PESQUISA CNI: TEMPORADA DE OTIMISMO Revista de informação ANO I — Nº 9 BSB EDITORA
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Brasília
Cid Gomes, SOBRE A SUCESSÃO PRESIDENCIAL
“há espaço para outra candidatura”
“Eleição plebiscitária é risco enorme”
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ISSN 1519-9533
REVISTA DE INFORMAÇÃO
EDITOR&PUBLISHER Luís-Sérgio Santos EDITOR SENIOR Isabela Martin Editor Associado Luís Carlos Martins EDITOR DE ARTE Everton Sousa de Paula Pessoa e Jon Romano REDAÇÃO Adriano Queiroz, Lívia Pontes, Cinara Sá (estagiárias) ASSISTENTE DE ARTE Luís Sérgio Santos JR Revisão Francisco Gomes Segundo COLABORADORES Roberto Martins Rodrigues e Roberto Costa IMAGEM Agência Brasil, Reuters e-mail: fale@revistafale.com.br home-page: www.revistafale.com.br/brasilia Fale! é publicada pela Omni Editora Associados Lltda. Preço da assinatura anual no Brasil (12 edições): R$ 86,00 ou o preço com desconto anunciado em promoção. Exemplar em venda avulsa: R$ 9,00, exceto em promoção com preço menor. Números anteriores podem ser solicitados pelo correio ou fax. Reprintes podem ser adquiridos pelo telefone (85) 3247.6101. Os artigos assinados não refletem necessariamente o pensamento da revista. Fale! não se responsabiliza pela devolução de matérias editoriais não solicitadas. Sugestões e comentários sobre o conteúdo editorial de Fale! podem ser feitos por fax, telefone ou e-mail. Cartas e mensagens devem trazer o nome e endereço do autor. Fale! é marca registrada da Omni Editora Associados Ltda. Fale! é marca registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Copyright © 2010 Omni Editora Associados Ltda. Todos os direitos reservados. Impressão Halley Impresso no Brasil/Printed in Brazil. Fale! is published monthly by Omni Editora Associados Ltda. A yearly subscription abroad costs US$ 99,00. To subscribe call (55+85) 3247.6101 or by e-mail: df@fortalnet.com.br
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ArenaPolítica TalkingHeads Online BrasíliaOff Blogosfera
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POLÍTICA
e 14Corrupção desfaçatez.
O mensalão do DEM-DF, fartamente documentado em vídeos, expôs (de novo) entranhas sujas da política, agora estrelada pelo Governo do Distrito Federal. Conheça as 15 denúncias feitas sobre o esquema do governador Arruda
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26Cid Gomes e 2010
Ele não se considera um, mas pelo ritmo frenético com que se entrega ao trabalho, inclusive nos finais de semana, o governador do Ceará Cid Ferreira Gomes, engenheiro civil pela UFC, 47 anos em 27 de abril, tem o perfil exato de um workaholic.
imagem
economia
40Temporada otimista
O otimismo do empresariado brasileiro continua crescente e atingiu em janeiro 68,7 pontos, o maior índice já registrado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
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Microcrédito
O BNB é a “única” fonte de microcrédito do Brasil. Paul Singer destaca papel do Banco e diz que 10 a 12 milhões de empreendimentos precisam de microcrédito
SEÇÕES
8 Talking Heads 10 Arena Política capa: foto jarbas oliveira
11 Online 12 10 Perguntas 48 Persona
FOTO the miami herald
operação haiti
Esquecido e largado, só um terremoto calamitoso poderia colocar os holofotes do mundo sobre Haiti. Na foto, haitianos desesperados avançam sobre militares americanos que distribuem comida em operação das Nações Unidas. Os Estados Unidos, que controlam o espaço aéreo, foram criticados pela ONG Médicos Sem Fronteiras que alegou distorção de prioridades e do congestionamento no aeroporto de Porto Príncipe, a capital do Haiti.
“
Me ofende profundamente quem ataca nosso país, a generosidade de nosso povo e a liderança de nosso presidente ao responder as circunstâncias historicamente desastrosas depois do terremoto. Hillary Clinton www.revistafale.com.br
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TalkingHeads Candidaturas de Dilma e Serra olham para o passado.
marina silva, pré-candidata pelo Partido Verde à presidência da República na 10ª edição do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre
Se as pessoas continuarem planejando as cidades sem considerar os problemas ambientais, não só estarão indo na contramão da história, como estão prejudicando a vida das pessoas.
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idem
Foto Wilson Dias_Abr
A candidatura do Ciro está mantida. A decisão sobre o futuro do PSB toma o PSB. Os outros partidos devem respeitar as decisões que cabem ao PSB. Nossas decisões não serão tomadas por dirigentes de outras legendas. Nossas decisões serão tomadas pela nossa direção. É natural que o PT queira que Ciro desista. O partido pressiona de forma legítima porque considera melhor ele não ser candidato. Rodrigo Rollemberg (DF), líder do PSB na Câmara dos Deputados
As vezes os técnicos dão uma impressão que vai num sentido e muitas vezes o barato sai caro. Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores, em referência ao relatório da Aeronáutica que recomenda a compra de caças suecos, em detrimento do modelo francês, o preferido do governo brasileiro
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É um grande prazer estar de volta aqui no Brasil. É um país muito importante para nós. Vamos começar a trabalhar hoje, aprofundando a parceria para o Século 21. Thomas Shannon, novo
quando chegou a Brasília
ma i o r
embaixador dos Estados Unidos no Brasil,
t o r r e
A preocupação para Dubai é a de que o evento seja lembrado como uma segunda onda de arrogância. diretor regional para o Oriente Médio e o Norte da África da Economist Intelligence Unit, sobre a inauguração do maior prédio do mundo, o Burj Dubai, nos Emirados Árabes
David Butter,
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m u n d o
Vocês devem perguntar ‘por que estamos construindo tudo isso’? Para trazer qualidade de vida e um sorriso às pessoas e acho que devemos continuar fazendo isso. Mohamed Alabbar,
presidente da Emaar, construtora responsável pelo arranha-céu
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seç
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o o bama
Fui ver Avatar, em 3D. Apesar das marcas do cinema americano, onde o herói é deles, é uma superprodução fantástica, que merece ser vista. ALOIZIO MERCADANTE,
senador (PT-SP), sobre o novo filme de James Cameron, pelo endereço twitter/Mercadante
CRISTÓVAM BUARQUE,
senador (PDT-DF), pelo endereço twitter/ Sen_Cristovam
Manter a transparência das ações do Senado Federal é um passo definitivo. Não podemos deixar de fazê-lo.
Quando o sistema falha, é minha responsabilidade. presidente dos Estados Unidos, sobre a falha do serviço de segurança que não impediu a ameaça de um ataque terrorista no dia 25 de dezembro Barack Obama,
É mais do que uma intervenção do governo. É uma intervenção absolutamente antidemocrática e contra as liberdades fundamentais. Tasso Jereissati, senador pelo PSDB do Ceará, em uma crítica ao Programa Nacional de Direitos Humanos, lançado pelo presidente Lula, que propõe a criação de uma comissão que monitore as empresas de comunicação
É mais um gesto humanitário do presidente Lula, que notoriamente se caracteriza por este tipo de atitude.
Álvaro Araoz, cônsul da embaixada boliviana no Brasil, elogiando a anistia que o governo brasileiro deu aos estrangeiros que viviam irregularmente no país 20th Century Fox
Samuel Wainer twitter/ pinkywainer
Hollis Felkel,
presidente do Felkel Group, de comunicação política
Isto vai continuar porque a nação está em guerra. As armas continuarão falando. líder do grupo separatista angolano Forças de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC), responsável pelo ataque ao ônibus que transportava a seleção de futebol do Togo
As regras são claras: nenhuma seleção deve viajar de ônibus. Eu não sei o que os levou a isso. Virgilio Santos, uma
autoridade do Comitê Organizador da Copa Africana de Nações (COCAN), sobre as regras de segurança que a delegação do Togo não seguiu
senador (PT-SP), sobre a iniciativa do senador Demóstenes Torres de criar uma comissão para fiscalizar as contas da casa, pelo endereço twitter/esuplicy
pinky wainer, filha do
A retórica impressionante que ajudou Obama a se eleger criou expectativas irrealistas.
Rodrigues Mingas,
EDUARDO SUPLICY,
Pergunta do Twitter mudou , agora é “what’s happening?”. Só reparei agora. Isso muda todo o conceito. Assunto velho? Sou a última a perceber?
o bama
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Quer saber o que tenho feito, leia livros ‘É Possível’, ‘Como Fazer’, ‘Cristovam Fez’ ou entre no meu site.
ve r s u s
Eu acho que grande parte do sentimento que me moveu a fazer um filme como Avatar tem a ver com colocar na tela algo que não pode ser imediatamente explicado, que é mágico. James Cameron, diretor de cinema, sobre seu novo filme, Avatar
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Vejo a proposta de alteração dos critérios do Bolsa Família como uma manobra eleitoral. O governo perdeu a vergonha. Não tem limite. SÉRGIO GUERRA, senador,
presidente do PSDB, contra a proposta do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, de flexibilizar os critérios de acesso ao programa JANEIRO de 2010 | Fale
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ArenaPolítica revisão da lei da anistia, nova temporada de caça às bruxas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que foi um erro da Secretaria Nacional de Direitos Humanos incluir no novo plano setorial assuntos relacionados à Lei de Anistia. Contrariado com os conflitos desencadeados pela versão final do Programa Nacional de Direitos Humanos, Lula disse a auxiliares que esse tema deve ser tratado exclusivamente pelo Poder Judiciário, e não pelo Executivo. A Lei anistiou em 1979 todos os atos de autoridades e de opositores cometidos durante a ditadura militar. Uma revisão da Lei abre um flanco enorme e aponta para uma caça às bruxas aos militares da época.
obra sem licitação continua se arrastando
Da coluna Política do jornal O Povo, assinada por Kamila Fernandes, no domingo 9 janeiro de 2010: A obra do novo Beco foi contratada sem licitação para ser feita simplesmente pela maior doadora da campanha da prefeita Luizianne Lins (PT) em 2008, a Beta S/A. Passaram-se os 90 dias estabelecidos no contrato inicial, e nada da obra acabar. Um aditivo então foi feito, para mais 45 dias de construção e R$ 827 mil para a empresa, somando-se aos R$ 3,2 milhões já combinados. Esse prazo também já acabou. E 219 dias depois, os comerciantes do Beco continuam no mesmo lugar. Se não bastasse tudo isso, a Lei de Licitações ainda determina que só podem ter dispensa de licitação obras em situação de urgência que possam ser feitas em até 180 dias. O que a prática já demonstrou não ser o caso. 10 | Fale!
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empresas de paulo octávio são alvo
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ão bastasse o turbilhão que se abateu sobre o governo do
Distrito Federal com denúncias de evidente corrupção documentadas em vídeo, o Ministério Público entrou com cinco denúncias na Justiça Federal contra construtoras de Paulo Octávio (DEM). Em meio ao escândalo do “mensalão do DEM”, o grupo empresarial de Paulo Octávio é acusado de provocar um rombo de R$ 27 milhões aos cofres da Caixa Econômica Federal. O Ministério Público Federal entrou com cinco denúncias na Justiça Federal contra as construtoras. E o procurador da República Carlos Henrique Martins Lima cobra, entre outras coisas, a devolução do dinheiro à Caixa. Paulo Octávio seria o nome do DEM para suceder o governador José Roberto Arruda, que teve que deixar o partido assolado pelas denúncias de corrupção no governo. No centro das investigações como PO está o Brasília Shopping, um dos mais luxuosos da cidade, fincado em área nobre da capital federal.
O Ministério Público aponta uma série de irregularidades na construção feita em parceria entre o Grupo Paulo Octávio e o Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa. A sociedade ainda continua, e hoje é quem administra o shopping. O fundo tem 105 mil associados e um patrimônio de R$ 32 bilhões. O procurador lembra que o rombo prejudica “interesses das dezenas de milhares de pessoas” que participam do Funcef. Dos R$ 27 milhões de prejuízo, R$ 14 milhões referem-se a apenas uma das cinco denúncias. n
Fraga, outro alvo tucano de Dirceu O ex-ministro José Dirceu dispara contra Armínio Fraga, expresidente do Banco Central no governo FHC e atual presidente do conselho da BM&F Bovespa. Rebate de Fraga opiniões sobre o atual momento econômico brasileiro e as perspectivas para 2010. “Suas análises parecem funcionar bem a uma oposição sem rumo”, diz Dirceu. “Fraga é na economia o mesmo que setores da mídia têm sido na política para a oposição: uma tentativa de articular o discurso contra o Governo Lula, mas de forma dissimulada, sem dar a impressão de que se opôs às principais medidas da atual administração.” Dirceu com a palavra:
“Entre outras questões, Fraga defende que: cortar gastos públicos e adotar déficit nominal zero levariam a juros menores; o Estado tem avançado demais na economia e não se pode aportar tantos recursos no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social); é cedo para apostar em 5% de crescimento ao ano a partir de 2010 e, por isso, há excesso de otimismo no país; é preciso investir mais em infraestrutura e educação; e devemos chegar a uma taxa de investimento de 25% do PIB (Produto Interno Bruto). Comecemos pelo que não é destoante. O próprio Governo quer investimento de 22% a 25%
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do PIB. O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, disse isso em entrevista ao Estado de S.Paulo. Os números do investimento na indústria para 2010 vão nessa direção. Fraga não desconhece o aumento de investimentos públicos no atual Governo, em especial, na infraestrutura e na educação, áreas abandonadas por FHC.”
Online Crimes virtuais em alta
Computador pra toda hora
A praticidade é um dos critérios que mais interessam aos consumidores de tecnologia. E o que pode ser mais prático do que ter seu computador em qualquer lugar? Explicação: o designer alemão Eugêni Orkín desenvolveu uma tecnologia que permite ao usuário comandar seu computador à base do toque e a flexibilidade permitirá levá-lo enrolado no ombro, por exemplo. No futuro, combinando essa tecnologia à outras, segundo especialistas, as telas poderão se aposentar e as informações poderão ser projetadas em qualquer superfície, inclusive no nosso próprio corpo. Prático, não?
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Mais uma mordida da Apple
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epois do Mac, iPod, iPhone, a mais nova aposta da Apple é o iTablet. Ainda cercado de muitos boatos, o lançamento do computador, segundo o jornal The Wall Street Journal, está previsto para o final deste mês. O novo aparelho seria um dispositivo multimídia, com tela touch screen, entre 10 e 11 polegadas. Ainda segundo a publicação, o usuário poderá ver filmes e programas de televisão, acessar jogos, navegar na internet com conexão wi-fi, ler jornais e livros eletrônicos. O preço, como todas as informações sobre a nova tecnologia, está cercado de especulações, mas especialistas acreditam que será entre US$ 500 e US$ 1 mil. Se todos esses rumores forem confirmados (inclusive o de que Steve Jobs estaria trabalhando diretamente no desenvolvimento do aparelho), pode-se afirmar que o Kindle está prestes a ganhar um forte concorrente, pois outro boato é de que o iTablet pode ser a resposta de Jobs ao aparelho da Amazon.com.
Tribunal eletrônico na Polônia
Está funcionando em Lublin, na Polônia, o primeiro tribunal dedicado a solucionar casos judiciais pela internet. Com o serviço online, os envolvidos em disputas poderão acompanhar as informações dos processos de suas próprias casas, inclusive tomar conhecimento sobre o veredicto.Em um primeiro momento, o novo tribunal, composto por um juiz e 31 oficiais, deverá julgar apenas casos da área cível e, posteriormente, as atividades serão ampliadas. No Reino Unido e na República Checa, serviços semelhantes já existem e são eficazes, pois tornam o andamento dos processos mais rápido, menos burocrático e diminui os gastos, o que torna a justiça mais acessível. Caso o Brasil decida seguir os exemplos, um tribunal online poderia ajudar a resolver o tão antigo problema de lentidão da justiça nacional.
SP e Rio no Google
As cidades de São Paulo e Rio de Janeiro começaram a ser fotografadas pelo Google no começo de 2010. O trabalho faz parte do serviço de mapeamento que o site está desenvolvendo, o Street View. Através dessa ferramenta, o site fornece imagens digitalizadas das ruas sob uma perspectiva que o usuário poderá visualizar elementos urbanos com mais detalhes, como as fachadas. Os trabalhos nas duas cidades deverão durar entre três e quatro meses. Com todas as imagens capturadas, uma segunda etapa de trabalhos é iniciada, com o tratamento e edição de imagens, que deverá durar o mesmo tempo. O serviço, assim, só estará disponível no segundo semestre de 2010.
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Google lança smartphone O site Google começou a vender, no começo do ano, seu smartphone Nexus One nos EUA, Reino Unido, Hong Kong e Cingapura. O aparelho, com sistema Android 2.1, está disponível no site www.google.com/phone somente para os consumidores destes países e poderá ser vendido desbloqueado ou já vinculado a alguma operadora parceira da www.revistafale.com.br
empresa. O “superphone”, assim alcunhado pelo próprio criador, possui tela de 3,7 polegadas e pode ser adquirido por a partir de 179 dólares. Mas quem quiser a versão desbloqueada, pode desembolsar até 529 dólares. JANEIRO de 2010 | Fale
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O ano de 2009 não escapou à regra de ser mais um marcado por crimes, clássicos ou não. Entre os que vêm ganhando força nos últimos anos está o cybercrime, praticado por hackers que não perdem nenhuma oportunidade de atacar sistemas frágeis. As redes de relacionamentos são seus alvos freqüentes e, segundo um relatório publicado pela empresa de segurança McAfee, elas continuarão na mira em 2010. A empresa afirma que este ano será marcado pelo início da luta, com esforços globais, por uma legislação na área. Para o internauta, resta estar mais atento à sua vulnerabilidade online. Como se já não bastasse suas preocupações do cotidiano offline.
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10Perguntaspara
Kofi Annan O sétimo secretário-geral da Organização das Nações Unidas, ONU, fundada
em 1945, foi o visionário que reformou a instituição, durante seus dois mandatos entre 1997 e 2006, a partir da criação de aparelhos que hoje são essenciais para a resolução de conflitos e problemas mundiais, como o Conselho de Direitos Humanos, o Fundo para o Combate à AIDS, Tuberculose e Malária e as primeiras ações contra-terroristas da organização. Kofi Annan, 61, nasceu em Gana, África. Ganhador do prêmio Nobel da Paz em 2001 juntamente com a ONU e fundador da Fundação Kofi Annan, o ex-diplomata lutou publicamente para a resolução de conflitos que assolaram o Sudão e tentou impedir a guerra do Iraque, através de uma decisão contraditória e aplaudida mundialmente. Com o fim de seu mandato, o líder continua a defender os direitos humanos em todo o mundo, além do desenvolvimento do continente africano. É atualmente presidente do Fórum Global Humanitário em Geneva da ONU, e é parceiro de programas em assuntos internacionais da Universidade de Columbia, EUA. Em entrevista por e-mail à revista Time, com perguntas enviadas por internautas de todo o mundo, inclusive do Brasil, o ex-secretário brinca sobre sua ascensão ao mais alto posto da principal organização internacional nos últimos 65 anos, onde trabalhava há mais de 30 anos antes de administrá-la. Annan discute também perspectivas de resolução de questões como o aquecimento global e o papel da ONU nesta nova década do século XXI, caracterizada por problemas que necessitarão de um con-
O aquecimento global teve um impacto real no desenvolvimento econômico. Existem agricultores que já não podem cultivar a terra que alimentou seus pais e avós porque ela se transformou praticamente em deserto.
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senso alcançado entre todos os países para serem superados. O protocolo de Kyoto tem sido eficaz no combate à mudança climática? Kofi Annan. Ele tem sido eficaz no sentido de que ajudou a aumentar a conscientização. Obviamente, não podemos fingir que alcançamos tudo que o acordo de Kyoto tinha em mente, mas a conscientização está lá. As pessoas perceberam que, se não tomarmos providências para frear a mudança climática, iremos caminhar em direção a consequências catastróficas irreversíveis.
Qual é a comprovação para o aquecimento global perigoso, causado pelo homem? Kofi Annan. Cientistas altamente respeitados chegaram a um consenso em relação ao impacto do aquecimento global. Há um amplo consenso que nós devemos reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 50% até o ano de 2050. Qual a conexão entre aquecimento global e pobreza? Kofi Annan. O aquecimento global teve um impacto real no desenvolvimento econômico. Existem agricultores que já não podem cultivar a terra que alimentou seus pais e avós porque ela se transformou praticamente em deserto. Com a mudança nos padrões das chuvas, temos um sério problema com a produção de alimentos. Doenças estão se
movimentando cada vez mais rápido. Isso tudo por conta da mudança climática. O que o senhor considera como a maior realização da ONU durante sua administração? Kofi Annan. A luta contra a pobreza e o fato de que conseguimos fazer com que chefes de estado concordassem com metas para o desenvolvimento. Pela primeira vez, criamos uma agenda em comum para o desenvolvimento. Qual foi a maior falha da ONU durante sua liderança? Kofi Annan. Nossa incapacidade de conter a guerra no Iraque. Alguns de nós sabíamos que seria um desastre, e tentamos muito freá-la. Todos vemos os resultados. O senhor acha que a ONU deve adquirir autoridade para intervir militarmente em situações como a em Darfur? Kofi Annan. Não tenho certeza de que os estados-membros eswww.revistafale.com.br
tejam prontos para dar à ONU um exército permanente. Por dois anos, as operações da ONU em Darfur tem pedido 18 helicópteros. [Países membros dizem que] eles não tem isso. Ninguém pode fingir que o mundo não pode produzir 18 helicópteros. É uma questão de vontade. E eu não acho que você verá um exército da ONU. O que o senhor vê como sendo os maiores problemas para a ONU na próxima década? Kofi Annan. Um mundo em que extrema pobreza e imensa riqueza coexistem lado a lado simplesmente não é sustentável. Estamos tratando de problemas – crime, armas nucleares, doenças, gripe suína — que nenhum país consegue lidar sozinho. Como fazemos para que governos ajam em cooperação pelo interesse comum? Vimos um pouco disso durante a crise financeira. Houve um senso de desespero que os uniu. Agora que algumas pessoas estão correndo a frente para dizer que estamos fora da crise, estamos caindo novamente nos antigos hábitos de proteger nossos interesses nacionais. O senhor acha que a eleição do presidente Barack Obama trouxe mudanças na percepção do mundo em relação aos Estados Unidos? Kofi Annan. Eu acho que o presidente Obama começou muito bem. Há muita boa vontade e apoio a ele ao redor do mundo. Ele tem desafios enormes tanto [nos EUA] como no exterior. Acho que todos nós precisamos ajudá-lo a ter êxito, e devemos começar reduzindo as expectativas. Expectativas altas podem causar problemas para políticos. Como uma pessoa se torna Secretário-Geral da ONU? Kofi Annan. Por acidente. n JANEIRO de 2010 | Fale
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O senhor acha que os líderes mundiais estão se esforçando suficientemente para combater o aquecimento global? Kofi Annan. Acho que não. É por essa razão que precisamos da energia e do envolvimento de todos. Esse é o nosso planeta. Não podemos e não devemos deixá-lo só para os líderes.
Um mundo em que extrema pobreza e imensa riqueza coexistem lado a lado simplesmente não é sustentável. Estamos tratando de problemas – crime, armas nucleares, doenças, gripe suína — que nenhum país consegue lidar sozinho.
foto josé cruz _ ABr
Política
corrupção e O mensalão do DEM-DF, fartamente documentado em vídeos, expôs (de novo) entranhas sujas da política, agora estrelada pelo Governo do Distrito Federal Por Adriano Queiroz
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caixa dois e pagamento de propina a parlamentares e empresários em troca de apoio político parecem ter marcado a reeleição do tucano Eduardo Azeredo ao governo mineiro, em 1998, e a primeira eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, em 2002 e ganharam a alcunha de “mensalões”. Em 2003, foi a vez do então presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, do PP, ser acusado de favorecer um empresário do ramo de alimentação em um episódio chamado de “mensalinho”. No final de 2009, esse tipo de fenômeno mostrou ser mais comum do que se pensava e reapareceu nos noticiários, desta vez envolvendo o Democratas do Distrito Federal e a base de sustentação do governador José Roberto Arruda. Para piorar, Arruda é reincidente em lambanças políticas. s esquemas de corrupção envolvendo
e desfaçatez Virou moda ou esse é apenas um fenômeno antigo que está começando a ser descoberto agora? Essa pergunta pode ter passado na mente de muitos eleitores ao abrir os jornais nos dois meses finais de 2009. É que no dia 27 de novembro do ano passado vieram à tona os primeiros resultados das investigações da Po-
lícia Federal (PF) sobre o suposto mega-esquema de corrupção que funcionava no governo do Distrito Federal (DF). Em uma operação policial batizada de “Caixa de Pandora” (referência ao mito grego do surgimento das desgraças do mundo após a abertura de uma caixa pela deusa Pandora), a PF executou uma série
de mandatos de busca e apreensão nas casas e escritórios de diversas autoridades do governo do DF. As denúncias atingiram em cheio o próprio governador José Roberto Arruda, que era o único governador do Democratas (DEM), entre 27 unidades federativas. Isso porque o principal delator
15 descobertas feitas sobre o esquema de Arruda
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O governador do DF, José Roberto Arruda, teria montado uma estrutura para arrecadar dinheiro de empresas fornecedoras do seu governo A estrutura teria sido concebida pelo próprio Arruda através de uma planilha A base do esquema estaria concentrada nas secretarias de educação e saúde e em contratos de serviço de informática do governo Durval Barbosa seria um dos principais arrecadadores do
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esquema, indicado para a função pelo próprio Arruda O gabinete de Durval teria se transformado num caixa de banco, procurado por diversas pessoas em busca de dinheiro vivo Esta estrutura de corrupção beneficiaria assessores diretos do governador, deputados distritais e outros aliados O governador José Roberto Arruda seria o maior beneficiário do esquema. Ele nega. O vice-governador Paulo Octávio foi citado como outro
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beneficiário do esquema. Ele nega. Oito secretários ou presidentes de órgãos do governo foram citados como beneficiários do esquema. A maioria foi exonerada. Nove deputados distritais ou exdeputados foram citados como beneficiários do esquema Os parlamentares são acusados de receber dinheiro em troca de sustentação política O próprio presidente da Câmara seria beneficiário do esquema
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Pelo menos um conselheiro do Tribunal de Contas do DF, encarregado de aferir a boa aplicação dos recursos públicos, estaria envolvido no esquema Até a entidade filantrópica da mulher do governador foi apontada como beneficiária do esquema Pela primeira vez na história, o grosso das denúncias se baseia de filmagens que mostram autoridades de Brasília e o próprio Arruda manuseando ou recebendo dinheiro.
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POLÍTICA
E O VENTO LEVOU.
O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda e a cúpula do Democratas. Bons tempos, aqueles. Abaixo, Durval Barbosa: ele filmou toda a propinagem do esquema tinha mais que palavras ou documentos impressos a apresentar. Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais de Arruda, apresentou uma série de gravações mostrando membros do governo brasiliense recebendo ou entregando dinheiro, supostamente propina usada em esquemas de caixa dois (contribuições não declaradas) da campanha eleitoral ao governo do DF em 2006 e no pagamento a deputados da base governista em troca de apoio político. Em um desses vídeos, o próprio Arruda foi flagrado recebendo dinheiro. Em outro o presidente da Câmara Distrital, o deputado Leonardo Prudente, à época também no DEM, chega a colocar o dinheiro que recebe em suas meias. Ambos alegaram que o dinheiro vinha de contribuições legais de campanha eleitoral, segundo eles devidamente declaradas. Mas as ex-
plicações para a forma como essas supostas contribuições foram efetivamente recebidas deixaram a opinião pública com a sensação de estar sendo ridicularizada. Arruda disse que o dinheiro foi usado na compra de panetones para distribuir entre a população carente. Leonardo
Prudente, por sua vez, disse que colocou o dinheiro nas meias por uma questão de segurança.
Vítima.
Curioso é que exatamente no dia em que foi deflagrada a “Caixa de Pandora”, o governo do DF lançou edital de licitação para a compra de 120 mil panetones, em um indício de manobra para sustentar a defesa da tese excêntrica. Arruda se disse ainda “vítima de um complô urdido por um homem (Durval) que tem mais de 30 processos por corrupção, todos nos governos anteriores, com a ajuda de adversários políticos, e que, para se livrar da lama, jogou lama em todas
Trajetória política de José Roberto Arruda Década de 1970. Arruda começa a carreira na NovaCap, companhia responsável pela construção de Brasília. 1985. Torna-se diretor da CEB (Companhia Energética de Brasília), no governo de José Aparecido. 1986. Foi nomeado secretário de Transportes do Distrito Federal, ainda na gestão do governador José Aparecido. 1992. Fortalece a ligação com o grupo político de 16 | Fale!
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Joaquim Roriz. Entre 1992 e 1994 foi secretário de obras do GDF, na segunda gestão de Roriz. 1995. Foi eleito senador pelo PP com o apoio de Joaquim Roriz. 1996. Rompe com Roriz e filia-se ao PSDB. 2001. É acusado de violar o painel eletrônico que registrou os votos da sessão secreta que cassou outro senador do DF, Luiz Estevão, no ano 2000. Arruda negou com veemência a
participação na fraude do painel eletrônico. Dias depois voltou atrás. Decidiu renunciar para evitar o processo de cassação. 2002. Na sua volta ao cenário político, após o escândalo da violação do painel do Senado, foi eleito o deputado federal proporcionalmente mais votado do país, agora no PFL (atual DEM). 2006. Arruda foi eleito em primeiro turno o novo governador do Distrito
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Federal. Ele liderou todas as pesquisas de intenção de voto desde que anunciou sua candidatura e derrotou a tucana Maria Lourdes Abadia com o dobro da votação. Reconquista o apoio de Roriz. 2009. O ex-secretário de Relações Institucionais do GDF, Durval Barbosa, faz denúncias que iniciam o escândalo do Mensalão do DEM. No dia 10 de dezembro Arruda deixa o partido.
Trechos do diálogo que foi o estopim do escândalo Arruda. Tudo bom, Durval? Durval. Mais ou menos, né? Vamos olhar isso aqui primeiro? Isso aqui é o seguinte: isso aí foi do ???. Eu até perguntei pro Maciel se ele tinha alguma... Alguma soma, pra isso aí. Aí ele falou: Não, ele prefere conversar com você. Aí o que que aconteceu, o Gilberto foi doze, tirando os impostos, ficou novecentos e quarenta e oito. Aí antecipou a você. O Paulo... O Paulo Octávio [vice-governador do DF] mandou pagar cinquenta ao Giffone [Roberto Giffoni, corregedor-geral do DF] e cento e vinte ao Ricardo Pena [secretário de planejamento do DF]. Aí, o Toledo resolveu o caso desses... Dos meninos aí, que eu acho que é louvável, que é o Miquiles e o Nonô, tá? Arruda. Quem? Durval. Miquiles e Nonô. Miquiles cê sabe quem é. Nonô é o... foi o diretor lá. Que... Situação de penúria. Aí ficou, é... seiscentos e
vinte e oito. Seiscentos e vinte e oito, aí soma esses totais aí que chegaram, tá faltando chegar cem da Vertax, é... E tá faltando chegar... Aí o Gilberto tá faltando chegar, que dá um pouco. Aí vem o Re... A questão do conhecimento, do reconhecimento, dá uns nove, aproximadamente nove. Aí, vai uns setecentos e cinqüenta, oitocentos, por aí. Arruda. Hoje tem disponível isso aqui? Durval. Hoje, hoje tem isso aí pra você fazer o que cê quiser, pagar a missão. Agora, se for no... no... na coisa normal, no dia a dia, no comum, cê teria hoje quatrocentos disponível. Pra entregar a quem você quisesse. Arruda. Ótimo Durval. Tá? Mas se você tiver outra missão... Você fez muito acordo e eu não... Eu falei com o Maciel o seguinte, eu falei: Olha Maciel, tem que olhar o seguinte: ele fez muito acordo nesses negócios
as direções”. Além do governador, a denúncia de corrupção no DF envolveu os deputados Aylton Gomes (PR), Benedito Domingos (PP), Benício Tavares (PMDB), Eurides Brito (PMDB), Júnior Brunelli (PSC), Leonardo Prudente (ex-DEM, agora sem partido), Rogério Ulysses (ex-PSB, agora sem partido), Rôney Nemer (PMDB), além dos suplentes Beri-
(???) política. Então, tem que perguntar pra ele, pra gente não antecipar as coisas. Aí, quando veio esse negócio do Paulo Octávio, eu falei Puta! Já sacaneou de novo. Entendeu? Arruda. É. Durval. Mas se tiver de reclamar com você, e não fala pro Paulo Octávio pra primeiro te perguntar. Arruda. Ah é. Mas tô querendo [...] seguir as ordens do Paulo. Primeiro, fala comigo. Arruda: Deixa eu te perguntar, nesse valor aqui de nove, novecentos... novecentos e noventa e quatro, você já pegou sua parte? Durval. É foda! É encantamento. Encantamento é uma desgraça. Arruda. É. Deixa eu te perguntar uma coisa, é... somando as quatro daqui, quanto foi pago? Durval. Foi pago quinze bruto. Quinze... Quinze tudo. Quinze, quinze,
naldo Pontes (PP) e Pedro do Ovo (PRP). Durval Barbosa teria aceitado denunciar seu ex-chefe devido um acordo feito com a PF que envolveu delação premiada (em troca de redução de pena) e ingresso no programa de proteção de testemunhas. Pela semelhança entre o suposto processo de corrupção no governo Arruda com outros três anteriores, www.revistafale.com.br
quinze. Quinze. Do Gilberto foi pago doze. Cê multiplica aí por vinte ponto vinte e seis. O dele é maior um pouquinho, que é cinco a mais. É ponto vinte e seis, ponto cinco, dá novecentos e quarenta e oito. Aí ele tá, tá bancando. E... esse da Infoeducacional, olha aí como é que foi. Foi sessenta pro Valente, tá? Porque ele deu integral, não descontou nada. Só veio pro Valente. Deu sessenta pro Valente, sessenta pro Gibrail, mais o Fábio Simão, que são os donos lá da área financeira, né? E não pode... e não tem jeito. Aí, fico.... sobrou um sete oito. Arruda. Deixa eu te perguntar, nesse valor aqui de nove, novecentos... novecentos e noventa e quatro, você já pegou sua parte? Durval. Não, eu... Eu só pego quando cê acerta. Só pra pagar advogado. Arruda. Não. Mas tem que pegar a sua parte, ué. Nós pagamos é...
o escândalo do DF foi também apelidado de “mensalão”. A partir das primeiras denúncias, o caos político se instalou no Distrito Federal (com direito a ocupação da Câmara Distrital por estudantes), além de ter acontecido uma série de desfiliações, processos de expulsão e manobras políticas para evitar o impeachment de Arruda. n JANEIRO de 2010 | Fale
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cenários para a POLÍTICA
No Fórum Mundial de Juízes, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos disse acre social. O sociólogo português Boaventura de Souza Santos, diretor de Estudos Sociais da América Latina da Universidade de Coimbra Foto Elza Fiúza _ ABr
O
s avanços políticos conquistados na última
década na América Latina podem se perder nos próximos anos, na avaliação do sociólogo e jurista português Boaventura de Sousa Santos que participou do 6º Fórum Mundial de Juízes, em Porto Alegre. O evento antecedeu o Fórum Social Mundial (FSM), na mesma cidade. De acordo com o professor da Universidade de Coimbra, a instalação de uma base militar norte-americana na Colômbia e a eleição de um candidato de direita no Chile, Sebas-
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tián Miguel Piñera, no dia 18 de janeiro, são sinais de que a região passará por mudanças.
“Penso que a próxima década será mais problemática que a década passada”, disse. “Os Estados Unidos estão a olhar com muito mais atenção para a América Latina. As bases na Colômbia, obviamente, são um novo sinal do que está a passar”, afirmou. Na opinião do sociólogo, embora
a américa latina
editar que próxima década será mais problemática para a América Latina. Por Isabela Vieira se acreditasse que o neoliberalismo estava “enterrado”, a América Latina convive com problemas que ainda não foram resolvidos, como o trabalho escravo, a criminalização de movimentos sociais e a emergência de grupos paramilitares. — A questão paramilitar ocorre não só na Colômbia, mas na Venezuela, Bolívia e Equador. Acabo de vir do Equador e constatei assassinatos em série nas comunidades afroequatorianas. São as forças da direita que não aceitam mudanças”, destacou Boaventura, que foi consultor da reforma constitucional equatoriana, em 2008. Boaventura chama de “promiscuidade” a influência do neoliberalismo sobre a economia e a política, sobre o privado e o público. “Isso se transformou na privatização do Estado de tal modo que o controle do Estado se tornou uma luta tida como anti-democrática”. Como exemplo, citou a pressão de alguns segmentos, nos Estados Unidos, contra a aprovação de um sistema de saúde público naquele país, derrubada pelo Congresso. “Não é possível que a maioria da população norte-americana seja contra o sistema público, mas neste momento não haverá mais sistema público porque foram gastos mais de US$ 50 bilhões pelos lobistas para que a proposta fosse retirada”. O sistema de saúde norte-americano é um dos mais caros do mundo. Estimativas revelam que cerca de 16% da população, ou 50 milhões de pessoas, não têm cobertura nem do governo nem dos planos privados. “O fim do século mostrou que os conflitos individuais são sintomas dos conflitos coletivos. As desigualdades são estruturantes”, afirmou antes de destacar o papel do judiciário na solução desses problemas. “Os juízes das próximas déca-
Nos últimos 20 anos, agravaramse os problemas da desigualdade no mundo, como prova o relatório do Pnud de 2000. Os 500 indivíduos mais endinheirados do planeta têm tanta riqueza quanto os 40 países mais pobres do globo, países que somam uma população de 1 bilhão de pessoas. Sendo assim, os países periféricos ficaram incapazes de fazer frente às políticas hegemônicas. em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo
Boaventura de Souza santos,
Quando morei no Rio de Janeiro, em plena ditadura, não havia essa violência toda. Eu me sentia até mais seguro na favela. www.revistafale.com.br
das terão que ser objetivos, mas não podem ser neutros. Neutralidade é tomar posição dos poderosos, principalmente, quando a direita está no poder. Os juízes precisam saber se estão do lado dos oprimidos ou dos opressores”, completou. Para o professor, que acompanha a instalação do Observatório da Justiça Brasileira, uma das transformações necessárias nos países é uma mudança na “cultura judicial” desde a educação básica, passando pela mídia até o ensino superior. “As faculdades de direito são as mais reacionárias, se mantêm como no tempo das ditaduras”, disse Boaventura, que acredita no direito como instrumento contra-hegemônico e ressaltou o papel de advogados que trabalham em favor de movimentos sociais mesmo ameaçados de morte. Boaventura é um defensor do que chama de “descolonização” da América Latina, com o enfrentamento do racismo contra afrodescendentes e indígenas, por meio de políticas de reconhecimento como as ações afirmativas, acesso à terra e aos recursos naturais. “A democracia racial é uma tarefa e não uma realidade. Basta olhar para esse auditório e ver que falta muito”. Por que a previsão é de que os conflitos tendem a se acirrar na próxima década? Boaventura de Sousa Santos. Essa última década foi de muitas conquistas. Governos progressistas chegaram ao poder, o caso do Brasil é um desses, assim como Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua, El Salvador. Mas há grandes avanços políticos que não sabemos se são sustentáveis na próxima década. Aliás, as eleições no Chile são a primeira nota JANEIRO de 2010 | Fale
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POLÍTICA em que o candidato de direita ganhou as eleições. Também não sabemos o futuro da Venezuela, portanto, há nuvens no horizonte. Também estou preocupado com essa emergência e fortalecimento de grupos paramilitares, que estão aparecendo em várias partes do continente e, portanto, com ataques aos direitos humanos, já não propriamente aos direitos econômicos e sociais, mas aos mais elementares: o direito à vida, o direito cívico, político. Ainda vejo com preocupação a presença norte-americana nesse continente para evitar que seus interesses estratégicos sejam postos em causa, nomeadamente, no que diz respeito aos recursos naturais. Tudo isso me faz pensar que será uma década mais complicada. Quais as transições que ocorrem na sociedade e merecem atenção? Boaventura de Souza. Estão em curso, em muitos países da América Latina três tipos de transição. Uma, que é a transição da ditadura à democracia. Aqui, como me referi à questão da Lei da Anistia, se ela atinge ou não crimes de tortura, crimes contra a humanidade. Quer dizer, em que medida que a ditadura permanece. Depois, há uma transição do capitalismo para o socialismo e outra, que também aparece na região, é a transição do colonialismo para o fim do racismo. A descolonização, feita por meio das ações afirmativas, das lutas dos afrodescendentes, dos povos indígenas é lenta. O Supremo Tribunal Federal (STF) analisa neste ano uma ação de inconstitucionalidade contra as cotas nas
universidades, outra contra o decreto que regulamenta as terras quilombolas e pode voltar a debater questões indígenas. Qual sua expectativa em relação à Justiça brasileira? Boaventura de Souza. Estou preocupado. Neste momento, não sabemos nada. Temos apenas uma informação do presidente da Corte, o ministro Gilmar Mendes, com uma certa opinião que pode levar o tribunal a um certo sentido... Mas, obviamente, é um conjunto de magistrados que vai decidir (…) Não sabemos. O certo é que há uma grande preocupação dos movimentos sociais, quilombolas e de parte do movimento indígena de que ocorra um certo retrocesso no reconhecimento de terras, inclusive, com alguma criminalização do protesto social. É uma decisão importante [a do STF], que a sociedade brasileira deve ficar atenta, sobretudo, para manter as ações afirmativas, as lutas dos quilombolas. O que está em causa é acabar com o reconhecimento. Pontos polêmicos do 3° Plano Nacional de Direitos Humanos, lançado recentemente pelo governo federal, foram citados indiretamente durante sua palestra, como a impunidade de agentes do Estado que cometeram crimes durante a ditadura e a influência da concentração dos meios de comunicação sobre a população. Qual impacto dessas propostas? Boaventura de Souza. Não conheço o documento do governo federal. Em relação aos meios de comunicação, [o impacto da concentração] não é tão simples como poderia ser na medida em que, se o impacto fosse total, por
Movimentos sociais, agenda unificada
Em entrevista à imprensa no Fórum Social Mundial (FSM), em Porto Alegre, um dos coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, anunciou que os movimentos sociais não costumam fazer deliberações como os partidos políticos, no entanto, destacou que há uma “unidade” nas propostas. As centrais sindicais, citou, teriam se antecipado e decidido por uma 20 | Fale!
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plataforma conjunta. “Nós, dos movimentos sociais, vamos tentar defender plataformas de pontos unitários que nos unifique e vamos apresentar essa plataforma para todos os candidatos.” Stédile disse que “vai torcer para www.revistafale.com.br
exemplo, os governos progressistas não ganhariam eleições. Caso conseguissem dominar a tal ponto a opinião pública nem Chávez [Hugo Chávez, presidente da Venezuela], nem Correa [Rafael Correa, presidente do Equador], nem Morales [Evo Morales, presidente da Bolívia] tinham sido eleitos. Acho que o impacto é em outro nível. É aproveitar a debilidade dos presidentes e dos governos progressistas, magnificando [ampliando] alguns dos seus fracassos, limites e, por vezes, influenciando, de fato, os tribunais, coisa que fazem com muita força. Qual exemplo dessa influência dos veículos de comunicação sobre o Judiciário? Boaventura de Souza. Basta ver qual foi a posição da imprensa brasileira em relação à revisão da Lei de Anistia. Não é de maneira nenhuma uma posição equilibrada. Conheço o grupo da Comissão de Anistia da Secretaria Especial de Direitos Humanos e eles fazem um trabalho notável. Como evitar essas influências sobre o Judiciário? Boaventura de Souza. A partir da escola. Penso que a formação tem que ser outra. A partir das próprias faculdades de direito. É preciso sensibilizar os alunos para a justiça social. Isso obriga as grandes escolas a não ensinar apenas as técnicas jurídicas, mas o conhecimento social, cultural, para que haja um entendimento de que as sociedades são interculturais, mas muito desiguais. Esses são, portanto, problemas jurídicos e não apenas políticos. n
que Serra [José Serra, governador de São Paulo e provável candidato do PSDB à Presidência] não ganhe”, mas explicou que o MST não vai apoiar nenhum candidato. “Não, nem devemos [escolher um candidato]. Sempre votamos mais à esquerda, porém, não vamos tomar a posição do candidato a, b ou c.” “Não precisamos baixar ordem para ninguém. Mas sinto que na militância há uma unidade de que todo mundo é contra a volta do Serra, por tudo o que ele representa, da volta do projeto do Fernando Henrique”. n
Foto: © Russell A. MITTERMEIER / WWF-Canon * O minuto da ligação a partir de telefone fixo é de R$ 0,036 + impostos e a partir de celular é de R$ 0,44 + impostos
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psdb queria desme POLÍTICA
Sem Lula PSDB teria privatizado partes da Petrobras, diz José Sérgio Gabrielli, presid
soberania. O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli quando participou de audiência pública na Câmara Foto: Antonio Cruz _ ABr _ 29 de Setembro de 2009
S
eu orixá é Obaluaiê, o “dono da terra”, como relevou à imprensa pela primeira vez nesta entrevista. Mas bem que o baiano José Sérgio Gabrielli poderia ser chamado de o “rei do mar”. Em seus quase quatro anos à frente da Petrobras, ele nadou de braçada: anunciou a conquista da autossuficiência brasileira em petróleo (2006); a descoberta do pré-sal (2007-2008) — faixa suboceânica que alçou o País à posição de potência petrolífera —; e a consequente listagem da Petrobras entre as maiores companhias de energia do mundo. 22 | Fale!
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O que para muitos críticos não passa de um golpe de sorte, para Gabrielli, que assumiu a liderança da maior companhia brasileira com a saída de José Eduardo Dutra em abril de 2006, o sucesso da Petrobras é fruto de uma política de governo e só é possível graças à eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 e à sua reeleição em 2006. “O presidente Lula fez a diferença”, afir-
enbrar petrobras
dente da empresa. Por Roberval Angelo Shincariol e Tatiana Freitas, da Agência Estado mou em entrevista exclusiva à Agência Estado, realizada no início de dezembro em uma pequena sala de um hotel na zona sul de São Paulo. Segundo Gabrielli, se o resultado das eleições tivesse sido outro, ou seja, a vitória de José Serra (2002) ou Geraldo Alckmin (2006), a Petrobras teria tomado outro rumo. “Partes da empresa poderiam ter sido privatizadas”, disse. Mas Gabrielli também acredita no destino. Segundo ele, “há muita sorte em encontrar petróleo”. Mas não apenas isso. “Você não perfura um poço a 300 quilômetros de distância da costa e a milhares de metros de profundidade apenas confiando que Deus é brasileiro”, afirmou. Afinal, de acordo com a crença, Obaluaiê foi adotado e criado por Iemanjá, a “rainha do mar”. A seguir, os principais trechos da entrevista com o presidente da Petrobrás. A Foreign Policy publicou uma matéria recentemente questionando o novo marco regulatório do pré-sal, principalmente no que diz respeito à participação do Estado na Petrobras. Citando os dois possíveis candidatos mais em evidência, a revista afirma que se o governador José Serra vencer as eleições presidenciais de 2010, ele vai tentar reverter isso. Já se a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, sair vencedora, as empresas internacionais terão que recorrer à Justiça. O que o senhor tem a dizer sobre isso? José Sérgio Gabrielli. Que a Foreign Policy, uma revista americana, é uma think tank liberal que tenta influenciar a opinião pública. Uma crítica sobre a presença do Estado em uma empresa vinda da Foreing Policy é normal. O contrário é que seria novidade. Acredito que a proposta do Governo para o pré-sal claramente
Evidentemente que há muita sorte em encontrar petróleo. Mas apenas sorte não é suficiente. Você não perfura um poço a 300 quilômetros de distância da costa e a milhares de metros de profundidade apenas confiando que Deus é brasileiro. sérgio gabrielli
Como um todo, acho difícil [privatizar a Petrobras]. Mas partes dela poderiam [ter sido privatizadas]. Seria difícil uma privatização total da Petrobras, mas partes dela sim. Hoje o petróleo representa cerca de 33% da matriz energética mundial. Lá por 2030, representará 28%. www.revistafale.com.br
aumenta o papel do Estado. E isso é necessário e importante porque essa é a tendência mundial e sempre foi a tendência mundial na área do petróleo, que é um produto essencialmente vital e estratégico para a vida moderna. Mas há exceções, como... José Sérgio Gabrielli. Os Estados Unidos não estão ausentes da indústria do petróleo. O Estado americano pode não estar diretamente produzindo, mas está atuando fortemente via estoque regulador, via estímulo às suas empresas, via regulações. No caso brasileiro, me parece que a nova regulação reflete uma realidade distinta da antiga regulação. São diferenças importantes. A primeira é o acesso a capitais. Na década de 90 tínhamos um problema para termos acesso a capitais que hoje não existe. A outra é o acesso à tecnologia. Hoje a Petrobras, em águas profundas, é a empresa que tem maior mobilização tecnológica e conhecimento, e opera 22% da produção de águas profundas no mundo... Mas isso não é fruto de um longo processo? José Sérgio Gabrielli. Sim, vem num processo. Primeiro tem um processo de melhoria das condições macroeconômicas. Depois do controle da tecnologia. E, terceiro, o risco da área exploratória é muito baixo. Hoje você tem essa situação bastante distinta. Anteriormente era uma lei voltada a ajudar e permitir que as empresas privadas capturassem todos os ganhos da atividade do petróleo. O senhor acredita que se o presidente Lula não tivesse sido eleito em 2002 e reeleito em 2006, a Petrobras teria chegado ao pré-sal no momento em que chegou? JANEIRO de 2010 | Fale
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POLÍTICA José Sérgio Gabrielli. Essa pergunta é difícil de responder diretamente. Eu diria o seguinte: a Petrobras até 2003 estava sendo preparada para ser um conjunto de atividade com muita eficiência em vários ramos e com pouco ganho no sistema como um todo e estava sendo inibida no crescimento do seu portfólio de exploração. A partir de 2003, os investimentos aumentam, a Petrobras tem uma participação mais ativa nos leilões, redefine sua organização interna de forma a ter um fortalecimento das atividades corporativas no conjunto da companhia, e acelera a renovação de seus quadros. Isso foi uma mudança de orientação política na Petrobras. Se seria possível atingir sucesso com a política anterior é difícil dizer. Agora, que o sucesso atual depende das mudanças feitas, isso é certo. Evidentemente que há muita sorte em encontrar petróleo. Mas apenas sorte não é suficiente. Você não perfura um poço a 300 quilômetros de distância da costa e a milhares de metros de profundidade apenas confiando que Deus é brasileiro. Se os resultados das eleições tivessem sido outros, qual caminho o senhor acha que a Petrobras teria tomado? José Sérgio Gabrielli. Só posso reafirmar que a Petrobras estava a caminho de se transformar em uma empresa muito eficiente separadamente e que perderia a capacidade de integração entre as diversas áreas da companhia. Teria investimento e crescimento menores do que teve. Provavelmente teria menos preocupação com o controle nacional, portanto teria menos impacto no estímulo da indústria brasileira. Teria focado suas atividades em setores diferentes do que foram focados. E o resultado disso é difícil especular qual seria. Seria uma empresa diferente do que é hoje. O senhor acha que ela poderia ter sido privatizada, por exemplo? José Sérgio Gabrielli. Como um todo, acho difícil. Mas partes dela poderiam [ter sido privatizadas]. Seria difícil uma privatização total da Petrobras, mas partes dela sim. Pelo atual valor de mercado, de cerca de US$ 200 bilhões, a Petrobras 24 | Fale!
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Estamos iniciando atividades exploratórias no Uruguai. Estamos em processo de avaliação de descobertas de gás no Peru. Atividades exploratórias na Colômbia. Basicamente nosso investimento na América Latina é um investimento de manutenção de nosso portfólio. sérgio gabrielli
é maior que muitos países da América do Sul. Quais sãos os planos da empresa para investimentos internacionais, principalmente nos países vizinhos? José Sérgio Gabrielli. Dos US$ 174 bilhões em investimentos (até 2013), US$ 16 bilhões estão reservados para a área internacional. A maior parte dessa quantia vai para os Estados Unidos. Nós temos nos Estados Unidos 270 blocos exploratórios no Golfo do México e uma refinaria. A nossa maior produção adicional internacional vem da Nigéria. Nosso investimento na América do Sul é em portfólio. Estamos crescendo na distribuição. Compramos redes de distribuição no Paraguai, Uruguai, Chile e Colômbia. Estamos concentrando nos investimentos na Argentina na área de exploração. Estamos iniciando atividades exploratórias no Uruguai. Estamos em processo de avaliação de descobertas de gás no Peru. Atividades exploratórias na Colômbia. Basicamente nosso investimento na América Latina é um investimento de manutenção de nosso portfólio. A saída do Irã foi realmente por motivos puramente técnicos como garante a Petrobras? José Sérgio Gabrielli. Nós não saímos do Irã ainda. Tínhamos dois poços lá www.revistafale.com.br
e o contrato terminou...Não entendo porque essa preocupação tão grande com o Irã. Ninguém da indústria do petróleo em sã consciência pode negar que o Irã é uma das maiores áreas de reservas de petróleo no mundo. Neste caso, é exatamente por isso a preocupação com o Irã.... José Sérgio Gabrielli. Nós vamos manter nossa presença no Irã, mesmo que sem atividade prevista no país. Os poços que perfuramos estavam secos. Não encontramos nada. Paciência. E para o Iraque, agora que as coisas parecem mais calmas por lá, a Petrobras tem algum plano? José Sérgio Gabrielli. Não temos absolutamente nada no Iraque. Eles têm lá as preferências deles. O Iraque tem contrato de serviço apenas. E isso não interessa à Petrobrás. A preocupação mundial com as mudanças climáticas não poderia inviabilizar o pesado investimento atual da empresa no pré-sal a longo prazo, tendo em vista que os países buscam combustíveis considerados limpos para substituir o petróleo? José Sérgio Gabrielli. Com um crescimento da demanda de apenas 1% ao ano em média até 2030, como preveem as pesquisas, haverá a necessidade de se adicionar entre 55 milhões e 65 milhões de barris por dia de produção. E isso praticamente para manter o consumo atual. Mesmo considerando a entrada de combustíveis limpos? José Sérgio Gabrielli. Mesmo considerando isso. Por quê? Porque a economia vai crescer mais que um 1% em média. E todo esse crescimento adicional leva em conta os novos combustíveis. De onde vem essa necessidade de 55 milhões a 65 milhões de barris? Do declínio da produção atual. Como há esse declínio, haverá a possibilidade de repor esse petróleo. Não se corre o risco do preço do petróleo cair muito bem lá na frente com sua possível substituição? José Sérgio Gabrielli. Não. A nossa visão é a de que o petróleo vai cair sim, mas em termos relativos. Hoje o petróleo representa cerca de 33% da matriz energética mundial. Lá por 2030, a commodity represen-
Petrobras vai explorar no Mar Negro, Turquia
de interesses, mantendo-se como operadora do projeto, e a TPAO os 50% restantes. De acordo com a Petrobras, a plataforma de perfuração que será usada no projeto — a sonda Leiv Eiriksson — chegou à Turquia no último dia 31 de dezembro. Ainda segundo a Petrobras, a previsão é de que as atividades de perfuração sejam iniciadas no primeiro trimestre de 2010, no poço Sinop-1, situado a cerca de 145 quilômetros da cidade de Sinop, em águas ultraprofundas do Mar Negro. “A região é considerada uma das últimas fronteiras petrolíferas do mundo”, informou a Petrobras.
O acordo de exploração, que está sujeito à aprovação do governo turco, cobre aproximadamente 30 mil quilômetros quadrados. “O acordo permite que a TPAO, a Petrobras e a ExxonMobil progridam conjuntamente nas atividades de exploração no Mar Negro”, disse, por meio de nota, o gerente executivo da Petrobras para Américas, África e Eurásia, Fernando Cunha. A empresa iniciou sua operação na Turquia em fevereiro de 2006, mas possui atualmente apenas a concessão do bloco 3922 (Sinop), oferecido em processo licitatório para exploração e produção em águas profundas no Mar Negro. n
tará 28%. E quem vai substituir, na nossa visão? O carvão.
cipação em etanol. Nós queremos comprar empresas o mais breve possível.
clara do governo foi essa. A política de conteúdo nacional renovou a indústria do País. Temos hoje, com relação aos nossos investimentos, 74% de participação brasileira.
A Petrobras anunciou que vai explorar petróleo no Mar Negro, na Turquia. O acordo operacional foi assinado com a Turkish Petroleum Corporation (TPAO), estatal turca, e a ExxonMobil para atuar naquele país. A parceria se destina à exploração do bloco 3922 (Sinop), localizado em águas profundas do Mar Negro, na Turquia. Com o acordo, a subsidiária ExxonMobil Exploration and Production Turkey B.V. passa a ter 25% de participação na licença do bloco. A Petrobras detém outros 25%
O carvão? José Sérgio Gabrielli. Sim, infelizmente o carvão. E consequentemente, em 2030, carvão, petróleo e gás natural vão continuar fornecendo 2/3 da matriz energética mundial. Em quase 20 anos, nenhuma mudança? José Sérgio Gabrielli. Não. Para se ter uma ideia, os biocombustíveis terão um aumento extraordinário neste período. Eles crescerão cerca de 100%. Isso é uma boa notícia. José Sérgio Gabrielli. Você acha? Eles sairão de 0,4% da matriz energética para 0,9%. Grande diferença! No blog da Petrobras, o senhor reclama em um vídeo que os jornalistas perderam o interesse em perguntar sobre os biocombustíveis após o pré-sal... José Sérgio Gabrielli. [risos] Isso porque vamos investir US$ 2,8 bilhões em biocombustíveis até 2013. Nossa capacidade de biodiesel dobrou. Tínhamos três usinas, com produção de cerca de 300 milhões de metros cúbicos, o que dobrará já no próximo ano. Estamos entrando no etanol, através de compra de participação em outras empresas. Quais empresas? José Sérgio Gabrielli. Até o momento não temos nenhuma parti-
O senhor poderia fazer um balanço da Petrobras nos últimos sete anos de administração petista? José Sérgio Gabrielli. A Petrobras valia cerca de US$ 14 bilhões em 2003 e hoje vale cerca de US$ 210 bilhões. Hoje, temos um portfólio exploratório em crescimento no Brasil. A Petrobras tem hoje 46% da sua força de trabalho com menos de nove anos de casa e 53% com mais de 19 anos. Houve uma renovação da força de trabalho dentro da empresa. A Petrobras fortaleceu a sua estrutura corporativa. Entrou fortemente na área de biocombustíveis. Montou e consolidou a estrutura de gás natural no País. Em 2002 investia US$ 200 milhões por ano em refino. Hoje esse valor é mensal. Ampliou o market share na BR (distribuidora). Comprou a Liquigás. É hoje a sexta maior empresa de energia do mundo e a segunda maior em petróleo, só perdendo para a Esso. Resumindo: um sucesso! O senhor afirma então que a Petrobras é o que é hoje por causa do presidente Lula? José Sérgio Gabrielli. O presidente Lula fez diferença [pausa]. Acho que depende muito da orientação do governo, mas se a Petrobras não tivesse capacidade de fazer, não seria o que é hoje. Mas a orientação www.revistafale.com.br
O governo vem sendo acusado pela oposição de usar o pré-sal como arma política para 2010... José Sérgio Gabrielli. A oposição tem que criticar sempre. Faz parte da democracia. O senhor tem algum interesse político? José Sérgio Gabrielli. Não serei candidato, não pretendo ser candidato. Já fui candidato. A última vez em 1990. Em maio deste ano, o presidente Lula, em tom de brincadeira, afirmou em Salvador que se a ministra Dilma for eleita presidente, ele gostaria de ocupar a presidência da Petrobras. E acrescentou que chamaria o senhor para ser assessor dele... José Sérgio Gabrielli. Eu adoraria ser assessor do Lula. O senhor aceita o convite, então? José Sérgio Gabrielli. Com todo o prazer. Embora eu seja professor licenciado na Universidade Federal da Bahia. Presidente, por que sua fitinha do Senhor do Bonfim é branca? José Sérgio Gabrielli. [risos] Sou baiano. Meu orixá é Obaluaiê.n JANEIRO de 2010 | Fale
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Política
Cid Gomes
“
Não sou de abandonar parceiros.
”
Ele não se considera um, mas pelo ritmo frenético com que se entrega ao trabalho, inclusive nos finais de semana, o governador do Ceará Cid Ferreira Gomes, engenheiro civil pela UFC, 47 anos em 27 de abril, tem o perfil exato de um workaholic — viciado em trabalho. Do seu gabinete, numa tela 24 polegadas do iMac, ele monitora as obras e fiscaliza, em tempo real, os números da gestão. Quando está em trânsito, o iPhone é a principal ferramenta de trabalho. É por ali que alimenta com opinião e informações seu microblog twitter no endereço @cidfgomes. Nesta entrevista, Cid fala do que pretende inaugurar em 2010 e faz algumas projeções. Por Luís-Sérgio Santos Fotos Jarbas Oliveira www.revistafale.com.br
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pib de 2009. ceará cresce mais que brasil.
Em relação ao PIB de 2009, Cid Gomes arrisca um prognóstico. “Acho que o Brasil vai ficar empate, não vai nem cair, nem crescer, e o Ceará deve crescer 3%, o que vai nos permitir — esse é um outro prognóstico que estou fazendo até arriscado, mas eu vou fazer... — pela primeira vez na história o estado do Ceará vai ser de fato 2% do PIB nacional. Nós nunca fomos 2%. Fomos sempre 1,90%, 1,93%, o máximo que chegamos foi 1,96%. O governador lembra que “a única forma de se elevar a participação percentual do Ceará na composição do PIB nacional é crescer mais do que o PIB nacional, e isso já vem acontecendo.” foto jarbas oliveira
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LE É um obstinado por resultados, como a maioria dos gestores, e revela que subestimou a capacidade impeditiva do serviço público, o que comprometeu suas metas ou forçou sua reavaliação em termos de prazo. Cid Ferreira Gomes se consolida como um gestor obstinado, e está claro que sua marca na história do Ceará será impressa em obras como o Cinturão Digital e o mega Centro de Eventos, que dará competitividade ao Ceará para entrar na rota de grandes feiras e eventos. Outro marco, a menina dos olhos do governador, é o Acquário que será construído na Praia de Iracema. Mais que uma obra de referência pela grandiosidade e eloquência, o Acquário faz parte de uma estratégia de marketing agressiva que insere o Ceará na rota internacional do turismo. As críticas vieram rápidas. Uma delas fala de megalomania do governador Cid. Ele reage tranquilo e acredita na força da história. Grandes momentos universais também receberam críticas em suas épocas. O melhor exemplo é Brasília. O advento da siderúrgica no Ceará atribui ao presidente Lula grande articulação e, mais que isso, um “engajamento persistente”. Esta obra vai impactar a economia do Ceará de modo contundente. “Não teremos um processo industrial sólido sem uma indústria de base”, vaticina. “O desenvolvimento ficou concentrado no Sudeste do país, porque nos anos 50, um presidente decidiu implantar uma companhia siderúrgica em Volta Redonda, que está localizada entre Rio de Janeiro e São Paulo. Isso foi fundamental para atrair empresas para aquela região”, disse o governador Cid Gomes, na quarta-feira, 16 de dezembro de 2009, quando foram iniciadas as obras para a instalação da Companhia Siderúrgica do Pecém — CSP. “A partir de hoje o Ceará será avaliado em antes e depois da implantação da CSP”, disse Cid, taxativo. Na política, Cid prefere o estilo low profile, raramente se exalta mas não tem nenhum constrangimento em cobrar resultados da equipe em intermináveis reuniões de planejamento e avaliação. Nessas reuniões, que chegam a durar dois dias, são medidos resultados através do Monitoramento de Ações e Projetos Prioritários — MAPP. Mas comemora: “Pela primeira vez na história o estado do Ceará vai ser de fato 2% do PIB nacional. Nós nunca fomos 2%. Fomos sempre 1,90%, 1,93%, o máximo que chegamos foi 1,96%. A única forma de você elevar nossa participação percentualmente na composição do PIB nacional é crescermos mais do que o PIB nacional, e isso já vem acontecendo. Nesta entrevista, concedida na noite do dia 16 de dezembro de 2009, Cid fez um balanço de sua gestão, arriscou www.revistafale.com.br
alguns prognósticos e revelou alguns desejos. Um deles é o de que o PSB pode e deve ter candidato à presidência da República, no caso, o seu irmão, deputado federal Ciro Ferreira Gomes. “Acho que há um espaço para uma outra candidatura”, diz. “O PSB tem colocado isso francamente ao presidente”. Cid diz que “é um risco desnecessário de se correr, tentar fazer aquela coisa plebiscitária.” Sobre sucessão estadual no Ceará não fala. Só lembra que este é o único estado do Brasil onde o governador é irmão de um presidenciável, o que põe o Ceará em uma situação especial de atrelamento à disputa majoritária nacional. Sobre o candidato do PSDB, dispara: “E, sinceramente, o que está por trás da candidatura do Serra é uma visão do Brasil antigo.” n JANEIRO de 2010 | Fale
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Será o melhor centro de eventos do Brasil, maior que o Anhembi, em sp. Fale! Como o Sr. avalia o impacto da siderúrgica do Ceará na economia regional do Nordeste? Cid Gomes. Só a siderúrgica impacta em 48% na indústria, no PIB inicial. No PIB total do Ceará, cerca de 12%. Será a segunda maior siderúrgica do Brasil. Fale! Isso reduz as desigualdades regionais devido ao enorme impacto no emprego e na economia. Cid Gomes. Porque que no Sudeste tem e aqui não tem? Não estamos no mesmo país? Porque no Sudeste tem oportunidade de trabalho, e aqui não? Essa siderúrgica vai ser a primeira do Norte-Nordeste do país. Da Bahia até o Acre, não existe nenhuma siderúrgica. Isso com certeza vai impactar o desenvolvimento industrial do Ceará e da região Nordeste. Não teremos um processo industrial sólido sem uma indústria de base. Além da siderúrgica outra importante indústria de base é a refinaria — por isso o Ceará luta por isso há tanto tempo. A siderúrgica resulta da luta do cearense por compreender a importância e o efeito multiplicador que isso tem. Mas ela se concretiza mesmo a partir de um engajamento persistente do presidente Lula, que compreende essa questão da necessidade de agregarmos valor à nossas matérias primas e gerar empregos aqui. A Vale resolveu topar esse desafio, a participação inicial dela era 20%, já acertaram 50%, agora já está disposta a entrar com 60%. Fale! O setor siderúrgico é demasiado estratégico e poderoso. Cid Gomes. Essas coisas não são neutras... no cenário nacional o setor de siderurgia é muito oligopolizado. Sérgio Machado [presidente da Transpetro] me disse hoje que o 30 | Fale!
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preço do aço no Brasil, ele fez uma cotação hoje, é 54% mais caro do que no mercado internacional. Isso é brincadeira. É um oligopólio onde 5 pessoas sentam na mesa e combinam, ‘olha, vamos acertar esse preço, não tem concorrência’. Fale! Tudo certo com a refinaria? Cid Gomes. Sérgio Gabrielli [presidente da Petrobras] ratificou todos os compromissos [em relação à siderúrgica, quando veio à Fortaleza]. Contrataram a Universidade Federal do Ceará para fazer os estudos de impacto ambiental, e estamos fazendo as aquisições das áreas. O que o presidente Lula tem dito sempre é que deseja até o primeiro trimestre desse 2010 iniciar as obras. Fale! Como o Sr. lida com as questões relativas a impacto ambiental? Cid Gomes. Existem essas teses exóticas, eu até respeito, que os novos tempos permitem novas atividades econômicas, não poluidoras, essa coisa toda; que eu respeito, mas isso não é sólido. Tem dois setores da atividade econômica que de fato geram riquezas — a agricultura e a indústria. São esses dois que realmente agregam valor e impactam a economia. Vejamos o exemplo da Islândia, que pautou seu desenvolvimento em cima do setor financeiro e na área de desenvolvimento de software. Vem a crise de 2008 e a Islândia é o país mais atingido. Literalmente quebrou o país. Derreteu. O Brasil é hoje no mundo o país que tem a maior fronteira agrícola por explorar — é um jogador importante nesse cenário. Fale! Quanto o Brasil cresce em 2010? Cid Gomes. O Brasil, eu não tenho dúvida, tende a crescer muito. E o www.revistafale.com.br
nosso grande trunfo é o mercado potencial interno — nós temos 150 milhões de potenciais compradores aqui. Isso não é coisa que se faça do dia pra noite, mas vimos que uma política de governo, como Bolsa Família, consegue impactar rapidamente. Além disso, a política sistemática de elevação do salário mínimo, cria mais mercado e isso vai gerando um círculo virtuoso. Fale! O Brasil está imune à ataques especulativos? Cid Gomes. Nós estamos vacinados — por conta de nossas reservas, com boa probabilidade de imunização — do cenário internacional, o que permite ao Brasil conduzir suas políticas. Não tínhamos esse poder quando dependíamos de recursos externos para fechar nosso balanço. Aí vinha o FMI e ditava o que devíamos e o que não devíamos fazer. Vemos agora que está menos influente esse setor que eu chamaria de capitalismo feudal que existe no Brasil, aquele capitalismo exercido por poucos que querem ganhar muito. Ter um mercadozinho limitado e explorá-lo ao extremo, exauri-lo. Ganhar além da conta, praticando internamente um preço 50% superior ao preço do mercado internacional, e se protegendo muitas vezes sob o manto legal do Estado para impedir importação. Na hora em que o capitalista feudal não tem no Estado um ombro amigo para atender esses interesses que são, a meu ver, escusos, quem ganha é o consumidor. Fale! Dois indicadores importantes da macroeconomia são a Taxa Selic e o PIB, claro. O senhor arrisca alguns prognósticos em relação à Taxa Selic e um indicativo do PIB para 2010?
Cid Gomes. Como não saiu ainda o PIB de 2009, mas em relação a 2009 eu arrisco um prognóstico. Acho que o Brasil vai ficar empate, não vai nem cair, nem crescer, e o Ceará deve crescer 3%, o que vai nos permitir — esse é um outro prognóstico que estou fazendo até arriscado, mas eu vou fazer... — pela primeira vez na história o estado do Ceará vai ser de fato 2% do PIB nacional. Nós nunca fomos 2%. Fomos sempre 1,90%, 1,93%, o máximo que chegamos foi 1,96%. A única forma de você elevar nossa participação percentualmente na composição do PIB nacional é crescermos mais do que o PIB nacional, e isso já vem acontecendo. Aconteceu em 2008, aconteceu agora em 2009 com percentuais significativos de diferença. Para 2010 eu acho que o Brasil retoma aquela média de 4,5 ou 5%, e o Ceará pode bater nos 7%, em decorrência dos investimentos privados estruturantes, da termelétrica que vai acelerar nesse ano de 2010. Também neste ano já teremos investimentos consolidados na siderúrgica. Não é produção da siderúrgica, mas acaba impactando. E a construção civil pega um ritmo mais sólido também nesse ano de 2010. Nós já quebramos, em 2009, o recorde histórico de investimentos públicos do Estado, com recursos do tesouro. O balanço não está fechado, fecha em março, mas acho que ficaremos entre 1 bilhão e 600 milhões ou 1 bilhão e 800 milhões. Isso é recorde absoluto. E em 2010 esse recorde deverá ser quebrado. Superaremos em 2010 a casa dos 2 bilhões de investimentos com recursos do tesouro estadual, sem levar em conta diversas parcerias, com o governo federal, principalmente. Fale! Outra obra de impacto é o Centro de Eventos. Como está a obra hoje?
Cid Gomes. O Centro de Eventos é formado por três grandes blocos, dois grandes blocos simétricos, externos, e um individualmente menor, que é o bloco central da área de serviços. Essa parte de serviços, a previsão é de que em abril esteja pronta. Nesses dois grandes blocos serão 3 mil estacas de 14 metros para a fundação, ancoradas na rocha. Eu acompanho essa obra em tempo real, pois é uma das que está monitorada pelo sistema de câmeras, mas vou ao local com frequência também. Fale! Qual o impacto dessa obra na composição do PIB, já que o Centro de Eventos será o segundo maior centro de eventos do Brasil? Cid Gomes. Em área vai ser o segundo maior do país, mas será o mais moderno, será o melhor — eu posso dizer assim — Centro de Eventos do Brasil. Ele é em área um pouco menor do que o Rio Centro [no Rio de Janeiro], mas o Rio Centro foi construído nos anos 70. Será o melhor equipamento de eventos do Brasil, maior do que o Anhembi [em São Paulo], com todo conforto, com um padrão de construção muito superior. Meu desejo é inaugurá-lo até setembro, agosto-setembro de 2010. Mas obra sabe como é... sempre tem um problema, uma surpresinha, enfim. Fale! As coisas estão acontencendo no ritmo que o senhor queria... O que mais lhe aborreceu e o que mais lhe deu satisfação? Cid Gomes. Mesmo se fosse verdade que as coisas estão acontecendo no ritmo que eu queria, eu não diria. Porque eu tenho a compreensão de que o meu papel é sempre cobrar mais. E eu sei da importância desse papel — alguém que esteja sempre cobrando, sempre estimulando as pessoas a www.revistafale.com.br
dar um pouquinho mais de si. E faço isso com absoluta tranquilidade da consciência porque todo o objetivo é o bem-estar coletivo. Não tenho temor de ser visto como alguém duro que cobra demais pra ter lucro, botar dinheiro no bolso, enfim... estou fazendo em nome do interesse público, o que me dá tranquilidade. Quem se dispõe a trabalhar no serviço público tem que ter essa compreensão também. Mas, sinceramente, acho que subestimei a burocracia de governo. Estou falando desse processo que vai desde a elaboração do projeto e as necessidades de cumprimento, de normas que regulam essas questões, até os processos licitatórios, e até mesmo o ritmo que imprime a iniciativa privada na execução das obras. O país cresce um pouquinho, e aí começam a faltar máquinas, falta tijolo, falta cimento, asfalto. Além dos problemas burocráticos, você tem essa coisa da pouca oferta para um cenário de investimento. Devido à alternância histórica entre fases de crescimento e crise, muitos ficam com o pé atrás, investindo ali, mas com um cuidado a meu juízo além da conta. Acho que nessas horas de retomada temos que apostar, acreditar. E ainda bem que existem muitos empresários da iniciativa privada que estão ousando. Mas eu subestimei a capacidade do mercado de fornecer materiais. Fale! A falta de material e insumos atrasou o ritmo das obras? Cid Gomes. Diria assim numa só frase: Eu acho que o governo atrasou pelo menos seis meses. O primeiro ano é ano em que você deve dedicar integral atenção para arrumar a casa, compor a equipe, planejar — eu fiz isso e me dedico pessoalmente a isso. Tudo isso é colocado em um sistema JANEIRO de 2010 | Fale
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O CINTURÃO DIGITAL FAZ DO CEARÁ O ESTADO COM MAIOR BANDA LARGA DO PAÍS. que se chama MAPP – Monitoramento de Ações de Programas Prioritários do Governo. Hoje são 4 mil ações, e não só de investimento. Tudo isso é feito porque eu não consigo trabalhar sem ter já previamente os recursos em caixa. Eu primeiro faço uma poupança, depois parto para a ação. Assim, no segundo ano iniciamos os investimentos, mas o processo burocrático acabou atrasando em pelo menos seis meses a nossa execução — embora 2008 tenha sido um ano que ficou acima da média em investimentos no estado. Fale! Como o Sr. avalia o Cinturão Digital como ferramenta de promoção do desenvolvimento? Cid Gomes. Em abril, o Cinturão Digital será entregue. Transforma o Ceará certamente no Estado de maior cobertura de banda larga no Brasil. Ele é uma rede física de fibra óptica em vários pontos, são pelo menos 50 pontos com wireless de disponibilização de banda larga, e com um contingenciamento. Se houver um problema em um ponto, o dado caminha pelo outro lado. Vamos disponibilizar banda larga para as cidades que concentram 95% da população urbana do Estado do Ceará. No Brasil, não tem nenhum Estado que chegue nem perto disso. O que pretendo fazer é licitar, em janeiro, uma SPE [Sociedade de Propósito Específico, um formato de licitação para PPPs, Parceria Público Privada] para selecionarmos três empresas de telefonia privada para poderem disponibilizar a banda larga nas diversas localidades. Com isso, estabeleço uma concorrência entre as seis empresas já existentes. Hoje, nenhuma operadora de telefonia do estado tem a cobertura que esse cinturão vai ter. O pequeno provedor de Internet, com três for32 | Fale!
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necedores da banda larga, vai poder negociar preço, também, barateando o acesso popular. A ideia é que todos os equipamentos públicos, estaduais, municipais e federais tenham acesso a isso. Economicamente, o Cinturão Digital, um investimeno de 60 milhões de reais, se paga em dois anos. O coração do Cinturão vai funcionar na Etice, a Empresa de Tecnologia de Informação do Estado, sediada em Fortaleza. Fale! Quais obras serão inauguradas em 2010? Cid Gomes. Sinceramente, desejo entregar tudo que comecei. Vamos ter um atraso com o Acquário. Provavelmente não será possível entregá-lo em 2010, não por falta de recurso ou por falta de disposição, mas porque é realmente uma coisa muito sofisticada que envolve empresas e financiamento externo — parcerias com empresas japonesas, americanas, européias. O estado vai bancar o investimento, deixar pronto, e deve fazer um edital público de licitação para alguém da iniciativa privada operar, remunerando o estado. Mas o retorno do Acquário não será financeiro, o que a gente espera dele é que se transforme numa referência turística. Ele coloca Fortaleza como referência com o melhor equipamento de aquário de todo o hemisfério sul da Terra. Em janeiro já tem obras lá, mas de todas as obras, a única que eu acho — tenho certeza — que não ficará pronta até o final de 2010 é essa. O cronograma tem cinco etapas, e tanto a prefeitura como o estado tem previsão de alteração no entorno. Fale! O Acquário requalifica a Praia de Iracema? Cid Gomes. Retomará um público talvez nunca existente na Praia de www.revistafale.com.br
Iracema. O impacto disso vai ser muito maior. Esse aquário vai ser uma marca do Ceará, como o [museu] Guggenheim é uma marca de Bilbao, na Espanha. De todas as obras, essa não ficará pronta. Os aquários vão usar acrílicos com 40 cm de espessura, e são aquários gigantescos. Tem um aquário de 9 milhões de litros, maior do que o de Lisboa, que é um Oceanário. Um outro tem 3 milhões de litros, e muitos outros de menor porte. O Acquário também tem uma área para mídias, muita coisa de mídia eletrônica, dois cinemas 4D, a rigor 3D, com sensações táteis, com chuvisco, a cadeira balança, vento. Tem os simuladores de submarino, tem um aquário que chega, e um peixinho encosta e conversa com você, essa coisa bem Disney mesmo. A idéia é essa, prover o Ceará de um equipamento de primeira linha. A carcaça do Acquário é também de um material que tem que ser todo importado, é um polímero químico com adição de alumínio e titânio. O arquiteto é um cearense, Leonardo Fontenele — eu me apaixonei quando ele me entregou o projeto. Eu tenho absoluta convicção nessa obra. Independentemente de qualquer questão eleitoral, de mandato, nós vamos deixar o financiamento, vai estar pronto, equacionado. Fale! Os Hospitais regionais também ficam prontos? Cid Gomes. O Hospital de Sobral, hospital da região norte, que estava com orçamento base de R$ 130 milhões. É um financiamento do Banco Interamericano, e no mesmo molde do Hospital do Cariri, que está em obras 22 horas por dia — só para entre 5 e 7 horas da manhã —, e eu estou acompanhando em tempo real, tem uma câmera instalada na obra. O
hospital vai ser o maior desafio, mas vou trabalhar para ficar pronto até o final de 2010. No mais, na área de saúde vamos entregar 21 policlínicas, 16 centros de especialidades odontológicas, todos estarão prontos até maio, junho de 2010. Novas delegacias, só tinha delegacia de polícia em 44 municípios do interior, nós estamos implantando 50, dessas, 40 são novas edificações. Cadeias, muitas cadeias também, entregamos duas dessas de privação provisória de liberdade, com 950 vagas cada. Já estou licitando a terceira. Vai ser também disparado o governo que mais abriu vagas, em outro padrão, tanto em equipamento, segurança, como conforto em respeito as pessoas que estão privadas da liberdade. Um presídio militar vai estar pronto. Outro, de jovens também, para separar do bandido já mais experiente, e uma outra penitenciária em Pacatuba. Na área de segurança tem a Academia de Segurança que vai concentrar todas as forças policiais. A Perfor, que é a Perícia Forense, agora nesse primeiro trimestre — o antigo IML vira Perfor. Sempre o que há de mais avançado. Na área da segurança, o Nelson [Martins, deputado estadual pelo PT-CE], líder do governo, fez um levantamento, nos quatro anos antes do meu governo foram investidos 80 milhões de reais. Nós já investimos em menos de três anos R$ 240 milhões, três vezes o que foi feito em quatro anos antes. Quero que estejam prontos cinco Vapt-Vupt, que é uma Central de Serviços que reúne tudo que é serviço público, federal, estadual e municipal, enfim. Vai ter três em Fortaleza, isso em forma de PPP. Essa é uma grande estrutura. Saiu o edital agora. O setor privado vai construir e operar, e o estado vai pagar mensalmente.
Fale! Quais são as metas do governo do Ceará para 2010? Cid Gomes. 100% das casas energizadas no Ceará. Se Deus quiser, ao final de 2010 nenhuma casa no Ceará estará sem energia elétrica, isso é um programa em parceria com o governo federal, o Luz Para Todos, e com a Coelce. Vamos universalizar a energia. Em matéria de água, acho que universalizar em 2010 não será possível, mas em mais uns dois anos será possível. Estamos fazendo muitos sistemas de abastecimento d’água, e vamos implantar em torno de 60 mil cisternas de placa. Na educação, o ensino médio, que é responsabilidade do Estado... é claro que historicamente fazíamos outras coisas, como Universidades, que aí posso dizer que esse governo dobrou ao longo de quatro anos o orçamento das Universidades, tanto em relação à salário quanto à custeio e investimentos. Ampliamos significativamente a rede de ensino tecnológico, e está em curso o programa mais audacioso, posso dizer do Brasil, de ensino médio profissionalizante. O estado não tinha nenhuma escola de ensino técnico nessa modalidade, que é tempo integral, hoje tem 51 funcionando. Em um turno o aluno faz o ensino médio regular, almoça na escola e no outro faz um curso técnico. Quando todas estiverem funcionando a pleno, teremos em torno de 45 mil matrículas de ensino técnico-profissionalizante. Começamos ofertando cursos mais tradicionais de mercado, técnico de informática, enfermagem, turismo, e estamos buscando novas vocações regionais. Quero que seja o mais diversificado possível. Além disso, o CTTC [Centro de Treinamento Técnico Corporativo do Pecém], focado para formação nas áreas que estão se desenvolvendo no Porto do Pecém; www.revistafale.com.br
siderurgia, soldador. E na região Norte, em Sobral, um centro de educação à distância vinculado ao Cinturão Digital. Tudo mais que estou lhe falando vai estar pronto em 2010, menos o Acquário. Fale! Quantos quilômetros de estradas estão sendo construídos? Cid Gomes. Em matéria de estradas, vale uma referência, ao longo de toda a história, foram construídas no Ceará seis mil quilômetros de estradas estaduais pavimentadas. Vamos fazer 2,5 mil quilômetros, 40% de tudo que foi feito, incluindo novas e restauros. Em recursos hídricos é também disparado o governo que mais investiu, vamos passar de R$ 1 bilhão. Conclusão do eixo 2, 3, 4 e 5 do Eixão. Fale! O senhor se considera um workaholic? Cid Gomes. Não, não. Domingo, via de regra, trabalho, trabalho com prazer, mas sem perturbar ninguém [membros da equipe do Governo]. Trabalho no meu computador, analisando números, puxando relatórios. Fale! Quão satisfeito o senhor está com o desempenho da tropa, do primeiro escalão? Cid Gomes. Eu sinceramente sou uma pessoa que compreende as limitações das pessoas, inclusive as minhas, então eu não tenho queixa, mas já tinha falado antes, acho que tenho o dever, meu principal papel é ficar sempre cobrando da equipe. Mas não tenho queixa não, compreendo a natureza humana, suas fraquezas e suas fortalezas também. Enfim, não tenho queixa. Fale! Essa polêmica sobre a partilha dos royalties do pré-sal, como o Sr. avalia? JANEIRO de 2010 | Fale
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Cronologia de Cid Gomes
» 27 de abril de 1963. Cid Ferreira Gomes nasceu em Sobral-CE (a 230 quilômetros de Fortaleza), filho de José Euclides Ferreira Gomes
Jr. — prefeito de Sobral no período de 1977 a 1982 — e Maria José Ferreira Gomes. O bisavô de Cid Gomes, José Ferreira Gomes, foi o primeiro prefeito de Sobral após a Proclamação da República. Seu avô, José Euclides Ferreira Gomes, foi vereador e presidente da Câmara Municipal de Sobral, posição esta que o conduziu ao cargo de prefeito interino da cidade e deputado estadual classista. » Fevereiro de 1989 a março de 1990. Exerce o cargo de Coordenador Político Regional do Estado do Ceará a convite do então governador Tasso Jereissati. » 1990. Elege-se deputado estadual pelo PSDB-CE para a legislatura 1991-1995. » 1991. Torna-se líder do PSDB no Legislativo estadual. » Fevereiro de 1993 a Janeiro de 1995. Exerce o cargo de 1º Secretário da Mesa Diretora da Assembléia Legislativa. » 1994. Reelege-se deputado estadual e é também escolhido, por unanimidade, aos 32 anos, o mais jovem presidente da história da Assembléia Legislativa do Estado do Ceará. » 1996. Como presidente do Legislativo cearense, participa da Conferência 34 | Fale!
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Nacional de Assembléias Legislativas dos Estados Unidos e do Encontro de Integração de Jovens Políticos da América Latina e da Europa, este último realizado pela Fundação Konrad Adenauer Stiftung. » 27 de junho de 1996. Perde o pai José Euclides Ferreira Gomes Júnior, que tinha 78 anos e havia sido prefeito de Sobral entre 1977 e 1982. » 1º de janeiro de 1996. Filia-se ao PPS, acompanhando o irmão Ciro Gomes. » Outubro de 1996. Elegese prefeito de Sobral, já pelo PPS, com 64% dos votos do eleitorado, um desempenho recorde na cidade. » 1998. Nasce o garoto Rodrigo Dias Ferreira Gomes, primeiro filho de Cid Gomes com Andréa Reis. » 1º de junho de 1999. Inauguração do Museu do Eclipse, em Sobral, em homenagem aos 80 anos da comprovação da Teoria da Relatividade de Einstein naquela cidade. » 27 de outubro de 1999. Inaugura o reformado Paço Municipal José Euclides Ferreira Gomes Júnior, sede da prefeitura de Sobral.
» 2000. Reelege-se, com 60% dos votos, prefeito do município de Sobral, no Ceará. » 6 de junho de 2005. Assim como o irmão Ciro, Cid Gomes deixa o PPS e segue para o PSB. » 2005. Muda-se para Washington DC, nos Estados Unidos para exercer a função de consultor do
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). » 11 de maio de 2006. Casase com a advogada Maria Célia Habib.
» 1º de outubro de 2006. Concorre pela primeira vez ao governo do Ceará e elegese, ainda em primeiro turno, com 62,38% dos votos pela coligação “Ceará Vota para Crescer”, formada por PSB, PT, PCdoB, PMDB, PRB, PP, PHS, PMN e PV.
» 2 a 29 de outubro de
2006. No segundo turno, uma vez que havia vencido com antecedência o pleito estadual, engaja-se na campanha vitoriosa de reeleição do presidente Lula. » Junho de 2007. Nasce o segundo filho de Cid Gomes, o primeiro do casamento com Maria Célia, Matheus Habib Ferreira Gomes.
» 21 de novembro de
2007. Lança oficialmente o programa Ronda do Quarteirão, carro-chefe de sua campanha no ano anterior. » Agosto a outubro de 2008. Participa da campanha
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de Luizianne Lins à reeleição na prefeitura de Fortaleza, a despeito do apoio dado pelo irmão Ciro Gomes à candidata Patrícia Saboya do PDT. » 12 de setembro de 2008. Com pouco menos de dez meses depois da instalação do “Ronda”, pesquisa Data Folha aponta aprovação de 72% da população cearense ao programa Ronda do Quarteirão. » 20 de março de 2009. Inaugura trechos II e III do Eixão das Águas, em Pacajus, totalizando 167,2 km dos 255 km previstos até o fim das obras. » 4 de maio de 2009. Inaugura o Aeroporto Regional de Tauá. » 1º de junho de 2009. Comemora, ao lado da prefeita Luizianne Lins, a escolha de Fortaleza como uma das 12 sedes da Copa do Mundo de 2014 no Brasil. » 29 de agosto de 2009. Assume a presidência do PSB no Ceará. » 2 de dezembro de 2009. Inaugura o Metrô do Cariri. » 16 de dezembro de 2009. Assina ordem de serviço para obras de macrodrenagem e terraplanagem do terreno onde será instalada a Companhia Siderúrgica do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP). Presentes, o presidente da Vale, Roger Agnelli e o presidente da Dongkuk, Young Chul Kim. » 22 de dezembro de 2009. Em pesquisa realizada pelo instituto Datafolha lidera todos os cenários na sucessão ao governo estadual em 2010, com percentuais que variam de 44% a 53% dos votos. » 24 de dezembro de 2009. É apontado em pesquisa do Datafolha como terceiro governador mais popular do Brasil. n
política, sempre. Cid Gomes com seu irmão Ciro em agosto de 1980. Com a ministra Dilma Rousseff, em junho de 2009, de barba em 2003, a mulher Maria Célia e nos braços do povo, em outubro de 2006
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[siderúrgica] houve o engajamento ooo persistente do presidente Lula. Cid Gomes. Modéstia a parte assumi uma posição vitoriosa. A matéria não foi votada ainda, mas a gente só tem a ganhar. Nós fizemos uma reunião de governadores do Nordeste, que foi de fato um marco para essa luta, onde discutimos essa questão e fomos ver os números. As coisas passam desapercebidas pela opinião pública. O Brasil arrecadou de royalty em 2008, 21 bilhões de reais. Um estado só, ficou com R$ 7 bi, um terço dos royalties do Brasil. Sinceramente isso não é justo. Não queremos mexer nesse dinheiro, o estado já contabilizou e gerou compromissos, não queremos mexer nesse pra trás. Agora, com essa riqueza nova, querer manter o mesmo critério concentrador de dis-
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tribuição, não está certo. Então nossa demanda foi 22% para todos os estados do Brasil. A rigor, nem é tanta coisa, nem foi um pedido ousado, todos os estados brasileiros pediram 1/5 dos royalties. Como essa matéria ainda vai pro Senado, queremos avançar um pouco também na participação especial, porque você tem o royalty e a participação especial. Deve-se pagar aos estados uma compensação que ameniza algum impacto ambiental que isso tenha lá. Agora, estamos tratando de pré-sal, que está a 300 km da costa de qualquer território brasileiro, em alto-mar, a 7 mil metros de profundidade, isso não gera nenhum impacto ambiental, nenhum transtorno a nenhum
Via twitter
comunicação direta. Cid usa o microbolog twitter para postar imagens, mapas, gráficos e informações sobre o Governo. Acima testa equipamento de raios X panorâmico em um dos 16 36 | Fale!
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estado brasileiro. Só porque o estado está ali na linha, e essa linha, é contada de onde? Porque que é vertical e não horizontal, ou oblíqua, enfim, fica complicado. O fato é que isso não gera nenhum dano. Fale! Política em 2010, ano de eleições quase gerais. Como fica o governador Cid? Cid Gomes. Sobre o plano federal eu falo absolutamente à vontade. No plano estadual, eu acho que o ideal pra se tratar disso é abril-maio... até porque, veja bem, eu tenho questões objetivas que me levam a não querer antecipar ou iniciar esse processo. Quais são elas, sem ordem de importância: em nenhum estado do Brasil
as definições a nível federal impactarão tão fortemente como aqui no Ceará. Pelo simples fato de um governador ser irmão de um pré-candidato à presidência. Essa situação não existe em nenhum outro estado. Então será um fator decisivo. Segundo, eu não posso pensar, sinceramente, em reeleição, se não tiver absoluta convicção de que o governo tem a aprovação da população. Eu não vou, pode ter certeza, forçar a barra. Não vou mesmo. Não vou fazer isso por ganância, ou apego ao poder. Para mim, o poder é uma ferramenta, e só tem sentido se ela for útil, se ela estiver enferrujada, não estará servindo ao que deveria servir. Então essa conclusão basilar me induz a
uma posição de estar inteiramente dedicado à administração. É isso que vai fazer com que o governo seja bem ou mal avaliado. E política leva tempo, consome tempo. Um minuto que seja, é um minuto que eu estou deixando de cuidar da administração. Fale! Então o Sr. continua voltado totalmente para a gestão e deixa a política eleitoral pra depois? Cid Gomes. A minha convicção é de que eu tenho que me dedicar em tempo integral à administração, porque é isso que vai fazer com que o governo seja bem ou mal avaliado. Em terceiro, é a própria ambiência política. Eu tenho conseguido aí sem grandes percalços o apoio generoso de 40, 43
Centros de Especialidades Odontológicas, localizados em cada uma das micro-regiões de saúde. Com Roger Agnelli e Young Chul Kim. “Este momento marca o
deputados no legislativo estadual. Qualquer incursão na política não vai ampliar essa base, vai fragilizar. Então a minha prioridade é a administração. E como base na Assembléia pra governar é fundamental... não falta quem queira intrigar, então tenho que ter muita cautela, muita prudência, deixar a política pra hora certa. Eu sou uma pessoa que não tem patrimônio material, e estou na vida pública muito em função de ter palavra, das pessoas acreditarem no que eu digo, confiarem. Eu não sou de abandonar parceiros, nunca fui de abandonar parceiros. Então esse é meu patrimônio político, tenho que honrar cada um deles. Não vou perder isso que é meu principal atributo.
início de uma nova era de industrialização do Ceará” e, com Ciro Gomes e o presidente Lula em Mauriti, visitando as obras de transposição do São Francisco.
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POLÍTICA
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é um risco desnecessário de se correr, uma eleição plebiscitária. Fale! No plano federal? Ciro Gomes. O que eu vejo são as pesquisas. Pesquisas não são instrumentos de previsão de futuro, são retratos do momento, e tem sido persistentes, sem grandes alterações. Tem colocado uma candidatura do PSDB, digo nem do PSDB, mas do Serra, pelo fato de já ter sido candidato à presidência anteriormente e ser governador do estado mais rico do Brasil, e por ser um estuário de uma fração de eleitorado, a meu juízo, conservadora, ele fica aí por esse universo de, imagino, 30, 40% da preferência nacional, é um percentual que, pelos atributos que tem, consegue somar. Ele fica nessa faixa, não é qualquer candidato do PSDB que fica nessa faixa, mas ele fica. Fale! E a ministra Dilma? Cid Gomes. Há uma candidatura do PT, que é a ministra Dilma, que, pela força do PT, e pelo potencial de transferência de votos do Lula, fica na faixa, vejamos... o potencial do PT 20%, mais o fator do presidente Lula, pode chegar de 20 a 35%. O que eu penso é o seguinte, essa coisa de transferência de voto tem um limite. Digo isso pela minha vivência. Essa margem não é 100%. Principalmente em eleição de presidente, o vínculo é muito direto com a localidade, as pessoas vão dar atenção, tem historicamente dado atenção à campanha na TV, e fazem sua opção na empatia, na crença, no olho no olho embora com a influência do olho da televisão. Cada vez mais essa questão tem importância. A escolha do candidato é um fator importante. Acho que a Dilma é uma extraordinária pessoa, tem muitos méritos, é trabalhadora, competente, tem espírito público, ama o Brasil, mas enfim, muita gente não 38 | Fale!
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tem empatia, simpatia, isso é uma coisa muito individual e subjetiva. Então acho que há um espaço para uma outra candidatura. Fale! O PSB tem sido claro nisso? Cid Gomes. O PSB tem colocado isso francamente ao presidente.
O advento da siderúrgica
Na solenidade de início das obras para a instalação da Companhia Siderúrgica do Pecém no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, o governador Cid Gomes enfatizou que aquele momento era resultado de um esforço de vários governadores. “Desde Virgílio Távora, passando por Tasso Jereissati, Ciro Gomes e Lúcio Alcântara. Esse é um grande dia para todos nós cearenses”, disse Cid, ressaltando em seguida, o empenho do presidente Lula. O governador citou ainda o volume de investimentos. “Temos, no Porto do Pecém, recursos destinados à construção de dois grandes berços e o aprofundamento de seu calado. A instalação da esteira para o transporte de granéis sólidos e o descarregador contínuo de carvão mineral”, lembrou. Sobre a geração de empregos, Cid enumerou as vagas geradas no mercado de trabalho, ultrapassando em números absolutos e relativos, os demais estados da Região Nordeste. E ressaltou que um dos mais importantes investimentos realizados por sua administração é no setor da educação, especialmente na modalidade profissionalizante. www.revistafale.com.br
Nós achamos que é um risco desnecessário de se correr, tentar fazer aquela coisa plebiscitária. O Brasil tem eleição em dois turnos. Quando essas simulações de pesquisa tiram o Ciro, a maior parte do eleitor que prefere o Ciro migra para o Serra, não migra para a Dilma. Isso precisa ser levado em conta também. Mas vamos resolver isso mais na frente, conversando, nós achamos que o presidente Lula tem representado para o Brasil um avanço fundamental. O Lula tem, com o jeito dele, com a experiência dele, conseguido fazer grandes revoluções no Brasil de forma tranquila, muito pouco ou quase nada traumática. É claro que quem está perdendo tá lá remoendo, mas ele tem conseguido aí muita eficiência e habilidade de quebrar diversos paradigmas do país e fazer com que ele avance mais nessa direção de desconcentração da renda, da redução das desigualdades, o papel do estado, enfim. Ele significa um avanço enorme pro Brasil e o que ele tem conseguido de avanço, a gente não pode, sob hipótese nenhuma, perder, retroceder. E, sinceramente, o que está por trás da candidatura do Serra é uma visão do Brasil antigo. Não vou nem dizer que é o Serra que representa isso. Mas o que está por trás... quem tem saudade do Brasil antigo tá lá se enfileirando na candidatura do Serra e isso é absolutamente perigoso pro país — o Brasil tem que avançar é muito ainda. O Lula foi absolutamente importante, mas a gente tem que avançar muito, nós estamos muito longe de ser um país equilibrado, justo, um país com menos desigualdades, com mais oportunidades. Tem muita, muita coisa pra ser feita. — Colaboraram: Lívia Pontes e Adriano Queiroz n
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Economia
Temporada de otimismo O otimismo do empresariado brasileiro continua crescente e atingiu em janeiro 68,7 pontos,o maior índice já registrado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) foi o maior desde 1999, quando começou a pesquisa, 10 pontos percentuais acima da média histórica, que é de 58,4 pontos
O
otimismo dos industriais brasileiros em
janeiro é o maior dos últimos 11 anos, aponta o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), divulgado nesta terça-feira, 26 de janeiro, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O indicador alcançou 68,7 pontos em janeiro, uma alta de 2,8 pontos ante outubro e de 21,3 pontos em relação a janeiro do ano passado, quando, atingida pela crise internacional, a confiança do empresário para 47,9 pontos. “A economia está saindo da crise, o que aumenta o otimismo. Além disso, em janeiro o índice é sempre mais elevado, pois no início do ano os empresários estão mais confiantes”, avalia Renato da Fonseca, gerente-executivo da Unidade de Pesquisa da CNI. Na indústria de transformação, o indicador teve o quarto aumento consecutivo com 67,7 pontos. Em outubro foi de 64,6 pontos. Todos os setores pesquisados apresentaram índices superiores a 60 pontos. Valores abaixo de 50 indicam falta de confiança e, acima disso, otimismo. O indicador da indústria extrativa manteve-se estável e passou de 65 pontos em outubro para 65,2 pontos em janeiro. Na construção civil, incluída na pesquisa a partir deste mês, o índice foi de 68,9 pontos, o mais elevado entre os segmentos industriais pesquisados. O Índice de Confiança do Empresário Industrial subiu 40 | Fale!
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PESQUISA. Flávio Castelo Branco, o gerente-executivo da Unidade de Política Econômica da CNI Foto: Marcello Casal Jr _ ABr puxado pela perspectiva das condições atuais da economia brasileira e da empresa em relação aos seis meses anteriores. O índice de condições atuais passou de 60,5 pontos em outubro para 62,7 pontos em janeiro. Assim, atingiu o maior valor de toda a série histórica. “A avaliação sobre as condições atuais reflete a recuperação recente da economia”, acrescenta Fonseca.
Retomada do crescimento. A perspectiva sobre
as expectativas dos empresários para os próximos seis meses subiu de 68,7 pontos em outubro para 71,8 pontos em janeiro. Com o aumento, o indicador também atingiu o maior valor de toda a série histórica. Em relação a outubro do ano passado, o ICEI de janeiro aumentou nos três portes de empresas. O indicador das pequenas empresas passou de 63,1 pontos para 66,7 pontos. Nas grandes empresas, o índice al-
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BNDES, perspectivas para 2010
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES, está concluindo um levantamento sobre as perspectivas de investimento dos principais setores produtivos nacionais, após a crise financeira que atingiu o mundo. O estudo deverá ser divulgado no iníco de 2010. O superintendente da Área de Pesquisas Econômicas do banco, Ernane Torres, diz que os
impactos da crise foram sentidos no investimento do setor industrial e, particularmente, nos segmentos voltados para a exportação, não tendo afetado os investimentos em infraestrutura. “O levantamento feito ao longo de 2009 mostrou que já houve recuperação substancial na indústria e que apenas os setores voltados à exportação apresentam um atraso na recuperação do investimento”, informa Torres. Como esses setores são muito direcionados à economia asiática,
que vem mostrando uma retomada “exuberante”, segundo Torres, a expectativa é que ao longo do primeiro semestre de 2010 ainda será sentida recuperação do investimento desses setores, principalmente mineração e siderurgia. “Há uma tendência clara de recuperação do investimento no setor industrial também”, disse. “Nenhum grande projeto parou no Brasil devido à crise externa. Os grandes projetos ajudaram a sustentar o nível de atividade na crise.” n
cançou 70,1 pontos e, entre as médias, ficou em 68,7 pontos. Segundo o gerente executivo de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco, esse otimismo se deve principalmente à retomada da atividade econômica iniciada no final do ano passado, o que teria trazido “novo fôlego” à economia. “Entramos em um ciclo econômico bastante favorável e 2010, para as empresas, será um ano muito positivo. Nossa expectativa é de que o setor industrial lidere o crescimento deste ano”. Ele explicou que janeiro sempre foi um período de otimismo em função do ano que se inicia. No entanto, lembrou, isso não
ocorreu em janeiro de 2009, quando a confiança das empresas estava em 47,4 pontos devido à crise que já se instalara principalmente nos setores exportadores da indústria. “Ao alcançar 68,7 pontos em janeiro, o Icei registrou uma alta de 2,8 pontos na comparação com outubro do ano passado, e de 21,3 pontos se comparado a janeiro de 2009. Sem a menor dúvida é um aumento considerável, que mostra o quanto os empresários estão otimistas”, disse o economista. Em janeiro do ano passado, a confiança dos empresários especificamente em relação à economia era de 28,1 pontos. Em um ano, subiu para
65,4 pontos. A confiança na empresa estava em 40 pontos, e subiu a 61,3 pontos, valor registrado em janeiro de 2010. Para Castelo Branco, “é um descolamento muito grande”. A CNI também constatou aumento na expectativa, tanto com a economia do país – que em janeiro de 2009 estava em 46,3 pontos e subiu para 69,5 pontos em janeiro de 2010 – quanto com a própria empresa, que no mesmo período passou de 56,6 pontos para 72,9. A pesquisa foi aplicada entre os dias 4 e 22 de janeiro. O questionário foi respondido por 1.431 empresas. A partir de agora, o Índice de Confiança do Empresário Industrial será publicado mensalmente. n
Variação em pontos
Série histórica do Índice de Confiança 66,2
+2,8
68,7
O Índice de Confiança do Empresário Industrial de janeiro de 2010 alcançou 68,7 pontos, o maior valor de toda a série, iniciada em 1999
Na comparação com outubro de 2009
61,8
60,1
58,5
65,9
60,3
58,1
54,4
+21,3
Na comparação com janeiro de 2009
51,8 47,4 Jan 2005
Jul 2005
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fonte: Confederação Nacional da Indústria — CNI
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ECO N O MI A & NEG Ó CI O S
Casa do microcrédito
Banco do Nordeste é a “única” fonte de microcrédito do Brasil. O economista Paul Singer destaca papel do Banco e lembra que, mesmo assim, entre 10 milhões e 12 milhões de empreendimentos precisam do estímulo do microcrédito no Brasil
A
entre 10 milhões e 12 milhões de empreendimentos. Destes, a absoluta maioria encontrase em situação informal e sem acesso a bancos. A avaliação, feita tendo por base dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, é do secretário nacional de Economia Solidária, Paul Singer. “Esta é uma situação lamentável, que decorre do desconhecimento que boa parte da população e das instituições financeiras tem sobre o quanto um empréstimo de R$ 100 pode significar em termos de mudança da situação econômica de milhões de empreendimentos familiares”, diz o economista. Singer afirma que nenhum banco comercial empresta dinheiro para quem não ofereça garantias. “E essas pessoas [que necessitam de crédito] não costumam ter terras nem rebanhos”. De acordo com ele, a maior fonte de microcrédito da América Latina é o Banco do Nordeste, que atende cerca de 500 mil empreendimentos. "Isso é ínfimo, se comparado à enorme demanda que temos no país”, disse. “Nenhuma outra entidade sequer chega perto disso.” Para ele, esse tipo de empréstimo de fato chega aos pobres “e faz uma diferença enorme para eles”. “Tanto é que, aos poucos, estão inventando uma indústria do microcrédito. Houve o caso de instituição mexicana de microcrédito que virou banco, depois de ser comprada por uma grande instituição financeira. Isso mostra que em certas circunstâncias o microcrédito pode ser lucrativo”, acrescenta. Além disso, ressalta Singer, o crédito para pobres é visto como lucrativo. “Eles dobram o capital com grande velocidade e têm índice de inadimplência praticamente zero”, diz Singer, que as42 | Fale!
Foto Elza Fiúza_ABr
demanda por microcrédito no Brasil envolve
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Análise. O secretário de Economia Solidária, Paul Singer, diz que o microcrédito faz uma diferença enorme para os mais pobres socia a baixa inadimplência do microcrédito ao fato de os pobres terem hábito de se ajudar mutuamente e medo de passar por caloteiros. “Infelizmente, os bancos brasileiros de médio e grande porte não se interessam em lucrar 10% em cima de baixas quantias”, afirma o economista. “Mas tanto o Banco Mundial como a ONU têm vendido a ideia de que o microcrédito pode ser muito lucrativo também para essas instituições.” Desde 2006, com a criação do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado, desenvolvido pelo Ministério do Trabalho, algumas dezenas de organizações da sociedade civil com interesse público sem fins lucrativos e sociedades de crédito para microprodutores — estas de fim lucrativo — passaram a atuar visando à promoção de microcrédito. www.revistafale.com.br
“Mas ainda é um número muito pequeno de entidades dispostas a fornecer esses serviços”, avalia Singer. Ele acredita no surgimento de outras formas de microcrédito, “provavelmente na forma de bancos comunitários e de fundos rotativos solidários, que são sociedade de pessoas geralmente pobres, que vivem em áreas carentes e juntam a poupança de seus membros para fazer empréstimos. “Esses fundos são compostos por pessoas pobres e se destinam a gente pobre.” Para Singer, a crise financeira internacional não alterou “pelo menos aparentemente” a oferta de microcrédito no Brasil. “Se afetou, eu não tive notícia. Mas, pela lógica, a demanda por ele deve ter aumentado”, concluiu. n — Por Pedro Peduzzi da Agência Brasil
Para o economista Paul Singer, “Davos não é uma reunião de demônios”
real. Para ele essa possibilidade é viável e possível no sistema capitalista vigente. “No Brasil acabou de acontecer isso. O Brasil foi salvo pelos bancos públicos. É preciso tornar os grandes bancos públicos submetidos ao controle da sociedade e sobretudo fomentar o que chamamos de finanças solidárias, da vizinhança, da comunidade”, argumentou. O controle dos bancos também deve ser um dos temas discutidos no Fórum Econômico de Davos. A escritora e doutora em política pela Escola de Altos Estudos de Ciências Sociais de Paris, Susan George, também defendeu maior controle sobre a regulamentação da economia. “Os bancos são nossos, nós pagamos pelos bancos, eles têm que receber ordens políticas.
Temos que direcionar o capital para investimentos em energia gratuita e alimentos. O mundo está cheio de dinheiro, dinheiro não é problema, o problema é a política”, argumentou. Segundo Susan George, atualmente o sistema financeiro é colocado na frente da economia real, da sociedade e do meio ambiente, como em um esquema de círculos concêntricos, em que o financeiro é o maior a mais importante. “Nossa tarefa é inverter a ordem desses círculos. Não podemos vencer a natureza. Se continuarmos como agora teremos aumento da temperatura. Não estamos falando de uma crise ecológica planetária, o planeta vai continuar, pode se sair muito bem sem nós; o que discutimos aqui é a possibilidade de a vida desaparecer”, apontou. n
Desemprego na América Latina e no Caribe passou de 7% para 8,2% em 2009
Ao destacar o Brasil, a OIT lembrou que, antes do início da crise econômica, o crescimento econômico do país foi “robusto”, com média de 4,4% anual em termos reais, durante o período 2004-2007, e de 6,4% de crescimento acumulado nos três primeiros trimestres de 2008. O desemprego havia caído de 9%, em 2004, para 7,7%, em 2008, e o percentual de trabalhadores que contribuíam para o sistema de seguridade social ultrapassou os 50% em 2007, atingindo 52,1% em 2008. “No entanto, o início da crise, em setembro de 2008, interrompeu o crescimento econômico e teve um impacto imediato e nítido sobre o emprego”, aponta o relatório. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2008, em relação ao mesmo período do ano anterior, caiu para 1,3% – uma redução de 3,4% em relação ao
trimestre anterior. Como resultado da recessão, a taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas registradas na Pesquisa Mensal de Emprego (PME) aumentou de 7,3%, no quarto trimestre de 2008, para 8,6%, no primeiro e no segundo trimestre de 2009. Já no terceiro trimestre de 2009, a OIT ressaltou que o crescimento econômico brasileiro foi retomado e que a taxa de desemprego nas principais regiões metropolitanas voltou aos níveis pré-crise — 7,9%, no terceiro trimestre de 2009, em comparação com 7,8 %, no terceiro trimestre de 2008. Houve crescimento do emprego líquido desde fevereiro de 2009 e abril de 2009, no setor industrial, que foi o setor mais duramente atingido pela recessão”, revela o estudo da OIT. n
Na contramão de vozes mais radicais do Fórum Social Mundial, o economista Paul Singer defendeu que o Fórum Econômico Mundial de Davos não é “uma reunião de demônios”. “Davos também tem diferenças internas. Tem muita gente boa lá no meio, inclusive da economia solidária”, ponderou. No contexto de Davos, argumenta Singer “o George Soros, por exemplo, é de esquerda, é um dos maiores críticos do mundo em que vive.” Singer defende o controle dos bancos para evitar que o mercado financeiro se descole da economia
A taxa de desemprego na América Latina e no Caribe aumentou de 7%, em 2008, para 8,2%, em 2009, revelam dados divulgados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). O índice representa 4 milhões a mais de desempregados apenas no ano passado. O relatório anual Tendências Mundiais do Emprego indica que a porcentagem de trabalhadores em situação de extrema pobreza estava entre 7% e 9,9% em 2009 — um incremento de até 3,3 pontos percentuais em relação à 2008. Em 2010, a estimativa é que o desemprego diminua levemente — até 8%.
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Artigo
2009: a segunda descoberta do Brasil Por Aloizio Mercadante
O
ano de 2009 começou sob as brumas da pior crise internacional desde 1929. As perspectivas para o país não eram nada boas. A crise havia derrubado a arquitetura financeira internacional. Trilhões de dólares evaporaramse, secando o crédito mundial. O comércio internacional reduzia-se drasticamente. As grandes economias desenvolvidas do planeta, EUA, União Europeia e Japão, mergulhavam numa recessão profunda, ameaçando levar de roldão toda a economia global. No Brasil, nos lembrávamos das crises periféricas dos anos 90 que, embora pequenas, arrebentavam a nossa economia, esgarçavam o tecido social com desemprego e pobreza e ainda maltratavam a nossa autoestima, ao nos submeter às draconianas exigências do FMI. O desafio posto à nossa frente era imenso e alguns mais uma vez previram a derrocada de um Brasil que começava a viver novo ciclo de desenvolvimento. Chegando ao fim de 2009, constata-se, paradoxalmente, que este foi um ano extremamente positivo para o Brasil. Com efeito, o “país do futuro” é a nação do momento. O conservador “Financial Times” afirma que “o Brasil é a potência do século XXI a se observar”. A prestigiada “The Economist” estampa em sua capa a “decolagem” do Brasil. “Le Monde” (França) e “El Pais” (Espanha) escolhem Lula como a personalidade do ano. Para completar, o Rio de Janeiro foi escolhido sede das Olimpíadas de 2016, algo impensável há poucos anos. Fomos redescobertos. Isso não ocorreu por acaso. O Brasil soube construir linhas de defesa importantes ao longo 44 | Fale!
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O conservador “Financial Times” afirma que “o Brasil é a potência do século XXI a se observar”.
destes sete anos de governo Lula. Nós deixamos de ser um país devedor para sermos um país credor, inclusive do FMI. Hoje, temos mais reservas cambiais (US$ 240 milhões) do que dívida externa. Reduzimos também a dívida interna pública de 57,5% para 44% do PIB, e o fizemos sem vender um centavo do patrimônio público. Com austeridade, seriedade tributária e com os grandes superávits comerciais obtidos graças à ousada política exterior conseguimos reduzir drasticamente a vulnerabilidade externa da economia e a fragilidade das finanças públicas. Agora, o país, além de ter domínio completo da inflação, possui verdadeira estabilidade macroeconômica. E, ao contrário do governo de São Paulo, que privatizou a Nossa Caixa no auge da crise, o governo federal soube fortalecer os bancos públicos, o que foi fundamental para o enfrentamento da recessão mundial. Consolidamos a estabilidade e a combinamos com o crescimento de que tanto precisávamos. Temos hoje economia sólida e inauguramos novo ciclo de desenvolvimento. O que melhor caracteriza esse novo ciclo é o crescimento com distribuição de renda. Graças a programas como o Bolsa Família, que atende a mais de 11 milhões de www.revistafale.com.br
famílias, bem como à política de recuperação do salário mínimo, que apresenta ganhos reais de 67%, e à grande geração de empregos formais, cerca de 21 milhões de pessoas deixaram a pobreza. Os indicadores sociais são os melhores em toda a história do IBGE. Assim, o desenvolvimento brasileiro recente, em contraste com outros períodos de crescimento, foi includente e criador de cidadania. A expansão do mercado interno de consumo de massas, propiciada pela distribuição de renda, a geração de empregos e a facilitação do crédito, foi também de substancial relevância para preservar a nossa economia nesta grave recessão mundial. O social é o eixo estruturante do novo ciclo de desenvolvimento. Ademais, o governo federal tomou as medidas certas para enfrentar a crise: alavancou-se o financiamento público, irrigando a economia com crédito facilitado, e desonerou-se a construção civil, os veículos e os produtos da linha branca. Os resultados estão aí: as vendas de veículos e imóveis batem recordes históricos e vamos fechar o ano com mais de 1,4 milhão de empregos gerados. 2009, que poderia ter sido o ano em que submergiríamos de novo na obscuridade do passado recente, revelou-se o ano em que o Brasil foi descoberto como país em irresistível ascensão. Mais do que isso: 2009 foi o ano em que o Brasil se autodescobriu como a grande nação que sempre teve o potencial de ser. E, com as perspectivas do présal e da “economia verde”, a década que se inicia em 2010 será, sem dúvida, a década do Brasil. O Brasil construiu linhas de defesa importantes nestes sete anos de governo Lula. n Aloizio Mercadante é economista e líder do Partido dos Trabalhadores no Senado
Tecnologia da informação cresceu mais que a economia em 2009
mercado de TI do mundo”. Incluindo telecomunicações, o faturamento do setor deve se aproximar de US$ 140 bilhões, “o que vai representar de 7% a 8% do Produto Interno Bruto (PIB)”, que é a soma dos bens e serviços produzidos no país. No que se refere às exportações, a Brasscom espera que as operações tenham alcançado US$ 3 bilhões, revelando incremento em relação aos US$ 2,2 bilhões exportados no ano anterior. Antonio Gil destacou, porém, que o crescimento “ainda é pequeno frente aos US$ 50 bilhões de exportação [de sofwares, isto é, programas de computador, e de serviços de TI] da Índia”. Antonio Gil informou que a tendência do setor é se deslocar para o interior do país, em particular para o Nordeste. Locais
como Recife, Salvador, Campina Grande e Fortaleza, além de Curitiba e o interior paulista, são atrativos. “A competência brasileira está totalmente difundida pelo país. Mas, no interior, existe um interesse muito grande de atrair empresas desse setor”, afirmou. Várias prefeituras têm procurado a Brasscom, interessadas em sediar empresas de TI. Para isso, oferecem benefícios, como redução de imposto de serviço e do Imposto Territorial Urbano (IPTU), “às vezes colocando facilidades à disposição das empresas que queiram se instalar ali. Então, você vai ter um grande desenvolvimento fora dos grandes centros do Rio de Janeiro e São Paulo, que são muito caros”, acrescentou Gil. n — Alana Gandra, da Agência Brasil
2009 marca a primeira deflação da série histórica dos preços da economia
e as matérias-primas brutas (de –0,25% para –0,56%), com destaque para soja (de 0,01% para –3,29%), milho (de 2,90% para –4,17%) e laranja (de 12,82% para 1,24%). Já os bens intermediários não registraram variação na passagem de um mês para o outro, depois de terem apresentado queda de 0,31% em novembro. Neste levantamento houve aumento em suprimentos (de –2,73% para –1,30%). O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) reduziu o ritmo de crescimento, tendo passado de 0,26% para 0,24%. Duas das sete classes de despesa componentes do índice apresentaram decréscimo: alimentação (de 0,27% para 0,20%), com destaque para hortaliças e legumes (de 4,59% para –1,06%); e habitação (de 0,26% para 0,14%), principalmente tarifa de eletricidade residencial (de 0,49% para 0,15%).
Por outro lado, subiram os preços de vestuário (de 0,92% para 1,02%), saúde e cuidados pessoais (de 0,06% para 0,24%), transportes (de 0,22% para 0,30%), despesas diversas (de 0,05% para 0,17%) e educação, leitura e recreação (de 0,29% para 0,30%). Último componente do IGPDI, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) ficou em 0,10% em dezembro, depois de registrar 0,29% um mês antes. Caíram ou subiram com menos intensidade de um mês para outro os preços dos serviços (de 0,35% para 0,30%) e o custo da mão de obra (de 0,40% para –0,01%). Em sentido inverso, os materiais e equipamentos passaram de 0,15% para 0,17%. Para calcular o IGP-DI, a FGV coletou preços no período entre 1º e 31 de dezembro. n — Thais Leitão, da Agência Brasil
O setor brasileiro de tecnologia da informação (TI) cresceu em 2009 “acima do que se poderia imaginar”, segundo presidente da Associação Brasileira das Empresas de TI e Comunicação (Brasscom), Antonio Gil. Dados preliminares divulgados pela entidade indicam que o setor cresceu acima da economia, mostrando expansão de 6% a 8%. “O volume de faturamento também foi robusto”, disse Gil. Ele estimou que somente o setor de TI, excluindo telecomunicações, deve ter faturado cerca de US$ 65 bilhões, “o que faz com que o Brasil seja, provavelmente, o oitavo maior
O Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) fechou o mês de dezembro em deflação de 0,11%. Com o resultado, inferior ao registrado um mês antes (0,07%), o índice encerrou o ano com queda de 1,43%, a primeira da série histórica. De acordo com dados divulgados hoje (8) pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o movimento foi influenciado pelo comportamento dos preços por atacado, que caíram 0,29%, ante deflação de 0,04% em novembro. Ficaram mais baratos os bens finais (de 0,43% para –0,43%), especialmente alimentos in natura (de 2,08% para –4,86%);
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Cultura
terry eagle ton
no cerne de
w. benjamin A Omni Editora lança em 2010 no Brasil o livro do filósofo marxista Terry Eagleton sobre a teoria estética de Walter Benjamin. A editora comprou os direitos autorais da obra para o país junto à editora inglesa Verso, que edita Eagleton na Europa
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ela primeira vez uma editora do
Ceará celebra um contrato de copyright para publicação exclusiva, no Brasil, de um livro em língua inglesa. Trata-se de “Walter Benjamin: Or, Towards a Revolutionary Criticism”, no Brasil, com título “Walter Benjamin: Rumo a uma Crítica Revolucionária” do filósofo inglês Terry Eagleton, que teve direitos autorais adquiridos para publicação no Brasil pela Omni Editora, do jornalista Luís-Sérgio Santos. “Trata-se de uma obra maravilhosa de Terry Eagleton sobre Walter Benjamin, o mais lúdico e original pensador da chamada Escola de Frankfurt”, comenta Luís-Sérgio Santos, um estudioso de WB. O livro está sendo traduzido pela professora Beatriz Figueiredo e será lançado em abril de 2010, em uma edição com projeto gráfico de excelente legibilidade e elegância, assegura o editor.
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O contrato entre a Omni e o autor foi celebrado através da editora Verso, baseada em Londres, e tem validade de sete anos. Na opinião do editor Luís-Sérgio Santos, Terry Eagleton, pensador inglês contemporâneo, é dono de uma sofisticada teoria estética, traduzida em obra consistente. No Brasil, Terry Eagleton tem vários livros publicados dentre os quais “A Ideologia da Estética”, “As Ilusões do Pós-Modernismo”, “Depois da Teoria” e “A Ideia de Cultura”. Este estudo significativo da prática crítica de
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do século dezessete, testa seu conceito de “aura” frente a Freud e Lacan e empreende seu envolvimento mais sustentado com Derrida e as encruzilhadas políticas da desconstrução. O editor Luís-Sérgio Santos fala da sua motivação em editar esta obra no Brasil. O que levou a Omni a comprar os direitos autorais de Terry Eagleton? Luís-Sérgio Santos. Uma das características da Omni é fazer publicações de qualidade. Já editamos vários autores brasileiros importantes; nosso catálogo hoje tem cerca de 50 livros de qualidade, mas não tínhamos nenhuma experiência internacional de copyright. Quando vi o livro de Terry Eagleton sobre Walter Benjamin editado pela Verso, de Londres, entrei imediatamente em contato com a editora e fechamos o contrato de edição no Brasil após duas semanas de negociação. Tanto Terry Eagleton, que considero um excepcional esteta, dono de um estilo e de uma visão única de construção de uma teoria estética, quanto Walter Benjamin, fazem parte da minha formação acadêmica. Então foi uma oportunidade de conciliar o interesse acadêmico com a visão de negócio. Claro que o fator afetivo pesou muito mais, até porque para a grande maioria das pessoas no Brasil, são dois autores absolutamente herméticos.
Walter Benjamin marca uma transformação importante no pensamento de Terry Eagleton. Como seu título sugere, seu objetivo não é somente contemplar a abordagem de Benjamin com relação à linguagem, história e arte, mas traçar um novo curso dinâmico para a crítica socialista contemporânea. Para este fim, Eagleton põe em contato a Trauerspiel de Benjamin e a literatura britânica
Como foi o processo de negociação do copyright? Luís-Sérgio Santos. Foi relativamente rápido, simples, com nenhuma burocracia por parte dos ingleses. Apenas um contrato detalhado e minucioso com direitos e deveres. A burocracia surgiu quando do pagamento do copyright, onde as leis brasileiras exigem todo o tipo de documento e, para a minha surpresa, taxam a operação em 24% a título de imposto de renda. O curioso é que o autor, o beneficiário, não declara renda no Brasil. Foram várias tentativas de pagar pelos canais brasileiros e cada vez mais taxas apareciam até que fizemos a operação via Europa com uma simples remessa bancária.
Obra original. Eagleton, identi-
ficado com teorias literárias de viés marxista, percorre um trajeto que www.revistafale.com.br
teoria estética. acima, capa da edição brasileira do livro de Terry Eagleton sobre Walter Benjamin. À esquerda, Terry Eagleton. não se trata de uma releitura ou análise da obra do autor frankfurtiano, mas de uma atualização das ideias de Walter Benjamin, ou de sua identificação nas teorias humanas contemporâneas, apesar de terem sido construídas entre os anos 20 e 40. Benjamin, nascido na Alemanha, está inserido dentre os pensadores que compunham a Escola de Frankfurt, como Theodor Adorno e Max Horkheimer, tratando de estudos sobre comunicação de massa. O trabalho de Benjamin abordou temas como a estética das obras de arte clássicas, do cinema, e a relação das massas com a arte e as estruturas sociais. Benjamin, judeu, se refugiou na Itália com a ascensão da Alemanha nazista. Em uma tentativa de fuga para os Estados Unidos, com medo de ser entregue à polícia nazista Gestapo, se suicida em 1940, deixando uma obra original e criativa que perdurou ao longo dos anos, mesmo com várias correntes dos estudos em ciências humanas. O livro Walter Benjamin: Rumo a uma Crítica Revolucionária, de Terry Eagleton, com tradução da professora Beatriz Figueiredo, será lançado pela Omni Editora em maio de 2010. n JANEIRO de 2010 | Fale
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Persona
Frase. “Eu não sei o caminho para sucesso; mas, sem dúvida, o caminho para o fracasso é tentar agradar a todo mundo.” — John Kennedy
Ousadia camuflada
A modelo brasileira Raquel Zimmerman posou para o fotógrafo Nick Knight em um cenário, digamos, peculiar. A modelo foi clicada deitada na areia e enrolada em várias cobras para a campanha de Primavera/Verão 2010 da grife Alexander McQueen. O jogo de cores, a postura da modelo e, claro, as cobras formaram uma composição, no mínimo, exótica. A modelo veste um macacão que se confunde com o corpo das cobras e um sapato (sim, ele está lá) que quase passa despercebido. O resultado é exuberante. A modelo, inclusive, declarou que, depois do ensaio com as cobras, ficou até com vontade de ter uma de estimação.
Artes em restauro
Depois de um curso de restauração e conservação de obras de arte, promovido pelo Museu Nacional Honestino Guimarães, iniciou-se uma discussão sobre a necessidade de um centro especializado em restauro em Brasília. O diretor do museu, Wagner Barja, é uma das pessoas que apoiam a ideia, juntamente com a subsecretária de políticas culturais, Ione Carvalho. Eles argumentam que a cidade tem acervo suficiente para se tornar uma capital cultural e lamentam ter de enviar para São Paulo e Rio de Janeiro as obras que precisam ser restauradas. A discussão se estendeu para uma crítica à estrutura física do prédio e às dificuldades enfrentadas pelos museus brasileiros, como a falta de recursos e os problemas estruturais.
Amante de Barbie
A ex-funcionária do Banco Central, de 57 anos e aposentada há dez, Lenice Freire, é apaixonada por bonecas. Mas não é por qualquer uma. A carioca Lena, como é chamada, mora em Brasília desde os 18 anos e em 2002, encantada, começou a 48 | Fale!
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adquirir bonecas Barbie, dando o primeiro passo para sua atual coleção. São cerca de 110 versões da clássica boneca e mais outras 25. Protegidas em uma vitrine fechada dentro de seu quarto, as bonecas ficam sob o cuidado exclusivo de Lena. A coleção é muito variada e a dona afirma ter predileção pelas bonecas
ligadas às estrelas do cinema (como Elizabeth Taylor, Nicole Kidman e
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Julia Roberts) e as negras, por sua elegância e beleza superiores. Lena é a única colecionadora de Barbies da cidade e participou de um encontro nacional, no Museu da Barbie de São Paulo, onde foi presenteada com a raríssima reprodução da primeira Barbie, de 1959. O cuidado com ela é dobrado: o mimo ainda está dentro da caixa.
Boa comida. Os brasilienses desfrutaram da alta gastronomia a um preço acessível para seus bolsos. Esse foi o objetivo do festival Restaurant Week, de origem americana, que propõe aos restaurantes oferecer pratos sofisticados, e até
mesmo exclusivos, por um preço mais simpático. A ideia é democratizar a gastronomia. No ano passado, na edição de Brasília, o evento contou com a participação de 50 estabelecimentos. São Paulo, Rio de Janeiro e Recife também estão sediando o festival.
Thomas Shannon
o homem dos EUA no Brasil O novo embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon fala um português fluente em decorrência, entre outras coisas, de ter morado no Brasil de 1989 a 1992. Shannon quer aprofundar as relações do seu país com o governo brasileiro e elaborar uma agenda comum. “É um grande prazer estar de volta aqui no Brasil. É um país muito importante para nós.” Por quase oito meses, o Senado norte-americano protelou a aprovação do nome de Shannon por falta de consenso entre republicanos e democratas. Ele foi indicado pelo presidente Barack Obama ainda quando ocupava a Subsecretaria do Departamento de Estado para as Américas. A indicação
ocorreu em maio do ano passado, mas só em 24 de dezembro de 2009 houve a aprovação. Até novembro de 2009, Shannon ocupava o cargo de subsecretário do Departamento de Estado para as Américas. A controvérsia em torno de sua indicação foi causada pelas divergências da política interna norte-americana. Os vetos ao seu nome — que foram retirados posteriormente — foram dos senadores republicanos Jim DeMint e George LeMieux. Shannon já foi assistente da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. Passou também pelas embaixadas da Venezuela e África do Sul.
Um pedacinho do Rio no DF Cruzeiro, uma das cidades mais antigas do Distrito Federal, é conhecida por abrigar muitos cariocas, grande parte militares, funcionários públicos e familiares, radicados ali desde a época da construção da capital. Por conta disso, onde for possível formar uma roda e fazer música, lá estão eles: o pagode e o samba autêntico. Para fazer jus às típicas rodas de samba e contrastar
com a imagem política de Brasília, uma cerveja gelada e alguns tira-gostos completam o cenário. A cidade já virou referência do estilo musical no Distrito Federal, sendo comum ouvi-lo em bares, casas, ruas e feiras. Ele realmente faz parte do local. A escola de samba mais tradicional de Brasília, a Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (Aruc) não deixa o samba parar e
cede sua quadra para o grupo Liberdade de Sonhar Cavaleiros de Jorge, criado há 16 anos. Lugares conhecidos, como o Bar Gandaia e o Círculo Operário Cruzeiro, reservam espaço na programação para os sambistas e simpatizantes fazerem a festa. Com o cavaquinho ali, o pandeiro aqui e o gogó preparado, a paixão pelo ritmo é alimentada e o samba se mantém vivo por lá.
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Brother Brasiliense
A décima edição do Big Brother Brasil, reality show da Rede Globo, tem uma representante de Brasília. A professora universitária Elenita Rodrigues está entre os 15 participantes do programa e se diz, já pedindo desculpas pela falta de modéstia, “muito inteligente”. Lena, como se apresenta, também trabalha como DJ, é doutora em linguística pela Universidade de Campinas (Unicamp), gosta de jazz, é apaixonada por literatura (em especial, pela escritora Clarice Lispector), é militante pelos direitos dos homossexuais e das mulheres e futura ex-BBB.
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O ocaso de Chávez Por Raul Jungmann
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stive reunido com o presidente Hugo Chávez no palácio presidencial de Miraflores por três horas e meia em 2000, a seu pedido, para falar sobre a reforma agrária no Brasil, quando era ministro do governo Fernando Henrique. Voltei a estar com Chávez tempos depois, na inauguração do linhão de Guri, que levou energia a Boa Vista, em Roraima. Me recordo que ele estava ao lado de Fidel Castro, então completando 75 anos naquele dia. Recentemente, em novembro de 2009, retornei à Venezuela, aonde me reuni com ministros, parlamentares, jornalistas e acadêmicos. Na ocasião, coordenava uma missão externa da Câmara dos Deputados, que também visitou o Equador e a Colômbia, quando estivemos com os presidentes Rafael Correa e Álvaro Uribe. O objetivo da missão era tratar do uso de bases militares colombianas pelos EUA, tema que deflagrou uma crise regional que envolveu o Brasil. À época que o encontrei pela primeira vez, Chávez ainda não tinha sido salvo pelo governo FHC quando, em dezembro de 2002, enviamos um navio de combustível que furou o bloqueio dos grevistas da PDVSA, a petroleira venezuelana, que o ameaçava com um colapso dos transportes. Depois desse episódio, a oposição desfechou um golpe, como ele mesmo tentara em 1992, fechou o Congresso venezuelano e o mandou preso para uma ilha oceânica. De lá, ele saiu dias depois e quebrou a espinha dorsal dos grevistas e oposição. Esta, num gesto suicida, boicotou as eleições gerais de 2004, 50 | Fale!
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Conseguirá ele conviver com uma oposição em ascensão e reocupando espaços de poder? Ou irá transpor a fronteira que o separa, e ao seu governo, de uma ditadura?
abrindo espaço para o predomínio total do presidente Chávez. O qual, paulatinamente, foi ocupando todas as instâncias e poderes estatais e reformou, ao seu talante, a Constituição. Em 2010, a oposição, refeita, deve marchar unida nas eleições legislativas que se aproximam e, ao que tudo indica, terá de 40 a 45% dos votos — talvez até mais. Se isso acontecer, o coronel Hugo Chávez voltará a dividir o estado venezuelano com os que se lhe opõem, perderá o poder de veto que ostenta livremente e o apoio de www.revistafale.com.br
um Congresso totalmente dócil aos seus mandos e desmandos... Será o fim do seu poder unipessoal e o retorno de uma alteridade, da existência de um outro, a oposição, essencial para o jogo democrático. Esse provável retorno ocorre num quadro crítico para Chávez. A Venezuela teve, em 2009, uma das maiores quedas de PIB das Américas. O preço do petróleo, do qual o país depende em 80%, caiu a menos da metade com a crise mundial. Além de faltar água, alimentos e energia, que virtualmente entrou em colapso após a atropelada estatização do setor em 2006. De quebra, a inflação, já em alta, deve disparar com a maxidesvalorização recente. E aparentemente, a renúncia do vicepresidente, Ramón Carrizales, um “falcão chavista”, e de sua mulher, ministra do meio ambiente, estaria a indicar que divergências crescentes se dão no núcleo duro do governo. Este é o cenário por trás das últimas medidas do presidente Hugo Chávez, ao fechar seis emissoras de TV, o que levou a confrontos de rua e à morte de estudantes. Pois, do ponto de vista do governo, tornou-se cada vez mais necessário tolher e cercear as oposições, cuja crítica e discurso mais e mais encontram eco na opinião pública venezuelana. Conseguirá ele conviver com uma oposição em ascensão e reocupando espaços de poder? Ou irá transpor a fronteira que o separa, e ao seu governo, de uma ditadura? n Raul Jungmann é deputado federal pelo PPS-PE e membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados
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