Revista Fale 75

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Revista de informação ANO XIX — Nº 75 OMNI EDITORA

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CLIMATE AND SUSTAINABILITY The Second International Conference: Climate, Sustainability and Development in semiarid regions — ICID+18 2010 debates the future of the planet

VERDE

CLIMA E SUSTENTABILIDADE A Segunda Conferência Internacional: Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas — ICID+18 2010 debate o futuro do Planeta R$

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1.Políticos sionaisLiberais Empreendedores Intelectuais


ISSN 1519-9533

VERDE REVISTA DE INFORMAÇÃO

EDITOR&PUBLISHER Luís-Sérgio Santos EDITOR SENIOR Isabela Martin EDITOR ASSOCIADO Luís Carlos Martins EDITOR DE ARTE Jon Romano DESIGNER GRÁFICO Bruno Aôr EDITORES DE ARTE ASSISTENTES Eduardo Vasconcelos e Cinara Sá REDAÇÃO Lúcio Pontes Filho e Liana Costa COLABORADORES Fernando Maia, Roberto Martins Rodrigues e Roberto Costa IMAGEM Agência Brasil, AE, Reuters, stock.xchng REDAÇÃO E PUBLICIDADE Omni Editora Associados Ltda. Rua Joaquim Sá, 746 n Fones: (85) 3247.6101 e 3023.5879 n CEP 60.130-050, Aldeota, Fortaleza, Ceará l e-mail: fale@revistafale.com.br home-page: www.revistafale.com.br n Fale! é publicada pela Omni Editora Associados Ltda. Preço da assinatura anual no Brasil (12 edições): R$ 86,00 ou o preço com desconto anunciado em promoção. Exemplar em venda avulsa: R$ 9,00, exceto em promoção com preço menor. Números anteriores podem ser solicitados pelo correio ou fax. Reprintes podem ser adquiridos pelo telefone (85) 3247.6101. Os artigos assinados não refletem necessariamente o pensamento da revista. Fale! não se responsabiliza pela devolução de matérias editoriais não solicitadas. Sugestões e comentários sobre o conteúdo editorial de Fale! podem ser feitos por fax, telefone ou e-mail. Cartas e mensagens devem trazer o nome e endereço do autor. Fale! é marca registrada da Omni Editora Associados Ltda. Fale! é marca registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Copyright © 2010 Omni Editora Associados Ltda. Todos os direitos reservados. Impressão Gráfica Cearense n Impresso no Brasil/Printed in Brazil. Fale! is published monthly by Omni Editora Associados Ltda. A yearly subscription abroad costs US$ 99,00. To subscribe call (55+85) 3247.6101 or by e-mail: df@fortalnet.com.br IMPRESSO EM PAPEL CERTIFICADO

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TA L K IN G HE A D S ARENA POLÍTICA ONLINE

IMAGEM VERDE

24 ICID+18

Os maiores pensadores sobre mudanças climáticas do mundo estarão concentrados em Fortaleza. Além deles, membros da sociedade civil organizada e formuladores de políticas públicas de convivência com a seca e o semiárido.

32 SUSTENTABILIDADE

FOTO ROOSEWELT PINHEIRO_ABR

A palavra de uns anos para cá virou moda. Usa-se sustentabilidade em anúncios, discursos e campanhas políticas. Ter uma “atitude sustentável” passa a ser obrigação de governos e grandes empresas.

42 VERDE EM PLENO SERTÃO Em pleno Sertão de Canindé o Programa de Desenvolvimento Hidro-Ambiental já recuperou grande parte de uma área ameaçada de desertificação.

48 ANO DA BIODIVERSIDADE Escolhido pela ONU como o Ano Internacional da Biodiversidade, 2010 será palco da décima Conferência das Partes das Convenções das Nações Unidas.

UM DIA PARA O MEIO AMBIENTE

O dia 5 de junho foi o Dia Mundial do Meio Ambiente. Em Brasília, crianças indígenas observam exposição de sacolas renováveis durante comemoração do Dia Mundial do Meio Ambiente, na Esplanada dos Ministérios.

A conservação é uma estratégia de desenvolvimento.

CAPA JON ROMANO|BRUNO AÔR

AHMED DJOGHLAF, secretário de Biodiversidade da ONU, atentando para o uso sustentável das terras de produtores rurais


TA L K I N G H E A D S

A história da humanidade e seu relacionamento com a Terra pode ser visto como a continuidade de uma aventura ou uma tragédia acobertada pelo mistério. A escolha é nossa. FOTO JIM YOUNG

Al Gore, ex-vice presidente americano e grande defensor da causa ambiental, em seu livro “A Terra em Balanço: Ecologia e o Espírito Humano”

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Somos todos responsáveis por ter um padrão de vida que demanda o uso de energias não sustentáveis. Nós também somos responsáveis por encontrar soluções e devemos trabalhar juntos para proteger o equilíbrio da vida.

Graças a Deus os homens não podem voar, e devastar o céu como na terra.

Jane Fulton Alt, fotógrafa americana, que divulgou em seu blog fotos de banhistas sujos de óleo. A série, chamada Crude Awakening, chama a atenção para o vazamento de petróleo no Golfo do México 

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Henry David Thoreau, intelectual norte-americano do século XIX www.revistafale.com.br


A teoria dela [Marina] sobre meio ambiente está muito nas estrelas.

FOTO GERALDO MAGELA

FOTO GERALDO MAGELA

Sérgio Guerra , presidente nacional do PSDB, sugerindo que as propostas para o meio ambiente do PV, partido da candidata Marina Silva ao Palácio do Planalto, são irreais

Nossos problemas ambientais são originários da arrogância de imaginarmos nós mesmos como o sistema nervoso central ou o cérebro da natureza. Nós não somos o cérebro, somos um câncer na natureza. Dave Foreman, ambientalista, líder do grupo radical Earth First

Que morram de fome. É a natureza buscando seu equilíbrio natural.

IDEM, sobre a população da Etiópia. Comentário infeliz que lhe rendeu fama

Irreal é achar que se pode continuar com uma cabeça de boi por hectare. Irreal é achar que se pode continuar desmatando a Amazônia. Marina Silva, presidenciável do PV, rebatendo as críticas de Sérgio Guerra

Meu pai sempre diz: ‘Você é aquilo que faz, não aquilo que você diz’. Bem, o que vocês fazem, nos fazem chorar à noite. Vocês adultos, nos dizem que vocês nos amam. Eu desafio vocês! Por favor: façam as suas ações refletirem as suas palavras! Severn Suzuki, na ECO — 92 no Rio de Janeiro, quando tinha 12 anos e fez um discurso memorável que a tornou reconhecida mundialmente

D E S L I Z E

Eu acho que é loucura brincar com o futuro dos nossos filhos. Nós sabemos o que está acontecendo com o clima, temos um conjunto de consequências altamente previsível, se continuarmos a deitar gases de efeito estufa na atmosfera. Bill Clinton, ex-presidente americano na Conferência do Clima em 2005, no Canadá

FOTO JAKE WELLINGTON

Meio ambiente é sem dúvida nenhuma uma ameaça ao desenvolvimento sustentável

Dilma Rousseff, candidata do PT ao Palácio do Planalto, durante a Conferência do Clima, em Copenhague, no ano passado. A ex-ministra falava sobre as iniciativas brasileiras contra o aquecimento global e não percebeu que havia se enganado nas palavras www.revistafale.com.br

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ARENA POLÍTICA

Lula sanciona lei da política de reciclagem

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Durante a sanção do projeto de lei que cria a Política Nacional de Resíduos Sólidos (lixo) no país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou que trata-se de uma revolução em termos ambientais no Brasil. “É com muito orgulho que participo dessa cerimônia em que, finalmente, sancionamos a Política Nacional de Resíduos Sólidos”, disse Lula. “Simboliza a vitória das entidades que trabalham nessa área. A adoção de uma lei nacional para o manejo dos resíduos sólidos é uma revolução em termos ambientais.” “O maior mérito dessa lei é a inclusão social de trabalhadores e trabalhadoras que, por muitos anos, foram esquecidos e maltratados pelo Poder Público. Ela está de acordo com a missão do nosso governo de fazer o Brasil crescer para todos, respeitando o meio ambiente”, acrescentou Lula.

Estímulo a reservas corporativas no Brasil

O Instituto Ecofuturo, criado no Brasil em 1999, está lançando, em parceria com a organização não governamental internacional The Nature Conservancy (TNC), o Programa de Incentivo à Criação de Reservas Corporativas. A iniciativa visa a estimular as empresas brasileiras a criarem áreas protegidas em terras privadas, dentro do conceito das Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), reconhecidas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc). Com isso, as empresas assumem o compromisso de conservar a natureza. Fale!

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LIVRO DE PAPEL TERÁ VIDA LONGA

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oexistência é a expressão mais utilizada pelos autores que participam da oitava edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), no Rio de Janeiro, ao comentar o futuro do livro em papel e das novas plataformas digitais que permitem a leitura eletrônica, como o e-book. O inglês Peter Burke, autor de mais de 30 livros — entre eles A Fabricação do Rei, Uma História Social do Conhecimento e, em parceria com sua mulher (Maria Lúcia Pallares-Burke), a obra Repensando os Trópicos: Um Retrato Intelectual de Gilberto Freyre —, acredita que o livro de papel ainda resiste por mais 30 anos, mas, em longo prazo, pode desaparecer. “Como tantas inovações, isso tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é a acessibilidade e o lado ruim é a imaginação de crianças crescendo com a internet e lendo mais na tela que nos livros de papel. Eles vão ler de outro modo, diferente da minha geração. Para eles é fácil ler rapidamente para achar informações, mas lendo tudo na tela é muito difícil se entregar completamente à literatura. Para ler jornais, tudo bem. Para ler livros pequenos não há grande problema. Mas, não consigo ver alguém lendo na internet um livro como Guerra e Paz”, defende Burke. O autor cearense Ronaldo Correia de Brito, que tem suas obras caracterizadas pela mescla do imaginário sertanejo e da cultura popular nordestina, acredita que há espaço para todos. “Quando surgiu a imprensa e o livro, foi disseminada a escrita, mas isso não acabou com a oralidade. As histórias continuaram sendo narradas. Da mesma forma, acho que o livro vai continuar existindo enquanto houver celulose”. Da mesma maneira pensa o jornalista Sérgio Dávila, mediador de um dos debates. Ele acredita que assim como a televisão não acabou com o rádio, os meios eletrônicos não devem ser, por enquanto, vistos como uma ameaça ao livro de papel e destacou aspectos insubstituíveis como a portabilidade e “o prazer tátil que você tem ao ler um livro”. n

Coleta seletiva e fim de lixões viram decisão política do Governo O governo pretende investir R$ 1,5 bilhão em projetos de tratamento de resíduos sólidos, na substituição de lixões e implantação da coleta seletiva e no financiamento de cooperativas de catadores. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse que R$ 1 bilhão já estão previstos no Orçamento de 2011. www.revistafale.com.br

Um curso, o plano de contingência sobre o derramento de óleo

O modelo adotado pelos EUA para as operações e gestão da crise do Golfo do México depois da explosão na plataforma submersível Deepwater Horizon, vai servir como exemplo para o Plano Nacional Brasileiro de Contingência de Derramamento de Óleo. Sem o plano o problema teria sido muito maior.


ONLINE

Menos consumo, mais sustentabilidade

Quem nunca deixa seu gadget carregando e o esquece ali por tempos? Ele termina de carregar, mas continua ligado à tomada - o que é insustentável do ponto de vista ambiental. Para combater esse mau hábito, o Outlet Regulator atua para economizar energia de uma forma bem simples. Fazendo a ponte entre o carregador e tomada, o equipamento detecta quando o gadget está totalmente carregado e desconecta sozinho da tomada, soltando-se sutilmente. Uma ideia bem interessante em tempos de (in) sustentabilidade.

Basta agitar que a pilha se autocarrega

Japoneses também contribuem para amenizar os impactos ambientais. A empresa Brother Industries lançou em Tóquio, durante um evento de tecnologias, um produto que gera energia a partir da vibração. É um modelo de gerador em formato de baterias AA ou AAA, que pode substituir pilhas e que, através de mecanismos internos, para ser recarregado basta ser chacoalhado. Poderá ser usado em aparelhos que consumam cerca de 100mW, como uma lanterna pequena ou um controle remoto. Ao evitar a troca de baterias, reduz a quantidade desse tipo de lixo. O

Q U E

Pedalada ecológica

A

s bicicletas nunca foram tão bem vistas como agora. Além de ser uma alternativa de transporte que ajuda no fluxo do trânsito, é saudável tanto para quem opta por seu uso como para o meio ambiente. Este, por sua vez, acaba de receber mais uma ajudinha das bikes: celulares Nokia podem ser carregados com a energia produzida por pedaladas, economizando a energia elétrica normalmente usada para carregá-lo. É um kit que inclui um carregador, um dínamo de garrafa para bicicletas, um apoio para ficar no centro do guidão, dando suporte ao celular, além de um plástico para protegê-lo. O tempo de carregamento depende, claro, da velocidade das pedaladas e da bateria de cada modelo. Com pedaladas a 6 km/h, o celular começa a carregar, mas se a velocidade dobrar o aparelho carrega como se estivesse ligado a uma tomada. O carregador é compatível com celulares da Nokia que tenham entrada de 2 mm e até o final do ano deverá iniciar suas vendas por aqui. Ideia parecida é o BioLogic ReeCharge, produzido pela Dahon, que possui uma entrada USB, compatível com vários gadgets, e um case de silicone a prova d’água para proteger todo equipamento. Ao contrário do kit da Nokia, não possui o dínamo, componente necessário para que o carregador funcione. Segundo a Dahon, a bateria de um iPhone carrega 100% depois de 3 horas de pedaladas. A pedalada ecológica da Nokia custará cerca de 20 dólares e a da Dahon, 99 dólares.

Desconto sustentável A Nokia e o grupo Pão de Açúcar entraram em parceria para lançar o programa Alô Recicle. A ação - batizada de “Troca com Troco” - funciona assim: em troca de um celular Nokia, a pessoa recebe um desconto de até 30 reais na compra de outro celular – se for outra marca, o desconto é de 15 reais. Detalhe: o desconto é válido somente para aparelhos acima de 149 reais. Com o celular recolhido, ele é mandado para reciclagem para ser transformado em novas matérias-primas de outros produtos. Para se informar, o site www. nokiatrocacomtroco.com.br oferece mais explicações sobre a iniciativa.

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N O V O Navegue pela Amazônia. Uma página na Internet promete ajudar pesquisadores, estudantes e curiosos sobre a biodiversidade da Amazônia. A página, lançada pelo Google em parceria com a Petrobras, é um amostra do ecossistema da floresta. Com uma navegação fácil, o internauta pode conhecer em detalhes cerca de 100 espécies amazônicas.

Links de fotos e vídeos das expedições de pesquisadores também são disponibilizados. O mapa é georreferenciado pelo Google Maps e pelo Google Earth. Para conhecer a página, acesse www.petrobras.com.br/biomapas.

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10 P E R G U N TA S PA R A ANTONIO DA ROCHA MAGALHÃES

A INSUSTENTÁVEL AMEAÇA CLIMÁTICA Está nas mãos dele a organização da ICID+18. Cearense de Canindé, Antonio Rocha Magalhães dedicou a sua vida ao Estudo sobre o Desenvolvimento Sustentável e à preservação do Meio-Ambiente. Os problemas ambientais no Nordeste, como em outros lugares, tem muito a ver com o desmatamento descontrolado Por Lúcio Pontes Filho

Antonio Rocha Magalhães é doutor em Economia pela Universidade de São Paulo e coordenador da ICID+18

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stá nas mãos dele a organização da ICID+18. Cearense de Canindé Rocha Magalhães, dedicou a sua vida ao Estudo sobre o Desenvolvimento Sustentável e à preservação do Meio-Ambiente. “Os problemas ambientais no Nordeste, como em outros lugares, tem muito a ver com o desmatamento descontrolado”, assevera. “As mudanças ambientais e a desertificação tem sido causadas por atividades humanas insustentáveis, todas tendo como início o processo de desmatamento da caatinga”, diz Magalhães. “No futuro, os cenários de mudanças climáticas mostram que poderá aumentar o déficit hídrico, tornando inviável a agricultura de sequeiro em algumas áreas”. Magalhães já desempenhou importantes funções nos Governos do Ceará e Federal. Foi secretário de Planejamento ainda do primeiro governo de Tasso Jereissati (1987-1991) e Secretário Executivo do Ministério do Planejamento (Governo Itamar Franco). Atuou também como oficial principal do Banco Mundial no Brasil, tratando da questão da desertificação e do combate à degradação ambiental. Foi professor da Universidade Federal do Ceará e da Universidade do Texas, em Austin, membro do Painel Internacional de Mudanças Climáticas, consultor, autor de vários livros e artigos publicados no Brasil e no exterior. Nesta entrevista à Fale!, Magalhães aborda os temas centrais da pauta durante a ICID, em destaque para a apresentação de iniciativas desenvolvidas no Ceará para preservar o meio-ambiente.

Fale! O que é a ICID+18 e qual seu principal objetivo? Magalhães. É uma conferência internacional que reúne representantes de todas as regiões semiáridas do planeta, e também de países que tem cooperação com essas regiões, além de organizações internacionais como Fale!

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as Nações Unidas e o Banco Mundial. O objetivo é discutir oportunidades e desafios que enfrentam essas regiões, em particular as possibilidades de desenvolvimento e de melhoria de condições de vida, no atual contexto de mudanças climáticas. Essas são, em geral,

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as regiões mais pobres do planeta, como também acontece no caso do Brasil, com o nosso semiárido no Nordeste. A ICID reunirá cientistas e tomadores de decisão do mundo inteiro.

Fale! Quais os temas em foco da ICID+18? Magalhães. As discussões serão agrupadas sob quatro temas. Primeiro, as questões de clima e os cenários de mudanças climáticas para as regiões secas. Segundo, as opções de desenvolvimento sustentável, nesse contexto de mudanças ambientais e climáticas. Terceiro, as políticas públicas que vem sendo adotadas, ou que podem ser adotadas, para promover o desenvolvimento com sustentabilidade. E quarto, uma discussão sobre os fatores que levam ao sucesso ou insucesso das políticas públicas. Todos esses temas serão debatidos tendo como foco a problemática das regiões secas, em geral regiões superpopulosas, com elevado grau de degradação ambiental e de pobreza.

Fale! O combate à desertificação no Brasil como um todo está apresentando resultados satisfatórios? Magalhães. No Brasil, existem processos de desertificação, vale dizer,

de perda de produtividade causada pela degradação ambiental e pela exploração insustentável dos recursos naturais, em vários pontos do Semiárido. Há experiências interessantes de combate à desertificação, como é o caso de um programa no Ceará chamado Prodham — Programa de desenvolvimento ambiental, que recupera áreas de microbacias no semiárido. Do lado institucional, houve progressos com o lançamento do PAN Brasil — o Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação — e elaboração de Planos Estaduais de Combate à Desertificação. Esses planos são previstos como parte dos compromissos brasileiros ante a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, a UNCCD. Contudo, de uma perspectiva mais geral, a área de combate à desertificação ainda está engatinhando. Tanto no nível federal como nos estados, a institucionalização alcançada até agora deixa muito a desejar, e bem assim as ações concretas. Espera-se que a ICID possa provocar uma nova onde de ações que fortaleçam o combate à desertificação no País.

Fale! Por que o Ceará foi escolhido para

sediar o evento? Magalhães. O Ceará tem demonstrado uma liderança natural nesse processo. Aqui foi realizada, em 1992, a primeira ICID, por iniciativa do Governo do Estado. O evento reuniu 1300 participantes de 45 países e gerou importantes resultados, dentre os quais uma influência significativa no estabelecimento da Convenção de Combate à Desertificação. Também o Projeto Áridas, uma experiência de planejamento para o desenvolvimento sustentável realizada nos anos de 94 e 95, decorreu da I ICID. Agora, novamente, o Governo do Ceará, desta vez em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente e o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (GCEE), tomou a iniciativa de realizar a Segunda ICID, como uma contribuição brasileira para a Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que se realizará no Rio de Janeiro em 2012.

Fale! O que é o Projeto Áridas? Magalhães. A Declaração de Fortaleza, aprovada pelos participantes da ICID, recomendou que se deveria buscar alternativas de desenvolvimento sustentável para as regiões

O que é sustentabilidade? Por Boris Hermanson, advogado e escritor, consultor do Sebrae-SP Podemos definir sustentabilidade como o conjunto de práticas adotadas que visam a diminuir os impactos gerados pelas atividades humanas que poderiam prejudicar o meio ambiente. Este conceito pode e deve ser adotado em relação às atividades empresariais, inclusive nas micro e pequenas empresas.

Durante alguns anos falar em sustentabilidade parecia algo distante de nossa realidade, algo apenas para os países mais ricos e desenvolvidos, mas a realidade está mudando rapidamente tal pensamento. A adoção de práticas sustentáveis nas empresas, inclusive as micro e pequenas, é vital como parte do processo de tentar anular ou pelo

menos diminuir o ritmo dessas mudanças climáticas que estamos presenciando. Tais práticas podem ser muito simples, como a adoção de medidas que visem à racionalização da utilização da energia elétrica, da água e de recursos não renováveis como combustíveis por parte de cada empresa. O importante neste momento

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é que cada empresário e empreendedor se conscientizem da importância de uma atuação mais responsável de sua parte em relação ao meio ambiente e que procurem orientações sobre como melhorar a sustentabilidade ambiental de seus empreendimentos. Somente assim teremos condições de garantir um futuro melhor paras as próximas gerações. n AGOSTO DE 2010 |

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semiáridas. No Brasil, a resposta foi um esforço conjunto para desenvolver e aplicar uma metodologia de planejamento para o desenvolvimento sustentável do semiárido, que se chamou de Projeto Áridas. Essa iniciativa teve a participação de todos os estados do Nordeste e de várias instituições. Na época, não se tinha clareza sobre o que era desenvolvimento sustentável (na verdade, ainda há muita confusão sobre o conceito). Foi feito um trabalho de desenvolvimento metodológico e foi desenvolvida uma metodologia que incorporava a questão dos riscos de mudanças ambientais e climáticas no processo de planejamento, com base em projeção de cenários alternativos, climáticos, econômicos e sociais. A metodologia foi aplicada com sucesso no planejamento estadual e em vários planejamentos setoriais, especialmente nos estados do Nordeste, mas também em áreas do governo federal e em outros estados.

Fale! Como essas propostas decorrentes do Projeto Áridas foram aproveitadas? Magalhães. As propostas do Projeto Áridas foram aproveitadas na safra de planejamento estadual que se iniciou em 1995, quando entraram novos governos estaduais. Por exemplo, o Governo do Ceará elaborou o seu Plano Estadual de Desenvolvimento Sustentável, a partir das recomendações do Projeto. Outros estados como Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte, fizeram o mesmo. Experiências locais também seguiram a mesma metodologia, como a do Plano de Desenvolvimento Sustentável da Região do Seridó. Fora do Nordeste, a metodologia foi adotada no estado de Rondônia, onde se chamou de Projeto Fale!

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nador Cid Gomes para responder ao desafio da desertificação no Estado. Na verdade, trata-se do desafio do próprio desenvolvimento sustentável do semiárido.

Os problemas ambientais no Nordeste, como em outros lugares, tem muito a ver com o desmatamento descontrolado.

Úmidas. Em nível federal, a política de recursos hídricos se beneficiou diretamente das recomendações do Projeto Áridas. Houve grande avanço na parte de concepção e de planejamento, mas foram encontradas dificuldades na área de implementação. Esta é uma área onde se espera avançar, com as recomendações que advirão da ICID+18.

Fale! A ICID+18 têm a consciência real de quanto à desertificação afetou o Ceará? Magalhães. Sim, os processos de desertificação no Ceará tem sido documentados, especialmente pela Funceme, a Fundação Cearense de Meteorologia. Há preocupação no Estado a esse respeito. O Vice Governador do Estado, Professor Francisco Pinheiro, tem profundo conhecimento desses aspectos, e tem trabalhado junto com o Goverwww.revistafale.com.br

Fale! Quais os problemas ambientais que mais afetam o Nordeste Brasileiro e como as pesquisas realizadas até o momento apontam para a solução deste problema? Magalhães. Os problemas ambientais no Nordeste, como em outros lugares, tem muito a ver com o desmatamento descontrolado. Ao longo da história, a Caatinga tem sido desmatada. Com isso, o solo fica descoberto, sujeito ao sol e às chuvas. Acontece o processo de erosão, com a perda da camada fértil e a destruição da biodiversidade. No extremo, cai a produtividade da terra. O processo de desertificação se caracteriza quando a produtividade da terra não é mais suficiente para dar sustento à vida que existe sobre ela. O uso insustentável dos recursos naturais está na raiz desse problema. Claro que também há outros problemas ambientais que precisam ser enfrentados, como a poluição das águas, a falta de saneamento.

Fale! De que forma as mudanças climáticas e ambientais estão prejudicando o crescimento econômico do semiárido nordestino como um todo, se é que há este prejuízo? Magalhães. Atualmente, as mudanças ambientais e a desertificação tem sido causadas por atividades humanas insustentáveis, todas tendo como início o processo de desmatamento da caatinga. No futuro, os cenários de mudanças climáticas mostram que poderá aumentar o déficit hídrico, tornando inviável a agricultura de sequeiro em algumas áreas. Ou seja, as mudanças climáticas no futuro serão um fator de agravamento dos processos de


desertificação que são primordialmente causados por atividades humanas insustentáveis.

Fale! Até que ponto o aquecimento global, está afetando áreas que antigamente não corriam o risco de desertificação e hoje correm este risco? Magalhães. Tudo indica que o clima já está mudando. Contudo, os processos de desertificação observados até agora se devem mais a formas insustentáveis de uso dos recursos naturais — ao desmatamento, à destruição das matas ciliares — do que às mudanças climáticas propriamente ditas. O que acontecerá é que as mudanças climáticas poderão acelerar esses processos, porque no futuro as temperaturas serão mais altas, haverá mais evapotranspiração, secas mais extremas e, por incrível que pareça, também cheias mais extremas, porque as chuvas serão mais concentradas.

Fale! Qual o papel do Brasil, em nível internacional, para que outros países possam adotar programas de preservação ambiental? Magalhães. O Brasil tem desempenhado um papel importante no contexto das chamadas Convenções ambientais das Nações Unidas: a Convenção de Mudanças Climáticas, a de Biodiversidade e a de Combate à Desertificação. Através de sua participação nessas convenções, o Brasil tem conseguido influenciar políticas internacionais sobre esses temas. No caso de desertificação, o Brasil tem uma longa experiência de políticas públicas para o enfrentamento das secas no Nordeste e para o desenvolvimento regional. As experiências brasileiras despertam muito interesse no exterior. Ao mesmo tempo, o Brasil tem o que aprender de experiências realizadas em outras partes do

As mudanças ambientais e a desertificação têm sido causadas por atividades humanas insustentáveis, todas em decorrência do desmatamento.

mundo. A ICID deverá ser um locus para esse aprendizado comum, para a troca de experiências e para o estabelecimento de redes de conhecimento e de relacionamento entre pessoas interessadas no tema da desertificação e do desenvolvimento das regiões semiáridas.

Fale! Que contribuições a ICID+18 pretende deixar para o Brasil e para o Ceará? Magalhães. A ICID pretende gerar contribuições para o aperfeiçoamento das políticas públicas do Ceará, do Brasil, de todos os países participantes - cerca de 100 países - e também das organizações internacionais que estarão presentes. De imediato, a ICID pretende contribuir para fortalecer a agenda de discussão das regiões secas na Rio + 20. Durante a ICID, será elaborada a Declaração de Fortaleza, com www.revistafale.com.br

sugestões de políticas para o desenvolvimento sustentável dessas regiões. Fora isso, serão discutidos mais de 200 trabalhos, oriundos de todas as partes do mundo, os quais serão colocados à disposição dos participantes e dos estudiosos em geral. Várias publicações resultarão do processo da ICID.

Fale! O Poder Público como um todo está realizando trabalho educativo a longo prazo a fim de conscientizar a população sobre a degradação ambiental e a necessidade de combatê-la? Magalhães. A política ambiental brasileira tem evoluído, tanto no aspecto das instituições como de ações específicas. Isso tem se observado tanto no nível federal como nos estados. Timidamente, alguma coisa tem sido feita em alguns municípios. Acho que estamos no caminho certo. Isso não quer dizer que já estamos fazendo o que tem de ser feito. Espero que a ICID ajude a descortinar novos horizontes para as políticas ambientais, especialmente com o foco no desenvolvimento sustentável das regiões semiáridas. Há ainda um longo caminho a percorrer no sentido de colocar a política ambiental como componente central nas estratégias de desenvolvimento. n Antonio da Rocha Magalhães é doutor em Economia pela USP e dedicou a vida ao estudo e ao trabalho na área de desenvolvimento regional e sustentável. Trabalhou no BNB e no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Foi secretário de Planejamento do Estado do Ceará e secretário executivo do Ministério do Planejamento. Dirigiu o Projeto Áridas — uma estratégia para o desenvolvimento sustentável do Nordeste. Ensinou Economia na UFC e Políticas Públicas na Universidade do Texas, em Austin, EUA. É consultor do Banco Mundial no Brasil e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC).

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10 QUESTIONS TO ANTONIO DA ROCHA MAGALHÃES

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THE UNBEARABLE CLIMATE THREAT 14

Is in his hands the organization of the ICID+18. Born in Canindé, Ceará, Antonio Rocha Magalhães dedicated his life to the study on sustainable development and preservation of environment. Environmental problems in the Northeast, as elsewhere, has much to do with uncontrolled deforestation By Lúcio Pontes Filho — TRADUÇÃO LIANA COSTA

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s in his hands the organization of the ICID+18. Born in Canindé, Ceará, Rocha Magalhães dedicated his life to the study on sustainable development and preservation of environment. “Environmental problems in the Northeast, as elsewhere, has much to do with uncontrolled deforestation, he says. “The environmental changes and desertification has been caused by unsustainable human activities, all started with the process of deforestation of the caatinga,” says Magalhães. “Future climate change scenarios show that water deficit could rise, making it impossible to rain fed agriculture in some areas.” Magalhães has already played important roles in Ceara and Federal Governments. Was Planning Secretary during the first government of Tasso Jereissati (1987-1991) and Executive Secretary of the Ministry of Planning (Government Itamar Franco). He also served as chief of the World Bank in Brazil, addressing the issue of combating desertification and environmental degradation. He was professor at Federal University of Ceara and at University of Texas at Austin, a member of the International Panel on Climate Change, consultant, author of several books and articles published in Brazil and abroad. In this interview to Fale! Magalhães anticipated central themes on the agenda during the ICID, especially in the presentation of initiatives developed in Ceará to preserve the environment.

Fale! What is ICID+18 and what’s its main goal? Magalhães. It is an international conference that brings together

Fale! What are the issues in focus in ICID+18? Magalhães. Discussions will be grouped under four themes. First,

representatives of all the semi-arid regions of the planet, and also countries that have cooperation with these regions, and international organizations like the United Nations and World Bank. The goal is to discuss opportunities and challenges that these areas face, in particular the opportunities for development and improvement of living conditions in the current context of climate change. These are generally the poorest regions of the planet, as well as in the case of Brazil, with our semi-arid Northeast. The ICID will bring together scientists and decision makers worldwide.

the issues of climate and climate change scenarios for the dry regions. Second, the options for sustainable development, in this context of environmental and climate change. Third, public policies that have been adopted, or that can be adopted to promote development with sustainability. And fourth, a discussion of the factors leading to success or failure of public policies. All these topics will be discussed focusing on the problems of dry regions, generally overpopulated regions with a high degree of environmental degradation and poverty.

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Fale! The combat of desertification in Brazil is presenting satisfactory results? Magalhães. In Brazil, there are desertification

Fale! How these proposals borned from the Aridas Project were exploited? Magalhães. The Project’s proposals had

processes of loss of productivity caused by environmental degradation and unsustainable exploitation of natural resources at various points in Semiarid. There have been interesting experiences to combat desertification, as is the case of a program in Ceara called Prodham - Environmental Sustainability Program, which recovers areas of watersheds in the semiarid. From the institutional side, progress was made with the release of PAN Brazil - the National Action Program to Combat Desertification - and the establishment of State Plans to Combat Desertification. These plans are provided as part of the Brazilian commitments with the United Nations Convention to Combat Desertification, UNCCD. However, from a more general perspective, the area of combating desertification is still crawling. Both at the federal level as in the states, institutionalization achieved so far leaves much to be desired, as well as concrete actions. It is expected that the ICID may cause a new wave of actions to strengthen the fight against desertification in the country

been used in the state planning that began in 1995, when it entered the new state governments. For example, the Government of Ceará developed the State Plan for Sustainable Development, from the recommendations of the Project. Other states such as Pernambuco, Bahia and Rio Grande do Norte did the same. Local experiments also followed the same methods, as the Plan for Sustainable Development of the Seridó Region. Outside the Northeast, the methodology was adopted in the state of Rondonia, where it was called Umidas Project (Wetlands Project, in english). At the federal level, the water resources policy has benefited directly from the recommendations of the Aridas Project. There were significant advances in the design and planning, but difficulties were encountered in the area of implementation. This is an area where progress is expected, with recommendations from ICID + 18.

Fale! Why do Ceara was chosen to host the event? Magalhães. Ceará has demonstrated natural leadership in this process. Here was held, in 1992, the first ICID, initiated by the State Government. The event attracted 1300 participants from 45 countries and generated important results, among which a significant influence on the establishment of the Convention to Combat Desertification. Also the Aridas Project, a experience of planning for sustainable development held in the years 1994 and 1995, arose from the ICID. Now again, the Government of Ceará, this time in conjunction with the Ministry of Environment and the Center for Strategic Studies and Management (GE), has taken the initiative to hold the second ICID, as a Brazilian contribution to Rio +20, the United Nations Conference on Environment and Development to be held in Rio de Janeiro in 2012.

Environmental changes and desertification are caused by unbearable human activity, all of them as a result of deforestation.

Fale! What is Aridas Project? Magalhães. The Declaration of Fortaleza, adopted by the participants of the ICID, recommended that we should pursue sustainable development alternatives for the semi-arid regions. In Brazil, the answer was a joint effort to develop and implement a methodology for planning the sustainable development of the semiarid, which was called Aridas Project. This initiative had the participation of all northeastern states and various institutions. At the time, people didn’t really knew what was sustainable development (in fact, there is still much confusion about the concept). An effort was made to methodological development and a methodology was developed that incorporated the issue of risks of environmental and climate changes in the planning process, based on projection of alternative scenarios, climatic, economic and social. The methodology was successfully applied in the statewide planning and planning in various sectors, especially in Northeastern states, but also in areas of the federal government and other states. www.revistafale.com.br

Fale! The ICID+18 have real awareness of how desertification affects Ceara? Magalhães. Yes, the desertification in Ceara has been documented, especially by Funceme, the Ceará Foundation for Meteorology. There is concern in the State in this regard. The Vice-Governor of the State, Professor Francisco Pinheiro, has a deep understanding of these aspects, and has worked together with Governor Cid Gomes to defeat the challenge of desertification in the state. Actually, this is the challenge of sustainable development itself of the semiarid.

Fale! What environmental problems that most affect the Brazilian Northeast and how the researches conducted so far point to the solution of this problem? Magalhães. Environmental problems in the Northeast, as elsewhere, has much to do with uncontrolled deforestation. Throughout history, the Caatinga has been deforested. With this, the soil is AGOSTO DE 2010 |

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discovered, subjected to sunlight and rain. So, the process of erosion happens, with loss of blanket and biodiversity destruction. At the extreme, land productivity falls. The desertification process is characterized when the productivity of the land is no longer sufficient to sustain the life that exists on it. The unsustainable use of natural resources is at the root of this problem. Of course there are also other environmental problems that must be faced, such as water pollution and lack of sanitation.

Fale! How the climatic and environmental changes are undermining the economic growth of the semiarid Northeast, if there is this prejudice? Magalhães. Currently, the environmental

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changes and desertification has been caused by unsustainable human activities, all started with the process of deforestation of the caatinga. In the future, climate change scenarios show that water deficit could increase, making it impossible to rain fed agriculture in some areas. In other words, climate change in the future will be a factor of aggravation of the processes of desertification, which are primarily caused by unsustainable human activities.

Fale! How global warming is affecting areas that previously did not run the risk of desertification and now run this risk? Magalhães. Everything indicates that the climate is already changing. However, desertification processes observed until now are more due to unsustainable natural resource use - deforestation, destruction of riparian forests - than climate change itself. What will happen is that climate change may accelerate these processes, because in the future temperatures will be higher, there will be more evaporation, droughts more extreme and, oddly enough, also more extreme floods, as the rains will be more concentrated.

Fale! What is the role of Brazil, in an international level, so that other countries might adopt conservation programs? Magalhães. Brazil has played an imporFale!

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Magalhães. The ICID want to generate con-

Environmental problems in the Northeast, as elsewhere, has much to do with uncontrolled deforestation.

tant role in the context of so-called United Nations environmental conventions: the Convention on Climate Change, the Biodiversity Convention and the convention to Combat Desertification. Through his participation in these conventions, Brazil has managed to influence international policies on these issues. In the case of desertification, Brazil has a long experience of public policies to cope with droughts in the Northeast and for regional development. The Brazilian experiences arouse much interest abroad. At the same time, Brazil has to learn from experiences in other parts of the world. The ICID will be a common locus for this learning, to exchange experiences and to establish knowledge networks and relationships between people interested in the issue of desertification and development of semiarid regions.

Fale! What contributions ICID+18 wants to leave to Brazil and to Ceara? www.revistafale.com.br

tributions to the improvement of public policies in Ceará, Brazil, from all participating countries - about 100 countries and international organizations that will be present. Immediately, the ICID is intended to contribute to strengthen the discussion agenda of dry regions in the Rio + 20. During the ICID will be prepared the Declaration of Fortaleza, with policy suggestions for the sustainable development of these regions. Otherwise, we will discuss more than 200 paperwork’s, drawn from all parts of the world, which will be available to participants and researchers in general. Several publications will result from the process of ICID.

Fale! The Government is doing an educational work in the long term to raise awareness about environmental degradation and the need to fight it? Magalhães. Brazilian environmental policy has evolved, both in the aspect of institutions as specific actions. This has been observed at both the federal and the states levels. Tentatively, something has been done in some cities. I think we’re on track. This does not mean that we are already doing what needs to be done. I hope the ICID helps to unveil new horizons for environmental policies, especially with the focus on sustainable semiarid regions. There is still a long way toward putting environmental policy as a central component in development strategies. n

Antonio Rocha Magalhães is a Ph.D. in Economics from USP University and dedicated his life to study and work in the area of regional development and sustainable. He worked at the BNB bank and at the Institute of Applied Economic Research (IPEA). Was Planning Secretary of the State of Ceará and Executive Secretary of the Ministry of Planning. He directed the Aridas Project - a strategy for sustainable development in the Northeast. He taught economics at the UFC University and Public Policy at the University of Texas, at Austin, USA. Is World Bank consultant in Brazil and a member of the Intergovernmental Panel on Climate (IPCC).


A revista de informação do Ceará.

CEARÁ: MODA PRAIA E SURF, UM SUCESSO Revista de informação ANO VI — Nº 69 OMNI EDITORA

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Francisco Pinheiro, vice-governador do Ceará

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Os leitores da revista Fale! são decisores, pessoas que não abrem mão de informação de qualidade. Política e Economia são os principais temas da revista de informação. Fale! Quem decide, lê.

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AQUECIMENTO GLOBAL

A TERRA ESQUENTA Aquecimento global, derretimento das geleiras, desertificação, enchentes, efeito-estufa são palavras bastante repetidas pelos ambientalistas e estudiosos do meio-ambiente. Tais expressões estão na ordem do dia quando o assunto é degradação ambiental. As temperaturas em todo o Planeta estão subindo, espécies de animais estão ameaçadas. O clima mais quente compromete a qualidade de vida da terra Por Lúcio Pontes Filho

O

aquecimento global é o aumento da temperatura terrestre – não só numa zona específica, mas em todo o Planeta — e tem preocupado a comunidade científica. Acredita-se que seja devido ao uso de combustíveis fósseis e outros processos em nível industrial, que levam à acumulação na atmosfera de gases propícios ao efeito estufa, tais como o dióxido de carbono, o metano, o óxido de azoto e os gases de CFC — Cloro Flúor Carbono. Há muitas décadas que se sabe da capacidade que o dióxido de carbono tem para reter a radiação infravermelha do Sol na atmosfera, estabilizando assim a temperatura terrestre por meio do efeito estufa, mas, ao que parece, isto em nada preocupou a humanidade que continuou a produzir enormes quantidades deste e de outros gases. A grande preocupação é se os elevados índices de dióxido de carbono que se têm medido desde o século passado, e tendem a aumentar, podem vir a provocar um aumento na temperatura terrestre suficiente para trazer graves consequências à escala global, pondo em risco a sobrevivência dos seus habitantes. Na realidade, desde 1850 temos assistido a um aumento gradual da temperatura global, algo que pode também ser causado pela flutuação natural desta grandeza. Tais flutuações têm ocorrido naturalmente durante várias dezenas de milhões de anos ou, por vezes, mais bruscamente, em fauna também sente as consequências. Ursos polares do décadas. Estes fenômenos naturais bastante complexos e Círculo Polar Ártico já estão matando elementos da próimprevisíveis podem ser a explicação para as alterações pria espécie para se alimentarem. climáticas que a Terra tem sofrido, mas também é posPara que se pudesse compreender plenamente a sível e mais provável que estas mudanças estejam sendo causa deste aumento da temperatura média do planeta, provocadas pelo aumento do efeito estufa, devido basicafoi necessário fazer estudos exaustivos da variabilidade mente à atividade humana. natural do clima. Mudanças, como as estações do ano, às Os primeiros efeitos disso já começam a aparecer. As quais estamos perfeitamente habituados, não são motigeleiras estão em processo acelerado de derretimento. A vos de preocupação.

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FOTO NASA

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ANOMALIAS NA TEMPERATURA DA TERRA EM 2008 (oC) Temperaturas abaixo da média aparecem em azul, médias são de cor branca e acima da média estão em vermelho — 3.5 —2.5

—1.5

O ano de 2008 foi o ano mais frio desde 2000, segundo a análise das medições de temperatura mundiais realizadas pelo Nasa Goddard Institute for Space Studies (GISS). Mas 2008 ainda estava na lista dos dez anos mais quentes desde 1880, quando começaram os registros. A equipe do GISS concluiu que

—1

—0.6

—0.2

0.2

2008 estava provavelmente entre o sétimo e o décimo ano mais quente já registrado. (Os 10 anos mais quentes ocorreram todos no período de 12 anos, 1997-2008). O mapa acima mostra as anomalias de temperatura global em 2008 em comparação ao período de referência 1950-1980. Temperaturas abaixo da média aparecem em

0.6

1

1.5

2.5

azul, temperaturas médias são de cor branca, e temperaturas acima da média estão em vermelho — cinza indica que não há dados. A maior parte do mundo ou era quase normal ou mais quente que o normal. Europa Oriental, Rússia, o Ártico e a Península Antártica eram excepcionalmente quentes (1,5 a 3,5 graus Celsius acima da média).

3.5 A temperatura nos Estados Unidos em 2008 não foi muito diferente do que a média de 1951-1980, o que torna 2008 mais frio do que todos os anos anteriores da presente década. Grandes áreas do centro e leste do Oceano Pacífico estavam mais frios que a média a longo prazo, ligada a um episódio de La Niña, que começou em 2007.


Global Land-Ocean Temperature Anomaly (°C) 06

I

ANNUAL MEAN 5-YEAR MEAN

04

2008 +044

02

I

0

I

-0.2

UNCERTAINTY unce y

-0.4 1880

1900

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1920

1960

1980

2000 FONTE EARTHOBSERVATORY_NASA

ENGLISH VERSION

2008 Global Temperature

The GISS team concluded that 2008 was somewhere between the seventh and the tenth warmest year on record Calendar year 2008 was the coolest year since 2000, according to the NASA Goddard Institute for Space Studies (GISS) analysis of worldwide temperature measurements, but it was still in the top ten warmest years since the start of record-keeping in 1880. Given the range of uncertainty in the measurements, the GISS team concluded that 2008 was somewhere between the seventh and the tenth warmest year on record. (The 10 warmest years have all occurred within the 12-year period from 19972008.) The map above shows global temperature anomalies in 2008 compared to the 1950-1980 baseline period. Below-average temperatures are shown in blue, average temperatures are white, and above-average temperatures are red. (Gray indicates no data.) Most of the world was

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either near normal or warmer than normal. Eastern Europe, Russia, the Arctic, and the Antarctic Peninsula were exceptionally warm (1.5 to 3.5 degrees Celsius above average). The temperature in the United States in 2008 was not much different than the 1951-1980 mean, which makes 2008 cooler than all of the previous years this decade. Large areas of the central and eastern Pacific Ocean were cooler than the long-term average, linked to a La Niña episode that began in 2007. The graph shows the long-term trend in surface temperatures since 1880. The annual average temperatures are shown in light orange, and the jaggedness of the line indicates how much the average global surface temperature varies from year to year. Because climate is so variable form year to year, it can be

easier to spot long-term trends through multi-year averages. The dark red line shows the five-year running average, which is an average of five years of annual temperatures centered on a given year. Even this five-year average shows that climate has ups and downs, but the long-term increase in global average surface temperatures is obvious. The gray “barbells” indicate the range of uncertainty. Not surprisingly, the uncertainty is larger for older measurements than for more recent ones. In their report on 2008 temperature trends, the scientists at NASA GISS, led by James Hansen, attribute the relative coolness of 2008 to the persistent La Niña, which continued as of late 2008/ early 2009. The summary also describes how the delay in the start of the next solar sunspot cycle, volcanic activity from

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Aleutian Island volcanoes (both Okmok and Kasatochi erupted in August), and emission rates of greenhouse gases could influence average global temperatures in the next few years. REFERENCES

NASA Goddard Institute for Space Studies. (2008, December 16). Global Temperature Trends: 2008 Annual Summation. Accessed January 20, 2009. National Weather Service Climate Prediction Center. (2009, January 8). El Niño/Southern Oscillation Index Diagnostic Discussion. Accessed January 20, 2009. NASA image by Robert Simmon, based on GISS surface temperature analysis data. Caption by Rebecca Lindsey, adapted from Global Temperature Trends: 2008 Annual Summation on the NASA GISS Website.


Explosões solares

Eles impactam radicalmente nas questões climáticas na Terra O Solar Dynamics Observatory (SDO) da NASA filmou, no início do mês de agosto, uma rara erupção solar, a maior dos últimos quinze anos. A erupção enviou para a Terra toneladas de plasma – átomos ionizados – que, ao se aproximarem do planeta, chocaram-se com os pólos norte e sul da magnetosfera terrestre, produzindo uma luz difusa, predominantemente projetada na ionosfera terrestre, conhecida como aurora boreal. A sonda SDO foi lançada em fevereiro para a órbita, exatamente para estudar o Sol, a sua estrutura e seus humores. “É a primeira grande erupção em direção à Terra dos últimos tempos.”, afirmou o astrônomo Leon Golub, do Harvard-Smithsonian Centre for Astrophysics. Erupções solares são explosões na superfície do Sol causadas por mudanças repentinas em seu campo magnético. Essa atividade na superfície solar pode causar altos níveis de radiação no espaço sideral, chegando, inclusive a atingir a Terra. Nesse caso, a magnetosfera do planeta desvia a maior parte da radiação. n

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Na realidade, as oscilações anuais da temperatura que se têm verificado neste século estão bastante próximas das verificadas no século passado e, tendo os séculos XVI e XVII sido frios (numa escala de tempo bem mais curta do que engloba idades do gelo), o clima pode estar ainda a se recuperar dessa variação. Desta forma os cientistas não podem afirmar que o aumento de temperatura global esteja de alguma forma relacionado com um aumento do efeito estufa, mas, no caso dos seus modelos para o próximo século estarem corretos, os motivos para preocupação serão muitos. Segundo as medições da temperatura para épocas anteriores a 1860, desde quando se tem feito o registro das temperaturas em várias áreas do globo, as medidas puderam ser feitas a partir dos anéis de árvores, de sedimentos em lagos e nos gelos, o aumento de 2 a 6 ºC que se prevê para os próximos 100 anos seria maior do que qualquer

aumento de temperatura alguma vez registrado desde o aparecimento da civilização humana na Terra. Desta forma torna-se assim quase certo que o aumento da temperatura que estamos enfrentando é causado pelo Homem e não se trata de um fenômeno natural. No caso de não se tomarem medidas drásticas, de forma a controlar a emissão de gases de Efeito Estufa é quase certo que teremos que enfrentar um aumento da temperatura global que continuará indefinidamente, e cujos efeitos serão piores do que quaisquer efeitos provocados por flutuações naturais, o que quer dizer que iremos provavelmente assistir às maiores catástrofes naturais (agora causadas indiretamente pelo Homem) alguma vez registradas no planeta. A criação de legislação mais apropriada sobre a emissão dos gases poluentes é de certa forma complicada por também existirem fontes de Dióxido de carbono natu-

rais (o qual manteve a temperatura terrestre estável desde idades pré-históricas), o que torna também o estudo deste fenômeno ainda mais complexo. Há ainda a impossibilidade de comparar diretamente este aquecimento global com as mudanças de clima passadas devido à velocidade com que tudo está acontecendo. As analogias mais próximas que se podem estabelecer são com mudanças provocadas por alterações abruptas na circulação oceânica ou com o drástico arrefecimento global que levou à extinção dos dinossauros. O que existe em comum entre todas estas mudanças de clima são extinções em massa, por todo o planeta tanto no nível da fauna como da flora. Esta analogia vem reforçar os modelos estabelecidos, nos quais prevêem que tanto os ecossistemas naturais como as comunidades humanas mais dependentes do clima venham a ser fortemente pressionados e postos em perigo. n

AQUECIMENTO GLOBAL E CONSCIÊNCIA POLÍTICA Nesta cronologia, a evolução do aquecimento global e as políticas de enfrentamento Por Liana Costa

1992 Criação da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática (UNFCCC, na sigla em inglês) durante a Cúpula do Rio, que também pede cortes voluntários nas emissões de gases de efeito estufa.

1896 O químico sueco Svante Arrhenius culpa a queima de combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão) pela produção de dióxido de carbono (CO2).

1827 O cientista francês JeanBaptiste Fourier é o primeiro a considerar o “efeito estufa”, o fenômeno no qual os gases atmosféricos prendem a energia solar, elevando a temperatura da superfície terrestre, em vez de permitir que o calor volte para o espaço. Fale!

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1979 Um relatório da Academia Nacional de Ciências Americana vincula o efeito estufa à mudança climática e alerta que “uma política de esperar para ver pode significar esperar até que seja tarde demais”.

1988 O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês) é criado pela ONU. Referência para a criação de um consenso científico sobre a medição e a análise do aquecimento global.

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1997 Os países do UNFCCC assinam o Protocolo de Kioto, que exige que os países industrializados reduzam as emissões de seis gases de efeito estufa em 5,2% para a meta 2008-2012, em comparação com os níveis de 1990.


O Protocolo de Kyoto

Emissão de CO2

Discutido e negociado no Japão, em dezembro de 1997 e ratificado em março de 1999. Tem como meta principal a redução, em 55% da emissão de gases poluentes no mundo. Inicialmente gerou muitas divergências, principalmente com os Estados Unidos, que se negou a assinar o documento, com o argumento de que a assinatura poderia prejudicar a economia do país. A União Européia esperava atingir as metas do Protocolo, utilizando a política de abandonar o uso do carvão, aumentar o uso

Para cientistas, se todo CO2 presente na atmosfera hoje fosse dividido entre os países responsáveis por suas emissões, os EUA seriam culpados por 27% do total, a União Européia por 20%. As emissões de gases estufa per capita podem crescer 33,3% até 2030 na América Latina e Caribe, se não houver um compromisso maior dos governos e do mercado com a taxação do carbono.

da energia nuclear e fechar as portas das indústrias poluidoras. Considerando estas vantagens, as outras nações não precisariam ser tão severas na redução das suas emissões sob a política original do Protocolo. Como consequência, estes países aumentaram maciçamente suas emissões, apagando assim os ganhos dos países grandes. O Protocolo de Kyoto expira em 2012, mas já existe o compromisso da ONU e de alguns governos de estabelecer novas metas para a redução das emissões de carbono até lá. n

Concentração de CO2 na atmosfera Medida em microgramas/m3 FONTE WORLD RESOURCES INSTITUTE | GLOBAL WARMING, CLIMATE CHANGE

2001 O terceiro relatório do IPCC declara como incontestável a evidência de aquecimento global causado pelo homem. O documento prevê que, em 2100, a temperatura atmosférica global terá aumentado entre 1,4°C e 5,8°C.

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Caribe e América Latina

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355 370 1990

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2005 Em 16 de fevereiro, o Protocolo de Kioto entra em vigor. No dia 29 de agosto, o furacão Katrina devasta a costa do Golfo americana, gerando especulações de que a temporada excepcional de tempestades tropicais foi provocada pelo aquecimento global.

2004 A Rússia ratifica o Protocolo de Kioto. Sua aprovação é necessária para transformar o pacto em um tratado internacional. A Agência Internacional de Energia (AIE) declara a China como o segundo maior poluidor de carbono do mundo, devido ao aumento do uso de combustíveis fósseis.

No mundo

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390

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2008 Cientistas britânicos revelam que o aquecimento global pode salvar vidas, diminuindo em 3% as mortes causadas pelo frio do inverno. Especialistas em clima do Instituto de Estudos Espaciais Goddard da NASA constatam que o ano de 2008 foi o mais frio do planeta desde 2000. Apesar disso, 2008 ainda foi muito quente na comparação com décadas anteriores.

2007 Em 17 de janeiro, o Boletim de Cientistas Atômicos adianta em dois minutos o Relógio do Apocalipse, citando a mudança climática como um risco tão grande para a humanidade quanto a proliferação nuclear.

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2009 Países não entram em consenso sobre redução das emissões de gás carbônico, transformando a Conferência de Copenhague em um fracassso. Apenas 35% dos americanos acreditam que o aquecimento global seja um problema sério.

2010 Ciência do aquecimento global completa 182 anos de alertas. Segundo relatório do Banco Mundial, o aquecimento global pode provocar uma drástica extinção da floresta amazônica.

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O EVENTO

ICID+18

SOLUÇÕES PARA A DEGRADAÇÃO AMBIENTAL

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Os maiores pesquisadores sobre mudanças climáticas do mundo se reúnem em Fortaleza para discutir mudanças climáticas e sustentabilidade na segunda Conferência Internacional: Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento em Regiões Semiáridas — ICID 2010. O encontro, que envolve mais de 90 países da África, Ásia e América Latina, e cerca de 2000 participantes, tem como meta incluir de forma efetiva as questões relacionadas aos efeitos do aquecimento global em regiões áridas. Além dos especialistas, membros da sociedade civil e formuladores de políticas públicas de convivência com a seca e o semiárido compõem o evento. Cada um com uma visão diferente sobre problemas complexos, como a seca, degradação ambiental, desertificação, aquecimento global, entre outros, trazem pesquisas e experiências com um objetivo comum: buscar soluções para tudo isso

A

os poucos é possível enxergar que o aquecimento global está degradando várias áreas do Planeta. Calotas polares estão derretendo cada vez mais rápido, afetando a flora e a fauna das regiões mais congeladas do Planeta. As mudanças climáticas provocam a escassez de alimentos. Ursos polares enfrentam esta realidade e se transformam em canibais à medida que suas áreas de caça, no Círculo Polar Ártico, derretem e cada vez mais falta comida, devido a morte das outras espécies. Não muito distante da realidade local, a seca castiga a Região do Semiárido Nordestino. Com isso, o homem do campo migra para as grandes cidades, causando inchaço populacional e superlotando as grandes cidades. Viver no interior do Brasil é cada vez mais desafiante para o homem que tem pouca instrução e necessita da produtividade da terra e das chuvas para poder sobreviver. O aquecimento global, aliado com as ações desordenadas do homem na terra, gera consequências ambientais quase que irreparáveis. Exemplo disso aconteceu recentemente no Nordeste quando enchentes devastaFale!

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ram o interior de Pernambuco e Alagoas. “O tipo de cobertura vegetal que nós temos no semiárido brasileiro não tem condições de proteger o solo contra os efeitos e os impactos dessa chuva”, afirma

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ENGLISH VERSION

SECOND INTERNATIONAL CONFERENCE ON CLIMATE, SUSTAINABILITY AND DEVELOPMENT IN SEMI-ARID REGIONS — ICID 2010 COUNTRY Brazil, Fortelezza, Ceará EVENT TYPE Conferences and

meetings EVENT NAME launch of the United

Marcos José Nogueira, doutor em Geografia Física pela Universidade de São Paulo. No Ceará, a desertificação é uma realidade. Existem áreas degradadas que muitas são as áreas afetadas pelo fenômeno, já que 92% do território cearense faz parte do semiárido nordestino. As regiões mais afetadas são as do Médio Jaguaribe, Sertão dos Inhamuns e o Centro Norte do Estado, mais especificamente o município de Irauçuba. As ações para combater a desertificação ainda são tímidas, mas, em alguns municípios, como Canindé e Irauçuba elas merecem destaque. “A transversalidade do tema desertificação exigirá uma nova forma de gestão pública, compartilhada, buscando a sinergia de projetos e ações para o combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca”, afirma Liduína Carvalho, coordenadora

do Núcleo de Águas Subterrâneas da Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará. As experiências do Ceará serão apresentadas junto às outras experiências em todo o mundo voltadas não só para o combate à desertificação, mas para a preservação do Planeta como um todo. O Ceará, mais uma vez foi escolhido para sediar a ICID+18, 18 anos depois da primeira edição que aconteceu em 1992. Na primeira edição, o evento conseguiu pautar a Conferência da Terra, a Rio 92, e, dentro da Organização das Nações Unidas, as preocupações com os efeitos da seca, a degradação da caatinga e a vulnerabilidade das regiões mais secas em face às mudanças climáticas. A estimativa da organização do evento é de que mais de 2 mil pesquisadores do mundo inteiro estejam www.revistafale.com.br

Nations Decade for Deserts and Fight against Desertification (2010 - 2020) EVENT DESCRIPTION The Decade's events, which will be spearheaded by Secretariat of the UN Convention to Combat Desertification collaboration with United Nations Environment Programme (UNEP), United Nations Development Programme (UNDP), the International Fund for Agricultural Development (IFAD) and the Department of Public Information (DPI) of the UN Secretariat, will serve to raise awareness as well as to reinforce the implementation of the 10-year Strategy for the implementation of the UN Convention to Combat Desertification (UNCCD). UN Sponsor: United Nations Convention to Combat Desertification OTHER SPONSOR DPI ACTIVITIES The global launch United Nations Decade for Deserts and Fight against Desertification (2010-2020) will take place on 16 August 2010 in Forteleza, Ceará, Brazil. The Decade was declared by the United Nations General Assembly in recognition of the persistent challenges posed by desertification, land degradation and drought despite the on-going global efforts to combat these; and the slow progress in achieving poverty in poverty reduction in the drylands.

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inscritos. Cada um deles vai apresentar pesquisas realizadas em seus países de origem sobre o combate à degradação ambiental, antecipando algumas das discussões previstas para acontecer em 2012, durante a Rio+20, no Rio de Janeiro. Pesquisadores e técnicos do Ceará aguardam com expectativa o seminário, não só para que possam apresentar as contribuições do Estado no combate à desertificação, mas para discutir soluções para problemas ambientais recorrentes e que influem diretamente nos aspectos sócio-econômicos do Ceará e do Brasil. “Reuniões como a ICID são importantes, pois é a ocasião em que um grupo de cientistas brasileiros e internacionais vão pensar o semiárido e discutir formas de convivên-

cia com ele”, afirma Roberto Leite, engenheiro agrônomo e técnico da Funceme. A desertificação não afeta somente o Brasil. Ela é mais grave na África, especialmente nos países do Sahel, a faixa semiárida que fica ao sul do deserto do Sahara. Lá, a pressão das atividades humana provoca desmatamento e a degradação de solos e de recursos hídricos, com perda de produtividade. Outras regiões da África também sofrem, incluindo o sul da África e o Magreb, formado, sobretudo, pelos países árabes. O problema também é comum em países como a Índia, a China, o México. Em resposta ao problema da desertificação foi criada a Convenção das Nações Unidas sobre o Com-

bate à Desertificação, que promove programas de ação para combater a desertificação em todos os países que apresentam esse problema. “No Brasil, a Primeira ICID (1992) recomendou que a solução para as regiões semiáridas deveria ser o desenvolvimento sustentável. O Projeto Áridas propôs uma estratégia de desenvolvimento sustentável, com visão holística, que introduz a política ambiental e a de capital humano no centro das políticas de desenvolvimento regional. Na prática, no entanto, essa recomendação ainda não foi plenamente aproveitada”, afirma Antônio Rocha Magalhães, diretor geral da ICID.

Seminários internacionais já trataram do problema. Ao longo da história,

O fracasso da COP 15, em Copenhague

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A COP 15 – Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas – realizada em novembro de 2009, em Copenhague, na Dinamarca, frustrou as expectativas de ambientalistas e chefes de estado que foram ao evento buscar soluções para diminuir os efeitos do aquecimento global e se comprometer em reduzir os índices de poluição. Foi o maior encontro diplomático dos últimos tempos. A sede, Copenhague, capital da Dinamarca. Para lá, se dirigiram, em novembro último chefes de estado e de governo para duas semanas de negociação em busca de um consenso: envolver o mundo em ações para reduzir o aquecimento global até o ano 2050. A cidade de Copenhague e a Dinamarca como um todo sonhavam em entrar para a história como a

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anfitriã de um acordo abrangente que substituísse o Protocolo de Kyoto. Porém, as lideranças políticas daquela nação demonstraram falta de capacidade de articulação diplomática para viabilizar tais acordos. Mas o que se viu, durante as duas semanas de negociação, foi frustrante. Esperava-se que os países se comprometessem a cortar gases-estufa seguindo as recomendações científicas do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, explicadas em detalhes ao mundo em 2007. Esta redução evitaria uma alta da temperatura superior a 2°C neste século, para isso, as nações industrializadas deveriam cortar suas emissões de gases-estufa entre 25% e 40% até 2020, e entre 80% e 95% até 2050. As não industrializadas deveriam adotar

ações consistentes para frear suas emissões. Fato é que esta proposta não agradou e quem foi à Dinamarca para a COP 15 saiu com a sensação de que os países ricos demonstraram maior preocupação com o crescimento sem levar em consideração os aspectos ambientais. De acordo com o coordenador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Paulo Moutinho, “não foram estabelecidas metas de redução de emissões ou de qualquer tipo. No entanto, incorrigível que sou, mantenho alguma esperança de que um acordo para a crise climática seja possível. E tal esperança assenta-se nas milhares de pessoas que representaram instituições não governamentais e de movimentos sociais do mundo todo e que

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participaram desta COP”. Ficou um acordo de intenções entre os participantes, que não é obrigatório e prevê um investimento de US$ 30 bilhões em financiamento para os países pobres para combater a mudança climática nos próximos três anos. O texto também definiu de onde sairão os recursos para a execução do “plano”: os Estados Unidos vão contribuir com US$ 3,6 bilhões no período de três anos, 2010-12. Durante o mesmo período, o Japão vai contribuir com US$ 11 bilhões e a União Europeia com US$ 10,6 bilhões. O plano não especifica qual deve ser o corte de emissões necessário para alcançar a meta de dois graus Celsius, considerado um limite para evitar mudanças climáticas mais perigosas, como enchentes, deslizamentos de terra, tempestades de areia e elevação


muitas foram as conferências ambientais semelhantes à ICID. No entanto, é comum haver conflito de interesses diplomáticos entre os países participantes, o que impede que resultados de curto e médio prazo possam minimizar os efeitos da degradação ambiental. A organização das Nações Unidas lançou a sua primeira conferência ambiental em 1972, em Estocolmo, na Suécia. Essa Conferência chamou a atenção das nações para o fato de que a ação humana estava causando séria degradação da natureza e criando severos riscos para o bem estar e para a própria sobrevivência da humanidade. Foi marcada por uma visão antropocêntrica de mundo, em que o homem era tido como o

centro de toda a atividade realizada no planeta, desconsiderando o fato de a espécie humana ser parte da grande cadeia ecológica que rege a vida na Terra. Naquela ocasião houve confronto entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento. Aqueles estavam preocupados com os efeitos da devastação ambiental sobre a Terra, propondo um programa internacional voltado para a Conservação dos recursos naturais e genéticos do planeta, pregando que medidas preventivas teriam que ser encontradas imediatamente, para que se evitasse um grande desastre. Por outro lado, estes argumentavam que se encontravam assolados pela miséria, com graves problemas sociais como moradia, POLÍTICA. O presidente Lula fala na Conferência de Copenhagen

do nível dos oceanos. BRASIL COBRA OS PAÍSES RICOS. Após o término da COP 15, em Copenhague, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou: “estou rindo para não chorar”. O presidente brasileiro adotou tom pacificador durante todo o encontro, mas cobrou dos países ricos comprometimento com as metas estabelecidas pelo Protocolo de Kyoto para a redução dos gases poluentes. Em Copenhague, o presidente Lula foi o representante das nações em desenvolvimento. Com um discurso focado em uma exigência para que os países ricos possam diminuir a emissão de gases poluentes, sem colocar os “interesses corporativos e setoriais acima dos interesses do bem comum da humanidade”.n

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saneamento básico, doenças infecciosas e que necessitavam do desenvolvimento econômico, urgentemente. Questionavam a legitimidade das recomendações dos países ricos que já haviam atingido o poderio industrial com o uso predatório de recursos naturais e que queriam impor a eles complexas exigências de controle ambiental, que poderiam encarecer e retardar a industrialização dos países em desenvolvimento. A Conferência contou com representantes de 113 países, 250 organizações não-governamentais e dos organismos da ONU. A Conferência produziu a Declaração sobre o Meio-Ambiente Humano, uma declaração de princípios de comportamento e responsabilidade que deveriam governar as decisões concernentes a questões ambientais. Outro resultado formal foi um Plano de Ação que convocava todos os países, os organismos das Nações Unidas, bem como todas as organizações internacionais a cooperarem na busca de soluções para uma série de problemas ambientais. Em 1992, ocorreu a primeira edição ICID em Fortaleza. Naquela ocasião, os mesmos temas que hoje serão debatidos estavam em pauta. Naquela época foram 45 os países participantes, tendo sido apresentados mais de 1300 trabalhos sobre o assunto. Para quem participou do evento, os resultados foram satisfatórios, já que influenciaram as discussões da Rio 92, que acontecera pouco tempo depois. O evento conseguiu pautar a Rio 92 na Conferência da Terra e as preocupações com os efeitos da seca, da degradação da caatinga e da vulnerabilidade das regiões mais secas diante das mudanças climáticas na Organização das Nações Unidas.

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Conheça as linhas temáticas da ICID 2010 Organizada por temas, a ICID 2010 irá gerar, consolidar e sintetizar os estudos, propostos e políticas sobre mudanças climáticas, vulnerabilidade, impactos, adaptação e desenvolvimento sustentável em terras áridas e semi-áridas. O documento final fará recomendações para elaboração de políticas públicas efetivas e uma agenda de pesquisa direcionada a subsidiar o aprimoramento da elaboração e implantação de políticas públicas. A metodologia de trabalho inclui identificar medidas que possam reduzir a vulnerabilidade e fortalecer a adaptação, e vincular essas medidas a políticas e a instituições afins visando a intervenção em várias escalas de organização ecológica, social, econômica e política. O documento será dividido em quatro áreas temáticas INFORMAÇÕES CLIMÁTICAS O tema informações climáticas tem como objetivo fornecer subsídios para as discussões sobre políticas públicas na ICID 2010. Para ganhar apoio popular na atenção aos problemas ligados ao clima nas regiões áridas e semi-áridas e para compreender os potenciais problemas e identificar soluções, cientistas sociais, economistas e tomadores de decisão precisam ter uma compreensão clara do que esperar em termos de mudanças climáticas futuras e da nossa habilidade em realizar de forma precisa predições e previsões sobre o clima.

CLIMA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Com o objetivo de identificar as oportunidades para melhorar a produtividade e a resiliência em face da variabilidade e das mudanças climáticas, e os meios pelos quais se possa reduzir as vulnerabilidades relacionadas ao clima, em especial no que concerne à segurança alimentar, fome, migração, e perdas econômicas. Esse tema cobre os aspectos de pesquisa e experiência em teoria de vulnerabilidade e adaptação, métodos de pesquisa, e indicadores de desenvolvimento. Este tema produzirá novos conhecimentos em relação às causas das vulnerabilidades relacionadas ao clima e às possíveis respostas da sociedade em termos de adaptação e a políticas públicas.

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Entre os mais notáveis sucessos da ICID foi o uso deste material para apoiar a decisão da Conferência das Nações Unidas para o Meio-Ambiente – UNCED – em estabelecer um Comitê de Negociação Intergovernamental para preparar uma Convenção de Combate à Desertificação. Esta decisão levou à criação da Convenção das Nações Unidas no Combate à Desertificação e os Efeitos das Secas (UN Convention on Combating Desertification and the Effects of Droughts - UNCCD), assinado em 1994, e tornado efetivo desde dezembro de 1996. Fale!

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CLIMA E GOVERNANÇA: REPRESENTAÇÃO, DIREITOS, EQUIDADE E JUSTIÇA Os estudos nesse tema devem explorar os papéis positivos da representação, direitos, equidade e justiça no suporte na redução da vulnerabilidade e no aumento das opções de vida das pessoas que vivem em terras áridas e semiáridas.

PROCESSOS DE POLÍTICAS PÚBLICAS EM CLIMA O Tema 4 irá explorar o que já sabemos sobre os processos inerentes à elaboração e implantação de políticas públicas, bem como sobre as instituições que são vitais para estes processos por proporcionarem informações e legitimidade, permitirem as contribuições sociais e políticas, além de viabilizarem a implantação, o monitoramento e a avaliação destas políticas. O Tema 4 irá também explorar as abordagens e as ferramentas relacionadas com a elaboração e implantação de políticas públicas que traremos para estes processos. A ICID 2010 realizará um esforço especial para trazer um amplo espectro de cientistas sociais para a discussão objetivando a melhoria nos processos de políticas públicas, de modo que as recomendações possam vir a se tornar políticas públicas efetivas. n

Logo depois da ICID, aconteceu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – conhecida como Rio 92, Eco 92, ou Cúpula da Terra – de 3 a 14 de julho daquele ano. O evento conseguiu reunir 108 chefes de estado e começou a difundir o conceito de desenvolvimento sustentável. Durante a Rio 92, conseguiu viabilizar apoios importantes para o desenvolvimento ambiental, como a Convenção do Clima, considerada o embrião do Protocolo de Kyoto e a Convenção da Biodiversidade, cuja www.revistafale.com.br

meta principal era a preservação de espécies do Planeta. Vale ressaltar que os Estados Unidos não aderiram a nenhuma dessas convenções. Também foi assinada durante a Rio 92, a Agenda 21, que trouxe uma série de recomendações para preservação do meio-ambiente e dos recursos naturais. n

Fale! procura antecipar nesta edição as

discussões da ICID+18, tentando oferecer uma contribuição para minimizar os efeitos da degradação do meio-ambiente e do aquecimento global.


ENGLISH VERSION JEFFREY SACHS

JEFFREY SACHS

Balance between economy and environment

Equilíbrio entre economia e meio-ambiente Entre os participantes da ICID+18 está o diretor do Earth Institute, da Universidade de Columbia, Jeffrey Sachs. Ele fará uma teleconferência durante o evento. Como assessor do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, Sachs conseguiu estabelecer metas internacionais para a redução da pobreza, de endemias e da fome até o ano de 2015. Jeffrey D. Sachs, nasceu nos Estados Unidos, em 1954 e atualmente dirige o Instituto da Terra (Earth Institute), na Universidade Columbia, nos Estados Unidos, onde também é professor de Desenvolvimento Sustentável e de Política de Gestão da Saúde. Sachs também é presidente e Co-fundador da Millenium Promise Alliance, uma organização sem fins lucrativos que visa acabar com a pobreza global extrema. Em 2004 e 2005, foi nomeado entre os 100 líderes mais influentes do mundo pela revista norte-americana Time. Em 2007, foi premiado com o Bhushan Padma, o prêmio mais alto concedido pelo governo indiano a um civil. Sachs é autor de centenas de artigos acadêmicos e muitos livros, incluindo os best-sellers Common Wealth (Penguin, 2008) e The End of Poverty (O fim da pobreza) Companhia das Letras. “A erradicação da pobreza extrema exige investimentos em saúde, educação e infra-estrutura. A iniciativa privada não irá colocar dinheiro nas áreas mais pobres do planeta, simplesmente porque não há mercado nesses lugares”, afirmou o professor. Sachs conhece bem a realidade da economia brasileira. Conhece também os problemas que o país enfrenta na questão ambiental e já afirmou que o desenvolvimento do país passa pelo uso racional das suas riquezas geográficas. “O Brasil possui terra, água e fontes de energia em abundância mesmo para sua vasta população. pode alimentar a si mesmo, e ainda contar com um grande excedente para a exportação. O Brasil pode atender às suas próprias necessidades energéticas por meio de uma combinação inteligente da energia hidrelétrica, do petróleo, do gás natural, da energia solar (ainda praticamente inexplorada) e dos biocombustíveis”, afirmou. n

Among the participants of the ICID +18 is the director of the Earth Institute at Columbia University, Jeffrey Sachs. As an advisor to UN Secretary General Ban Ki-moon, Sachs has managed to establish international targets for reducing poverty, endemic disease and hunger by the year 2015. Jeffrey D. Sachs was born in the United States in 1954 and currently directs the Institute of Earth (Earth Institute), at Columbia University, USA, where he is also Professor of Sustainable Development and Health Policy Management. Sachs is also President and Co-founder of Millennium Promise Alliance, a nonprofit organization aimed at ending extreme global poverty. In 2004 and 2005, Sachs was named among the 100 most influential leaders in the world by U.S. magazine Time. In 2007, he was awarded the Bhushan Padma, the highest award granted by the Indian government to a civilian. Sachs is author of hundreds of academic articles and many books, including bestsellers Common Wealth (Penguin, 2008) and The End of Poverty (The End of Poverty), Companhia das Letras. “Eradicating extreme poverty requires investments in health, education and infrastructure. The private sector will not put money in the poorest areas of the planet, simply because there is no market in those places”, said the professor. Sachs knows the reality of the Brazilian economy. Also knows the problems facing the country in environmental issues and has said the country’s development is through the rational use of its geographical richness. “Brazil has land, water and power supplies in abundance even for its vast population. Can feed itself, and still have a large surplus for export. Brazil can meet their own energy needs through a clever combination of hydropower, petroleum, natural gas, solar energy (still virtually unexplored) and biofuels, “said. n

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THE EVENT ENGLISH VERSION

ICID+18 SOLUTIONS TO ENVIRONMENTAL DEGRADATION DISCUSSED IN FORTALEZA

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The best climate change researchers around the world gather in Fortaleza to discuss climate change and sustainability at the second International Conference: Climate, Sustainability and Development in Semiarid Regions - ICID 2010. The meeting, involving more than 90 countries in Africa, Asia and Latin America, and about 2000 participants, aims to effectively include issues related to the effects of global warming in arid regions. Besides the experts, members of civil society and policy makers of coexistence with the semiarid and dry complete the event. Each with a different view on complex issues such as drought, environmental degradation, desertification, global warming, among others. They bring their researches and experiences with a common goal: finding solutions for all this

G

radually you can see that global warming is degrading several areas of the planet. Polar ice caps are melting faster than ever,

affecting the flora and fauna of the frozen regions of the planet. Climate changes cause food shortages. Polar bears face this reality and become cannibals as their hunting grounds, in the Arctic Circle, are melting and growing shortage of food due to death of other species. Not far from the local reality, drought punishes the Northeast Semiarid Region. So, the country man migrates to the cities, causing swelling population and overcrowding big cities. Live in the countryside of Brazil is increasingly challenging for the man who has little education and need the productivity of the land and rainfall to survive. Global warming, allied with the disorderly actions of man on earth, generates almost irreparable environmental consequences. One example happened recently in the Northeast, when floods ravaged the country area of Pernambuco and Alagoas. “The type of vegetation we have in the Brazilian semiarid is unable to protect the soil against the effects and impacts of this rain,” says José Marcos Nogueira, Ph.D. in Physical Geography, University of São Paulo. In Ceara, desertification is a reality. There are many degraded areas affected by the phenomenon, since 92% of Ceará is part of the semiarid Northeast. The most affected areas are the Middle Jaguaribe, Inhamuns Backwoods and the North Central of the State, specifically the city of Irauçuba. Actions to combat desertification are still shy, but in some cities, such as Canindé and Irauçuba, they deserve attention. “The mainstreaming of desertification issue will require a new form of public management, shared, seeking synergy projects and actions for combating desertification and mitigating the effects of drought,” said Liduina Carvalho, the Coordinator of the Department of Groundwater Water Resources of Ceara. The experiences of Ceara will be presented along with other exFale!

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periences around the world not only focused to combat desertification, but on the preservation of the planet as a whole. Ceara once again has been chosen to host the ICID +18, 18 years after the first edition happened in 1992. In the first edition, the event managed to guide the Earth Summit, in Rio, in 1992, and, within the United Nations, the concerns about the effects of drought, the degradation of the caatinga and the vulnerability of the dry areas in the face of climate change grew.

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The estimate of the organization of the event is that more than 2000 researchers around the world are enrolled. Each will present researches conducted in their home countries on combating environmental degradation, anticipating some of the discussions set to take place in 2012, during the Rio +20, in Rio de Janeiro. Researchers and technicians from Ceará are looking forward to the seminar, not only so they can provide the state assistance in combating desertification, but to discuss solutions to environmental problems that are common and that have direct influence on socio-economic aspects of Ceará and Brazil. “Meetings such as the ICID are important because it is the occasion when a group of Brazilian and international scientists will think the semiarid and discuss ways of living with it,” said Roberto Leite, agronomist and technical of Funceme. Desertification does not just affect Brazil. It is most severe in Africa, especially in countries of the Sahel, the semiarid strip located south of the Sahara desert. There, the pressure of human activities causes deforestation and degradation of soil and water resources, as the loss of productivity. Other regions of Africa also suffer, including southern Africa and the Maghreb, formed mainly by the Arab countries. The problem is also common in countries like India, China and Mexico. In response to the problem of desertification was created the United Nations Convention on Combating Desertification, which promotes programs of action to combat desertification in all countries that display this problem. “In Brazil, the First ICID (1992) recommended that the solution to the semi-arid regions should be sustainable development. Áridas Project proposed a strategy for sustainable development, with a holistic vision, introducing environmental policy and human capital at the heart of regional development policies. In practice, however, this recommendation has not yet been fully exploited “, says Antônio Rocha Magalhães, General Director of ICID.

International seminars have dealt with the problem. Throughout history, there have been many environmental conferences like the ICID. However, there are often conflicting diplomatic interests among the participating countries, which prevent the results of short and medium term to minimize the effects of environmental degradation. The UN launched its first environmental conference in 1972 in Stockholm, Sweden. That conference drew the attention of the nations to the fact that human action was causing serious degradation of nature and creating severe risks to the welfare and the very survival of humanity. Was marked by an anthropocentric view of world, where the man was taken to the center of all activity occurring on the planet, ignoring the fact that the human species is part of the great ecological chain that governs life on Earth. At that time there was a confrontation between developed and developing countries. The developed ones were concerned with the effects of environmental devastation on Earth, offering an international program aimed at the conservation of natural and genetic resources of the planet, preaching that preventive measures would have to be found immediately, so that it avoided a major disaster. Moreover, the developing countries argued that they were plagued by poverty, with serious social problems like housing, sanitation, infectious diseases and in need of economic development, urgently. They questioned the legitimacy of the recommendations of the rich countries that had already reached the industrial power with the predatory use of natural resources. Those countries wanted to impose complex requirements for environmental control, which could become more expensive and slow industrialization of developing countries. The Conference was attended by representatives of 113 countries, 250 non-governmental organizations and UN bodies. The Conference produced the Declaration on the Human Environment, a declaration of principles of behavior and accountability that should govern decisions concerning environmental issues. Another result was a

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formal Plan of Action that summoned all the countries, UN agencies and all international organizations to cooperate in finding solutions to a series of environmental problems. In 1992 occurred the first edition ICID in Fortaleza. At that time, the same themes that will be discussed today were on the agenda. At that time, there were 45 participating countries that had presented over 1300 works on the subject. For those who attended the event, the results were satisfactory, since it influenced the discussions in Rio in 1992, which happened shortly after. The event managed to guide the Rio Earth Summit in 1992 and the concerns of UN about the effects of drought, degradation of the caatinga and the vulnerability of the driest areas in front of the climate changes. One of the most successful actions of ICID was the use of this material to support the decision of the United Nations Conference for Environment - UNCED - to establish an Intergovernmental Negotiating Committee to prepare a Convention to Combat Desertification. This decision led to the creation of the UN Convention to Combat Desertification and the Effects of Drought, signed in 1994 and effective since December 1996. Soon after the ICID, came to the United Nations Conference on Environment and Development - known as Rio 92, Eco 92, or Earth Summit – from 3 to14 July of that year. The event gathered 108 heads of state and began to spread the concept of sustainable development. Rio 92 managed to get important supports to the development environment, such as the Climate Convention, considered the embryo of the Kyoto Protocol and the Biodiversity Convention, whose main goal was the preservation of species on the planet. It is noteworthy that the U.S. has not joined any of these conventions. It was also signed during the Rio 92 the Agenda 21, which brought a series of recommendations for preservation of environment and natural resources. n

Fale! tries to anticipate the discussions of

ICID +18, trying to offer a contribution to minimize the effects of environmental degradation and global warming.

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CIDADANIA

A FORÇA DA SUSTENTABILIDADE Sustentabilidade é a palavra que de uns anos para cá entrou no repertório da cidadania. Ela está em anúncios, discursos, campanhas políticas e mesmo no dia a dia. Ter uma “atitude sustentável” passa a ser obrigação de governos e grandes empresas. Não é difícil perceber que sustentabilidade é o novo mantra do século XXI. A própria história do termo, no entanto, é mais antiga do que imaginamos. E envolve lenhadores, hippies e acidentes nucleares Por Liana Costa 32

N

o início do século XVIII, a mineração de prata, base da economia da Saxônia, teve sua existência ameaçada devido a uma grande escassez de madeira. Florestas inteiras haviam sido devoradas pelas escavações para exploração de minério e utilização do carvão à lenha para fornos de fundição. Inspetor geral de mineração do estado da Saxônia, von Carlowitz criticou o pensamento da época, orientado ao lucro em curto prazo. Exigiu então que a madeira fosse tratada de forma “cuidadosa”, determinando que para cada quantidade de madeira cortada, fosse plantado um número de árvores equivalente que pudesse voltar a crescer. A partir desse conceito da silvicultura, segundo o qual se deve garantir sempre um estoque de madeira para as gerações futuras, foi estabelecido o conceito da “sustentabilidade“ ou do “sustainable development”, o desenvolvimento sustentável. Mas o termo só passaria a ser centro de debates séculos depois, com o desenvolvimento do pensamento ambientalista e da preocupação com o futuro dos recursos naturais. O ano perfeito para o florescimento dessas idéias era Massachusetts Institute of Technology intitulada “Os 1968. Foi nesse ano que os movimentos estudantil e hiLimites do Crescimento”. A obra – considerada até hoje ppie ganharam força, instituindo o que ficou conhecido a mais vendida sobre o tema meio-ambiente – gerou os como novo ambientalismo. Para os novos ambientalistas, primeiros estudos científicos a respeito da preservação era necessário adotar medidas restritivas ao aumento da ambiental. Para os pesquisadores, o planeta não suporprodução econômica, a fim de frear os impasses e protaria mais o crescimento populacional devido à pressão blemas produzidos pelo desenvolvimento industrial. sobre os recursos naturais e energéticos e ao aumento da Não demorou muito para que os alertas do movimenpoluição. Era necessário buscar alternativas sustentáveis to fossem reconhecidos pela comunidade acadêmica. Em aos modelos econômicos vigentes. 1972, o Clube de Roma, entidade formada por intelectuApós o acidente nuclear em Chernobyl, em 1986, na ais e empresários, publica uma pesquisa produzida pelo Ucrânia, que provocou danos equivalentes aos causaFale!

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dos pela radiação emitida por 500 bombas atômicas como as utilizadas na 2ª Guerra Mundial, o mundo se assustou. A ONU (Organização das Nações Unidas) retoma então seus estudos ambientais e cria a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento. Os estudos realizados pela Comissão deu origem ao documento Nosso Futuro Comum, ou Relatório Brundtland, em homenagem à primeira-ministra da Noruega e chefe do grupo, Gro Harlem Brundtland. O Relatório dá, pela primeira vez, forma ao conceito de sustentabilidade, descrevendo-o como “o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades.”, e propõe uma série de medidas a serem adotadas pelos países para promover o desenvolvimento sustentável. “O que fizemos foi analisar o rumo que o mundo estava tomando. Destacamos que, para enfrentar esse problema, seria necessário um nível de colaboração muito grande entre os países.”, relembra a primeira-ministra Brundtland, em entrevista, 20 após a aprovação do documento. Semelhante às demais pesquisas produzidas pelo Clube de Roma, o Relatório Brundtland creditava a situação “insustentável” do planeta ao descontrolado crescimento populacional e à miséria dos países do chamado Terceiro Mundo. Pouco se discutiu a poluição produzida ao longo dos séculos pelos países desenvolvidos. Mesmo assim, o Relatório teve ampla aceitação pela comunidade internacional. Ao contrário das discussões dos anos 1970, o novo documento não balizava a produção industrial nem negava a necessidade do crescimento econômico. No entanto, o verdadeiro marco das discussões sobre susten-

tabilidade ainda estava por vir. Em 1992, representantes de quase todos os países do mundo se reuniram na cidade do Rio de Janeiro para decidir que medidas tomar para diminuir a degradação ambiental e garantir a existência de outras gerações. A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como ECO-92, Rio-92 ou Cúpula da Terra, produziu uma série de documentos que serviram de base para que cada país elaborasse seu próprio plano de sustentabilidade. Além dos chefes de estado e representantes oficiais de governos, a ECO-92 contou com ampla participação da sociedade civil e de organizações não-governamentais, que fizeram do Rio de Janeiro uma verdadeira Torre de Babel e ajudaram a ampliar a discussão sobre as formas de desenvolvimento. Foi somente a partir da ECO-92 que o conceito de sustentabilidade passou a ser pressuposto para ações práticas. Os efeitos da ECO-92 se prolongaram durante toda a década de 1990. Em 1997, na Conferência de Cúpula de Copenhague e no Tratado de Amsterdã, a União Européia formula os três pilares da sustentabilidade. Esse princípio, denominado “Modelo de Sustentabilidade de Três Pilares”, declara que o desenvolvimento sustentável funda-se em cada um dos três pilares: ecológico, econômico e social. Se um dos pilares se rompe, a “construção da sustentabilidade” desmorona. Hoje, a sustentabilidade é aceita como princípio. O desafio então é transpor esse princípio. E rapidamente. “Estamos agindo como os habitantes da Ilha de Páscoa. A única diferença é que eles cortaram a última árvore e perderam o solo e a comida em uma ilha. Nós estamos fazendo isso globalmente.”, alerta o economista. n www.revistafale.com.br

Greendex 2010 Por National Geographic e GlobeScan

O relatório Greendex – fusão das palavras índice (index) e verde (green), em inglês – é organizado pela National Geographic Society, em parceria com a GlogeScan, e mede a pegada ecológica do consumo de moradores de vários países. O Greendex é calculado desde 2008 e, para a elaboração do relatório, foram entrevistadas mais de 17 mil pessoas, de 17 países diferentes. São levados em conta 65 itens, que vão desde estilo de vida a hábitos de consumo. Conheça agora o resultado de alguns deles. INDIA 2008 2009 2010

58.0 59.5 62.6

BRASIL 2008 2009 2010

58.6 57.3 58.0

CHINA 2008 2009 2010

55.2 56.7 57.3

RUSSIA 2008 2009 2010

51.1 52.0 54.2

JAPÃO 2008 2009 2010

47.4 49.3 49.7

FRANÇA 2008 2009 2010

46.5 49.5 48.9

CANADÁ 2008 2009 2010

46.3 47.5 47.9

EUA 2008 2009 2010

42.4 43.7 45 AGOSTO DE 2010 |

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DESERTIFICAÇÃO

O CEARÁ, A SECA E A

DEGRADAÇÃO AMBIENTAL O flagelo da seca é um dos problemas mais antigos do Ceará. Embora devesse ser encarado apenas como um fenômeno natural, nunca houve, no Estado, uma política de convivência com a seca e com o semiárido. Resultado: êxodo rural e inchaço de Fortaleza, desde o início do século XX até os dias atuais

A

escritora Rachel de Queiroz expressou as consequências do flagelo da seca em seu mais famoso romance, “O Quinze”, publicado em 1930. O título se refere à seca de 1915, vivida pela escritora, em sua infância, conhecida mais popularmente como “A Seca do 15”. Noventa e cinco anos depois ainda é muito comum encontrar situações reais, semelhantes às dos protagonistas do romance. No início do século XX, os migrantes da seca enxergavam Fortaleza como uma redenção para os problemas do campo. Vinham do interior na esperança de uma vida melhor. Esta realidade ainda persiste, entretanto, as migrações urbanas não ocorrem somente para a capital. O Ceará cresceu e outros centros urbanos foram se desenvolvendo no interior do Estado, como Quixadá, Sobral, Juazeiro do Norte, Limoeiro do Norte. Essas cidades também recebem migrantes das cidades circunvizinhas que fogem do flagelo da seca. Criado ainda no Governo de Nilo Peçanha, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS – chegou com a missão de atuar no semiárido nordestino, inclusive com a construção de barragens e açudes que amenizassem os problemas da seca. Entretanto o problema parece ainda longe de uma solução. Apesar dos esforços e das obras tanto para a construção de açudes e de perímetros irrigados em diversos municípios cearenses, realizadas através de parcerias entre blema da desigualdade interestadual, ou o fluxo migraos Governos Federal e Estadual o número de imigrantes tório vai continuar”, afirma o professor Carlos Américo do Sertão para a cidade grande sempre foi elevado, mosMoreira, do departamento de Teoria Econômica da trando que as ações do Poder Público precisam ser mais UFC. efetivas. Sem encontrar boas perspectivas de sobrevivência “Os dados socioeconômicos mais recentes do Ceará com a agricultura e a pecuária, a cidade grande passa deixam clara uma desigualdade entre as Macro-Regiões. a ser uma esperança ao homem do campo, entretanto, Isso, inevitalvemente leva um fluxo migratório não só logo que ele chega aos centros urbanos, sem capacitação para Fortaleza, mas para outros centros urbanos como e conhecimento, ele se depara com outro fantasma: o Sobral e Juazeiro do Norte. Então, ou se resolve o prodesemprego. Fale!

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IMAGEM STOCK.XCHNG

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ÍNDICE DE ARIDEZ NO CEARÁ (P/ETP)* * P = Precipitação pluviométrica ETP = Evapotranspiração potencial Hiperárido

1

0,65

< 0,03

Árido

0,03 - 0,2

Semi-Árido

0,21 - 0,5

Sub-Úmido Seco

0,51 - 0,65

0,65

1

1 0,65

0,65

0,65

ÁREAS SUSCETÍVEIS À DESERTIFICAÇÃO NO NORDESTE

No mapa é possível identificar as Áreas Suscetíveis à Desertificação (ASD) em três níveis: Semi-árido, Subúmido Seco e Entorno.

Áreas Semi-áridas Áreas Subúmidas Secas

Ocea

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Áreas do Entorno

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Um mar no meio do continente

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O Mar de Aral, localizado na Ásia Central, entre o Cazaquistão e o Uzbequistão, já foi o quarto maior lago do mundo com 68 000 km² de superfície e 1100 km³ de volume de água, mas em 2007 já havia se reduzido a apenas 10% de seu tamanho original, e em 2010 estava dividido em três porções menores, em avançado processo de desertificação.

C az a q

Ao voltar para casa, as perspectivas são até piores que aquelas que o sertanejo deixou quando partiu. A terra não é mais a mesma e não apresenta condições para o plantio e o trabalho do homem no campo. A desertificação é outro problema grave a ser enfrentado. O fenômeno é causado pelas variações climáticas e também pela ação incorreta do homem no tratamento com a terra. No Ceará, a Fundação Cearense de Metereologia e Recursos Hídricos – Funceme – foi a pioneira nos estudos sobre o processo de desertificação no Estado. Hoje o fenômeno devasta boa parte do território cearense, mais fortemente as regiões do Sertão de Crateús, do Vale do Jaguaribe e de alguns municípios da Região Norte, em destaque o município de Irauçuba, como explica Roberto Leite, consultor da Funceme e engenheiro agrônomo: “A desertificação não é somente um fenômeno físico. É um fenômeno sócio-econômico. A degradação física da terra faz com que as populações afetadas pela desertificação emigrem”. A desertificação no Ceará tem se agravado em virtude das sucessivas secas que marcaram o sertão do Ceará. Em 1992, o problema da desertificação foi discutido por especialistas pela primeira vez, durante a primeira Conferência Internacional sobre Impactos de Variações Climáticas e Desenvolvimento Sustentável em Regiões Semiáridas (Icid, na sigla em inglês). O evento acontece outra vez no Ceará e vai trazer uma série de discussões ambientais, buscando apresentar soluções para os problemas mais graves de degradação do meio-ambiente. Reunirá especialistas de várias áreas, inclusive pesquisadores estrangeiros, que apresentarão experiências nacionais e internacionais de convivência com o semiári-

Uzbequistã

o

do, no combate à desertificação e à degradação ambiental. Um momento oportuno para que os governos federal, estadual e municipais, além das universidades, se espelhem em pesquisas de outros países que deram certo para colocar em prática projetos de combate a desertificação envolvendo a sociedade.

O exemplo do Mar de Aral. Antes mesmo do auge do aquecimento global no Planeta Terra, ações do homem já contribuíram para degradar o Mar de Aral, localizado na Ásia Central, entre o Cazaquistão e o Uzbequistão, ainda no começo do século XX. A área onde está localizado o mar está em avançado processo de dewww.revistafale.com.br

sertificação com a atividade econômica altamente comprometida. O Mar de Aral já foi o quarto maior lago do mundo com 68 000 km² de superfície e 1100 km³ de volume de água, mas em 2007 já havia se reduzido a apenas 10% de seu tamanho original, e em 2010 estava dividido em três porções menores, em avançado processo de desertificação. A principal atividade econômica do lugar era indústria pesqueira, que foi praticamente destruída, provocando desemprego e dificuldades econômicas. A região também foi fortemente poluída, com graves problemas de saúde pública como consequência. O recuo do mar também já teria provocado a mudança


climática local com verões cada vez mais quentes e secos, e invernos mais frios e longos. A ação do homem em Aral começou em 1847, quando a Marinha Imperial Russa utilizou o mar para fins militares e de pesquisa. Ao final da Primeira Guerra Mundial, em 1918, o governo soviético desviou o curso d’água dos dois rios que alimentavam o Mar de Aral para investir em projetos de irrigação para a produção de alimentos e algodão para a exportação. A irrigação consumia aproximadamente 20 km³ de água a cada ano, porém, em ritmo crescente. Na década de 1960, a maior parte do abastecimento de água do lago tinha sido desviado e o Mar de Aral

começou a perder tamanho. De 1961 a 1970 o lago baixou 20 cm por ano, e essa taxa cresceu 350% até 1990. Em 1987, a redução contínua do nível da água levou ao aparecimento de grandes bancos de areia, causando uma separação em duas massas de água, formando o Aral do Norte (ou Pequeno Aral) e o Aral do Sul (ou Grande Aral). Hoje, o Mar de Aral é apenas um vestígio. A superfície está reduzida a 60% do seu tamanho e a 80% do seu volume. A indústria pesqueira está devastada na localidade e apesar de ações dos Governos de países que circunscrevem o Mar de Aral visando a recuperação ela está bastante comprometida. O ecossistema do Mar de Aral www.revistafale.com.br

e dos deltas dos rios que deságuam nele está praticamente destruído, em grande parte pela alta salinidade. Além da terra, em torno do mar ser muito poluída, as pessoas que vivem na região sofrem de escassez de água doce, o que acarreta em vários problemas de saúde. A contração do mar fez extensas planícies cobertas com sal e produtos químicos tóxicos, que são levadas pelo vento para as áreas habitadas. A população, perto do Mar de Aral tem uma alta incidência de certas formas de câncer e doenças pulmonares, culturas tradicionais também estão sendo destruídas por depósitos de sal na terra. A cidade de Moynaq no Uzbequistão, no passado foi um movimentado porto da indústria pesqueira que empregava cerca de 60 000 pessoas. Hoje, está longe muitas milhas da costa nova. Os barcos de pesca estão encalhados em terra nas planícies que foram outrora o fundo do mar. Muitos desses barcos estão abandonados há mais de vinte anos. A única empresa pesqueira que continua na região se encarrega de importar peixes do Oceano Pacífico, a milhares de quilômetros. Exemplos como o do Mar de Aral mostram como a ação do homem pode contribuir para a degradação ambiental de um ecossistema. Hoje, as famílias da região vivem em intensas dificuldades econômicas e as ações para a recuperação são muito incipientes, até porque ao avançado estágio de degradação ao qual se chegou, não permitem que haja uma recuperação nem mesmo a longo prazo. n Fale! apresenta agora uma série de reportagens antecipando as discussões da ICID+18 e identificando os problemas ambientais do Ceará, com o objetivo de alertar as autoridades para o problema e buscar soluções para eles.

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SEMIARIDO

O RISCO DA DESERTIFICAÇÃO A Região do Médio Jaguaribe é a que vive de forma mais intensa o processo de desertificação no Ceará. Entretanto, se não forem tomadas providências urgentes para conter o problema, outras regiões do Estado — inclusive as Serras e o Litoral — correm o mesmo risco Por Lúcio Pontes Filho

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CHUVAS. O engenheiro agrônomo Roberto Leite participa do Projeto de Preservaçãoe Reciuperação Hidroambiental no âmbito da Funceme

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Ceará conta atualmente com 92% do seu território pertencente à região do semiárido nordestino, segundo dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos – FUNCEME. Apenas o litoral e as serras úmidas – Ibiapaba, Meruoca e Maciço do Baturité – não estão incluídos nesta área, entretanto o aquecimento global tornará mais suscetíveis à desertificação as regiões mais úmidas e menos afetadas pelo processo. “Na medida em que há uma elevação das médias de temperaturas das regiões mais úmidas, o clima se torna mais seco e mais vulnerável ao processo de desertificação, tornando-as suscetíveis à desertificação, e as mais secas ficam mais secas ainda”, alerta o consultor da FUNCEME – Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos – e engenheiro agrônomo, Roberto Leite. Estudos mais detalhados indicam que, na região do Médio Jaguaribe, os municípios de Jaguaribe, Jaguretama e Jaguaribara são os mais afetados, sendo que no município de Jaguaribe aproximadamente um quarto de sua área, ou seja, 23,54% já se encontra comprometido pela quisa no estado. Outro desertificação. trabalho realizado na Dentre as causas direção preventiva é o da desertificação desde conscientização das tacam-se aquelas proprefeituras e populações movidas pela própria dos municípios atingiação do homem, como dos ou ameaçados pelo o uso indevido do solo, fenômeno, no sentido de desmatamento desorcombater práticas deserdenado, as queimadas, tificadoras. dentre outras. “A Funceme faz o A Funceme tem estudo do solo e mostra trabalhado consideà comunidade quais as rando quatro eixos de potencialidades daquela Roberto Leite , engenheiro atuação: diagnóstico terra. Depois disso nós agronomo e técnico da Funceme das áreas degradadas, orientamos a atividade monitoramento, preque deve ser desenvolvivenção e uso conservacionista da terra e a da naquela região”, afirma Sônia Perdigão, recuperação de áreas degradadas. engenheira agrônoma do órgão. A causa mais forte da desertificação Quem também vem atuando há alguns nessa região se deve à ação do homem, anos no sentido de combater a desertifidesde o uso indevido do solo para a cação no Ceará é a Secretaria de Recursos agropecuária, até o extrativismo vegetal Hídricos – SRH. Desde 2006, a secretaria desordenado. Atualmente, em termos de coordena o Programa de Desenvolvimento prevenção, a entidade faz o mapeamento Hidroambiental – Prohdam. O objetivo é das áreas onde o processo está avançado conscientizar as comunidades que estão no Ceará. sob a influência de microbacias hídricas, Mas ainda existem poucos recursos nos municípios do interior, para economipara se aprofundar esse tipo de peszar a água que elas utilizam e para preser-

A degradação da terra nas zonas áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, resultantes de vários fatores, incluindo variações climáticas e as atividades humanas.

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IMAGEM JARBAS OLIVEIRA

EQUIPE DE PEDOLOGIA DA FUNCEME. Sônia Barreto Perdigão e Roberto Leite (centro)são os coordenadores responsáveis pelos estudos das àreas em processo de desertificação no Ceará. Da esquerda para a direira: Andre Lima Malafaia, Wesley Rocha Barbosa, Sonia Perdigão, Francisco Roberto Bezerra Leite, Francisco de Assis Bezerra Leite e José Vagner Silva (de camisa verde)

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var pequenos córregos e rios. “Esse projeto de microbacias é importante porque envolve toda uma comunidade. Não é o agricultor isolado que toma uma atitude para conservar aquele córrego. Todos os que estão sob influência daquele curso d’água terão benefícios e responsabilidades em conjunto”, afirma Roberto Leite. No Ceará existem quatro micro-

bacias onde a Funceme faz um estudo sobre o uso sustentável da terra, nos municípios de Aratuba e Canindé – no distrito de Iguaçu. O órgão estuda a viabilidade do solo e informa às comunidades quais as melhores formas de utilização sustentável que aproveitem os cursos d’água de cada uma delas. A entidade faz ainda um mapeamento das áreas atendidas, e

identifica quais as potencialidades dos respectivos solos e a partir deste estudo orienta os moradores das diferentes comunidades. “Assim é possível dizer à comunidade como é possível fazer um uso conservacionista do solo, sempre respeitando a vocação de produção. Deste modo, podemos diminuir os efeitos da desertificação”, explica o consultor da Funceme. n

O conceito de desertificação Atribui-se a criação do termo “desertificação” a Aubreville (Aubreville, A. 1949. Climats, forets et desertification de l’Afrique tropicale. Paris: Geogr. Marit. & Col., 351 p) em fins dos anos 40 para caracterizar aquelas áreas que estavam ficando “parecidas com desertos” ou desertos que estavam se expandindo. Posteriormente, muitos estudiosos atribuíram a desertificação ora a processos naturais, ora a processos induzidos pelo homem. Essa polêmica, longe Fale!

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de ser puramente acadêmica, teve, e ainda tem, importância prática significativa, pois pode influenciar tanto na formulação de políticas como na destinação de investimentos. Pesquisadores da Universidade de Lund-Suécia, realizaram vários estudos e se esforçaram em mostrar que o processo de degradação na região do Sahel, nas franjas do Sahara, tem raízes mais climáticas do que no mal manejo dos recursos naturais. A tese básica da Universidade de Lund é a de que

o Sahara obedece a um processo cíclico de expansão e contração natural, derivado de processos climáticos mais amplos. Outros pesquisadores, especialmente os da Universidade do Arizona, reafirmaram a importância dos fatores antrópicos na degradação das terras áridas, mostrando como essa degradação estaria criando a percepção de expansão dos desertos. Ainda hoje diferentes correntes de opinião questionam a ocorrência concreta dos processos de

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desertificação. Do ponto de vista prático, no entanto, essa polêmica foi resolvida quando da negociação do documento da Agenda 21 e da Convenção da Desertificação pelas Nações Unidas. Conforme acordos firmados pelos governos dos países reunidos para a discussão dos mencionados acordos, os processos de desertificação foram atribuídos simultaneamente a atividades humanas (mal manejo dos recursos naturais) e a fatores climáticos, como as secas. n


IMAGEM NASA GODDARD SPACE FLIGHT CENTER

Desmatamento na Amazônia em tendência de queda Apesar da tendência de queda de 49% do desmatamento na Amazônia, apontada até agora pelo sistema Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter), só será possível avaliar a magnitude da redução com os dados de outro sistema do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Projeto de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes), que calcula a taxa anual consolidada. O levantamento pode ser divulgado em novembro. “O Inpe não está afirmando que o desmatamento vai cair 50%. Além do problema da cobertura de nuvens, existe o problema dos pequenos desmatamentos”, informa o diretor do instituto, Gilberto Câmara. O Deter, que fornece alertas mensais para a fiscalização, só consegue enxergar registrar derrubadas maiores do que 25 hectares, que representam 40% dos desmatamentos atuais.

41 Para Câmara, “cada vez mais os desmatamentos são pequenos. Essas áreas menores do que 25 hectares, os chamados puxadinhos, são as mais difíceis de detectar”. Dados do Inpe mostram que o desmate está cada vez menos concentrado no chamado Arco do Desmatamento e tem se espalhado pela Amazônia em pequenas derrubadas. Atualmente, os desmates maiores do que mil hectares representam cerca de 10% do total verificado pelos satélites. Já as derrubadas de áreas menores do que 25 hectares correspondem a 60%. A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, assegura que o governo está alterando a estratégia de fiscalização do governo para acompanhar essa mudança do perfil das derrubadas na Amazônia. “A fiscalização também está focada nesses puxadinhos. Mudou o desafio, estamos trabalhando cada vez mais nas pequenas prowww.revistafale.com.br

priedades, o que só aparece quando temos o dado consolidado”. Apesar das diferenças de metodologia entre o Deter e o Prodes, a ministra acredita que a tendência de queda do desmatamento será confirmada. O ministro de Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, arriscou um palpite e disse que a taxa anual de desmatamento poderá ficar em torno de 5 mil quilômetros quadrados (km²) ou 5,5 mil km² este ano. Em 2009, o desmate medido pelo Inpe foi de 7,4 mil km², a menor registrada em 20 anos de monitoramento. Gilberto Câmara, do Inpe, anunciou a operação de dois novos satélites para ampliar o monitoramento da floresta. Em 2011, o instituto vai lançar o Cbers-3 e em 2012, o Amazônia-1. “Os satélites vão melhorar capacidade de observação, tanto para o Deter quanto para o Prodes.” n AGOSTO DE 2010 |

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DESERTIFICAÇÃO

VERDE EM PLENO SERTÃO Em pleno Sertão de Canindé o Programa de Desenvolvimento Hidro-Ambiental, da Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará, já recuperou grande parte de uma área ameaçada de desertificação. Através da capacitação dos agricultores e da adoção de técnicas de preservação do solo, moradores do distrito de Iguaçu, próximo ao Rio Cangati, em Canindé, interior cearense, consegue conviver com o semiárido Por Lúcio Pontes Filho

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desertificação é cada vez mais presente no semiárido nordestino. O Ceará não fica fora desta realidade e precisa encontrar meios de combater o problema e garantir que o homem do campo lá permaneça, evitando assim o êxodo rural. Entretanto, ainda é possível acompanhar o surgimento de ações inovadoras e que ajudam as pessoas a conviver com a seca. Assim, os moradores do Sertão cearense, mais especificamente do distrito de Iguaçu, em Canindé, conheceram o Programa de Desenvolvimento Hidro Ambiental – o PRODHAM, desenvolvido pela Secretaria de Recursos Hídricos do Ceará. O programa identifica as potencialidades do solo e orienta os produtores para uma utilização consciente, sem degradar a terra e provocar a desertificação. “O Prodham é um projeto de capacitação. As ações são executadas pelos próprios agricultores. Nós levamos o nosso saber científico e unificamos com o saber popular dos agricultores e iniciamos a atuação. Depois orientamos os agricultores sobre como eles devem realizar a atividade para obter resultados”, afirma Joaquim Favela Neto, coordenador estadual do Prodham . Após identificadas as potencialidades do solo, os agricultores são orientados sobre como deve ser a utilização e qual a atividade mais adequada para aquela área. o Prodham lhes ensinou que a degradação da terra em Os técnicos do Prodham encontraram no início reseu nível máximo confirma um estado de desertificação. sistência dos moradores da comunidade para discutirem E aquela situação poderia lhes levar a uma condição de o projeto-piloto, ainda no início de 2001. Os técnicos vida ainda pior. A utilização inadequada do solo acelerapassaram a informação aos moradores que tal projeto ria ainda mais a degradação. mudaria o cenário que eles viam naquele momento. IniO Prodham ganhou então a confiança dos moradocialmente houve o desinteresse das famílias e o receio de res e espalhou técnicas de manejo ordenado e conserque perderiam suas terras para o Governo. vacionistas. Com o passar do tempo, elas foram percebendo que “Nós juntamos o conhecimento científico com o coFale!

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PRODHAM. Em Canindé há também produção de frutas – manga, goiaba e graviola – e de milho, alem da tradicional produção de mel.

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nhecimento popular dos agricultores nós unificamos as nossas ações”, afirma Joaquim Favela. Com isso, os agricultores recebem o treinamento até hoje e conhecem as melhores formas de utilização do solo e da vegetação, sendo possível minimizar, ou até mesmo conter, os efeitos do processo de desertificação. “O Prodham está pronto para ser implementado, há necessidade de se trabalhar as ações em conjunto entre os poderes Municipais, Estadual e Federal, sem esquecer o envolvimento efetivo da população local”, ressalta Favela. Na bacia do Rio Cantagi, é possível perceber que a vegetação está mais verde e que há um cuidado com a terra. Após nove anos de atuação do Prodham já é possível perceber uma vegetação mais exuberante. São mais de 50 mil mudas nativas e frutíferas foram plantadas na mata ciliar. É preciso passar por lá para ver como as ações do Prodham mudaram uma realidade de seca e desesperança. Na bacia do Cangati, ao lado da BR-020, a menos de 40 km de Canindé, é possível ouvir o canto Fale!

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dos pássaros: existem sabiás, pássaros cancões, juriti. Há também produção de frutas – manga, goiaba e graviola – e de milho. Quem vê pela primeira vez se surpreende. Alguns quilômetros adiante pela mesma rodovia, a paisagem é a mesma: cerca de pau, caatinga e sequidão. Hoje já existem mais de 25 produtores de mel na Região, que com a ajuda do Prodham receberam a indumentária e a assistência técnica para iniciar a atividade. Por ano, eles produzem aproximadamente 25 toneladas de mel. Até o final do ano, com recursos do Fundo Estadual de Combate à Pobreza – FECOP – a associação de produtores da Região vai construir um novo espaço para ampliar a produção.

Outras áreas de atuação do Prodham. O Programa iniciou a atuação em quatro áreas piloto, o Rio Cangati, em Canindé, onde foram desenvolvidas as primeiras ações do programa, depois se estendendo para as microbacias do Rio Pesqueiro, em Aratuba, do Rio Salgado, em Pacoti e Palmácia e no Rio Batoque, em www.revistafale.com.br

Paramoti. Foram liberados mais de R$ 3 milhões e 800 mil reais para o desenvolvimento de ações hidroambientais produtivas que garantirão a sustentabilidade de agrovilas localizadas nos entornos dos açudes Missi, em Miraíma, Gameleira, que atenderá os municípios de Itapipoca, Trairi e Tururu, Umari, em Madalena e Riacho da Serra, em Alto Santo. Os açudes ainda estão sendo construídos e a previsão de inauguração é até o final do ano. Com a liberação desses recursos, o Prodham ainda vai construir barragens sucessivas, para contenção de sedimentos, barragens subterrâneas e cisternas de placas para a população difusa. Além disso, serão iniciadas a construção de terraços e cordões de pedras em nível, para conter a erosão hídrica e reter a umidade no solo. As famílias das comunidades onde o Prodham atua serão capacitadas para que o programa continue apresentando resultados positivos e se destaque pelas ações de preservação ambiental. n


MEIOAMBIENTE

MATA BRANCA, CAATINGA EM PRESERVAÇÃO Único bioma genuinamente brasileiro, a caatinga já ocupa o terceiro lugar no ranking das vegetações mais devastadas do território nacional. Saiba mais sobre o projeto que pretende salvar o “verde” do sertão nordestino Por Liana Costa

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la não possui árvores exuberantes como a Mata Atlântica, ou a grande biodiversidade do Cerrado. Seus animais não estampam notas de vinte reais e suas plantas — até onde se sabe — não possuem propriedades milagrosas. Mas a caatinga vem sendo devastada. E muito. Dados divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente apontam que, apenas entre os anos de 2002 e 2008, foram 16. 578 km² de cobertura vegetal perdidos, o equivalente a duas vezes a cidade de São Paulo. Na estatística da devastação, Ceará e Bahia encabeçam a lista dos estados que mais desmataram o bioma, responsáveis pela metade do índice total registrado. Há três anos, contudo, os governos desses estados, em parceria com o Banco Mundial, vêm tentando reescrever essa história, através do projeto Mata Branca.

Bioma exclusivamente brasileiro, a caatinga ocupa 895.000 km², cerca de 12% do território nacional. Grandes áreas dos estados nordestinos e de Minas Gerais têm suas paisagens marcadas pelos galhos tortuosos e arbustos ralos típicos da vegetação. O aspecto de mata seca de aparência morta esconde sua astúcia vegetal: o potencial calorífico, principal motivo para sua devastação. As áreas mais afetadas pelo desmatamento são as que possuem demanda por lenha, originada pelo setor industrial, em especial a indústria de cerâmica ou as olarias. Essa exploração econômica fragiliza ainda mais o ecossistema, co anos. Ao todo, serão US$ 22,2 milhões à disposição tornando-o mais vulnerável aos condicionantes de ordo Mata Branca, sendo US$ 10 milhões disponibilizadem climática e à intervenção humana. “É fundamendos pelo Banco Mundial, através do Fundo Mundial tal instituir políticas públicas que permitam a explorapara o Meio Ambiente (GEF), e US$ 6,1 disponibilização racional da diversidade da caatinga, contrariando a dos pelos governos da Bahia e do Ceará, estados assistiatual ação irresponsável de desmatamento como fonte dos pelo projeto. Toda a verba é gerenciada pela Fundade energia.”, avalia Albert Gradvohl, professor de Gesção Luís Magalhães Filho, instituição baiana que realiza tão Ambiental. o intercâmbio entre os órgãos nacionais e internacioUma das experiências de êxito contra a ação predanais. No Ceará, o projeto é implementado pelo Conselho tória da caatinga é o projeto Mata Branca. O projeto, de Políticas e Gestão do Meio Ambiente — Conpam. que leva o nome tupi-guarani do bioma, foi lançado em O objetivo principal do Mata Branca é contribuir 2007, começou a atuar em 2008 e tem validade de cinpara a preservação, conservação e controle sustentá-


Eles podem salvar a caatinga

Os números divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente no início do ano alarmaram o país inteiro sobre a perigosa situação da caatinga. PLANO DE AÇÃO INTERMINISTERIAL PARA PREVENÇÃO E CONTROLE DO DESMATAMENTO NA CAATINGA — PPCAATINGA. Fundo elaborado pelo Departamento de Políticas de Combate ao Desmatamento, pelo Núcleo Caatinga da Secretaria de Biodiversidades e Florestas e pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade, em parceria com outros órgãos. Pretende obter o sucesso semelhante ao adotado na Floresta Amazônica, que, nos últimos dez anos, reduziu em 40% a média do desmatamento na região. Entre as ações previstas, estão a recuperação de solos e microbacias, o reflorestamento e as linhas de crédito para combate à desertificação. Deveria ter saído do papel até o fim do primeiro semestre, mas ainda encontra-se em fase de definição.

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FUNDO CAATINGA Seu objetivo é captar recursos para ações e projetos de combate à desertificação e mitigação dos efeitos da seca, além de ampliar a oferta e despoluir os recursos hídricos com a recuperação e revitalização das áreas degradadas. Também vai promover o uso sustentável do bioma caatinga. Os recursos para o Fundo Caatinga virão de doações, dotação orçamentária, transferências da União, acordos e convênios, do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (FNMC) e do Fundo Amazônia. O fundo será gerido pelo Banco do Nordeste.

Números da devastação

O Projeto de Monitoramento do Desmatamento dos Biomas Brasileiros por Satélite (PMDBBS) divulgou, no início do ano, as taxas de desmatamento referentes ao período de 2002 a 2008. CERRADO 7,50%

CAATINGA 3,60%

PANTANAL 2,82% FLORESTA AMAZÔNICA 2,54% Fale!

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vel da biodiversidade da caatinga. Para tanto, o projeto encontra-se estruturado em três componentes: gestão integrada do ecossistema; monitoramento, avaliação e gestão de projetos e promoção de práticas de gestão integrada. É nesse último componente que reside o principal mérito do Mata Branca: os subprojetos. São 60 subprojetos inscritos, divididos nas categorias de Reabilitação das Áreas Degradas; Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade; Gestão de Águas e Solos; Alternativas Tecnológicas para Sistemas Produtivos Sustentáveis e Aumento da Capacidade Econômica Social e Cultural. A maioria encontra-se localizada na região do Inhamuns, área escolhida por ter características climáticas vulneráveis e índices elevados de pobreza, por conter unidades de conservação significativas do bioma e importantes remanescentes florestais. Além disso, a região é identificada como área piloto para o Plano de Ação de Combate à Desertificação no Estado do Ceará — PAN. Um exemplo de subprojeto de sucesso é o Projeto Aduba Sertão. Criado no ano de 2005, o projeto, que foi incorporado ao Mata Branca, nasceu no município de Independência e está sendo expandido para outros municípios signatários do Pacto Ambiental da Região do Inhamuns. Para Jorge de Moura, secretário-executivo do Pacto, a incorporação do projeto ao Mata Branca ampliou os recursos destinados à preservação da caatinga na região. “O diferencial desse projeto é que ele oferece aparato técnico-financeiro e estimula a participação da comunidade.”, diz Jorge. Em dois anos e meio de atividade, o Mata Branca vem conseguindo manter as suas metas. Segundo Tereza Farias, presidente www.revistafale.com.br

O projeto tem obtido excelentes resultados, porquanto, se, em 2008, tínhamos 16 projetos aprovados pelo Banco, em 2010 esse número ascendeu a 60

TEREZA FARIAS

do Conpam, o projeto “tem obtido excelentes resultados, porquanto, se, em 2008, tínhamos 16 projetos aprovados pelo Banco, em 2010 esse número ascendeu a 60.”. E ela garante que a fase mais difícil já passou. “No primeiro ano, tínhamos que difundir o projeto, porque trabalhamos com práticas que não conseguem adesão voluntária a curto prazo. Tivemos muita dificuldade de identificar entidades aptas ao projeto, pois muitas tinham pendências administrativas. A tendência é melhorar cada vez mais.” n


O projeto Mata Branca no Ceará

Ele está presente em 68 municípios cearenses Municípios contemplados pelo Projeto Mata Branca Áreas prioritárias de intervenção Áreas não contempladas

A caatinga FONTE WORLD WILDLIFE FUND

736.833 km² POPULAÇÃO ESTIMADA 20 milhões ÁREA

MÉDIA DE TEMPERATURA 25°C e 29°C

Amburana, Aroeira, Umbu, Baraúna, Maniçoba, Macambira, Mandacaru e Juazeiro. ABRANGÊNCIA Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Bahia, sul e leste do Piauí e norte de Minas Gerais VEGETAÇÃO MAIS COMUM

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Açudes e águas do São Francisco não amenizarão desertificação do Semiárido As mudanças climáticas vão aumentar a vulnerabilidade do processo de desertificação do Semiárido nordestino. A avaliação é do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Gilberto Câmara. Ele não acredita que a transposição de águas do Rio São Francisco e os açudes conseguirão amenizar o problema da desertificação que tem origem

no aquecimento global. “Há uma tragédia anunciada no mundo e estamos todos perplexos ante a incapacidade de mudar o clima, enquanto os países mais desenvolvidos, que são os mais poluidores da atmosfera, como é o caso dos Estados Unidos, não assumem abertamente compromissos para reduzir os efeitos, mesmo

a longo prazo”, afirmou. Para Câmara, as regiões polares e tropicais é que vão sofrer as maiores consequências nos próximos anos. O diretor do Inpe falou durante assinatura de acordo de cooperação entre o instituto e o Ministério do Meio Ambiente, para criação de um sistema de alerta precoce de secas e

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desertificação no Semiárido nordestino. O sistema vai fazer previsões sobre o clima na região, apontar as probabilidades de uso da terra e prever as variações climáticas. Segundo Gilberto Câmara, o Semiárido é a região do país que merece mais atenção em relação às consequências do aquecimento global.n

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POLÍTICA INSTITUCIONAL

O ANO DA BIODIVERSIDADE Escolhido pela ONU como o Ano Internacional da Biodiversidade, 2010 será palco da décima Conferência das Partes das Convenções das Nações Unidas Sobre Diversidade Biológica, marcada para acontecer em Naigoya, Japão. Oito anos após a criação do plano estratégico da Convenção Internacional da Diversidade Biológica, o mundo avaliará o que fez de certo e de errado para proteger as espécies em nosso planeta Por Liana Costa 48

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cada hora, quatro espécies são perdidas no mundo. A cada ano, 13 milhões de hectares de florestas, onde vivem cerca de 2/3 de todas as espécies terrestres, são destruídos. No último século, 3/4 da diversidade genética de plantações foram perdidos. Atualmente, assistimos à morte gradual da vida em nosso planeta. 2010 foi declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional da Biodiversidade, com encontros e atividades programados em diferentes países do mundo. Mas não há muito que comemorar. A iniciativa é, na verdade, uma grande campanha global para estimular o mundo a agir pela proteção da biodiversidade. O pontapé inicial para a estruturação jurídica em prol da biodiversidade ocorreu em 1992. Naquele ano, o Brasil organizou e sediou a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a ECO-92. O evento resultou em uma série de convenções, acordos e protocolos. Dentre eles, a Convenção sobre Diversidade Biológica, assinada por 168 países. O documento entrou em vigor em 1993 e estabelece normas e princípios que devem reger o uso e a proteção da diversidade biológica, respeitada a soberania de cada nação sobre o patrimônio existente em seu território. Além disso, a Convenção objetiva também a repartição justa e equitativa dos benefícios gerados pelo uso de recursos energéticos. As propostas surgidas na ECO-92 foram novamente discutidas dez anos depois, na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em Joanesburgo, África do Sul. Mas o caminho do Rio de Janeiro até Joanesburgo não foi bem o esperado. Houve altos e baixos, tanto do lado dos governos, quanto da sociedade civil. A implementação da Agenda 21, documento que estabelecia metas de sustentabilidade, foi deficiente, na Fale!

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maioria dos países. O número de ONG’s (Organizações Não Governamentais) ambientais havia aumentado sensivelmente, mas elas ainda não conseguiam articular-se entre si. O contexto do desenvolvimento do neoliberalismo, com a criação de órgãos como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial do Comércio (OMC), também contribui para que a pauta da preservação do meio ambiente não fosse aprofundada. No campo da biodiversidade, a Cúpula obteve alguns

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pequenos avanços. Foi fixado o objetivo de não pescar mais do que permite a regeneração do estoque, pois cerca de 75% dos cardumes são ameaçados de destruição irreversível. Além disso, foi proposta a inversão da tendência destrutiva da biodiversidade. A meta era que os países reduzissem significativamente a taxa de perda de biodiversidade em níveis global, regional e nacional até o ano de 2010. No entanto, esse objetivo não foi cumprido integralmente por nenhum país. Em 2010, os países não só não detiveram a perda de diversidade biológica, “como esta desaparece mais rapidamente do que nunca.”, disse o cientista Stuart Butchart, membro do Centro de Monitoramento Mundial da Conservação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da Organização BirdLife International. “Fazemos muito pouco para reduzir as pressões sobre as espécies, os habitats e os ecossistemas.”, acrescentou Butchart. 2010 não será, portanto, o ano em que se deteve a perda de biodiversidade. Mas deve ser o ano em que se começou a considerar seriamente o assunto. Organizada nos mesmos moldes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15), realizada em dezembro de 2009, na Dinamarca, a COP da Biodiversidade, marcada para outubro de 2010, na cidade japonesa de Nagoya, avaliará os resultados assumidos pelas nações em 2002. Além disso, pretende-se encontrar soluções a fim de evitar novos colapsos ambientais no planeta. Dessa forma, a Conferência de Nagoya tem a oportunidade de propor, de fato, medidas alcançáveis para a proteção da biodiversidade. Se conseguir, se tornará a primeira no mundo obter tal feito. Se não, repetirá o fracasso de Copenhague. n Fale!

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O mapa da extinção FONTE WORLD WILDLIFE FUND

ALASCA MUDANÇAS CLIMÁTICAS. Mesmo que nós consigamos reduzir a perda de florestas e acabar com o comércio de animais selvagens, uma ameaça maior surge no horizonte: o aquecimento global. Conforme o clima muda rapidamente, o território ao qual as espécies estavam adaptadas pode se tornar inóspito mais rápido do elas possam responder. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas reportou que o aquecimento global pode colocar mais de 70% das espécies em grande risco de extinção. Nesse cenário, animais árticos, como o urso polar, seriam os primeiros a desaparecem.

BRASIL DESFLORESTAMENTO E PERDA DE HABITATS. As florestas tropicais são lar da maior concentração de biodiversidade do planeta – mas quando árvores são perdidas, as espécies não demoram a ruir. De 1990 a 2005, o mundo perdeu 172 milhões de acres (70 milhões de hectares) de floresta – a maioria em países da América do Sul, como Brasil, onde o desflorestamento tem se acelerado conforme a terra tem sido limpa para pastagens.

Conheça algumas espécies e animais ameaçados de extinção no Brasil e no mundo FONTE WORLD WILDLIFE FUND

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ÍNDIA INVASÃO HUMANA. Com uma população de 6,7 bilhões – e programada para ultrapassar os 9 bilhões até 2050 – os seres humanos estão ultrapassando as outras espécies em números puros. Conforme a crescente classe média de países como Índia passa a consumir a taxas ocidentais, nós podemos deixar pouco espaço para a vida selvagem.

TAILÂNDIA

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO CAÇA ILEGAL. Desde a matança ilegal de elefantes pelo marfim, até a caça de chimpanzés e gorilas por comida, a caça permanece como uma séria ameaça a algumas das mais carismáticas espécies em perigo de extinção. O aumento global do comércio de partes de animais – como os pênis de tigres, considerados afrodisíacos na China – tem tornado o massacre ainda mais lucrativo. Na Bacia do Congo, três quintos de todos os grandes mamíferos têm sido caçados a taxas insustentáveis. Elefante indiano Baleia azul Chimpanzé Gorila do ocidente Leopardo Orangotango Panda gigante

Peixeboi Rinoceronte de Sumatra Tigre Onça pintada Urso polar Veado

COMÉRCIO ILEGAL DE ANIMAIS. A compra e a venda de espécies ameaçadas de extinção – transformadas em animais de estimação, artistas e outros – é uma nova e crescente ameaça à vida selvagem. O comércio total de animais selvagens é possivelmente a segunda maior ameaça direta à muitas espécies, ficando atrás somente da perda de habitats. O problema tem se tornado tão grave que conservacionistas cunharam o termo “síndrome da floresta vazia”, para descrever habitats que permanecem conservados, mas que foram despidos dos animais que antes ali viviam. O Sudeste Asiático é o pólo de comércio de animais selvagens; praticamente tudo pode ser achado nos mercados de Bangcok ou Guangzou. E a internet tem permitido a venda desses animais para o mundo todo.

ESPÉCIES AMEAÇADOS DE EXTINÇÃO Menos de 6 (Mamíferos marinhos) Mais de 10 (Mamíferos marinhos) Menos de 10 (Animais terrestres) Acima de 150 (Animais terrestres)

Arara azul Araracanga ou Arara piranga Papagaio Rolinha Tucano de bico preto Tartaruga marinha Tartaruga de couro www.revistafale.com.br

Dragão de komodo Jacaré de papo amarelo Tubarão baleia Borboleta de restinga

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THE CITY

FORTALEZA, CEARÁ Sunbathing in Praia do Futuro, walking along the sidewalk of Beira-Mar Avenue, have wine on tap in Chopp do Bixiga bar, buying income in artisan fairs, down the waterslides in Beach Park, enjoy the dunes driving a buggy car, see the sunset from the Ponte Metálica, eat crab in Praia do Futuro beach. The natural, historical and cultural wonders make the city of Fortaleza one of the major tourist destinations in Brazil. A “blonde bride of the sun”, nickname given to the city by poet Paula Ney, attracts, every year, people worldwide By Liana Costa 52

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ocated on the Atlantic coast, with 34km of beaches, in a average elevation of 21 meters, Fortaleza is the capital of Ceará state. The city is the 5th most populous in Brazil and the 91st most populous of the world, with a total of 2,505,552 inhabitants. Fortaleza has the 15th highest GDP (Gross Domestic Product) city in the nation and 2nd in the northeast, with R$ 24.4 billion. It is an important industrial and commercial center of Brazil and has the seventh largest purchasing power in the country. Located 3 ° above the equator, Fortaleza has a semiarid climate, with average annual temperature of 26 ° C. The hottest months of the year are December and January. The temperature difference towards July, the coldest month, however, is minimal. The seasons are not well defined. We can identify only the rainy season, locally called “winter”, from January to July, and the dry season, from August to December. Fortaleza is the capital of Brazil that is located closest to In tourism, the city reached the mark of Brazil’s most popular Europe with a 5608 km distance from Lisbon, Portugal. So, it destination in 2004 and 2005. Its main attractions are the Fortal serves as connection to the Brazilian flights destined for the festival, at the end of July; Beach Park, the largest water park in mainland. Its international airport, Pinto Martins, is the third Brazil; the Dragão do Mar Center of Art and Culture; the Beira Mar busiest airport in the Northeast and one of the busiest in the Avenue, with its craft fair; the Iracema beach, with the English country, receiving on average about 277 aircraft and 3,700 interBridge and the famous Pirata Bar, and Praia do Futuro, with their national flights per month. “tents” on the beach. n

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A vulnerabilidade das megacidades brasileiras às mudanças climáticas

aso siga o padrão de expansão apresentado na última década, a mancha urbana da Região Metropolitana de São Paulo terá o dobro do tamanho em 2030, com aumento dos riscos de enchentes e deslizamentos. A maior parte da expansão urbana deverá ocorrer exatamente nas áreas mais vulneráveis às consequências das mudanças climáticas e a maior parte dos impactos será sofrida pelos mais pobres. Este é um dos resultados do estudo Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas: Região Metropolitana de São Paulo lançado em junho com apresentação dos resultados feito pelo pesquisador e climatologista Carlos Nobre, chefe do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituo Nacional de Pesquisas Espaciais — Inpi. O estudo, que faz projeções climáticas para os próximos 20 anos e cenários futuros entre 2070 e 2100, formou a primeira base para a produção de mapas qualitativos de riscos de deslizamentos, enchentes e riscos sobre a saúde na região, indicando espacialmente as vulnerabilidades frente aos efeitos do aquecimento global. Os dados do relatório mostram que uma elevação Fale!

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média na temperatura da região metropolitana de 2 ºC a 3 ºC poderá dobrar o número de dias com chuvas intensas na capital paulista. Segundo a projeção, o número de dias e noites quentes deverá aumentar, com diminuição no número de dias e noites frios. Mais de 20% da área total da expansão urbana da região metropolitana estará vulnerável em 2030. Cerca de 11% das novas ocupações poderão ser feitas em áreas de risco de deslizamento. Projeções indicam que, caso siga o padrão histórico de expansão, a mancha urbana da Região Metropolitana de São Paulo será o dobro da atual em 2030, aumentando os riscos de enchentes, inundações e deslizamentos na região, atingindo cada vez mais a população como um todo e, sobretudo, os mais pobres. Isso acontece porque essa expansão deverá se dar principalmente na periferia, em loteamentos e construções irregulares, e em áreas frágeis, como várzeas e terrenos instáveis, com grande pressão sobre os recursos naturais. Os riscos serão potencializados pelo aumento do número de dias com fortes chuvas por conta das mudanças climáticas. Estudos preliminares sugerem que, entre 2070 e 2100, uma elevação média na

temperatura da região de 2º C a 3º C poderá dobrar o número de dias com chuvas intensas (acima de 10 milímetros) na capital paulista. Esses cenários são apresentados no relatório “Vulnerabilidade das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas: Região Metropolitana de São Paulo” e se referem a projeções climáticas até 2100 para a região, além de dados e análises que mostram os impactos e vulnerabilidades atuais e projeções para 2030, através da aplicação de um modelo de projeção de mancha urbana associado ao modelo “Hand”. Esse estudo de paisagem permitiu identificar as possíveis áreas que seriam ocupadas no futuro e o risco potencial, caso o padrão de uso e ocupação do solo atual se perpetue sem nenhuma alteração e controle. Se esse processo se concretizar, mais de 20% da área total de expansão urbana em 2030 será suscetível e poderá eventualmente ser afetada por acidentes naturais provocados pelas chuvas. Aproximadamente 11,17% dessas novas ocupações poderão ser áreas de risco de deslizamento. Além disso, as tendências de mudanças de temperatura na região indicam que haverá um aumento no número

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de dias quentes, diminuição no número de dias frios, aumento no número de noites quentes e diminuição no número de noites frias. Esses dados projetam impactos significativos na saúde da população. Entre eles, está a intensificação das ilhas de calor, que prejudicam a dispersão de poluentes. Com isso, espera-se que alguns poluentes tenham a sua concentração ambiental aumentada, notadamente os gases e partículas gerados a partir de processos fotoquímicos atmosféricos, aumentando a mortalidade por contade doenças respiratórias, entre outras. O estudo mosta que as mudanças climáticas provocam impactos cada vez mais acentuados em megacidades como São Paulo e Rio de Janeiro. E a maioria desses impactos está associada às variações do clima causadas pela forma de apropriação dos recursos naturais e pela degradação ambiental. A comunidade científica tem um importante papel de gerar novos conhecimentos e criar a base de informações científicas que auxiliará a identificação, o desenvolvimento e a implementação de respostas efetivas para aprimorar a capacidade de adaptação e redução dessa vulnerabilidade. n




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