DILMA E SERRA, QUEM É QUEM Revista de informação ANO VI — Nº 71 OMNI EDITORA
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Brasília brasília, 50 anos
Pérola do
Planalto Central Há 50 anos, a construção de Brasília vislumbrava a grandeza do futuro do Brasil. Hoje, para muitos, a capital federal é o retrato da corrupção e razão para a descrença de muitos brasileiros no destino do País. A visão de Juscelino e de seus colaboradores, porém, era bem diferente
O PIB DO CEARÁ CRESCEU 3,1% EM 2009. SABE O QUE ISSO SIGNIFICA?
Diário do Nordeste -18/03/2010
Diário do Nordeste -12/03/2010
Significa que o Ceará está seguindo na direção do desenvolvimento. Quando a economia cresce, todo mundo sai ganhando. O comércio vende mais, a indústria produz mais e aumenta o número de empregos. Com isso, o Governo do Estado pode investir mais em educação, saúde, estradas e muitas outras obras que acabam gerando ainda mais empregos. Resultado: quando a economia cresce, todo o Ceará cresce também.
w w w . c e a r a . g o v . b r
slogan
Nós brasilienses estamos vivendo um novo Brasil. O Governo Federal investe em programas sociais e obras de infraestrutura que geram mais oportunidades, fortalecem a economia e melhoram a vida no Distrito Federal.
• A Escola Técnica de Planaltina prepara jovens para o mercado de trabalho. Até o final do ano, mais 4 serão inauguradas.
• Bolsa Família: alimentação, frequência escolar e acompanhamento da saúde de mais de 71 mil famílias.
• Educação Superior: acesso ampliado com 3 novos campi da UnB.
• Saneamento e Habitação: melhoram a qualidade de vida dos brasilienses, como na Vila Estrutural.
• SAMU: atendimento de urgência para mais de 2,6 milhões de brasilienses. • Farmácia Popular: medicamentos com até 90% de desconto.
Escola Técnica - Planaltina
• Com a duplicação da BR-060, ir de Brasília a Goiânia ficou mais rápido e seguro. E o trânsito vai melhorar com as obras da BR-020, que liga Planaltina a Sobradinho.
Vila Estrutural
Estamos vivendo um novo Brasil. Feito por você. Respeitado pelo mundo.
Farmácia Popular - Sobradinho
ISSN 1519-9533
REVISTA DE INFORMAÇÃO
EDITOR&PUBLISHER Luís-Sérgio Santos EDITOR SENIOR Isabela Martin Editor Associado Luiz Carlos Martins EDITOR DE ARTE Jon Romano DESIGN GRÁFICO Bruno Aôr EDITORES DE ARTE ASSISTENTES Eduardo Vasconcelos, Cinara Sá e Lívia Pontes WEBDESIGNER Germano Hissa REDAÇÃO Adriano Queiroz COLABORADORES Fernando Maia, Roberto Martins Rodrigues e Roberto Costa IMAGEM Agência Brasil, AE, Reuters REDAÇÃO E PUBLICIDADE Omni Editora Associados Ltda. Rua Joaquim
Sá, 746 n Fones: (85) 3247.6101 e 3091.3966 n CEP 60.130-050, Aldeota, Fortaleza, Ceará n e-mail: fale@ revistafale.com.br n Brasília (61) 8188.8873 e-mail: df@fortalnet.com.br n home-page: www.revistafale. com.br Fale! é publicada pela Omni Editora Associados Ltda. Preço da assinatura anual no Brasil (12 edições): R$ 86,00 ou o preço com desconto anunciado em promoção. Exemplar em venda avulsa: R$ 9,00, exceto em promoção com preço menor. Números anteriores podem ser solicitados pelo correio ou fax. Reprintes podem ser adquiridos pelo telefone (85) 3247.6101. Os artigos assinados não refletem necessariamente o pensamento da revista. Fale! não se responsabiliza pela devolução de matérias editoriais não solicitadas. Sugestões e comentários sobre o conteúdo editorial de Fale! podem ser feitos por fax, telefone ou e-mail. Cartas e mensagens devem trazer o nome e endereço do autor. Fale! é marca registrada da Omni Editora Associados Ltda. Fale! é marca registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Copyright © 2010 Omni Editora Associados Ltda. Todos os direitos reservados. n Impresso no Brasil/Printed in Brazil. Fale! is published monthly by Omni Editora Associados Ltda. A yearly subscription abroad costs US$ 99,00. To subscribe call (55+85) 3247.6101 or by e-mail: df@fortalnet.com.br
Vem aí O Livro do Ano 2009-2010. A história é de quem faz. O mais completo documento de 2009 e os cenários para 2010. Mais um lançamento da Omni Editora.
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ArenaPolítica TalkingHeads Online BrasíliaOff Blogosfera
Política
13Em busca do voto
Nos últimos seis meses, as movimentações de Dilma e Serra, os dois principais concorrentes ao Palácio do Planalto, se intensificaram. Viagens pelo país e pelo exterior, gravações de programas políticos, reforço nas estratégias de marketing e reuniões intermináveis para fechar alianças.
Chico
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Xavier,
agora ele emociona nos cinemas do Brasil
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No dia em que o maior médium brasileiro completaria 100 anos, chegou aos cinemas uma das maiores produções cinematográficas da história nacional, inspirada na vida do mineiro Chico Xavier. Orçado em R$ 12 milhões, Chico Xavier, o filme, é dirigido por Daniel Filho foto Ricardo Stuckert
imagem DIA DO ÍNDIO
66Brasília, 50
Há 50 anos, a construção de Brasília vislumbrava a grandeza do futuro do Brasil. Hoje, para muitos, a capital federal é o retrato da corrupção e razão para a descrença no destino do próprio País
SEÇÕES
8 Talking Heads 11 Online
12 Arena Política 27 Pensata 49 Econômicas
capa: vetor sobre desenho de niemeyer
“Não conhecemos na história nenhum momento em que uma nação indígena invadiu a terra de outro para tomar conta, pelo contrário, o que acontece normalmente são os outros invadirem as terras indígenas tentando se apossar de uma terra que não é deles.” No dia do Índio, 19 de abril, Lula visitou a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima. Ele disse que interessa ao governo federal o crescimento econômico do estado, mas sem tirar o direito dos índios.
“
Nós atingimos um grau de maturidade em que a gente não pode, por conta de uma eleição, afrouxar o controle da economia e deixar a coisa desandar, senão não controla mais.
lula
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Foto JARBAS OLIVEIRA
TalkingHeads EDIÇÃO Cinara Sá
Ninguém mantém uma estrada fechada só porque vão dizer que estão inaugurando antes do tempo. Seria ridículo. Esse é um fenômeno só brasileiro. É coisa de espírito de porco.
josé serra, ex-governador de São Paulo e candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, rebatendo as críticas de que estaria inaugurando obras que não estariam prontas para utilidade pública
Dizem que Serra não gosta do Nordeste. E dizem até que eu não me dou bem com ele. É verdade que eu não o acho bonito e nem cheiroso, mas na época em que ele foi ministro do Planejamento ele ajudou a fazer o Castanhão.
tasso jereissati, senador (PSDB -CE), sobre a verba federal liberada para o açude Castanhão, no Ceará, quando José Serra era ministro do governo FHC
Foto Antonio Cruz_ABr
O Brasil não é uma voz isolada. Essa é uma percepção equivocada de uma imprensa que não lê o noticiário internacional. São países importantes como a Turquia e a China que têm posição diferente dessa. Marco Aurélio Garcia, o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, sobre a defesa do diálogo com o Irã e a oposição às sanções contra o país
d es l i ze
É preciso que a gente assuma o papel de partido político e decida o nosso destino, não ficar permitindo que o nosso destino fique correndo de tribunal para tribunal. presidente lula, criticando a Justiça e as multas que recebeu do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que o condenou por campanha eleitoral antecipada a favor de sua candidata
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Eu não tenho nenhuma simpatia por Ciro Gomes. Zero! Acho que ele fala demais, cai freqüentemente na bravata, é de uma espantosa arrogância, confunde falta de educação com autenticidade. reinaldo azevedo, jornalista e colunista da revista Veja, em um post de seu blog
l u l a
O presidente da República deve ser um espelho para todos os cidadãos e, por este motivo, não pode estimular a sociedade a desobedecer as decisões judiciais, o que levará certamente ao descrédito da própria democracia. Ophir Cavalcante, presidente nacional da OAB, sobre as declarações do Presidente
“Recebo a homenagem como um reconhecimento ao Governo do presidente Lula e porque ajudou a construir uma parceria republicana no Ceará como a parceria do governador Cid Gomes com a prefeita Luizianne Lins.”
Dilma Rousseff, candidata do PT ao Palácio do Planalto, agradecendo o título de cidadania de Fortaleza, na Câmara Municipal
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Culpar as chuvas pelas mortes no Rio é comodo.Pq n culpar a ´politica criminosa de dar barracos em troca de votos?
vasques landim, deputado estadual (PSDBCE), pelo endereço twitter/ Vasques_Landim
DILMA ROUSSEFF, candidata do PT à Presidência da República, pelo endereço twitter/ dilmabr
No discurso de Serra, eis o que faz a diferença: Quanto + mentiras nossos adversários falarem sobre nós, + verdades nós falaremos sobre eles.
Foto Alex Brandon
Eu tenho orgulho de dizer que sou um homem homossexual. Eu sou muito abençoado em ser como sou. Rick Martin, cantor latino, em nota no seu site oficial
Barack Obama,
presidente dos EUA, após a cúpula de Segurança Nuclear, realizada em Washington, quando líderes mundiais firmaram compromissos em torno da questão nuclear
Pelo o que eu joguei até então, não mereço ir para a Seleção. Isso é claro.
É minha crença pessoal que os Castros não querem ver o fim do embargo e não querem ver a normalização com os Estados Unidos, porque eles perderiam todas as suas desculpas pelo o que não aconteceu em Cuba nos últimos 50 anos.. Hillary Clinton, secretária de Estado norte-americana, acreditando que o fim do embargo econômico dos Estados Unidos ao regime cubano não é interessante para os irmãos Castro
Quando as forças internacionais conseguiram entrar no imóvel, encontraram os corpos de quatro civis — duas mulheres, uma criança e um idoso — e quatro homens, suspeitos de ser insurgentes. otan, em comunicado da Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf), admitindo que seus aviões mataram inocentes no Afeganistão
Foto VALTER CAMPANATO_ABR
RUBENS BARRICHELLO, piloto de fórmula 1, pelo endereço twitter/rubarrichello
A melhor coisa que Lula da Silva fez como presidente foi nada. the wall street journal, jornal norteamericano, em editorial que critica duramente o presidente Lula, quem costumava elogiar
Quando falam em política, ele abaixa a cabeça.
Alberto Fraga, deputado federal (DEM -DF), descrevendo o estado de José Roberto Arruda, solto pelo STJ
geraldo alckmin, secretário de Desenvolvimento do governo paulista (PSDB), pelo endereço twitter/ geraldoalckmin_
Bom é isso aí. Na F1 você é tão bom quanto sua última corrida. Hoje falam mal, amanhã batem palma. To calejado já.
ronaldo, atacante do Corinthians, reconhecendo que seu atual desempenho é desfavorável a sua convocação para a Copa do Mundo
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A quem interessa criar interpretações falsas sobre as minhas palavras? Não importa, a verdade se impõe. Vou seguir em frente.
“Graças às medidas que tomamos o povo americano estará mais protegido e o mundo será mais seguro.”
Sei que o presidente Lula já fez muito por este país, em especial pelos pobres. O desafiaria a ser um herói, que lidere o mundo para um novo paradigma de desenvolvimento sustentável. A construção [da hidrelétrica de Belo Monte] não é uma resposta adequada. James Cameron, cineasta, se dirigindo ao presidente Lula. O diretor do filme Avatar participou de uma manifestação em Brasília contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, na Amazônia
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Uma campanha eleitoral é sempre difícil, mas nós temos que persistir, porque as mulheres podem vencer. Ségolène Royal, líder socialista francesa, presidente do conselho regional da região de Poitou-Charentes e ex-candidata presidencial na França, durante encontro com a candidata do PT, Dilma Rousseff abril de 2010 | Fale
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Foto MARCELLO CASAL JR _Agência brasil
TALKINGHEADS
Tiraram de mim o direito de ser candidato. Eles não querem que eu seja candidato? Querem apoiar a Dilma? Que apoiem a Dilma. Estou como a Tereza Batista cansada de guerra. Acompanho o partido. Não vou confrontar o Lula. Não vou confrontar a Dilma. CIRO GOMES, assumindo sua saída da disputa pelo Palácio do Planalto
Não me importava de ser um candidato com 2%, 5%, 10% das intenções de voto. Acho que minha presença nos debates e nos programas de televisão poderia provocar uma discussão no país, uma discussão sobre o futuro do Brasil. idem, sobre a importância de sua candidatura para o debate político no Brasil
Não me peçam para ir à televisão declarar o meu voto, que eu não vou. Sei lá. Vai ver viajo, vou virar intelectual. Vou fazer outra coisa. idem
opos i ç ã o
ac i d enta l
Minha sensação agora é que o Serra Não vou responder ao deputado Ciro vai ganhar esta eleição. Dilma é melhor Gomes. O deputado Ciro Gomes sempre do que o Serra como pessoa. Mas o Serra esteve ao nosso lado, espero que ele volte é mais preparado, mais legítimo, mais a estar de uma forma mais próxima agora. capaz. CIRO GOMES, apostando na vitória de José Serra, candidato pelo PSDB, na corrida presidencial
O PSB é um ajuntamento como tantos outros, ou a expressão de um pensar audacioso e idealista sobre o Brasil? Ciro gomes, em artigo publicado em seu site
Lula está navegando na maionese. Ele está se sentindo o Todo-Poderoso e acha que vai batizar Dilma presidente da República. Pior: ninguém chega para ele e diz Presidente, tenha calma.
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Foto Paula Sholl
dilma rousseff, candidata do PT ao Palácio do Planalto, evitando rebater as declarações de Ciro Gomes
“Se você me pergunta se essa decisão pode vir a ajudar na composição nos Estados, pode sim. É claro que ela é mais um facilitador do que complicador.”
Foto Valter Campanato_Agência brasil
idem, sobre os esforços do presidente Lula para eleger a candidata Dilma Rousseff
Eduardo campos, governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, reconhecendo que a retirada de uma candidatura própria do partido facilita a situação eleitoral do PSB em alguns estados por conta do apoio do PT, mas nega que a decisão tenha sido condicionada por isso
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Ciro está certo ao dizer que Lula age como Deus. Para mim, Lula pensa que é Deus. Sérgio Guerra, presidente nacional do PSDB concordando com a declaração de Ciro
O episódio Ciro Gomes demonstra que o PT depena seus aliados como as antigas donas de casa depenavam o frango antes de cozinhá-lo.
mendes thame, presidente do PSDB paulista, criticando as atitudes do PT em relação à candidatura de Ciro
Online
Nokia e seus smartphones
A Nokia tentava há algum tempo concorrer com a líder no setor de aparelhos móveis para e-mails corporativos, a RIM, fabricante do Blackberry. Para se fortalecer nesse desafio, o maior fabricante de celulares do mundo lançou três modelos de smartphones. O C3, C6 e E5 são aparelhos mais baratos - seus preços variam de R$ 215 a R$ 525 - e vão concorrer diretamente com o Blackberry, que assusta pela faixa de preço. O surgimento desse novo cenário - mais competitivo foi facilitado pela crescente demanda por esse tipo de produto. Os novos modelos vêm com ferramentas de redes sociais, mensagens, e-mails e contatos, o que deverá popularizar ainda mais os serviços de comunicação pelo celular. Os três apresentam teclado QWERTY completo. O novo modelo C3, segundo analistas, será uma das grandes apostas da Nokia nesse ano. Com conexão wireless, tela de 2,4” e suporte para cartão de memória de até 8GB, virá nas cores rosa choque, ouro branco e preto. O C6, mais avançado, tem tela de 3,2” e uma câmera de 5MP com auto-foco e flash, além de oferecer boa navegação na internet. Estarão disponíveis nas cores branco e preto. Já o E5 é direcionado para profissionais que usam o celular como ferramenta de trabalho. Com display de 2,4”, tem conectividade Wi-Fi, Bluetooth, GPS e suporte para memória externa de até 32GB. Até junho, deverão estar nas lojas os modelos C3 e C6. O prazo para o E5 estar disponível para compra é até setembro.
Teatro na rede
não fiquem comprometidos. São oferecidas transmissões com três níveis de qualidade para atender tanto quem tem equipamentos mais modernos como conexão discada. Para assistir às peças, basta se cadastrar no portal e comprar créditos para fazer o download. Os ingressos são a partir de 10 reais, podendo chegar, no máximo, à metade do valor do espetáculo tradicional. Talvez seja um bom começo para a “inclusão cultural”.
Spam no Twitter?
O Twitter relutou, mas acabou se rendendo à publicidade. O site lançou o serviço Promoted Tweets, que permite empresas comprarem tweets promocionais que aparecerão nas páginas de resultados de buscas. Será exibido apenas um anúncio por página – no mesmo formato das mensagens comuns – e, de início, apenas 10% dos usuários terá seu espaço dividido com esses textos. Alguns dos primeiros anunciantes são Best Buy, Red Bull, Starbucks e Virgin America. Para um site que ainda não dá lucros, o projeto é uma iniciativa importante nesse sentido. Porém, muitos usuários já temem que o serviço se torne uma fábrica de spams – aquelas mensagens que quase nunca são bem vindas. Não demorou também para que a notícia do novo serviço – divulgada no blog de Biz Stone, cofundador da empresa – se tornasse um dos assuntos mais comentados do site.
Eleições 2010
As eleições presidenciais de 2010 ganharam uma nova ferramenta para ajudar eleitores, políticos e imprensa a entenderem a dinâmica eleitoral. O site Observatório da Web, idealizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para a Web (INWeb), tem o objetivo de coletar informações sobre o que se fala dos presidenciáveis em vários ambientes — desde jornais e revistas que estão presentes na internet até redes sociais — organizá-las e apresentar resultados interativos para o internauta. Com esses dados os visitantes podem analisar o desempenho dos candidatos sob vários aspectos e entender o contexto em que ele se forma. O endereço é www.observatorio. inweb.org.br.
O QUE É NOVO Pen drives em clima de Copa. A empresa A-DATA desenvolveu a linha Soccer Jersey USB Drive, que oferece pen drives em formato de camisas de seleção. Seis países participantes da Copa da África do Sul receberam a homenagem: Brasil, Alemanha, Itália, www.revistafale.com.br
Coréia, México e Estados Unidos. Emborrachados, os gadgets têm material resistente à água e impactos externos. Sua capacidade de armazenamento é de 4GB. Mais informações no site www.adata.com.tw, que informa onde seus produtos são vendidos. abril de 2010 | Fale
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O projeto Portal Cennarium, bancado pela empresa de mídias digitais Nortik, pretende facilitar o acesso da população ao teatro. A intenção é promover uma “inclusão cultural”, disponibilizando, para quem tiver computador conectado à internet, os principais espetáculos do eixo Rio-SP, onde a movimentação teatral é mais intensa. As filmagens são feitas com tecnologia digital de alta definição para que os elementos cenográficos
ArenaPolítica
as origens da crise na candidatura de ciro gomes
Trecho do artigo do cientista político Murillo de Aragão postado no blog do Noblat: “A possibilidade de Ciro Gomes (PSB) disputar a presidência da República pelo PSB é altamente incerta. Diante dessa mesma percepção, ele escreveu duro artigo criticando seu próprio partido e a aliança PT-PMDB.” E continua Aragão: “A realidade é que a candidatura de Ciro perdeu consistência quando o bloco formado por PDT, PCdoB e PSB implodiu. As duas primeiras legendas decidiram apoiar a candidatura de Dilma Rousseff (PT) ao Planalto atendendo apelo do próprio presidente Lula.”
Pacto pela Vida no ceará quer diagnóstico sobre Drogas
O Conselho de Altos Estudos e Assuntos Estratégicos da Assembleia Legislativa do Ceará divulga o Pacto pela Vida — com foco no problemas das Drogas. A articulação pretende reunir órgãos governamentais, ONGs e membros da sociedade civil, para diagnosticar a situação das drogas no Ceará e fazer um plano estratégico de políticas públicas em busca de soluções. Serão coletados dados das diversas instituições que realizam ações de prevenção, tratamento, repressão ao tráfico e ressocialização dos dependentes químicos no Ceará. A iniciativa tem o apoio do Sindicato dos Médicos do Ceará, da Central Única das Favelas (Cufa) e da Associação Cearense de Imprensa (ACI). Mais informações no site www.al.ce. gov.br/conselho/pactopelavida e pelo telefone (85) 3277.3743. 12 | Fale!
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novo governo do df nas mãos do stf
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procurador-geral da República, Roberto Gurgel, conti-
nua defendendo a intervenção no Distrito Federal. Para ele, mesmo com as eleições indiretas que escolheram Rogério Rosso (PMDB) como o novo governador do DF, a coisa continua como dantes. E é verdade. São os mesmos quadros da política numa espécie de raposa fazendo auditoria no galinheiro. Rosso, ex-secretário do Governo deposto, promete que irá conversar com Gurgel e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) para convencê-los de que a medida não é mais necessária. “Não fui procurado ainda. Se for, vou recebê-lo. Mas minha posição dificilmente vai mudar porque a intervenção independe da pessoa do governador mas sim do processo pelo qual ele foi escolhido”, afirma Gurgel. “Não tenho nada contra a pessoa. A intervenção é um remédio amargo, mas é o único caminho diante da gravidade da situação”. As eleições indiretas realizadas pela Câmara Legislativa do DF agravaram a situação de Brasília, assegura Gurgel. “A eleição antes de apontar
Rogério Rosso (PMDB), governador eleito do DF impôs um ritmo austero para a normalização, aponta para um agravamento. Dos 13 deputados que votaram em Rosso, oito são pessoas envolvidas no processo.” A política do Distrito Federal entrou em profunda crise política desde que a Polícia Federal deflagrou, em novembro de 2009, a Operação Caixa de Pandora sobre um esquema de distribuição de propina no governo distrital, envolvendo o primeiro escalão do Executivo local. As denúncias levaram à prisão e afastamento, por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), do então governador José Roberto Arruda.
Para Lula, oposição quer o apagão Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva os críticos da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte — projetada para ser construída no Rio Xingu, no Pará — torcem para que ocorra um apagão no Brasil, como o registrado em 2001. Segundo Lula, há uma entidade não governamental, ligada a partidos de oposição, insinuando ameaças de racionamento e crise energética. O presidente negou o risco de ocorrer um novo apagão. “Orgulhosamente, eu www.revistafale.com.br
digo para vocês: ‘não terá apagão no Brasil’. A não ser que haja uma catástrofe. E aí, contra a catástrofe, ninguém pode. Só Deus é que pode resolver.” Lula: “nós já fizemos, em oito anos, 30% do total de linhas de transmissão feitas em quase 125 anos”, disse. “Portanto [as usinas de] Belo Monte, Jirau, Santo Antônio são coisas que os nossos adversários torcem para não dar certo. Eu vi um cidadão dizer que isso é política. Quem não quis fazer política fez o apagão.”
O QUE PENSAM DILMA E SERRA
Política O que os dois principais candidatos à sucessão do presidente Lula pensam sobre o Brasil e suas regiões, sobre a Economia, sobre o futuro. Por Adriano Queiroz www.revistafale.com.br
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POLÍTICA ideias. José Serra fala para empresários e políticos cearenses em evento do Centro Industrial do Ceará no auditório da Federação das Indústrias FOTOS jarbas oliveira
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SERRA e os sete pontos para o desenvolvimento
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última visita de José Serra, do PSDB, ao Ceará, foi ainda como governador de São Paulo, em fins de 2009, a convite do Centro Industrial do Ceará – CIC. Na ocasião, Serra fez questão de enfatizar sua relação com o Nordeste, desde os tempos em que era ministro do Planejamento – entre 1995 e 1996 – e de negar a fama de anti-nordestino, sem, no entanto, se inibir de criticar o que considera o fracasso da nova Sudene. Sempre acompanhado do correligionário senador Tasso Jereissati, ele classificou-se como um “político nacional” e não apenas paulista, destacando sete aspectos importantes que serão enfatizados na política governamental que pretende implementar, caso seja eleito: investimentos estruturantes, política macroeconômica, política de financiamento, desenvolvimento regional, segurança, saúde e educação. Conheça um pouwww.revistafale.com.br
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POLÍTICA
METROFOR. “Quando eu era ministro do Planejamento, conseguimos um financiamento japonês para começar o metrô de Fortaleza. Não sei em que pé está, se já está circulando. [risos da platéia] Não tem trem rodando? Juro que não fiz ironia. Mas são 15 anos.”
co mais do pensamento do tucano candidato à presidência da República.
Quando a gente governa, tem Investimentos estruturantes que ter uma espécie de Falta uma política de investimentos estruturantes no Brasil. Segundo estrabismo cívico: um um estudo do BID, há um subinvesolho no presente e outro timento nas grandes fronteiras agrícolas. Poderíamos estar produzindo no futuro. 30% mais e exportando mais com os investimentos de infraestrutura adequados. Tem-se investido muito pouco. Quando eu era ministro do Planejamento, conseguimos um financiamento japonês para começar o metrô de Fortaleza. Nós estamos fazendo quatro linhas em São Paulo, uma com quatro quilômetros. Esses quatro quilômetros custam R$ 2 bilhões, porque é tudo túnel. A desapropriação é caríssima. Mas cada cidade de mais de 500 mil habitantes devia começar a fazer um metrô,
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JOSÉ SERRA
porque em céu aberto é fácil, a desapropriação é mais barata. Aqui, quando o Tasso era governador, aconteceram investimentos estruturantes. Eu tive ligado a vários deles, como o Castanhão. Eu era o ministro do Planejamento e foi nessa época que veio primeiro o dinheiro para esse projeto. Com o Porto do Pecém foi a mesma coisa. O porto é www.revistafale.com.br
o maior exportador de frutas do Brasil e tem potencial para ser um hub, para o qual convergem muitos fluxos de transporte, para ser um distribuidor em escala internacional. O Aeroporto foi feito via Prodetur, que foi inventado pelo Paulo Renato, ex-ministro de Educação – na época gerente do BID. O Prodetur seria financiado em parte pelo governo federal e em parte através da contrapartida dos estados do Nordeste. Os estados não tinham dinheiro para dar a contrapartida na época. Eu fiz com que o BNDES fizesse isso no lugar dos estados. Criou-se, então, uma infraestrutura aeroportuária no Nordeste. O investimento estruturante dá uma direção ao desenvolvimento. E ele tem que ser materializado. As perspectivas daqui são: a siderúrgica, a refinaria e a Transnordestina, que é uma ideia que não vingou. Os investimentos não se realizaram no seu potencial, não se materializa-
FOTOS jarbas oliveira
INVESTIMENTOS. Presidente Nacional do PPS, Roberto Freire, o Presidente da Fiec, Roberto Macêdo, e o senador tucano Tasso Jereissati, ratificam a necessidade de ampliação de investimentos estruturantes na economia do Brasil, propostos por José Serra, durante a palestra. ram. Isso se multiplica pelo Brasil. Tem que ter um plano em que possa se associar o capital privado.
Política macroeconômica
O Brasil era um país apoiado na exportação de produtos primários, hoje chamados de commodities. Com a crise de 30, foi havendo uma mudança, o Brasil se industrializou. Não deixou de fazer a exportação de produtos primários, mas também diversificou muito a sua economia. Eu me pergunto: nós vamos optar por voltar àquele modelo ou continuar com uma economia aberta, puxada pelo crescimento doméstico da produção e do emprego, tendo a exportação como complemento necessário para também gerar emprego e trazer as divisas que o país precisa? Eu acho que a política macroeconômica praticada nos últimos anos tende a levar o Brasil de volta à condição de economia primária-exportadora, por causa da política de juros
Falam que eu sou um político paulista, mas eu sou um político nacional. Sempre me guiei numa visão global. JOSÉ SERRA
e a política cambial. O Ceará exporta frutas, vestuário, calçados, produtos do mar, castanha de caju. Uma boa parte da renda do Ceará vem das exportações. O que acontece é que o exportador faz um esforço tremendo para aumentar sua produtividade, mas a política cambial provoca perdas crescentes, em todo o país. Esse modelo tende a enfraquecer a posiwww.revistafale.com.br
ção do país como player do jogo econômico internacional. Nos últimos anos, as exportações cresceram, mas basicamente em produtos primários, o que aconteceu também como fruto de uma alta de preços inusitada. Mas nós não estamos num período de explosão de preços de produtos primários. E nós continuamos tendo uma das maiores taxas de juros da América Latina, senão a maior. Caiu, mas a dos outros caiu primeiro. Nós demoramos de três a quatro meses para abaixar os juros, caso único no mundo inteiro. Quando o câmbio chegou num nível satisfatório, não se manteve isso. Esse é um preço grande para a nossa economia. Quando a gente governa, tem que ter uma espécie de estrabismo cívico: um olho no presente e outro no futuro. Não é possível concentrar apenas no presente, pois o dia de amanhã poderá trazer problemas, uns previstos, outros que surpreenderão porque não enxergaram adiante. ABRIL de 2010 | Fale
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POLÍTICA FOTOs jarbas oliveira
FUTEBOL. Presidente do CIC, Robinson de Castro e Silva presenteia Serra com camisa do Ceará Sporting Clube, recém promovido a 1ª divisão do Campeonado Brasileiro em 2010. Serra torce pelo Palmeiras. Ao mesmo tempo, isso está ligado a uma política fiscal. No plano federal, tem-se privilegiado o aumento de gastos de custeio, inclusive permanentes. Para sair da crise, nós fizemos em São Paulo uma política de incentivo à demanda: reduzimos impostos, abrimos linha de crédito no banco estadual, antecipamos compras, fizemos o impossível para evitar o desabamento da atividade econômica. O governo federal também fez, a meu ver, isenção de impostos e expansão de crédito do BNDES. Mas, ao mesmo tempo, houve um aumento de gastos de custeio que são permanentes e que vão terminar barrando a redução de juros e uma condição mais favorável no comércio exterior. E vamos ter claro o seguinte: os chineses não são campeões de exportação apenas porque são eficientes. A indústria de calçados brasileira é mais eficiente. Eles levaram técnicos 18 | Fale!
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e comparar com a China Tentam espalhar oe problema a Índia, campeões de crescimento econômico. São países que tem um que o Serra projeto nacional de desenvolvimento a médio e longo prazo consistente. não gosta do Nordeste. Mas praticamente todas Política de financiamento co-responsável por duas fonas obras estruturais que tes Fui de financiamento. Uma é o FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhavieram para cá foram dor – que resultou de uma Emenda dadas pelo Serra. Constitucional que eu aprovei na TASSO JEREISSATI
para lá e aprenderam a fazer sapato. Eles não fazem melhor que a gente, mas tem um câmbio mega-desvalorizado. Se o real tivesse o valor do yuan em relação ao dólar, o dólar seria quatro reais e meio. Isso dá pra competir com qualquer coisa. Não estou achando factível isso no Brasil, estou apenas querendo entender www.revistafale.com.br
Constituinte, criando o fundo como fonte para pagamento do seguro-desemprego e, ao mesmo tempo, com aplicação através do BNDES. O BNDES expandiu muito por causa dos recursos do FAT. E tem o Fundo de Desenvolvimento do Nordeste, com dois por cento do FPM – Fundo de Participação dos Municípios. Este fundo teve uma importância decisiva e eu me pergunto: o que aconteceria se ele não existisse?
Houve a crise econômica e os estados e municípios não puderam emitir dívidas. Nenhum governo estadual ou municipal pode emitir papel e pegar dinheiro para investir e melhorar a economia. O governo federal pode. Eu tenho um dado, calculado pelo economista José Roberto Afonso, de que 70% dos investimentos no Brasil, excluindo os da Petrobras e outras empresas estatais, vêm dos estados e municípios. É curioso isso. Vem a crise e eles não podem aumentar os investimentos. Aí, eles têm queda de receita e tem que apertar o orçamento. Como não podem apertar os salários, apertam os investimentos. Isso explica porque o investimento no Brasil continua muito baixo, seja do ponto de vista do emprego, seja do ponto de vista estrutural.
Desenvolvimento regional
Foi refeita a Sudene e criou-se uma expectativa, pelo menos para mim. Minha expectativa era de que a Sudene fosse um grande centro de coordenação da política regional no Nordeste. Mas a criação da Sudene não deu em nada. Há uma visão torta de que incentivo é só tributário, mas é também investimento em estrutura, em qualificação de mão de obra, energia, remuneração por desempenho e também tributário. Havia uma ideia, a qual eu dei ênfase quando era ministro, que era o fortalecimento do BNDESPar, de participação direta de empresas. Era uma idéia importante, que foi por água abaixo. É um instrumento relevante e, em geral, dá lucro. O BNDES não sairia perdendo, não.
Segurança
Em São Paulo, o orçamento da segurança é de R$ 13 bilhões e a violência diminuiu muito, desde o segundo governo do Mário Covas. Diminuímos a violência para a metade e o índice de homicídios é metade da média brasileira, o que antes era a média. Mas continua a sensação de insegurança. Porque ainda há muito que avançar. A segurança exige três coisas fundamentais: dureza, respeitando direitos individuais; planejamento e investimento em tecnologia, já que não adianta aumentar o número de homens e sim aumentar
Em São Paulo, fixamos uma meta para cada escola. Quem cumpre ganha salários a mais. Toda a escola ganha, da limpeza à direção. JOSÉ SERRA
a eficiência; e combater o contrabando de armas e drogas. Hoje, uma das fontes do crime é esse contrabando. Isso é responsabilidade do governo federal. Sessenta por cento das drogas entram pelo mar. O Brasil não produz cocaína. Isso é uma demanda de ação federal. Os estados são os principais responsáveis pela segurança, mas não vão dar conta, porque a prosperidade do crime é alimentada pelo contrabando de drogas e de armas.
Saúde
Quando ministro, eu me baseei numa experiência do Ceará, a do agente comunitário de saúde. Nós tínhamos 50 mil agentes no Brasil e levamos pra 150 mil, especialmente para o Nordeste. Desenvolvemos um programa que derivou dos agentes: o Programa de Saúde da Família (PSF). Eram 1.700 equipes e multiplicamos por nove. Aqui no Ceará, eram 200 equipes e deixamos 1.200 equipes. O primeiro atendimento é crucial. Mas há um estrangulamento no Brasil. Em saúde, a demanda está sempre na frente. A gente vai sempre correndo atrás. E o que a gente quer é que o hoje seja melhor que o ontem e amanhã melhor que hoje. Temos que procurar soluções. Por exemplo, em São Paulo havia o problema para conseguir uma consulta de especialidades. Criamos um novo tipo de unidade de saúde, o ambulatório médico de especialidade, que só faz consulta e alivia os hospitais. Temos que avançar na organização da saúde e voltar a procedimentos abandonados, como os mutirões. Na área de medicamentos, nós criamos os genéricos. Hoje, eles www.revistafale.com.br
ficaram em 25% de participação no mercado, porque acabou o ativismo governamental. Não houve mais promoção, para mostrar que o genérico tem a mesma qualidade. Eu lamentei muito também porque a ANVISA não participa mais do reconhecimento de patente. Isso foi suprimido.
Educação
A educação é a área social que mais une preocupações da população e dos empresários. Estou convencido pela minha experiência na prefeitura e no estado de São Paulo que o problema da educação está na sala de aula. Transporte, merenda, prédio, material escolar mais ou menos funcionam, mas o problema está no aprendizado. Nas faculdades de pedagogia, pelo menos em São Paulo, as teses são todas metateorias, filosofia...não há pesquisa sobre melhoria da qualidade de ensino. Empresas deveriam financiar teses de mestrado e doutorado com temas pré-determinados. Em São Paulo, fixamos uma meta para cada escola. Quem cumpre ganha salários a mais. Toda a escola ganha, da limpeza à direção. São até três salários a mais por ano. Ganha quem faltar menos, ter menor rotatividade e fazer uma prova de conhecimentos. Os sindicatos são contra, mas a população é a favor. As famílias acham legítimo que a remuneração seja proporcional ao desempenho. Outro lado da educação é o ensino técnico, que é fundamental para os alunos de Ensino Médio. Temos que criar oportunidades para esses alunos. Eu peguei 70 mil estudantes em cursos técnicos e estamos levando para 170 mil. Aumentamos a variedade também. Eram apenas 30 especialidades e hoje são 80. Ao mesmo tempo, as faculdades de tecnologia formam o tecnólogo em três anos. Isso dá oportunidade para a juventude e é economia. Tendo potencial em algo, devemos formar gente nessa área, até para serem empreendedores. Isso tem que ser feitos pelos estados, com ajuda dos municípios e bancado pelo governo federal. Já houve experiências importantes aqui no Ceará. O mais crucial é que a gente possa refletir. n ABRIL de 2010 | Fale
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POLÍTICA ideias. Dilma durante o discurso no IV Congresso do PT em fevereiro de 2010 FOTO José Cruz _ ABr
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DILMA,
os desafios e as oportunidades da década
A
ex-ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, esteve pela última vez no Ceará graças a um motivo polêmico. No dia 12 de abril, ela foi agraciada com o título de cidadã fortalezense, pela Câmara Municipal, graças à propositura do vereador Acrísio Sena, que assim como ela, integra o PT. A oposição questionou a legitimidade de se conceder tal honraria a quem pouco esteve na cidade durante sua trajetória política. Tentando justificar o prêmio, Dilma lembrou até da influência que teve de escritores e mulheres ilustres do estado em sua formação intelectual, além de ter destacado os projetos do governo Lula em parceria com o governador Cid Gomes e com a prefeita Luizianne Lins. Em termos nacionais e até globais, a pré-candidata petista apostou na transformação do país na quinta economia do mundo até o fim da década. Veja como ela acrewww.revistafale.com.br
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POLÍTICA
SANEAMENTO. “Para vocês terem uma ideia, em 2002, o investimento em saneamento não chegava a R$ 300 milhões de reais. Hoje uma cidade como Boa Vista, em Roraima, tem um investimento de R$ 500 milhões, sem falar nos investimentos de bilhões de reais que nós investimos aqui em Fortaleza”.
dita que isso será possível.
Mulher, família e Lei
Orgulhou-me receber essa homenagem porque essa é uma terra de mulheres guerreiras, que estão inscritas na história desse país e na história de Fortaleza, que elegeu a primeira mulher prefeita de capital. Uma mulher cearense que eu também considero muito especial é a Maria da Penha Maia Fernandes, ela inspirou pela sua coragem, pela sua indignação, pelo seu inconformismo, uma lei muito importante para 52% da população brasileira. Nós mulheres somos 52% da população e mães dos 48% restantes. E a Maria da Penha inspirou essa legislação de proteção à mulher. E eu quero dizer que nós não recuaremos nessa luta contra a violência que afeta e que atinge a mulher. Eu falo isso ainda no plural porque eu vivi isso dentro do governo Lula. Ao atingir a mulher, atinge
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quando a mulher é espancada, Estou convencido lher, o que se fere é toda a família. É um que corrói, é um exemplo de que a Dilma vai exemplo que destrói. Por isso, nós jamais retrocederemos um passo na lei Maria ser a próxima presidente da Penha. do Brasil. A campanha está Habitação e saneamento apenas começando, vai Os últimos projetos de envergadura de habitação popular remoncomeçar mesmo a partir tam ao BNH – Banco Nacional de Habitação. E mesmo naquela época, de junho. O Brasil está no auge, acumulando todas as intervenções, foram feitas 500 mil casas. de parabéns por ter os De lá para cá, as populações se aglomeraram nas grandes cidades. candidatos que tem. Como não tinha política habitacional LULA
a família. E uma nação será sempre avaliada e julgada pela capacidade de proteger a família, os filhos, as mulheres. Esta é uma legislação que atinge o coração do Brasil porque mais que ferir a muwww.revistafale.com.br
foram para beiras de rios, fundos de vales, beiras de córregos, encostas de morros, todos os lugares eminentemente arriscados, em termos não só de qualidade de vida, mas, sobretudo, da própria vida por serem locais onde as pessoas podiam morrer. Esse processo nós começamos a
FOTO agência petrobras
estratégia. A campanha de Dilma Rousseff deverá ser embalada pelos investimentos do Programa para Aceleração do Crescimento (PAC) e pela alta popularidade do presidente Lula. O grande desafio é conseguir associar a imagem de Dilma ao governo Lula. alterar, entre outras coisas, porque nós investimos de forma significativa em saneamento. Para vocês terem uma ideia em 2002, o investimento em saneamento não chegava a R$ 300 milhões de reais. Hoje, uma cidade como Boa Vista, em Roraima, tem um investimento de R$ 500 milhões, sem falar nos investimentos de bilhões de reais que nós investimos aqui em Fortaleza. Isso em coleta a tratamento de esgoto. Como uma cidade vai poder ser desenvolvida, se não tiver tratamento de esgoto e coleta? Como uma cidade vai poder proteger seus moradores se não puder oferecer moradias e casas dignas? Como uma cidade vai poder fazer a prevenção de enchente se ela não tiver ou se o governo federal não tiver uma política de drenagem?
Foco no Nordeste
Eu acho que o Brasil sempre olhou o Nordeste com olhares bra-
No Brasil combinamos essas duas luzes: levar luz elétrica para doze milhões de famílias e ao mesmo tempo iluminar essa questão da libertação e da emancipação do povo. dilma rousseff
sileiros. É chegada a hora de o Nordeste olhar para o Brasil com olhares nordestinos e com olhar cearense. Eu acho que o presidente Lula, de certa forma, fez isso. Ele olhou para o Brasil, com um olhar que vinha aqui do Nordeste, de uma pessoa que foi retirante. Daí porque nós temos esse www.revistafale.com.br
imenso compromisso com o BolsaFamília. Daí porque nós tivemos esse compromisso com o Luz Para Todos. Porque não é só garantir que as pessoas comam três vezes ao dia, o que é fundamental. É pouco? Mas é muito para um país em que se achava que não devia fazer isso, que primeiro era preciso desenvolver para depois distribuir. Mas eu acho outra coisa fantástica é a percepção do “Luz Para Todos”, que é trazer pessoas do século XIX para o século XXI. Elas estão no século XIX, sem luz elétrica. Eu acredito também que o Ceará tem essa característica que o José do Patrocínio chamou de “Terra da Luz”. Essa luz que ele se referia era outra luz, a de quem primeiro aboliu a escravidão. Então, no Brasil combinamos essas duas luzes: levar luz elétrica para doze milhões de famílias e ao mesmo tempo iluminar essa questão da libertação e da emancipação do povo. ABRIL de 2010 | Fale
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POLÍTICA FOTOs jarbas oliveira
aliança. A candidata ao lado do vice-presidente José Alencar e do presidente Lula, em fevereiro, no Congresso do PT. No evento, foram discutidas as alianças políticas, as táticas eleitorais e o programa de governo de Dilma
Infra-estrutura no Nordeste
Nós tivemos o cuidado de modificar a forma como se investe em infraestrutura no Brasil. É por isso que o presidente Lula não descansa e nenhum ministro descansa enquanto não se implanta a transnordestina, porque a transnordestina vai ligar o Porto do Pecém ao Porto de Suape, mas também ao de Eliseu Martins. Vai construir um eixo de desenvolvimento, de escoamento da produção de grãos, de minérios e de bens energéticos. Nós também estamos fazendo a transposição de bacias, apesar de termos sido muito criticados pela interligação da bacia do São Francisco, que vai permitir que mais de 20 milhões de pessoas que moram no semi-árido brasileiro tenham acesso à água, utilizando um percentual pequeno da água do rio. Eu queria lembrar que aqui em Fortaleza tinha termelétrica e não tinha gás suficiente. Em algum momento podia ser necessário que 24 | Fale!
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essas termelétricas funcionassem e não tinha gás para isso. Por isso foi instalado aqui esse terminal de regaseificação e por isso também nós acabamos de concluir o gasoduto do Nordeste que liga a malha do Sudeste à malha do Nordeste. Por isso, o Brasil vai estar interligado de gás, de Fortaleza à Porto Alegre. E agora o petróleo do pré-sal, o petróleo da Bacia de Campos e, inclusive, o petróleo que vem da Bolívia pode chegar aqui, o que antes não podia. Aqui antes era uma ilha em relação a todo o fornecimento de gás do Brasil. Daqui também vai poder vir o gás importado dessa unidade de regaseificação e chegar ao resto do Brasil.
Nordeste como protagonista
Eu acho que houve uma modificação da situação. Eu cresci ouvindo que o Nordeste precisava de ajuda, que precisava do apoio dos brasileiros das outras regiões. Mas o que nós vemos hoje depois de sete anos do governo Lula? Nós vemos o Nordeste www.revistafale.com.br
ajudando o Brasil a crescer. Pela primeira vez o Nordeste não só é parceiro, como é protagonista do desenvolvimento do Brasil. Os economistas dizem que nessa crise de 2008 para 2009, que foi a maior crise depois de 1929, aconteceu que aqui no Nordeste o crescimento do comércio varejista se deu em taxas que a gente chama de asiáticas, chinesas. Aqui o Brasil cresce mais rápido e cresceu mais rápido. As estatísticas estão aí para se ver. É fruto de uma mudança na forma de ver a economia do nosso país. É fruto do novo padrão de desenvolvimento que combinou duas coisas: crescimento com distribuição de renda pessoal, portanto social, e regional. Não foi só a mudança na distribuição pessoal da renda, mas também uma quantidade muito expressiva de investimentos começou a ser feita aqui no Nordeste. Juntou-se isso ao empreendedorismo do próprio Nordeste e se configurou uma realidade em que o mercado interno foi quem segurou a
nossa economia diante da crise. E por isso, com certeza, se nós tivemos uma das situações menos graves diante da crise se deveu ao fato de que aqui no Nordeste não houve um declínio tão pronunciado como houve em outras regiões do país. Não só o consumo aqui foi muito significativo, com o comércio varejista aqui no Ceará, por exemplo, atingido níveis extremamente altos, mas também o crescimento industrial, o investimento. Para se ter uma ideia, o Ceará teve a maior taxa de crescimento do emprego em 2009. Dos 955 mil empregos que nós criamos no ano da crise, uma grande parte foi gerada no Nordeste e aqui no Ceará. Quem contribui para isso? O Bolsa-Família contribuiu porque uma parte que não consumia passou a consumir. O aumento do salário mínimo acima da inflação também contribuiu. O crédito também contribuiu. Esse era um país estranho. O crédito no Brasil não chegava a 400 bilhões de reais, no início de 2003. Hoje, o volume de crédito, com dados de fevereiro, é de 1 trilhão e 400 bilhões de reais. Ou seja, nós aumentamos R$ 1 trilhão em recursos, injetamos na economia e sem obras de infraestrutura. Isso é muito importante porque por trás de tudo isso o que importa são as pessoas. É o homem, a mulher e a criança desse país. Nesse período a renda do nordestino cresceu 77%.
Mobilidade social
O que é, de fato, esse tal de desenvolvimento com distribuição de renda? É o desenvolvimento com o povo melhorando, subindo de vida, é a mobilidade social que tira mais de 24 milhões de brasileiros da situação de miséria e que tira da classe D e E mais de 30 milhões de brasileiros. Isso faz com que hoje, se você somar as classes A, B e C nós tenhamos algo como 70% da população nessa faixa de renda e mais de 53% disso na classe média. Isso significa comprar carro, computador, celular, casa. Porque ninguém terá condições de ter segurança pública se não tiver segurança pessoal, se não tiver um lar, se não tive onde criar seus filhos.
Quinta economia do mundo? Nós década
temos que olhar essa que entramos como
Pela primeira vez o Nordeste não só é parceiro, como é protagonista do desenvolvimento do Brasil. dilma rousseff
sendo a década em que nós vamos acabar com a pobreza no Brasil. Há um exercício internacional tanto de revistas e jornais de economia, como de consultorias, dizendo que o Brasil vai ser a quinta economia do mundo. O prazo é variado, mas cabe nessa década entre 2010 e 2020. Uns dizem que é 2014, outros que dizem que é 2016, outros que dizem que é 2018. Ser a quinta economia do mundo significa passar a França e a Alemanha, o que não é uma coisa trivial, nem tampouco simples. Mas eu acho que o potencial da economia brasileira é para isso. Nós modificamos as condições até da educação que vai ser uma variável estratégica, porque sem educação, sem escolas profissionalizantes, que nós voltamos a abrir, sem universidades, sem ensino básico fundamental nós nunca chegaremos a ser a quinta economia. Isso é fundamental e o presidente Lula tornou prioritário e por isso nós teremos também os recursos do pré-sal para a educação. A gente tem de ter clareza de uma coisa, para nenhum de nós vale a pena ser a quinta economia com o seu povo na décima nona, na quinquagésima posição. Para um país ser a quinta economia do mundo, o seu povo tem de acompanhar os benefícios dos seus ganhos. Foi isso que nós aprendemos e foi isso que nós provamos ser possível. A tese de que a gente, primeiro tinha de crescer para depois distribuir, se provou equivocada. O que nós percebemos é que quando a gente repartiu o ganho se operou o crescimento do bolo e não uma diminuição. Quanto mais a gente repartir o bolo, mais capacidade de investimento e consumo vai ocorrer nesse país. E 190 milhões comendo www.revistafale.com.br
o bolo é o que transforma esse país em uma grande nação.
O Brasil e os BRICs
Porque essas economias dos BRIC’s são denominadas emergentes? O que as distingue? Distingue o fato de serem países continentais, distingue o fato de serem geralmente países ricos. No Brasil, por exemplo, nós temos uma imensa riqueza na área agrícola, uma imensa riqueza no petróleo, uma imensa riqueza em termos de indústria diversificada. Temos hoje um agronegócio muito forte, competitivo internacionalmente. Temos uma agricultura familiar se expandido e sendo a base democrática no campo. Temos também 190 milhões de brasileiros, chegando a 200 milhões. Aliás, todos esses países são distinguidos pelo tamanho dos seus mercados internos. Porque muitos dos emergentes não têm o tanto de petróleo ou o tanto de agricultura que nós temos, mas têm mercado interno, são economias populosas. Nós temos de cuidar de transformar esses 190 milhões de brasileiros em consumidores, em trabalhadores, em empreendedores do campo e da cidade e isso é pré-condição para que eles se tornem cidadãos plenos de direitos. E aí nós temos outra característica muito importante, já somos a maior democracia desse grupo de países. Entre todos eles, somos a democracia mais estabilizada, com práticas mais abertas. Somos uma sociedade onde a liberdade de expressão prevalece, onde prevalece o direito de liberdade de imprensa.
Lula não é continuidade
Nós do projeto do presidente Lula, temos uma visão de que continuar esse projeto é fazê-lo avançar, mas estamos conscientes de que tem uma distinção que é a seguinte: nós criamos uma diferença em relação a toda história dos últimos vinte e cinco anos. Muitos querem dizer que houve uma continuidade, que nada mudou no Brasil, que tudo continuou o mesmo, nós não concordamos com isso. Nós achamos que o presidente Lula abriu o caminho para uma nova era de prosperidade para o futuro do nosso Brasil. n ABRIL de 2010 | Fale
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POLÍTICA
Conheça a história política de DILMA ROUSSEFF Nasceu em Belo Horizonte no dia 14 de dezembro de 1947. Tem formação como economista e está filiada ao Partido dos Trabalhadores PT – desde 2001. Foi ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula até o dia 31 de março de 2010, e é a précandidata apoiada pelo atual governo para as eleições à Presidência da República deste ano. Nascida em família de classe média alta, de origem búlgara, logo após o Golpe Militar de 1964 passou para a luta armada contra o regime,
tendo integrado as organizações COLINA e VAR-Palmares. Ficou quase três anos presa, entre 1970 e 1972, quando chegou a ser torturada. Reconstruiu sua vida no Rio Grande do Sul, onde junto com o companheiro Carlos Araújo ajudou na fundação do Partido Democrático Trabalhista – PDT. Exerceu o cargo de secretária municipal da Fazenda de Porto Alegre no governo Alceu Collares e mais tarde foi secretária estadual de Minas e Energia, tanto naquele governo como no de Olívio Dutra, no
meio do qual se filiou ao PT. Participou da equipe que formulou o plano de governo na área energética na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República em 2002, onde se destacou e foi indicada para titular do Ministério de Minas e Energia no ano seguinte. Novamente reconhecida por seus méritos técnicos e gerenciais, foi nomeada ministra-chefe da Casa Civil após o escândalo do mensalão, que levou à renúncia do então titular da pasta José Dirceu. n
Conheça a história política de josé serra Nasceu em São Paulo, no dia 19 de março de 1942. Tem formação como economista e está filiado ao Partido da Social Democracia Brasileira – PSDB – desde sua fundação em 1988. Em 2006 foi eleito governador do estado de São Paulo, sendo até hoje o único eleito já em primeiro turno. Ocupou o cargo de governador do estado no período de 1 de janeiro de 2007 até 2 de abril de 2010, quando renunciou ao cargo para se candidatar pela segunda vez à Presidência da República. Na juventude foi eleito presidente 26 | Fale!
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da União Nacional dos Estudantes – UNE – e perseguido pelo regime militar instalado em 1964 foi para o exílio na Bolívia, França e Chile, quando chegou a ser preso, além de Itália e Estados Unidos. Serra exerceu também os mandatos de deputado federal constituinte, entre 1987 e 1991, deputado federal, entre 1991 e 1995 e senador, entre 1995 e 2003, os cargos de Secretário de Planejamento de São Paulo, entre 1983 e 1986; de ministro do Planejamento e Orçamento, em 1995 e 1996; de ministro da
Saúde, entre 1998 e 2002 e ainda prefeito de São Paulo, nos anos de 2005 e 2006. José Serra foi candidato à Presidência da República pela coligação PSDB-PMDB em 2002, tendo sido derrotado no 2º turno por Luiz Inácio Lula da Silva. Serra tornou-se o único précandidato a Presidência da República pelo PSDB para as eleições brasileiras de 2010, diante da desistência oficial de seu competidor, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, anunciada em 17 de dezembro de 2009. n
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Dilma tem duas coisas importantes: competência com debate político, e uma mulher sem rancor, sem mágoa, depois de passar pela barbárie da tortura que ela passou. presidente lula
É melhor estar em dúvida entre dois grandes candidatos do que ter que inventar um, como o Lula fez. TASSO jEREISSATI,
criticando antecipação do nome de Dilma Rousseff e sobre a candidatura do PSDB para presidência em 2010
Pensata
Em cada cabeça uma sentença
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Por Wilson Ibiapina
uando o deputado mineiro Paulo Delgado voltou de uma viagem à China trouxe na cabeça um provérbio tibetano, que ele ouviu por lá: “Quem fala bem de nós nada nos ensina”. O deputado petista, professor e didático, explicava: o elogio fácil piora o caráter do elogiado. O ex-deputado cearense Carlos Virgílio Távora carregava na agenda esses versos de Álvaro Moreira; “Um dia acreditei na vida/ E ela em mim/ Depois
mas os ditos sentenciosos, você encontra hoje em dia, com a maior facilidade, até na Internet. Muita gente gosta de citar provérbios, e faz com tanta propriedade que encaixa na conversa como luva em mão. O colunista Gilberto Amaral, que vive dizendo que “caixão não tem gaveta”, podia escrever que o jornalista Pedro Rogério disse que “O cão sonha com o osso”, que todas acreditariam, pois tem o jeito dele. Esse, italiano,“A sabedoria vem de escutar; de
“Difícil é ganhar um amigo em uma hora; fácil é ofendê-lo em um minuto”. “Se você quer manter a sua cidade limpa, comece varrendo diante de sua casa”. “Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida”. Os árabes também sabem se expressar de forma sucinta e rica em imagem: “Em dia de vitória ninguém fica cansado” ´ “Não é o que possuímos, mas o que gozamos, que constitui nossa
desandamos a rir/ Um do outro”. Anexim era peça de resistência dos famosos almanaques que os laboratórios de medicamentos distribuíam, como brinde, nas farmácias de todo o país. A expressão “cultura de almanaque” era usada para identificar de forma pejorativa as pessoas falantes que citavam fatos históricos e provérbios para demonstrar conhecimento. As Seleções também usavam e abusavam de máximas como “Estava triste porque não tinha sapato. Ao virar a esquina vi um homem que não tinha pé”. Ou Confúcio: “Não me preocupo quando as pessoas não me conhecem, mas sim, quando não as conheço”. Os provérbios nunca saíram de moda. Os almanaques, como o Capivarol, desapareceram,
Quando o Sol surgir no horizonte, não importa se você é leão ou gazela. Corra.
abundância.” E os judeus? “Não há melhor negócio que a vida. A gente a obtém a troco de nada.” Provérbio turco: “Quando o machado entrou na floresta as árvores disseram: o cabo é dos nossos”. Um russo: “Saber demasiado é envelhecer prematuramente”. E para sua reflexão: “Toda manhã, na África, uma gazela acorda. Ela sabe que deverá correr mais rápido do que o leão, ou morrerá”. “Toda manhã, na África, um leão acorda. Ele sabe que deverá correr mais rápido do que a gazela ou morrerá de fome.” Quando o Sol surgir no horizonte, não importa se você é leão ou gazela. Corra.n
falar, vem do arrependimento”, parece com o reservado Toninho Drummond. Jorge Ferreira, do Feitiço Mineiro, não disse mas podia dizer, que não pareceria estranho: “Pega-se o touro pelos chifres, o homem pela palavra e a mulher pelo elogio”. Os provérbios traduzem a sabedoria dos povos. Os chineses são mestres em sentença moral: www.revistafale.com.br
Wilson Ibiapina é jornalista, diretor do jornal Diário do Nordeste em Brasília ABRIL de 2010 | Fale
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Cultura o dia em que o maior médium brasileiro completaria 100 anos, chegou aos cinemas uma das maiores produções cinematográficas da história nacional, inspirada na vida do ícone do espiritismo no Brasil, o mineiro Chico Xavier. Orçado em R$ 12 milhões, Chico Xavier, O Filme foi dirigido por Daniel Filho e tem interpretações de nomes consagrados na dramaturgia brasileira, como Nelson Xavier, Ângelo Antônio, Luis Melo, Letícia Sabatella, Pedro Paulo Rangel, Tony Ramos, Christiane Torloni, Cássia Kiss, Paulo Goulart, Anselmo Vasconcelos, Ana Rosa, Giulia Gam e Giovana Antonelli. Baseado no livro As vidas de Chico Xavier, de Marcel Souto Maior, o filme é um campeão de bilheteria. “Sou ateu, assim como o Nelson [Xavier] e o Daniel [Filho]. Talvez por isso o filme tenha ficado como ficou: uma reconstituição dos altos e baixos da trajetória de Chico Xavier que é contada sem a intenção de converter ou de explicar a doutrina”, diz Marcel. O sucesso do livro se amplia agora no cinema.
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Chico
Xavier,
agora ele emociona nos cinemas do Brasil 28 | Fale!
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imersão. Nelson Xavier em soberba interpretação de Chico Xavier FOTO Ique Esteves
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C U LT U R A
E
ra o dia 2 de abril de 1910 na pacata cidade
mineira de Pedro Leopoldo. Nascia naquela data aquele que se tornou, anos depois, o maior nome do espiritismo no Brasil. Mais que isso, Francisco de Paula Cândido, o médium Chico Xavier, tornouse a maior referência mundial dessa doutrina desde a morte de seu decodificador, o francês de pseudônimo Allan Kardec. No dia 2 de abril de 1966, no Rio de Janeiro, nascia — coincidentemente no aniversário de 56 anos de Chico Xavier — aquele que seria o principal biógrafo do espírita, Marcel Souto Maior. Ligando esses dois personagens definitivamente – embora talvez um pouco menos por coincidência – no dia 2 de abril de 2010 – feriado cristão da sexta-feira da Paixão – estreou o longa-metragem “Chico Xavier, O Filme”, dirigido pelo cineasta e todo-poderoso executivo de televisão da Rede Globo, Daniel Filho. Isso porque o roteiro do filme – redigido por Marcos Bernstein, o mesmo roteirista de “Central do Brasil” – é uma adaptação da biografia “As Vidas de Chico Xavier”, publicada por Marcel em 2003. A plateia restrita que assistiu, em Fortaleza, a película, três dias antes da estreia oficial do longa-metragem, pôde rir, chorar e divagar com as muitas passagens da vida do médium mineiro retratadas no filme. Tudo isso ao lado de alguns dos responsáveis por levar a figura de Chico Xavier para o cinema. Dois dos atores que interpretaram o líder espírita em diferentes fases do personagem estiveram na cidade divulgando a produção: Matheus Costa, que encenou o médium quando menino, e Nelson Xavier que, além do sobrenome em comum, conferiu um realismo impressionante ao representar Chico maduro e contou com a ajuda de um bom trabalho de caracterização realizado pela equipe técnica do filme. Também estiveram na capital cearense divulgando o longa-metragem, os atores André Dias e Anselmo Vasconcelos, que interpretaram, respectivamente, o guia espiritual Emmanuel e o médium Perácio – que introduziu Chico Xavier no espiritismo. Além de Fortaleza foram exibidas avant-premières de “Chico Xavier, O Filme” em Pedro Leopoldo e Uberaba — cidades mineiras onde morou o espírita — bem como em Paulínia, no interior de São Paulo, e nas capitais Porto Alegre e no Rio de Janeiro. Nelson Xavier foi um dos que mais se envolveu com o enredo. Tendo no currículo, entre outros prêmios, o de melhor ator, no Festival de Brasília – pelas interpretações em “A Queda”, de 1978, e “O Mágico e O Delegado”, de 1983 – e também de melhor ator no Festival de Gramado – por “O Testamento do Senhor Nepomuceno”, de 1998 – Nelson já interpretou outro forte personagem da história bra30 | Fale!
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Daniel Filho, no dia em que decidiu dirigir o longa, teve uma crise de choro, embora estivesse muito feliz
sileira, o lendário cangaceiro Lampião – no filme para TV “Lampião e Maria Bonita”. Mas para o ator foi mesmo atuando em “Chico Xavier, O Filme” que ele viveu seu maior personagem. Ele representou o intervalo da vida do líder espírita que vai de 1969 até 1975. “O trabalho foi feito com grande entrega. Conhecer a figura de Chico Xavier foi uma experiência única. Comecei procurando um homem e acabei descobrindo um santo”, emociona-se. Aliás, a própria escolha de Nelson Xavier www.revistafale.com.br
para interpretar o médium foi envolta em muitas emoções e experiências, no mínimo, intrigantes. Ele revelou em diversas entrevistas que se sentiu escolhido por Chico Xavier para interpretá-lo, pois muito antes do filme começar a ser gravado, o ator foi abordado por um espírita que o interpelou dizendo que Nelson ainda faria esse papel. Tempos depois, o próprio biógrafo do médium mineiro mandou para o ator um livro de Chico Xavier acompanhado de um bilhete em que o incentivava a interpretar seu biografado um dia. Nelson Xavier disse também que nunca antes, em sua extensa carreira, pediu para fazer um personagem, mas que não conseguiu ficar parado ao saber que o filme seria rodado e ligou para o diretor Daniel Filho pedindo o papel. Quando os preparativos para as gravações começaram o envolvimento de Nelson com o personagem só cresceu. “A onda de emoção que me tomou à medida que eu me aproximava desse universo era tão intensa e forte que tornou tudo fácil. Eu não construí um personagem, o personagem me tomou. Foi a primeira vez que me aconteceu isso”, emocionou-se o ator. No último dia de gravações em uma cena gravada no jardim da casa em que morou Chico Xavier, Nelson, emocionado, começou a chorar profundamente. A atriz Renata Imbriani, que é espírita e se diz médium, chegou a afirmar que sentiu a presença imaterial do líder do espiritismo em volta de Nelson Xavier durante as gravações. “Estava aguardando a minha vez de entrar em cena e o Nelson estava gravando. De repente, vi uma porta entreaberta de onde saiu uma luz muito grande. Era o Chico. Ele apoiou o braço direito do Nelson e ficou todo o tempo energizando”, declarou. A propósito, Nelson Xavier não foi o único protagonista de histórias misteriosas que envolveram os bastidores do filme. Até mesmo o ateu convicto diretor Daniel Filho viveu uma experiência para a qual ele não tem explicação. Daniel Filho disse que no dia em que tomou a decisão de dirigir o longa-metragem foi contar isso à esposa, Olívia Byngton, e mesmo muito feliz, as lágrimas não paravam de lhe escorrer dos olhos.
MAKING OF. O diretor Daniel Filho conversando com os atores Nelson Xavier e Ângelo Antônio no cenário das gravações
Outros fatos que mexeram com a emoção dos envolvidos nas gravações foram as interrupções abruptas de chuvas no início de algumas gravações e a suposta manifestação mediúnica de uma figurante em cena. Mistérios e ceticismos à parte, o filme foi produzido com muito profissionalismo graças, em parte, à visão não-religiosa do diretor. Na verdade, justamente por tratar de um líder religioso, Daniel teve um receio inicial em dirigir a produção, mas foi convencido pelo diretor geral da distribuidora Columbia TriStar do Brasil, Rodrigo Saturnino, a aceitar o desafio, em memória do ex-diretor de televisão Augusto César Vannuci — espírita, amigo de ambos.
Escolhas.
Aceito o desafio, Daniel Filho começou a montar
o elenco. Isso, claro, excluindo Nelson Xavier, que pediu para fazer o papel e ficou incumbido de representar fatos que ocorreram na vida de Chico entre 1969 e 1975. Baseado no roteiro de Bernstein, que estava estruturado em três fases da vida do médium mineiro, o diretor escolheu os outros dois atores para representar Chico Xavier. Ângelo Antônio foi escolhido quase intuitivamente, devido às semelhanças físicas e interpretativas com Nelson, para representar o intervalo entre 1931 e 1959. Já Matheus Costa, após enfrentar uma maratona de testes, foi aprovado para viver nas telas a infância do líder espírita entre 1918 e 1922. O jovem ator teve de aprender até a rodar pião e aprendeu o sotaque mineiro em um workshop promovido pelos produtores do longa. Outro escolhido por meio de www.revistafale.com.br
testes foi o ator André Dias, até então com destaque apenas no teatro. Em entrevista à Fale! André Dias repetiu o entusiasmo de Nelson Xavier e qualificou o seu respectivo personagem – o guia espiritual Emmanuel – como o ponto alto de sua carreira. “Ninguém sai de um mergulho na vida de Chico Xavier, nem da oportunidade de contracenar com dois atores do calibre de Ângelo Antônio e Nelson Xavier impunemente, sem uma grande transformação. Eu acho que as pessoas vão passar por essa transformação ao assistir a esse filme (...) que resgata os grandes valores perdidos pela humanidade”, aposta o ator. São, aliás, as intervenções de seu personagem os momentos mais descontraídos do filme, pois o caráter disciplinador de Emmanuel contrasta ironicamente com o bom humor ingênuo do médium. ABRIL de 2010 | Fale
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C U LT U R A
Uma breve biografia de Chico Xavier
Nascido de uma família pobre em Pedro Leopoldo, região metropolitana de Belo Horizonte, era filho de Maria João de Deus e João Cândido Xavier. Educado na fé católica, Chico teve seu primeiro contato com a Doutrina Espírita em 1927, após fenômeno obsessivo verificado com uma de suas irmãs. Passa então a estudar e a desenvolver sua mediunidade que, como relata em nota no livro Parnaso de Além-Túmulo, somente ganhou maior clareza em finais de 1931. O seu nome de batismo Francisco de Paula Cândido foi dado em homenagem ao santo do dia de seu nascimento, substituído pelo nome paterno de Francisco Cândido Xavier logo que rompeu com o catolicismo e escreveu seus primeiros livros, e mudado oficialmente em abril de 1966, quando da segunda viagem de Chico aos Estados Unidos.
Mas se “Chico Xavier – O Filme” revela bons novatos, o filme reuniu uma verdadeira constelação da dramaturgia nacional. Luis Melo interpreta o pai do médium; Letícia Sabatella vive a mãe que se comunica espiritualmente com o filho; Giulia Gam interpreta a madrinha que fica responsável pelo garoto Chico por determinado tempo – quando comete brutalidades com o menino; Giovana Antonelli vive a madrasta, que se torna uma segunda mãe para o líder religioso; Anselmo Vasconcelos e Ana Rosa interpretam os médiuns que iniciaram Chico Xavier na doutrina espírita; Pedro Paulo Rangel interpreta o pároco da cidade de Pedro Leopoldo, amigo do espírita. Integram ainda o elenco, Christiane Torloni, Tony Ramos, Cássio Gabus Mendes, Cássia Kiss, Paulo Goulart, Rosi Campos, Carla Daniel e Ailton Graça. Ótimo elenco, diretor consagrado, história rica e polêmica baseada em fatos reais, emoção a cada cena, orçamento milionário – estimado em R$ 12 milhões – e um público potencial 32 | Fale!
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enorme, entre espíritas, simpatizantes e curiosos, com essa combinação o resultado não poderia ser outro. Já no fim de semana de estreia do filme veio a consagração com o recorde de espectadores no cinema brasileiro do período denominado de “retomada” – iniciado em 1994, com o filme “Carlota Joaquina, Princesa do Brasil”, de Carla Camurati. Nada menos que 590 mil pessoas lotaram as 377 salas de cinema em que o longa-metragem foi exibido no país. Até o dia 18 de abril já tinham assistido ao filme cerca de 2 milhões de pessoas. O Ceará tinha até então o terceiro maior público geral. A distribuição está sendo feita em parceria entre a Columbia, a Sony Pictures e a Downtown Filmes – a mesma de “Lula, O Filho do Brasil”.
cearense.
Produzido para ser flexibilizado, a fim de se desdobrar em microssérie de televisão, a versão para as telonas ficou em 125 minutos. O viés televisivo deveu-se às produtoras www.revistafale.com.br
Globo Filmes e Lereby – de Daniel Filho. Mas o que nem todos sabem é que há uma produtora cearense envolvida no projeto. É a Estação da Luz, do empresário e produtor de cinema Luiz Eduardo Girão – que investiu cerca de R$ 1 milhão. A produtora foi chamada para trabalhar em cima do longa-metragem, devido à experiência com a temática espírita e, principalmente, devido ao sucesso inesperado que fez um de seus filmes, “Bezerra de Menezes, O Diário de um Espírito”. Com baixíssimo orçamento e concebido inicialmente para ser um documentário, o filme foi visto por mais de 500 mil pessoas e já vendeu mais de 45 mil cópias em DVD. Girão acredita que está se consolidando uma nova tendência no cinema nacional. Depois de tantos filmes ambientados em favelas — com destaque para Cidade de Deus – tendo a criminalidade como temática principal, ele vê um potencial muito grande para produções que abordem a espiritualidade. “Esse tipo de filme é o nosso verdadeiro pré-sal. Essa temática está em evidên-
O mais conhecido dos espíritas brasileiros contribuiu para expandir o movimento espírita brasileiro e encorajar os espíritas a revelarem sua adesão à doutrina sistematizada por Allan Kardec. Sua credibilidade serviu de incentivo para que médiuns espíritas e não-espíritas realizassem trabalhos espirituais abertos ao público. Chico é lembrado principalmente por suas obras assistenciais em Uberaba, cidade onde faleceu. Nos anos 1970 passou a ajudar pessoas pobres com o dinheiro da vendagem de seus livros, tendo para tanto criado uma fundação. Segundo biógrafos, a mediunidade de Chico teria se manifestado pela primeira vez aos quatro anos de idade, quando ele respondeu ao pai sobre ciências, durante conversa com uma senhora sobre gravidez. Ele dizia ver e ouvir os espíritos e conversava com eles. Aos 5 anos conversava com a mãe, já desencarnada. Na casa de sua madrinha, foi
cia no mundo inteiro. Na literatura, por exemplo, Zíbia Gasparetto tem 10 milhões de exemplares vendidos. O Divaldo Franco que é considerado um sucessor do Chico Xavier, o maior médium brasileiro depois de Chico, já vendeu 8 milhões de exemplares. A movimentação dos espíritas é fundamental, mas a divulgação na grande mídia facilita o alcance a um público de todas as religiões”, explica o produtor. De fato, para este ano estão previstas novas produções. Os cineastas cearenses Glauber Filho e Joe Pimentel, associados ao cineasta brasileiro, radicado nos Estados Unidos, Gerson Saginatto, começaram, em Guaramiranga, as gravações de “As Mães de Chico Xavier”, inspirados no segundo livro do jornalista Marcel Souto Maior, “Por Trás do Véu de Ísis”, que narra histórias verídicas de mulheres que perderam os filhos e encontraram consolo nas cartas psicografadas pelo médium mineiro. Na nova produção do cinema transcendental cearense, o ator Nelson Xavier repete a interpretação de Chico.
muito maltratado, chegando a levar garfadas na barriga. Aos sete anos de idade, saiu da casa da mesma para voltar a morar com o pai, já casado outra vez. Ele, para ajudar nas despesas da casa trabalhava e estudava em escola pública. Por conseqüência, dormia apenas sete horas por dia. No ano de 1924, terminou o curso primário e não voltou a estudar, começando a trabalhar como auxiliar de cozinha em um restaurante no ano de 1925. No mês de maio de 1927, participou de uma sessão espírita onde vê o espírito de sua mãe, que lhe aconselha ler as obras de Allan Kardec, em junho ajudou a fundar o Centro Espírita Luiz Gonzaga, e em julho inicia os trabalhos de psicografia escrevendo 17 páginas. Em 1928, aos 18 anos, começou a publicar suas primeiras mensagens psicografadas nos jornais O Jornal, do Rio de Janeiro, e Almanaque de Notícias, de Portugal. Em 22 de maio de 1965, Chico
Luiz Eduardo Girão. Empresário cearense que investiu cerca de R$ 1 milhão no filme sobre Chico Mas o filme que já está alvoroçando os apreciadores do cinema espiritualista é “Nosso Lar” – com estreia prevista para setembro – baseado no livro mais vendido de Chico Xavier. O livro teria sido ditado por um médico falecido no início do século XX, chawww.revistafale.com.br
Xavier e Waldo Vieira viajaram para Washington, Estados Unidos, a fim de divulgar o espiritismo no exterior. Lá estudaram inglês e lançaram o livro The World of The Spirits. Chico Xavier faleceu aos 92 anos de idade em decorrência de parada cardíaca. Conforme relatos de amigos e parentes próximos, Chico teria pedido a Deus para morrer em um dia em que os brasileiros estivessem muito felizes, por isso ninguém ficaria triste com seu passamento. De fato, o país festejava a conquista da Copa do Mundo de futebol de 2002 no dia de seu falecimento. Chico foi eleito o mineiro do século XX, seguido por Santos Dumont e Juscelino Kubitschek. Antes de sua morte, ele havia deixado uma espécie de código com pessoas de sua confiança para que pudessem ratificar sua presença quando houvesse um contato. Já nos aproximamos do décimo ano de sua morte e nenhum contato foi confirmado. n
mado André Luiz, e narra o cotidiano de uma cidade espiritual. Prometemse muitos efeitos especiais para retratar as cenas desse mundo imaterial. Quanto à “Chico Xavier, O Filme”, Girão acredita que o longa-metragem tem potencial para ultrapassar a marca de 6 milhões e pode superar o filme de maior bilheteria da “retomada”, “Se eu Fosse Você 2”, que teve 6,13 milhões de espectadores. Para o produtor, “o filme será uma invasão de amor nas telas. Ele vai mostrar que o amor vale a pena. As pessoas estão sedentas por isso. Vai ser juntar a fome com a vontade de comer. Acredito que as pessoas irão aos montes para o cinema”. A julgar pelo êxito dos projetos anteriores de Girão, não há mesmo motivos para duvidar. Além de ter criado a Estação da Luz, ele organiza há dez anos a Mostra Brasileira de Teatro Transcendental. Junto com o próprio biógrafo e jornalista Marcel Souto Maior, Girão organiza ainda a Semana Chico Xavier, que em 2010 esteve na sua quinta edição.n ABRIL de 2010 | Fale
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brasília, 50 anos
Pérola do
Planalto Central Há 50 anos, a construção de Brasília vislumbrava a grandeza do futuro do Brasil. Hoje, para muitos, a capital federal é o retrato da corrupção e razão para a descrença de muitos brasileiros no destino do País. A visão de Juscelino e de seus colaboradores, porém, era bem diferente — Por Lívia Pontes
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História
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ara aqueles nascidos após 1960, nada mais natural do que afirmar: ‘a capital do Brasil é Brasília’. Essa simples frase foi motivo de um embate nacional há mais de cinquenta anos, dividindo o país com o ceticismo daqueles que, com razão, duvidavam da construção de uma cidade inteira, equipada para receber os centros de decisão do Brasil, em menos de quatro anos. Do outro lado, estavam aqueles que embarcaram numa missão inédita e, por sua magnitude, digna de tanto ceticismo. Atraídos pela liderança de Juscelino Kubistchek, a legião que comandou a construção de Brasília era heroicizada e difamada ao mesmo tempo, enquanto a nova capital era erguida.
A ambição política e um projeto de redistribuição populacional guiavam o 21º presidente da república, cujo governo foi marcado pela construção de uma nova capital federal para estimular o desenvolvimento do centro-oeste, ainda pouco habitado. Antes mesmo de ser presidente, Brasília era ponto chave do plano desenvolvimentista de JK. O sucesso ou fracasso desse plano dependia da construção da cidade – o legado governista e o futuro político do presidente Bossa Nova dependiam da inauguração triunfante de uma Brasília moderna e veloz.
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Mobilizando os quatro cantos do País, o projeto colossal foi iniciado. Para isso vieram os candangos do norte e nordeste, trabalhadores que construíram a cidade trabalhando dias inteiros, mesmo nos fim de semana e feriados, e não puderam usufruir de suas próprias construções. As más-condições de trabalho, as longas jornadas e o posterior isolamento dos trabalhadores nas regiões periféricas de Brasília antes mesmo de sua inauguração, são a parte mais sombria das memórias da formação da cidade. Quando, em 1956, o Congresso
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Nacional aprovou a criação da nova capital e da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, a Novacap, todo o processo se deu com uma velocidade estranha às obras públicas. Só naquele ano JK tinha visitado a região que seria a capital pela primeira vez. A mata fechada do cerrado, a falta de rodovias ou ferrovias dificultava e encarecia a construção, até hoje sem estimativa confiável de seu custo astronômico, que acarretou em déficits sentidos pelo sucessor de Juscelino, Jânio Quadros. Mas as obras não podiam parar, e a burocracia do governo inexistia para as construtoras e fornecedores de Brasília. Para a nova capital, tudo era exceção. Os envolvidos na empreitada de JK, por pouco mais de três anos, só tiveram olhos para o cerrado. Alguns deram a vida por isso, como foi o caso do diretor da Novacap, Bernardo Sayão, atingindo por um tronco de árvore nas obras. A convicção inabalável no projeto, que representava muito mais do que somente uma cidade, era necessária. Surgiu então a noção do “Espírito de Brasília” - todos os trabalhadores da construção foram tomados por ele, e uma parcela significativa do País apoiava os mudancistas. Construir Brasília representava um feito inédito no mundo àquela época; em menos de quatro anos, transformar o pó do cerrado em metrópole era motivo de orgulho num país onde tudo era difícil e demorado. O Chefe do Departamento de Urbanismo
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e Arquitetura da Novacap, Oscar Niemeyer, via a capital como a chance para um protótipo socialista de urbe, onde todos, independente de classe, compartilhavam dos mesmos bens materiais. E foi assim que viveram por algum tempo durante a construção, quando os acampamentos e a comida eram iguais para o idealizador de Brasília e os operários. Lucio Costa, vencedor do concurso do Plano Piloto, elaborou o projeto com a perspectiva de cidade definitiva: “Era uma mudança definitiva e eu concebi uma capital, uma cidade, com características de capital, uma escala de capital e capital. De modo que quando um carioca ou um paulista que fosse lá, mesmo no início... não se sentisse numa cidade-província”, disse certa vez em entrevista. Menos celebrado do que seu colega Niemeyer, Costa foi o urbanista responsável pelo projeto de Brasília. Com um trabalho ambicioso e moderno, o arquiteto obteve pouco reconhecimento em vida, e morreu esquecido no Rio de Janeiro em 1998, com uma pensão modesta de servidor público. Vencendo todos os obstáculos, Brasília desafiou os opositores ao ser inaugurada na data prevista pela lei do Congresso, aprovada para desmoralizar o presidente na ocasião, certa para os opositores, de atraso e esquecimento da obra. A oposição sabia que, eventualmente, tudo aquilo seria deixado para as moscas, como tantos outros projetos já feitos
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De Pampulha à Brasília eu segui o mesmo caminho, preocupado com a forma nova, com a invenção arquitetural. Fazer um projeto que não representasse nada de novo, uma repetição do que já existia, não me interessa. E nesse sentido, até Brasília eu caminhei. Mas senti que tinha que explicar as coisas, às vezes não era compreendido, que havia mesmo uma tendência a contestar essa liberdade de formas que eu prometia. Oscar Niemeyer
Do pó ao aço. A estrutura do Congresso Nacional em fase de construção. www.revistafale.com.br
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A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem. Oscar Niemeyer
nasce brasília. Do sonho de Juscelino Kubitschek e Oscar Niemeyer (foto abaixo) nasceu Brasília sob a crítica acirrada da oposição
começo de uma amizade. A foto abaixo, de 1940, quando conhece o prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, que o convida a desenvolver o projeto do Conjunto da Pampulha. Na evolução das coisas, Niemeyer contruiu sua maior obra, a cidade de Brasília, com ícones como a catedral (acima)
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GENTE DE TODO O PAÍS. Uma gigantesca frente de serviço, candangos fizeram Brasília à mão, ferro e fogo
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TU Ó R IAA CHI US LT
Obrigado pela profissão, iniciei uma série de artigos esclarecendo nosso trabalho, nossas dififculdades e atropelos, artigos que se foram somando, ampliando, até sugerirem alguns amigos a possibilidade de os organizar em forma de livro que permanecesse como um documento honesto e espontâneo do empreendimento. Oscar Niemeyer, sobre o livro que lançou em 1961, ‘Minha experiência em Brasília’
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Espero que BrasĂlia seja uma cidade de homens felizes: homens que sintam a vida em toda sua plenitude, em toda sua fragilidade; homens que compreendam o valor das coisas simples e puras um gesto, uma palavra de afeto e solidariedade. Oscar Niemeyer
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A vida é importante, a Catedral de Brasília: Na Catedral, por exemplo, evitei as soluções usuais das velhas catedrais escuras, lembrando pecado. E, ao contrário, fiz escura a galeria de acesso à nave, e esta, toda iluminada, colorida, voltada com seus belos vitrais transparentes para os espaços infinitos. oscar Niemeyer
O DF em números hoje População 2.455.903hab Densidade Demográfica 354,3hab/
Km² Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) 0,844 (0-1) Analfabetismo 4,35% Participação no PIB brasileiro 3,8% 42 | Fale!
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Fiz o que quis. Juscelino Kubitschek nunca me disse para projetar cúpulas no Congresso, rampa no Planalto, parlatório. Até que ficou direitinho. Se não houvesse parlatório, os presidentes ficariam acenando para o povo de uma janela, como se fossem papas. Seria ridículo. oscar Niemeyer
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do espaço. Brasília foi fotografada do espaço por um engenheiro da Nasa, o astronauta Soichi Noguchi, que faz parte da equipe que orbita a Terra na Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês). Feita na penúltima semana de abril mostra, com detalhes, o formato de avião do Distrito Federal. Noguchi postou a imagem em seu twitter @astro_ soichi.
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HI S T Ó R I A poderes. Executivo e Legislativo e Judiciário, na Praça dos Três Poderes
no País. Com a aproximação da data de inauguração, e claros indícios da vitória de JK, a oposição udenista tentou manobras até a última hora para impedir a mudança para a nova capital, o triunfo de JK e tudo o que ele representava. Liderada por Carlos Lacerda, que já havia declarado, “Ou Juscelino acaba com Brasília, ou Brasília acaba com ele!”, a UDN, e até facções do próprio PTB, partido aliado ao presidente, ainda no mês da inauguração, à 21 de abril de 1960, lutavam para instalar CPIs e inquéritos sobre os gastos das obras e a possível corrupção das construtoras envolvidas, as quais nunca ocorreram devido a falta de provas. Para acabar com as teorias conspiratórias, montou-se uma indústria pró-Brasília: um noticiário radiofônico sobre o andamento das obras infor44 | Fale!
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mava todos os cidadãos da veracidade do compromisso do governo, acalmando ânimos. Dezenas de edições da Revista Brasília foram publicadas com o mesmo objetivo, e palestras eram ministradas nas cidades sobre a construção. No dia 20 de abril, Juscelino deixava o Rio e o Palácio do Catete para o evento político que definiu seu legado, bem ou mal. A mudança da capital significava uma nova era na política brasileira, esperavam muitos. A Brasília de hoje, com mais de 2 milhões de habitantes – número inimaginável para Juscelino – preparava uma grande comemoração para os 50 anos da cidade de construções monumentais, feita para deslumbrar seus visitantes em frenético ritmo urbano. Paul McCartney ou Madonna, era essa a dúvida no governo do Distrito Federal para o grande show de comemoração, www.revistafale.com.br
quando o escândalo do ex-governador José Roberto Arruda, amplamente noticiado, diminuiu o ritmo e a magnitude dos eventos. A agenda oficial de comemoração contou com artistas brasilienses e nacionais, com destaque para Daniela Mercury e Paralamas do Sucesso na Esplanada dos Ministérios. Entre 17 e 21 de abril, o governo do DF desembolsou até R$10 milhões de reais na comemoração da capital. Só a metade da verba inicialmente prevista. Niemeyer, o escultor da cidade, ainda a presenteia com novas obras, mas as cidades-satélites, a poucos kilômetros do Plano Piloto, mostram o lado perverso do convívio urbano, que desde sua inauguração no meio do cerrado há 50 anos, isola e esquece a população necessitada, e continua a prestigiar a classe política que habita as ruas pré-planejadas de Brasília. n
cronologia Cidade
em construção
1823. Brasília começou a existir na primeira Constituinte no Império Brasileiro, em 1823, numa proposta colocada por José Bonifácio de Andrada e Silva, argumentando quanto à necessidade da mudança da Capital para um ponto mais central do interior do país e sugerindo ainda para a cidade o próprio nome com o qual foi batizada posteriormente.
1892. Nomeação da Comissão Exploradora do Planalto Central , a Missão Cruls, que dois anos depois demarca uma área de 14.400 km2 considerada adequada para a futura capital. Esta área ficou conhecida como o “Quadrilátero Cruls”. 1922. Em 7 de Setembro deste ano, é lançada a pedra fundamental de Brasília, próxima a Planaltina. Só em 1956 as obras se tornariam realidade, pelas mãos de Juscelino Kubistchek.
1955. Juscelino Kubistchek, candidato à presidência da República, lança o projeto de mudar a capital federal do Rio de Janeiro para uma cidade totalmente pré-planejada no Planalto Central. A capital resultaria em integração nacional, impulsionando fluxo migratório para o centroeste. A Comissão de Localização da Nova Capital Federal (que havia sido criada em 1953) escolhe o local definitivo onde será construída Brasília o “Sítio Castanho”. 1956. Eleito, o presidente Bossa Nova inicia o planejamento da nova capital. A Companhia
Urbanizadora da Nova Capital do Brasil, a NOVACAP, é fundada e as obras são iniciadas em pouco tempo. Da Companhia, seriam funcionários Lucio Costa e Oscar Niemeyer. Nesse ano, também foi lançado o edital do Concurso do Plano Piloto.
1957. O projeto do urbanista Lucio Costa para o plano piloto foi escolhido vencedor. Nesta data, construções como a do primeiro aeroporto e a do Palácio do Alvorada já haviam sido iniciadas. 1958. Iniciado o primeiro asfaltamento. Nesse ano, foi fundada Taguatinga (atualmente a mais importante cidadesatélite do DF), a primeira cidade-satélite de Brasília.
1959. Os cinco primeiros funcionários públicos da União tinham se mudado para Brasília, por meio de ato de JK. O presidente enfrentava problemas de financiamento para concluir a nova capital, símbolo de seu governo.
21 de abril 1960. Após três anos de obras, a nova capital, Brasília, é inaugurada por JK, com apenas a estrutura básica da cidade edificada. Às 9:30h do dia 21, os Três Poderes da República se instalaram simultaneamente em Brasília. 1961 – 1964. Durante os governos de Jânio Quadros e de João
Goulart, a construção da cidade e a transferência de órgãos da antiga capital (Rio de Janeiro) fica quase estagnada. A partir de 1964, Castelo Branco e os demais presidentes militares que o sucederam consolidam Brasília como a capital de fato do País.
Fontes: infobrasilia.com.br e gdf.df.gov.br
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P rimeira pess o a ... E foi nessa ocasião que conheci Juscelino Kubistchek, candidato a prefeito de Belo Horizonte. Fiz o projeto, que mostrei a Benedito, mas o assunto só foi retomado meses depois, quando JK, prefeito da cidade, novamente me convocou. No dia combinado voltei a Belo Horizonte com Rodrigo. Tornei a conversar com JK, que me explicou: ‘Quero criar um bairro de lazer na Pampulha, um bairro lindo como outro não existe no país. Com cassino, clube, igreja e restaurante, e precisava do projeto do cassino para amanhã’. E o atendi, elaborando durante a noite no quarto do Hotel Central o que me pedira. OSCAR NIEMEYER, em 1940, quando Conhece o prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, que o convida a desenvolver o projeto do Conjunto da Pampulha
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Entrei para a Escola Nacional de Belas Artes em 1929, quando ainda morava na casa de Laranjeiras. Gostava de desenhar e o desenho levou-me à arquitetura. Lembro-me que ficava com o dedo no ar desenhando. Minha mãe perguntava: ‘o que está fazendo menino?’ ‘Desenhando’, respondia com a maior naturalidade. Realmente, fazia formas no espaço, formas que guardava de memória, corrigia e ampliava, como se as tivesse mesmo a desenhar. Nos primeiros anos de escola, pouco compareci às aulas. Ajudava meu pai na tipografia e somente nas horas de folgas podia freqüentá-las. Mas em pouco tempo os assuntos da arquitetura — com a aprovação de meu pai — absorviam-me inteiramente. Passei os cinco anos da Escola Nacional de Belas Artes sem problemas, e fiz boas amizades. Amigos para toda a vida como Hélio Uchôa, Carlos Bittencourt, Milton Roberto, João Cavalcanti, Fernando Saturnino de Brito e outros. OSCAR NIEMEYER, que em 1929 Matricula-se na Escola Nacional de Belas
Artes do Rio de Janeiro, que seria dirigida, a partir de 1931, por Lucio Costa
Hoje, sábado, num desses momentos de ócio, lembrei que poderia escrever um livro contando minha vida e meus problemas de arquiteto, nesse curto passeio que o destino oferece. Um livro que definisse minhas atitudes e marcasse as razões e os sentimentos mais íntimos que influenciaram minha existência tão pouco importante de ser humano. O meu apego aos problemas da vida, deste universo fantástico em que vivemos sem para isso termos sido convidados. Um livro que mostrasse ter eu sempre encontrado tempo para pensar maior, sentir como a vida é injusta, como nossos irmãos mais pobres são explorados e esquecidos. Nele contaria minhas origens, defeitos e qualidades, minha descrença diante deste mundo absurdo e minha determinação de juntar-me aos mais bravos e com eles tentar melhorá-lo um pouco. E falaria também desse ser oculto que a informação genética inventou e dentro de nós existe, responsável em parte pelas nossas ações e atitudes. OSCAR NIEMEYER, No livro de memórias As curvas do tempo, 1998 www.revistafale.com.br
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Cultura
Rádio sem preconceitos Do heavy metal ao pop. A proposta do programa braziliense Cult 22 é tocar sem discriminar
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m janeiro de 1991, a segunda edição do Rock in Rio
levou milhares de pessoas ao Maracanã para que pudessem apreciar shows que, de um modo geral, eram raros chegarem aqui. O evento, além de movimentar a cena cultural do país e mostrar ao mundo que o Brasil não se limita ao Carnaval, serviu de inspiração para os jornalistas Carlos Marcelo e Marcos Pinheiro para montar um programa que tocasse o rock e o pop em todos seus estilos. Para a ideia se fortalecer faltou “apenas” que eles lessem a reportagem de uma revista, em julho do mesmo ano, sobre um programa especial da paulista Rádio Brasil 2000 FM apresentado por Joey Ramone — vocalista dos Ramones — que resgatou o rock desde os anos 60 até os 90. Daí para a estreia do programa Cult 22 foram apenas 3 meses. Com o slogan “Três horas de rock e pop sem discriminação”, o programa se propoe a dividir o mesmo espaço entre as várias vertentes dos dois estilos. Blues, Soul/Funk, Rap e música eletrônica também são bem-vindos. Com 3 horas de duração, o programa vai ao ar sempre às 22 horas - explicação para o número em seu nome - e, além de músicas, apresenta vários quadros, com informações, entrevistas e agenda de shows. O histórico de entrevistas é atraente. O próprio Joey Ramone foi o primeiro da lista. Depois vieram Bruce Dickinson e Steve Harris — do Iron Maiden — e Krist Novoselic e Dave 48 | Fale!
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Ghrol — do Nirvana, entre outros. Vários artistas brasileiros passaram pelo programa, como Rita Lee, Cássia Eller e Nando Reis. A ausência do nome de Renato Russo nessa lista é lamentável. Segundo a equipe do programa, foi o único que eles sempre quiseram, mas nunca conseguiram entrevistar. Apesar da presença maciça de estrelas da música nacional e internacional, o Cult 22 dá chance para quem está começando. Foi o caso das bandas Raimundos, Rumbora e Maskavo Roots, por exemplo, que receberam a ajuda do programa na divulgação dos seus trabalhos. Hoje, a apresentação fica por conta www.revistafale.com.br
Os jornalistas Marcos Pinheiro e Abelardo Mendes Jr. produzem e apresentam o programa. Rock e Pop desde os anos 50 Foto Taís Rocha
Para ouvir Todas as sextas, das 22h à 1h, pela rádio Rádio Cultura FM Para acessar O blog www.cult22.com/blog traz notícias sobre música, agenda de shows e festas, vídeos, downloads de mp3, etc. O slogan é “Rock, pop e internet sem discriminação” de Marcos Pinheiro — um dos idealizadores — e Abelardo Mendes Jr — que apresenta desde 2001. O programa é embalado por quadros de diversos tipos, incluindo um de comando feminino - Ruído Rosa — reservado para o trabalho de artistas mulheres. Na internet, o programa também se faz presente. O blog Cult 22 é uma extensão desse espaço que inclui vídeos, enquetes, programação, download em mp3 de coletâneas lançadas pelo programa e suas edições anteriores. Berço de nomes consagrados da música brasileira, Brasília merece um programa que resgate e lance boas músicas. Do heavy metal ao pop. n
NotasEconômicas Chega ao mercado Skol 360°, a cerveja com “bebabilidade”
AmBev apresentou ao mercado do Distrito Federal e Goiás a Skol 360º, aposta principal da maior marca do país no ano da copa. A nova cerveja foi desenvolvida após três anos de pesquisas e traz para o consumidor um novo líquido elaborado com fórmula revolucionária que atende a um apelo antigo de parcela do público cervejeiro: um líquido que não estufa, com “bebabilidade.” “Bebabilidade” é uma palavra criada especialmente para descrever o principal atributo da Skol 360°. “O objetivo central dessa estratégia de inovações é justamente atender com primazia as principais necessidades dos mais diversos consumidores em diferentes ocasiões de consumo”, afirma Diana Albuquerque, gerente de inovações de Skol.
Abril tem maior superávit comercial do ano, mas inferior
O superávit comercial do Brasil chegou a US$ 1,283 bilhão em abril, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Apesar de ser o saldo mensal mais alto deste ano, na comparação com abril de 2009 (US$ 3,693 bilhões), o resultado é 65,2% menor. Em janeiro, foi registrado déficit comercial de US$ 169 milhões. Em fevereiro, o superávit comercial foi de US$ 393 milhões e em março, de US$ 668 milhões. Em abril deste ano, as exportações somaram US$ 15,161 bilhões e as importações, US$ 13,878 bilhões.
nova legislação ambiental dos EUA
A
inda não existem definições
sobre as medidas internas que os Estados Unidos pretendem adotar para reduzir as emissões de gases que provocam o aquecimento global. Por enquanto, o tema está em discussão pelos parlamentares norte-americanos, mas as possibilidades de mudança deixaram os industriais brasileiros com receio de que sejam criadas novas taxas sobre os produtos importados, que elevariam os custos das exportações do Brasil. O alerta foi feito pela gerente executiva de Negociações Internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Soraya Rosar, no encontro “Comércio e Mudança do Clima: Uma Agenda para a Coalização Empresarial Brasileira (CEB)”, na sede regional da CNI, zona sul de São Paulo. “O que nós estamos querendo é antecipar eventuais problemas que possam surgir”, disse Rosar. Para o diretor do Departamento de Economia do Ministério de Relações Exteriores, Carlos Márcio Cozendey, ainda é prematuro fazer qualquer avaliação sobre o impacto no comércio mundial e mesmo sobre as exportações brasileiras porque tudo não passa de hipótese. Ele, no entanto,
observou que, se por um lado, “a transição para a economia de baixo carbono pode ter um custo em determinados casos, por outro pode ser uma fonte de inovações”, referindo-se à necessidade de desenvolvimento de novas tecnologias para quem quer se manter competitivo no mercado internacional. Entre as áreas que poderiam ser afetadas pelas regras de restrições ambientais estão as de papel, celulose e gráfica; refino de petróleo e petroquímica; produtos químicos e siderurgia. Na avaliação do professor titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Eduardo Viola, é pouco provável que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, venha a sancionar o projeto (a chamada emenda Waxman-Markey) ainda neste ano de 2010. A emenda define, de 2012 a 2020, metas de redução anual de 20% nas emissão de dióxido de carbono. Viola acredita que a medida possa ser aprovada no ano que vem.
Iguatemi amplia área de shoppings em Brasília O mais novo shopping da cidade, o Iguatemi Brasília funciona desde o dia 30 de março e reÚne em um só local moda, lazer, entretenimento e gastronomia. São 168 lojas e três mil vagas, sendo 1.800 cobertas, para receber brasilienses e visitantes. Criada há 30 anos, a Iguatemi Empresa de Shopping Centers S.A. é responsável por planejar, construir, implementar e administrar shoppings centers. Empresa com profundo conhecimento de moda e tendência de consumo, a Iguatemi www.revistafale.com.br
tem 11 shoppings em operação com 1.985 lojas, mais de 380 mil m² de área bruta locável e possui outros seis shoppings em desenvolvimento. Em 2011 serão 16 shoppings em operação acrescentando mais de 1.130 novas lojas, chegando em 2013 com 20 shoppings em operação, totalizando 400 mil m² de área bruta locável. Em 2007, suas unidades foram freqüentadas por mais de 10 milhões de clientes mensais. Está entre as 500 maiores empresas da América Latina em receita bruta. www. iguatemibrasilia.com.br
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Perigo nas contas externas Por Alcides Domingues Leite Junior
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Balanço de Pagamentos é o registro contábil de todas as transações que um país faz com o resto do mundo. Todo recurso que entra é registrado como positivo e todo o recurso que sai é registrado como negativo. De um lado são registradas as transações com mercadorias e serviços (balanço de transações corrente) e de outro as transações com investimentos diretos e aplicações no mercado financeiro (balanço de capitais). Quando o resultado em contacorrente fica negativo (déficit), para fechar as contas é necessário que o resultado do balanço de capitais compense este déficit. O resultado do balanço de capitais depende dos investimentos diretos estrangeiros (investimentos produtivos de longo prazo) e dos investimentos especulativos (investimento em bolsa e títulos da dívida pública, de curtíssimo prazo). Se o déficit em conta-corrente for coberto pelo superávit em investimentos estrangeiros diretos, tudo bem. Mas se a cobertura deste déficit depender dos investimentos especulativos estrangeiros, então é sinal que as contas externas do país estão mais vulneráveis. O capital especulativo, assim como entra, pode sair a qualquer momento. Além
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Quando o Balanço de Pagamentos ficar negativo, o dólar vai se valorizar frente ao Real, facilitando as exportações e dificultando as importações do mais, quando o país passa a depender do capital especulativo para fechar suas contas externas, o mercado começa a desconfiar e passa a exigir uma remuneração maior para suas aplicações no país. A partir de janeiro deste ano, o déficit do Brasil em contacorrente acumulado em 12 meses passou a superar o superávit em investimento direto estrangeiro, ou seja, o País começou a depender do investimento especulativo estrangeiro para zerar o Balanço de
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Pagamentos. É verdade que temos um bom volume de reservas em moedas estrangeiras (cerca de US$ 243 bilhões) para fazer frente a uma saída dos investimentos especulativos estrangeiros do País. Mas seria importante que não houvesse necessidade de mexer nestas reservas. Também é verdade que, quando o Balanço de Pagamentos ficar negativo, o dólar vai se valorizar frente ao Real, facilitando as exportações e dificultando as importações, situação que levará a corrigir o déficit do mesmo balanço de pagamentos. Isto, porém, demanda tempo, uma vez que nenhuma empresa consegue exportar do dia para a noite. Em suma: o governo precisa tomar medidas para corrigir o excesso de déficit em contacorrente. n Alcides Domingues Leite Junior é
professor de economia da Trevisan Escola de Negócios e autor do livro “Brasil, a trajetória de um país forte”, da Trevisan Editora Universitária. e-mail: alcides.leite@ trevisan.edu.br
A revista de informação do Ceará.
CEARÁ: MODA PRAIA E SURF, UM SUCESSO Revista de informação ANO VI — Nº 69 OMNI EDITORA
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Francisco Pinheiro, vice-governador do Ceará
O HOMEM DO PT NO GOVERNO CID Revista de informação ANO VI — Nº 70 OMNI EDITORA
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O educador fala
Os leitores da revista Fale! são decisores, pessoas que não abrem mão de informação de qualidade. Política e Economia são os principais temas da revista de informação. Fale! Quem decide, lê.
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Engenheiro, empresário e educador Tales de Sá Cavalcante da Organização Educacional Farias Brito diz o que pensa sobre política, educação e negócios
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