FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
NO CENTRO INDUSTRIAL DO CEARÁ
Fernando Henrique Cardoso chega ao audit贸rio do Hotel Gran Marquise, em Fortaleza, ao lado de Robinson de Castro e Silva e Byron Queiroz
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Jornalistas aguardam o ex-presidente FHC para a coletiva de imprensa em 谩rea anexa ao audit贸rio
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A entrevista coletiva FHC NO CIC | 7
Detalhes da platéia e cumprimentos a Tasso Jereissati e Lúcio Alcântara
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FERNANDO HENRIQUE CARDOSO NO CENTRO INDUSTRIAL DO CEARÁ
Uma publicação da Omni Editora
EDITOR&PUBLISHER Luís-Sérgio Santos FOTOS Jarbas Oliveira ARTE Everton de Paula Pessoa e Jon Romano
ISBN 978-85-88661-35-6
www.omnieditora.com.br e-mail: df@fortalnet.com.br
CARTA
FHC, vigoroso jogo de idéias O Centro Industrial do Ceará trouxe a Fortaleza o expresidente Fernando Henrique Cardoso para uma concorrida conferência sobre política e economia no Brasil e no mundo
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ERNANDO HENRIQUE CARDOSO CONTINUA
sendo o intelectual brilhante, numa fala cheia de consistência, ironias de cetim e análises continuadas sem uso de nenhum recurso tecnológico, se não a privilegiada inteligência e precárias anotações. Foi assim em Fortaleza, na conferência promovida pelo Centro Industrial do Ceará, dentro das comemorações de 90 anos da instituição. O evento, no dia 30 de julho de 2009, no auditório do Hotel Grande Marquise, reuniu o PIB do Estado, intelectuais e influentes personagens na política e na economia do Ceará. O Centro Industrial do Ceará completou 90 anos de existência no dia 25 de julho de 2009 e as comemorações se estenderão pelo ano inteiro. Tanto a sociedade civil quanto o poder público apoiaram os eventos num atestado ao largo conceito que o CIC conquistou ao longo da sua história. A instituição recebeu homenagens do Senado
Federal, da Assembléia Legislativa do Ceará e da Câmara Municipal de Fortaleza, e além da palestra de Fernando Henrique, recebeu o exsenador Sérgio Machado, presidente da Transpetro, o senador Tasso Jereissati e o governador Cid Gomes. O CIC foi, em muitos casos, propulsor de transformações políticas, econômicas e sociais no Ceará, sobretudo em sua fase áurea, iniciada em 1978. Hoje, figura como legítimo agente de defesa e indução do processo de desenvolvimento sustentável do Ceará. n FHC NO CIC | 17
ROBINSON DE CASTRO E SILVA
Hora de uma retomada crítica Na íntegra, a seguir, o presidente do Centro Industrial do Ceará, Robinson de Castro e Silva faz uma leitura crítica da conjuntura brasileira e critica a ausência de gestão em Fortaleza
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M MAIS UM EVENTO COMO PARTE DO
Ciclo de Palestras para marcar as comemorações pelos 90 anos de existência do Centro Industrial do Ceará — CIC, faz-se necessário que minhas palavras, antes de tudo, voltem-se ao início do século 20 para reverenciar a figura do jornalista e empresário do setor gráfico Álvaro da Cunha Mendes, ele que, no longíquo ano de 1919, idealizou, ao lado de outros empreendedores da época, essa vitoriosa instituição na perspectiva de buscar sempre o melhor para o Ceará. Tendo como primeiro presidente Thomaz Pompeu de Souza Brasil, o CIC é uma das mais antigas entidades de classe do Estado e uma das primeiras do Brasil, antecipando-se até mesmo ao Centro Industrial de São Paulo. Vê-se, portanto, já na sua gênese, a marca da liderança e da ousadia, pressupostos que vêm sendo mantidos 18 | FHC NO CIC
pelas lideranças que o conduziram até aqui. O CIC, ao longo de sua existência, pautou sua ação no desenvolvimento socioeconômico sustentável do Ceará, sem perder de vista o contexto regional e nacional. Vem participando ativamente da discussão e formulação de propostas em várias áreas, adotando, para tanto, o princípio básico de concentrar-se na defesa de questões de interesse geral, evitando posicionamentos corporativos, mas nunca transigindo em sua missão de res-
guardar a capacidade de representar a indústria brasileira, a expansão econômica e a defesa da cidadania e da liberdade humana. Os frutos dessa trajetória permitiram que a história desta entidade, em alguns momentos, se confundisse com a própria história do Estado do Ceará, haja vista as grandes transformações pelas quais passamos e que tiveram o centro industrial como mola propulsora. Transformações essas que produzem reflexos até hoje nos campos político e socioeconômico de nosso Estado. Senhoras e senhores, é esse espírito inovador e, por que não dizer, visionário, que nos anima, como membros do CIC, a dizer com firmeza — e contrariando a lógica cronológica — que aos 90 anos ficamos mais novos e cheios de vida. Um velho moço. Prova maior do que falamos é que este ano, não por acaso, lançamos a ideia da criação do observatório social em educação, que se insere como o desafio para um novo pacto social pela educação e de um novo ciclo de pensamento político, não no sentido de provocar debates pela simples denúncia ou acusação, mas sempre com o espírito conciliador de suscitar discussões no campo suprapartidário das ideias e das sugestões, tendo sempre em mente, de forma efetiva, o bem coletivo. Sabe-se que não há modelo econômico sustentável que não tenha superado o desafio da educação. No Ceará, enfrentamos com mais agudeza essa realidade. É consenso que, se temos hoje uma infra-estrutura logística propícia à atração de grandes investimentos, carecemos, substancialmente, de uma mão-de-obra qualificada para operar atividades mais complexas
•• NÃO HÁ MODELO ECONÔMICO SUSTENTÁVEL QUE NÃO TENHA SUPERADO O DESAFIO DA EDUCAÇÃO. NO CEARÁ, ENFRENTAMOS COM MAIS AGUDEZA ESSA REALIDADE. •• no campo do trabalho. Urge mudar essa realidade. Sabemos que somente por meio do observatório não será possível mudar tal quadro. Mas também carregamos a crença de que é possível utilizá-lo como instrumento para a mobilização e a compreensão das muitas variáveis que compõem o desafio de que é urgente reformar a educação em nosso Estado. Queremos, portanto, com o observatório social em educação, acender a chama da esperança e mantê-la sempre acesa a fim de buscar soluções aos nossos problemas. Dessa forma, nos sentiremos copartícipes, mais uma vez, de nosso próprio destino. Alguns podem até achar que os objetivos do observatório social em educação sejam inalcançáveis. A
missão é difícil, sim. Mas o CIC vem dando mostras de que a história se faz com a marca da ousadia e da visão compartilhada e empreendedora. Não fosse assim, um grupo de jovens com forte formação acadêmica — e preparados para suceder seus pais na direção de suas empresas — teriam, apesar de questionar o modelo político que vigorava na década de 1980, se acomodado e privado os cearenses de vivenciar novas visões de mundo. E de futuro. A esses jovens, oriundos do CIC, como Beni Veras e Tasso Jereissati, para citar alguns, não só nossa entidade deve respeito e gratidão pelos ensinamentos que nos legaram, como também todo o Ceará, beneficiário maior dessas ações. O país vivia sob a égide do regime militar. Eram dias tensos, aqueles, e coube justamente a esses jovens começar a discutir, por meio do CIC, os modelos econômico e político vigentes naquela época. No campo econômico, enquanto outros países se abriam ao mercado externo, o Brasil ainda adotava a política de substituição das importações, o chamado protecionismo alfandegário. No campo político, a ditadura militar impedia a formação de lideranças e o debate sobre os grandes temas na sociedade civil. O resultado disso tudo era uma economia pouco competitiva, atrasada e com a produtividade comprometida. Aquele quadro adverso, todavia, incomodava os jovens do CIC, que não se intimidaram perante as adversidades que se apresentavam. Pelo contrário. Ao assumir a direção da entidade, em 1978, Beni Veras abriu uma nova fase, mediante a inserção de um debate político mais efetivo na sociedade cearense pela discussão de FHC NO CIC | 19
O discurso de Robinson de Castro e Silva ao lado da mesa integrada por Ivan Bezerra, FHC, Tasso Jereissati, Gony Arruda, Flávio Torres e Beni Veras
grandes temas. O CIC começava, assim, a quebrar o status quo reinante, resgatando, com outros setores do movimento social, a democracia e a liberdade de expressão. Não tardou para que o CIC voltasse sua voz contra as contradições da sociedade cearense, caracterizadas pela miséria que se impregnava como garantia da permanência do velho modelo de coronelismo político existente no Estado. Esse fenômeno, por sua vez, também se refletia na tradição corporativa das associações de classe locais. Durante oito anos, os momentos intensos vividos pelo CIC, contaminaram a sociedade alencarina. Essa afinidade se tornou mais explícita quando a entidade passou a assumir posturas mais efetivas e pró-ativas, como a formação pelo CIC do pri20 | FHC NO CIC
meiro comitê pró-diretas no Brasil. Na sequência, abraçou o movimento pró-Tancredo Neves. Nesse período, é bom destacar, a pedido do próprio Tancredo Neves, o CIC elaborou um documento, a partir de eventos realizados no Ceará, que serviu de base para arquitetar uma política federal de desenvolvimento regional. No princípio, se toda essa agitação cívica produzida no CIC não tinha como horizonte a política partidária, as circunstâncias foram alimentando as teias da história. As ideias, por si só, não eram instrumentos suficientemente fortes para transformar a realidade de nosso Estado. Veio, então, a eleição de Tasso Jereissati em 1986, e, com ela, a geração das mudanças que marcaram o Ceará nos últimos anos. Como caudatário dessas mudanças,
surgiram lideranças que deram — e continuam dando — um inestimável serviço ao Estado do Ceará. Em pouco mais de duas décadas, é justo reconhecer, o Ceará se transformou. As marcas do governo das mudanças, gestado pelo CIC, deram ao nosso Estado um novo rumo e novos tempos. Por causa dessas pessoas que orgulham a nossa entidade é que não posso deixar de me reportar, a respeito do momento crítico, pelo qual passam a sociedade brasileira e nossas instituições políticas. Se assim não o fizesse, estaria traindo não apenas os jovens empreendedores de um passado recente, mas todos os que construíram a história do CIC. Minhas senhoras e meus senhores, recrudesce no senado uma
crise institucional sem precedentes. Crise essa em que a política se sobrepõe à ética. Os novos e incontáveis escândalos, inclusive envolvendo a família do presidente do senado, são uma aula magna sobre o estado deplorável da política brasileira. Discursos antes pregando princípios e normas para o bom comportamento moral foram substituídos por outros que, de forma enviesada, teimam em justificar os meios pela busca dos fins. Sejam eles quais forem. E o pior: esse mesmo discurso serve de pano de fundo para instrumentalizar mentes contra aqueles que discordam de tais métodos, como se o contraditório revelasse disposição prejudicial ao país. Em relação a esses escândalos, que o ministério público não ouça o conselho nada pedagógico do pre-
sidente da república, de que “deve levar em conta a biografia de investigados em suas ações”, diferenciando cidadãos perante a lei. Se o adesismo governista fez enorme bem à economia, através da manutenção das políticas de câmbio flutuante, metas de inflação e superavit primário, que possibilitou a evolução do nosso patamar de desenvolvimento econômico, na política ele está sendo letal às nossas chances de progresso na área institucional. E isso é o que falta para transformarmos nosso potencial de nação, em realidade. Esse discurso torto, dos fins justificando os meios, se fortalece e ganha corpo a partir do momento em que do ponto de vista socioeconômico — por que negar? —, O país vive um período de relativo
êxito, que acaba blindando as mazelas existentes em outras esferas da estrutura social brasileira. Todavia, esses são feitos que não podem e não deveriam ser creditados tão-somente aos mandatários de plantão, como querem fazer crer. Os fatos históricos, é oportuno lembrar, são construídos em cima de constatações, de verdades verdadeiras, e não de falácias. Sem isso não há história. Há narrativa de ficção. História sem ‘h’. É estranho, por exemplo, deixar de reconhecer a contribuição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em todo esse processo. Os que assim agem não enganam nem a si próprios e desconstroem a história. O bom momento econômico não deveria ser motivo para esconder a crise de valores por que passa FHC NO CIC | 21
nosso país. Preocupa-me, sobremaneira, o legado que nos deixarão políticos e dirigentes. Por outro lado, mesmo a com imprensa diariamente mostrando os desmandos das gestões públicas, a sociedade não reage. Por onde andam os cara-pintadas do movimento Fora Collor? É preciso esboçar reação como dantes acontecia! Até porque, ouso dizer, não vale à pena pagarmos preço tão alto em nome de uma apregoada governabilidade. Senhoras e senhores, a crise de representatividade que estamos enfrentando é séria. No Ceará, em particular, quem fala por nós? Até mesmo quem construiu sua carreira, ancorado nas retórica das grandes causas, parece ter sucumbido diante das tantas benesses patrocinadas pela vã filosofia dos meios justificando os fins. Esses, que antes se postavam ao lado do povo, amparam-se e se escondem agora num silêncio que, pelo ruído que causa em nossa alma, nos incomoda e angustia. Não é possível calar diante de tantos descalabros. Não podemos aceitar, por exemplo, que o discurso baseado numa pedagogia cínica e desonesta aponte o dedo em riste na direção de qualquer um que ouse se opor a esse estado de coisas, como se contra o Brasil estivesse. Falam dando lições de moral e ética, como se fossem os únicos defensores desses valores e possuíssem o monopólio da verdade. Vê-se bem, hoje, que os outrora defensores das causas mais caras à sociedade ajustam-se mais ao figurino do poder. Ficaram para trás as medidas das antigas lutas, o que faz lembrar o velho cacique político baiano, Antônio Carlos Magalhães, quando disse certa vez: “é melhor apanhar de cima do que bater de 22 | FHC NO CIC
•• EM RELAÇÃO À GESTÃO MUNICIPAL, HÁ POUCO A DIZER PORQUE O DESCALABRO CAMPEIA EM FORTALEZA. HÁ MUITO O SLOGAN FORTALEZA BELA PERDEU O SENTIDO. •• baixo”. E o que dizer da frase do poeta Cazuza: “meus inimigos estão no poder”. Atualíssima. No Ceará, sob a liderança do governador Cid Gomes, um jovem e vocacionado homem público, é imprescindível pontuar que, se por um lado o Estado conta com seu talento e energia, não podemos deixar de constatar que a ampla aliança multiideológica que caracteriza sua base política está compromentendo o potencial administrativo de sua gestão, fato que se somado às dificuldades naturais, vivenciadas pelo Estado, contribui para tornar mais distante a melhoria do padrão de vida de nossa população. Em relação à gestão municipal, há pouco a dizer porque o descalabro administrativo campeia em For-
taleza. Há muito o slogan Fortaleza bela perdeu o sentido. Criaram até outro — Fortaleza cada vez melhor — que só existe nas peças publicitárias da Prefeitura. Convivemos, em nossa cidade, com problemas físicos, erros jurídicos crassos em seus procedimentos administrativos, dispensa de licitações levantando suspeitas e o eterno atraso de obras, desacreditando cada vez mais uma administração que gerou inúmeras expectativas. Ressalte-se, ainda, que a capital poderia estar vivenciando um instante diferente, haja vista o alinhamento político com os governos Estadual e Federal. As coisas em nossa cidade, no entanto, não andam. Promessas de campanha foram esquecidas ou caminham a passo de cágado. Na verdade, nada ou pouco foi feito nos últimos anos em nossa outrora bela Fortaleza. Senhoras e senhores, para finalizar, diria que vez ou outra a vida reserva às pessoas o inesperado. Ela é assim. A mim, destinou o privilégio de estar à frente do CIC nas comemorações de seus 90 anos. Muitos dos que passaram por sua presidência talvez a representassem melhor. Entretanto, a vida nos ensina que a missão do homem se constrói a partir de seu caminhar em busca da superação de desafios. Mas ainda, e principalmente, pelas posições que toma ao longo de sua trajetória como pessoa. Nesse sentido é que conclamo todos, em nome destas nove décadas de existência do Centro Industrial do Ceará, para que em aliança, e como agentes ativos da sociedade, nos posicionemos de maneira firme e verdadeira, mesmo que em determinados momentos possamos ferir susceptibilidades. O julgamento final caberá a deus e à história. n
FHC grava o programa CIC em Debate nos estúdios da TV Ceará FHC NO CIC | 23
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Cenários econômicos e políticos Na íntegra, a seguir, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fala sobre conjuntura política e econômica do Brasil e do mundo, emitindo conceitos e desenhando cenários
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OM DIA A TODOS, NOSSO PRESIDENTE DO
CIC, Robinson de Castro, senador Tasso Jereissati, meu amigo Beni Veras — que hoje está sendo homenageado —, não posso citar um por um, mas quero começar agradecendo as referências generosas já feitas a mim e dizer que sinto emoção em estar nessa manhã aqui no CIC, pela história da instituição que eu já conhecia. Não é a primeira vez que estou aqui. Eu sei bastante bem o papel que o CIC teve na retomada de uma visão mais adequada aos interesses do Ceará e do Brasil, e especialmente porque também se presta uma homenagem ao Beni Veras. Beni é um homem excepcional realmente. Já que foi mencionado seu currículo, há momentos que são inesquecíveis, se não fosse o Beni, o esforço que nós tínhamos feito para modernizar a questão da previdência social, teria simplesmen30 | FHC NO CIC
te desaparecido. Porque foi ele que teve coragem, no Senado da República, de enfrentar o tema que para qualquer político é muito delicado. Definir critérios mais objetivos a respeito da administração do período de trabalho e as condições de aposentadorias foram asseguradas e garantidas. Foi Beni que, em um momento de descrença, desceu de seu gabinete, com sua capacidade, não só de formulador, como articulador, e assumiu as condições para que aquilo fosse reposto em condições de funcionamento.
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O Beni só não foi meu ministro da educação, por questão de horas, porque quando eu o convidei e ele disse que estava impossibilitado por questões de saúde. Então, em seguida, convidei o Paulo Renato [Souza], que aceitou. Logo depois Beni esteve conosco e o médico concordava que ele fosse ministro. O Tasso, não foi o único, mas foi um dos principais, isso depois de nós juntos termos tentado outras soluções que não funcionaram, foi o Tasso quem fez, quem articulou a campanha de forma magistral, de modo que, poder voltar aqui ao Ceará, pelas mãos do CIC, encontrar aqui os amigos sendo homenageados, vendo um jovem diretor do CIC fazendo um discurso, e depois do que ele disse, meu Deus do céu, vou ter que mudar o tom do meu, realmente me é bastante grato. Mas, basicamente, eu sou professor, eu digo isso e as pessoas pensam que não, porque fui intelectual, muito do que vocacionado para questão do poder e quando me dão um tema, eu não consigo deixar de falar do tema, eu cumpro, do que, do meu modo de ver é a expectativa, eu nem sei se é a expectativa e o tema que me pediram para lhes discorrer é complicado é como se fosse “Deus e sua época”. Conjuntura nacional e internacional, passado, presente e futuro. Mas, vamos tentar não fugir a minha responsabilidade intelectual de enfrentar essa questão, embora o tom seja menos caloroso do que talvez nós tenhamos ouvido — que me deixou bastante motivado — eu vou seguir aquilo que foi pedido. Para dizer de forma direta e simples, as grandes mudanças que estão acontecendo, elas têm sua origem na década de 1970, os processos históricos são processos
•• EM ALGUNS PAÍSES AS PRIVATIZAÇÕES SE TORNARAM MONOPÓLIOS PRIVADOS. MONOPÓLIO PÚBLICO, ESTATAL OU PRIVADO, DÁ NO MESMO. TALVEZ SEJA MELHOR ATÉ O PÚBLICO. •• que a gente não tem consciência necessariamente no momento que está vivendo. Eu já vi referências de pessoas importantes que durante a revolução francesa passaram pouco ou parte do período ativamente lá e em seus diários não registram nada. Porque a revolução a gente só sabe que ocorreu depois. Aí vem os historiadores dizendo que de tal período a tal período mudou tudo, quem tá no dia-a-dia não percebe que as coisas estão mudando. Eu acho que pouca gente percebeu o que estava acontecendo nos anos 70, que tiveram consequência mais tarde, no final dos anos 80 e 90. A o que eu me refiro? Eu me refiro basicamente a uma transformação cultural e tecnológica muito
importante e para dizer de forma direta e simples, resultou nos computadores, na internet, web, etc. Eu posso dizer que eu fui testemunha ocular de parte desse processo. Eu estava na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, em 1971 com a minha família, eu era professor lá por algum tempo e havia lá uma coisa chamada “Centro de inteligência artificial” e era objeto de curiosidade de todo mundo, sobretudo meus filhos. Tinha escrito lá “cuidado: máquinas autônomas”, máquinas que andavam sozinhas. Havia um local onde se davam ordens para o computador, através dos robôs podia-se empilhar cubos e depois eles diziam que cor tinha o cubo. E tudo aquilo era feito em um ambiente de muita excitação. Claro, guerra fria, e havia reação todo dia na universidade, demonstrações e tal. Nesse centro de inteligência artificial todos os jovens pesquisadores tinham um cabelo de rabinho – aqui pra trás, era moda — e retrato do [Che] Guevara por toda parte, isso dentro dos Estados Unidos. Eles estavam fazendo uma revolução que salvou os Estados Unidos. Nem tinham consciência disso, estavam desenvolvendo esses mecanismos todos que resultaram isso hoje: uma sociedade que vive conectada, ninguém mais dispensa ter o celular, um Blackberry. Seria impensável o mundo sem que existisse essa rede imensa de comunicação eletrônica. Isso começou nesse período e os efeitos vieram depois, só para dar um outro flash, a queda do poderio, do prestigio da União Soviética, deveu-se em grande parte a isso. Não só o desenvolvimento tecnológico em si, mas a trans formação cultural que esse desenvolvimento produz. Porque na União Soviética, FHC NO CIC | 33
eles avançaram, começaram a competição com os Estados Unidos e foram muito mais depressa. O Gorbatchov ameaçou o mundo: “Nós vamos superar a produção americana” e estavam superando, produção de aço, de uma enorme quantidade de bens, também estavam superando. E foram primeiro à Lua, mandaram o Sputinik, para isso desenvolveram também computadores potentíssimos, mas enquanto eles desenvolviam isso, esses computadores potentes, sob comando militar e no total isolamento da sociedade soviética, nos Estados Unidos, no Japão, na Coréia e mais tarde na Europa houve uma outra transformação que foi a miniaturização de tudo isso. No tempo em que comecei a fazer pesquisa, eu lembro muito bem, estava fazendo um trabalho na França, em 1967 e 1968, com um amigo meu, Luciano Martins, um sociólogo do Rio, as máquinas de ATM só existiam na sala da administração, para fazer a contabilidade dos salários das pessoas. Não era ferramenta de pesquisa científica, eram máquinas enormes. Bom, o que aconteceu? O desenvolvimento tecnológico foi ao contrário, foi a redução até o PC, o computador pessoal e agora tem computador no telefone, todos nós temos um computador à disposição e isso não ficou restrito às esferas de controle do poder. Na União Soviética sim, não só eles não conseguiram acompanhar o ritmo de transformação tecnológica que já estava ocorrendo no Japão, no Estados Unidos, na Coréia, como eles continuaram com aquelas grandes máquinas, ao invés de caminhar para os micros, como aquilo ficou restringido ao setor de poder, porque a informação é con34 | FHC NO CIC
traria ao espírito de essência do estado autoritário. Mas não vou continuar dando detalhes, poderia contar detalhes da minha experiência direta na União Soviética a respeito de como isso funcionava. Só para dar um exemplo, numa reunião que eu estive, ainda no tempo do Gorbatchov – mas ainda União Soviética – que foi chamada por uns economistas franceses, o diretor ou presidente – não sei – do grande banco da União Soviética, disse “Aqui é o seguinte: eu tenho agências por toda a parte, na Criméia, por exemplo, os papéis do banco vem da Criméia para Moscou de caminhão. Dava 30 dias para eu saber como ele estava funcionando.” Ou seja, ficou um carroção pesado, poderoso, com bomba atômica mas incapaz de entender que a essência da sociedade atual é outra. É a da comunicação, da relação, da impossibilidade de limitar muito, da impossibilidade de que as pessoas não tenham acesso à informação. Aquilo foi corroendo o poderio da União Soviética e chegou a um ponto tal, que tudo aquilo que favoreceu o modo de vida concreta de todos nós, como máquina de lavar roupa e tudo que facilitou a independência da mulher, a comunicação mais rápida, não aconteceu na União Soviética. Eles ficaram restringidos ao setor militar e se esqueceram que o mundo hoje não pode mais ficar ao julgo de um super-poder limitado, desconfiado e com medo de tudo. Bom, foi a partir daí que se deu a globalização. Foi, no fundo essa transformação dos meios de transportes, dos meios de comunicação que permite que haja uma difusão do senso de decisão e, portanto de poder se espalhar pelo mundo todo,
que tornou, por exemplo, tudo aquilo que foi mencionado – a política anterior à abertura de mercado e anterior à restrição de importações – obsoleto. Era obsoleto. Ficou obsoleto no Brasil, mas não só no Brasil não, em muitas partes do mundo e ao mesmo tempo, outros setores do mundo foram percebendo essas questões. A China, por exemplo. A China produz, também não vou entrar em detalhes, é bem localizada, mas perceberam que eles tinham que se integrar, e escolheram uma maneira de se integrar. Obviamente isso não quer dizer homogeneização. Globalização não é homogeneização, cada país tem sua história, seus interesses. Aceita partes daquilo que é proposto, outras não aceita, define uma estratégia etc. Mas o fato é que nós vivemos hoje em um mundo que é completamente diferente do mundo anterior à década de 1970. E as estruturas de poder no mundo não estão adequadas à essas transformações. Então nós estamos vivendo aí, quer dizer, as grandes estruturas de poder no mundo, que queremos dizer, o poder real, ficaram com os grandes vencedores da II Guerra Mundial. A ONU foi isso, a ONU não foi uma organização para propugnar a democracia, não foi. A ONU é composta, basicamente,, pela China, União Soviética, Estados Unidos, Inglaterra e França, que ganharam a guerra. E porque ganharam a guerra, impuseram uma certa ordem ao mundo. Não impuseram que o mundo deveria ser democrático, nem que o mundo devia ser comunista. Se organizaram para evitar que houvesse guerra. A grande guerra, até certo ponto, eles conseguiram, a grande guerra não houve mais.
Depois, veio uma enorme junção de outros países e nós temos a estrutura de controle formal, a ONU. Mas ela também ficou, de alguma maneira, fossificada. Ela ficou sem a agilidade necessária. Daí por diante, começaram a inventar G7, G8, G14, G20, G-não sei o que, mecanismos pelos quais fosse possível, mais rapidamente, dar respostas às dificuldades que fossem se apresentando pelo mundo à fora, no que diz respeito aos centros financeiros, às grandes decisões que foram tomadas antes do fim da guerra, em 1944, com a criação dos pilares da ordem internacional. Quais são? O Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, e hoje a OMC e mais moderadamente o Bank for International Settlements, da Basilea, o Banco da Basilea, que dita regras sobre o funcionamento do sistema financeiro. Houve uma polêmica enorme quando isso foi criado e essa nova ordem se instituiu. Isso foi anterior aos anos 70, foi no meio dos anos 40. Porque o representante era o inglês Lord Keynes, grande economista e ele disse “esse mundo que nós estamos querendo após a guerra — com paz — vai aumentar o comércio e isso vai requerer organizações financeiras muito mais ágeis e é preciso que haja uma organização que seja capaz de funcionar como se fosse o banco central dos bancos centrais, o fundo monetário e que tenha uma moeda própria”. Os americanos não concordaram, o secretário dos Estados Unidos, T. White se opôs “não, é o dólar”. Então o que aconteceu? Aconteceu que os americanos se comprometeram, a convertibilidade do dólar. O dólar estaria garantido pelo ouro depositado no Fort Knox, isso deu uma supremacia brutal ao
•• É POSSÍVEL FAZER INVESTIMENTOS E CONTROLÁLOS, NÃO IMPORTA DE ONDE. A CAPACIDADE DE CONTROLE DOS ESTADOS NACIONAIS FICOU PEQUENA. •• dólar, que passou a ser a única moeda do mundo, o mundo que começava a aumentar seu intercâmbio. Nos anos 70, esse intercâmbio aumentou muito mais e unilateralmente — no governo do presidente Nixon — os americanos disseram que não haveria mais correspondência entre o dólar e o ouro. Eles deixaram a moeda americana baseada somente no quê? No poderio americano. No poderio econômico e obviamente no poderio militar. Mas não tem lastro. Com isso eles provocaram uma inundação de investimentos americanos na Europa, passam a ter a possibilidade de desvalorizar o dólar e portanto, de repente, alguma dívida que eles tivessem com algum país
perderia valor, pois não havia outra moeda de reserva. Era o dólar. Esse mundo se complicou muito quando veio a globalização, porque a capacidade dos estados nacionais de controlar o fluxo financeiro diminuiu enormemente e não foram criadas regras consensuais, globais e nem há nenhuma instituição que assegure a validade dessas regras. O Banco da Basilea apenas recomenda, não tem poder efetivo de controle. Então nós temos um mundo que já está, digamos, obsoleto. Assim como o nosso mundo – brasileiro – ficou obsoleto em função de nossas práticas anteriores de protecionismo quando o comércio internacional – sobretudo com a globalização – começou a se desenvolver. As instituições hoje remanescentes ficaram obsoletas. Porque há velocidade produzida pela transformação tecnológica e cultural, há necessidade de entender que hoje é preciso difundir a informação, que é possível fazer investimentos não concentrados e que é possível controlar esses investimentos, não importa de onde, porque o sistema de comunicações permite você fazer o controle em qualquer parte do mundo e maximizar os resultados obtendo uma racionalidade maior no custo dos fatores, você faz uma parte do produto na China, outra na África, outra no Brasil, outra na Coréia, outra na União Soviética e otimiza seu produto. A mercadoria passa a ser feita por um processo de produção que não é concentrado, se distribui globalmente. Esse mecanismo de controle, porque a internet e os tranportes permitem, facilita muito a distribuição. Além de deixar o mundo com um dinamismo enorme e que requer fluxos financeiros muito grandes a capacidade de FHC NO CIC | 35
controle dos estados nacionais ficou pequena. O que aconteceu? O que nós estamos assistindo agora, a explosão disso, pela super abundância de crédito dado, não só nos Estados Unidos, como no mundo todo, inclusive no Brasil, desconectada até certo ponto através de ativos reais garantisse aquele crédito, daquela bolha enorme que explodiu. Isso está a desafiar uma reorganização da ordem mundial, não está resolvida a questão. E continua o impasse, porque há, outra vez, muita resistência, sobretudo dos EUA, a idéia que possa haver uma autoridade mundial que determine certas regras de controle sobre o sistema financeiro. A questão está em aberto. Então nós estamos assistindo, na conjuntura internacional, os primeiros passos de uma reorganização das estruturas de poder e das estruturas de controle financeiro e administrativo, em função das transformações pelas quais, o mundo já passou. Nessa mudança, viu-se também que é ilusório pensar que você e o mercado, por si só, tomam decisões e que aí as coisas funcionam. Não. Precisa ter regras. Portanto, ter algum tipo de governo, não só governo nacional, com a presença de governos nacionais em alguns órgãos que sejam mais globais, que tomem decisões. Alguns passos foram dados recentemente. Na penúltima reunião do G20, eles aumentaram muito a quantidade de recursos à disposição do Fundo Monetário. Criaram um pouco em redes de caridade, um pouco da linha do que a gente queria, direitos especiais de saque e não é só o dólar. Mas é muito complicado ainda. O controle continua muito fe36 | FHC NO CIC
chado. O Fundo Monetário Internacional, por exemplo, apesar de hoje ter mais recursos, o controle lá, você pode vetar, quando se tem mais de 15% das ações e só um país tem: Os EUA. Continua assim e todo mundo sabe, quem tem experiência como eu — infelizmente, fui obrigado a ter — de crises financeiras, que quando as questões são difíceis mesmo e que o fundo monetário começa às vezes com o “diz de lá, diz de cá” quem manda entre os dois é o governo americano, o último recurso é falar com o presidente dos EUA, falar com o ministro da fazenda e mandar fazer. Ora, não dá pra ter o mundo globalizado se o comando for assim. Nós estamos assistindo o que está acontecendo, muda de plano, vai para a questão do aquecimento global, nós vamos ter o mesmo problema. É preciso que haja regras. E é preciso que haja instituições globais, e é preciso que elas tenham um certo grau de democratização. Para que os vários setores que estão conectados no mundo tenham vez e voz. Neste momento o presidente Obama está tentado conversar com o presidente Hu, da China para ver se os dois se entendem, porque eles vão ter uma reunião em dezembro, em Copenhague, onde algumas regras sobre a questão do aquecimento global, como redução de emissão de gases de estufa e gás carbônico, poderão ser decididas. Essas são questões que estão em processo. Vamos deixar a cena internacional, senão eu vou passar a manhã toda falando sobre isso, vamos entrar no Brasil. Nesse processo todo de realinhamento do mundo, o Brasil sofreu uma espécie de terremoto, para ser franco. Esse terremoto começou,
ou melhor, esse terremoto deriva daquilo que eu já falei antes, transformações dos anos 70 e 80 — a queda do regime soviético e a ideia de que só haveria um grande poder . Depois se viu que não, que havia também a China e, depois vimos, a Europa, tem até nós — os emergentes. Mas começou realmente com a abertura da economia. Porque foi uma verdadeira terapia de choque. Uma abertura como se dizia na época “feita unilateralmente”, ou seja, sem negociar o que se ganhava. Talvez fosse melhor ter negociado, mas o pior seria não ter feito. E isso foi feito pelo presidente Collor. Eu sempre costumo dizer que não se pode tirar da história o que é da história. Não fazer aqui o que fizeram os stalinistas, que tudo que era retrato do Trotsky desapareceu. Quem fez a abertura foi o governo Collor, e quando ele a faz, há um choque imenso. Porque ou outras coisas são feitas ou realmente a indústria nacional, produção nacional, vai entrar em colapso. Outras coisas foram preciso ser feitas. É por isso que nós fizemos depois as outras coisas. Era preciso acabar com a inflação, era preciso criar instituições novas para lidar com as questões de como uma economia, que já não é fechada, se relacionada com o mundo. É preciso ver como se faz o fluxo de capitais, como se atrai capitais, como é que se cria instituições que sejam capazes de regular os investimentos — as agências regulatórias. Mudar, portanto, a forma do estado, para que o estado seja mais competente — não menor — mas competente dentro dos desafios atuais e não para responder os desafios do passado. De que maneira você pode agilizar o sistema produtivo, em que setores convêm ou não convêm
fazer a privatização. Feitas as privatizações, como evitar que se transformem em monopólio privado. Em alguns países as privatizações se tornaram monopólios privados. Entre monopólio público, estatal ou privado, dá no mesmo. Talvez seja melhor até o público. Privatização não pode ser feita para entregar tudo para um grupo só. Então tem que haver regras. Tem que ter controle. Tem que haver democratização da informação e uma relativa separação do interesse político partidário e o estado. Para evitar que haja protecionismo, favorecimentos e etc. Esse desenho começou a ser feito aqui no Brasil. E conseguimos outras coisas mais, feita a estabilização da economia e isso, todo mundo sabe, não é o plano real em si, é toda negociação das dívidas dos Estados e Municípios, foi uma loucura, uma dificuldade enorme para botar em ordem. O que o governador Tasso fez no Ceará, nem todos fizeram. Então, o Brasil tinha um estado de calamidade publica. Não se sabia quem devia quanto à quem. Um vez eu disse ao presidente Itamar: “durante duas vezes nós não pudemos publicar o balanço da Caixa Econômica, ela estava no vermelho.” — Não é possível, disse ele. Como não era possível?!?! Eu era o ministro da fazenda, eu sabia. Nós não publicamos porque a Caixa Econômica estava no vermelho. Quando está no vermelho uma instituição financeira tem que fechar. Por que estava no vermelho? Porque ninguém pagava, ninguém pagava. O próprio poderoso governador de São Paulo, vai pagar a dívida do setor agrário? Não pagava. Enfim, para chegar ao ponto que nós chegamos, poder responder os desafios desse mundo que mu-
•• NESSE PROCESSO DE ALINHAMENTO DO MUNDO, O BRASIL SOFREU UMA ESPÉCIE DE TERREMOTO, PARA SER FRANCO. ESSE TERREMOTO DERIVA DAS MUDANÇAS DOS ANOS 70 E 80 •• dou, deu muito trabalho. Não havia nem consciência clara de como fazer, mas pouco a pouco fomos fazendo e isso permitiu continuar com a possibilidade de diminuir as diferenças sociais, de ter programas sociais mais ativos e etc. Nós hoje estamos diante de outros grandes desafios, a conjuntura é outra. É outra por quê? Primeiro porque houve essa crise nos EUA, coração do sistema financeiro. Repercutindo no mundo todo, até na China, em toda parte ,aqui também. As outras crises, por exemplo a crise da Rússia, em 1998, foi tremenda para nós. Mas a crise da Rússia foi uma crise em que havia ameaça, especulação e ataque à moeda nacional, ao Rublo, ao Peso, ao
Real. Essa não, essa foi um ataque ao dólar, não foi a nós. Foi ao dólar e com conseqüências imensas, mas não foi diretamente sobre nós. Como ela nos afetou? Ela nos afetou diretamente em duas questões. Primeiro porque o mercado financeiro secou, os empréstimos paralisaram nos EUA e depois na Europa, Japão e uma parte desses empréstimos o Brasil sempre tomou. Os bancos tomavam esse dinheiro lá fora, com a taxa menor, para poder emprestar aqui dentro, ter mais recursos e para financiar as exportações também. Então houve um recuo do setor financeiro, mas aconteceu essencialmente, porque houve uma queda muito forte das exportações. Isso afetou a economia brasileira, está afetando ainda. Sobretudo a economia industrial. Por quê? Porque ao contrário do que se imaginava, que a crise ia prejudicar mais as exportações dos produtos primários, graças à China, que está retomando o seu crescimento, o preço caiu também, o valor dos produtos primários, dos metais e de alimentação, mas não caiu tanto quanto se esperava e para os manufaturados sim, a queda de exportação foi muito grande. Porque o Brasil exporta manufatura para quem? Primeiro para nós mesmos, segundo para os EUA e terceiro para a America Latina. Nós não exportamos manufaturamos para Europa, nem para Ásia, nem para China. Então nós temos que tomar algumas decisões na conjuntura, mas que são de estratégia. Nós vamos ter que decidir no que nós vamos apostar. Porque nós estamos passando de um momento, que é o momento de pré-abertura e nós tínhamos uma visão autárquica — quer dizer, um país grande como o Brasil, como a FHC NO CIC | 37
China, como a Rússia, como EUA podem produzir tudo – para uma visão de que não pode mais ser assim. Dada a interconexão dos mercados produtores, a maximação das vantagens tem de ser feitas. Então nós vamos ter de nos perguntar, no que realmente, não agora, mas em 20 anos de prazo, nós vamos ter condições de continuar competindo. Não podemos ter a ilusão de que vamos manter tudo. Nós temos que fazer escolhas estratégicas. Então quando se fala em fazer um plano de crescimento, o plano não pode ser só aumentar o que já tem. Tem que ser o que nós vamos poder ter no futuro, qual é a nossa visão do futuro e o que vai acontecer com a economia mundial e com a nossa. No que nós vamos realmente poder avançar e no que não? E naquele setor que não, o que nós vamos fazer com ele? Como se faz a sua transformação, sua adaptação à novas situações. Não estamos fazendo isso. Não estamos pensando a longo prazo, a não ser em setores em que as vantagens parecem ser mais evidentes, por exemplo, na área de energia. Onde nós temos vantagens evidentes aí é mais fácil e alguma coisa está se fazendo. Alguma coisa. No petróleo, alguma coisa, no etanol, muito pouco. Porque no etanol o problema que ele vai ter que enfrentar é se transformar em commodities. Se não, ninguém vai comprar etanol. Enquanto ele for produzido só no Brasil e o preço depender da avaliação daqui, porque os japoneses vão abrir o mercado deles para o etanol? Para ficar na dependência do Brasil? Nós vamos ter que suscitar a formação de produtores, não sei aonde, na América Central, na África, etc. Definição de valor do 38 | FHC NO CIC
etanol, para que o etanol possa definitivamente se transformar em um produto, como deve ser, mundial. E têm vantagens, vantagens de competitividade como o álcool produzido, não pela cana, mas pelo milho. Têm vantagens em relação à poluição, muitas vantagens mas, nós não estamos ainda vendo que, olhando pra frente, nós estamos ainda imaginando que já resolvemos a questão, falta uma visão de estratégia diante das transformações que já ocorreram no mundo e que vão continuar afetando a nossa vida, a nossa indústria. Será que nós estamos atuando de modo conseqüente, por exemplo, naquilo que nós temos vantagem por parte de dinheiro forte, na questão climática, onde o Brasil tem uma vantagem enorme? A poluição produzida pelo Brasil, a emissão de CO2, de gases estufa, não decorre da nossa produção industrial. Porque a nossa indústria é moderna, recente, ela se adaptou bastante às condições necessárias. Ela decorre da queimada de árvores na Amazônia, ou no cerrado, não se justifica isso. Não há nada que justifique isso. Quer dizer, o custo do Brasil de ter uma política forte, no plano mundial, em favor de uma nova visão, é baixo. A China resiste, porque a China sim, a indústria chinesa não evoluiu muito, até porque a fonte energética mais importante lá, fora o petróleo, continua sendo o carvão. Não é o nosso caso. E nós nos comportamos muito ligados aos interesses da China ou da Índia, por quê? Se nós podemos definir outros interesses e avançar e nos colocarmos numa posição de vanguarda e desenvolver novas tecnologias, aqui mesmo, da janela do hotel, eu vejo lá a energia eólica. E outras formas
mais, que nós podemos avançar e ter uma posição mais clara em relação a isso. Estou dando alguns exemplos assim para dizer “olha, nós não podemos ficar mergulhados na conjuntura. O mundo mudou, vai continuar mudando, nós temos que escolher qual a direção, nós temos que definir uma estratégia”. E estratégia não é colocar no orçamento, PAC. PAC é o orçamento. Qual é a estratégia? Nós visamos o quê? Bem, é obvio, os senhores sabem tão bem, ou melhor do que eu, que na área do setor produtivo. Além disso, nós temos carências de infraestrutura enormes. E nós não estamos avançando nesta área. Um só exemplo: O senador Tasso, há de se lembrar, porque ele brigou muito por isso lá no senado. PPP, parceria pública-privado, quantas foram feitas, senador? Nada. Perdemos anos discutindo o modo pelo qual haveria investimento privado, em parceria com o público. Não aconteceu nada. Aí voltamos a fazer conseções, dez anos depois do que nós tínhamos feito lá atrás, cinco ou seis anos depois se fazem conseções lá em Minas Gerais. E ganham os espanhóis. O que se fez com os portos? Se discute qual são os modelos, não se sai dessa discussão dos modelos, por quê? Porque há aqui uma resistência ideológica em entender que o mundo de hoje requer, efetivamente, que o capital privado seja mobilizado e que o governo tem agências reguladoras fortes para evitar que o capital privado se monopolize e para que o capital privado sirva ao interesse público. Mas tem que haver a posse de capital privado. Nós estamos fazendo o contrário. Nós, no setor elétrico, por exemplo, levamos anos discutin-
do um modelo, e agora fizemos em Rondônia duas geradoras de eletricidade que vão daqui a cinco ou seis anos funcionar e estamos fazendo a moda antiga, a escolha do vencedor é feita pelo governo. No modelo moderno, que é de competição transparente aberta, não. É um modelo de equilíbrio “a la Coréia”, como se o Brasil fosse a Coréia. Esqueceram que a Coréia na época não era democrática. Então se escolhe quem são os vencedores. E aos vencedores as batatas, como dizia Machado de Assis. E se dá então privilégio a um ou outro. Isso, em um momento se dá em uma certa abundância no mundo, você pode dar privilégios a vários e ninguém grita, porque todos recebem o seu quinhão, recebem em via política, não recebem em via de uma coisa mais transparente, mais competitiva, mais moderna. Então eu acho, nessa visão de futuro, a partir dessa conjuntura, essa questão da infra-estrutura é fundamental. Mas eu não acho, sinceramente, que o Brasil não tenha sido capaz – acho que foi – de responder aos desafios de adaptação às mudanças que ocorreram no mundo. Nós mudamos muito aqui também. Eu me lembro quando nós fizemos o Plano Real e diziam que a Vale do Açúcar tinha medo da indústria, qual foi o sucateamento da indústria? Nenhum. Quando eu entrei no governo, as indústrias automobilísticas estavam totalmente concentradas em São Paulo. Com uma exceção, que era a Fiat, em Minas. Quando eu saí, tinha indústria automobilística no Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Goiás, Bahia, e por aí vai. Obviamente meus compatriotas paulistas nem sempre olharam com muito entusiasmo que eu dei-
•• SE NÃO HOUVER UMA VERDADEIRA VISÃO ESTRATÉGICA DE POLÍTICA DE CRIAÇÃO DE UMA INDÚSTRIA PETROLÍFERA, AÍ O PETRÓLEO PASSA A SER REALMENTE UM PROBLEMA. •• xasse a coisa correr dessa maneira. Mas tinha que correr dessa maneira. Porque tinha que ocorrer uma expansão e não houve sucateamento, houve expansão da indústria automobilística. “Ah o petróleo, não sei o quê...” Esse poço, do qual resultou o présal, foi licitado no ano 2000. E a licitação foi uma das mais barulhentas pela oposição, feita pelo PT e outros mais contra. Agora, é a maior jóia governamental, o pré-sal. É bom, é bom para o Brasil. Mas é preciso que se veja que foi possível porque houve um modelo de competição transparente, nesse modelo havia também condições, para poder ganhar uma licitação de poço de petróleo tinha que se comprometer a comprar par-
te da produção do equipamento no Brasil, foi criado todo um encadeamento de produção industrial. Temos que ter, muito mais importante que saber, quem vai fazer o investimento no petróleo e como é que vai ser essa repartição dos lucros ou, pelo menos, tão importante como isso, vamos ou não criar uma verdadeira indústria petroleira no Brasil? Não é a extração do petróleo. A extração de petróleo dá em Arábia Saudita, privilégios, riqueza muito grande, etc. Se não houver realmente, uma verdadeira visão estratégica de política de criação de uma indústria petrolífera e decisão nacional do que você vai fazer com o resultado dessa industria, aí o petróleo passa – ao invés de ser uma bênção –, a ser realmente uma coisa que só atrapalha o desenvolvimento nacional. Essas questões não estão sendo discutidas. Estão sendo discutidas todas em termos de “oba-oba” e não estão sendo discutidas na sua profundidade, e não estão sendo apresentadas ao país, para o país saber do que se trata. Nós estamos, sem perceber, tomando rumos. Mas o rumo, sem perceber, não é rumo, é zigue-zague. Não existe efetivamente uma visão estratégica, que poderia ser digna do nome de um plano de desenvolvimento do país. Mas eu não acho, como disse aqui, que a questão do setor econômico tem sido perdida. Ao contrário, eu acho que a força da economia brasileira é muito grande e se deve à sociedade brasileira também. O Estado não atrapalhou, e em certos momentos complicados ajudou, mas ela se deve, sobretudo, à vitalidade do empresariado, dos trabalhadores, da sociedade em geral, da classe média que é ativa, das existentes universidades, etc. FHC NO CIC | 39
Há outras questões que eu acho que são mais difíceis do que a econômica. Para que nós possamos realmente avançar mais no ritmo que o mundo requer. Uma questão está ligada diretamente, que é a do desenvolvimento tecnológico e científico e já foi mencionado aqui à questão educacional. Eu sei como é difícil, não posso, não tenho nem a liberdade de ser leviano nessa crítica, porque fui presidente. Por que você não fez? Eu sei que é difícil. Isso não se faz de um momento para outro, mas é preciso pelo menos de novo, termos uma estratégia. Por quê? Nós conseguimos no Brasil, em parte, entender que o fundamental no mecanismo educacional era ao mesmo tempo que se mantinha grupos de excelência de qualidade, dar acesso. Colocar todas as crianças na escola. Foi feito. E agora dar acesso ao ensino secundário. Mas nós não fizemos uma revolução interna no sistema educacional. A que me refiro? Deixa primeiro eu dar um exemplo do sistema do curso superior. Eu tenho uma certa experiência em universidades, nos EUA, na Europa e na America Latina. Até o ano passado eu era professor da Universidade de Brown, nos EUA. Fui professor em Brown durante 5 anos, fui professor também em Princeton, em Stanford, em Berkley. Enfim vi de perto que a força dos EUA deriva, em grande medida, do seu modelo educacional e da relação da universidade com a sociedade. Porque a universidade americana se sente forte, ela atrai gente do mundo todo, ela é paga diferencialmente do prestígio, do valor de cada um. Não é uniformizado. E a universidade não tem medo de trabalhar com a empresa, nem com o governo. Ela 40 | FHC NO CIC
não pensa que ao trabalhar com empresa ela será cobrada e com o governo ela vai ser cooptada. Ela tem força própria. Já a nossa vira Bunker, ela se defende, tem medo. Ela acha que vai ser comprada pela empresa ou cooptada pelo governo, então fica fechada em si mesma. Pior ainda, se um jovem de 16 ou 17 anos vai para a universidade nos EUA, ele não faz uma escolha de profissão, ele entra no College e durante os dois primeiros anos ele monta o seu currículo. Não é incompatível estudar física e literatura grega e, quem sabe, um pouco de música ou de sociologia. Não há problema. Ele está formando a sua visão e vai se profissionalizando pouco a pouco. Aqui no Brasil, a criança com 17 ou 18 anos escolhe a profissão. “Vou ser engenheiro!” Depois não quer. “Vou ser médico!” depois não quer. E tem que fazer um novo vestibular, uma rigidez muito grande. Bom, isso na universidade. Em todos, da universidade ao ensino primário, hoje nós temos um problema difícil. Que é, primeiro no ensino primário, não dá para manter criança na escola de 3 a 4 horas por dia. Isso é insuficiente. Nós temos que avançar muito no tempo em que a criança fica na escola. O tempo é importante porque uma criança aprende com a outra, não só com o professor, um aprende com o outro. E agora com negócio de Google, computador, não sei o quê, eles aprendem muito e sabem mais, às vezes, até do que o professor. A idéia de que o professor ensina e outro aprenda é errada, é um trabalho em conjunto. E nós ainda temos uma questão, primeiro de que o professor diz, explica e impõe. E está errado o método. E segundo, nós ensinamos muita coisa inútil, então a criança se cansa.
A evasão escolar no Brasil é muito alta. Era, principalmente no passado, por razões econômicas, a criança saia para trabalhar, ficava cansada. Agora é menos isso. Agora é desinteresse, chega na escola e não aprende nada porque ela sabe mais ou pensa que sabe mais. E nós não temos tido o vigor para mudar o que se ensina, o conteúdo e nem o vigor para ver que para ensinar tem que mudar a cabeça dos professores. Nós temos uma imensa desvantagem, como o acesso à educação é recente, as famílias não têm a educação das crianças. Então, só tem a escola. Ela volta para casa e não vai receber nada em casa, ao contrário, ela vai dar em casa. Se você está na Coréia ou na Tailândia, onde a cultura tradicional permaneceu, você tem lá a família que tem o que ensinar. Aqui não, porque nós somos um país migrante. Não sei se vocês viram um filme admirável chamado “Entre os muros”, sobre uma escola na França, ali que se vê a dificuldade imensa dos franceses, que são racionais, de ensinarem aqueles imigrantes – de todos os lados, e sem experiência –, a cultura francesa. Os meninos reagem. Não penetra. Nós aqui não temos diferença de religião marcante, nem de língua, mas nós temos experiência porque somos todos imigrantes ou porque somos imigrantes de fora, ou porque são imigrantes Brasil a fora, ou porque subimos socialmente. É tudo desraizado. Isso é bom ou mal? É bom porque abre um espaço enorme e é mal se não forem criados os caminhos. E isso só pode ser criado se efetivamente houver um esforço enorme de re-treinamento dos professores. Eu acho que essa questão educacional tem que ser vista como o
caminho para uma revolução, nesse sentido que eu estou dizendo, muito mais profunda e com uma visão estratégica de que país nós vamos ter. Não vou aqui também entrar em todos os problemas, que são muitos, não seria o caso. Mas acho que alguns são gritantes. Uns são óbvios, questão de violência e segurança de vida em público – da vida das pessoas e não da vida publica –, drogas, eu até me meti em uma comissão latino americana de drogas, porque eu acho que a situação é dramática, o que está acontecendo na Colômbia e no México é dramático, aqui também. E não abrimos a discussão, pelo menos a discussão para entender. Não está dando certo. Se não está dando certo, vamos nos juntar, vamos discutir para ver o que pode dar certo. Porque isso vai minando a coesão da sociedade. Eu acho que há sistemas que não são econômicos, mas que são fundamentais para nós avançarmos. E avançar em que sentido? Porque em uma sociedade como a de hoje, onde todo mundo têm informação, viaja e é de alguma maneira desraizado, é fundamental que hajam certas normas que sejam aceitas e respeitadas e nós estamos assistindo o “desfazimento”, eu sei que isso não é português, o “desfazimento” das normas. Eu acho que o que foi dito a pouco pelo nosso presidente [do CIC] aqui, é isso, as normas estão se desfazendo sob a bênção de quem deveria ser o guardião delas. É dramático e isso tem efeito a longo prazo. Em que se vai acreditar? Ainda ontem uma pessoa me perguntou, quando eu cheguei aqui: “O senhor acha que o senado é uma instituição necessária?” Só por fazer essa pergunta eu ia dizer “Você acha
•• NÓS TEMOS QUE AVANÇAR MUITO NO TEMPO EM QUE A CRIANÇA FICA NA ESCOLA. O TEMPO É IMPORTANTE PORQUE UMA CRIANÇA APRENDE COM A OUTRA, NÃO SÓ COM O PROFESSOR. •• que a democracia é necessária?”. É o ponto que nós estamos chegando. Para contar uma coisa em um detalhe mínimo, eu costumo cortar o cabelo mal, não quero falar mal do meu barbeiro, irregularmente, e é em uma portinhola que tem lá em São Paulo, simples. Chama-se Jacaré, o barbeiro. Outro dia ele me disse “Sabe, presidente, eu acho o seguinte, a pessoa que chega lá em cima tem o direito de roubar”. “Mas rapaz, você tá falando isso pra mim?” Eu falei, “ou você me diz que eu sou ladrão ou que eu sou bobo”. Mas isso que é nada, é muito grave. Porque é justamente o desfazimento da norma, por exemplo, chegou lá, pode. Essa questão que foi mencionada aqui, nós realmente somos
iguais, pelos menos perante a lei, não vamos continuar desiguais em tudo. Sobretudo na sociedade é fundamental. Democracia é isso. Eu sei que é eleição, é liberdade, liberdade até que nós temos. Mas é muito mais do isso. É governo das leis e não dos homens, nós estamos transformando o governo das leis no governo dos homens, do homem, pra ser exato, do cara. E isso é feito sem consciência, não é que as pessoas estão propiciando isso, quem não tem um mal resultado não sabe que a acumulação desses pequenos deslizes resulta na impossibilidade de uma sociedade decente. Eu acho que o tema da decência tem que ser posto de novo e o da indignação também. Por que ou nós nos indignamos ou o quê? Temos que nos indignar. Não é partidário, e eu não estou falando de coisas específicas, não cabe a mim falar delas. Mas em geral eu acho que a sociedade moderna requer consciência do direito e requer o sentimento da igualdade perante a lei. Nós temos aqui o sentimento da impunidade, que não é um sentimento, é impunidade. Nós temos a impunidade. Em uma sociedade que tudo sabe – porque ela é ao mesmo tempo transparente, e não poder deixar de ser – pela revolução tecnológica tudo vai ser sabido. Não adianta querer evitar que saia porque a maquininha, o repórter, o twitter, o não sei o quê, graças a Deus todo mundo acaba sabendo tudo. E como não acontece nada depois que se sabe tudo, é impune. Nós ainda não estamos nesse ponto, mas nós temos que reagir contra isso. Então para mim, na conjuntura atual, além desses problemas que eu mencionei e poderia mencionar FHC NO CIC | 41
outros mais, a respeito do desenho de como nós deveríamos pensar estrategicamente, afinal quem pensa, pensa estrategicamente ou não pensa, não é? Mas além da estratégia, digamos assim, Hard da economia, dos grande problemas nós temos também a questão dos valores e isso tem que ser reposto, valores elementares, de decência, de igualdade perante a lei e igualdade social, obviamente, que continuam sendo desafios importantes. Eu acho que há muito a se fazer. Eu acho que nós já fizemos bastante. Se nós olharmos através do tempo, o Brasil mudou muito, eu costumo dizer a mesma coisa, porque é expressivo. Eu nasci no Rio, Rio de Janeiro, isso não é mal. Mas, enfim, nasci lá. O que é mal é que eu nasci em 1931 e naquela época o Brasil tinha uma estrada pavimentada, que ia do Rio até Juiz de Fora, não tinha mais nenhuma estrada pavimentada. Eu fui para São Paulo em 1940, meu pai era militar e foi transferido para lá – aí era um orgulho –, tínhamos duas, era aquela primeira e a via Anchieta, entre Santos e São Paulo, nada mais. Mas eu não posso ser pessimista. Eu assisti, no decorrer da minha vida, esse país mudar para melhor. Quantos seriam os analfabetos em 1931? Talvez 40%, ou mais, da população. Quem tinha acesso à escola? Não havia nenhuma universidade em 1931, havia faculdade, mas universidade, nenhuma. Nós fizemos muita coisa. Vocês são o exemplo disso. O que foi feito no Ceará, aquelas fotografias aqui, do início, já mostram isso. Que mudou. De avião, já dá para ver, que mudou e melhorou. Do avião. É melhor ficar no avião, às vezes. Mas certamente houve mudanças positi42 | FHC NO CIC
vas no Ceará, como está havendo em toda parte. Então eu acho, não digo nunca que “nada deu certo”, muita coisa deu certo. Agora, se nós quisermos continuar avançando nós vamos precisar muito do CIC, de vários CICs, de centros que realmente pensem, mas que não só pensem. Aqui eu ouvi várias vezes dizer que houve momentos de pensamento e “quando chegou, o Tasso pôs em prática”. Ninguém põe em prática sem pensamento. Mas o pensamento sozinho, sem colocar em prática, também não adianta muito não. É bom para a universidade, mas não resolve na vida. Nós precisamos de muitos centros que tenham pensamentos e estejam dispostos a pôr em prática. Mas quem está disposto a pôr alguma coisa em prática, corre riscos, decisão política não é própria dos covardes. Quem é covarde na política não consegue avançar, tem que ter coragem, correr riscos. E também acho que só corre os riscos, quem tiver convicção. Uma coisa simples, se você não está convencido, você não vai correr o risco, você não crê. Agora se você crê, se você está convencido, você corre o risco. Se você estiver convencido mesmo, você tem que ter a capacidade de convencer os outros. E as pessoas percebem se é sincero ou não é sincero. Então eu acho que há um momento, outra vez, que independentemente de qual tenha sido a nossa trajetória política, ou seja, hoje que nós possamos dar as mãos uns aos outros, dizer “basta!”. Vamos ter que ter um Brasil melhor. E vamos estar juntos. Muito obrigado. Perguntas: Todo grande governante comete erros. Se pudesse voltar no tempo,
o que o senhor voltaria e corrigiria? Qual o grande erro de FHC? E qual o erro capital do governo Lula na sua visão? (Por George Feijão – Faculdade Evolutivo) — Se eu quisesse sair da pergunta, seria fácil. Não fui grande governante, quem não foi grande, não cometeu erro nenhum, porque não fez nada. Mas como eu não vou querer sair da pergunta, posso dizer, eu já disse várias vezes, é quase impossível não cometer erro e só se sabe do erro depois. Quem faz o erro sabendo é burro ou tem má fé. Não sendo burro e nem de má fé, você sabe que errou, mas, depois. E tem que ver as circunstâncias, por exemplo, um dos temas que durante o meu governo era muito discutido e se refletia muito era a questão, como agora, da valorização da taxa de câmbio. Nós tínhamos medo da desvalorização. Ouvi várias vezes, acho que foi o Delfim que inventou isso “era populismo eleitoral”, que era para eu me reeleger, não era não. Era medo. Era medo de ao mexer no câmbio, voltar a inflação. Depois, quando houve a lei 99, quando estourou o câmbio, nós vimos que não, que nós tínhamos feito um trabalho bastante bom e a inflação não voltou, portanto, nós poderíamos ter ajustado a taxa de câmbio antes, que seria mais eficaz. Agora, quando um presidente vai tomar uma decisão, não adianta ele tomar uma decisão, tem que ter quem vá implementá-la, se não tem pessoas dispostas - eu não tinha- em minha equipe, em muitos momentos, as pessoas não queriam, embora outros quisessem, mas foi certamente, vista de hoje “talvez em 1997, nós tínhamos mais de 70 bilhões de reserva se ajustasse o câmbio”. Outra questão que eu poderia dizer e que poderia ter sido dife-
rente, eu mandei muitas reformas para o congresso ao mesmo tempo, e pressionei muito o congresso. Quando você manda muitas reformas, isso é uma coisa de Maquiavel, reforma é difícil, porque quem vai se beneficiar delas não sabe, mas quem vai perder sabe. Então, se juntam todos que vão perder, como eu mandei muitas reformas, se juntaram todos que iam perder para bloquear tudo. Acho que foi um erro político. De estratégia política. E por aí vai. Agora, quanto ao presidente Lula, eu acho que ele nunca errou. Presidente, vivenciemos hoje fatos cujo os interesses políticos partidários estão acima dos interesses da nação brasileira. Foi um casuísmo político a reeleição pra Presidente, Governador e Prefeitos? (Por Baltazar Neto – ex- presidente do CIC) — Olha, eu fui favorável ao instituto da reeleição na Constituinte. Quando houve a revisão constitucional, houve uma modificação, ou melhor, a Constituinte tinha reduzido o mandato presidencial de 5 para 4 anos, com a condição de haver uma reeleição. Com os mecanismos processuais do congresso, não deu tempo de fazer a reeleição. Quando veio a revisão constitucional, da mesma maneira. Bom, eu sempre achei e continuo achando que no sistema presidencialista, o sistema funciona melhor quando se tem 4 anos e uma reeleição. Nos EUA é assim e em vários outros países também. Eu sou favorável à reeleição. Sou favorável. Casuísmo diz respeito ao seguinte: para beneficiar quem está no cargo. É verdade. Agora, naquela época, seria um risco se o Lula ganhasse porque ele era contra tudo. Quando ele ganhou ele já não era contra nada, só dizia. Na época,
•• EU SEMPRE ACHEI QUE O SISTEMA FUNCIONA MELHOR COM 4 ANOS E UMA REELEIÇÃO. NOS EUA É ASSIM E EM VÁRIOS OUTROS PAÍSES TAMBÉM. EU SOU FAVORÁVEL A REELEIÇÃO. •• ele era contra tudo. Então a questão não é de casuísmo. Você vai deixar que tudo se arrebente ou você vai segurar a peteca. Não é? Então eu acho, historicamente, a história não vai saber, não vai olhar nesse ângulo. Casuísmo vai olhar quem quiser falar mal de mim Isso vai haver a vida inteira. Não foi isso que me moveu. O que me moveu foi um pensamento institucional e a necessidade realmente de manter as forças políticas. Eu continuo favorável à reeleição. Acho que nós deveríamos fazer outras mudanças. Mais tarde pode até mesmo tentar um terceiro mandato. Por que não três mandatos? Porque não existe essa instituição em nenhum país no mundo? Ou você tem
eleição de um mandato só ou reeleição, ou proibição total como se tem nos EUA, ou sem proibição como se tem no Brasil. Você pode voltar depois de um período ou então você tem mandato indeterminado. Mandato indeterminado costuma ter o nome de ditadura. Por isso eu sou contra. Por que três? Por que quatro, cinco, seis? Não tem lógica. Essa questão do Bolsa família, o assistencialismo do Governo Federal vai ser importante nas eleições de 2010. Inclusive, como é que os tucanos vão entrar nessa discussão do Bolsa família, sabendo que vai ser motivo de abordagem para captação de votos? (Por Roseane Medeiros e Riçado Sales – Diretores do CIC) — Para começar, o sistema de bolsas foi instituído no meu governo. Em função do quê? De um programa que era do Banco Mundial. Em inglês é Cash Transfer, transferência de renda. Que foi muito propagado pelo Banco Mundial. O primeiro país que adotou foi o México, chamado como Progresso. Todo o pessoal do PT e adjacências, era contra. Porque diziam que era neoliberal. Bom, nós fizemos 4 bolsas. Uma era na verdade do tempo do presidente Itamar, ele criou a chamada Bolsa Gás. No meu governo nós criamos a Bolsa escola, pela qual foram destinados recursos para 5 milhões e meio de famílias. A Bolsa alimentação que era dada para as mulheres grávidas, sob o controle do Ministério da Saúde. E a bolsa que era para tirar criança do trabalho forçado, dada através do Ministério da Previdência Social. Então nós tínhamos quatro bolsas. Já no meu governo, estávamos fazendo o mecanismo de juntar as bolsas todas, era a Caixa Econômica FHC NO CIC | 43
que fazia isso através dos sistemas de computação para unificar os cadastros. Eu pessoalmente tinha restrição a isso. Por que eu tinha resistência? Porque se você dá a responsabilidade da bolsa educação para o Ministério da Educação, o ministro da educação tem interesse substantivo na educação, então ele vai ver se o requisito imposto, que era assistir 85% das aulas, era cumprido ou não. A Bolsa alimentação tinha outro requisito, que era a mulher fazer o pré-natal. Eu disse “vai juntar tudo isso, vai virar um burocracia. Vai ter resultado político mas não se vai ter resultado de fato”, mas essa junção começou no meu governo. Veio o presidente Lula, juntou tudo, ampliou o número de beneficiados e aumentou o valor. Eu não sou contra. Eu acho que esse programa funciona. Estou dizendo apenas que começou no meu governo. Você pode discutir e o ministro Patrus [Ananias] tem insistido que eles vão fazer isso, é cobrar mais o cumprimento dos requisitos exigidos. A contra partida. O melhor desses programas é o do Chile, porque o Chile fez esse programa com o objetivo de ligar os beneficiados a três grandes blocos. 1– Ao mercado de trabalho, para ficar livre da necessidade da bolsa; 2– Ao sistema geral de educação; 3– Ao sistema de saúde. Então, era o caminho para a cidadania e não o caminho para a dependência. Mas, no Chile são 250 mil famílias e no Brasil são 11 milhões e meio. Então eu não vou cobrar do governo que ele faça o que eu sei que é difícil fazer. Em longo prazo é o que vai ter que ser feito. É transformar, é dar mais vigor à noção desse programa, como um programa de formação de cidadania mais do que de assistencialismo. 44 | FHC NO CIC
A ideia do cartão magnético, foi do meu governo, foi de uma experiência feita em Goiás. Você dava o cartão magnético para poder saltar a influência do político, do vereador local dar para mulher. E cada vez que eu dei uma bolsa escola, eu dizia eu não estou dando nada, é o seu direito. Isso aqui é o cartão da cidadania. Porque na minha cabeça era criar um mecanismo de cidadania. O que houve foi uma exploração política no sentido do assistencialismo e do voto. Bom, dá vantagem, mas ao meu ver o PSDB não tem. Eu sou um mero presidente de honra, quem manda lá é o Tasso. Eu acho que o PSDB tem que dizer, nós fomos os primeiros a fazer a experiência, que não é só no Brasil, é ampla. É bom. Vamos continuar, vamos aperfeiçoar, etc. E vamos crescentemente transformar em um direito e não em uma dádiva. Como justificar tanta custosa e generosidade abolindo o Paraguai, Venezuela e etc. O que dizer dos governos latinos americanos? O que dizer do Mercosul? (Por M. Andrade, empresário) — Bom, justificar é difícil. O que acontece é que há uma visão do governo atual, também um pouco paternalista, em relação a esses países. E o exercício da liderança do Brasil depende do Brasil ter uma política mais consencional. Eu compreendo até algumas motivações, mas eu acho, por exemplo, no caso do Paraguai, é preciso ver o que foi feito. Por enquanto foi feita uma comissão para ver o que vai se fazer. Essa reivindicação é antiga do Paraguai. E a resposta brasileira é a seguinte, tem um acordo, um tratado, que é o Tratado de Itaipu, o tratado tem que ser respeitado. Quem custeou a construção da usina foi o Bra-
sil, não é verdade que o Brasil tem mantido uma relação de exploração com o Paraguai. Agora ele tem a liberdade de vender a energia restante, mercado livre, etc. Acho que dá para negociar mais, aceitar já, multiplicar por três. Você pode dizer “no ângulo do Brasil é pouco” sim, é pouco mas quem vai pagar somos nós. Outro dia vi um assessor do presidente, não sei qual deles, dizer “não se preocupem que isso não vai cair na conta do consumidor”. Vai cair na conta de quem não vai consumir também, porque é o tesouro quem vai pagar. Todos os contribuintes vão pagar e não fomos consultados sobre isso. No caso da Bolívia, eu acho que é mais complicado ainda. A Bolívia tem uma reivindicação histórica, o Evo Morales simboliza o fato que uma maioria que nunca teve acesso, passou a ter. A Bolívia é um país de poucos recursos, o gás é um recurso importante mas eu acho que aí o que faltou foi um trabalho prévio. Porque a decisão boliviana qual foi? Na verdade eles ocuparam a Petrobras, eles desapropriaram a Petrobras. A longo prazo, a Bolívia não vai ter vantagem com isso. Porque a Petrobras vai intensificar as pesquisas de gás no Brasil, já está buscando gás no Oriente Médio, fez investimentos nos EUA, fez investimento no Golfo do México. Não fez na Bolívia. Talvez a reivindicação da Bolívia - que eu considero necessário a Bolívia ter um apoio - podia ser fazermos uma petroquímica na Bolívia. Com os bolivianos, financiando a Bolívia para que eles tivessem uma petroquímica sem que eles desapropriassem a Petrobras. Enfim, a forma foi Chavista, podia ter sido “Lulista”. O Lula é sempre mais favorável ao capital privado. n
Quem está disposto a pôr alguma coisa em prática, corre riscos. Decisão política não é própria dos covardes. Quem é covarde na política não consegue avançar, tem que ter coragem, correr riscos. FHC NO CIC | 45
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DIÁRIO DO NORDESTE
Conclamação para saírem da acomodação Neste artigo, publicado no dia 2 de agosto de 2009, no jornal Diário do Nordeste, o jornalista Edison Silva, editor de Política, analisa o pronunciamento do presidente do CIC
O
DISCURSO DO PRESIDENTE DO CENTRO
Industrial do Ceará — CIC, Robinson de Castro Alves, na última quinta-feira, para uma seleta platéia de poucas centenas de pessoas, com todo o respeito que merece o ex-presidente da República, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, foi o que de mais importante ficou para os cearenses, não pela louvação feita à trajetória do próprio CIC, mas pela conclamação que fez a que todos saiamos do estado de acomodação, hoje experimentado pela sociedade, diante de um quadro de quase generalização de desordens e desmandos no mundo político-administrativo. “É preciso esboçar reação como dantes acontecia! Até porque, ouso dizer, não vale a pena pagarmos preço tão alto em nome 48 | FHC NO CIC
de uma apregoada governabilidade”, afirmou em determinado trecho de sua oração, Robinson de Castro Alves, lembrando o movimento que culminou no impecheament do presidente Fernando Collor. A sociedade, através de seus mais diversos organismos, precisa se indignar para fazer valer os seus direitos, hoje desrespeitados, principalmente por aqueles que ela própria escolheu para representá-la nos poderes Legis-
lativos e Executivo. Indignar-se, também, com a falta de presteza e qualidade dos serviços prestados pelo Poder Judiciário, pelo Ministério Público, nos Tribunais de Contas, enfim, reagir contra todo esse estado de coisas que lhe maltrata no momento e a deixa sem perspectivas no futuro.
Agentes da sociedade A conclamação feita pelo presidente do CIC, no sentido de que os integrantes daquele colegiado se tornem “agentes ativos da sociedade” deve sensibilizar não apenas aos chamados a agir, mas aos diversos outros grupos sociais até aqui inertes, acomodados, vendo as mazelas como se elas também não os atinjam, e pior ainda, como se elas não motivarão prejuízos ainda maiores para os seus descendentes. Estancá-las é preciso. Os agentes da sociedade precisam ter “posicionamentos de maneira firme e verdadeira, mesmo que em determinados momentos possamos ferir susceptibilidades” daqueles que, por razões outras, compactuam com o indesejável. É possível até que a presença do ex-presidente Fernando Henrique, no auditório, tenha influenciado o pronunciamento de Robinson. Mas foi criteriosa sua observação quanto ao comprometimento com erro da maioria dos nossos políticos. É verdade que, a falta de oposição aos diversos governos, nos respectivos legislativos, é muito prejudicial à própria governabilidade, em nome do que os chefes dos Executivos justificam as cooptações e os cooptados justificam suas vendas. Em outro momento já nos reportamos so-
•• ROBINSON DISSE QUE, NO ÂMBITO FEDERAL, SE O ADESISMO FEZ BEM À ECONOMIA, “NA POLÍTICA ELE ESTÁ SENDO LETAL ÀS NOSSAS CHANCES DE PROGRESSO INSTITUCIONAL.” •• bre isso. E Robinson disse que, no âmbito federal, se o adesismo fez bem à Economia, “na política ele está sendo letal às nossas chances de progresso na área institucional”. Robinson criticou a representação política cearense e, sem citar nomes, afirmou: “Até mesmo quem construiu sua carreira ancorado na retórica das grandes causas, parece ter sucumbido diante de tantas benesses patrocinadas pela vã filosofia dos meios justificando os fins. Esses que se postavam ao lado do povo, amparam-se e se escondem agora num silêncio que, pelo ruído que causa em nossa alma, nos incomoda e angustia”.
Estado e Prefeitura Sobre o Governo do Ceará e a Prefeitura da Capital, eis que o disse o presidente do CIC: “No Ceará, sob a liderança do governador Cid Gomes, um jovem e vocacionado homem público, é imprescindível pontuar que, se por um lado o Estado conta com seu talento e energia, não podemos deixar de constatar que a ampla aliança multi-ideológica que caracteriza sua base política está comprometendo o potencial administrativo de sua gestão, fato que se somado às dificuldades naturais vivenciadas pelo Estado, contribui para tornar mais distante a melhoria do padrão de vida de nossa população”. ‘Em relação à gestão municipal, há pouco a dizer porque o descalabro administrativo campeia em Fortaleza. Há muito o slogan Fortaleza Bela perdeu o sentido. Criaram até outro – Fortaleza Cada Vez Melhor – que só existe nas peças publicitárias da Prefeitura. Convivemos, em nossa cidade, com problemas físicos, erros jurídicos crassos em seus procedimentos administrativos, dispensa de licitações, levantando suspeitas e eterno atraso de obras, desacreditando cada vez mais uma administração que gerou inúmeras expectativas”. “Ressalte-se, ainda, que a capital poderia estar vivenciando um instante diferente, haja vista o alinhamento político com os governos estadual e federal. As coisas em nossa cidade, no entanto, não andam. Promessas de campanha foram esquecidas ou caminham a passo de cágado. Na verdade, nada ou pouco foi feito nos últimos anos em nossa outrora Bela Fortaleza”. n FHC NO CIC | 49
FHC, Beni Veras e Moema Santiago. Abaixo, autografando livro para Sérgio Alcântara
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FHC com Alexandre Pereira. Na foto acima, com Robinson de Castro e Silva e o secretรกrio Ivan Bezerra FHC NO CIC | 51
FHC posa ao lado de vรกrios convidados durante o almoรงo
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FHC autografa A Arte da Política — A História que Vivi, logo após a conferência. Abaixo, com Robinson, Alexandre e o médico Ricardo Pereira
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FHC com Tasso Jereissati e Robinson de Castro e Silva e, abaixo, com Jorge Parente e Gony Arruda
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FHC com Tasso Jereissati, Renata Jereissat e convidado francĂŞs. Abaixo, Luciano Cavalcante, Joana Jereissati e Ednilton Gomez de Soarez
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FHC com Emília Buarque e Sérgio Resende, abaixo, na ante-sala com anfitriões à espera do início da Confereência
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FHC com Alexandre Pereira e Robinson de Castro e Silva e, abaixo, Carlos Matos e Renata Jereissati
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FHC com Luís-Sérgio Santos. abaixo, Robinson com Assis Neto e Marcos Rola
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Senador Jereissati e a jornalista Isabela Martin
Gonzaga Vale, Emília Buarque e Sérgio Sergio Resende (a centro), da Dinâmica Eventos, Robinson de Castro e Silva e Solange e Isabela e Luís-Sérgio FHC NO CIC | 59
FHC com Byron Queiroz e, abaixo, com Roseane Medeiros e Guto Benevides
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Presidente Robinson Passos de Castro e Silva Vice-Presidentes Francisco Régis Cavalcante Dias Ivo Jucá Machado Régis Nogueira de Medeiros Roseane Oliveira de Medeiros Vitor Bruno Machado Girão Diretor Administrativo Emília Buarque Resende Diretor Administrativo Adjunto Júlio Cavalcante Neto Diretor Financeiro Marcos Antonio Caracas de Souza Diretor Financeiro Adjunto Lavanery Campos Wanderley Diretores Executivos Cid Marconi Gurgel de Souza Isabela Lopes Martin José Carlos Fortes Rocha Luiz Eduardo Fontenelle Barros Luiz Henrique Rovere de Oliveira Marcelo Gadelha Cavalcante Reginaldo Silva de Oliveira Ruth Maria Mattos Cunha Diretores Executivos Adjuntos Alexandre Ramos Ribeiro Aline Telles Chaves Antônio Gonzaga do Vale Luciana de Paula Uchoa Colares Marcos Flávio Borges Pinheiro Ricardo Bacelar Paiva Ricardo Pereira Sales Umehara Lopes Parente Conselho Fiscal Alexandre Pereira Silva Hermano Franck Júnior Sérgio de Sousa Alcântara Conselho Fiscal Suplente João Eduardo Arraes de Alencar Simone Melo Fridschtein Verônica Maria Rocha Perdigão Conselho Estratégico Ednilton Gomes de Soárez Francisco Baltazar Neto Francisco de Queiroz Maia Júnior Jorge Parente Frota Júnior José Tarcísio Rodrigues Pinheiro Roberto Proença de Macêdo Representantes do CIC na Região Norte e Sul do Ceará Raimundo Inácio Ribeiro Neto Francisco Antônio Inácio Endereço Av. Barão de Studart, 1980 5º Andar, Aldeota, Fortaleza, Ceará. CEP 60120-001 n Telefones: (85) 3261.9612 e 3466. 5412 Secretária: Joelma Setúbal n www.cic.com.br n e-mail: cic@cic.com.br
Na primeira fila, Expedito Machado, Esmerino Arruda, Maia JĂşnior, Assis Machado Neto, FlĂĄvio Torres, Ivan Bezerra, Jorge Parente e Gony Arruda
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FERNANDO HENRIQUE CARDOSO NO CENTRO INDUSTRIAL DO CEARÁ ISBN 978-85-88661-35-6
www.cic.com.br n e-mail: cic@cic.org.br
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