o Ceará ocupa o 2º lugar em produção de camarão em todo o país, perdendo apenas para o Rio Grande do Norte, e soma 180 fazendas de camarão distribuídas em 21 municípios cearenses. Atualmente, os principais centros importadores de camarão cearense são Estados Unidos, Japão, União Européia (Espanha, Dinamarca e França). novembro de 2009 | Fale
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Faustino. Voltei em 1986, na mesma época que o Hotel Praia Verde foi inaugurado. Já tinha um currículo muito bom e fui chamado para ser chef de cozinha. Meu contrato foi de dois anos. Depois que ele venceu, assinei com a Rede Othon por três anos. Quando terminou, montei meu próprio negócio, o Cantinho do Faustino, em 1991.
Fale! Em algum momento você pensou em voltar a Reriutaba?
Aquiraz eu tenho um sítio. Lá ficam os alimentos mais pesados. Tem macaxeira, feijão, leite, vaca, galinha, tudo orgânico.
P IB DE 2010 P
E as projeções para 2009 tiveram ligeira alta, de 0,20% para 0,21%, segundo o boletim Focus, da segunda PIB. ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva Foto Antonio Cruz _ ABr
Política
A
nalistas do mercado financeiro elevaram a projeção para o crescimento da economia no próximo ano. A estimativa para o aumento do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país, passou de 4,83% para 5%, em 2010. Para este ano, a projeção teve ligeira alta, de 0,20% para 0,21%. As informações constam do boletim Focus, publicação semanal elaborada pelo Banco Central (BC) com base em estimativas dos analistas do mercado financeiro para os principais indicadores da economia. Essas projeções para o crescimento da economia são importantes tanto para as empresas quanto para os trabalhadores. No caso das empresas, as estimativas servem como indicativo sobre qual será a demanda pelos seus produtos. Já para os trabalhadores, as projeções sobre o PIB têm a ver com a disponibilidade de emprego e até mesmo com as perspectivas salariais do mercado de trabalho. Além das projeções dos analistas do mercado financeiro, o governo também faz estimativas para os indicadores. Para o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, mais otimista, o Brasil terá em 2010 um crescimento eco20 | Fale!
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nômico em níveis semelhantes ao da China e assim, dobrará o número de empregos para 2 milhões. A projeção do ministro é de um crescimento do PIB de 7% a 8%. Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o atual nível de recuperação indica uma previsão de crescimento da economia na casa de 5% em 2010. Essa é a mesma projeção feita pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. Mantega diz que a economia brasileira precisa reduzir custos de produção e se tornar mais competitiva. “É preciso continuar reduzindo os juros”. Para viabilizar os investimentos e o crescimento da economia, Mantega diz que é necessário continuar baixando custos financeiros e tributários para os investidores. Mantega destacou que o governo tem feito um trabalho nessa direção, inclusive em parceria com a indús-
P ODE IR A 5%
a semana de novembro, elaborado pelo Banco Central com base em estimativas dos analistas do mercado Foto Fabio Rodrigues Pozzebom _ ABr
tria e outros setores. Ele lembrou a desoneração de impostos que o governo vem fazendo neste ano, mas reconheceu que “ainda existe um caminho a percorrer”.
Indicadores.
Além da estimativa para o PIB, o boletim Focus também divulga projeções para outros indicadores. No caso da produção industrial, os analistas não esperam recuperação neste ano, mas somente em 2010. A expectativa para 2009 passou de -7,70% para -7,64%. Para o próximo ano, a estimativa de crescimento da produção industrial passou de 6,05% para 6,55%. Segundo o boletim, não foi ajustada a projeção para a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB, que permaneceu em 44% em 2009, com alteração de 42% para 42,20% em 2010. A expectativa para a cotação do dólar também foi mantida em R$ 1,70 ao final de 2009 e em R$ 1,75 ao fim de 2010. A previsão para o superávit comercial (saldo positivo de exportações menos importações) neste ano passou de US$ 25,5 bilhões para US$ 25,2 bilhões. Para 2010, os analistas reduziram a estimativa de US$ 16 bilhões para US$ 15 bilhões. Para o deficit em transações correntes (registro das transações de compra e venda de mercadorias e serviços do Brasil com o exterior) neste ano, os analistas alteraram a estimativa de US$ 16,9 bilhões para US$ 17 bilhões. Para 2010, foi ajustada a projeção de US$ 33,250 bilhões para US$ 34,3 bilhões. A expectativa para o investimento estrangeiro direto (recursos que vão para o setor produtivo do país) em 2009 foi mantida em US$ 25 bilhões e em US$ 35 bilhões para 2010. — Com informações da Agência Brasil
cenários. O ministro Lupi é otimista com relação o 2010
O PIB de Lupi 7% e 8% em 2010 O Brasil deve ter um crescimento econômico em níveis semelhantes aos da China no próximo ano, prevê o ministro do Trabalho, Carlos Lupi. Segundo ele, o país está “todo arrumadinho” para que 2010 seja bom para a economia. Por isso, ele acredita que o Brasil vá dobrar o número de empregos criados em relação a este ano, que já passa de 1 milhão de novas vagas. “Penso que em 2010 vamos ter 2 milhões de [novos] empregos. Vai ser o melhor número da história. Um crescimento [próximo ao nível] da economia chinesa”, disse Lupi. Na sua avaliação, o Produto Interno www.revistafale.com.br
Bruto (PI|B) deve crescer entre 7% e 8% no próximo ano. Lupi informou ainda que na próxima segunda-feira serão divulgados os números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Ele deu as declarações logo depois de participar da assinatura de uma resolução do Conselho Curador do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), que oferece uma linha de crédito de R$ 2 bilhões para investimentos na área de infraestrutura de transporte coletivo. — Roberta Lopes, repórter da Agência Brasil n NOVEMBRO de 2009 | Fale
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POLÍTICA
prefeitos larápios
Amparado em dados da CGU, o deputado estadual Heitor Férrer diz que maior parte dos prefeitos no Brasil são “larápios”
O
deputado estadual Heitor Férrer (PDT) soltou o verbo, em discurso na Assembleia Legislativa, afirmou, fundamentado em dados do Controladoria de Geral da União – CGU, que a maioria dos prefeitos do Brasil são “larápios”. “Quase todos os prefeitos municipais desviam recursos em benefício próprio. Em apenas 5% dos municípios do Brasil, há uma exceção a essa regra. Isso sem falar naqueles que hoje estão à frente das instituições, que também roubam, em sua grande maioria”, comentou o pedetista. Ainda conforme Heitor, não existe zelo pelo dinheiro público porque os próprios vereadores não fiscalizam as gestões municipais e os atos de alguns prefeitos. “As câmaras municipais são coniventes”, observou. O deputado afirmou que nunca viu um comerciante comprar uma ‘bodega quebrada’, um industrial comprar uma indústria falida ou um empresário investir numa empresa sem perspectiva de lucro. “Mas todos os prefeitos que conhecemos dizem que a prefeitura que assumem está quebrada”, avaliou. Mesmo assim, segundo o parlamentar, “eles querem ser reeleitos, para administrar com o dinheiro que, certamente, não dá para investir em políticas públicas, mas dá para enriquecê-los”. Heitor citou um caso de um prefeito de uma cidade chamada Paulínia, em São Paulo, que pagava R$ 335 mil a mais, todos os meses, por um lote de cerca de 300 medicamentos. A cidade fechou um contrato de fornecimento de medicamentos com um sobrepreço de 193%, concluiu a CGU. Em aparte, o deputado Cirilo Pimenta (PSDB) concordou com Heitor 22 | Fale!
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Brasil melhora no ranking que mede a corrupção País subiu cinco posições em relação a 2008, diz Transparência Internacional. Nota 3,7, em uma escala até 10, indica problema grave de corrupção O Brasil subiu cinco posições no ranking anual de corrupção divulgado pela Transparência Internacional. Apesar de ter passado do 80º lugar em 2008 para o 75º neste ano, o relatório apontou que o país ainda é marcado por escândalos que envolvem impunidade e corrupção política. Na mesma colocação brasileira aparecem Colômbia, Suriname e Peru – todos com 3,7 pontos. Nas Américas, um total de 21 dos 31 países receberam pontuação inferior a 5, o que, de acordo com a Transparência Internacional, indica “sérios problemas de corrupção” na região. No grupo de países americanos com mais de 5 pontos, o Canadá permanece como líder, além de integrar os dez países com os menores índices de corrupção em todo o
mundo. Chile, Uruguai e Costa Rica são os únicos da América Latina a integrarem a lista com mais de 5 pontos. O Haiti aparece mais uma vez como o último no ranking das Américas – apesar de ter passado de 1,4 ponto em 2008 para 1,8 neste ano. Também registraram baixa pontuação Bolívia, Nicarágua, Honduras e Paraguai. Já a presença de Argentina e Venezuela no grupo com menos de 5 pontos, segundo o documento, é vista como um indicativo de que a corrupção não é presença exclusiva em países pobres. O relatório acrescenta que jornalistas da América Latina, em particular, enfrentam um ambiente de restrições "crescentes”, com a aprovação de legislações destinadas a “silenciar” a
Férrer, acrescentando que “muitos prefeitos, quando assumem, consideram a prefeitura um patrimônio deles”. Pimenta disse que alguns acabam até destinando recursos para pessoas que zelam pelos interesses www.revistafale.com.br
cobertura crítica, limitando a liberdade de imprensa e dificultando a divulgação de práticas de corrupção. No ranking geral de países, a Nova Zelândia aparece em primeiro lugar com 9,4 pontos, seguida pela Dinamarca, com 9,3 pontos, e por Cingapura, com 9,2 pontos.
Transparência Brasil critica ranking
O ranking internacional de corrupção, divulgado pela Transparência Internacional, foi criticado pela ONG Transparência Brasil. Segundo o diretor-executivo da entidade, Claudio Weber Abramo, a classificação do órgão, que colocou o País em 75º lugar entre 180 nações analisadas pela qualidade de suas instituições, “não quer
deles. Contudo, Cirilo Pimenta, exprefeito de Quixeramobim (distante 203 km), lembrou que existem bons prefeitos, cujo trabalho, muitas vezes, não é divulgado. Férrer ressaltou que, embora
Índice de Percepção da Corrupção 2009 Para formar o índice, empresários e analistas de diversos países são convidados a dar sua opinião sobre o grau de corrupção em cada país. Desta forma, o índice não mede objetivamente a corrupção, mas sim como o conjunto da sociedade percebe subjetivamente a corrupção em cada país. Fonte: TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL Suécia 9,2 Finlândia 9,2 Noruega 8,6 Dinamarca 9,3 Reino Unido 7,7
Canadá 8,7
Alemanha 8 França 6,9 Espanha 6,1
Estados Unidos 7,5
Haiti 1,8 Venezuela 1,9
9,0 – 10 8,0 – 8,9 7,0 – 7,9 6,0 – 6,9 5,0 – 5,9 4,0 – 4,9 3,0 – 3,9 2,0 – 2,9 1,0 – 1,9
Paraguai 2,1 Chile 6,7
Uruguai 6,7 Argentina 2,9
Para haver uma percepção de melhoria na transparência, Guerra acredita na necessidade de punição de envolvidos em irregularidades. “Para haver melhoria na percepção da corrupção tem que haver investigação e punição. Um dos problemas básicos da percepção da corrupção no Brasil é a questão da punição. Muitas dúvidas são levantadas, muitas
exista esperança em se punir alguns prefeitos, “há um tráfico de influência para inocentar os bandidos, que já confiam na impunidade e se amparam nela”. O deputado Vasques Landim (PR) concordou com o pedetista,
Índia 3,4
Sudão 1,5
Angola 1,9 Namíbia 4,5
China 3,6
Irã 1,8
Líbia Egito 2,5 2,8
Nigéria 2,5
Bolívia 2,7
dizer nada”. “Não há dado que justifique o indicador, é simplesmente arbitrado”, disse. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, afirmou que o resultado se deve à “atuação do Tribunal de Contas da União”. “A ação do TCU tem gerado grande economia para o país”, disse. Entretanto, relativizou o resultado dizendo que “o 80° ou 75° lugar são posições deploráveis”.
Itália 4,3
GuinéBissau 1,9
Brasil 3,7
Peru 3,7
Mongólia 2,7
Suíça 9 Argélia 2,8
Cuba 4,4
Equador 2,2 As notas
Kazaquistão 2,7
Portugal 5,8
México 3,3 Guatemala 3,4 Honduras 2,5 Colômbia 3,7
Rússia 2,2
Afeganistão 1,3 Arábia Saudita 4,3 Somália 1,4
Mianmar 1,4
Japão 8,7 Coréia do Sul 5,5 Macau 5,3 Filipinas 2,4
Paquistão 2,4
Papua-Nova Guiné 2,1
Indonésia 2,8
Madagascar 3
Austrália 8,7
África do Sul 4,7 Nova Zelândia 9,4
irregularidades são examinadas, mas a punição não acontece”, diz. Para Abramo, qualquer tentativa de melhorar os eventos de corrupção passa por uma melhora do sistema jurídico, das instituições, da imprensa e da sociedade de maneira geral. “Uma mudança da Constituição e dos mecanismos gerenciais seria fundamental”, diZ especialista em corrupção.
Na América Latina A corrupção está “gravemente disseminada” na maioria dos países da América Latina como reflexo de instituições fracas, práticas de governabilidade deficientes e ingerência excessiva de interesses privados, disse o relatório, que salienta ainda, “os interesses privados continuam frustrando as iniciativas para
dizendo que “a impunidade é o grande catalisador para que os prefeitos continuem cometendo improbidades administrativas”. Já o deputado Luiz Pontes (PSDB) disse que a Assembleia deveria instalar uma CPI para www.revistafale.com.br
promover um desenvolvimento equitativo e sustentável”, disse o estudo. Embora o contexto de cada país seja diferente, os efeitos da crise financeira e da desaceleração econômica demonstraram, em geral, “a importância fundamental da governabilidade no setor público e privado”, assim como os vínculos entre ambos, acrescentou.
investigar municípios envolvidos em irregularidades. “A Assembleia Legislativa não pode cruzar os braços e nem se mostrar conivente com isso”, finalizou. — Com informações da Assembleia Legislativa do Ceará NOVEMBRO de 2009 | Fale
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POLÍTICA
OS MAIS INFLUENTES
lhões e US$ 19 bilhões em cocaína nos Estados Unidos. Além de ser o criminoso mais procurado no México, o governo americano oferece uma recompensa de US$ 5 milhões para quem capturá-lo, segundo a Forbes. Outros destaques da lista dos mais influentes do mundo são o presidente do Federal Reserve (FED, o Banco Central dos Estados Unidos),
Ben Bernanke (4º), o presidente do Wal-Mart, Mike Duke (8º); o Papa Bento XVI (16º); o casal Hillary (17º) e Bill Clinton (31º), respectivamente Secretária de Estado e ex-presidente dos EUA; o empresário Lakshmi Mittal (55º), dono da ArcelorMittal; o presidente da França, Nicolas Sarkozy (56º); e o presidente venezuelano, Hugo Chávez, último da lista. n
A revista americana Forbes, especializada em economia, As Pessoas mais poderosas do Mundo divulga sua versão 2009 das Ranking é atualizado anualmente pela revista americana Forbes pessoas mais influentes no mundo
A
revista americana Forbes publicou a versão 2009 da sua lista com as 67 pessoas mais poderosas do mundo. A relação é encabeçada pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, seguido do presidente chinês Hu Jintao. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ocupa a 33ª posição. Além de chefes de Estado, o ranking inclui grandes executivos de empresas, líderes religiosos, milionários e até criminosos, como Osama bin Laden (37º), líder da organização terrorista al-Qaeda. Até mesmo o traficante mexicano Joaquín Guzmán (41º), conhecido como “El Chapo”, aparece na lista. Para definir o ranking, a Forbes considerou quatro parâmetros de poder: o número de pessoas sob a influência de cada líder; suas diversas esferas de atuação; se eles de fato exercem o poder que possuem; e o volume de recursos financeiros administrado por cada um. Para chefes de Estado, a revista considerou o impacto do PIB do país em questão. O poder dos executivos foi ponderado por uma combinação de variáveis: valor de mercado da empresa, lucros e ativos. No caso de Guzmán, a revista considerou estimativas de que o traficante já comercializou algo entre US$ 6 bi24 | Fale!
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de 2009
1
Barack Obama
24
Kim Jong Il
47
Dominique Strauss-Kahn
2
Hu Jintao
25
Jean-Claude Trichet
48
Zhou Xiaochuan
3
Vladimir Putin
26
Masaaki Shirakawa
49
John Roberts Jr.
4
Ben S. Bernanke
27
Sheikh Ahmed bin Zayed al Nahyan
50
Dawood Ibrahim Kaskar
5
Sergey Brin e Larry Page
28
Akio Toyoda
51
William Keller
6
Carlos Slim Helu
29
Gordon Brown
52
Bernard Arnault
7
Rupert Murdoch
30
James S. Dimon
53
Joseph S. Blatter
8
Michael T. Duke
31
Bill Clinton
54
Wadah Khanfar
9
Abdullah bin Abdul Aziz al Saud
32
William H. Gross
55
Lakshmi Mittal
10
William Gates III
33
Luiz Inácio Lula da Silva
56
Nicolas Sarkozy
11
Papa Bento XVI
34
Lou Jiwei
57
Steve Jobs
12
Silvio Berlusconi
35
Yukio Hatoyama
58
Fujio Mitarai
13
Jeffrey R. Immelt
36
Manmohan Singh
59
Ratan Tata
14
Warren Buffett
37
Osama bin Laden
60
Jacques Rogge
15
Angela Merkel
38
Syed Yousaf Raza Gilani
61
Li Rongrong
16
Laurence D. Fink
39
Tenzin Gyatso
62
Blairo Maggi
17
Hillary Clinton
40
Ali HoseiniKhamenei
63
Robert B. Zoellick
18
Lloyd C. Blankfein
41
Joaquin Guzman
64
Antonio Guterres
19
Li Changchun
42
Igor Sechin
65
Mark John Thompson
20
Michael Bloomberg
43
Dmitry Medvedev
66
Klaus Schwab
21
Timothy Geithner
44
Mukesh Ambani
67
Hugo Chavez
22
Rex W. Tillerson
45
Oprah Winfrey
23
Li Ka-shing
46
Benjamin Netanyahu
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A revista de informação do Ceará.
Os leitores da revista Fale! são decisores, pessoas que não abrem mão de informação de qualidade. Política e Economia são os principais temas da revista de informação. Fale! Quem decide, lê. w w w.revistafale.com.br
A revista de informação.
Cultura
doutor em patativa
O escritor e pesquisador Gilmar de Carvalho, um dos mais originais intelectuais voltados para estudos de cultura de massa, doutor em Semiótica PUC-SP, lança uma antologia sobre Patativa do Assaré onde consagra a riqueza criativa do poeta popular brasileiro que rompeu as fronteiras nacionais e chegou à prestigiosa Universidade de Sorbonne, na França
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G
ilmar de Carvalho,
um prolífico intelectaual cearense, doutor em Semiótica pela PUC-São Paulo, é o que se pode chamar de patativólogo — um especialista em Patativa do Assaré, o poeta popular que desorganizou o imaginário acadêmico conservador. E, mais que isso, Gilmar rompeu os limites da metodologia acadêmica tradicional quando fez do seu objeto de estudo um interlocutor privilegiado, onde a carga passional de modo algum comproemete a riqueza da interlocução — ao contrário, a potencializa. Gilmar de Carvalho, professor do Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará, é dono de uma obra original onde se destaca o estiloso romance Parabélum livro lançado em julho de 1977. Mas seu grande objeto de estudo, pesquisa e contemplação é o poeta popular Patativa do Assaré, objeto do livro antológico que está sendo lançado pela Omni Editora, Cem Patativa.
Foto francisco souza
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C U LT U R A
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Foto francisco souza
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Uma pequena introdução Nesta conversa, Gilmar de Carvalho conta como foi o seu processo de descoberta de Patativa do Assaré. Como e quando aconteceu seu primeiro encontro pessoal com Patativa? Gilmar de Carvalho. Conheci Patativa em 1988. Fui participar de um evento sobre cordel, na URCA. Ele andava pelas ruas. Eu estava acompanhado pelo gravador Stênio Diniz. Nós o levamos ao Hotel Municipal, onde eu estava hospedado. Conversamos. Eu estava muito voltado para as relações da publicidade com o cordel (tema de minha dissertação de mestrado) e ele não podia me ajudar muito. Confesso que fiquei desapontado, pois só tinha olhos e ouvidos para o cordel de propaganda, que Patativa rejeitava.
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Em qual momento você teve conhecimento da obra de Patativa? Gilmar de Carvalho. Em 1974, completei 25 anos e ganhei de presente um exemplar de “Cante lá que eu canto cá”. Quem me deu o presente foi um jovem político chamado Lúcio Alcântara.
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Quando começou o interesse em estudar e potencializar Patativa? Gilmar de Carvalho. Veio a partir de 1993. Fui assessor do Paulo Linhares, na Secretaria de Cultura do Ceará — Secult. Tive a ideia de reeditar os folhetos do Patativa. Na verdade, retomava uma proposta do livreiro e arquiteto Américo Vasconcelos (Livraria Tukano). Deu certo. A caixa foi lançada na Casa de Juvenal Galeno. Recolho os cordéis. As xilos foram encomendadas a gravadores de Juazeiro. A impressão foi feita na Lira Nordestina. Fui levar as caixas em Assaré. Ele me deu os originais de “Aqui tem coisa”, publicado
ANTOLOGIA. Capa do livro Cem Patativa, produção de Gilmar de Carvalho em homenagem aos 100 anos de nascimento de Patativa do Assaré, editado pela Omni. São 216 páginas no formato especial de 21,5cm x 30cm. A foto da capa é de Tiago Santana e, no miolo, fotos de Jarbas Oliveira
pela Secult em 1994. A aproximação veio daí. Fiquei curioso. Quem era este homem que merecia tantos elogios e tantas reverências. www.revistafale.com.br
Pensava que havia exagero. Depois, constatei que não. Patativa era maior que todas as homenagens que poderiam ser feitas a ele. n NOVEMBRO de 2009 | Fale
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Foto LIZALDO MAIA _ SETEMBRO 2001
oi há cem anos, em 1909, que veio ao mundo
um sertanejo das terras do norte, onde Deus é mais visível. Nasceu Antônio Gonçalves da Silva, mas o nome que deve permanecer ainda por muitos outros séculos é Patativa do Assaré. Neste primeiro cento, prêmios, homenagens, pesquisas acadêmicas e títulos de Doutor Honoris Causa de diversas universidades enfatizam a grandeza do poeta de mão grossa, que sempre tirou da simplicidade da terra seu sustento e seus versos.
A vasta produção de Patativa emociona e traduz as pessoas e suas vidas — fontes maiores do lirismo dele — e ganha os olhares dos atentos à sensibilidade e à sinceridade poética de uma literatura dita popular. Assim o pesquisador Gilmar de Carvalho, já autor de mais de 30 livros, percebeu a riqueza daquela voz ancestral. A ser lançado em janeiro de 2010, o livro Cem Patativa, de autoria do professor da UFC, reúne ensaios fotográficos e cronísticos sobre o poeta, além da reedição de uma entrevista realizada em 1996. 30 | Fale!
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“Fui ao encontro do Patativa movido por uma curiosidade: por que se fala tanto nesse homem? Por que ele é tão valorizado, tão prestigiado?”, recorda Gilmar sobre a entrevista que durou o dia inteiro, naquele 15 de fevereiro, e que tomou as páginas do livro Patativa Poeta Pássaro do Assaré. “Eu fui cada vez mais me enredando nessa teia do Patativa e eu percebi que ele, na verdade, era muito mais importante, mais genial do que minha vã filosofia podia imaginar”. No dia da entrevista, a que Gilmar costuma se referir como o “Bloomsday” de Patativa — numa referência ao romance Ulisses, de James Joyce —, o pesquisador encontrou algumas resistências. Patativa aparentemente dizia poemas para escapar de uma ou outra pergunta mais segura ao longo
Foto jarbas oliveira
Parabélum: as parábolas de Gilmar
“Ele (o Patativa) dizia coisas muito interessantes — eu não sei se ele estava ironizando ou se ele era capaz de ver além das máscaras, mas ele dizia que eu era um rapaz muito piedoso. Eu não me considero uma pessoa piedosa, sou muito pronto pro bote, armado pra me defender das agressões. Talvez ele conseguisse enxergar além das minhas defesas.” “O olhar da academia para essa outra cultura pode ser um olhar generoso, compreensivo, como pode também ser depreciativo, uma mera curiosidade. O fato de uma pesquisa ser acadêmica não significa que ela veja de maneira respeitosa a produção das chamadas culturas populares.”
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Foto ISMAEL PORDEUS
GRAVANDO. Gilmar de Carvalho em uma das suas várias entrevistas com Patativa do Assaré
da conversa que durou entre oito da manhã e cinco da tarde. Para Gilmar, aquelas estratégias prontas eram algo natural, já que eles ainda não se conheciam bem. “Precisei voltar lá muitas vezes para quebrar esse discurso, que eu até entendo: a casa dele era sempre aberta, cheia de turistas, estudantes, professores. Se o Patativa fosse se entregar a cada uma dessas pessoas, ele morreria de cansaço. Para quem se satisfazia só com aquilo ali, ele tirava uma foto, improvisava uma quadrinha... Mas eu queria ir além”, assevera Gilmar. E conseguiu.
A palavra feita para ser ouvida
Cego de um olho ainda na infância, a pena de Patativa não foi destinada à escrita, como a de outros grandes poetas, e sim para o vôo livre de 32 | Fale!
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quem tem a musicalidade na voz primordial da contação. “Patativa tinha acessos de produção poética em que ele tremia todos os músculos da face, como se fosse uma máquina produzindo poemas, as veias do pescoço latejando, e quando ele terminava de recitar, ele tirava o chapéu e o jogava sobre o peito, exausto”, pormenoriza o professor do Departamento de Biblioteconomia da UFC Tadeu Feitosa, que conviveu com o poeta para desenvolver a tese transformada em livro Patativa do Assaré: a trajetória de um canto. Patativa cadencia em versos a vida em si, e da vida ele tão bem sabia – afinal, “a dor só é bem cantada/ cantada por quem padece!” Agricultor desde menino, aprendeu a enxergar as belezas do sertão: “pra todo lado que eu óio/ vejo um verso se bulir”. No lirismo daquela avezinha cantora www.revistafale.com.br
era recorrente a denúncia das condições precárias de vida de sua gente, acorrendo a explicações sociais para fundamentar que as injustiças não eram uma sentença partida do céu. “Ele teve uma sintonia mais fina para captar esse mal-estar, essa dor, essa angústia, esse anseio e ao mesmo tempo essa alegria que é de todos ali, os conterrâneos. Ele foi o grande porta-voz desses excluídos e o grande intérprete desse sentimento sertanejo”, pontua Gilmar. E foi desse viés crítico que surgiu o nome Patativa pelo qual ele ficaria conhecido e ganharia todos os céus: ao criticar o então prefeito de Assaré, foi preso e, deparando-se com um pássaro também momentaneamente sem liberdade (em desacordo com sua essência), dispara: “Patativa descontente/ nesta gaiola, cativa/ embora bem diferente/ eu também sou
Gravador? Que estás gravando? Por Ria Lemaire, Centre de Recherches Latino-Américaines de l’Université de Poitiers
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ssaré do Ceará, a praça, a casa do poeta. Um longo corredor escuro e, bem no final, uma luz suave que entra por uma porta com a metade de cima aberta. Aí, na cadeira de balanço, Patativa do Assaré passa grande parte do seu dia. Aí, o visitante senta-se para conversar. Apalpadelas iniciais, uma prosa hesitante, frases entrecortadas, até o momento em que o anfitrião Patativa decide se tornar poeta, declamar um dos seus poemas para dar a resposta certa à pergunta do visitante; para revelar-lhe um saber, uma verdade que só a fala rítmica, o verso, sabe exprimir, transmitir e guardar para a posteridade. Uma voz de ancião, vinda do fundo do corpo, da alma e dos tempos, ergue-se, cresce, preenche o espaço da casa, junta-se àquelas outras Vozes que guiaram a humanidade no seu percurso sempre precário: a de Homero grego, a dos bardos celtas, a dos griots africanos, a dos profetas da Bíblia. E dissolvem-se o Tempo e o Espaço perante aquela imensa Voz poética, a de sempre e para sempre... O presente livro nasceu nesse ambiente mágico da casa do poeta; nele se consignou um encontro de dois homens que representam, cada um, um mundo: o da oralidade de Patativa, o da escrita de Gilmar de Carvalho. Mundo estranho, o da escrita que, tradicionalmente, só consegue conviver com a oralidade sob a condição de ela estar e ficar longe, tanto no tempo quanto no espaço da contemporaneidade: Homero,
cego, metamorfoseado em primeiro “escritor” do mundo ocidental, os bardos, sonhados na ilha mágica, longínqua de Avalon, ou o griot africano transformado em objeto de pesquisa dos antropólogos! A partir dessas vozes perturbadoras, uma vez confortavelmente classificadas nos seus espaços bem delimitados, os peritos dos séculos XIX e XX elaboraram um conjunto de preconceitos scriptocêntricos que lhes permitiram marginalizar a expressão literária, artística da oralidade contemporânea. Confinaram o seu estudo numa disciplina chamada folclore, desprezada, por sua vez, e geralmente excluída do discurso vigente das ciências humanas. Ninguém melhor do que Gilmar de Carvalho, cearense, escritor, jornalista, dramaturgo, pesquisador radicalmente interdisciplinar dotado de uma sensibilidade excepcional, podia tornar-se o parceiro de Patativa neste confronto de dois mundos. Confronto que se transforma, no decorrer daquele memorável dia 15 de fevereiro de 1996, numa aventura humana, intelectual e poética, num lindíssimo diálogo de dois amigos — cúmplices. Juntos, eles abrem caminhos para formas inéditas de abordagem e de estudo da oralidade, da sua arte poética, da sua relação com a escrita e, ao abri-los, o poeta e o pesquisador tecem novos pressupostos críticos para uma revisão radical do discurso convencional sobre as tradições orais e populares. São estas as paradas fundamentais que estão www.revistafale.com.br
por trás do jogo que os dois parceiros se ofereceram e construíram juntos, um dia, há cinco anos, naquela casa de Assaré. Um jogo que trouxe os seus riscos: para o visitante, primeiro, que teve a coragem de questionar radicalmente os códigos da pesquisa acadêmica convencional. Essa que leva o pesquisador a instaurar com o seu “objeto” de pesquisa aquele tipo de relação cuja palavrachave é distanciamento e que é, essencialmente, uma estratégia — desrespeitosa e muitas vezes violenta — para invadir o Outro, para tirar dele o máximo de informação, sem necessidade de retribuir o que é generosamente oferecido. Riscos para o anfitrião, já desconfiado dessas práticas, consciente do perigo, preparado graças à sua inteligência e sabedoria, para não permitir que alguém abuse de novo da sua generosidade, da sua intimidade. E o diálogo fez-se. Ao misturar poesia e prosa, aproximou um do outro os dois mundos, e gerou o livro — diálogo Patativa Poeta Pássaro do Assaré, em que, bem além das palavras que constróem o diálogo, além dos versos que revelam o talento do poeta, o leitor adivinha e às vezes entrevê o mundo fascinante que é o de Patativa do Assaré e que a escrita é incapaz de transcrever, de registrar na sua riqueza e complexidade, como o próprio poeta o sugere sutilmente: Gravador, que estás gravando aqui no nosso ambiente? Tu gravas a minha voz, o meu verso e o meu repente, mas gravador, tu não gravas a dor que o meu peito sente. NOVEMBRO de 2009 | Fale
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Foto FRANCISCO SOUZA
MUSEU. Gilmar contracena com Patativa em exposição no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará
patativa/ linda avezinha pequena/ temos o mesmo desgosto/ sofremos a mesma pena/ embora em sentido oposto/ meu sofrer e meu penar/ clamam a Divina Lei/ tu, presa para cantar/ e eu preso porque cantei”. Além do livro da natureza, páginas preferidas de sua cabeceira, Patativa bicou também as folhas da literatura universal: com apenas quatro meses de escola formal, foi constante leitor dos clássicos e dos românticos. Ao se deparar com o Tratado de Versificação, dos parnasianos Olavo Bilac e Guimaraens Passos, passou a entender a métrica com que já trabalhava enquanto cravava a enxada na terra. “Patativa não se enquadra nos gêneros, nos estilos literários. Ele é uma mistura de tudo e ao mesmo tempo nada daquilo. Ele não se enquadra, ele não se deixa enquadrar, ele não quis se deixar enquadrar. Não 34 | Fale!
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é que ele seja inclassificável; é que não cabe, ele é maior”, dimensiona Tadeu. A maior marca da poesia de Patativa é, sem dúvida, a sonoridade, um retorno à condição primeira da palavra falada. Aos 16 anos, ganhou a primeira viola, e por esse tempo andou pelas terras do sertão desenvolvendo sua melódica habilidade do improviso. E muitos dos seus ditos se dispersaram com o vento, sem chegar a ganhar o registro em papel. “O que a gente conhece é um pouco do Patativa. Ele era uma fonte, uma coisa corrente, ele não parava de fazer poesia, de improvisar, de brincar. O que ficou registrado foi muito pouco e é já um monumento. Imagina a dimensão exata que esse homem tem, em sua integridade”, calcula Gilmar. “Ele foi, na verdade, uma usina de poesia”. www.revistafale.com.br
Romaria do eu: o orto de Gilmar de Carvalho
Referência obrigatória em se falando das chamadas culturas populares, Gilmar de Carvalho — hoje doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com tese sobre a construção do ícone Padre Cícero, relata o processo decorrido até chegar ao interesse de uma vida toda pelas tradições do Nordeste. O primeiro contato com a obra do Patativa, por exemplo, se deu aos 25 anos, com o livro Cante lá que eu canto cá. “Confesso que não me encantei. Eu era muito novo, muito pedante, muito urbano, tinha outros valores, outra visão de mundo, referenciais mais cosmopolitas”, compara, num sutil lamento pela falta de sensibilidade daquela
Foto FRANCISCO SOUZA
Forma, conteúdo e novos projetos Gilmar de Carvalho revela aqui suas influências intelectuais, fala sobre publicidade e conta o que está por vir. Quais as suas influências literárias? Gilmar de Carvalho. Clarice Lispector, James Joyce e Guimarães Rosa: gente que eu admiro. O que eu gostaria de ter sido, se continuasse na ficção.
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Onde você bebeu? Gilmar de Carvalho. Bebi na tradição popular. Ouvia histórias de minha madrinha Dadá, que cantava a Nau Catarineta e o bendito “Maria Valei-Nos” para me embalar. Sempre acreditei nas artimanhas do narrador. Scherazade para mim foi alguém presente e próximo. Gosto da ideia das narrativas em novelos. Relatos que se emaranham e que nos livram do labirinto. Gosto da ideia da narrativa como salvação (da vida).
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E a publicidade? Como foi a experiência? Gilmar de Carvalho. Foi maravilhosa. Me deu a ideia de síntese. Aprendi a ir direto ao que interessa, sem arrodeios. A publicidade me deu a noção de convivência com as mídias e a eficácia da argumentação sedutora e eficaz.
ensaio. O fotógrafo Francisco Souza produziu farto ensaio fotográfico de Gilmar de Carvalho, tendo como cenário o Museu de Arte da UFC
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Projetos? Gilmar de Carvalho. Um livro sobre xilo (Memórias da Xilogravura) para 2010. Uma coletânea sobre cordel. Um relato das viagens pelo interior, com o fotógrafo Francisco Sousa, em homenagem aos 150 anos da Comissão Científica de Exploração. Uma viagem a Portugal para ver as matrizes lusas de nossos folguedos, culinária e crenças. Para isso, preciso vender minha coleção de folhetos [3 mil títulos, 11 mil exemplares] de cordel. www.revistafale.com.br
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Ao Dr. Gilmar de Carvalho Por Patativa do assaré — Poema inédito em homenagem a Gilmar de Carvalho
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outor Gilmar de Carvalho, Eu gostei do seu trabalho, Estou bastante feliz, Com a pena milagrosa Você retratou em prosa Tudo o que em versos eu fiz
Quando ouvi a sua escrita Bem verdadeira e bonita, Fiquei de tudo bem certo, Por onde Deus me guiava Você também caminhava Me observando de perto
Tudo o que disse o amigo No seu precioso artigo É uma pura verdade, Me veio até a lembrança Do meu tempo de criança Aos setenta anos de idade
Sua honrosa reportagem Merece a minha homenagem, Porque vejo o bom amigo Com seu trabalho distinto, Sentir aquilo que eu sinto, E acreditar no que eu digo
O que o amigo escreveu Bastante me comoveu, Me fez até recordar A sensação que eu sentia De alegria quando ouvia A passarada cantar
Vejo que o grande escritor É grande pesquisador Que acerta e nunca se engana, Naquelas eras passadas Andou nas minhas pegadas Lá na Serra de Santana
Você me fez renascer E eu preciso agradecer Com a simples poesia De um poeta de mão grossa Que sempre tirou da roça O seu pão de cada dia
De tudo o amigo falou, Vejo que nada faltou, Além do tema rural, Falou até sobre a crítica Que eu fazia da política Na campanha eleitoral Porém não vou tratar mais De currais eleitorais, De palanque e de eleição, Não vou entrar nesse assunto Não quero arrancar defunto Pra fazer assombração
Por Jesus predestinado, Depois de ter estudado, Cursos e mais cursos fez E foi da Universidade Falar da simplicidade De um poeta camponês
Vejo que por sua vez Retratou um camponês, Um caboclo do roçado Que com sentimento nobre Cantou defendendo o pobre Que vive subordinado
Um poeta agricultor Que só teve um professor, O Santo e Divino Mestre, Com a lição soberana Nesta Serra de Santana, Meu paraíso terrestre que seria apenas uma primeira impressão. Tudo mudaria de forma definitiva em uma viagem feita em 1976 a Juazeiro do Norte, acompanhando um amigo carioca que insistia em conhecer a cidade. À época, Gilmar era publicitário formado em Comunicação Social pela UFC e já conhecido de Stênio Diniz, herdeiro da Tipografia São Francisco, editora de cordéis em Juazeiro. Foi levado para conhecer aquela gráfica com cheiro forte de tinta, foi levado pelo encanto do “range-range onomatopai36 | Fale!
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Disse a verdade real, Vou fazer ponto final E quero neste momento Para cumprir meu dever Com amor oferecer O meu agradecimento Tenho oitenta e nove anos Mas não mudei os meus planos, A lucidez e a noção, Tudo quanto é bom me inspira Receba da minha lira O papel de gratidão
co das máquinas”, do acabamento dos folhetos feitos em máquina de costura. Lá fora, estavam o mercado, os pregões, as pessoas. Voltou para Fortaleza com 90 cordéis, uma igrejinha de espelhos recortados, um Padre Cícero em madeira. A impressão mais forte, entretanto, tinha trazido na certeza do encontro e do deslumbramento por um universo que passaria, desde então, a ser também dele. — Lucíola Limaverde e redação n www.revistafale.com.br
Artigo
O apagão da competência
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competência está ligada à capacidade de grupos responsáveis por determinadas áreas em uma organização de identificar problemas e um conjunto de soluções possíveis antes que o imprevisto instale-se. Na prática, atribui-se a profissionais especializados a busca pela identificação de alternativas nas complexas redes de decisão, baseados em seu conhecimento técnico e vivência em seu trabalho. Espera-se que, com sua experiência e habilidades, atitudes possam responder ao imponderável, com calma, discrição, rapidez e eficiência. Infelizmente, não foi ao que assistimos no recente apagão de novembro, quando o Brasil viveu a maior escuridão de sua história. Foram mais de 80 milhões de brasileiros, distribuídos em 18 estados e mais o Distrito Federal, que em um intervalo de quase oito horas, com alternâncias de regiões, permaneceram isolados do mundo. A estrutura de comando do setor energético brasileiro vem substituindo de longa data o conceito de meritocracia para o de partidarismo, no qual o PT define a política do setor e possui o cargo de secretário-executivo, que toca o dia-a-dia do ministério, e o PMDB responde pelo comando das estatais e tem o cargo de ministro. No dia seguinte ao apagão, enquanto os mortais eleitores contabilizavam seus prejuízos, os técnicos do governo, partes de uma mesma base aliada, trocavam culpas e desculpas. Políticos da situação imaginavam o tipo de explicação com o menor desgaste ante a população. A oposição ia atrás de informações para pressionar a situação. Cada qual na busca das salvaguardas de seus interesses pessoais. A realidade dos fatos apontava que nenhuma intempérie climática causou o problema. Nenhuma linha de transmissão foi afetada. Itaipu operava pouco abaixo de sua capacidade máxima. Tanto isto foi verdade que se restabeleceu o sistema em sua plenitude, após a paralisação de 18 turbinas,
Por Carlos Stempniewski sem que nenhum reparo precisasse ser feito. Portanto, com condições operacionais adequadas, por que o sistema caiu? Quaisquer que sejam as justificativas a serem produzidas, nada poderá apagar a constatação de desentendimentos e desconhecimento de como se dá a operação entre as várias instâncias de gestão desse processo de atividade tão essencial à sobrevivência dos cidadãos brasileiros. Nossos técnicos estão longe de oferecer uma explicação lógica. Afinal, porque o sistema de proteção do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) demorou a entrar em operação. Sua função é a de isolar falhas e barrar o efeito cascata no caso de desativação de linhas de transmissão ou usinas geradoras de energia. O que está acontecendo? O fato em si é isolado ou exterioriza uma problemática mais profunda, anos a fio de um fisiologismo político que já começa a comprometer a operação de complexos sistemas de processamento e entrega de serviços à nossa sociedade? Os ministros da área, com visão política da questão, chegaram a anunciar a resolução do problema pelo simples fato de que a situação se normalizara. A atitude foi tão anacrônica que o presidente da República, com afinada percepção política e preocupado com sua biografia pessoal, viu-se obrigado a desautorizar seus subordinados. No meio desta discussão, a notícia veiculada com base em declarações do presidente Obama, fundamentada em seus serviços de segurança, apontava para a ação de invasores cibernéticos nas redes de monitoração do sistema elétrico brasileiro com êxito nos apagões de janeiro de 2005 e de setembro de 2007, entre outros, na Região Sudeste, a mais populosa do país. O governo brasileiro dispõe de mais 300 redes integradas à internet. Em apenas uma delas, no ano passado, foram detectadas 3,8 milhões de tentativas de invasão, segundo técnicos ligados ao governo. Portanto, a fragilidade de nossos sistemas fica evidente. Levantamento do Ministério do Planejamento identificou que, em 26 www.revistafale.com.br
ministérios, cerca de três mil servidores cuidam de mais de 70 mil microcomputadores. Apenas 203 são concursados e cuidam de 25 ministérios e do Palácio do Planalto. Uma festa para os hackers de plantão. Por todos estes fatos, a estratégia geral do governo não priorizou, nestes anos todos, a segurança nos processos de transmissão da energia gerada. Devemos entender por isto computadores e sistemas de tecnologia da informação que permitiriam melhor qualidade na gestão do processo e defesa contra a invasão dos piratas cibernéticos. Quando analisamos o volume de investimentos no setor, constatamos que a Eletrobrás, no período de janeiro a setembro deste ano, já acumula perdas de R$ 1,5 bilhão. No mesmo período no ano passado, o lucro líquido foi de R$ 3,1 bilhões. O orçamento deste ano previa investimentos de R$ 7,2 bilhões no setor. Até o final de setembro, apenas 48% desta verba haviam sido aplicados. Nos últimos nove anos, apenas 66% do orçamento previsto foi efetivamente utilizado. Menos de 0,5% do PIB. A política atual é centrada no preço da tarifa. Ressalte-se que por uma pequena falha na metodologia de cálculo do reajuste de tarifas feito pela Aneel, no período de 2002 a 2008, cerca de R$ 7 bilhões foram cobrados a mais dos consumidores brasileiros, segundo relatório do tribunal de Contas da União. A soma de todas estas situações nos leva a crer que será, mais uma vez, muito difícil estabelecer com precisão o epicentro do problema. Investimento e qualidade de gestão sempre caminham juntos. Considerando as falas dos ministros envolvidos, que descartaram futuros apagões, mas não se comprometeram com relação a possíveis novos blecautes, um eufemismo à moda política de Brasília, o melhor é comprar maços de velas e potentes lanternas para se precaver quanto ao futuro próximo. n Carlos Stempniewski, mestre pela FGV, administrador, consultor e professor das Faculdades Integradas Rio Branco. NOVEMBRO de 2009 | Fale
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Câmbio, o gargalo No 4º Encontro Nacional da Indústria, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), o ministro Guido Mantega apresentou perspectiva convergente em relação ao câmbio ideal para o Brasil baseado em estudo do banco de investimentos Goldman Sachs segundo o qual o câmbio de equilíbrio para o Brasil (o valor ideal do dólar) seria de R$ 2,60. O presidennte da CNI, Armando Monteiro, diz que o maior problema do país no momento é cambial
O
maior problema para as exportações, em geral, e para a indústria, em particular, é a valorização do real ante o dólar norte-americano e as moedas mais fortes do mundo, o que “retira competitividade” 38 | Fale!
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dos produtos brasileiros no mercado externo. Quem assegura é o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, deputado federal pelo PTB de Pernambuco. O real avançou, neste ano, cerca de 30% em relação ao dólar dos Estados Unidos e ao ien do Japão; também cresceu em torno de
indústria. Ao lado, o senador Tasso Jereissati, o ministro da Fazenda, Guido Mantega e o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Armando Monteiro Neto, participam do 4º Encontro Nacional da Indústria, promovido pela CNI. Abaixo, Mantega, Monteiro e o presidente da Fiesp, Paulo Skaf Foto Marcello Casal Jr _ ABr
20% comparado ao euro, um pouco mais que isso diante da libra esterlina, da Inglaterra, e mais de 40% em relação ao peso argentino. O diretor executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI), Paulo Nogueira Batista Júnior, informou que apenas duas moedas valorizaram mais que a moeda brasileira: o rande, da África do Sul, e o dólar australiano. Para o chefe da Divisão Econômica da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, existe ainda “perspectiva inequívoca de mais valorização do real”, por causa da enxurrada de dólares no mercado nacional, mesmo com a taxação de 2% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Para ele, foi uma decisão acertada a taxação dos investimentos estrangeiros em renda fixa e em Bolsa de Valores. “O câmbio é o problema mais sério que temos hoje no curto prazo”, afirmou Freitas.
De acordo com Monteiro Neto, o Brasil foi bem-sucedido na travessia da crise financeira internacional, que afetou seriamente a indústria pela falta de crédito. Houve forte desaceleração da produção nacional, segundo ele, embora o setor venha se recuperando há nove meses, de forma lenta e gradual, e uma eventual mudança desse ritmo dependerá muito do retorno das exportações, ora prejudicadas pela valorização cambial, disse ele. O presidente da CNI está confiante, contudo, na recuperação industrial com mais velocidade, uma vez que “os sinais de aumento da atividade econômica são bons”. Para ele, não há dúvida de que a economia vai crescer em 2010. A questão agora, salientou, é saber se esse crescimento será sustentado nos anos seguintes, pois não se pode perder de vista que “o dólar tende a perder importância como moeda padrão”. Armando Monteiro Neto acredita que a maior concorrência, com a prewww.revistafale.com.br
sença mais ativa no mercado de bancos estrangeiros, e a recuperação da economia brasileira farão os bancos brasileiros voltar a financiar vigorosamente o sistema produtivo. “O sistema financeiro brasileiro sempre teve enorme aversão ao risco, pelos ganhos fáceis com a inflação alta, antes da estabilização, e depois pelo excesso de normas, resultando em spreads extraordinariamente elevados”, constata Monteiro. “Com o ambiente de estabilidade que está se consolidando no Brasil, o sistema financeiro privado precisa ser sócio da produção e se adaptar às novas realidades, financiando inclusive ativos intangíveis, como projetos de inovação.”
Dólar a R$ 2,60.
Ao divulgar estudo do banco de investimentos Goldman Sachs segundo o qual o câmbio de equilíbrio para o Brasil (o valor ideal do dólar) seria de R$ 2,60, o NOVEMBRO de 2009 | Fale
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Todo mundo sabe que o dólar vai perder força nos próximos anos, em função dos problemas da economia americana e dos deficits fiscais e comerciais. Até se adotar outra moeda padrão ou um novo arranjo do padrão monetário internacional, os países emergentes poderão sofrer muito porque passam a ser objeto de especulação e de ganhos que se realizam em curto prazo. Armando Monteiro, presidente
da Confederação Nacional da Indústria — CNI
ministro da Fazenda, Guido Mantega, provocou aplausos na plateia do 4º Encontro Nacional da Indústria, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Com o real muito forte, as exportações ficam caras e os produtos brasileiros deixam de ser competitivos. Mantega, no entanto, se apressou em dizer que o estudo não endossa o que o governo considera câmbio ideal. “Não sou eu que estou dizendo. O ministro da Fazenda não tem câmbio de equilíbrio. É bom deixar isso claro. Imagine a indústria brasileira com câmbio de R$ 2,60. Venceríamos a todos: a indústria chinesa, a coreana, porque nós temos um câmbio sobrevalorizado em 50% em relação à moeda chinesa e em 40% em relação à moeda coreana”, disse Mantega dirigindo-se ao presidente da CNI, Armando Monteiro Neto. A valorização do real frente ao dólar, a solução para o acúmulo de créditos tributários e a desoneração das exportações estão entre as prioridades da agenda que visa ao aumento da competitividade da indústria brasileira no mercado internacional. A ampliação da participação do Brasil no comércio global também depende da simplificação dos processos aduaneiros, da melhoria da infraestrutura e dos sistemas de logística. “Temos muitos problemas estruturais que diminuem a competitividade dos produtos brasileiros e comprometem o desempenho das empresas exportadoras”, constata o presidente do Conselho Temático de Integração Internacional da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Paulo Tigre, também presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS). 40 | Fale!
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Tigre explicou que as perdas dos exportadores com a desvalorização do dólar frente ao real podem ser atenuadas com a compensação mais acelerada de créditos de impostos que incidem sobre as vendas externas, como o PIS e a Cofins. “São bilhões de reais que podem melhorar o fluxo de caixa das empresas”, afirmou Tigre, acrescentando que outra medida importante é a desoneração dos tributos sobre as exportações. Na área de economia internacional, os empresários que participam do ENAI sugerem a redução dos custos portuários e aeroportuários e a melhoria das condições de acesso aos financiamentos voltados às exportações. Propõem ainda a ampliação dos regimes especiais de exportação e importação, como a Linha Azul e do drawback, e a expansão da contratação do seguro de crédito à exportação. Os empresários também estão atentos a eventuais medidas protecionistas e recomendam a manutenção de sistemas de monitoramento de barreiras comerciais que atinjam as exportações brasileiras. Defendem ainda a incorporação de medidas que impeçam a introdução de barreiras comerciais no acordo sobre mudanças climáticas. Para facilitar o acesso das empresas brasileiras ao mercado externo, os industriais apóiam a conclusão da Rodada de Doha, da Organização Mundial do Comércio, a busca de um acordo mais abrangente de livre comércio com o México e a ampliação dos tratados com a Índia e a África do Sul. n www.revistafale.com.br
Encargo social, grande obstáculo A pesquisa de opinião realizada pela CNI junto a sindicatos, federações e associações setoriais da indústria sobre o tema Relações do Trabalho mostra que a principal preocupação das empresas é a questão dos encargos sociais. O custo mensal das empresas com cada empregado é de aproximadamente um salário extra o que desestimula a geração de empregos e o aumento dos salários. Para o professor da Universidade de São Paulo (USP), José Pastore, a redução da jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas e o aumento da hora extra de 50% para 75%, se aprovadas, elevarão o custo da mão de obra em cerca de 50%, com sérios impactos na competitividade da indústria. “O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) fez um levantamento que, levando em conta apenas a produtividade das empresas, mostra que essa redução da jornada elevaria o custo da produção em 1,99%. Esse custo poderá traçar o destino de uma empresa entre permanecer ou sair do mercado”, avalia Pastore. Executivo do grupo Votorantim, Antônio Daniel de Almeida Violante, mostra que para manter a competitividade e fixar o trabalhador foi preciso oferecer planos de assistência médica suplementar e previdência privada. “Ou seja, estamos pagando duplamente”, avalia Violante. Para ele, a nossa legislação é um grande problema para os empregadores. Enquanto as empresas se modernizam e buscam a inovação, a legislação trabalhista é desatualizada. “A justiça interpreta a lei. Porque a lei não se modifica e se moderniza?”, indaga. n
Dell, dez anos depois
Em novembro de 1999, a Dell inaugurou sua primeira unidade no Brasil. Hoje, já são quatro plantas industriais que atendem aos segmentos corporativo, público e doméstico. Para Michael Dell, CEO da Dell, “a previsão que temos sobre economia brasileira é muito boa, e estamos criando novos relacionamentos em todo o país”
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ão existem muitos mercados como o brasileiro por aí. Em comparação, é menor que a China, mas muito maior que o da Índia e Rússia. Com crescimento sólido, o Brasil tem potencial de ser o quarto maior mercado de PCs do mundo em 2015. A análise é do presidente da Dell, Michael Dell que só tem a comemorar. “A previsão que temos sobre economia brasileira é muito boa, e estamos criando novos relacionamentos em todo o país”, afirma Dell. “O Brasil é chave para o mercado de computadores e para a economia da América Latina.”
Michael Dell veio ao Brasil em novembro para comemorar os 10 anos da empresa aqui. Em novembro de 1999, a Dell Brasil se instalou em Eldorado do Sul, na grande Porto Alegre, para produzir notebooks da linha Latitude e desktops Optiplex. Dez anos depois, a companhia se orgulha do investimento constante que fez no Brasil. E a número 1 em vendas para o Mercado Corporativo Brasileiro. A Dell produz e comercializa mais de dez linhas de produtos, que vão do consumidor final até grandes corporações, incluindo os segmentos público, privado, pequenas e médias empresas. Em novembro de 2004 a empresa comemorou o início de sua liderança no mercado corporativo, depois passou a ser a número 1 em vendas de servidores, já com fabricação local. Em 2006, anunciou sua expansão com a construção de uma nova fábrica na cidade de Hortolândia, interior de São Paulo, que se tornou referência em avanço tecnológico dentre as
demais plantas da Dell espalhadas pelo mundo. A partir daí, com a inauguração em maio de 2007, pôde efetivamente ficar mais perto da maioria de seus clientes, ao mesmo tempo em que ampliou a capacidade de atendimento do seu call center, situado na região Sul. “A expansão da Dell no Brasil foi um marco na história da companhia” afirma Raymundo Peixoto, diretor Geral da Dell Brasil. O portfólio de produtos para o mercado doméstico ganhou reforço com lançamentos como as linhas Alienware e Adamo, os netbooks Mini Inspiron e o desktop desenvolvido exclusivamente para o mercado brasileiro, Dimension 1000, entre outros lançamentos. Neste segmento, a Dell cresceu cerca de 217% desde o anúncio da entrada no varejo, em setembro de 2007. Já no segmento corporativo, a Dell apostou na 11ª geração de servidores PowerEdge, reforçando o compromisso da companhia com a www.revistafale.com.br
eficiência energética e com a simplificação da TI, e também investiu na estratégia de canais com força total, anunciando o primeiro distribuidor autorizado no início deste ano. “A expansão para Hortolândia nos fez chegar ainda mais perto de 70% dos nossos clientes, aprimorando a experiência deles com a Dell. Isso nos encorajou a alçar voos maiores, ampliando as possibilidades de acesso do consumidor aos nossos produtos. Democratizamos a Dell no Brasil”, ressalta Raymundo Peixoto. Para tanto, foi preciso aumentar a família. Em agosto deste ano, veio a quarta unidade brasileira. Situado em São Paulo, o novo escritório abriga profissionais das áreas de vendas para Consumidor Final e Grandes Empresas, além de equipes de marketing e finanças. O espaço ainda conta com um showroom de produtos para demonstração. Com tanto crescimento, a Dell viu seu quadro de colaboradores mais que dobrar. n NOVEMBRO de 2009 | Fale
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Grendene, recorde O lucro líquido da Grendene bate recorde e registra R$ 187,2 milhões no acumulado de janeiro a setembro. Valor é 19,5% superior a igual período de 2008. O aumento da massa salarial, a ascensão das classes de menor renda e a melhora da confiança dos consumidores vêm favorecendo o crescimento da empresa
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Grendene tem motivos para comemorar. Com os resultados do terceiro trimestre de 2009 e no acumulado até setembro, consolida excelentes resultados que, segundo fonte da empresa, reforça o compromisso com a estratégia que vem desenvolvendo nos últimos anos, com pequenas adequações táticas às diferentes conjunturas econômicas. No acumulado dos nove meses de 2009, a Grendene fabricou 108 milhões de pares de calçados, gerou R$ 286 milhões de caixa provenientes das atividades operacionais e pagou R$ 99 milhões de dividendos a seus acionistas. “Embora esperássemos um terceiro trimestre ainda melhor, consideramos excelentes os números registrados no acumulado do ano, considerando que são números recordes para o período de 9 meses. Comparativamente, observa-se que nenhuma empresa do setor de calçados no Brasil se aproxima destes números e poucas empresas brasileiras do setor de consumo em geral o superam”, explica Francisco Schmitt, diretor de relações com investidores da Grendene. “Com R$ 733 milhões de caixa líquido, boa diversificação geográfica, forte presença internacional, cartela de produtos sempre renovada e excelência na operação, a Grendene continua bem posicionada para aproveitar todas as oportunidades que um mercado em expansão apresenta e consolidar sua liderança”, completa o executivo.
Moda e design.
No trimestre, a empresa deu destaque a duas de suas principais linhas. Para encerrar as comemorações dos trinta anos de Melissa, foi montada a exposição “Melissa Eu!”, uma retrospectiva de moda e design, aberta ao público até o dia 15 de novembro, no Rio de Janeiro. Outra grande marca da empresa, a Rider, ganhou uma releitura 42 | Fale!
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e voltou ao mercado, com uma visão mais contemporânea. O chinelo, que conquistou uma geração de esportistas com o conceito “after sports”, rejuvenesceu. Com isso, revigorou o segmento inventado pela própria Grendene nos anos 80. A Grendene informa que mantém as perspectivas de que os resultados de 2009 superem os de 2008. A expectativa é de que o crescimento da receita bruta seja a uma taxa composta média (CAGR), entre 8% e 12% e que o do Lucro Líquido, também a uma taxa composta média (CAGR), fique entre 12 % e 15% nos próximos cinco anos (2009-2013). Com relação aos investimentos em propaganda e publicidade, o objetivo da empresa é manter a média de 8% a 10% da Receita Líquida. n www.revistafale.com.br
Grendene e Votorantim siderúrgica em MS A Votorantim Siderurgia e o empresário Alexandre Grendene Bartelle, dono da Grendene, assinaram acordo para construção da Sitrel (Siderúrgica Três Lagoas) em Mato Grosso do Sul, com o objetivo de atender o mercado de
Destaques
A receita bruta atingiu crescimento de 13,2% no acumulado dos nove meses de 2009 e de 3,9% no 3º trimestre de 2009, em comparação a iguais períodos do ano anterior. A receita bruta de vendas no mercado interno, no terceiro trimestre deste ano, atingiu R$ 421,9 milhões, crescimento de 8,2%, com volume total de 32,4 milhões de pares, crescimento de 8,3% e preço médio estável comparado ao mesmo período de 2008. Já no acumulado dos nove meses de 2009, a receita bruta de vendas no mercado interno atingiu R$ 973,3 milhões, 12,2% superior ao mesmo período de 2008, com volume de 76,5 milhões de pares, 10,2% superior aos 9M08 e preço médio 1,8% maior.
MARKETING. Peça promocional da Grendene com a modelo Gisele Bundchen foto divulgação aços longos da Região CentroOeste. A unidade fará a laminação do aço bruto (tarugo) produzido pela nova usina da Votorantim Siderurgia, em Resende (RJ), que possui capacidade de produção de 1 milhão de toneladas de tarugos.
No terceiro trimestre de 2009, as receitas de exportação caíram 21% em reais, 29,4% em dólares e 15,5% em volume, comparado ao mesmo período de 2008, refletindo a crise nos principais mercados de exportação e a valorização do real frente ao dólar. Nos nove meses de 2009, comparado a igual período de 2008, a empresa obteve crescimento de 17,6% em reais, queda de 4,8% em dólares e 8,6% em pares. A participação do mercado externo
na receita bruta de vendas se manteve em 20%, nos 9M09 (19,4% no 9M08). De acordo com os dados divulgados pela Secex/Abicalçados, as exportações brasileiras de calçados no acumulado dos nove meses de 2009, em comparação a igual período do ano passado, reduziram 30% em dólar, 26,5% em volume de pares vendidos e em 4,8% o preço médio em dólar. Comparativamente, a Grendene diminuiu 4,8% a receita bruta em dólares e 8,6% em volume de pares, tendo aumentado 4,1% o preço médio em dólar. Com estes resultados, a participação da empresa no volume das exportações brasileiras de calçados cresceu de 27,1% em 9M08 para 33,7% em 9M09. A receita líquida de vendas cresceu 4,3% no 3º trimestre deste ano e 15,5% no acumulado dos nove meses quando comparadas a iguais períodos de 2008. O Lucro Bruto no terceiro trimestre de 2009 diminuiu 7,8% em relação a igual período de 2008. A queda foi consequência de uma menor eficiência na fabricação, ocasionada por uma alta demanda de produção e pela deterioração na taxa de câmbio que pressionou as margens de exportação. Neste
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período, a receita líquida por par aumentou 1,5% e o volume de pares 2,7% em relação a 2008, resultando em uma receita líquida total 4,3% maior. Foram adquiridas e instaladas 46 novas máquinas e contratados cerca de 5.000 funcionários com o propósito de aumentar a capacidade de produção dos produtos, cuja demanda, fortemente aquecida, surpreendeu a empresa e deve continuar até o final do ano. O Lucro bruto aumentou 12,1% nos nove meses deste ano, levemente inferior ao aumento de 13,2% da receita bruta de vendas no mesmo período, mostrando que a queda de margem foi localizada no terceiro trimestre do ano, diluindo-se no acumulado de 2009. No terceiro trimestre de 2009, o resultado financeiro líquido foi positivo de R$7,9 milhões versus resultado financeiro líquido negativo de R$ 13,1 milhões do terceiro trimestre de 2008. O resultado financeiro líquido nos 9 meses de 2009, também foi positivo de R$ 43,7 milhões vs R$14,8 milhões no mesmo período de 2008. No terceiro trimestre de 2009, o lucro líquido foi de R$ 65,6 milhões, com margem de 16,3%. NOVEMBRO de 2009 | Fale
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BB, CAIXA ALTA O Banco do Brasil tem lucro de R$ 2 bilhões no terceiro trimestre, com expansão de 6%. O resultado é 6% superior ao obtido no terceiro trimestre do ano passado. No acumulado do ano, foram R$ 6 bilhões, 2,3% a mais que o total de janeiro a setembro de 2008. O retorno sobre o patrimônio líquido alcançou 26,2%
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m lucro líquido de R$ 2 bilhões. Este é o dado
principal do resultado financeiro do terceiro trimestre do Banco do Brasil, revela o presidente da instituição, Aldemir Bendine. Trata-se de um resultado 6% superior ao obtido no terceiro trimestre do ano passado. No acumulado do ano, foram R$ 6 bilhões, 2,3% a mais que o total de janeiro a setembro de 2008. O retorno sobre o patrimônio líquido alcançou 26,2%.
Bendine revela também que o BB tem folga financeira para expandir em até R$ 100 bilhões a carteira de crédito sem ferir as regras do Acordo de Basileia, que estabelece as exigências mínimas de capital para os bancos comerciais, como precaução contra o risco de crédito. Segundo ele, o índice de referência de Basileia para o BB passou de 13%, em setembro, para 13,9%, em novembro, após a realização de duas grandes captações financeiras, uma de US$ 1,5 bilhão e outra de R$ 1 bilhão.
RESULTADOS. O presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine Foto Antonio Cruz _ ABr
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De acordo com o presidente do BB, será mantida a estratégia de negócios na concessão de linhas de crédito. Com a incorporação dos ativos do Banco Nossa Caixa e de 50% de participação no Banco Votorantim, o BB passou a ser o maior banco da América Latina e um dos principais financiadores dessa região. O balanço do terceiro trimestre mostra que as receitas financeiras aumentaram 24,3%, de janeiro a setembro deste ano sobre o mesmo período de 2008, totalizando R$ 47,3 bilhões. Desse total, R$ 29,7 bilhões referemse a receitas originadas das operações de crédito, volume que cresceu 26,5%.
Lastro e expansão.
O volume de crédito em setembro somou R$ 285,5 bilhões, ou 41,2% superior ao de setembro do ano passado. Os empréstimos a pessoas físicas foram de R$ 85,7 bilhões, 97,3% de aumento sobre o mesmo mês de 2008. O total emprestado a empresas foi de R$ 116,9 bilhões, 37,1% maior do que em setembro do ano passado. A maior parte, R$ 68 bilhões, foi concedida a médias e grandes empresas, com alta de 42%. Para micro e pequenas empresas, o montante foi de R$ 41,1 bilhões, 28,5% a mais do que em setembro do ano passado. O
agronegócio ficou com R$ 68 bilhões, 12,4% acima do total de igual período de 2008. Segundo Bendine o Banco do Brasil conseguiu conquistar “uma antiga ambição”, que foi a autorização da Securities Exchange Comission (SEC), o órgão regulador do mercado de capitais dos Estados Unidos, para lançamento de American Depositary Receipts (ADRs), que são certificados de ações emitidos por bancos americanos com lastro em papéis de empresas brasileiras. Ele não divulgou a data, nem o volume das emissões.
META. O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes Foto Marcello Casal Jr_ABr
Sustentabilidade.
O Banco do Brasil tem ampliado sua ação de estímulo para que parceiros criem condições para o desenvolvimento sustentado do país. É o que assegura o diretor de Crédito do BB, Samir Soares Santos. As operações dos bancos públicos como BB, Caixa e Banco do Nordeste focam áreas de habitação, saneamento, agrícola e de apoio às exportações. Na atividade agrícola, por exemplo, as dotações de recursos para financiamento de investimentos e custeio têm crescido ano a ano. Samir Santos divulga que a na safra 2009/2010 (o ano agrícola conta de julho a junho) o BB já desembolsou R$ 15 bilhões, com incremento de 28% em relação ao período julho-outubro do ano passado. Foram R$ 3,4 bilhões para a agricultura familiar (36% a mais que em igual período da safra anterior) e R$ 11,6 bilhões para a agricultura empresarial, com expansão de 26%. Do total, R$ 11 bilhões foram destinados para operações de custeio, principalmente das culturas de soja e milho, e os R$ 4 bilhões restantes foram destinados a investimentos. O diretor do Banco do Nordeste do Brasil José Sydrião de Alencar Júnior, que também participou do encontro, ressaltou a importância dos bancos públicos no atendimento às populações mais necessitadas, e disse que dos R$ 12,765 bilhões de financiamentos contratados pelo Banco do Nordeste mais de R$ 1 bilhão são em microfinanças, em especial para programas da região do semiárido. Ele destacou ainda que o BNB é o segundo banco do país em crédito rural. Só perde para o Banco do Brasil. n
A espera de melhor resultado fiscal Ao comentar o resultado fiscal do país em setembro, que apresentou deficit de RS 5,763 bilhões, o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes, mostrou sua expectativa, a de que os números convirjam para a meta nos próximos meses. O resultado primário é a diferença entre as receitas e as despesas e é uma forma de reserva que o governo faz honrar seus compromissos financeiros, como o pagamento de juros da dívida pública. O resultado foi o pior para meses de setembro da série histórica iniciada em dezembro de 2001. Lopes vê o resultado negativo “elevado” como decorrente da queda nas receitas do governo, quando se compara com agosto, além da elevação das despesas com investimentos e com o pagamento de 50% do décimo terceiro salário dos aposentados e pensionistas. A meta do governo é fechar 2009 com superavit primário de 2,5% do Produto Interno www.revistafale.com.br
Bruto (PIB), com a possibilidade de abater os gastos com investimentos desse percentual. Assim, a meta fica em 1,56% do PIB. Segundo os dados do BC, nos 12 meses fechados em setembro esse percentual está em 1,17%, o pior desde dezembro de 2001. Apesar do cenário ruim, Lopes espera a melhora da arrecadação nos próximos meses, “em linha com um nível da atividade econômico mais forte”. Ele lembrou que o abatimento dos investimentos do resultado primário “é uma prerrogativa que o governo tem”. O secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, admitiu, pela primeira vez, que o governo poderá fazer esse abatimento. Lopes evitou falar sobre o aumento dos gastos do governo, uma vez que essa é uma análise que deve ser feita pelo Tesouro Nacional. “Vai arrecadar mais com certeza. [Quanto a ]gastar menos, não sei até que ponto se pode reduzir. Isso é uma avaliação do Tesouro Nacional”. n NOVEMBRO de 2009 | Fale
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Bons negócios na
Africa
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, Miguel Jorge, chefiou missão com 98 empresários brasileiros à África para estimular as relações comerciais entre os países. Por Renata Giraldi
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epois de quatro dias de viagem a três países
do Sul da África com um grupo de 98 empresários, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil, Miguel Jorge, afirmou que o objetivo de ampliar o mercado exportador foi atingido e que outras visitas estratégicas serão realizadas. Segundo Jorge, o Brasil tem a “vocação natural” dos imigrantes árabes que é a de negociar.
“O bom negociante sabe que para negociar tem de ser olho no olho. O vendedor tem de ir atrás do cliente e oferecer produtos de qualidade. É isso que estamos fazendo”, afirmou à Agência Brasil o ministro. “Meu avô e meu pai eram mascates, eles vendiam para várias fazendas no interior de Minas Gerais e só mantinham os clientes porque os produtos tinham qualidade.” O ministro e os empresários visitaram Angola, Moçambique e África do Sul. Em cada país passaram pouco mais de um dia, reuniram-se com autoridades e empresários locais. Nas capitais foram montadas espécies de feiras nos hotéis com direito a balcão de negócios. Na relação de empresários, há pequenos, médios e grandes representantes dos mais diversos setores. A missão empresarial foi composta por integrantes dos setores de alimentos e bebidas, agronegócios, construção, indústrias automotiva, de energia, de máquinas e de equipamentos, além do comércio varejista, dos cosméticos, de materiais elétricos e eletroeletrônicos, defesa e infraestrutura e têxtil. Jorge prepara a próxima missão, prevista para março, com destino ao Oriente Médio. Os empresários serão levados ao Irã, à Arábia Saudita e ao Líbano. Em maio, vão ser feitas viagens ao Sudão, à Tanzânia e ao Kênia, na África. Com apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro disse que 46 | Fale!
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as missões empresariais atuam com eficiência na divulgação e ampliação do mercado exportador brasileiro. “Quando o empresário chega ao exterior com o amparo do governo federal e acompanhado por outros empresários isso dá uma segurança imensa ao cliente estrangeiro”, disse Jorge. Aos que criticam a escolha de países pouco desenvolvidos, como Angola, Nigéria e Kênia, o ministro reage. Segundo Miguel Jorge, nesses locais é que os empresários têm oportunidades de se lançar em negócios pioneiros e empreendedores. “Não se pode pensar em negócios ou comércio a curto prazo. Tudo é a médio e longo prazo. É assim que funciona.” Jorge, representantes de outros setores do governo, e os 98 empresários viajam no Boeing 737 da Força Aérea Brasileira (FAB), apelidado por Sucatão. A viagem foi paga pelo governo federal, assim como o translado nas cidades. Mas as estadas nos hotéis ficaram por conta dos empresários. No total foi gasto cerca de R$ 1 milhão.
Empresários satisfeitos com resultado da missão brasileira Determinados a fechar negócios e ampliar o mercado brasileiro no Sul da África, os empresários participaram da missão de quatro dias por Angola, Moçambique e África do Sul. Para eles, as visitas coordenadas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior dão o suporte político e operacional necessário a muitas articulações. “Cada país tem suas características e necessidades próprias. Mas o fato de você seguir em uma missão como esta é muito mais interessante porque há pessoas de todos os setores e cada um observa uma coisa, ao mesmo tempo, quando se chega a um determinado local em grupo a impressão positiva é muito maior”, afirmou o vicepresidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Batista Lohn. Para o empresário Roberto Tavares Coelho, da Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S/A (Usiminas), a missão capitaneada pelo governo funciona para abrir portas em lugares de acesso complexo. “Há países, como Angola e Nigéria, onde é muito difícil chegar e até se aproximar dos clientes. Eles até têm interesse, mas nem sempre sabem como fazer e o fato de haver um apoio do governo aumenta o interesse também.” De olho na Copa do Mundo na África do Sul em 2010, o empresário Luiz Caldeira, da empresa Muraro Bebidas S/A, que exporta destilados e refrigerantes, usou a tradição da caipirinha e das batidas de frutas para poder conquistar a clientela. “Os africanos ficaram entusiasmados com a ideia de ter caipirinha e batida à venda durante a Copa. Também disseram que precisam de um produto de qualidade e preço acessível.”
De diferentes idades, experiências e setores de atuação, os 98 empresários brasileiros que participaram da missão defendem a manutenção das visitas e o aprimoramento de alguns detalhes. Segundo eles, nos locais em que há mais dificuldades administrativas e burocráticas os reflexos na participação na rodada de negócios são imediatos. “Em Angola, houve dois contatos que confirmaram que iriam aparecer para as reuniões e não compareceram. Em Moçambique foi muito melhor com perspectivas de negócios futuros e na África do Sul eu fechei efetivamente um ótimo negócio”, disse o empresário Jefferson Werlich, da Companhia Industrial Hcarlos, fabricante de fixadores. Veterano em missões, o empresário João Viscardi, da Casb fabricante de incubação para aves e suínos, afirmou que a missão abre espaço para que sejam fechados negócios entre brasileiros. “São tantos dias viajando que você acaba fazendo negócio com outro brasileiro, descobre que seu produto complementa o dele e vice-versa. Isso é excelente”, afirmou. Para Marcelo Siegmann, da Brasil Foods, a participação na missão também caracteriza o interesse institucional no projeto de desenvolvimento econômico do país. “Nesta viagem o ministro [Miguel Jorge, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio] conseguiu que a África do Sul sinalizasse a possibilidade de acabar com as barreiras contra a carne suína”, informou. “Para nós, da minha empresa, isso é importantíssimo, o fato de estar aqui indica o interesse da companhia”. Gerente de exportação da Móveis Vila Rica, Camila Rodrigues, disse que a missão foi “extraordinária”. “Eu fechei ótimos negócios. Minha linha de produção é destinada à classe econômica justamente a clientela de Angola e Moçambique. Ao mesmo tempo também já encaminhei futuras parcerias com colegas brasileiros. Encerro a missão muito satisfeita”, disse. n www.revistafale.com.br
brasileiros, arma é a simpatia
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espontaneidade e informalidade do brasileiro nas negociações internacionais provocam situações únicas. Em missão ao Sul da África, os empresários brasileiros tiveram que negociar com clientes de diferentes culturas e religiões. Os muçulmanos preferem negociar com os homens, enquanto os hindus não apreciam que suas mulheres sejam cumprimentadas ou beijadas por estranhos. O empresário Paolo Boria, da indústria de alimentos Yoki, foi eleito pelo grupo, que viajou à África nesta semana, como o melhor contador de histórias e dono de um bom-humor constante. Para ele, as dificuldades e eventuais diferenças que os brasileiros esbarram nas negociações são vencidas pelo “estilo nacional”. “Nosso jeito informal, simpático e paciente cativa, mesmo quando há um ou outro problema. Isso é com todo mundo”, disse Boria. “Mas nem por isso o empresário deve deixar de conhecer a história e o perfil de seu cliente. É fundamental você estar a par de tudo isso para poder ser bem-sucedido.” “Com os chineses, o estilo de negociar deve ser o da pergunta constante: ‘O senhor tem certeza disso?’. Só depois da terceira confirmação é que a gente começa a ter alguma segurança de que o negócio vai dar certo”, ensinou o empresário Paulo Amanthea, da Eucatex, que viaja pelo mundo vendendo portas e dobradiças. Do setor de massas e óleos, o empresário Murilo Farias Santos, da Emit, disse que é preciso estar atento também para negociar com os turcos e gregos, que têm uma longa história em comércio. “Eles são muito bons. Sabem negociar como poucos, pechincham, pedem, insistem e você tem de estar atento para não ir além dos próprios limites”, afirmou. A missão com 98 empresários à África reuniu representantes de alimentos e bebidas, agronegócios, casa e construção, indústria automotiva, energia, máquinas e equipamentos, varejo, cosméticos, materiais elétricos e eletroeletrônicos, defesa, infraestrutura e têxtil. NOVEMBRO de 2009 | Fale
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Autos&Máquinas Por Roberto Costa
FUSION
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mpenhada em oferecer
veículos de luxo no mercado nacional a Ford incorporou a seu portfólio a versão top de linha do Fusion que traz como maior diferencial a motorização Duratec V6 que desenvolve 243 cavalos. Mas para quem pensa que está aí o grande diferencial do Ford produzido no México, é bom prestar atenção no amplo leque de equipamentos e acessórios introduzidos na versão top de linha, para que possa concorrer com veículos mais caros e eventualmente mais famosos. Visualmente o Fusion 2010 traz uma nova frente com capuz afunilado, faróis trapezoidais, uma grade mais pronunciada e um pára-choque envolvente de grandes proporções onde são fixados os faróis de neblina. De perfil nota-se um design esportivo mas sem tirar a classe que um verdadeiro sedan de luxo precisa. São notadas as belas rodas de liga leve de 17 polegadas e os retrovisores com setas direcionais embutidas. Na traseira, finalmente a 48 | Fale!
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Ford resolveu modificar as lanternas que davam ao sedan ares de veículo tunado, destoando da proposta inicial do belo sedan, existindo, ainda, uma moldura cromada sob a tampa do porta-malas que inclui um brack ligth. Entrando no Fusion V6 logo se nota detalhes de muito bom gosto, tais como cores suaves e forração em couro, além de um completo painel misto analógico/digital de fácil leitura que inclui computador de bordo, ar condicionado eletrônico com separação de temperatura para motorista e passageiro e sistema de entretenimento produzido pela Sony que inclui DVD, CD/MP3 player com conexão para iPod, USB e celular Bluetooth, além www.revistafale.com.br
V6
de “jukebox” capaz de armazenar até 10 Gb de músicas e imagens. O acesso ao banco traseiro é facilitado pelas amplas portas com grande ângulo de abertura e o espaço para os passageiros é generoso.Estão disponíveis sete cores perolizadas: Preto Bristol, Prata Munique, Cinza Berlim, Vermelho Ibiza, Branco Sibéria, Verde Lion e Azul Florence. Dirigir o Fusion V6 é algo prazeroso, já que os 243 cavalos estão disponíveis já em baixas rotações mesmo sendo um propulsor com quatro válvulas por cilindro, mas quem acaba roubando a cena é mesmo o câmbio automático de seis velocidades com modo sequencial e relações que se ajustam milimetricamente as necessidades do momento. Com trocas rápidas e suaves praticamente não se nota o funcionamento do motor que trabalha de forma econômica. Aos pilotos de plantão existe ainda a possibilidade da utilização manual, que em algumas situações eleva o consumo de
pit-stop tipo de óleo utilizado. A empresa deixa claro que o fabricante do lubrificante fornece o produto de acordo com as especificações da Volkswagen. Para solucionar essas ocorrências, a Volkswagen voltará a utilizar a especificação anterior do óleo lubrificante, visando garantir a perfeita lubrificação do motor. E para assegurar a satisfação dos clientes, a empresa estenderá o prazo de garantia dos motores VHT 1.0l, produzidos desde abril de 2008, de 3 para 4 anos.
sofrer uma retração de cerca de 45% este ano, em comparação a 2008. No Brasil, a queda deve ficar em cerca de 17%, com total de 105 mil unidades, levando-se em conta as vendas de todos os fabricantes. Para 2010, a expectativa é de 120 mil unidades. Argentina
A Volkswagen do Brasil distribuiu nota para esclarecer os casos de ruídos internos ocorridos em alguns motores 1.0 e informa que identificou como causa a deficiência na lubrificação do motor. A ocorrência é provocada pela perda das propriedades de lubrificação do óleo, em função da ação do álcool combustível no
Com o impacto forte da crise nas vendas europeias, o Brasil ultrapassou a Alemanha este ano e se tornou o principal mercado para os caminhões da Mercedes-Benz. De janeiro a setembro, foram vendidos 21,8 mil veículos com mais de 6 toneladas no País, comparados a 16,8 mil na Alemanha. Em terceiro lugar vem a Turquia, com 3,7 mil. A queda das vendas no Brasil este ano ficou abaixo da verificada em outras regiões. O mercado europeu deve
A Argentina reverteu nos nove primeiros meses do ano o saldo comercial negativo com o Brasil em automóveis, obtendo superávit de US$ 905 milhões, segundo dados da consultoria Investigaciones Económicas Sectoriales. “Graças à recuperação da economia brasileira as montadoras argentinas conseguirão, em 2009, sair com sucesso da abrupta queda das vendas no mercado interno”, diz o estudo da IES. Do total das exportações argentinas 88,9% foram destinados ao Brasil. A indústria automotiva argentina deve encerrar o ano com a produção de 450 mil unidades, a terceira maior da história.
combustível mas oferece reações mais rápidas e, obviamente, mais emoção, e tudo isto apoiado no sistema AWD de tração integral nas quatro rodas que permite uma melhor distribuição de torque com uma aderência perfeita em qualquer tipo de piso.
A Ford, ao lançar no Brasil o Fusion nas versões quatro e seis cilindros, apostou na relação custo-benefício e vem obtendo bons resultados já que além de conseguir fazer crescer o seguimento dos sedans, com preço entre R$ 85 mil e R$ 100 mil, assumiu
sua liderança com folga. Resta agora esperar pela reação da concorrência que em muitos casos chega ao mercado sem as vantagens do acordo bi-lateral assinado entre o Brasil e México, ou, quando trazem preço competitivo, esbarram no conteúdo embarcado. n
gol 1.0 Volkswagen 1.0
CURSODE COMUNICAÇÃO Cartaz A3 curvas.pdf 1 23/11/2009 17:02:57
Mercedes-Benz
Realização
persona Jennifer Lopez se defende
Dois anos depois de ganhar uma sentença de 545 mil dólares contra ele, a cantora e atriz Jennifer Lopez abriu novo processo tendo como alvo, novamente, seu primeiro marido, acusando-o de usar vídeos da vida sexual de ambos em um filme biográfico. Na ação judicial, Lopez diz que o ex-marido Ojani Noa está querendo lançar um filme, chamado “How I Married Jennifer Lopez” (como eu me casei com Jennifer Lopez) onde o ex-casal aparece em situações explícitas, incluindo um encontro sexual em um quarto de hotel durante a lua-demel de ambos, em 1997. Lopez, que se casou com o cantor Marc Anthony em 2004 e tem dois filhos com ele, quer 10 milhões de dólares em indenização e uma ordem da Justiça para evitar a divulgação de qualquer vídeo mostrando-a em situações íntimas com Noa. www.revistafale.com.br
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duplo brinde. O Gran Marquise foi o cenário para a tradicional e afetiva noitada comemorativa ao meu aniversário e 41 anos de jornalismo. Ambientação a cargo de Dito Machado e música da banda Brasas Seis. Fotos auston
Arízio de Castro e José Antônio Parente
Aqui estou entre Sérgio Aguiar e Teodoro Soares
Tânia e João Jorge Vieira
Neuma e José Cláudio Carneiro
Lucília e Edmilson Pontes
Carlos e Flávia Castelo
Antônio e Valéria Câmara
Ruth e Itamar Telles
Irapuan e Vilma Nobre
Ricardo e Letícia Studart
Antônio e Cristiane Cavalcante
Ivanilde e Álvaro Andrade
Maria e Eymard Amoreira
Eridan Mendonça e Beth Sampaio
Alfeu e Vera Simões
José Waldo Silva e Marta
Vera Mota, Mazé Coelho e Bárbara Freire
Wanda Thain e Islay Rangel
João e Conceição Guimarães
Luiz Carlos Martins e Gláucia Viana
Nazaré Pires, Gabriela Castro e Guadalupe Pessoa
Sônia Machado e Ana Cavalcante
Marcelo e Renata Pinheiro
Aracy e Otávio Justa
Eveline Pinheiro
Fátima Gernan e Amaríldo Miris
Dedé e Amélia Barros de Oliveira
Isabel e Sá Júnior
Paulo Régis Botelho
Emília e Maurício Carneiro
Francisco de Assis e Érika Martins
Cida Parente e Paulo Matta www.revistafale.com.br
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crônica social. Diretoria do Ideal Clube anfitrionou almoço de confraternização, reunindo a crônica social de ontem e de hoje. Na ocasião, Lúcio Brasileiro foi homenageado por conta dos 30 anos do livro “Sociedade Cearense”. Fotos rodrigues
Integrantes do Colóquio da Crônica de ontem e de hoje nos salões do Ideal Clube
Fernando Sá, Luís Sérgio Santos e Lêda Maria
Lúcio Brasileiro e Beatriz Philomeno
Valmir Pontes
Paulo Carapião
Marcondes Viana
Mérito Judiciário. Tribunal Regional do Trabalho do Ceará promoveu solenidade de entrega da Medalha da Ordem Alencarina do Mérito Judiciário do Trabalho a várias personalidades que contribuíram pelos relevantes serviços prestados à Justiça Trabalhista. Fotos auston
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José Antônio Parente e Salmito Filho
Lisandro Fujita, José Pimentel, Marcelo e Mário Feitosa Dulcina e Wanda Palhano
Tomás Filho, Tomás e Cândida Figuiredo e Guto Benevides
Elizeu e Maria de Amis Calsing
Cláudio Pires e Regina Cláucia Nepomuceno
Antônio Carlos Antero e padre Dourado
Laís Freire
César Asfor
Antônio Marques Cavalcante
Arisío de Castro e Domingos Filho
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Colunista Lêda Maria articulou a festa “Noite Francesa no Ceará”, no Athénée Buffet, como parte da programação do ano da França no Brasil. Fotos auston
ano da frança.
Deusmar e Auricélia Queiroz
Lêda Maria, Adauto e Silvana Bezerra Marta e Antônio Cambraia
Álvaro e Eneida Corrêa de Castro
Cristina e Fernando Bezerra Zenaide e Paulo Bezerra
Fátima e Juvenal Duarte
Lucília Loureiro, Mafrense e Virginia Morais Teodoro e Norma Soares
José Cláudio e Neuma Carneiro, Rita e Byron Frota
Antônio Marques e Cristiane Cavalcante
Luiz Carlos Martins. De A a Z no Caderno People, jornal O Povo
Artigo
A narcotragédia brasileira Por Everardo Maciel
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ão dispensáveis mais estatísticas para evidenciar a associação entre o narcotráfico e o vertiginoso aumento da criminalidade no Brasil, especialmente nas cidades. Não se trata, é claro, de fenômeno local, mas impressiona sua incidência cada vez mais abrangente na América Latina. As causas desses problemas são múltiplas. Sua solução é complexa e difícil, porque não há sequer um mínimo de consenso em torno da matéria. A violência, invariavelmente, é tida como resultado de desigualdades sociais. Essa obviedade, entretanto, não pode ser pretexto para ignorar outras causas igualmente relevantes. Remoção ou mitigação de desigualdades sociais não é processo rápido, nem simples. É, pois, completamente equivocado e temerário condicionar a erradicação da violência à consecução daquele objetivo. Elas são questões autônomas, conquanto correlatas. O caos urbano brasileiro oferece contribuição significativa para a violência e o narcotráfico. Adensamentos urbanos, tristemente marcados pela proliferação de habitações subnormais, são terrenos férteis para o desenvolvimento das atividades criminosas. Neles tudo falta, desde os serviços públicos aos títulos de propriedade, daí passando ao completo desrespeito às limitações ecológicas. A ausência do Estado e da lei é a causa primeira dessas zonas de exclusão social. A longa extensão das fronteiras brasileiras é um forte atrativo para as atividades ilegais. A inexistência de ações vigorosas das Forças Armadas e da Polícia Federal, carentes de efetivos e armamentos, e a timidez dos serviços de inteligência as converte em convite permanente para o descaminho e contrabando, especialmente de armas e drogas.
Brasileiros, em proporção cada vez maior, estão sendo dizimados em uma guerra civil somente destacada por episódicos festins mediáticos. A autorização legal para abate de aeronaves clandestinas, que se recusam cumprir ordem de pouso, veio a passo tardo. É ao menos ingenuidade transferir das fronteiras para as favelas o enfrentamento do contrabando de armas. Os amargores do período autoritário fizeram vincular a imagem das corporações militares e policiais à arbitrariedade, à tortura e à truculência. A persistência dessa atitude preconceituosa levou o Estado a tratar aquelas corporações com menosprezo e mesquinhez, debilitando sua capacidade operacional e espírito de corpo. A consequência mais dramática dessa realidade foi o aumento dos níveis de corrupção, especialmente nas unidades policiais em contato próximo com o crime organizado. Sem repressão enérgica e inteligente, sem reforma do sistema prisional que usualmente converte penitenciárias em albergues do crime e sem mudanças na legislação que admite progressividade de pena para traficantes contumazes, a violência só tende a crescer. Os esforços, ainda que louváveis, de organizações não governamentais ou as iniciativas educacionais visando prevenir o consumo de drogas apresentam resultados modestíssimos ante a dimensão do problema. O consumidor de drogas é um doente, merecedor de cuidados www.revistafale.com.br
especiais. Não pode ser tido como traficante tampouco encarado com leniência. Seu tratamento deve ser obrigatório, como foi a vacinação no começo do século XX, a despeito das revoltas contra a medida – hoje, vistas como expressão da mais completa ignorância. A obrigatoriedade do tratamento impõe verdadeira mudança de foco na educação contra o uso de drogas, revisão nos conceitos de atenção à saúde mental, aumento na disponibilidade de leitos especializados em hospitais públicos, pronta oferta de atendimento ambulatorial e novas formas de abordagem do dependente pela autoridade policial. Nesse contexto, há os que pregam a completa descriminalização das drogas, brandindo exemplos de outros países. A descriminalização, pergunto, alcançaria qualquer droga? Teríamos quiosques de maconha, barzinhos especializados em crack, importadoras de cocaína premium? Pretender enfrentar o narcotráfico com tal providência é evidência de estultice ou de relativismo moral. Brasileiros, em proporção cada vez maior, estão sendo dizimados em uma guerra civil somente destacada por episódicos festins mediáticos. A juventude, especialmente a que vive na periferia, sofre a miséria da falta de esperança. São indecentes a postura conformista e os rompantes de auto-engano da sociedade brasileira. Urge romper essa inércia. O Governo Federal precisa montar um programa amplo e permanente de combate à violência e ao narcotráfico, abrangendo as múltiplas causas e mobilizando todos os meios, a exemplo do que fez Osvaldo Cruz na cruzada contra a febre amarela. Neste País, não existe questão mais prioritária que essa. n Everardo Maciel é ex-secretário da Receita Federal NOVEMBRO de 2009 | Fale
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Analfabetismos e Eleições Por Carlos Henrique Araújo
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ma pessoa educada é um indivíduo autônomo, capaz de decidir racionalmente em função de objetivos e valores assumidos de forma consciente. Em tese, escolhem os seus governantes, quando vivem em repúblicas democráticas, livres de constrangimentos e portando um mínimo de informações básicas. Para se chegar, de fato, ao eleitor ideal, muitos obstáculos devem ser superados no País. Dentre tais, duas verdadeiras muralhas impedem que o brasileiro chegue sequer perto de um comportamento racional em eleições, sejam elas municipais, estaduais ou federais: o analfabetismo político e o analfabetismo de linguagens. O analfabetismo político consiste em votar em pessoas que desejam o cargo e seus benefícios e não votar em servidor do público. Parte substancial dos eleitores brasileiros faz parte do jogo de poder como uma platéia ou torcida que assiste ao seu time de futebol ganhar ou perder. Torce, ama e odeia! Por vezes, nem mesmo sabe explicitar razões que justifiquem o voto, pois elas não existem. Acabam por viabilizar a reprodução das imagens produzidas nos laboratórios dos publicitários. O eleitor segue como manada guiada por políticos com interesses passageiros, fúteis e ignóbeis. Este analfabetismo político se espalha em todas as esferas da sociedade brasileira. Em época de eleições os defeitos são exacerbados e as qualidades superestimadas. Há uma confusão generalizada entre os destinos do Estado e da Nação com as ações dos governos. Os discursos de salvação da pátria
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Uma pessoa educada é um indivíduo autônomo, capaz de decidir racionalmente em função de objetivos e valores assumidos de forma consciente. entopem os meios de comunicação e o império da mentira, das ilações e acusações toma conta. A complexidade dos problemas a serem enfrentados de segurança pública, de qualidade da educação, de qualidade da saúde pública, de fortalecimento da economia e de equilíbrio das contas governamentais é sempre reduzida, sendo oferecido aos eleitores soluções fantasiosas e fáceis. Promessas do céu na terra! A segunda muralha para o alcance do voto racional encontrase enraizada em nossa história. Segundo a Fundação do IBOPE mais de 75% dos brasileiros são analfabetos funcionais, não en-
tendem um texto simples escrito em linguagem direta. O sistema de avaliação do MEC para a educação básica mostra que temos quase 60% de crianças analfabetas na 4ª série do ensino fundamental, eis o nosso futuro eleitor. Quando os estudantes brasileiros participam de testes internacionais, seja em línguas, matemática ou ciências, invariavelmente ficam em penúltimo ou último lugar nas listas de desempenho. Apenas 11 estudantes, dentre cada 100 que se matriculam na 1ª série do ensino fundamental, chegam ao ensino superior, nove entram em faculdades privadas de qualidade muito duvidosa. Para Machado de Assis, em 15 de agosto de 1876, “70% dos cidadãos votam do mesmo jeito que respiram: sem saber por que nem o quê. Votam como vão à festa da Penha – por divertimento”. Bem, em 2010 teremos, mais ou menos, o mesmo cenário que o escritor imortalizou, em sua obra, no século XIX. Um país gigante, hoje rico, e profundamente ignorante, com milhões de eleitores votando em propagandas e falsas promessas, amando e odiando imagens projetadas para o jogo político. As eleições produzem sempre uma grande festa, onde todos participam emanados pelas esperanças e pela tensão das disputas. O que sobra, após as escolhas, é uma tremenda ressaca que dura até o próximo festival de insensatez. O analfabetismo literal e o político guiam as maiorias do eleitorado brasileiro já há muito tempo. n Carlos Henrique Araújo é mestre em Sociologia, Consultor em Educação e ex-diretor do Inep-MEC. E-mail chfach@ gmail.com
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