Flick#00

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ENTREVISTA:

Legenders saem da web e vão para grandes estúdios

BREAKING BAD: Tudo que é mau, um dia acaba

ELYSIUM: Wagner

Moura chega a Hollywood

GAME OF THRONES: Tem

algum personagem preferido? Ih, acho melhor não ter

#00 Outubro/2013


ÍNDICEFLICK#00

11 03 HOLLYWOOD

ENTREVISTA

Da web para os estúdios: legender e quando o hobby vira profissão.

O Capitão Nascimento chegou a Hollywood. Wagner Moura pede pra sair ou se tornará o pica das galáxias?

06 CAPA

A série mais aclamada dos últimos anos: o que há de tão especial na história do professor Walter White que fez a maioria da crítica especializada cair de joelhos?

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INDEFENSÁVEL

GAMEOFTHRONES

CINEMABRAZUCA

Dexter chega ao fim despertando um desejo nos espectadores: o de matar. Os roteiristas.

Personagem preferido? George R. R. Martin acham melhor você não ter.

A quantas anda a produção tupiniquim de filmes? Há uma novelização e monopólio?

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ENTREVISTAFLICK#00

DO HOBBY À PROFISSÃO Entrevistamos legenders que saíram de um computador em casa direto para os grandes estúdios. E ganhando bem por isso. Por César Filho

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á algum tempo atrás, não muito, quem quisesse conferir as novidades da televisão americana, tinha que depender dos canais fechados. Eram meses de espera para as estréias de temporadas novas ou de alguma série fresca na programação. Quando saímos da internet discada e entramos na era de conexões rápidas (ou o mais próximo que chegamos disso), tudo mudou. Começamos a baixar os episódios das nossas séries preferidas

na internet e a irritar muitos estúdios de Hollywood. Para salvar o dia de quem recorre a esta saída, existem os legenders. São seres altruístas que reservam pouco do tempo que têm para ajudar os - assim como eles - fãs das séries americanas que ainda não deram as caras por aqui. Boa parte dessa comunidade se reúne no Legendas.TV, o maior site de download de legendas do país. Cada equipe fica responsável por

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determinada série e eles se reúnem internamente para decidir quem vai legendar o quê. O que pode parecer besteira de início, se mostra algo com uma organização e competência de nível profissional. A paixão e a dedicação de alguns é tanta que eles acabam ultrapassando a linha entre o amador e o profissional e transformam toda essa brincadeira em profissão.


Para entender melhor sobre a transição do amador para o profissional e sobre o trabalho dos legenders, conversamos com Gustavo Sobral, Juliana Suedde e Danniel Barros, que faziam legendas para a internet e hoje podem ter seus nomes vistos em legendas de canais pagos. Qual a sua idade, profissão e em que você se formou ou vai se formar? Gustavo: 22 anos, tradutor e vou me formar em Tradução. Juliana: 25, jornalista e formada em Jornalismo. Danniel: 21, formado em Linguística e sou linguista, se é que pode ser considerada profissão. Com que idade vocês começaram e o que os levou a começar a legendar? Danniel: 18, pra treinar meu listening. Gustavo: Comecei com 16 anos, em 2007, porque vazou o episódio piloto de Chuck e ninguém fazia a legenda da série, então resolvi fazer. Juliana: Foi mais ou menos em 2007, 2008. Devia ter uns 20 anos. Comecei porque queria ajudar, eu acho. Tipo o Guga com Chuck. Séries que eu gostava e não tinha legenda. Qual foi a primeira série que você assistiu? Aquela que te levou a se viciar completamente em séries. Juliana: Ai, Friends, né.

Gustavo: LOST. Juliana: Friends na Rede TV. Danniel: Na Rede TV? Juliana: Pior que é verdade. Danniel: Pra mim foi Desperate Housewives.

registrado no Legendas.TV.

Você já se prejudicou em alguma coisa (ou irritou alguém) porque tinha que legendar? Gustavo: Já faltei muita aula, deixei de sair com os amigos, deixei de ir a festas... Se não fosse as legendas, hoje eu estaria num show do Sorriso Maroto. Juliana: Sempre rola de não poder sair por causa de legenda. Apesar de agora ser profissionalmente, ninguém entende de verdade. Acham que sempre pode ficar pra depois e nunca pode.

“Sempre rola de não poder sair por causa de legenda. Ninguém entende de verdade.”

Você tem ideia de quantas legendas já fez? Gustavo: Cerca de 700 legendas profissionais. Na internet, suspeito que mais de mil. Danniel: Provavelmente 700 também. Qual foi a legenda que você mais gostou de fazer e por quê? Gustavo: Acho que a minha foi de O Guia do Mochileiro das Galáxias porque eu nunca tinha visto o filme. Danniel: Episódio 18 da 8ª temporada de Grey’s Anatomy. Fiz sozinho e postei em menos de 10 horas. Tá

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Qual foi a série que você mais gostou de fazer? Gustavo: Chuck. Danniel: Grey’s Anatomy. Juliana: Friday Night Lights.

Qual foi a legenda mais difícil que você já fez? Gustavo: Foi um UFC de três horas que me deram dois dias pra fazer. Danniel: Todas as legendas que fiz pro Sports Unlimited, que tinha narração de esportes no gelo e termos técnicos. Juliana: Re-Inventors. Um programa britânico sobre invenções. Fiz tudo do áudio, o sotaque dos caras era horrível e quando eu tava no meio, meu HD queimou e eu perdi tudo. Tem alguma hora em que você seja mais produtivo? Danniel: À noite, de meianoite às 6h, quando já tá tudo em cima da hora e atrasado. Juliana: Igualmente. Gustavo: Bizarramente, de manhã, entre 5h e 9h. Como foi a transição de legender amador para legender profissional? Foi uma época de pouquíssimo sono.


Eu fazia legendas profissionais, amadoras, estudava e estagiava. Com o tempo, fui largando as legendas amadoras, parando de ir à aula, larguei o estágio... Vocês procuraram os estúdios ou alguém indicou? Gustavo: Eu procurei. Danniel: Guga foi nosso grande navegador. Ele procurou, pesquisou, explorou e aí, indicou. Minha transição da amadora pra profissional foi meio intensa, porque os prazos eram apertados e eles não aceitam atrasos. Juliana: Meu começo foi via Guga. Vocês fazem os episódios sozinhos ou existe divisão de tempos com outros tradutores? Juliana: Sozinhos. Episódio, filme ou documentário. Agora a pergunta que todo mundo quer saber... Danniel: Tô solteiro. ...Legender ganha bem? Gustavo: Ganha, se trabalhar bem. Ganha o que trabalha. Como assim? Gustavo: Se trabalhar muito. Juliana: Se for ver por legenda, é pouco. Mas se o cara morre de trabalhar durante o mês, acaba ganhando bem. Existe algum filme ou série que apareceu na sua fren-

te pra você traduzir e você disse: “Não acredito que vou legendar isso.”? Gustavo: De ruim, todos os UFC. De bom, Guia do Mochileiro, A Era do Gelo 4, The Americans e a última temporada de LOST, como amador. Juliana: De bom, Conan, na HBO. Danniel: De amadora, O Hobbit, Grey’s Anatomy. De profissional, O Homem Bicentenário de bom e de ruim, Food for Thought. Odeio esse programa. Qual foi a melhor coisa que a vida de legender te trouxe? Gustavo: Conhecimento de inglês. Juliana: Pra mim também. Danniel: Conhecimento de inglês, já que entrei pra treinar meu listening. Você aconselharia alguém a se tornar legender? Juliana: Eu não aconselharia porque é chatíssimo. É preciso ter muito saco, mas ao mesmo tempo, aconselharia porque trabalho de casa. Dá pra fazer de qualquer lugar, tem toda uma liberdade. Gustavo: Sim, alguém que queira se especializar nessa área um dia. É um jeito divertido, gratuito e fácil de aprender, além de melhorar muito o conhecimento de inglês. Danniel: Eu tenho ciúmes de aconselhar as pessoas a serem legenders, já que é

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um mundo “só meu”, dentre meus amigos. Mas eu aconselharia sim, se a pessoa fosse boa ou estivesse sem grana. E não melhora apenas o conhecimento em inglês, mas em outras línguas. Em breve, serei legender de inglês. Qual foi a última coisa que você legendou? Juliana: Sons of The Clouds, um documentário produzido por Javier Bardem. Tinha inglês, francês, árabe e espanhol. Gustavo: Um programa pornô que ensinava a seduzir e arranjar namorado na internet. Sério. Expert Sex o nome. Danniel: Copper. Episódio 9 da 2ª temporada. Por sinal, estou fazendo o episódio 10 nesse momento. Pra terminar, que série e que filme você indicaria aos leitores? Juliana: Castle. Ninguém vai falar essa. Todos vão falar Breaking Bad, né. Deixa eu indicar Orange is The New Black, então. Gustavo: Série, eu indicaria Chuck. Filme, indico Once (Apenas Uma Vez, no Brasil). Juliana: De filme, eu indico The Kings of Summer. Danniel: Eu indicaria Six Feet Under e O Diabo Veste Prada, meu filme preferido. até hoje. Se for pra ser filme fodão, vai um Clube da Luta.


CAPAFLICK#00

QUEBRANDO PARADIGMAS A série mais aclamada pela crítica chega ao fim.

Por César Filho

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xistem três tipos de séries de TV: as que não possuem pretensão alguma, servindo apenas para divertir o espectador, as cheias de pretensão e que antes de estrear já são comparadas a séries de renome (até hoje estamos atrás da “nova LOST”) e, por fim, existem aquelas que chegam pelos cantos e, como quem não quer nada, mostram a que vieram. Foi através de uma primeira temporada morna que fomos apresentados à brilhante história de um professor de química que é diagnosticado com um câncer de pulmão e que decide cozinhar metanfetamina para deixar dinheiro para sua família. Vince Gilligan e Thomas Schnauz eram dois roteiristas desempregados que tinham saído da famosa Arquivo X e agora se viam reclamando do mundo injusto do show business. Quando Gilligan disse que talvez a saída para os dois fosse trabalhar num supermercado, Schnauz, que havia visto uma reportagem sobre um traficante, disse: “Ou podemos comprar uma van e a transformar num laboratório de metanfetamina.” Foi o que bastou para que a mente de Gilligan começasse a arquitetar uma das melhores e mais bem construídas obras audiovisuais de todos os tempos. A trama é simples: o que acontece com uma pessoa quando ela chega ao seu extremo? Walter White era casado, professor de química há 25 anos, havia perdido a chance de fazer parte de um negócio bilionário, tinha um filho com deficiência e, por cima de tudo, descobriu que tinha apenas dois anos de vida. Todo mundo gosta de um vira-lata. Nós nos simpatizamos pelas histórias de personagens perdedores que tentam vencer. Mas não era essa a história. Era a jornada de um homem bom que se torna o diabo. Mr. Chips virando Scarface. Mr. White virando Heisenberg. Quando Walt encontra com seu ex-aluno, Jesse Pinkman, e decide começar a cozinhar metanfetamina cristal, o espectador pode ver um motivo moral por trás daquele ato criminoso. É um homem que sempre foi chutado e que quer apenas deixar um legado pra sua família antes de sua conta chegar. E com isso em mente, nós torcemos por ele. Mas assim como Dexter precisava de seu código para matar, Walter precisava de sua desculpa para fazer o que fazia. Ele precisava convencer aos outros e a si mesmo que era tudo pelo bem de sua esposa e de seus filhos. Não é até a primeira vez em que ele consegue uma quantia considerável de dinheiro pelo seu produto – com a promessa de mais – que vemos a verdadeira face do monstro começar a se formar. Na cena que sucede o épico encontro com Tuco Salamanca (“This is

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not meth.”), Walter entra em seu carro com um saco cheio de dinheiro na mão e vibra. E podemos ver naquele momento e em tantos outros o que ele finalmente confessa no genial episódio que fecha a série: não era pela família. Ele gostava daquilo. Ele era bom e se sentia muito vivo fazendo-o.

Lendo as entrelinhas Além de um roteiro impecável, Breaking Bad nos conquista pelas entrelinhas. Um pequeno detalhe pode significar muito no desenrolar da trama. A sala de roteiristas da série é adepta de uma técnica de dramaturgia que diz que se uma arma aparecer no Ato 1, é bom que ela seja disparada até o final do Ato 3. Aqui, tudo importa. Até o figurino. Marie e suas roupas roxas, Walter e sua transformação de bom para mau refletida nas tonalidades de suas roupas, que vão de claro a escuro. E por falar em reflexo, os diretores insistem em mostrar o do protagonista e deixar claro que existem duas versões do homem.

com que fiquemos atentos a qualquer possível dica que o roteiro dê sobre o que vem pela frente. Além disso, despertamos um sentimento de nostalgia sempre que a série insiste em fazer referência a si mesma, ao fazer, por exemplo, que a última morte que vemos em tela seja executada da mesma forma que a primeira.

Quebra do paradigma Com uma história tão viciante quanto a droga que os personagens produzem, Breaking Bad conseguiu em 5 anos o que poucas séries conseguem. Ela levantou o nível dos dramas de uma maneira que só vimos antes em The Sopranos ou The Wire. Mad Men, que também está chegando ao seu desfe-

Desde o primeiro episódio, quando ele recebe o diagnóstico do câncer, podemos ver seu reflexo na mesa de vidro, mostrando seu mundo virando de cabeça pra baixo. Coisas como Walter absorvendo manias de pessoas que ele tira de seu caminho fazem

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cho, e Breaking Bad se unem a essas duas com os padrões mais altos dos últimos anos. Com as duas últimas encerrando, fica a dúvida do que vem pela frente. É fato que a grande maioria dos produtos de Hollywood que temos hoje em dia – tanto da TV quanto do cinema – são decepcionantes. Caça-níqueis rasos cujo objetivo é encher os bolsos dos grandes estúdios. O episódio “Felina”, que fecha a jornada de Walter White, foi assistido por 10.3 milhões de pessoas, o que representa um crescimento de mais de 400% em relação à audiência do episódio final do quarto ano da série. Vale lembrar que, se pra séries como Two and a Half Men e CSI esses números são rotineiros, Breaking Bad foi exibido no canal pago AMC,


o que significa que as pessoas estão à procura não só da boa e velha Bazinga que nunca muda, elas querem conteúdo significativo, personagens que se transformam e evoluem, histórias que cresçam dentro do espaço necessário, sem ter que se alongar e se perder no meio do caminho porque o cheiro do dinheiro foi mais forte. O canal AMC por si só tomou uma senhora atitude quando Vince Gilligan chegou com uma história tão sombria em mãos. Breaking Bad possue algumas das cenas mais violentas vistas na televisão e o canal fez questão de que nada fosse censurado, com exceção da palavra “fuck”, que só foi liberada uma vez a cada ano. Se um canal de televisão, por mais que seja

pago, se dispõe a não transformar um texto como esse, isso significa que os paradigmas estão de fato mudando. Que o conteúdo está passando a importar. Isso, claro, é apenas uma gota no oceano de bizarrices que vemos por aí, mas basta apenas um empurrão para que passemos a ver mais histórias de qualidade na TV. Afinal de contas, é pra ela que todos estão fugindo.

semanais. Essa migração, quando não feita apenas pelo contracheque gordo, beneficia aos atores, que buscam alavancar suas carreiras, aos canais, por ganharem credibilidade perante à qualidade dos produtos que oferecem e por último, mas não menos importante, ao público, que começa a ter à sua disposição aquilo que ele sempre quis ter ao sentar no sofá: coisa boa pra assistir.

O cenário cinematográfico não anda muito bem das pernas, com todos os seus desgastes e adaptações. Assim como o público, a comunidade dos atores clama por originalidade e muitos acabam recorrendo à televisão. Glenn Close, Kathy Bates e Kevin Bacon são alguns dos nomes que foram parar nas grades

Acabou Walter, Jesse, Skyler, Hank, Marie, Saul, Walt Jr., Mike, Gus. Esses são alguns dos nomes que farão falta de agora em diante. Breaking Bad foi tão envolvente, em seus arcos e na construção de sua mitologia, que vai deixar muitos órfãos por aí

Além de um roteiro impecável, Breaking Bad nos conquista pelas entrelinhas.

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sem saber pra onde correr. Dizer que a série não tem um episódio ruim sequer não é exagero. Existem episódios melhores que outros, mas tudo faz parte de uma perfeita construção de roteiro. Se com outras séries ficamos discutindo qual temporada é a melhor, com essa não tínhamos dúvida: cada temporada nova que chegava era melhor que a anterior. Aaron Paul, o intérprete de Pinkman e um dos caras mais boa praça do show business, disse em entrevista que a cada ano o programa ficava mais sombrio – e, consequentemente, melhor -, o que parecia impossível. Mas

era tudo verdade. Depois do estupendo final da quarta temporada, ganhamos de presente um último ano de tirar o fôlego. Os oito episódios finais são, sem sombra de dúvida, algumas das horas mais geniais da história da televisão. Levamos um soco no estômago e, antes mesmo de nos recuperar, outro certeiro nos atinge de novo. Uma verdadeira montanha russa de reações que culmina num episódio perfeito até no título - Fe= Ferro (Sangue); Li= Lítio (Metanfetamina); Na=

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Sódio (Lágrimas) -. Foram cinco anos acompanhando a história do professor de química que se transforma num rei. Um rei pro qual nós ainda inexplicavelmente torcíamos, apesar de toda a morte, envenenamento de criança e das cenas de cuequinha branca. Breaking Bad não nos forçou a gostar de seus personagens, sempre apresentando-os da maneira mais humana possível. E quando isso acontece, não é preciso forçar absolutamente nada porque no final das contas, é tudo uma questão de química.


ESPECIALFLICK#00

E AGORA ZERO UM? Por Leo Arcoverde

O filme “Elysium”, que marca a estreia de Wagner Moura em Hollywood, está rendendo frutos para o ator. A ficção científica já assumiu a liderança nas bilheterias logo ao estrear nos cinemas brasileiros, na sextafeira. 11


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strelado por Matt Damon, Wagner Moura, Alice Braga e Jodie Foster, “Elysium” se passa em 2154, quando existem apenas duas classes de pessoas, os muitos ricos que vivem em uma luxuosa estação espacial, chamada Elysium, e o resto da humanidade, que vive em uma Terra superlotada e devastada.

Ficção Social O filme nos leva ao meio do século XXII e o cenário é muito parecido com o que foi mostrado em Wall-E. Com o lixão que a Terra estava virando, os humanos criam um satélite artificial onde poderiam viver em paz com seus gramados perfeitos, rodeados de pessoas lindas e, principalmente, saudáveis. Porém, este paraíso tem seu preço e nem todos podem pagá-lo. Ao contrário da animação da Pixar, não é

apenas um robozinho fofo que é deixado para trás. Toda uma população fica na Terra, sofrendo dia após dia nas mãos dos endinheirados e seus robôs de diretrizes quase nazistas.

Fantástico Para criar um vínculo com o público, acompanhamos Max (Damon) desde sua infância - no orfanato onde conhece a personagem de Alice Braga (aqui em papel de pouco destaque), seu cotidiano, seu passado e, finalmente, quando tem de encontrar Spider (Moura) para conseguir sobreviver. O brasileiro faz uma mistura de hacker, líder do submundo e “coyote”, ajudando pessoas a tentarem entrar na Elysium. Ao criar um personagem totalmente “pilhado”, Moura consegue fugir do

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que vinha fazendo aqui no Brasil e chamar atenção dos grandes. Sua atuação rendeu inúmeros elogios em diversas publicações, incluindo o New York Times, que o classificou como “fantástico” com justiça.

Blockbuster Dirigido por Neil Blomkamp, de “Distrito 9”, o longa arrecadou mais de R$ 5 milhões no primeiro fim de semana em cartaz, mais do que “Invocação do Mal” em seu respectivo fim de semana de estreia. “Elysium” ficou à frente da animação “Aviões”, que pega carona no sucesso da franquia “Carros”, em segundo lugar com pouco mais de R$ 3 milhões arrecadados no fim de semana. Protagonista de “Elysium”, Matt Damon disse que “foi divertido” trabalhar com o


astro de “Tropa de Elite” e com Alice Braga no longa e que admira os brasileiros. “Foi ótimo. Sou muito fã dos dois. Foi muito divertido”, disse. Ao comentar sobre o sucesso do Capitão Nascimento, Damon disse ainda que Moura já é “uma grande estrela nos Estados Unidos também”. Além dos dois brasileiros, o elenco de “Elysium” conta com o sul-africano Sharlto Copley e com o mexicano Diego Luna. “Esse filme foi ótimo porque o elenco era muito internacional, mas gostávamos muito do trabalho uns dos outros. E, como protagonista, pude trabalhar com todo mundo”, declarou o diretor.

Dois pra dois Mais uma vez, Blomkamp consegue criar um cenário interessante e cheio de significados para depois destruí-lo da forma mais hollywoodiana possível. Os fãs de ficção científica e ação não terão do que reclamar, mas quem esperava um filme mais politizado - espelhando-se no próprio Distrito 9 pode se decepcionar com o desfecho. Que o futuro (dele e da Terra) seja melhor do que Elysium.

Wagner Moura em ação no filme Elysium - uma ficção de cunho social.

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EDITORIALFLICK#00

E O CINEMA BRASILEIRO?

Há dez anos, em 1993, após a criação da Lei do Audiovisual, o cinema nacional ganhava fôlego para exisitir. Hoje vai bem e é monopolizado. Por Leo Arcoverde

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epois da retomada do cinema brasileiro nos anos 1990, a produção audiovisual é consolidada. A estética dos filmes ganhou o mundo com grandes produções, a cena alternativa ferve e a publicidade ganha prêmios pela inventividade. Desde 1993, a Lei nº 8.685, conhecida por Lei do Audiovisual, é a política pública que praticamente faz existir toda essa produção. Baseada no modelo da Lei Rouanet, ela permite que patrocinadores do cinema ganhem isenção, no Imposto de Renda, de até 100% da quantia investida. Isso gerou tanto a ascensão recente do cinema nacional quanto críticas de que essas produções seriam de interesses de empresas e da iniciativa privada como

forma de burlar impostos. Num momento posterior a esse período de retomada, tem início a participação de um grande complexo de comunicação - as Organizações Globo, através da GloboFilmes e atualmente do Telecine - no mercado cinematográfico nacional, fato este que ajudaria a mudar drasticamente a participação do público, quantitativa e qualitativamente, neste cenário e o modo de fazer cinema no Brasil.

O lado negro Se por um lado, a estratégia utilizada pela GloboFilmes conseguiu atrair mais brasileiros para ver filmes nacionais, ela tem sido alvo de críticas que apontam para um monopólio. Praticamente dez anos depois do início da retomada do cinema brasileiro, o mercado cinematográ-

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fico apresenta uma concentração nunca vista no Brasil: em 2003, as dez maiores bilheterias brasileiras foram de filmes co-produzidos pela GloboFilmes. Para compreender a fase atual, é preciso analisar o modo de produção do cinema brasileiro até aqui.

Cenário e mercado As produções estrangeiras contribuíram desde o início para determinar as formas de produção cinematográfica no Brasil. Em determinados momentos dessa história, o Estado surge como alternativa para produtores brasileiros, que posteriormente se estende à exibição e distribuição. O filme Olga, de Jayme Monjardim, é um exemplo da atuação da GloboFilmes no mercado cinematográfico. Nas duas primeiras semanas de exibição, o filme levou


mais de um milhão de espectadores aos cinemas do país, alavancado por uma ampla campanha de divulgação. A presença de figuras “globais” começa pela própria direção do filme e chega ao elenco. Diretores de televisão tornam-se também, diretores de cinema. Estamos diante de um modo de operar que repete, com objetivos de mercado. A narrativa e o conteúdo estético remetem a linguagens bem conhecidas

dos telespectadores, o drama de novelas. Olga foi alvo de duras críticas na imprensa especializada, mas levou multidões aos cinemas. O filme foi até escolhido para tentar representar o Brasilem uma edição do Oscar. Os filmes são produções que ocupam as telas dos cinemas, mas que podem perfeitamente adequar-se à tela da televisão, no que seria uma minissérie ou algo do gênero, como alguns o fizeram.

Olga, filme dirigido por Jayme Monjardim, narra a história de Olga Benário: pitadas de novela televisiva.

CENTO E QUARENTA

CARACSÉRIES Por Leo Arcoverde

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m tweet. Bascicamente uma linha para resumir um filme ou uma série. Essa é a premissa do site 140 caracséries. Agora imagine você a capacidade de síntese que os resoponsáveis pelo curioso empreendimento têm. Aos internautas familiarizados com o twitter há o consenso de que 140 caracteres - aí se inclui letras, números e espaços - é muito pouco para se expressar. Não para eles. Confira abaixo uma resenha feita, sobre a série Marvel’s Agents of Shield:

PARA SABER MAIS, SEM ENROLAÇÃO, VISITE 140CARACSERIES.COM.BR

@andre_cohen: “Tire as referências ao universo marvel e vira uma série qualquer de investigação com elementos fantásticos. Meeeeh.” 15


SÉRIESFLICK#00

GUERRA DOS MORTOS Desde o primeiro livro/temporada, George R. R. Martin mostra alguns conceitos para seu público. O primeiro deles é: não há protagonista. Por Leo Arcoverde

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ara quem acompanha a série ou já leu os livros de Martin, é rotina; para que ainda não os leu ou está apenas começando a série, pare de ler ou se habitue. É melhor não ter favoritos. Depois não diga que não foi avisado. O livro engana ainda mais o leitor nesse aspecto ao contar a história sob o ponto de vista de alguns personagens chave. Os mais desavisados

podem entender que aqueles são os personagens principais. Ledo engano. Essa é uma artimanha narrativa usada pelo autor e que pode servir para evitar mostrar algumas coisas, já que o personagem “narrador” não estava presente, e também para nos familiarizar melhor com estes personagens. Nada indica que eles são intocáveis, virtuosos ou mais merecedores de atenção do que

outros. Apenas cumprem seu papel, como peças de xadrez na mesa do autor. Quando Eddard Stark é decapitado no final do primeiro livro, a cena é contada sob a perspectiva de sua filha Arya, e chega a levantar algumas suspeitas no leitor, pois a garota tem dificuldade para reconhecer o pai, mal tratado, magro, sujo e com uma barba de semanas. Estariam os Lannisters executando um

mortos pode ainda ser difícil, mas a tarefa é menos árdua quando esse mundo fantástico tem muito da injustiça e imprevisibilidade do nosso.

Martin usa a perspectiva de alguns personagens para descontruir a imagem dos mesmos, também foi revelada na terceira temporada. Jaime Lannister tem a imagem do herói galante e honrado, mas desde o início da série é mostrado como um vilão. O Regicida. O homem que quebrou um juramento sagrado e matou o rei que jurou proteger com a vida. Em um dos diálogos mais sensacionais

A primeira vítima do estilo Martin de escrever: Eddard Stark, personagem do ator Sean Bean.

sósia? A série é dura e cruel ao desfazer essa dúvida. Vemos Sean Bean ser sumariamente executado com sua própria espada. Essa crueza na narrativa e no trato com suas crias é o que diferencia Game of Thrones de 90% da ficção de fantasia disponível no mercado. Acreditar em um lugar onde dragões são usados como arma de guerra e feiticeiros revivem os

Em Westeros os nobres de coração não voltam para casa cantando canções sobre seus feitos. São assassinados por aqueles dispostos a deixar princípios de lado. Outra passagem que mostra de forma interessante como

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Broche da Mão do Rei, seu braço direito. Quantas mãos um rei precisa? Em GoT, já vamos perdendo a conta.

de toda a série ele conta a Brienne sua versão da história, ignorada por todos até agora. Ok, ele continua sendo o sujeito incestuoso e que tenta matar crianças para manter seus segredos, você pode dizer. Mas a quantidade de camadas que o personagem ganha ao ser esse acúmulo de erros e acertos é o que o torna quase palpável, em meio a um mundo totalmente fantasioso. Mas o episódio final da terceira temporada, que tanto está gerando polêmica na internet nesse season finale, sela o destino do último alicerce de correção inquestionável da série. Robb Stark era o sucessor direto de Eddard

não só na linhagem de Winterfell, mas também nos princípios de justiça e honra. Não há lugar em Westeros para personagens assim e o autor trata de cortar o bem pela raiz. O Casamento Vermelho talvez seja o evento mais ultrajante de toda a série de livros. Um divisor de águas que fez muitos leitores desistirem da série, fenômeno que deve se repetir na TV. Os queridinhos do público, Tyrion e Dae-

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nerys, continuam por lá, pelo menos por enquanto, mas o massacre visto nos salões d’As Gêmeas deve frustar a platéia que esperava um desfecho com Robb vingando o pai e exibindo a cabeça dos Lannisters em praça pública. Martin não tem simpatia por heróis. Não tem simpatia pela justiça. E, provavelmente, não nutre um desejo por finais felizes. A Guerra dos Tronos é um evento onde tudo pode acontecer, e onde normalmente se paga pelos erros cometidos. E se paga com o preço do ferro. O Rei do Norte está morto, e Game of Thrones mais viva do que nunca.


SEASONFINALEFLICK#00

POST MORTEM

O final decepcionante daquela que já foi uma das melhores séries dos últimos anos. Por César Filho

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noite do dia 22 de Setembro de 2013 era a noite. Ia acontecer. Tinha que acontecer. Depois de oito longos anos de altos e baixos, o mundo se despediu de seu serial killer preferido. Antes mesmo que a oitava e última temporada de Dexter começasse a ser exibida, a produtora executiva da série, Sara

Colleton, deixou claro aos fãs que o final da história não iria agradar a gregos e troianos. Era o prólogo de algo que, no final das contas, não agradou ninguém. Brilhantemente interpretado por Michael C. Hall, Dexter Morgan foi um personagem que cativou e ganhou seu

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público desde a primeira temporada. Com The Sopranos chegando ao fim, os espectadores precisavam de um novo anti-herói e alguns o encontraram na figura do assassino que caçava assassinos, que não demorou para se tornar um dos mais icônicos personagens da história.


Com Dexter sempre compartilhando seus pensamentos na forma de voice-over, era como se tudo aquilo que se passava em tela fosse um segredo entre ele e o espectador, crescendo ainda mais o laço do público com a série. Depois de dois primeiros anos bons e um terceiro ano meio azedo, vimos a série chegar em seu auge na quarta temporada, com a chegada do Trinity Killer (John Lithgow). É aqui que vemos o embate estrelado por Hall e Lithgow, resultando numa das melhores temporadas da televisão, que se despediu com um final chocante e que serviria como um divisor de águas para a trama.

Depois da bonanza... Fato é que depois do quarto ano, Dexter nunca mais foi a mesma série. Foram temporadas decepcionantes cheias de tramas tediosas, conflitos desnecessários e vilões sem graça. Seria muito difícil algum deles chegar aos pés de Trinity, mas todos nós merecíamos algo melhor que o triste Oliver Saxon, último assassino apresentado pelo drama. O personagem de Darri Ingolfsson foi introduzido, desenvolvido e tirado de cena da pior maneira possível, com uma atuação que chegava a insultar o trabalho de outros atores que fizeram o papel de “assassino da tem-

Sentido horário, a partir do topo à esquerda: Trinity, Saxon, Deb e Dexter.

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porada”. Por outro lado, os olhos esbugalhados de Saxon faziam jus à uma temporada repleta de furos no roteiro. O discurso de Colleton dizia claramente algo que nós não queríamos ver: não vem coisa boa por aí. A filha de Masuka, o teste de sargento de Quinn e a sua relação com Jamie, Zach Hamilton, todos foram arcos rasos e sem sentido que atrapalharam o que poderia ter sido um desfecho tão bom quanto o que vimos em Breaking Bad. Tudo isso culminando no episódio “Remember the Monsters?” (curiosamente o mais assistido da história do Showtime, canal que exibia a série desde 2006), uma verdadeira aula de como não encerrar uma série de TV. Os absurdos do texto iam de uma conveniente tempestade, passando por um anticlímax de dar risada até chegar num final digno de pena. Em todas as entrevistas que deu, a produtora executiva dizia que este era o final que eles sempre planejaram, de uma maneira como se estivesse tentando nos convencer daquilo. Dizia também que a jornada sempre foi de Dexter Morgan, um fato que melhor serviria como razão para o patético desfecho se as últimas temporadas tivessem sido desenvolvidas da maneira correta.


EXPEDIENTEFLICK#00 Revista FLICK número zero - outubro de 2013 - distribuída gratuitamente via internet - otimizada para iPad e devices eletrônicos suportados pelo sistema de leitura ISSUU.COM

ILUSTRAÇÃO DE CAPA:

Stanley Chow stanleychowillustration.com

FLICK é uma publicação mensal da Bit Publishing Diretoria: César Filho Leonardo Arcoverde Editores: César Filho Leonardo Arcoverde Revisão: César Filho Leonardo Arcoverde Direção de arte: Leonardo Arcoverde Assistente de arte: César Filho Direção de Pauta: César Filho Redação: César Filho Leonardo Arcoverde FLICK ON-LINE www.issuu.com/revistaflick www.facebook.com/revistaflick Matérias e sugestões de pauta revistaflick@gmail.com Atendimento ao leitor: revistaflick@gmail.com


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