Descaso e mau uso da água

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Edição 3 | ano 4

Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana

Descaso e mau uso da água Crise de abastecimento aponta equívocos na gestão hídrica Racismo e patologia social Nas universidades, no sistema penal e até no futebol

ISSN 2179-1538

gl cal

ta s s i e v re dad a i su al A atu de

R$ 14,90

Energia limpa Um olhar sobre energia eólica, solar e biocombustível

Prêmio Vergonha Alheia Empresas antiéticas na mira da opinião pública

Alexandre GersonLinares Ferreira Ana Alexandre Maria Coyos Linares Cadavid LetíciaÂngela Maciel Arraya Mário César Célio Turino LopesDanilo Nascimento Di Giorgi Gabriel Eduardo Piotto Suplicy BrunoEduardo Jeuken Romulo Munari Francisco Osthues Yenny G. Nóbrega Liz Flores Gabriel Suárez Piotto Hélio Frederico Grassi Filho Guilherme Iara Souza deVicente Souza Beghelli Isabel Cristina HertonGoncalves Gilvan Caminha Isabella Goerch BuenoTariq LahisAliCristiane Paulo Rogério Monteiro Ayres de Oliveira Lage Sandra Larissa Mara Rodrigues Ortegosa Vacari Rafaela de Arruda LudolfMarina Thais Aguiar P. Nóbrega Nelson Danilo Bacic Di Giorgi Patrícia Miron Galleto Rodrigues Paulinha da Cunha Ranzani Aline Ubiracy Pivovar de Souza Orlando Braga EricaVijay Bispo Prashad Kelly Quirino Winnie Nelson Queiroz Pedroso Brandão


Seu autêntico plano de estudos.

516s. pág

31

s fascículo

(11)

4513-8660

(11) 9 9423-1131

guiaenem.org.br

www.

Materiais didáticos


edit rial Fernando de Souza Coelho, Professor

Mateus Prado, Educador

Pedro Ivo Batista, Socioambientalista

Paulo Jubilut, Biólogo

Ângela Arraya, Jornalista

Sede de entender o mundo A crise no abastecimento de água no estado mais rico do Brasil é o ponto de partida para uma série de artigos que esta edição da Glocal traz para seus leitores – afinal, de quem é a responsabilidade? Quais os antecedentes desta situação? O que poderia ser feito para evitá-la? O que está sendo feito atualmente é a melhor solução? O que este colapso revela sobre a forma como o poder público lida com esse bem inestimável? Essas são algumas das reflexões que Mário César Lopes Nascimento, Frederico Beghelli, Nelson Pedroso, Miron Rodrigues da Cunha e Paulo Rogério Lage levantam com seus artigos, cada um com uma diferente perspectiva sobre a (falta de) água. Outro “tema em série” que esta edição nos traz é o das representações negras na sociedade, com vários artigos lançando diferentes focos sobre o tema: o preconceito no futebol, o começo do movimento internacional pelos direitos negros, cenas cotidianas de racismo, cotas universitárias, dados sobre a execução da juventude negra e violência estatal contra negros, mulatos e, parafraseando Caetano Veloso, tantos outros “quase brancos tratados como pretos só pra mostrar aos outros quase pretos (e são quase todos pretos) e aos quase brancos pobres como pretos como é que pretos, pobres e mulatos e quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados”. Atualidades infelizmente atemporais deste Brasil, que pouco tem mudado desde 1888, quando da abolição do regime de escravidão no país. O processo histórico mostrou que a mera assinatura de um documento não é capaz de mudar a realidade social enquanto grupos, classes e setores que detém simplesmente toda a riqueza, os meios de produção e o acesso ou controle sobre o saber acadêmico, as leis e outras ferramentas de transformação da sociedade, não se inclinarem a ceder um milímetro de sua situação privilegiada para a inserção de pessoas que, do seu ponto de vista, lhes são inferiores. Nesses 126 anos, a senzala literal foi apenas substituída

pelas senzalas conceituais do racismo, da falta de oportunidades, da diferença de tratamento pelo poder público, pelos aparelhos repressores e pelo sistema como um todo. Outros temas de relevância para entender as várias dinâmicas do mundo em que vivemos também estão aqui, como uma reflexão sobre a política de drogas no Brasil, que está em pleno debate diante do “efeito Mujica”, apelido jocoso que se tem dado à abertura ganho pelo assunto recentemente na pauta de políticos e juristas brasileiros, e também à atenção que a opinião pública tem demonstrado por outros aspectos dessa discussão, como os usos medicinais da cannabis, a regulação como alternativa à “guerra contra as drogas” e até o crescimento e organização que vem apresentando a antes desacreditada Marcha da Maconha. Lembramos a nossos leitores que esta publicação se pretende um espaço de pluralidade e livre debate de ideias que normalmente não têm espaço nos meios convencionais de comunicação. A publicação de um artigo dessa natureza, porém, não tem fins apologistas da parte da direção da revista ou de seu corpo editorial, afinal, este é um assunto cujas conclusões são absolutamente individuais. E por falar no corpo editorial, esta edição acaba de ganhar dois reforços: Paulo Jubilut, biólogo formado pela Universidade Federal de Santa Catarina com mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental pela Universidade do Vale do Itajaí, professor nos mais conceituados colégios e cursinhos do Paraná e de Santa Catarina há mais de dez anos e criador do pioneiro projeto Biologia Total, que disponibiliza videoaulas de biologia da mais alta qualidade gratuitamente na Internet, e a jornalista Ângela Arraya, formada pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), que vem agregar à Glocal seus quase sete anos de experiência em edição de revistas. Boa leitura!

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sumário

por Mário César Lopes Nascimento

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Os (des)caminhos das águas paulistanas

por Bruno Jeuken

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Por trás de um grito racista

por Rômulo Oshtues

Expediente: Editores: Fernando Coelho, Mateus Prado e Pedro Ivo Batista, Paulo Jubilut e Ângela Arraya Conselho Editoral: Fernando Silva Oliveira, Renato Eliseu Costa e Wagner Iglesias Revisão: Aracelli de Lima Diretor de Criação: José Geraldo S. Junior Projeto Gráfico: Lucas Paiva Diagramação: Lucas Paiva e Daniel Paiva Suporte Editorial: Victor Hugo Felix, Fernanda Miranda Ribeiro e Ivone Mariano da Silva

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Troféu vergonha alheia


por Sandra Mara Ortegosa

06 A Internet e o avanco da democracia deliberativa por Gerson Ferreira

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Por uma nova política de drogas

08 25 anos do movimento pelas Diretas Já! por Alexandre Linares

22 por Rafaela Ludolf

Água envenenada? por Frederico Guilherme de Souza Beghelli

26 How Vladimir Putin became evil por Tariq Ali

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Política energética e energias Limpas

36 Injusticas de rotina por Danilo Di Giorgi

38 por Kelly Quirino

A escassez da água e seus conflitos por Miron Rodrigues da Cunha

40 Um ensaio matemático sobre contagem

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por Aline Pivovar Orlando

Genocídio Silencioso

48 A crise da água na bacia hidrográfica do Alto Tietê por Nelson Pedroso


Escreva o mundo de hoje. Envie seu artigo e colabore para o debate da sociedade sobre os temas do momento.

Pensamentos globais, acões locais A Revista Glocal - Painel de Geopolítica, Meio Ambiente, Cultura e Matemática Cotidiana é uma publicação de atualidades do Instituto Henfil Educação e Sustentabilidade, que tem como objetivo divulgar informações qualificadas sobre arte, cultura, política nacional e internacional, meio-ambiente, geopolítica, economia, questões sociais, ciência e matemática. O formato colaborativo abre espaço em suas páginas para que estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores, professores e especialistas em diversas áreas publiquem seus artigos em português, inglês ou espanhol.


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O existencialismo nas entrelinhas de Lispector

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A hora da estrela refletindo o questionamento do existir

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á que se há de escrever, que pelo menos não se esmague com palavras as entrelinhas.” Essa é uma das citações mais flutuantes de Clarice Lispector e é, acima de tudo, uma definição de como a autora esculpia detalhes secretos em sua literatura, com o intuito de provocar no leitor o senso de exploração do profundo, do subjetivo. Nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira com um ano de vida, Clarice Lispector é conhecida entre os críticos como a escritora dos romances introspectivos, que possuem como matéria-prima o íntimo questionamento existencial do indivíduo. A hora da estrela é, sem dúvidas, uma das obras mais famosas da autora, exigida frequentemente como leitura obrigatória para estudantes e vestibulandos que necessitam conhecer as várias faces da literatura brasileira. Com um enredo ambientado no Rio de Janeiro e uma personagem de humildade singular, Clarice Lispector cria um livro que não conta apenas sobre a vida da retirante nordestina Macabéa, mas que esconde conflitos existenciais em diversos trechos. Dessa forma, a escritora tece uma literatura realista, entrelaçada às circunstâncias inexoráveis do mundo da datilógrafa, “virgem e inócua.” Diante desse aspecto, é possível fazer a seguinte pergunta: há de fato o que a filosofia chama de reflexão existencialista na escrita de Lispector em A hora da estrela? Para responder a essa questão de forma bem objetiva – sem perder o foco da análise – é necessário expor duas dimensões. A primeira tratará de detalhar alguns aspectos do existencialismo como filosofia e a segunda irá se aprofundar no mundo de Macabéa e suas sutis reflexões. O existencialismo como filosofia existe desde o século XIX, tendo sido iniciado formalmente com os pensamentos do dinamarquês Søren Kierkegaard. Suas obras expõem ensaios acerca da realidade humana focada no pensamento abstrato e no individualismo diante das escolhas. Posteriormente, surgem no cenário filosófico Karl Jaspers, Martin Heidegger, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Albert Camus que tratam de definir a filosofia existencialista em todos os seus aspectos. A partir disso, há a construção do conceito de “absurdo” que é fundamentado na fal-

ta de sentido do mundo e em perguntas inquietantes como “quem somos?”, “de onde viemos?” e “para onde vamos?”. Um dos detalhes mais importantes da corrente filosófica existencialista é a priorização da existência em detrimento da essência. Em suma, isso significa que o indivíduo não possui uma essência predeterminada e imutável, mas constrói a sua essência a partir da existência ao longo do tempo, em um processo de autodefinição. Com este breve resumo, é possível analisar a presença do existencialismo na literatura de Clarice Lispector em A hora da estrela. É necessário ressaltar, primeiramente, que o narrador Rodrigo também é um dos personagens principais e considera Macabéa como um reflexo da sua necessidade de autoconhecimento e de se reconhecer por meio da criação da história. Logo nesse início, percebe-se a inserção de uma individualidade que se questiona como ausente de sentido e precisa criar tua essência, utilizando, neste caso, a arte de escrever. Ao desenrolar o enredo, Lispector – na voz de Rodrigo – apresenta o reflexo do narrador como uma nordestina que enxerga a vida de uma perspectiva indubitavelmente existencialista: “já que sou o jeito é ser”, ela diz. Neste monólogo interno da humilde Macabéa, fica explícita a reflexão acerca do ser enquanto ser em sua inexorável jornada de existência. Rodrigo ainda frisa esse aspecto ao dizer que Macabéa “passava o resto do dia representando com obediência o papel de ser”. No desfecho, Lispector utiliza a morte de Macabéa para deixar vir à tona o principal moinho do existencialismo: a falta de sentido e a efemeridade da vida. Ao anunciar a morte da nordestina no exato momento em que ela constrói esperanças em um futuro previsto pela cartomante, ela deixa transparente a impotência do indivíduo diante do destino que foge ao controle da vontade. Eis então o absurdo que é explicitado de forma metaforizada nas palavras de Rodrigo: “A vida é um soco no estômago”. Letícia Maciel Licencianda em Filosofia na Universidade Católica de Brasília.

Também conhecido como absurdismo, o conceito foi cunhado por Albert Camus no ensaio O Mito de Sísifo tendo raízes nos pensamentos de Kierkegaard. O absurdo referese à contradição humana de buscar um significado para uma vida que foge de nosso controle em diversas circunstâncias e escapa da compreensão racional em sua totalidade. É um dos principais conceitos utilizados para fundamentar o niilismo – conceito filosófico pessimista e cético que nega todos os princípios sociais, religiosos e políticos.

Há também filósofos que influenciaram fortemente o existencialismo e são considerados por muitos acadêmicos como pertencentes a uma corrente paralela: Arthur Schopenhauer, Friedrich Nietzsche e Edmund Husserl são alguns exemplos. Com ensaios produzidos em outras áreas da filosofia, eles abordaram temáticas que se relacionam com o existencialismo e o niilismo em diversos contextos.

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Os (des) caminhos das águas paulistanas A verdade inconveniente da mudança climática e a insustentabilidade Dados retirados do Relatório de Situação dos Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, produzido pela Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos e pela Coordenadoria de Recursos Hídricos.

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crise atual do abastecimento nos grandes centros urbanos é apenas um aspecto de uma crise de sustentabilidade em que nos encontramos e deve ser encarada como um desafio para a construção de um futuro viável. Tomando como estudo de caso o lado mais próspero do país, temos o Estado de São Paulo com uma área de 248.223 km², abrigando cerca de 42 milhões de habitantes, dos quais 93% vivem em áreas urba-

nas e aproximadamente 42% na Região Metropolitana. O potencial hídrico do Estado é de 3.140m³/s, podendo dispor de 2.105 m³/s (67% da vazão global) para abastecimento urbano, uso industrial e irrigação. Na região, a crescente urbanização desordenada é a raiz dos problemas que afetam a qualidade da água - inundações, erosão e assoreamento -, ampliando assim os conflitos existentes quanto ao uso para abastecimento, hidroeletricidade, lazer e


transporte. No centro da questão também está a localização da cidade de São Paulo em um planalto sem grandes caudais, implicando a necessidade de grandes obras de engenharia, a exemplo do Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento metropolitano da ordem de 50%. O Sistema Cantareira foi corroído historicamente pela ocupação urbana indevida de suas cabeceiras, então desprovidas de instrumento legal efetivado de proteção aos recursos hídricos, que não conseguiram ser atualizados nem mesmo na bacia do reservatório terminal em Mairiporã. Nas cabeceiras isso gera uma série de aterros indiscriminados de várzeas, entre outras ocupações indevidas em prol do ”progresso”. Mesmo uma tentativa preservacionista de criação de um imenso parque na região mostrou-se pífia pela burocracia envolvida. No ponto terminal em Mairiporã concentram-se as maiores degradações, devido à proximidade com a Metrópole, fustigando não só o meio ambiente como também a população carente. O trecho norte do Rodoanel foi afastado dali após movimento ambientalista significativo, mas os seus impactos indiretos estão à espera das compensações. No contexto estadual, as necessidades primordiais, que são o abastecimento de água e a produção de energia, sempre competiram entre si sem a existência de uma política de ação coordenada. A gestão deste quadro passou por quatro momentos no Estado desde o Sanitarista (1890-1934), dominado pela discussão de como fazer frente às epidemias; o Tecnoburocrático (1934-1963), ao qual a prioridade foi dada à água como insumo básico para o desenvolvimento econômico e geração de energia; o Econômico–financeiro (1963-1982), em que os recursos naturais foram tratados como fonte ilimitada de matéria prima; e o Ambiental (a partir de 1982 até hoje), com a salubridade sendo discutida no contexto ecossistêmico e a entrada em cena

de participação dos agentes sociais nos Comitês de Bacia a partir de 1994. Este momento ambiental que vivemos sofre retrocesso na medida em que a sociedade civil praticamente é expulsa da discussão nos Comitês de bacia. Soma-se a isso o fato que o quadro da mudança climática global neste contexto acelera a busca de soluções, exigindo a inclusão do parâmetro sustentabilidade, uma vez que se chegou a limites perigosos. As incertezas ainda representam obstáculos para o planejamento operacional e o gerenciamento do recurso hídrico, mas isso não pode ser utilizado para evitar ações imediatas de adaptação, e é no sentido de gerenciamento do risco e no caminho da precaução que devemos agir com visão sistêmica. A legislação ambiental nacional é até agora orientada pelos princípios do poluidor-pagador e do usuário-pagador, sendo necessário introduzir o princípio do protetor-receptor. Devido à importante função social do abastecimento, faz-se necessário uma melhor avaliação do potencial dos aquíferos subterrâneos e de como esse potencial será afetado no futuro, com atenção às zonas de recarga do Aquífero Guarani, do qual depende um número expressivo de cidades do interior do Estado. Em conclusão, chegamos ao ponto de transição em que ou a consciência ou o temor de abrirmos a torneira e nada termos nos obriga a preservar e gerir este elemento vital e finito que é a água.

O Itapetinga, mesmo após 5 anos desde o início do projeto, não teve nenhuma das áreas devidamente desapropriadas. O próprio projeto do parque mostrava-se arcaico e obsoleto. O mosaico de reservas particulares e o pagamento por serviços ambientais seriam alternativas para essas duas questões até hoje não resolvidas.

3.140m /s 2

é o potencial hídrico do Estado de São Paulo

Mário César Lopes Nascimento Arquiteto Sanitarista mestre em Engenharia Urbana. Ex-membro diretor do Fórum Brasileiro de ONGs que organizou a ECO 92, no qual coordenou o Tratado Internacional das Águas Doces. Atualmente trabalha na Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo / Vigilância Sanitária setor Saúde e Meio Ambiente.

Algumas ações de adaptação do setor recursos hídricos às mudanças climáticas poderiam ser: • melhoria da infraestrutura dos sistemas de esgoto e de fornecimento de água, tendo como prioridade a melhoria dos indicadores de saúde; • redução dos vazamentos na rede distribuidora; • criação e promoção de medidas de conservação do uso de água pela indústria e pela população; • exigência de medidas que evitem o desperdício de água para a aprovação de novos projetos de construção; • recuperação de ecossistemas naturais em áreas de mananciais; • diminuição do risco de enchentes e deslizamentos e melhoria na identificação de áreas de risco; • aperfeiçoamento dos sistemas de alerta de previsão do tempo e preparação para desastres naturais; • possível pausa em novos empreendimentos imobiliários nas áreas mananciais e realocação da população instalada em áreas de risco; • melhoria de sistemas de aviso prévio de enchentes e deslizamentos; • “design” de materiais antienchentes e reserva de águas pluviais para edificações.

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Troféu vergonha Conheça os mais recentes vencedores do Public Eye Awards, prêmio que elege as corporações mais desonrosas do planeta

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e existe um reconhecimento que, atualmente, nenhuma empresa quer ter, é o do Public Eye Awards. Apelidado de “Prêmio da Vergonha” (das corporações mais controversas do mundo), ele tem ganhado, desde sua criação em 2005, ainda mais visibilidade e, por oposição, maculado a imagem de muitas transnacionais de peso por aí. Já foram mais de 21 marcas reconhecidas – ou desmerecidas, melhor dizendo. Os péssimos motivos são variados: corrupção, exploração do trabalho humano, poluição desenfreada, negligência ambiental ou evasão agressiva de impostos. O objetivo do prêmio é contribuir para a promoção da justiça social e da ecologia e para o estabelecimento de medidas efetivas e legalmente compulsórias de responsabilização empresarial. Este ano, as escolhidas para encabeçar esse rol infame foram a Gazprom, gigante da exploração petrolífera russa, e a GAP, uma das marcas de vestuário mais badaladas entre os jovens de todo o mundo. Gazprom: um buraco mais embaixo Foi o público que acompanha o site da premiação <publiceye.ch> quem decidiu, por 95.279 votos, que a Gazprom é a empresa mais malandra de 2014. Por quê? Pesquisadores identificaram 206 derramamentos de óleo em seis campos de petróleo onde ela conduz operações de perfuração e foi a primeira petrolífera a instalar uma plataforma na região offshore coberta de gelo do Mar de Pechora, no Ártico russo. No fim do ano passado, começou

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alheia a perfurar o Mar Ártico para extração de petróleo e, desde então, violou regulamentações ambientais e de segurança. Alega-se que a Gazprom, a maior empresa de gás do mundo, não teria como responder por um derramamento significativo de óleo na região, fora o fato de que, segundo especialistas, não há um método abrangente para se limpar óleo em gelo marinho. Ela é acusada por não ter um plano de emergência adequado e utilizar tecnologias ultrapassadas. São cerca de 140 mil km² de mar e 3 mil km de costa sob ameaça – um amplo hábitat para a fauna local que corre sérios riscos. Históricos de acidentes contribuem para manchar sua imagem: 53 pessoas morreram em uma plataforma operada por uma subsidiária da Gazprom – e ela nunca foi diretamente responsabilizada pelo fato. As fábricas inseguras da GAP O desejo de ter um moletom da marca pode ser reavaliado depois que você ler isto. Boicotar uma empresa como a GAP até que ela se ajuste ao que se requer de uma organização internacional ética é uma boa maneira de fazer pressão. Pelo voto do júri especializado, a GAP recebeu o prêmio por se recusar a assinar acordos de segurança e prevenção de incêndios que protejam os funcionários das fábricas das quais compra suas roupas em Bangladesh. Violações graves nesses edifícios fazem que acidentes ameacem a vida de seus operários. Saídas de emergência, escadas de fuga e sistemas elétricos atuais... Para quê? Depois que o colapso do Edifício Rana Plaza, na capital de Bangladesh, onde ficava uma das fornecedoras da empresa, levou à morte mais de 1.100 funcionários, um acordo em assumir a responsabilidade pela segurança na cadeia de fornecimento foi assinado

5 vexames reconhecidos Algumas marcas presentes no dia a dia dos brasileiros já levaram o vergonhoso prêmio. Confira quais foram e algumas das razões por que mereceram:

por cerca de 100 marcas de roupas internacionais – com exceção da própria GAP. Não satisfeita em não cooperar, ela ainda faz campanha por um programa não compulsório de empresas para isentar a si mesmas de suas responsabilidades em relação aos trabalhadores. Os consumidores de olhos atentos mostram insatisfação: a GAP recebeu 44.342 indicações na votação popular promovida pelo site da Public Eye Awards em 2014. Provocações e debate válidos Como funciona o prêmio? As organizações anfitriãs – no caso, o Greenpeace e a Berne Declaration – abrem, anualmente, o concurso para que outras instituições (ditas “nomeadoras”) possam enviar seus dossiês de acusação. Essas instituições trabalham em prol dos direitos humanos e do meio ambiente. Após analisadas as acusações e definidos os candidatos ao desonroso prêmio, abre-se à votação popular. Depois, é a vez de um júri especializado dar seu crivo – ele é composto por pesquisadores e importantes lideranças nas áreas da ética empresarial, do meio ambiente e dos direitos humanos. Ao final, em período coincidente com o do Fórum Econômico Mundial (FEM), os vencedores são revelados – em 23 de janeiro saiu a lista deste ano. O objetivo de se fazer concomitantemente ao FEM é que haja um debate fundamental para que, na cúpula dos líderes do capital, sejam levadas em consideração ações que garantam menos prejuízos à vida e promovam mais responsabilidade socioambiental pelas empresas. Em verdade, é também uma provocação, uma contraconferência para chocalhar os participantes que ficam, normalmente, de “blá-blá-blá” durante o FEM.

Romulo Osthues Bacharel em jornalismo pela Unesp. Atualmente repórter e redator freelancer, já colaborou com diversas revistas de circulação nacional cobrindo temas relacionados à ecologia e à sustentabilidade.

Shell – ganhou menções vergonhosas no ano passado por insistir em perfurar no Ártico, onde apenas é possível pensar nessa ação em virtude do resultado das mudanças climáticas. Um círculo vicioso no fim das contas: perfuração, mais emissões de carbono, mais degelo, abertura da região para exploração...

Syngenta, Bayer e BASF – é um trio considerado assassino de abelhas por produzir e comercializar pesticidas que estão eliminando em massa esses insetos, bem como outros polinizadores fundamentais para a natureza e a produção global de alimentos. Quase 60 mil votos deram-lhe o segundo lugar no júri popular este ano, atrás somente da Gazprom.

Vale – condições de trabalho subumanas e abusos da exploração da natureza mereceram o Public Eye Awards 2012 (voto popular) para a segunda maior mineradora do mundo, manchando seus 60 anos de história. Para completar, ela participa da construção da combatida Usina de Belo Monte.

HSBC – foi indicada por emprestar dinheiro a empresas que desrespeitam os direitos humanos, como a Sime Darby e a Wilmar International, do ramo do óleo de palma, apesar das evidências de que elas possuem ações destrutivas nas localidades onde atuam. Foi o sexto lugar de 2014.

Walt Disney – premiada em 2006, a terra do entretenimento não parecia tão divertida quando vista bem de perto. Terceirizava serviços e produtos de empresas com graves violações trabalhistas e se recusava a apontar muitos de seus fornecedores – da China, por exemplo, – mantendo uma postura não transparente. Fonte: Site da premiação Public Eye Awards 2014.

O FEM, organização internacional localizada em Genebra, na Suíça, promove anualmente uma série de encontros das maiores empresas do mundo com o intuito de analisar os efeitos da globalização e propor ações e medidas reduzam seus pontos negativas e potencializem os positivos. Recebendo também o nome de Fórum de Davos – por ser realizado frequentemente na cidade de Davos, na Suíça –, é também utilizada como palco de relações diplomáticas, realizando pactos e acordos, como o encontro entre Nelson Mandela e seu inimigo político em 1992, o então presidente da África do Sul, Frederik Willem de Klerk. Contudo, o Fórum tem sido criticado por incentivar o progresso econômico, uma vez que considera a globalização irreversível, e assim contribuir para o aumento da miséria e da pobreza no mundo.

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Genocídio silencioso

Dados sobre a morte de jovens negros no Brasil

A

violência no Brasil tem idade, cor e sexo: jovens, negros e homens. A juventude é a parcela da população mais suscetível à mortalidade em decorrência da violência. Segundo pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em julho de 2013, intitulada Custo da juventude perdida no Brasil, é constatado que a morte prematura de jovens devido à violência custa ao país cerca de R$ 79 bilhões a cada ano, o que corresponde a cerca de 1,5% do PIB nacional. O homicídio é a principal causa das mortes entre os jovens no país. Só em 2010 foram 38,6% de todas as mortes neste segmento populacional, numa faixa etária que compreende dos 15 aos 29 anos. Sobre o quesi-

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to sexo, a pesquisa Mapa da violência 2012 aponta que os homens são mais vitimizados em relação às mulheres, assim como os jovens negros morrem mais do que os brancos. “Os jovens de cor parda são as maiores vítimas de homicídios, de mortes violentas com causa indeterminada e de acidentes; isto implica dizer que jovens pardos são a esmagadora maioria das vítimas de agressões letais. Por outro lado, os jovens brancos são os mais vitimados por acidentes de trânsito e por suicídio”, afirma o IPEA. A questão racial na violência já havia sido abordada em 2004 no Mapa da violência: “Além de trazer à tona importantes dados sobre mortes juvenis em acidentes de transporte, homicídios e suicídios, o estudo destacou que os homicídios vitimam principalmente a população


de sexo masculino (em torno de 93% das vítimas são homens) e de raça negra, que tem vitimização 65% superior à população (total) e 74% superior entre os jovens”. Em comparação com os dados daquele ano, o Mapa da violência 2013 diagnosticou um decréscimo de 26,4% na morte de jovens brancos. Entre os negros, houve um aumento de 30,6%.

•O número de homicídios de jovens brancos caiu de 6.596 em 2002, para 3.973 em 2011: queda de 39,8%, bem maior que a do conjunto da população, que foi de 26,4%.

Além disso, quando se desagrega os dados por período, os resultados apurados pelo Mapa da violência 2013 são mais impressionantes:

• Assim, a participação dos jovens brancos no total de homicídios juvenis do país caiu de 36,7% em 2002, para 22,8% em 2011. Por sua vez, a partici-

• J á as vítimas negras entre os jovens cresceram de 11.321 para 13.405, isto é, um aumento de 24,1%.

0

10

20

30

40

50

Padrão de vitimização de jovens em relação a raça (%) por tipo de incidente

Amarela

Amarela

Acidente

Suicídio

Ignorada

Indígena

Homicídio

Parda

Indeterminado

Preta Transporte

Fonte: MS/SVS/DASIS – Sistema de Informação sobre Mortalidade – SIM. Período 1996 a 2010. Elaboração DIEST/IPEA. Considerou-se apenas os jovens entre 15 e 29 anos.

Taxas de homicídio total (em 100 mil) por idades simples e cor. Brasil - 2010 100,0

89,3

Taxas de homicídio (em 100 mil)

90,0

Negro

80,0

Branco

70,0 60,0 50,0 37,3

40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 0

5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 Idade (anos) Fonte: Processamento dos microdados do SIM/SVS/MS e do Censo 2010/IBGE

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pação dos jovens negros, que já era muito elevada em 2002, 63%, cresceu ainda mais, indo para 76,9%. • Com esse diferencial de ritmos, a vitimização de jovens negros passa de 71,6% em 2002 – nesse ano morrem proporcionalmente 71,6% mais jovens negros que brancos – para 237,4% em 2011, maior ainda que a pesada vitimização na população total, que nesse ano foi de 153,4%. Programa Juventude Viva O movimento negro, ao diagnosticar este quadro, tem afirmado sistematicamente que há um genocídio da juventude negra, na perspectiva de que, quando um grupo está em situação de vulnerabilidade social e o Estado não proporciona condições para alterar a situação, tanto o Estado quanto a sociedade estão permitindo a continuidade destas mortes. Em pronunciamento, quando da divulgação dos dados do Mapa da Violência em 2013, a presidente Dilma confirmou que a morte da juventude negra é um problema de Estado no Brasil. Para reverter este quadro, o governo federal lançou em dezembro de 2012 o Programa Juventude Viva, para reduzir a vulnerabilidade dos jovens em situações de violência criando meios de inseri-los socialmente. O projeto observa quais regiões têm maiores índices de homicídios e oferece territórios diversos serviços públicos, equipamentos e espaço de convivência, além de

aprimorar a atuação do Estado no combate ao racismo. O foco são os jovens negros de 15 a 29 anos do sexo masculino, em sua maioria com baixa escolaridade, que vivem nas periferias dos centros urbanos. Além disto, rapazes em situação de exposição à violência, como aqueles que se encontram ameaçados de morte, em situação de violência doméstica, em situação de rua, cumprindo medidas socioeducativas, egressos do sistema penitenciário e usuários de crack e outras drogas também são público do Juventude Viva. O plano prioriza 132 municípios brasileiros, distribuídos em 26 estados e no Distrito Federal, que em 2010 concentravam 70% dos homicídios contra jovens negros. O desafio é o Estado se conscientizar deste quadro junto com a opinião pública e propor alternativas para salvar essa juventude exterminada todos os dias no país. Para os jovens, não há alternativa: reaja ou será morto; reaja ou será morta.

Kelly Quirino Doutoranda em Comunicação pela Universidade de Brasília, Mestre em Comunicação Midiática pela UNESP, jornalista com atuação na área de Comunicação da Fundação Banco do Brasil e tutora do curso de Especialização em Políticas Públicas de Gênero e Raça da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília – FE-UNB.

Número de homicídios na população jovem por Raça/Cor. Brasil. Região NORTE

Brancos

Negros

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2010

Δ%

2002

2006

2010

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271

31,6

1.320

1.931

2.904

120

NORDESTE

546

540

699

28

4.615

6.606

9.168

98,7

SUDESTE

6.588

4.074

2.541

-61,4

8.444

6.813

5.252

-37,8

SUL

1.862

2.322

2.565

37,8

483

607

705

46

CENTRO-OESTE

499

430

427

-14,4

1.221

1.477

1.811

48,3

BRASIL

9.701

7.607

6.503

-33

16.083

17.434

19.840

23,4

Fonte: SIM/SVS/MS e IBGE

Evolução dos números de homicídios por raça/cor das vítimas na população jovem. Brasil 2002/2010 ANO

BRANCA

PRETA

PARDA

NEGRA*

AMARELA

INDÍGENA

TOTAL

2002

6.596

1.712

9.609

11.321

33

20

17.970

2003

6.613

1.969

9.855

11.824

68

20

18.525

2004

5.871

1.695

9.831

11.526

34

17

17.448

2005

5.195

1.518

10.045

11.563

21

33

16.812

2006

5.015

1.539

10.294

11.833

23

32

16.903

2007

4.512

1.559

10.346

11.905

9

45

16.471

2008

4.585

1.506

11.243

12.749

19

49

17.399

2009

4.430

1.449

11.600

13.049

10

34

17.523

2010

4.196

1.496

11.899

13.395

23

41

17.565

2011

3.973

1.482

11.923

13.405

17

31

17.426

TOTAL

50.983

15.925

106.645

122.570

257

322

231.039

Δ%

-39,8

-13,4

24,1

18,4

-48,5

55

-3 Fonte: SIM/SVS/MS

46


Número de Taxas de Homicídio (em 100 mil) por Idade Simples e Raça/cor. Brasil - 2010 idade

número

taxas

branco

negro

branco

negro

0

36

28

2,5

2,3

1

9

16

0,7

1,2

2

11

10

0,9

0,7

3

10

12

0,8

0,8

4

9

11

0,7

0,7

5

6

10

0,5

0,6

6

7

11

0,5

0,7

7

5

14

0,4

0,9

8

1

18

0,1

1,1

9

8

18

0,6

1

10

4

24

0,3

1,2

11

16

27

1,1

1,4

12

18

38

1,3

2

13

29

126

2

6,5

14

67

259

4,6

13

15

181

555

12,1

27,5

16

241

955

16,7

49,5

17

397

1.246

27,6

18

404

1.445

19

443

1.394

45

173

325

13,3

26,1

46

191

329

15,5

27,9

47

220

283

18,3

24,9

48

153

264

13,3

24,7

49

133

263

11,8

25,6

50

139

226

11,9

20,8

51

130

188

12,5

20,2

52

152

199

14,4

20,6

53

105

162

10,4

18,3

54

115

158

11,7

18,1

55

78

159

8

18,5

56

98

143

10,7

17,7

57

86

137

10,1

14,9

58

89

107

10,7

14,9

59

71

118

8,9

17,3

60

81

98

9,9

13,7

Fonte: Processamento microdados SIM/SVS/MS e Censo 2010/IBGE

Ordenamento nas taxas de homicídio (por 100 mil) na população jovem segundo raça/cor. Brasil - 2011 POPULAÇÃO JOVEM BRANCA UF

TAXA

POPULAÇÃO JOVEM NEGRA UF

TAXA

66,6

Paraná

71,8

Paraná

47,8

27,7

77,7

Espírito Santo

37,3

Espírito Santo

144,6

30,6

79,2

Amazonas

36,3

Amazonas

65,5

32,8

Rio Grande do Sul

53,4

20

484

1.623

31,9

89,3

Rio Grande do Sul

21

571

1.647

37,3

89,6

Bahia

31,6

Bahia

100,3

22

497

1.580

31,8

83,9

Rio de Janeiro

31,3

Rio de Janeiro

82,8

23

508

1.540

32,9

84,7

Amapá

31,2

Amapá

92,4

24

470

1.410

29,6

76

Goiás

30,4

Goiás

97,5

25

442

1.348

28,2

73,8

Rondônia

28,1

Rondônia

45,8

26

459

1.312

30,3

75,8

Mato Grosso do Sul

26,4

Mato Grosso do Sul

62,3

27

502

1.325

31,2

73,3

Minas Gerais

26,3

Minas Gerais

59,2

28

488

1.260

29,7

69,5

Pará

25,5

Pará

90,9

29

416

1.200

26,4

69

Mato Grosso

25,4

Mato Grosso

61,2

30

435

1.066

26,6

57,8

31

376

1.001

25,6

62

Distrito Federal

121,9

32

409

915

28

55,4

33

335

879

24,1

56,8

34

313

772

23

50,6

35

326

717

23,3

46,5

36

283

657

21,9

46,1

37

265

620

20,4

44,1

38

279

553

21,6

40,1

39

249

501

19,4

36,9

40

240

516

17,6

35,3

41

204

449

16,4

Distrito Federal

25

Rio Grande do Norte

24,3

Rio Grande do Norte

91,6

Santa Catarina

20,9

Santa Catarina

32,2

Tocantins

18,6

Tocantins

40,8

Ceará

17,8

Ceará

São Paulo

17,1

São Paulo

Sergipe

16,2

Sergipe

Maranhão

15,9

Maranhão

41,8

Alagoas

15,5

Alagoas

201,2

Pernambuco

12,5

Pernambuco

112,5

35,2

Piauí

11,5

Piauí

28,5

10,4

Acre

29,5 134,1

42

214

413

16,9

31,6

Acre

43

220

397

18,2

32,5

Paraíba

6,3

Paraíba

44

190

372

15,2

30,4

Roraima

0

Roraima

59 27,5 74

31,7 Fontes: SIM/SVS/MS; PNAD/IBGE

glocal

47


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