Tão oprimidos quanto opressores

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EDIÇÃO 2 – ANO 5

Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana

ISSN 2179-1538

gl cal

ta s s i e v re dad a i su al A atu de

R$ 14,90

Tão oprimidos quanto opressores Discursos patriarcais e heterossexistas asfixiam toda a sociedade

A periferia fala por si A voz e a vez da literatura “marginal”

Machismo Ruim para elas, ruim para eles

Terra em transe Refugiados aumentam no Brasil e no mundo Alexandre Linares Ana Maria Coyos Cadavid Ângela Arraya Célio Turino Danilo Di Giorgi Eduardo Suplicy Eduardo Munari Francisco G. Nóbrega Gabriel Piotto Israel Alves Lucena Gomes Tainá Garcia da Fonseca Olímpio de Paula Xavier Filho Breno Agnes Queiroz Bianca Pochmann Zambonato Hélio Grassi Filho Iara Souza Vicente Isabel Cristina Goncalves Isabella Bueno Lahis Cristiane Monteiro de Oliveira Larissa Rodrigues Vacari de Arruda Marina P. Nóbrega Martha Lemos Maridalva Costa Nascimento Maíra Lana Maryuri Mora Grisales Sandra Silva Fabrício Basílio Pacheco da Silva Nelson Bacic Patrícia Galleto Paulinha Ranzani Ubiracy de Souza Braga Vijay Prashad Winnie Queiroz Brandão Danilo Di Giorgi Ludolf Waldmann Júnior Lucas Amaral de Oliveira Siddharth Varadarajan Herton Goerch Gabriel de Oliveira Piotto



edit rial Fernando de Souza Coelho, Professor

Mateus Prado, Educador

Ana Paula Dibbern, Professora

Sobre gênero, identidade e liberdade A população mundial ultrapassa os 7,2 bilhões de pessoas enquanto este editorial é redigido. São mais de 7,2 bilhões de centros psicológicos totalmente únicos, cada um resulta de histórias pessoais, arranjos familiares, afinidades estéticas, influências ambientais, constituições biológicas e, claro, essa instância enigmática que se denomina “personalidade”. Fatores mil que possibilitam infinitas situações, manifestações e interações do indivíduo. Apesar disso, instituições diversas como a família, a religião, os grupos sociais, os meios de comunicação e outros trabalham para enquadrar tudo em determinados modelos, entre os quais alguns dos mais dominantes são o patriarcalismo e a heteronormatividade. Você pode ser homem ou mulher, hétero ou homossexual, da classe social X ou Y, branco ou preto, de alguma forma carrega e dissemina valores heteropatriarcais: provavelmente acha natural que existam brincadeiras, atividades ou “coisas” distintas para meninas e para meninos, já concordou com a frase de que “mulher tem que se dar o respeito” ou já incitou alguém a “ser homem”, quem sabe até já lançou uma pérola do tipo “não tenho preconceito, mas...”. Facetas da opressão machista que todos, oprimidos e opressores, machos ou não, reproduzem e alimentam. À frente de uma publicação como a Glocal, que levanta as bandeiras do respeito pela dignidade humana e da liberdade, tivemos a oportunidade de trazer diversos artigos em edições anteriores falando sobre as lutas das mulheres, preconceito racial, direitos indígenas, padrões de beleza impostos, questões ambientais e sociais diversas. Entre tantos temas, percebemos um fio ideológico costurando muitas das problema-

tizações ligadas a esses temas: a identificação de alguns valores tipicamente masculinos como sendo positivos e superiores, como a competitividade, a agressividade, a crença no progresso material ilimitado, a hierarquização, a autoridade e outros itens que constituem as bases que sustentam desde o mercado financeiro à indústria bélica, os sistemas políticos, militares e corporativos, etc. Não é nossa intenção colocar os homens no banco dos réus, até porque a ideia do artigo Homens, libertem-se!, um dos destaques desta edição, é a compreensão de que eles também são vítimas dessas armadilhas ideológicas, que por sua vez estão intimamente ligadas a diversos problemas da atualidade, como as violações à integridade humana, guerras, tragédias ambientais, explorações de diversos tipos e por aí vai. Ainda transitando nesta esfera, o artigo Alerta – contém spoiler e beijo gay também abre uma janela para investigar os discursos que regulam as questões de gênero e sexualidade. Um artigo em espanhol discorre sobre os pontos comuns entre a ética feminista e a sustentabilidade. Defensores ferrenhos do tal “orgulho hétero” ou da criação do “Dia do Homem” podem se sentir acossados diante de algumas ideias dessa edição, mas para eles, apenas lembramos: o sexismo também os limita.

Boa leitura!

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sumário

por Breno Agnes Queiroz

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Alerta – contém spoiler e beijo gay

por Martha Lemos

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Cultura de Paz e convivência

por Maíra Lana

Expediente: Editores: Ana Paula Dibbern, Fernando Coelho, Mateus Prado e Pedro Ivo Batista Conselho Editorial: Fernando Silva Oliveira e Renato Eliseu Costa Suporte Editorial: Carolina Anastácio Revisão: Rodrigo Cavallaro Cruz Diretor de Criação: José Geraldo S. Junior Projeto Gráfico: Lucas Paiva Diagramação: Lucas Paiva e Daniel Paiva

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Homens, libertem-se!


por Sandra Silva

06 De onde vêm os números por Israel Alves Lucena Gomes

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10 Funcões Compostas e o Coracão

Reflexos de conflitos

por Olímpio de Paula Xavier Filho

14 Eutrofizacão por Gabriel de Oliveira Piotto

por Bianca Pochmann Zambonato

26 Sustentabilidad ¿para quién?

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por Maryuri Mora Grisales

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Novas faces de uma histórica subordinacão

Sem ficcão por Fabrício Basílio Pacheco da Silva

por Lucas Amaral de Oliveira

38 Nos podres porões dos shoppings por Danilo Di Giorgi

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Química da destruicão

Experiências Estéticas em Movimento

por Ludolf Waldmann Júnior

48 Matemática e estatística por Herton Goerch


Escreva o mundo de hoje. Envie seu artigo e colabore para o debate da sociedade sobre os temas do momento.

Pensamentos globais, acões locais A Revista Glocal - Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana é uma publicação de atualidades do Instituto Henfil Educação e Sustentabilidade, que tem como objetivo divulgar informações qualificadas sobre arte, cultura, política nacional e internacional, meio-ambiente, geopolítica, economia, questões sociais, ciência e matemática. O formato colaborativo abre espaço em suas páginas para que estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, professores e especialistas em diversas áreas publiquem seus artigos em português, inglês ou espanhol.


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Funcões compostas e o coracão

Como a compreensão sobre funções de funções pode ajudar o conhecimento médico no tratamento de problemas cardíacos

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xistem algumas situações em que uma função depende de uma variável que, por sua vez, depende de outra, e assim por diante. Por exemplo: um cubo metálico, quando aquecido, dilata. Logo, sua aresta aumenta, então o volume do cubo, que depende da sua aresta, também aumenta. Entretanto, a aresta depende do tempo, logo, o volume do cubo depende do tempo.

1 Artéria coronária com um depósito de gordura

2 Stent sendo liberado no local da obstrução

a V = f(a)

a a = g(t)

Com base no conceito de funções podemos dizer que o volume do cubo é uma função de sua aresta, a aresta é uma função do tempo, deste modo, o volume do cubo é uma função do tempo. Como o volume do cubo é função do tempo, diz-se que ele é uma função composta ou função de função. Convém, neste momento, definir função composta: B e g: B C. Definimos Considere as funções f: A função composta de f em g, denotada por fog = f [g(x)].

Para existir fog é necessário que im(g) D(f) Para entender melhor, considere as seguintes funções f(x) = 2x + 1 e g(x) = x2. Assim, podemos obter a função fog, ou seja, f [g(x)] = 2x2 + 1. Uma aplicação interessante de funções compostas ocorre, particularmente, na cardiologia, no tratamento de uma doença bastante comum nos dias de hoje, no mundo todo – a aterosclerose, que consiste no acúmulo de placas de gordura nas paredes das artérias. Esse material gorduroso engrossa, endurece (forma depósitos de cálcio) e eventualmente pode bloquear as artérias e, como consequência, pode gerar problemas cardíacos graves. Nestes casos, o cardiologista pode indicar uma angioplastia, que consiste num procedimento para dilatar uma artéria coronária que foi estreitada ou obstruída por um ateroma, de modo a melhorar a circulação. Um cateter fino (tubo oco) é introduzido na artéria femoral na virilha (ou por vezes no braço), e passado até a aorta e para a rede coronária. Quando se atinge a zona obstruída, infla-se um minúsculo balão na ponta do cateter para dilatar a região estreitada. Muitas vezes, é colocada na região uma estrutura de rede expansível de aço inoxidável, o stent, logo após a retirada do cateter de balão. Isto impede a artéria de obstruir novamente. Veja a imagem a seguir, que ilustra o fato:

3 Resultado final do precedimento Suponhamos agora que, num procedimento de angioplastia, será utilizado um balão cujas dimensões são 2 mm de diâmetro por 15 mm de comprimento. Este balão será então inflado até atingir um volume máximo de 125π mm3. Considere ainda que, através de procedimentos experimentais, verificou-se que o raio é expresso pela função R=0,5t. Se quisermos saber quanto tempo transcorre até o balão atingir o volume máximo, necessitamos de uma função que relacione o volume do balão com o tempo transcorrido. Primeiramente, vamos obter uma função do volume dependendo do raio, ou seja, vamos desprezar variações na altura. Para facilitar os cálculos, podemos considerar o balão como um cilindro circular reto de dimensões: raio da base R = 1 mm e altura h = 10 mm. Volume do cilindro

V = πR2h

Mas o raio é dado por: R = 0,5t, portanto V = π(0,5t)2h

V = 0,25πt2.10

V = 2,5πt2

Temos, então, o volume em função do tempo, como R = g(t) e V = f(R). Podemos dizer que V = f[g(t)] é função composta ou função de função. Voltando à questão do tempo necessário para o balão atingir o volume máximo, pode ser determinado facilmente. Assim: V = 2,5πt2 t2 = 50

125π = 2,5πt2 t = 7,07 s

O tempo encontrado significa que o balão leva em torno de 7,07 segundos para atingir o volume máximo necessário ao procedimento. Neste exemplo, é possível visualizar uma perspectiva prática e motivadora para o estudo de funções compostas.

Placa formada por gorduras, tecidos fibrosos, cálcio e células inflamatórias que eventualmente se formam nas paredes dos vasos sanguíneos, podendo obstruí-los e causar arterosclerose.

Olímpio de Paula Xavier Filho Professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná nas disciplinas de Cálculo Diferencial e Integral, Geometria Analítica, Álgebra Linear e Física.

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Alerta – contém spoilers e beijo gay! Criminosos, doentes, sem vergonha, transmissores de doenças, corruptores, bichas, sapatonas. Depois de tantos tratamentos constrangedores, ainda há quem fale em “Ditadura Gay”

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eonardo é um adolescente cego, que quer fazer intercâmbio, é de “classe média”, curte Tchaikovsky, Mozart e Bach, tem uma mãe superprotetora, é “boca-virgem”, sofre bullying, tem uma amiga ciumenta, não gosta de passar protetor solar e está fazendo um trabalho sobre a Grécia antiga com Gabriel, que tem cachinhos de anjo, é fofo, órfão de mãe, romântico, fã de Belle & Sebastian e é perseguido pela “piriguete” da classe. Eles são personagens do filme Hoje eu quero voltar sozinho. Mas todas essas características não importam para algumas pessoas, que

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se apegaram ao fato de Leonardo e Gabriel formarem um casal homoafetivo. Isso já era previsível, pois se tornou cotidiano transformar pessoas LGBT em seres humanos apenas sexuais. O resto é o resto. O longa-metragem de Daniel Ribeiro não é sobre homossexualidade. É sobre amor, amizade, conflitos pessoais, ciúmes, família, independência, auto-estima, bullying, andar de bicicleta, a primeira dose de vodka, o primeiro eclipse lunar de um cego e, por acaso, sobre meninos que se amam e se beijam. É um filme igual àqueles da Sessão da Tarde sobre adolescentes heterossexuais que se apaixonam, mas virou alvo de polêmica por mostrar dois meninos dando um beijo e tomando banho juntos. Esse é um dos motivos que faz milhões de homossexuais preferirem ter uma vida clandestina, fingirem ser heterossexuais e permanecerem “trancados dentro do armário”. Existe o medo de ser reduzido a um estereótipo e perder alguns direitos, como o de se casar, o de ter filhos e, principalmente, o direito de ser o que é sem precisar ver sua sexualidade sendo problematizada. Um dos grandes desafios enfrentados por movimentos sociais pela conquista de direitos para LGBTs é ensinar que a diversidade sexual existe, não é doença, não é transtorno psicológico ou psiquiátrico, não é crime, não é coisa do diabo, não é uma vergonha e nem é a falta dela. Pessoas que pensam a diversidade sexual dessa maneira são chamadas de homofóbicas. Ao mesmo tempo em que a homossexualidade não tem cura, a homofobia tem. Além dessa redução frequente da identidade de pessoas LGBT, a grande mídia tende a reduzir também as pautas dos movimentos sociais, limitando-se ao casamento civil igualitário, à “cura” da homossexualidade, e ao projeto de lei que criminaliza a homofobia. Mas existem outras pautas, como a necessidade em inserir o debate sobre bullying homofóbico nas escolas; ou a urgência em tratar a diversidade sexual com respeito, evitando piadas ofensivas que se escondem atrás do argumento de que o politicamente correto ofende a liberdade de expressão (confundida, nesse caso, com liberdade de opressão); ou a inserção da realidade de homossexuais e transexuais nos meios de comunicação, para contra balancear a propaganda heterossexista e heteronormativa que escorre das telas. Outra preocupação de diversas organizações civis que atuam na área tem relação com o argumento de que LGBTs querem vantagens legais. A luta é pela equiparação de direitos, e não uma corrida em busca de benefícios. Assim como heterossexuais podem se casar, adotar crianças, usar o atendimento público sem complicações burocráticas e constrangimentos, as pessoas LGBT merecem o mesmo tratamento. É importe dizer que o lema “Nem menos, nem mais: direitos iguais!” é um dos mais ecoados por grupos que lutam pela harmonia na diversidade. Não existe uma luta de LGBTs contra héteros. Na verdade os heterossexuais são bem-vindos às organizações de ativismo LGBT. O grupo E-jovem de Adolescentes Gays, Lésbicas e Aliados, por exemplo, chama os heterossexuais participantes de aliados, pois eles não são simpatizantes ou meros consumidores de produtos GLS, eles também lutam pela paz e respeito na diversidade. O que existe é uma história de luta contra as opressões sofridas por LGBTs. Por isso a indignação em relação aos termos “orgulho hétero” e “ditadura gay”. A expressão “orgulho gay” surgiu no início dos

anos 1970, quando um grupo de “gente colorida” começou a realizar passeatas para mostrar que, apesar de sofrerem com tanta discriminação, eles eram fortes o suficiente para sobreviver no meio da violência. Não é a toa que a música I will survive (Eu sobreviverei, em inglês) seja um dos hinos dessa população. Rapazes gays não podem demonstrar afeto em público sem alguém fazer cara feia, olhar com reprovação ou surpresa, e até espancá-los ou matá-los. Casais héteros podem e demonstram afeto sem medo. Meninas lésbicas sofrem estupro “corretivo” para “aprenderem a gostar de homem”. O mercado de trabalho trata LGBTs como pessoas destinadas a apenas alguns tipos de trabalho, e para muitas pessoas ainda é inconcebível que uma travesti seja neurocirurgiã, professora, delegada ou juíza. No Brasil, algumas religiões continuam perseguindo homossexuais. De acordo com a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), 80 países criminalizam a homossexualidade e em sete a punição é a pena de morte. Adolescentes, especialmente travestis e transexuais, inflam os índices de evasão escolar devido ao bullying homofóbico, são agredidos pelos pais, expulsos de casa e, mais tarde, veem a prostituição como única alternativa de renda. Na Suíça, de 05 adolescentes que cometem suicídio, 04 são LGBT. Nos Estados Unidos, relatórios indicam que os jovens homossexuais representam um terço dos suicídios juvenis, considerando apontamentos de que os homossexuais constituem 6% da população estadunidense. No Brasil, dados indicam que 1 adolescente LGBT se mate a cada 8 horas. De acordo com o Departamento de Psicologia Clínica da Unesp, os estudantes LGBT do ensino médio do oeste paulista demonstraram 3 vezes mais chances de cometer suicídio comparativamente aos estudantes héteros. Independentemente da orientação sexual e da identidade de gênero, todos podem ser vítimas de latrocínio, homicídio e agressões. Mas apenas LGBTs são violentados, espancados, assassinados e constrangidos unicamente por causa de sua identidade sexual. Estima-se que os nazistas tenham exterminado 220.000 homossexuais no Terceiro Reich, sendo 4.000 menores de idade. Os gays eram obrigados a costurar a marca de um triângulo rosa nos uniformes, como forma de segregação. Um triângulo negro identificava lésbicas, prostitutas ou quem estivesse fora do “padrão” de mulher casada com filhos. Atualmente pessoas LGBT têm por volta de 30 direitos a menos em relação aos heterossexuais e precisam escolher entre reprimir sua sexualidade para ter paz social, ou assumi-la e viver uma realidade de opressões, constrangimentos e violência. E, além de tudo isso, seus opressores ainda têm coragem de falar sobre ditadura gay e orgulho hétero.

Breno Agnes Queiroz Bacharel em jornalismo pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) e editor da “GLAM! - Gays, Lésbicas e Aliados Magazine” em parceria com a ONG Grupo E-jovem de Adolescentes Gays, Lésbicas e Aliados

Sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais usada para referir-se a pessoas que não sejam heterossexuais com identidade de gênero em conformidade com o sexo anatômico. Mas é necessário lembrar que a diversidade sexual não é formada apenas por LGBTs e heterossexuais, pois existem outras identidades como assexuais, intersexuais e pessoas que se sentem sexualmente atraídas por transexuais. Os grupos que militam na área têm liberdade para alterar a sigla de acordo com seus objetivos para GLBT, GLS, GLTTB, GLA, etc. Refere-se à tendência em afirmar que a heterossexualidade seja a norma, marginalizando, dessa maneira, qualquer outra identidade sexual. Como exemplos, temos as famílias retratadas em propagandas, os casais em filmes e a divisão entre brinquedos de meninos e de meninas, que são tratados como héteros antes mesmo de nascerem. Travestis e transexuais usam um nome social, de acordo com sua identidade de gênero. Esse nome deveria ser usado quando um profissional da saúde ou da segurança pública, por exemplo, precisassem realizar o atendimento dessas pessoas. Mas na prática esse procedimento funciona de maneira pouco satisfatória. Outro constrangimento é em relação a homossexuais não poderem doar sangue.

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Nos podres porões dos shoppings Por trás das fachadas das lojas de grifes famosas, como Zara e Gregory, escondem-se alguns dos piores exemplos de degradação humana

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ão é desprezível a chance de que alguma das peças de roupa que você está usando enquanto lê estas linhas tenha sido feita com o uso de trabalho escravo. São cada vez mais frequentes as descobertas pelas autoridades de oficinas de costura clandestinas, onde são verificadas condições de trabalho análogas à escravidão, principalmente na cidade de São Paulo. Dentro delas, roupas de grifes famosas, como M. Officer, Le Lis Blanc, Emme, BourgeisBohême (Bo.Bô), Luigi Bertolli, Zara, GAP, Cori e Gregory e marcas mais populares com etiquetas das Casas Pernambucanas e Marisa. Flagradas, essas grandes marcas quase sempre se eximem da responsabilidade, e repassam a culpa para as oficinas, as quais terceirizaram a produção das peças, que teriam, por sua vez, quarteirizado o serviço. A Justiça tem dado ganho de causa para as grifes. Estima-se que os casos conhecidos representem apenas uma fração do total, considerando a dificuldade para se flagrar essas oficinas clandestinas operando. As condições encontradas nesses locais variam, mas via de regra, envolvem jovens bolivianos, que moram e trabalham ali, e ficam presos aos seus “empregadores” por dívidas impagáveis. O esquema de aliciamento funciona da seguinte forma: os bolivianos são trazidos para grandes cidades como São Paulo, com a promessa de trabalho e salários altos para o padrão boliviano. Aqui chegando, são levados para as oficinas de costura, de onde não sairão tão cedo. São quase sempre locais imundos, insalubres, sem iluminação nem ventilação adequada, com instalações elétricas precárias, onde passarão praticamente todo o seu tempo no Brasil, cumprindo jornadas que podem chegar a 16 horas diárias. Logo que chegam, lhes é apresentada a dívida já contraída com o “empregador”: o custo da viagem até São Paulo, que gira em torno de R$ 1.000. A essa dívida vão-se somando outros gastos com necessidades

básicas, como alimentação, estadia e vestuário. Já o salário com o qual essas dívidas devem ser pagas é bem menor do que a promessa inicial. Em alguns casos eles recebem meio salário mínimo e em outros o pagamento é por produção (entre R$ 2,50 a R$ 10 por peça costurada, a depender da complexidade do serviço). Vale lembrar que uma calça da Le Lis Blanc nas lojas pode chegar a custar R$ 2.000, e uma saia R$ 1.350. Já as calças da Bo.Bô saem pela bagatela de R$ 998, e os vestidos chegam a R$ 3.368. Na prática, esses escravos modernos não recebem nada, pois tudo ou quase tudo é descontado, mas, ainda assim, as dívidas só crescem. Esse é o cruel mecanismo da escravidão urbana. A ele somam-se táticas como extraviar o passaporte e torturas psicológicas, como ameaças de denúncias às autoridades a situação ilegal do trabalhador no país. Lembrando que essas pessoas raramente falam alguma palavra de português, e que os patrões são quase sempre seus compatriotas. As grifes por trás dessa triste realidade frequentam passarelas, garantem a elegância da elite econômica brasileira e estão nos corredores dos mais cobiçados shopping centers brasileiros. Mas não pense que todo esse descuido com a qualidade de vida de quem faz as roupas estenda-se para a qualidade dos produtos. As oficinas clandestinas recebem os tecidos das peças já cortados e com estritas instruções sobre como devem ser costuradas, sob pena de devolução e severos descontos nos pagamentos pelos serviços.

Após reincidência do envolvimento da marca M. Oficcer em casos de escravidão urbana, a marca corre o risco de ficar impedida de exercer atividades no Estado de São Paulo por dez anos. As multas aplicadas já chegam a R$ 10 milhões. A impunidade é a regra quando o tema é trabalho escravo moderno no Brasil. Entre 2010 e 2014, nenhum acusado do crime foi condenado. Nesse período, foram ajuizados 469 processos nos tribunais de todo o país.

Danilo Di Giorgi Jornalista formado pela PUC-SP, trabalhou como repórter, assessor de imprensa, redator e roteirista. Colunista do tradicional Correio da Cidadania, dirigido por Plínio de Arruda. Atualmente é editor de seminários das mais diversas áreas do conhecimento.

Bancada ruralista atrapalha O Congresso Nacional promulgou no início de junho uma emenda constitucional que determina a expropriação de terras que mantiverem trabalhadores em regime análogo ao de escravidão, sem indenizações aos proprietários. Mas a lei ainda não está valendo. Antes precisará ser regulamentada, definindo o que é trabalho escravo. A questão em aberto está nos termos “jornadas exaustivas” e “trabalho degradante” como parte da tipificação de trabalho escravo: os ruralistas querem retirar esses termos do texto por considera-los muito vagos. A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) original tramitou por 15 anos no Congresso, confirmando um histórico de lentidão no trato de iniciativas que combatem o trabalho escravo no sistema Legislativo. O mesmo ocorreu com a CPI do Trabalho Escravo, criada em 2012: as dificuldades impostas pela bancada ruralista fizeram com que a comissão encerrasse seus trabalhos sem nenhum resultado prático e sem apresentar ao menos o relatório final.

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QuĂ­mica da

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destruicão Uma breve história das armas químicas

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o final de 2013, notícias sobre a Guerra Civil Síria ganharam as manchetes dos principais meios de comunicação globais. Em meio a grande incerteza, afirmou-se ter ocorrido um ataque de armas químicas em Ghouta, região periférica da capital Damasco e que era palco de combates entre rebeldes e governo. O ataque, feito com gás sarin, teve como saldo um alto número de mortos, com estimativas que variam entre cerca de 300 a 1700 mortos. Houve grande inquietação no cenário internacional, com ameaças de intervenções militares contra o regime sírio. Esse ataque é o mais recente numa terrível história da utilização de armas químicas. Tais armas usam as propriedades tóxicas de determinadas substâncias para causar danos ao inimigo. Podemos apontar sua existência há muitos séculos. Chineses, indianos, gregos e persas já utilizavam formas rudimentares dessas técnicas de ataque na antiguidade, na forma de armas incendiárias e gases venenosos, mas esses armamentos eram difíceis de produzir. Foi apenas no final do século XIX que surgiram as armas químicas como conhecemos hoje, graças ao desenvolvimento industrial que permitiu a manipulação dos elementos necessários para a produção em massa desses armamentos. Eles seriam utilizados em grandes quantidades na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Ainda no primeiro ano da guerra, os franceses foram pioneiros na utilização de gases lacrimogêneos contra os alemães, ainda que em pequena escala. Já o primeiro uso de armas químicas em grande escala foi feito pelos alemães em Ypres, na Bélgica, utilizando cloro (Cl2) contra tropas Aliadas, do qual obtiveram resultados devastadores, ainda que houvesse poucas mortes diretamente relacionadas ao gás. Entretanto, a arma química mais famosa e assoladora utilizada na guerra foi o gás mostarda, cuja fórmula é (Cl-CH2CH2)2S. O primeiro uso foi na mesma região de Ypres pelos alemães em 1917. Com um forte cheiro característico e uma coloração amarelada oriunda das impurezas presentes no gás – e que lhe deu o nome – o gás mostarda causava cegueira e queimaduras graves. Podia provocar uma morte muito dolorosa em questão de minutos, além de ser uma substância cancerígena. Até o fim do conflito, grande quantidade de gás mostarda foi utilizada nos campos de batalha por ambos os lados da guerra.

A Segunda Guerra Mundial (1939-1945), apesar de suas proporções, teve pouco uso de armas químicas em combate. Os europeus e norte-americanos possuíam esse armamento, mas não o utilizaram, temendo uma retaliação com armas semelhantes. Apenas na China existiu um uso maior desse tipo de arma por parte das tropas invasoras japonesas. Na busca de produzir armas químicas ainda mais poderosas, a Alemanha Nazista, pouco antes da guerra, inventou gases que atacavam o sistema nervoso humano, impedindo-o de transmitir mensagens para os órgãos do corpo, o que provocava paralisias, convulsões e asfixia. O principal destes novos gases foi desenvolvido em 1939, ganhando o nome de sarin, com fórmula química [(CH3)2CHO] CH3P(O)F. Em condições normais, o sarin é um líquido altamente volátil, incolor e sem cheiro. Já na Guerra Fria (1945-1991), norte-americanos e soviéticos produziram grandes quantidades de armamento químico para uma eventual guerra “quente” entre os países. Hoje, tanto os Estados Unidos quanto a Rússia mantêm os maiores estoques desse tipo de armamento no mundo. As armas químicas foram bastante utilizadas na Guerra Irã-Iraque (1980-1988). No conflito, o Iraque, governado por Saddam Hussein, utilizou gás mostarda e sarin contra os iranianos em várias ocasiões. No final do conflito, em 1988, o governo iraquiano atacou com armas químicas a cidade de Halabja, então controlada por rebeldes curdos pró-Irã. O ataque foi um genocídio que matou entre 3-5 mil iraquianos de origem curda. Esse episódio, até hoje, é o maior massacre de civis utilizando armamento químico da história. Com o fim da Guerra Fria, um novo tratado baniu esses armamentos, a Convenção sobre as Armas Químicas em 1993, na qual hoje 190 estados fazem parte, inclusive o Brasil. Porém, existe ainda grande temor de que as armas químicas sejam utilizadas por organizações terroristas. Como elas são relativamente baratas, acessíveis e fáceis de transportar, isso as tornaria excelentes para a execução de atos terroristas, e, infelizmente, apontam para um futuro no qual elas ainda existirão, ameaçando populações inteiras.

Desde 26 de janeiro de 2011 o país enfrenta essa guerra civil, impulsionada pela Primavera Árabe. Parte da população exige a destituição do Presidente Bashar al-Assad para que se forme um governo mais democrático, enquanto os aliados governistas acusam os opositores de práticas terroristas. Mais de 130 mil pessoas já morreram em conflitos.

Refere-se a facilidade da substância de sair do estado líquido e entrar para o estado gasoso ou vaporoso.

Durante a Primeira Guerra Mundial, 28 nações se uniram nas chamadas tropas aliadas (ou potências coligadas) para enfrentar Alemanha, Áustria-Hungria, o império otomano e a Bulgária. Dentre esses 28 países estão Grã Bretanha, França, Rússia, Itália e Estados Unidos.

Ludolf Waldmann Júnior Mestre em Ciência Política na Universidade Federal de São Carlos e professor de Sociologia da rede estadual de ensino médio de São Paulo.

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