Índice Reportagem de Capa
Ao leitor
Um dos biomas mais importantes do mundo, o Cerrado vem sendo, finalmente, redescoberto. Preservadas, suas riquezas naturais valem muito mais do que destruídas. Com altíssimo índice de desmatamento, a corrida agora é pela preservação. Algumas iniciativas, mostram o caminho a se seguir.
O Cerrado, esse bioma riquíssimo e de grande importância para o nosso planeta, não podia deixar de ganhar destaque na Revista HOJE, principalmente no Ano da Biodiversidade. Em um momento em que preservar torna-se não somente uma necessidade, mas uma urgência, HOJE apresenta algumas iniciativas que primam pelo desenvolvimento sustentável e pelo progresso e crescimento econômico sem destruição e perdas. Ainda nesta edição, a política em Goiás e em Tocantins (agora com a colaboração de Roberta Tum), notícias sobre o esporte, a cultura (apresentando novo colunista, Carlos Pompeu) e muito mais. Boa leitura!
20 Entrevista
Colunas
Fábio Tokarski
Primeiro Plano Valterli Guedes
Turismo Izabel Todeschini
Resenha Renato Dias
Auto Hoje Fabrício Oliveira
Urubuservando Carlos Brandão
Culturamix Carlos Pompeu
A revista do Centro-Oeste e Tocantins Editora Caraíba Ltda. CNPJ: 08629243/0001-03 Rua 261 nº 438 Setor Coimbra Goiânia-GO CEP 74.533-050 Fone: 62 3091-5959/Fax: 62 3293-1454 Administração: revista.hoje@yahoo.com.br Redação: redacao.hoje@yahoo.com.br
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06 Diretores Tarzan de Castro e Valterli Guedes
Design e Diagramação Gustavo Nascimento (gustavomorc@gmail.com)
Diretor administrativo-financeiro Joari Sousa Barreira
Colaboradores Pedro Guedes e Valterli Filho
Diretor de Projetos Especiais Eliezer Pena
Sucursal do Tocantins Maria Paula Bueno Sucursal de Brasília Adriana Ferraz (adriana@juridiconet.com.br) Sucursal de São Paulo (Capital) Maria de Fátima Vital (fatvital@gmail.com)
HOJE Editor-Geral Valterli Guedes (guedesvalterli@gmail.com) Edição Karla Rady (karlarady@gmail.com) Reportagens Janaina Gomes, Rhadá Costa, Roberta Tum e Wladimir Machado
Impressão Gráfica e Editora Elite (62) 9106-7883 Tiragem: 20.000 exemplares
Especial
Fraude
Assistência Social melhora em Goiânia
Sudam: MP investiga obras não executadas
Asminas
Internet
Primeiro Rally da Solidariedade
O poder das redes sociais
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15 Goiás
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39 Artigo
Começa a definição dos nomes
Tarzan de Castro: Cotas, uma conquista dos negros
Política
Esporte
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Como Meirelles deixou escapar o sonho de governar Goiás
Os atletas mais jovens a disputarem uma Copa
Tocantins
Saúde
Eleições: Gaguim e Siqueira no páreo
Cirurgia corrige olhos esbugalhados
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46
49
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Entrevista I Fábio Tokarski
Uma história de luta Valterli Guedes e Tarzan de Castro
F
ábio Tokarski, vereador de Goiânia, é engenheiro civil, professor da UFG e preside a Comissão Pró-Desenvolvimento da Região Metropolitana da Câmara Municipal de Goiânia. Nos anos 70 do século XX, participou do movimento estudantil e da reconstrução dos sindicatos de trabalhadores. É filiado ao PCdoB desde 1980. Foi presidente do extinto Instituto Goiano de Administração Municipal (Igam). Em 1993, foi secretário de Obras de Goiânia. Em 1996, concorreu ao primeiro mandato de vereador. Em 2000, se reelegeu e, em 2002, torna-se deputado estadual após receber 21.500 votos somente em Goiânia. Em 2006, disputou eleição para deputado federal, ficando na suplência. Entre 2007 e 2008, foi assessor do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Envolvido nas lutas pela defesa da Educação, do Meio Ambiente, da Habitação Popular, do Transporte Coletivo, nas lutas da juventude, das mulheres e do movimento negro, Fábio coordena o Fórum em Defesa da Bacia do Rio Meia Ponte e defende o Cerrado. Foi criador da Lei Municipal de Incentivo à Cultura e do Fundo Estadual de Incentivo à Cultura. Ele falou a HOJE, como segue: HOJE – Os Tokarski estão aí: na religião, nos negócios e até na política. Faça um rápido histórico da presença da família Tokarski no Brasil. Fábio Tokarski – Meu pai, Alberto Tokarski, tem descendência polonesa e minha mãe, Almerinda Reinert, alemã. Na década de 1950, de Santa Catarina
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mudaram para Barbosa Ferraz, no Paraná, onde foram pioneiros. Contribuíram para abrir uma nova fronteira agrícola no estado e desenvolveram liderança na região, e meu pai chegou a ser prefeito da cidade nos anos de 1960. Plantávamos trigo, café, rami e menta, além de lidarmos com uma olaria. A maior determinação dos meus pais foi garantir curso superior aos seus 11 filhos, o que aconteceu. Na década de 1970, minha família resolveu mudar para o Centro-Oeste. Hoje somos dez irmãos, sendo que seis se fixaram em Brasília e quatro em Goiânia. HOJE – Sua família realiza uma festa nacional, todo ano. Como é isso? Fábio – Há 22 anos realizamos a Festa Nacional dos Tokarski (FENATO) que é momento onde todas as gerações se encontram e confraternizam. Ela chega a reunir 300, 400 membros da família, isso porque não vão todos. A festa acontece de três em três anos, cada vez em um estado diferente. Ano passado, por exemplo, aconteceu em Canoinhas, Santa Catarina. HOJE – E você, engenheiro e professor, por que fez opção pela carreira política? Fábio – Tudo começou em plena ditadura militar, no processo eleitoral de 1974, quando ainda estudante ajudei candidatos que se opunham ao regime. Daí em diante passei a exercer outra engenharia, a que busca construir caminhos novos para o País, que possibilitem o desenvolvimento e a construção de uma nação democrática, justa e igualitária. A partir de 1977, começam as minhas primeiras participações nas lutas pela reconstrução dos movimentos sindicais e estudantis, pela anistia, as diretas e a minha filiação ao PCdoB. HOJE – Recém-empossado na presidência regional do PC do B, qual é o seu programa de trabalho? Fábio – Temos um grande desafio pela frente neste ano: o processo eleitoral. Compreendemos que é necessário aprofundar as mudanças que vêm ocorrendo no País a partir da eleição do presidente Lula. O novo ciclo de desenvolvimento que estamos vivendo no
Brasil precisa ser mantido e ampliado. Diminuir cada vez mais as desigualdades sociais é o horizonte. Homens e mulheres precisam ter suas vidas melhoradas com a mais ampla dignidade. Batalhar por isso e muito mais em Goiás, para e com os goianos, é o que nos tem guiado e nos conduzirá. HOJE – Qual é a posição do PC do B em relação ao governo Alcides Rodrigues? Fábio -– Objetivamente não o apoiamos na eleição e não integramos o
“...Defendemos a união de todos os partidos que integram a base do presidente Lula em Goiás. Concretamente, a candidatura que mais aglutina os partidos desta base é a do prefeito de Goiânia, Iris Rezende, e com ela devemos seguir ” governo Alcides. Reconhecemos que ele recebeu o Estado com as finanças comprometidas, fruto de determinado aventureirismo de seu antecessor. Seu governo enfrenta limitações pela ausência de planejamento estratégico de Estado e pelas limitações do horizonte dos partidos que o compõem. HOJE – Nacionalmente, qual é a proposta atual do PC do B, que combina a tradição revolucionária com alianças e apoios a governos gestores do capitalismo? Não existe contradição?
Fábio – Defendemos, historicamente e na atualidade, diante das agudas crises cíclicas do sistema capitalista, a necessidade da construção do socialismo. Aprovamos em nosso 12º Congresso, o Programa Socialista, documento que indica como pretendemos construir este novo regime social, de acordo com as condições históricas do País e partir das forças sociais presentes nas lutas sociais. Um passo importante nesta perspectiva passa pelas eleições deste ano, nas quais defenderemos a necessidade de Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento (NPDN), que deve responder a um conjunto de tarefas, entre elas, a construção de uma nação democrática, próspera e solidária, de um Estado democrático e inovador de suas instituições; um país de alta tecnologia, avançado na indústria do conhecimento e grande produtor de alimentos e energia; vida digna para o povo. Portanto, não vemos nenhuma contradição em apoiar e participar de governos que primem por esses objetivos. HOJE – O PC do B está com Dilma Rousseff? Fábio – Sim. Ela é uma mulher de ideias avançadas, tem uma trajetória política respeitada, combateu a ditadura militar, foi presa, fez parte de organizações que lutaram na resistência e hoje é uma pessoa preparada para ampliar o programa iniciado por Lula e mesmo chegar a um nível mais avançado. Como ministra que coordena o governo, deu mostra de que é preparada e está madura para dirigir o País. É a melhor opção para o Brasil e seu povo. HOJE – E para o governo de Goiás, qual a posição do partido? Fábio – Precisamos de três medidas: 1º: Propostas; 2º: União; e 3º: de uma chapa de candidatos capazes de expressar nossas propostas. Estamos construindo este projeto. Goiás está crescendo, mas muito aquém de suas potencialidades. Vamos elaborar propostas e no momento em que realizamos esta entrevista, as vésperas do final do prazo de desincompatibilização e do anúncio oficial das candidaturas, defendemos a união de todos os partidos que integram a base do presidente Lula em Goiás. Março/Abril de 2010 - Hoje | 7
Entrevista I Fábio Tokarski Concretamente, a candidatura que mais aglutina os partidos desta base é a do prefeito de Goiânia, Iris Rezende, e com ela devemos seguir. HOJE – O PC do B está bem estruturado em Goiás? Qual é a representatividade do Partido? Fábio – Vivemos uma fase madura e rica em Goiás, onde estamos presentes em 64 importantes municípios, sendo que em 23 participamos da gestão municipal, seja em secretarias ou na direção de órgãos das prefeituras. Também temos vereadores em oito municípios. Em Goiânia, temos direções para coordenar as atividades partidárias nas regiões Sul-Oeste, Centro-Leste e Norte da capital, com o objetivo de dialogar com a comunidade local e de fazer com que os filiados participem mais da vida orgânica partidária. O PCdoB ainda tem atuação na direção e na base de sindicatos, e na diretoria da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil em Goiás (CTB) e a participação em outros movimentos , ligados às mulheres, escolas, professores e servidores da educação, estudantes, trabalhadores rurais, odontólogos, enfermeiros, vigilantes e servidores municipais. Temos inserção nas áreas de educação, cultura, esporte, saúde, meio ambiente, judiciário, crianças, juventude, transporte e empresarial. HOJE – Qual a posição do PCdoB sobre as cotas para afrodescendentes e indígenas nas universidades públicas? Fábio – Precisamos democratizar o acesso ao ensino superior para os negros, pardos, índios e para os filhos da classe trabalhadora brasileira. Por esse motivo, o PCdoB considera importante a criação e a manutenção de mecanismos legais que permitam que essa parcela significativa da população ingresse e possa se manter estudando em instituições de ensino superior públicas, que são as melhores do País. Defendemos que a medida ocorra por tempo determinado, no caso, a sugestão é de que seja aplicada por dez anos. Assim, certamente, diminuirão os abismos sociais existentes.
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HOJE – O PCdoB continua com forte atuação no movimento estudantil? Fábio – Acreditamos na força do jovem como instrumento para a conquista de uma sociedade mais justa. Para isso, temos uma frente da juventude, encabeçada pela União da Juventude Socialista (UJS), além de contar com membros atuantes na direção ou na base da União Goiana dos Estudantes Secundaristas (UGES) e de diversos grêmios estudantis, tanto em Goiânia como nas principais cidades do interior. Os jovens socialistas têm buscado ocupar um maior espaço político, com
“Temos um grande desafio pela frente neste ano: o processo eleitoral. Compreendemos que é necessário aprofundar as mudanças que vem ocorrendo no país a partir da eleição do presidente Lula” objetivo de ampliar a presença do pensamento socialista nos espaços institucionais e nos movimentos sociais. HOJE – Quais os resultados, até agora, do seu atual mandato de vereador? Faça uma sucinta prestação de contas. Fábio – Goiânia tornou-se metrópole complexa, de modo que o mandato de vereador não pode se limitar a pensar a cidade de forma isolada. Nesse sentido, criamos a Comissão Pró-Desenvolvimento da Região Metropolitana de Goiânia, que presido. Nela, temos pensado questões estruturais da cidade em médio e longo prazo, com vistas ao crescimento sustentável. Pro-
movemos audiências públicas, de dicadas a pensar o desenvolvimento da região metropolitana para os próximos 20 anos. Trouxemos o presidente e o diretor de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), respectivamente, os economistas Márcio Pochmann e João Sicsú, para discutir a superação da crise econômica que aconteceu entre 2008 e 2009. Também trouxemos o presidente da Agência Nacional de Petróleo (ANP), Haroldo Lima, para esclarecer as riquezas do Pré-Sal. Ainda articulamos a Conferência Municipal de Segurança Pública e a Pré-Conferência Estadual de Educação, no município de Goiânia, e rearticulamos o Fórum em Defesa da Bacia do Meia Ponte. Na área de cultura e esporte, promovemos audiências públicas para discutir o incentivo às práticas desportivas e culturais, além de colaborar na formatação da Lei Municipal de Incentivo ao Esporte, aprovada ano passado. Recentemente, atuamos decisivamente para a implantação do serviço 24 horas de transporte coletivo em Goiânia.
qualidade dos empregos ofertados no estado; buscar aqueles que possibilitem a inovação tecnológica. HOJE – Qual sua opinião sobre a demora no esclarecimento ao paradeiro dos mortos e desaparecidos, vítimas da ditadura, inclusive os da Guerrilha do Araguaia? Fábio – Creio que o processo precisa de celeridade. Um país como o Brasil, onde a democracia é resultado da luta política árdua, não pode conviver com indefinições, principalmente quando se trata da localização do paradeiro dos corpos de dezenas de lutadores, homens e mulheres que tudo fizeram, inclusive dar as vidas por essa Democracia.
HOJE –Será candidato neste ano?Aquê? Fábio – Nacionalmente, o PCdoB objetiva eleger uma grande bancada de Deputados Federais, e ampliar nossa presença no Senado Federal que hoje é de apenas um senador. Já definimos que vamos disputar o governo do Maranhão. Aqui em Goiás, o objetivo do partido, a ser definido até junho, mês das convenções partidárias, é retomar a cadeira de deputado federal, bem como uma ou duas vagas na Assembleia Legislativa. O PCdoB está apresentando o meu nome para deputado federal e estamos construindo uma chapa com 63 nomes de lideranças para disputar vagas na Assembleia Legislativa. É fundamental que tenhamos uma campanha marcada pelo debate, pela discussão daquilo que realmente interessa ao país e a Goiás. É preciso abordar os grandes temas que interessam a nossa população, como a universalização da educação pública com qualidade; a necessidade de resolver o problema de carência de formação de mão de obra qualificada, especializada; melhorar a Março/Abril de 2010 - Hoje | 9
P rimeir o P l a n o
O livro de Nery “A Nuvem – 50 anos de História do Brasil” (Geração Editorial), de autoria do jornalista Sebastião Nery, é um livro que recomendo. São 600 páginas imperdíveis. Entre goianos ou ligados a Goiás, são citados Jamel Cecílio (o falecido empresário, ex-prefeito de Anápolis, deputado federal, boa praça); o jornalista Luiz Augusto (o Pampinha, atualmente no Diário da Manhã), o ex-governador do Tocantins Siqueira Campos, Rivadávia Xavier Nunes (advogado, secretário de Segurança Pública durante o governo Mauro Borges), o ator João Bênio, Afrânio Azevedo, José J. Veiga, Toniquinho JK (Antônio Soares Neto), Aldo Arantes e o ex-governador Coimbra Bueno.
Mourão, o candidato O ex-deputado Paulo Mourão, atualmente no PT, colocou o nome à disposição de seu partido para a disputa do governo do Tocantins. Raul Filho, prefeito de Palmas, preferiu continuar até 31 de dezembro de 2012 nas atuais funções. Mourão foi prefeito de Porto Nacional, deputado federal (pelo PSDB) e já pertenceu a outros partidos, entre eles a Arena, o PDS (extintos) o próprio PT, do qual foi expulso em 2008 sob a acusação de haver apoiado candidatos do DEM em vários municípios. Houve a reconciliação e nova filiação, depois do que Mourão foi secretário de Desenvolvimento Estratégico do governo Marcelo Miranda.
Intervenção no PSDB-DF Maria de Lourdes Abadia, ex-governadora (era vice e cumpriu o mandato de Joaquim Roriz, que se desincompatibilizou para concorrer ao Senado em 2006), é indicada do ex-governador para ser a interventora no diretório regional do PSDB-DF. A intervenção é reivindicada à cúpula nacional do partido pelo ex-governador, atualmente, filiado ao PSC.
Suzana secretária
Depois de um político, o senador Leomar Quintanilha (PMDB), que deixa o cargo para ser candidato à reeleição, uma profissional da área: a professora Suzana Salazar de Freitas é agora a titular da Secretaria de Educação do Tocantins.
Briga no PT Serys Marly (ex-Slhessarenko), atuante senadora do PT matogrossense, foi rifada em préconvenção pelo partido, que optou por lançar Carlos Abicalil para o Senado. Blairo Maggi é o outro candidato da coligação. O PSDB definiu a pré-candidatura de Antero Paes de Barros e trabalha na escolha do segundo nome.
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O preço O governador, ao pedir uma audiência, ser recebido com rapidez. E apoio a dois projetos que não saem da cabeça do ex-governador: a implantação de uma linha de trem de alta velocidade ligando “Goiânia a Brasília, e a ampliação da área do Distrito Federal, incluindo cidades goianas, a exemplo de Águas Lindas, Novo Gama, Valparaíso. – A Constituição de 1946 previa um distrito federal bem maior que o implantado por Juscelino” – comenta Joaquim Roriz. São os compromissos que Roriz quer arrancar de José Serra, o candidato ao PSDB à Presidência, o qual vai apoiar.
Valterli Guedes |guedesvalterli@gmail.com
Serra e o MS O presidenciável José Serra (PSDB) não corre risco de ficar sem palanque no Mato Grosso do Sul, governado por André Puccinelli (PMDB), que dias atrás rasgou chita para o presidente Lula, durante evento em Três Lagoas. Se Puccinelli apoiar Dilma, a senadora Marisa Serrano (PSDB), ou o ex- deputado Murilo Zaurite (vice de Puccinelli), são os nomes à disposição. O DEM sul-matogrossense acompanhará o PSDB.
Que horror! Joaquim Roriz diz a quem quizer ouvir: “Não apoio a Dilma Rousseff de jeito nenhum. Ela quer transformar o Brasil numa Venezuela.”
Alternativas O pré-candidato Iris Rezende (PMDB) não gostou nem um pouquinho da informação que lhe foi dar, pessoalmente, o deputado Sandro Mabel: mas seria possível cumprir o compromisso de o PR indicar Vanderlan Vieira para o vice na chapa do PMDB. Sou do tempo em que o fio do bigode era documento – disse Iris a Mabel, que ainda insinuou com possibilidade de estarem juntos “no segundo turno.” “Mas para haver segundo, antes tem o primeiro turno”, encerrou o, até então, prefeito de Goiânia. Vanderlan, também prefeito até então, presente à ruidosa audiência, calado estava, calado ficou.
Saia justa Zé Gomes (PP), prefeito de Itumbiara, vive um período de “saia justa”: como se não bastasse a cassação do mandato, em fase final pelo STF, vive a angústia de ter que optar entre seu padrinho de casamento, Iris Rezende, e seu aliado para conquistar a prefeitura, Marconi Perillo. Sem falar que seu atual partido está lançando o ex-prefeito de Senador Canedo, Vanderlan Cardoso (PR), ao governo. – Haja coração.
Ney Ney Nogueira (PP) não deixou o certo pelo duvidoso. Era secretário forte do governador Alcides Rodrigues e será candidato a deputado estadual apoioado em Santa Helena (terra do governador) e em muitas outras cidades. Sua candidatura causa ciúme, mas Ney é habilidoso o suficiente para contornar esse problema. Vitória certa.
Na política, um amador José Batista Júnior, o Jr. do Friboi, um dos donos do maior grupo de industrialização e comercialização de carnes do mundo (e cujo início de atividades aconteceu em Goiás, com um pequeno Açougue), quando o assunto é a política, deixa de ser o grande profissional que é. Isto ficou claro a partir da sua primeira entrevista como pré-candidato a governador de Goiás, quando disse haver levado ajuda em dinheiro “em casa” para Ronaldo Caiado (DEM), cujos recursos seriam para a UDR e o parlamentar teria desviado para financiar sua candidatura presidencial em 1989. Caiado ameaçou-o com processo e investigação sobre financiamentos do BNDES. E Jr. deixou a disputa antes mesmo de entrar nela.
Mato Grosso Santos será oWilson candidato do
PSDB ao governo de Mato Grosso. Reeleito prefeito de Cuiabá, Wilson passa as funções ao vice, Francisco Galindo (PTB). Segundo o senador Jaime Campos (DEM), seu partido indicará o vice de Wilson Santos, na disputa com Silval Barbosa (PMDB), que assumiu no lugar de Blairo Maggi (PR), précandidato ao Senado. Em 2002 e 2006, o DEM apoiou Maggi, de cujos governos fez parte.
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Especial
Assistência Social c Em 2009, a Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS) registrou um crescimento de 200%. Número positivo capitaneado pela ampliação do atendimento nos Centros de Referência de Assistência Social e na Casa Acolhida Cidadã
A
Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS) foi criada em junho de 2007 com o propósito de atender à busca pela melhor gestão no atendimento a crianças, adolescentes e suas famílias. A transição da antiga para a nova estrutura durou até o ano passado quando a Secretaria assumiu, definitivamente, todas as atividades assistenciais do município de forma a atender às diretrizes do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), documento que disciplina o gerenciamento da Política
Nacional de Assistência Social. O acerto da iniciativa pode ser medido pelo número de beneficiários em seus cadastros - 76 mil. Para atender a essa demanda, a SEMAS desenvolve em Goiânia programas, projetos e serviços sócioassistenciais em todas as suas unidades funcionais e na rede conveniada. Estão à disposição da população 11 Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), que atendem 8.575 pessoas e 17 Unidades Municipais de Assistência Social (UMAS), beneficiando 9.204 pessoas. Fazem parte, também, dessa estrutura o Serviço Social Terminal
Números do crescimento da Assistência Social em Goiânia: Assistência Social em Goiânia cresceu mais 200% em 2009 O atendimento a crianças e adolescentes realizado pela SEMAS aumentou 209,2% no último ano A estrutura da nova Secretaria é formada por 11 Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), 17 Unidades Municipais de Assistência Social (UMAS), dois Centros de Referência Especializada de Assistência Social (CREAS), a Casa de Acolhida Cidadã , o Complexo 24 Horas, o Horto Medicinal, o Banco Municipal de Alimentos e o Posto de Serviço Social do Terminal Rodoviário Em 2009, foi registrado aumento de 118% no abrigamento à faixa da população em situação de rua. O número de profissionais qualificados trabalhando na assistência social de Goiânia teve um aumento de 61,6%. A SEMAS possui hoje um quadro de 1.180 servidores. Ao todo, são atendidos atualmente nas unidades da Secretaria Municipal de Assistência Social e nas entidades conveniadas um total de 76 mil pessoas. Se formaram ano passado, nas atividades de qualificação profissional mantidas pelas Unidades Municipais de Assistência Social (UMAS) e CRAs, 2.050 alunos.
Casa Acolhida Cidadã: onde são atendidas anualmente 3.152 pessoas em situação de rua
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cresce em Goiânia Já são mais 200 mulheres atendidas pelo projeto “Tecendo o Amanhã”, que se especializam em corte, costura e modelagem
Rodoviário, que recebe cerca de 1.400 migrantes por ano; os dois Centros de Referência Especializado de Assistência Social - CREAS - que acolhem vítimas de violência (718); a Casa de Acolhida Cidadã, onde são atendidas anualmente 3.152 pessoas em situação de rua, atividade compartilhada com o Complexo 24 horas que recebeu, em 2009, 1.041 crianças e adolescentes nessa condição.
Assistência Social Organizada
Balanço da Secretaria Municipal de Assistência Social aponta que em 2009 o atendimento a crianças e adolescentes realizado pela Prefeitura de Goiânia cresceu 209,2%%. O crescimento positivo reflete a gestão em assistência social organizada e implantada pela SEMAS. Na rotina da pasta, os CRAS são a porta de entrada da população para a assistência social. Nestes locais, é feito o cadastramento das famílias nos programas de auxílio, nos quais são realizados atendimento psicossocial, além de visitas domiciliares e institucionais. Já as UMAS fazem atendimento sócioassistencial e desenvolvem atividades de qualificação profissional. No ano passado foram ofertados à população 22 diversos tipos de cursos, entre eles, os de cabeleireiro, manicure, pedraria,
Projeto “Tecendo o Amanhã” auxilia na emancipação econômica e social das mulheres
depilação, bordado, panificação e informática. As atividades formaram 2.050 alunos somente no ano passado. Os CREAS atendem famílias que estão com seus direitos violados, mas que mantém um vínculo entre seus membros. A prioridade é para o acolhimento a crianças e adolescentes em situação de risco de exploração sexual, em cumprimento de medidas sócioeducativas (liberdade assistida e prestação de serviços comunitários) e dependentes químicos. A Casa de Acolhida Cidadã recebe moradores de rua adultos e famílias nessa situação e ampliou em 2009 sua capacidade de atendimento de 110 para 240 vagas, um aumento de 118% no abrigamento a essa faixa da população. Já as crianças e adolescentes que perderam os vínculos familiares são encaminhados ao Complexo 24 Horas e de lá a instituições conveniadas.
Projetos Sociais
A SEMAS também desenvolve suas ações anconradas em projetos, dos quais são exemplos o o Projovem Adolescente, o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), o Programa de Atenção Integral à Família (PAIF), o Bolsa Família (PBF), o Banco Municipal de Alimentos, o Tecendo o Amanhã e
o Restaurante Popular. O Projovem Adolescente é uma alternativa do governo municipal ao combate preventivo da violência oferecendo aos jovens atividades culturais, esportivas, lazer, além de orientação profissional. Ele atende adolescentes com idades entre 15 e 17 anos e dá a eles a oportunidade de participarem de oficinas no contraturno da escola. Atualmente, 1.086 jovens participam de seus 73 coletivos que atuam em todas as regiões de Goiânia. Outra vertente do trabalho com crianças e jovens é o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), que atende a 4.477 crianças e adolescentes. Destacam-se nessa área a parceria com a Polícia Militar - que permitiu o surgimento dos policiais mirins e bombeiros mirins – e o grupo afro Bate Latas. Já o Programa Bolsa Família (PBF) beneficia hoje 30.703 famílias. Esse projeto é de transferência direta de renda em beneficio de núcleos familiares em situação de pobreza (com renda mensal por pessoa de R$ 70 a R$ 140) e de extrema pobreza (com renda mensal por pessoa de até R$ 70). Ele exige como contrapartida que as crianças das famílias estejam na escola e frequentem regularmente os postos de saúde. Março/Abril de 2010 - Hoje | 13
Especial Outra área de atuação é o Benefício de Prestação Continuada (BPC), programa que permite a idosos acima de 65 anos e pessoas com deficiência - em ambos os casos com renda familiar mensal inferior a um quarto do salário mínimo – ganhar um salário mínimo por mês para sua manutenção. Atualmente, 20.894 são beneficiados em Goiânia por esse projeto. O Banco Municipal de Alimentos é uma iniciativa de abastecimento e segurança alimentar que tem como intuito a redução do desperdício de alimentos, a partir do aproveitamento integral dos alimentos e a Roupa confeccionada pelas mulheres do "Tecendo o Amanhã"
promoção de hábitos alimentares saudáveis - contribuindo diretamente para a diminuição da fome de populações vulneráveis. Até o final do ano passado 105 entidades estavam cadastradas junto a essa unidade e eram atendidas 91.392 pessoas. Ação correlata nessa área é o Restaurante Popular, que oferece, por dia, à população mil refeições saudáveis e balanceadas ao preço simbólico de R$1,00. A emancipação econômica e social das mulheres é o objetivo central do “Tecendo o Amanhã”. Ele visa contribuir com a mudança do quadro de vulnerabilidade social das famílias residentes na periferia de Goiânia possibilitando a 200 mulheres se especializarem em corte e costura e modelagem, vindo a se tornarem, até mesmo, estilistas A SEMAS tem ainda projetos como o casamento comunitário. Ele é uma ação de inclusão social que em suas quatro edições já casou 1.800 casais regularizando o estado civil de famílias que, por falta de condições econômicas, não tinham acesso a uma cerimônia civil e religiosa. Vale a pena ser lem-
brado, ainda, o “Torcida Organizada: “Torcendo com Respeito e Educação pelo Time do Coração”, iniciativa que tem um índice de sucesso de 88% na recondução à sociedade de jovens envolvidos em brigas em estádios de futebol, assim como o trabalho dos 103 núcleos de idosos que beneficiam hoje 4.700 pessoas e o atendimento a 4.500 deficientes físicos.
Histórico
A SEMAS foi criada para atender as novas diretrizes da assistência social nacional. Desde a criação do Ministério de Desenvolvimento Social e da implantação da Política Nacional de Assistência Social, ambos em 2004, e da aprovação da Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social, em 2005, está sendo implantado um novo modelo de atendimento no setor que implica, obrigatoriamente, na existência de um órgão único municipal de administração das ações assistenciais e no fim da sobreposição dos programas de benefício social. Em 2007, a SEMAS foi criada; e, em 2009, assumiu o controle da assistência social em Goiânia.
Ações da SEMAS em 2010 Assinatura de 84 convênios com 42 instituições filantrópicas que se encarregarão esse ano do atendimento a 8.695 crianças, adolescentes, idosos e portadores de necessidades especiais.
Implementação de mais dois CRAS nas regiões mais carentes de Goiânia.
Reforma do Complexo 24 horas, que recebe crianças e adolescentes em situação de rua, atualmente atende uma média 1.017 crianças e adolescentes .
Execução do Projeto de Programa de Aquisição de Alimentos- Compra Direta Local da Agricultura Familiar beneficiando 270 famílias agricultores com geração de renda e 48 Entidades de Assistência Social cadastradas no Banco Municipal de Alimentos, com os alimentos adquiridos
Implantação de mais 4 Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) para atender 20.000 famílias em situação de vulnerabilidade social.
Modernização do Banco Municipal de Alimentos com aquisição de novos equipamentos, totalizando investimentos de R$ 312.000,00 dos governos federal e municipal.
Criação de mais 3 coletivos do Projovem Adolescente, sendo 2 na Região Sudoeste e 1 na Região Noroeste.
Efetivação do projeto “Disque Visita à Pessoa Idosa”, que terá por finalidade atender com visitas domiciliares idosos com idade igual ou superior a 60 anos, residentes em Goiânia e que vivem ou ficam a maior parte do tempo sozinhos.
Instituição de 2 novas Unidades Municipais de Assistência Social visando atender às famílias em situação de vulnerabilidade social. Ampliação do projeto “Tecendo o Amanhã” com a criação de 2 novos Pólos na Região Oeste.
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Inauguração das novas sedes dos Conselhos Tutelares das Regiões Sul e Leste. Entrega à população da nova sede do CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) Campinas.
Rally da Solidariedade
1 rally da confraternização Goiás-Minas o
N
uma confraternização entre os amigos em um torneio de futebol, que acontece há mais de 10 anos, surgiu a ideia da criação de uma entidade que representasse os mineiros em seus diversos anseios, tais como: lazer, diversão, arte e consequentemente lhes oferecerem assistência em todos os aspectos, inclusive emocional. Daí, em 25 de dezembro de 2007, foi fundada à ASMINAS (Associação dos Mineiros em Goiás). A partir daí, a Associação procura os demais mineiros com o objetivo de confraternizar, partilhar as despesas dos seus eventos e patrocinar coletivamente suas reuniões festivas. Através desta Associação e devido ao número de pessoas ser grande, esses encontros festivos serão sempre realizados nos clubes de Goiânia. Nesses eventos, procura-se valorizar os artistas mineiros e goianos de nosso convívio, para tornar os nossos encontros cada vez mais familiares e seguros. Dentre esses eventos, um dos mais importantes acontecerá no próximo dia 20 de abril de 2010, o primeiro RALLY DA SOLARIEDADE, que sairá de Goiânia às 5h00 com destino a cidade mineira de Montalvânia, norte de Minas por ocasião dos 48º aniversário de emancipação política dessa cidade. O evento terá um percurso de 750 kilômetros, saindo de Goiânia do posto Bom Sucesso, na Av. José Leandro da Cruz, no Parque Amazônia, próximo ao Buriti Shopping. Em Brasília, no posto Colorado em Sobradinho, às 10h00 se encontra com outros veículos, às 12h00 uma parada para o almoço na cidade de Arinos,
com saída para a Chapada Gaúcha às 14h00, passando pelos vilarejos e fazendo a entrega de cestas básicas aos carentes e material educativo sobre a campanha contra a dengue, gripe suína e material antidrogas. Às 19h00, chegada em Veredinha à margem do rio Cochá, onde irão pernoitar. Pela manhã do dia 21, sairão para o des-
tino final, Montalvânia, às 6h30, com o término da entrega dos donativos e materiais educativos das campanhas citadas e com o palestrante Dr. Aristóteles Sakai, delegado de Polícia de Goiânia, que tem serviços prestados na Secretaria Nacional Antidrogas, Projeto Segunda Milha e outros de reconhecimento nacional
Diretoria Executiva da ASMINAS Presidente: Fredson Lopes França Vice Presidente: Élson Justiniano Alves Secretária: Shirley Maria Viana de Menezes Diretor de Comunicação e Cultura: Juscelino Barbosa Sena Diretor Social: José Pereira da Silva Diretor de Esportes: Pedro Pereira dos Santos Diretor Administrativo e Financeiro: José Fernandes Tolentino
Março/Abril de 2010 - Hoje | 15
Resenha
“Vem”
Renato Dias | renatodias67@gmail.com
(Esse é o slogan criado por Ademir Lima para a campanha da Nova Frente Leia-se: Vanderlan Cardoso)
No páreo O neosocialista Barbosa Neto deixou a Goiás Turismo. Jogo do Poder Já Deivison Costa (PT do B) saiu da
Atacar Iris Marconi Perillo (PSDB) centra fogo na Grande Goiânia.
Secretaria Extraordinária e retorna à Câmara Municipal. Café da Manhã Sirlene Borba volta à suplência.
Vanderlan Cardoso (PR) diz que quebrará a polarização entre PSDB e PMDB.
Pongue Ernesto Roller pode virar líder do Governo.
Alta plumagem Fiel escudeiro de Marconi Perillo, Túlio Isac (PSDB) reassume mandato no Palácio Alfredo Nasser. Rock´n roll Marconi Perillo, T h i a g o Pe i x o t o , Gilvane Felipe e Marina Sant´Anna abençoaram ato pela abertura do Oscar Niemeyer.
Linha direta Edivaldo Cardoso (PT do B) desincompatibilizouse do Ceasa. Pingue Quem volta ao Pa l á c i o A l f r e d o Nasser é Ernesto Roller.
16 | Hoje - Março/Abril de 2010
Casa Verde
1º tempo Flávia Morais, hoje no PDT, deixou a Pasta da Cidadania.
Celg Não haverá demissões, garante Isaura Lemos.
PP da vida Sérgio Lucas (PP) não definiu ainda seu projeto de poder.
Fica 2010 The Cove, filme que ganhou Oscar de melhor documentário em longa-metragem, é
Verdão
um dos concorrente ao XII Fica. Mal-estar Não convidem para o mesmo churrasco José Batista Júnior Friboi e Ronaldo Caiado.
Atrás de negócios Goiás enviará à China missão comercial de 5 a 16 de abril. C´efini Alcides Rodrigues permanece no governo até dia 31 de dezembro de 2010. Justiça eleitoral Inferno astral para Evandro Magal. Nos bastidores O bruxo Ademir Lima, da Perfil, que elegeu Nion Albernaz e Marconi Perillo tempos atrás, é o marqueteiro de Vanderlan Cardoso. PT saudações Teen do MAIS (PT),
Ex-procurador-geral de Goiânia e torcedor do Goiás, Ricardo Dias sai em defesa do ex-presidente alviverde Raimundo Queiróz.
(PMDB) sai da Assessoria da Juventude para tentar chegar ao Palácio Alfredo Nasser.
Igor Campos é lembrado para disputar eleição à Assembléia Legislativa.
Sagasonho Esse é o título do encarte do Diário da Manhã, em formato standard, de autoria do jornalista Batista Custódio, que deve sair em abril.
Teens Cristian Gomes
Direito ao aborto 1 – A CCJ da Assembleia aprovou projeto de lei de autoria de Isaura Lemos (PDT) que obriga as delegacias de polícia a informarem as mulheres grávidas vítimas de estupro que a gravidez pode ser interrompida. Legalmente. 2 - As delegacias deverão fornecer, no ato do registro policial, a relação das unidades hospitalares públicas aptas a realizar a interrupção da gravidez, com os respectivos endereços. Ponto para a líder trabalhista.
Direito O advogado Edilberto de Castro Dias foi escalado para atuar na área jurídica da coligação PT & PMDB. Internacionais Alexandre Abreu lê Revoluções (2010), Boitempo Editorial, de Michael Löwy e queima massa encefálica como aluno extraordinário do Mestrado em Direito e Relações Internacionais, da PUC (GO).
Rock´n roll (I) Ex-secretário da Fazenda, Jorcelino Braga (PP) diz que Centro Cultural Oscar Niemeyer será aberto em 120 dias.
Mérito
O deputado Thiag o Pe i x o t o (PMDB) ,candidato a deputado federal, demonstrou no seu primeiro mandato que tem capacidade de articulação e conteúdo. Espera-se, agora, que seja capaz de manter os apoios que viabilizarão sua candidatura à Câmara Federal.
2º tempo O seu marido (de Flávia Morais) George Morais ainda flerta com Marconi Perillo (PSDB). Março/Abril de 2010 - Hoje | 17
Urubuservando
Carlos Brandão | carlosbrandao7@gmail.com
3D
Toda vez que o mundo cria algo massa, vem algum cientista pra botar água na fervura. Quer invenção mais bacana que cinema 3D? Pois é... Adoro! Mas optometristas da Universidade da Califórnia (USA) cismaram que faz mal. Tá boa!?!? E quais são os problemas levantados pelos caras? Enjoo, tontura e fadiga visual. Só isso? Se for só isso, eu quero mais é morrer vomitando e tonto nas salas de cinema. Mesmo porque não tem nada mais massa que cinema 3D. Repito: a-do-ro!!!
Máquina parada Entra governo, sai governo, e o INSS não muda. É o órgão público no qual a burocracia mais emperra e atrapalha a vida do cidadão comum. Onde, também, pela morosidade da máquina, a corrupção nada de braçadas. Somente no Estado de São Paulo, em dezembro de 2009, havia cerca de 30 mil processos parados. E o Lula ainda diz que já somos do primeiro mundo. Só se for do primeiro mundo da corrupção.
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Doce celular Produtos batizados de Entretenimento e Nova Energia estão sendo criados pela japonesa Takara Tomy. Detalhe: o que move esses produtos é o açúcar. Por enquanto, a pesquisa evolui para brinquedos. Mas outros produtos também estão na mira. Dessa maneira, líquidos adocicados como refrigerantes podem, em tese, recarregar um celular. Resumindo: adeus, pilhas e baterias!
Não recomendo Grande parte das dicas de leitura que eu vejo nos jornais e revistas é de porcaria. Nos jornais de Gyn, então, só indicam livros que chegam grátis nas redações. A nova moda em indicação literária é o besteirol Mil Frases de Famosos. A bobagem reúne frases de gente como Pelé, Xuxa, Pedro Bial, Ivete Sangalo, Hebe Camargo, Karina Bacchi e outros filósofos contemporâneos. Pelo nível dos “pensadores”, pensa o nível de asneira que vem nesse livro. Ou será obra? Não indico. Ao contrário dos meus amigos jornalistas, não recomendo.
Dona Maroca Os designers de moda, na falta do que fazer, resolveram definir que Fidel Castro traiu o movimento. Pode? Tem muito tempo que não ouço essa expressão. Só porque o barbudo cubano anda numas de usar agasalhos Adidas, Nike e Puma. Uai, ele usa o que quer... Né não? Que chato esse negócio de todo mundo bisbilhotar a vida de todo mundo. O mundinho globalizado tá ficando tão pequeno, que me sinto como se morasse numa cidadezinha do interior de Goiás, nos anos 50 e todos fiscalizassem a vida de todos. Ô, marocagem!!!
Barulho divino Os vizinhos de igrejas evangélicas insistem que a fiscalização da Agência Ambiental é diferente da que é feita em bares e outros locais “não cristãos”. Quando a “crentaiada” começa a gritar nas igrejas, não há fiscal que apareça para dar uma fiscalizada básica na barulheira, dizem os vizinhos. No caso de bares, teatros e centros culturais, a conversa é outra e a fiscalização é imediata aos telefonemas dos vizinhos. Será que tá faltando pra cultura ter uma bancada na Câmara, assim como existe a bancada evangélica? Sangue de jesus!!!
Hippie de boutique
Tem cada uma nesse mundinho sem assunto... Até um tal look mendigo de boutique é tema para pauta dessa imprensa cada dia mais sem o que falar. Veja que o tradicionalíssimo jornal inglês The Independent caiu no conto do sujinho e publicou matéria generosa com um chinês que se veste de lixo e é chamado de Brother Sharp. Esse china é tido como o mais famoso mendigo chique do planeta. Se eu fosse editor, gastaria seis ou sete frases com essa baboseira. Que é o número de frases que estou gastando, agora, nessa coluna sem nada pra falar.
Fedido O ator Johnny Depp é uma das mais badaladas estrelas do cinema mundial. Em 2003, foi eleito pela revista People, o homem mais sexy do mundo. Mesmo assim (ou será por causa disso?), ele não é perdoado pela mídia que adora falação. Pois não é que Deep foi chamado pelo canal Fox411 de fedido? Veja a definição da Fox, que não perdoou também sua mulher Vanessa Paradis: “Johnny frequentemente tem cheiro ruim por raramente tomar banho. Ele não é mestre em limpeza pessoal e Vanessa não é muito diferente. Eles encontraram seu par perfeito. É difícil ficar perto deles. A higiene pessoal não é uma prioridade”. Depois, eu que sou um véi sem tipo e falador.
O twitter é um msn metido a sebo?? Os incompetentes que mandam no transporte coletivo de Gyn precisam ser demitidos urgente, para o bem do povão que vive nessas gaiolas humanas Na porta duma loja de remédios naturais, uma placa: Ração Humana: R$ 5,00. Falei: eco! Agora sim eu creio que é o fim dos tempos. Se eu conseguisse conceituar Deus, eu seria Deus (Carlos Nejar)... Se eu fosse um desiguini famoso, assumiria: by brandão. Mas como sou só esse véi retardado, confesso: eu que fiço! “Cowboy num ri, mostra os dentes. Cowboy num tem ciúmes, toma conta. Cowboy num tem amigu, tem cumpade. Cowboy num faiz amor, dá um cutuco.” Ministério da Saúde define: pessoas de 40 a 59 anos não vacinam contra gripe A. Pergunto: elas são imunes ou são as escolhidas para morrer? Felipe Massa é que nem o Barrichelo: um coadjuvante de luxo. Apesar da Rede Globo e da imprensa esportiva jurarem que não.
meu twitter: @carlosbrandao7
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Reportagem de capa
Salve o Cer Ele pode sa 20 | Hoje - Marรงo/Abril de 2010
Um campeão de superlativos. O Cerrado tem uma biodiversidade importantíssima e riquíssima: é a maior do planeta no que diz respeito a gêneros, e conta com a presença de diversos ecossistemas. Tem, também, a segunda maior formação vegetal brasileira – mesmo com o desmatamento acirrado e constante ano após ano, que chega a ser duas vezes maior do que o desmatamento da Amazônia. Sua área original estendia-se por cerca de 2 milhões de km2, dos quais, hoje, restam apenas 20%, sendo menos de 2% protegidos em reservas e parques.
rrado alvar você
Março/Abril de 2010 - Hoje | 21
Reportagem de capa
Karla Rady
E
stima-se que dez mil espécies vegetais sejam encontradas no Cerrado, sem falar que a maioria nem foi catalogada. Único, poderoso e guardião de inúmeras espécies da fauna e da flora, o Cerrado é ainda misterioso. Dele podem sair curas para doenças, o sustento de centenas de milhares de famílias e o equilíbrio natural do ecossistema. Sua capacidade de renascer das cinzas a cada queimada acende a luz verde da esperança na preservação e na exploração responsável de seus recursos naturais. Seu solo de savana tropical, rico em ferro e alumínio, coberto por arbustos retorcidos de aparência seca e por gramíneas, encobre uma riqueza sem tamanho, que conhece duas estações bem marcadas: inverno seco e verão chuvoso. Tudo isso banhado pelas três principais bacias hidrográficas da América do Sul (Tocantins/ Araguaia, São Francisco e Prata). Aliás, é em terras goianas que estão as nascentes dessas bacias, no aquífero Guarani – o maior manancial,
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transfronteiriço, de água doce subterrânea do mundo, que ocupa um área de 1,2 milhão de km2. Arraigada no coração do País, a riqueza natural do Cerrado sofreu um grande processo de depredação de seu ecossistema, devido, sobretudo, à toada do progresso, principalmente a partir da construção de Brasília, há 50 anos. Uma população majoritariamente urbana, com sérios problemas de desemprego; falta de habitação, poluição e infraestrutura e, mais recentemente, o boom da soja podem ser encaradas como “agressões por parte do desenvolvimento”. Nessa mesma lista, estão a atividade garimpeira, que contaminou rios de mercúrio e contribuiu para o assoreamento; a mineração, que favoreceu o desgaste e a erosão dos solos; a agricultura mecanizada de soja, milho e algodão; a pecuária extensiva, as monoculturas, a abertura das estradas; e a ocupação desordenada – todos fatores apontados como responsáveis por essa devastação. Felizmente, o mundo gira e traz com ele novas perspectivas. A preocupação crescente acerca das condições climáticas do mundo tem trazido o foco do debate para a preservação da natureza e o uso responsável e sustentável de suas fontes naturais. Pesquisas sobre o bioma, sua preservação e uso sustentável têm avançado na esfera acadêmica, política, no terceiro setor, indústrias e comércio. Em Goiás, já é possível citar alguns bons exemplos dessa prática.
Educando para preservar O Ecocentro IPEC – Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado, localizado na cidade de Pirenópolis, tem um trabalho voltado a desenvolver oportunidades de educação e referências em sustentabilidade para todo o Brasil. A organização possui um centro de referência em que desenvolve soluções práticas para problemas comuns à população, incluindo estratégias de habitação ecológica, saneamento responsável, energia renovável, segurança alimentar, cuidado com a água e processo de educação de forma vivenciada. Desde sua formação, em julho de 1998, o Instituto tem capacitado pessoas e prestado serviços comunitários para populações rurais do Cerrado, bem como cooperado internacionalmente com organizações da África, Ásia e das Américas. Seu pioneirismo, o tornou referência nacional em sustentabilidade. O Instituto promove programas de renome mundial, como o Certificado Internacional de Permacultura (PDC). Oferece consultoria e cursos, como Ecovilas -- Design e Implementação; Bioconstruindo; Energias Renováveis; e Permacultura -- Design e Consultoria – voltados para a construção e o convívio sustentável e de respeito à preservação dos recursos da natureza. Também trabalha no estudo e desenvolvimento de tecnologias sociais a partir das necessidades básicas dos indivíduos, o que inclui soluções para água, alimentação, energia, habitação e saneamento.
Construção usando o método superadobe: terra ensacada e batida
Construções ecologicamente corretas
Sistema de fluxo
Reaproveitamento de água para molhar plantas, lavar roupas e uso em banheiros
Banheiro seco
Março/Abril de 2010 - Hoje | 23
Reportagem de capa
Comércio solidário Assim como o IPEC, a Central do Cerrado também desenvolve atividades produtivas a partir do uso sustentável da biodiversidade do Cerrado. A instituição sem fins lucrativos trabalha em parceria com diversas organizações comunitárias, funcionando como uma ponte entre produtores comunitários e consumidores, oferecendo produtos coletados e processados por agricultores familiares e comunidades tradicionais do Cerrado, promovendo, assim, a economia sustentável. Dentre os produtos ecossociais estão o pequi, o baru, o mel, a farinha de jatobá, a farinha de babaçu, o buriti, polpas de frutas, geleias, doces, licores e artesanatos.
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A instituição fornece produtos para restaurantes, empórios e pequenos mercados, mas também atende a encomendas individuais para grupos organizados de consumo. O trabalho da Central do Cerrado vai além da intermediação comercial dos produtos citados. A instituição serve como promotora e grande divulgadora dos produtos comunitários nos mercados locais, regionais e internacionais, esforçando-se pela sua inserção, e disseminando informações, intercâmbio e apoio técnico para as comunidades. Dentre suas principais metas está o desenvolvimento de ações dentro dos princípios e conceitos do Comércio Justo e Solidário, promovendo a inclusão social por meio do fortalecimento das iniciativas produtivas comunitárias que conciliam conservação do Cerrado com geração de renda e protagonismo social. Todos os grupos atendidos pela Central do Cerrado são beneficiários do Programa de Pequenos Projetos Ecossociais, apoiado pelo Fundo para o Meio Ambiente Mundial e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e coordenado pelo Instituto Sociedade, População e Natureza.
Flores, frutos
A empresa Frutos do Cerrado é um bom exemplo de como preservar pode render muito dinheiro.
Valorizar as belezas, sabores e cores do Cerrado e fazê-lo de forma sustentável é um nicho de mercado em crescimento – e de futuro garantido, diga-se de passagem --, seja na gastronomia, turismo, confecção, arte e o que mais você, leitor, pensar. E quem primeiro enxerga essa oportunidade, sai na frente. É o caso da sorveteria genuinamente goiana Frutos do Cerrado. Especializada nos sabores encontrados no bioma, como pequi, cajá, mangaba, cajuzinho, araticum, brejaúba, cagaita, gabiroba, jatobá, jabuticaba, mamacadela, murici, mutamba e taperebá, por exemplo, a empresa nasceu do empreendedorismo de Clóvis José de Almeida e Milca Alves Lourenço, com o nome de Milka Sorvetes, em 1996. Hoje, a empresa conta com três modernas fábricas e com mais de cem lojas distribuídas pelo País, tendo resistido bravamente a investidas de uma conhecida gigante nacional que também comercializa sorvetes. Em São Paulo, a marca atingiu um sucesso estrondoso, com cinco lojas na capital e uma em Santos, tendo sido estampadas pela badalada revista Vogue, em sua edição de janeiro deste ano.
s, sementes e... Dinheiro!
Sendo assim, instalou sua segunda fábrica em Uberlândia, Minas Gerais, em 2003. No ano seguinte, adotou várias mudanças a fim de se ajustar às necessidades do mercado: mudou o nome de Milca para Frutos do Cerrado, abriu novas lojas e montou seu primeiro quiosque em um dos mais importantes shoppings de Goiânia. O próximo passo da empresa é a conquista de novos espaços e mercados por meio de franquias.
Quem planta, colhe
Tudo começou quando Clóvis e Milca pensaram em aproveitar as frutas nativas do Cerrado na fabricação de seus sorvetes e picolés, incrementando a carta de sabores, todos tradicionais. Surpreenderam-se ao perceber que os produtos fabricados a partir das frutas tidas como exóticas eram os primeiros a esgotarem. E mais, houve uma fideli-
zação da clientela graças aos sabores do Cerrado. Assim, a produção, que começou modesta, com poucos itens das frutas nativas, foi sendo ampliada e diversificada. Em pouco tempo, mais de vinte sabores diferentes foram incorporados ao cardápio da empresa. Em menos de cinco anos, o negócio familiar cresceu, prosperou e deu frutos.
Feira do Cerrado Um bom exemplo de economia solidária em Goiânia é a Feira do Cerrado. Realizada todos os domingos, na período da manhã, a feira fica no Parque da Criança, ao lado do Serra Dourada. Tem como foco a comercialização de produtos artesanais, tais como bijuterias, roupas, enfeites, brinquedos educativos, arte e muito mais. Também conta com uma ala de alimentação, com a maioria dos alimentos feitos a partir de elementos típicos do Cerrado. Vale a pena conhecer!
Consumo responsável Saber consumir é um dos segredos de preservar. Ter somente o que se precisa, usar, reutilizar e reciclar. Preferir produtos feitos artesanalmente, os quais geram mais emprego e, consequentemente, renda. Não consumir produtos que implicam em algum tipo de exploração, seja ela humana, do meio ambiente ou animal. Esses são alguns dos vários mandamentos divulgados por correntes sócio-ambientalistas mundo afora.
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Reportagem de capa
Preservar: a hora é agora Antes de deixar o cargo de ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc pediu antecipação de meta para redução de desmatamento do Cerrado Pouco antes de deixar o cargo para disputar uma vaga de deputado estadual no Rio de Janeiro, o ministro petista criticou a proposta brasileira para a redução do desmatamento no Cerrado, apresentada na conferência do clima das Organizações das Nações Unidas, em dezembro passado, em Copenhague. Minc considerou absurda a redução de 40% do desmate do bioma somente em 2020 -- meta esta definida pela Casa Civil e pelo Itamaraty. “Até lá, quase metade do Cerrado já foi para o brejo. Esse ritmo vai inviabilizar alguns ecossistemas, algumas espécies e fontes hídricas”, disse o então ministro. Minc sugeriu ao presidente Lula a antecipação dessa meta para 2012, o que significaria uma redução média de 14 mil hectares devastados no Cerrado no período de 2003 a 2008 para 8.500 hectares entre 2009 e 2012. Para a Amazônia, a meta é de 80%. E é bom que se faça mesmo isso. Segundo um estudo da Universidade Federal de Goiás (UFG), o desmatamento no Cerrado terá Carlos Minc: “É preciso antecipar metas de preservação”
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aumentado 14% até 2050, reduzindo a área preservada para cerca de 1 milhão de km2. A UFG prevê uma redução de 40 mil km2 do bioma por década, caso seja mantido o ritmo atual de avanço da fronteira agrícola e pecuária. Para alcançar a meta, Minc sugeriu ao governo compor um plano de prevenção e controle do desmatamento e queimadas, o que não será uma tarefa fácil uma vez que é forte a produção de grãos, em especial a soja, e de carvão para o abastecimento de siderúrgicas
no bioma. No último dia 31, Carlos Minc passou a pasta de Meio Ambiente para Izabella Teixeira, secretária-executiva do ministério e que fez carreira no Ibama. Ele deixou o cargo com a menor taxa de desmatamento da história.
PEC do Cerrado
Outra medida que contou com o apoio do ex-ministro foi a Proposta de Emenda à Constituição 115/95, mais conhecida como PEC do Cerrado. Carlos Minc pediu pela mobilização da população para pressionar o governo a
aprovar a PEC de autoria do deputado federal por Goiás, Pedro Wilson (PT). Há 14 anos, Pedro Wilson elaborou a proposta a fim de transformar o bioma em patrimônio nacional. Como tal, o Cerrado ganha proteção e força para não virar carvão. A ideia é regulamentar o bioma a fim de ter políticas públicas para um uso adequado do mesmo, possibilitando desenvolvimento, produção de alimentos e energia, ecoturismo e lazer sem destruir o Cerrado. A proposta enfrenta grande re-
sistência, principalmente por parte da bancada ruralista. Apesar disso, especialistas garantem que a PEC não prejudica o agronegócio, a agricultura, o extrativismo, a pecuária e nenhuma outra atividade, tal qual o ecoturismo. “Aliás, vai trazer recursos, beneficiar”, enfatiza Pedro Wilson. Segundo ele, Caatinga e Cerrado tiveram oferta em dinheiro pela ONU, para projetos de preservação, mas como não existia lei, não puderam repassar os recursos, cerca de 5 milhões de dólares. Além do Cerrado, a PEC beneficia outros biomas importantes do País, como a Caatinga e a Mata Branca do Nordeste. No dia 7 de abril deste ano, a Coordenação de Comissões Permanentes (CCP) da Câmara dos Deputados protocolou quatro caixas contendo assinaturas de apoio à PEC, as quais foram encaminhadas ao Arquivo 72/10 da Coordenação de Arquivos, e apesar de ter sido incluída, finalmente, em setembro de 2009 na pauta de votação da Câmara, a PEC ainda não foi apreciada.
Pedro Wilson: autor da PEC do Cerrado
Cenário pavoroso
mento de Imagem e Geoprocessametno (Lapig) do Instituto de Estudos Socioambientais da UFG, principal organismo de estudo do Cerrado no País. Não é preciso dizer que as consequências disso serão terríveis, tanto ambientalmente quanto socio-economicamente. Haverá um maior comprometimento das bacias hidrográficas de todo bioma, com prejuízos diretos para os recursos hídricos, solo e biodiversidade da região.
Ainda segundo os estudos da UFG, se nada for feito urgentemente, as áreas já devastadas deverão subir dos 800 mil km2 de 2002 para 960 mil km 2 em 2040: um aumento equivalente à metade do Estado de Goiás. Até 2020, cerca de 60 mil km 2 poderão ser incorporados ao sistema agrícola da região. Os cálculos foram feitos pelo professor da instituição, Manuel Eduardo Ferreira, com base em imagens de satélites. Ferreira atua no Laboratório de Processa-
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Reportagem de capa
A fauna na berlinda: Tamanduá-bandeira
Além de ser o berço de uma flora exuberante, o Cerrado também é a morada de inúmeras espécies de animais. Mas ainda sabemos muito pouco sobre eles – sua história natural, população e dinâmica, por exemplo --, sobretudo dos insetos, que têm papel fundamental na ecologia. Mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes fazem parte de cerca de 2.500 espécies de vertebrados identificados
do bioma. A maioria dos estudos, sobretudo teses, dissertações e trabalhos científicos, só agora começam a aparecer com mais intensidade. Dentre as espécies mais conhecidas do Cerrado estão a jiboia, a cascavel, várias espécies de jararaca, a seriema, a ema, a curicaca, o lagarto teiú, o tatu-de-rabo-mole, o tatupeba, o tatu-galinha e o canastra, o tamanduá-bandeira e o mirim, o
Veado-campeiro Mão-pelada
Suçuarana
Siriema
Lobo-guará
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veado campeiro, o urubu caçador, o urubu-rei, araras, tucanos, papagaios, gaviões, o cateto, a anta, o cachorrodo-mato, o cachorro-vinagre, o loboguará, a jaritataca, o gato mourisco, o mão pelada (urso do Cerrado) e a onça suçuarana, para citar alguns. Nas doces águas do Cerrado, não podemos deixar de destacar o pintado, o matrinchã, o piau, o pacu, o piapara e o mandi. Muitas dessas espécies, entretanto, estão ameaçadas: uma decorrência natural da depredação do bioma – e daí, mais uma vez, a importância de medidas para preservar o Cerrado e
de se construir uma nova forma de se relacionar com ele. A onça-pintada, o tatu-canastra, o lobo-guará, a águiacinzenta e os cachorros-do-mato e vinagre, por exemplo, são espécies ameaçadas, mas que ainda contam com populações significativas. O tamanduá-bandeira, entretanto, espécie exclusiva do Cerrado, não conta com a mesma sorte e está na lista de animais brasileiros ameaçados de extinção. Como ele, mais 65 espécies correm risco de desaparecer para sempre.
Onça-pintada
Curiosidades sobre o Cerrado Caravana Cruls: o astrônomo Luís Cruls, diretor do Observatório Astronômico do Rio de Janeiro, chefiou, ainda em 1892, uma comitiva de cientistas que estudou o Planalto Central. A área de ocupação do Cerrado, cerca de 200 milhões de hectares, corresponde ao tamanho de toda Europa Ocidental. Apesar da riqueza de sua biodiversidade, o Cerrado já foi considerado uma área perdida para a economia do País. Metade do Cerrado está situada entre 300 e 600 metros acima do nível do mar. Somente 5,5% atingem uma altitude acima de 900 metros.
Ema
O Cerrado é a segunda maior região biogeográfica do Brasil, ocupando cerca de 25% do território nacional e englobando vários estados. Sua área “core”, ou nuclear, ocupa toda a área do Brasil Central, incluindo os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, a região sul de Mato Grosso, o Oeste e Norte de Minas Gerais, oeste da Bahia, o Distrito Federal, o Sul do Maranhão e até mesmo o Piauí. A presença humana na região data de pelo menos 12 mil anos, com o aparecimento de grupos de caçadores e coletores de frutos e outros alimentos naturais. Mas somente há cerca de 40 anos é que começou a ser mais densamente povoada. Na região existem mais de 10 mil espécies vegetais, uma grande variedade de vertebrados terrestres e aquáticos e um elevado número de invertebrados. Espécies ameaçadas como a onça-pintada, o tatucanastra, o lobo-guará, a águia-cinzenta e o cachorro-do-mato-vinagre, entre muitas outras, ainda têm populações significativas no Cerrado, reafirmando sua importância como ambiente natural.
Tatu-canastra
11 de setembro é dia de comemorar o Dia do Cerrado. Março/Abril de 2010 - Hoje | 29
Política Goiás
Começa definição dos nomes
O fim do prazo para as desincompatibilizações de pretendentes
O
fim do prazo para as desincompatibilizações de pretendentes a uma candidatura, em 2 de abril, fez avançar em termos de definição dos nomes que encabeçarão chapas à sucessão do governador Alcides Rodrigues. Iris Rezende (PMDB/PT e outros partidos aliados), Marconi Perillo (PSDB/PTB, PPS e outros mais) e Vanderlan Cardoso (PR/PP e aliados) são os nomes de maior expressão na disputa. A novidade é a presença de três forças expressivas, e não a tradicional bipolarização, marca dos pleitos governamentais goianos. Vanderlan Cardoso, ex-prefeito do Senador Canedo, devido ao estímulo que recebe do governador Alcides Rodrigues (PP), deverá, segundo analistas experientes, surpreender. Se não for ao segundo turno na disputa (considera-se, no caso, que Marconi Perillo e Iris Rezende são os dois políticos detentores dos maiores índices de intenção de votos em Goiás), poderá ser o fator decisivo a provocar a realização do segundo turno. E, a partir daí, será uma nova eleição, de resultados imprevisíveis. PMDB: por que Iris – três vezes prefeito de Goiânia e duas vezes governador; duas vezes ministro de Estado (de ministérios importantes), pouco falta a Iris Rezende para ser incluído na relação de políticos brasileiros detentores de currículos mais completos. Ser outra vez governador, num momento em que sua bem avaliada administração frente à Prefeitura de Goiânia tem sólida avaliação positiva, é algo que poderia ser dispensado sem qualquer prejuízo à carreira. E Iris até que, num gesto de grandeza e desprendimento, abriu mão em favor de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central. Mas Meirelles tomou a decisão de ficar na presidência do BC até o final do governo Lula. Pelas mesmas razões
Marconi Perillo
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de Lula ao pretendê-lo candidato a vice-presidente da República: respaldar, conferindo maior credibilidade ao atual governo e à candidatura da ministra Dilma Rousseff. Sem Meirelles ou sem Iris na disputa,seria, senão o fim, simplesmente a maior crise da história do PMDB goiano. Já existiam comentários de que os destroços do partido seriam disputados entre o governador Alcides Rodrigues e o senador Marconi Perillo, o primeiro querendo o PMDB com Vanderlan Cardoso e o segundo, que já tem uma corrente desse partido ao seu lado, buscando respaldo do partido todo. Seria o salve-se quem puder. A responsabilidade de líder inerente à posição de Iris no PMDB o fez, mais uma vez, aceitar o desafio. Isto já havia acontecido em 2004, quando candidatou-se à prefeitura de Goiânia. Aceitou, venceu o desafio, e reergueu o PMDB. Aliás, Iris obteve várias vitórias na adversidade, ao longo de seus 52 anos de vida pública (iniciada quando em 1958 foi eleito vereador mais votado de Goiânia). Em 1965, contra a vontade do presidente, marechal Castelo Branco; do governador marechal Emílio Rodrigues Ribas Júnior, e enfrentando o exgovernador Juca Ludovico, Iris Rezende, jovem deputado estadual mais votado do Estado, ganhou a Prefeitura. Se a boa estrela mais uma vez brilhará, é esperar para ver. Matematicamente, está bem situado: tem o apoio do presidente Lula, cuja popularidade está nas alturas; os prefeitos das três maiores cidades goianas (Goiânia, Anápolis e Aparecida de Goiânia), são seus apoiadores. Depende, portanto, de uma boa campanha e de sorte. Vanderlan, a novidade – Vanderlan Cardoso, reeleito prefeito de Senador Canedo, município em ascensão porque
Iris Rezende
está na região metropolitana de Goiânia e porque tem renda privilegiada (o comércio atacadista de petróleo e derivados, bem como de Etanol, concentra-se em Senador Canedo), é a novidade na disputa. Sua candidatura ainda não está consolidada. Recebe contestação até dentro do partido do governador que o apadrinha, o PP. Mas está numa situação de “virgem”: não existe ataques ao seu nome, nem à atuação como prefeito ou empresário. O apoio que lhe dá o governador é considerado decisivo. Então, é fazer o teste de São Tomé, o das urnas.
Marconi
O senador Marconi Perillo mostra fôlego. Com um sorriso constante, enfrenta os percalços, que não são poucos. Vão do desentendimento com o presidente Lula ao rompimento político com Alcides Rodrigues. Mas seu jogo de cintura é invejável: acusado de deixar um rombo nas contas estaduais, enfrentou a ameaça de uma CPI na Assembleia, desafiando. A ponto de seus aliados pedirem a CPI. Uma CPI instalada sobre os problemas da CELG deu resultados que o favorecem politicamente. O ex-governador, contudo, já não pode fazer o papel de “virgem” que lhe favoreceu em 1998. Além disso, naquela ocasião contava com o apoio do bem avaliado então prefeito de Goiânia, Nion Albernaz. Hoje, o prefeito da maior cidade que o respalda é Célio Silveira, de Luziânia, pouco mais de 200 mil habitantes. Marconi e seguidores passam mensagem otimista ao público. O senador não para. A cada hora está num lugar diferente, recebendo homenagens, ouvindo sugestões e promessas de apoio. E o senador diz que tem na manga algumas cartas importantes ainda não utilizadas.
Alcides Rodrigues
Vanderlan
O ocaso de um sonho Como Meirelles deixou expirar o sonho de governar Goiás Valterli Guedes
E
nfim, Henrique de Campos Meirelles optou pela coerência em relação ao seu perfil profissional. Ele é mesmo homem do campo financeiro, mundialmente reconhecido. Um dia, é verdade, nutriu o sonho de governar Goiás. Adolescente, mirava o palácio verde da praça Cívica, sede do Executivo goiano, e imaginava um dia poder estar ali, nos píncaros. Era essa a sua visão, o sonho. Mas o destino o conduziu a contemplar outros horizontes. Pós-graduado pela Universidade Harvard, foi ali buscado pelo Banco de Boston, onde fez carreira e em cuja presidência mundial a aposentadoria o alcançou. Era ainda jovem (não tinha 60 anos) e pensou na retomada do antigo sonho. Foi aí que, em 2002, filiado ao PSDB, concorreu a uma cadeira de deputado federal, alcançando a maior votação entre todos os candidatos. Queria mesmo era um mandato de senador. “Homem de foco”, conforme ele próprio se auto-define, imaginou, na hipótese de eleito, dedicar os quatro anos seguintes a conhecer Goiás. E a tornar-se conhecido, no sentido da intimidade com os habitantes e os líderes. A pedido do então presidente FHC, o governador da época, Marconi Perillo, até prometeu legenda do PSDB para que disputasse o Senado. Mas a promessa foi atropelada por uma reação da então deputada federal Lúcia Vânia. Durante encontro casual, numa festa, Marconi deu a informação a Meirelles: “Não posso apoiá-lo; seja candidato a deputado federal”.
Impacto A afirmação do então governador foi o primeiro impacto considerado por Meirelles “negativo” no intrincado, às vezes brutal, mundo da política. O mais recente, última pá de cal a sepultar o sonho de chegar à governadoria, foi a afirmação do então prefeito Iris Rezende, há pouco mais de um mês, ao deixar o gabinete do ministro Guido Mantega, onde fora para uma audiência obtida justamente a pedido de Meirelles. Em resposta à pergunta de um repórter que desejava saber qual o prazo para a definição de Meirelles, se seria ou não candidato a governador de Goiás, Iris respondeu: - O prazo é ontem. Foi o suficiente para que Meirelles desistisse da candidatura ao Governo de Goiás. Julgou uma indelicadeza do prefeito. Alegou, até, que dúvidas sobre quando deixaria o Banco Central “mexiam” com a Bovespa, o câmbio e coisas tais. Viajou à Suíça e aos Estados Unidos. Durante a viagem, recebeu recados de apoio de Iris, no dia seguinte à afirmação do prefeito que teria ficado de joelhos e, “sobressaltado”, estava em dúvidas quanto à candidatura. Meirelles chegou a pedir a reserva de uma candidatura a senador, “juntamente com a 1ª e a 2ª suplências.” – conforme o próprio Meirelles confidenciou a amigos.
Nome forte
O fato é que, sem nunca haver admitido de público que poderia ser candidato, Henrique Meirelles conseguiu grande feito: virou nome de consenso em Goiás, admitido, ao mesmo tempo, pelo PMDB e pelos seguidores do governador Alcides Rodrigues (PP). Se candidato, o
PT, partido do presidente Lula, é claro, marcharia com ele. Faltou o que, então? Certamente faltou a Henrique Meirelles familiaridade com o dia a dia da política, no sentido prático dessa atividade. Sonhou com a vice, compondo a chapa a ser encabeçada por Dilma Rousseff. Como se o PMDB, onde estão algumas das mais felpudas raposas da política brasileira, admitisse homologar um vice obediente a Lula, não a essas raposas, sequiosas por ministérios endinheirados. Exitante até ao final (uma Sexta-feira Santa), Meirelles deixou expirar a oportunidade conquistada sem maiores esforços de alcançar o antigo sonho juvenil. Talvez tenha feito opção definitiva pela atividade no terreno de que não apenas entende, é PHD, que é o mundo das altas finanças. Até porque uma nova oportunidade favorável como a que tinha (Iris abriria mão de disputar em seu favor, apesar das pressões de setores do PMDB), dificilmente lhe sorrirá de novo. Meirelles focou duas possibilidades ao mesmo tempo: o governo de Goiás e a vice-presidência da República, com ênfase para esta última.Foi estimulado pelo presidente Lula que, na hora “H”, não conseguiu viabilizá-lo. A esta altura, o PMDB já exigia a candidatura de Iris Rezende ao governo. Asssim, o sonho chegou ao ocaso. de |2010 Março/AbrilMarço/Abril de 2010 - Hoje 31 - Hoje | 31
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Tocantins
Comunidades do Jalapão ganham acesso ao microcrédito do Banco da Gente Iniciativa visa fomentar produção de artesanato, principal economia local Wladimir Machado
U
ma reunião realizada nos últimos dias de março entre representantes do programa social do governo do Estado, Banco da Gente, sob a gestão do Prodivino – Instituto Social Divino Espírito Santo –, as comunidades do município de Mateiros e
Artesãos assinam termo de cooperação
do povoado quilombola de Mumbuca, a 341 km de Palmas, no Jalapão, resultou em novas perspectivas para essas comunidades. Durante a presença do Banco da Gente, foram assinados com representantes de associações de capim dourado e comunidades quilombolas termos de cooperações que permitem a concessão de microcrédito para as comunidades de artesãos e pequenos produtores rurais. Visando fomentar a produção do artesanato, principal economia local, o Banco da Gente realizou, nessas localidades, uma série de cadastros para viabilizar o acesso ao microcrédito, para obtenção de capital de giro para investimentos na produção, com vistas à geração de emprego e renda e, consequentemente, ao desenvolvimento econômico e social do Tocantins. “Vejo uma ótima oportunidade para nossa comunidade, pois a maioria aqui não tem acesso a linhas de crédito dos grandes bancos. Espero que essa ação se repita e traga mais oportunidades aqui em nossa comunidade. Só temos a agradecer”, comentou Antonio Alves da Silva, presidente da Associação das Comunidades Quilombolas de Carrapato, Formiga e Mata Ambrosio e Associação de Artesãos e Extrativistas do Povoado de Mumbuca. Quem comemorou também a presença do Banco da Gente na comunidade Quilombola de Mumbuca foi a artesã matriarca do capim dourado, conhecida popularmente como D. Miúda, 81 anos. “Agradeço de coração ao governador Gaguim e ao presidente do Prodivino Melk Aires, por nos presentear com essa inicia-
tiva, que com certeza vai ajudar minha comunidade, que poderá contar com recursos para ajudar a todos daqui”, destacou a artesã. Em Mateiros, dezenas de pessoas procuraram a equipe técnica do Banco da Gente para realizar cadastros. “Somos gratos pela presença do Banco da Gente, porque temos a certeza que com essas boas condições de financiamento, os artesãos, que precisam de capital para investimento em suas produções, vão poder ser beneficiados e trazer bons resultados para o município” disse Maria Júlia Dias dos Santos, presidente da Associação Comunitária dos Artesãos e dos Pequenos Produtores de Mateiros. Segundo o presidente do Prodivino/Banco da Gente, Melk Aires, foram realizados mais de 250 atendimentos na região do Jalapão. “É muito gratificante poder atender essas comunidades, porque sabemos que elas precisam de incentivo para impulsionar a geração de emprego e renda”, ressaltou Aires.
Microcrédito para artesãos é realidade Março/Abril de 2010 - Hoje | 33
Tocantins
Gaguim e Siqueira, os candidatos Siqueira Campos
Ao escolher permanecer prefeito de Palmas, por não ter conseguido reunir as condições que considerava necessárias para ser candidato ao governo do Estado, Raul Filho (PT) contribuiu para um cenário de polarização das próximas eleições ao governo do Estado. Tudo indica que o ex-governador Siqueira Campos (PSDB) vai bater chapa com o atual governador, Carlos Gaguim Roberta Tum
O
ex-governador Siqueira Campos vai polarizar a disputa com o governador Gaguim. As eleições de 2010 estão muito distantes do cenário vivido no Tocantins de 2006. Digo isso friamente ao fazer uma análise dos fatos que possivelmente vão nos levar a um embate entre o ex-governador Siqueira
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Campos (PSDB) e o atual governador Carlos Henrique Gaguim (PMDB). O nome mais forte do PT para o governo era o do prefeito Raul Filho (PT). Desde que anunciada sua decisão de ficar à frente do mandato de prefeito – direito que obviamente lhe assiste – poderia se pensar nos nomes que o PT tem para lançar em seu lugar. Sem desmerecer o ex-deputado federal Paulo Mourão, ou a deputada
estadual Solange Duailibe, não se percebe densidade eleitoral em torno dos seus nomes para o enfrentamento de Siqueira ou Gaguim. Este último não é forte por si só, ou pelo histórico de votos que teve nas últimas eleições em que concorreu a deputado estadual. Gaguim representa a força da estrutura de governo, que maneja sob a tutela da legitimidade constitucional, por mais que sua eleição tenha sido indireta, para um mandato tampão, numa fase transitória da história política do Estado.
Retrospectiva
Em 2006, eram três candidatos: o velho Siqueira, o então governador Marcelo Miranda, e o senador Leomar Quintanilha, pelo PC do B. O ex-governador, que tinha feito o sucessor antes do rompimento, pleiteava o retorno ao Palácio Araguaia. Começou a campanha com 68% contra 17% de Marcelo. Quatro anos depois, Siqueira Campos volta à disputa com o sentimento de resgate de uma eleição perdida, que considera “roubada”, pelo abuso do poder político conferido pela máquina administrativa. Ninguém sabe hoje quanto ele realmente tem das intenções de voto, já que não existem pesquisas recentes. Nas últimas divulgadas, estava na frente, na casa dos 35%. Por conta do quadro das eleições passadas, tenho ouvido dizer que Siqueira Campos já teve mais, e que não é difícil derrotá-lo. Discordo do argumento propagado principalmente entre os aliados do governo. Desde que lançou seu nome, o ex-governador só vem juntando em torno de si políticos e lideranças. É sempre bom lembrar que 2010 não é 2006, e por várias razões.Esta será uma eleição difícil para os dois candidatos que disputam o favoritismo do eleitor. Mas será difícil para os dois por motivos diferentes. Ao ex-governador Siqueira Campos caberá vencer alguns desafios. Primeiro, o eleitorado jovem não o conhece de fato. Só sabe o que ouve dizer, e nem sempre se diz dele coisas positivas. Seu temperamento forte tem sido usado pelos adversários para fortalecer a pecha de “autoritário”. Mostrar que os anos fora do
poder conferiram amadurecimento ao velho guerreiro no trato com companheiros e adversários é uma das missões de Duda Mendonça. Segundo, o temor da idade avançada vai ser utilizado durante a campanha, em que sua capacidade física será colocada à prova. Cito como principais estes dois argumentos, considerando que até os adversários reconhecem a capacidade administrativa, o projeto de futuro, e o comprometimento do exgovernador com os interesses do Estado acima dos seus. Já o governador Carlos Gaguim tem outros desafios. O governo lhe veio num momento de oportunidade única, em que ele era o homem certo, no lugar certo, com as condições necessárias para arrebanhar aliados. Mas a maioria do eleitorado tocantinense não o conhece. Após assumir, Gaguim tomou atitudes controversas no campo político e administrativo nos últimos meses, e por isto caberá ao responsável por sua campanha mostrar que o balanço da gestão do governador foi positivo para o Estado. Gaguim terá ao seu lado alguns dos benefícios que ser governador lhe confere, a exemplo da exposição na mídia. Isso além da estrutura de poder e suas moedas de troca: nomeações, obras, programas sociais. Terá que provar ao eleitor tocantinense que tem equilíbrio emocional e capacidade administrativa para ser governador por mais quatro anos, desta vez pelo voto popular.
Polarização
Não vejo espaço neste contexto para que outro nome do PT se firme. A experiência de Leomar pelo PC do B demonstrou que quando há duas grandes forças em combate elas acabam atraindo para si – pela possibilidade de vitória – os indecisos. Raul, sim, tinha histórico, discurso e militância para garantir uma parcela considerável do eleitorado e provocar um segundo turno. Com a saída dele, no cenário atual, só restou a senadora Kátia Abreu (DEM) com musculatura para defender candidatura própria. Sua proximidade com o ex-governador Siqueira Campos – que não abrirá mão de disputar o governo – e a já anun-
Gaguim
ciada aliança com o PSDB, no entanto, descartam a hipótese de que ela se lance num voo solo. Ao que tudo indica, no dia 3 de outubro deste ano, os tocantinenses vão escolher entre Siqueira e Gaguim. O primeiro já não traz a força do mito que trazia em 2006. E o segundo estará impedido pelos recentes fatos que levaram à cassação de Marcelo, por usar demasiadamente do poder da máquina. O dia das definições ainda está distante. E até que 30 de junho chegue – prazo máximo para realização de convenções – vamos ver se muita coisa ainda poderá mudar.
Raul Filho
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Tocantins
Sudam
Obras não executadas
Ação civil pública contra diversos fraudadores da extinta Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) no Tocantins revela fraudes, desvio de verba pública e obras que nem chegaram a sair do papel Janaina Gomes
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ocumentos e laudos de fiscalização falsos e uso de notas fiscais “frias”. Esses foram alguns indícios de um inquérito policial que levou o Ministério Público Federal (MPF) a ajuizar uma ação civil pública contra diversos fraudadores da extinta Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) no Tocantins. As fraudes envolveram seis projetos, que contaram com repasses superiores a 40 milhões de reais, entre os anos de 1995 e 2002. Um deles envolve os réus Francisco Hyczy da Costa e seu filho Francisco Costa Neto; Frederico Silva da Costa, Norma Botosso Seixo de Brito, Celmi Miranda Lima, José das Graças Feio, Abdias Nóbrega de Araújo (fiscais da Sudam) e as empresas Forasa – Indústria Alimentícia S/A, Gebepar Participações e Investimentos Ltda. e Campina Verde Agropecuária Ltda. A ação contra a empresa Forasa foi ajuizada pelo Promotor da República Rogério Luiz Bernardo Santos e busca a anulação dos atos administrativos praticados pela Sudam, que viabilizou o repasse de recursos
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públicos. Segundo o Dr. Rogério Luiz Bernardo Santos, são muitos os casos de desvios de verbas envolvendo a Sudam. “Somente no Tocantins, foram detectados quase 50 casos parecidos. Alguns já estão na justiça, mas este é o mais escandaloso, pois não foi executada nenhuma parte da obra. Os envolvidos pegavam o dinheiro, dividiam, com o assentimento da cúpula da Superintendência e de quadros da equipe fiscalização”, explica.
“Os desvios causaram graves consequências sociais, impedindo que empresas, geradoras de riqueza e renda, fossem efetivamente instaladas na região Norte do País, o que contribuiu para a manutenção do estado de subdesenvolvimento da região”
A fonte
O dinheiro foi desviado do Fundo de Investimento da Amazônia (Finam), criado pelo Decreto-Lei n° 1.367/74, que tinha como operador o Banco da Amazônia S/A. O objetivo principal do fundo era promover a diminuição dos acentuados desníveis sócio-econômicos entre a região norte e as regiões mais desenvolvidas do País. As ações da Procuradoria Geral da República do Tocantins apontam o empresário Francisco Hyczy da Costa, patriarca da família, como mentor intelectual dos desvios praticados pela empresa Forasa, “responsável por envolver seus filhos e empregados nas fraudes detectadas”, segundo consta no processo. Ele ainda atuou como vice-presidente do Conselho de Administração da Forasa (nomeado em 6 de abril de 2000), dois meses antes do recebimento da primeira parcela do Finam. Além disso, era o diretorpresidente da Gebepar Participações e Investimentos Ltda. e Campina Verde Agropecuária Ltda., as empresas que teriam fornecido as notas “frias”. Este caso chama a atenção pelo completo abandono do projeto. Francisco Hyczy da Costa é acusado de se apropriar de 12,5 milhões de reais e não aplicar nenhum centavo na Forasa, que tinha por finalidade implantar uma unidade de processamento de tomate industrial. Neste caso, em visita ao local por parte de peritos da Polícia Federal, constatou-se a inexecução completa do projeto. Renomado empresário goiano, Hyczy é também diretor-presidente da Pousada do Rio Quente Resorts, um dos maiores empreendimentos turísticos do Brasil. Ele não retornou aos contatos da Revista HOJE.
Penalidades O procurador da República cobra dos responsáveis a devolução dos recursos efetivamente repassados pela União e a indenização por dano moral coletivo. “Os desvios causaram graves consequências sociais, impedindo que empresas, geradoras de riqueza e renda, fossem efetivamente instaladas na região Norte do País, o que contribuiu para a manutenção do estado de subdesenvolvimento da região em relação aos grandes centros”. Também foi pedido que a União se abstenha de aprovar novos projetos em favor dos envolvidos. Com relação a todos os réus, foi pedida a indisponibilidade dos bens, a fim de que seja garantido o futuro ressarcimento ao erário. Além disso, foi pedida a quebra dos sigilos bancário e fiscal dos acusados, para que fossem mapeados todos os reais beneficiários do esquema. Na ação civil pública, o Ministério Público Federal requereu a condenação dos acusados a devolver aos cofres públicos R$ 12.497.045,80 (doze milhões, quatrocentos e noventa e sete mil e quarenta e cinco reais e oitenta centavos) - valor ajustado. E que pagassem “solidariamente” o mesmo valor, a título de dano
moral coletivo, a ser convertido para o Fundo de Direitos Difusos, previsto na Lei da Ação Civil Pública. O total da causa reúne estas duas quantias, cujo valor perpassa a casa dos R$ 25 milhões de reais. Já o Juiz Federal no Estado do Tocantins, Dr. Marcelo Velasco Nascimento Albernaz, não recebeu a denúncia, o que levou o MPF interpor um recurso em sentido estrito junto ao Tribunal Regional Federal em Brasília (DF). Até agora ele só deferiu a indisponibilidade dos bens dos requeridos no valor R$ 7.100.594,20. O Ministério Público Federal aguarda o julgamento do recurso.
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Tocantins
Governo de Palmas anuncia benefícios a servidores
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op
Secretário de Planejamento e Gestão, Tadeu Zerbini anuncia pacote de benefícios a servidores de Palmas
As c
“Quando falamos de Plano de Saúde, consideramos as vidas que serão contempladas por ele”, avaliou Zerbini, acrescentando que através dele poderão ser contemplados mais de 8 mil servidores, que representam um universo superior a 15 mil pessoas. Já o Fundo Municipal de Capacitação e Aperfeiçoamento dos Servidores Públicos será criado a partir do repasse de 1% dos empréstimos consignados, com desconto em Folha e ainda, dos descontos de faltas não justificadas dos servidores. Sobre o Prêmio de Incentivo à Inovação em Gestão, o secretário explicou que deverá ter um formato de incentivo financeiro e será para reconhecer o desempenho de servidores, além de influenciar a transversalidade dentro das atividades da administração municipal. “Por fim, também estamos investindo na capacitação de servidores para que eles possam ser os próximos instrutores da Escola de Gestão Pública. Assim, não será necessário que a Prefeitura contrate instrutores de fora para ministrar seus cursos”, defendeu Tadeu Zerbini, avaliando que esta também é uma forma de contribuir para o incremento da renda do funcionário do município.
Além das medidas anunciada pelo secretário, foi proferida uma palestra sobre Formação Continuada na Gestão Pública, pelo secretário municipal de Educação, Danilo de Melo Souza. Já a diretora da EGP, Carmen Luiza Lüdke, apresentou formalmente as atividades da Escola de Gestão para 2010, inclusive anunciando 30 capacitações previstas para serem aplicadas este ano, em diversas áreas da administração municipal. O evento foi encerrado após um momento de ginástica laboral, que integra as ações do programa Mais Saúde e Satisfação aos Servidores que está sendo implantado na Prefeitura de Palmas, pela Seplag, através da Diretoria de Recursos Humanos.
to:
U
m pacote de benefícios aos servidores de Palmas foi anunciado nos últimos dias de março pelo secretário de Planejamento e Gestão, Tadeu Zerbini, durante o I Seminário de Gestão Pública, realizado no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil, em Palmas. O evento foi coordenado pela Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag), por meio da Escola de Gestão Pública de Palmas (EGP). Os benefícios anunciados prevêem a criação do Prêmio de Incentivo à Inovação em Gestão; o edital de contratação para servidores instrutores; a criação do Fundo Municipal de Capacitação e Aperfeiçoamento dos Servidores Públicos e o encaminhamento para licitação do Plano de Saúde para os Servidores Públicos Municipais. “A valorização do servidor e a capacitação continuada é uma das principais características da administração do prefeito Raul Filho. Através desta ação ele resgata muitos de seus compromissos com a comunidade de Palmas”, destacou Tadeu Zerbini. Segundo o secretário de Planejamento e Gestão, os últimos ajustes estão sendo feitos para que o Plano de Saúde entre em licitação.
Palestra
Fo
Criação de prêmio de incentivo à inovação em gestão, edital para contratação de novos servidores e criação de fundo municipal são alguns dos benefícios previstos
Informação e tecnologia
O poder das Redes Sociais
Como a informação e a tecnologia estão mudando a forma de gerir governos e construindo novos modelos sociais: é a democracia dos novos tempos Janaina Gomes – @JanisGomes
A
evolução da humanidade está intrinsecamente ligada à sua capacidade de produzir e transmitir conhecimento, desenvolver linguagens e formas de comunicação. Contudo, os povos que se estabeleceram neste planetinha chamado Terra, ao longo de extensos 300 mil anos, se comunicaram única e exclusivamente através da oralidade. Conseguiram “apenas” gravar na matéria singelos elementos de seu cotidiano, a exemplo das pinturas rupestres. E demorou muito, mas muito tempo mesmo, para que os seres humanos conseguissem desenvolver a habilidade da escrita (cerca de 3000 a.C.), ou seja, uma técnica de linguagem com símbolos, números, unidades de medida, elementos estes capazes de codificar a realidade. Cerca de 2 mil anos depois (1000 a.C.) começam a surgir os primeiros registros da invenção e universalização do alfabeto. Mas foi somente por volta de 1500 d.C. que foram desenvolvidas as técnicas de comunicação de massa com a animação, difusão da língua e outros signos culturais, além de novas linguagens de autorreprodução, período que coincide com a Revolução Industrial. A humanidade chegou ao século XXI e anos depois de ter inventado os novos meios de comunicação como
telefone, imprensa, rádio e TV, inicia o que talvez possa ser considerado o seu maior salto evolutivo com a conectividade e a manipulação automática das informações e símbolos e, principalmente, a ampliação das redes. Esta linha do tempo serve como ponto de referência aos estudos de um dos maiores pesquisadores do mundo na área de Cibercultura, Pierre Levy. Doutor em Sociologia e Ciência da Informação e da Comunicação, pela Universidade de Sorbonne (França), o pesquisador participou recentemente da Conferência Internacional Cidades Inovadoras (CICI 2010 – www.cici2010.org.br), realizada em Curitiba (PR). Levy foi um dos palestrantes da 1ª Conferência Internacional de Redes Sociais, dentro da programação da CICI 2010. Com o tema “Tudo que é sustentável tem padrões de rede”, o evento promoveu o encontro mundial de especialistas e uma rica troca de experiências sobre formas de interação e organização da sociedade e suas interfaces com redes virtuais como o Twitter, Facebook, Ning etc. Foram debatidos assuntos como Introdução ao Netweaving: a reflexão sobre o “Poder de Organização sem Organização” (Power of Organization whitout Organization); Sistemas Sócio-educativos: Comunidades de Aprendizagem em Rede e os Arranjos Educacionais Locais; Escola de Redes; Introdução
à Análise de Redes Sociais; Redes Sociais e Emergência; e o Futuro da Investigação de Redes Sociais.
A Evolução da “Mídiasfera”
Durante a 1ª Conferência Internacional de Redes Sociais, Pierre Levy explicou que o computador possibilitou ao ser humano um aumento significativo em seu poder de adquirir conhecimento. “Com a internet, temos um tipo de documento único, com o qual todos podem colaborar, acessível a um custo muito baixo. A humanidade está na pré-história virtual, mas vive o início de uma nova etapa na história das comunicações e do conhecimento, com mudanças que estão influenciando as formas de governança das cidades. O amplo acesso às informações e a possibilidade de qualquer pessoa gerar conteúdo na internet está alterando também a noção de esfera pública”, destacou. Por sua vez, o articulador do Comitê Científico da CICI 2010, netweaver da Escola de Redes (www. escoladeredes.ning.com) e autor de vários livros sobre desenvolvimento local, capital social, redes sociais e democracia, Augusto de Franco, explicou um pouco do que seriam as chamadas Redes Sociais. Segundo ele, “as redes são padrões de organização nos quais há abundância de caminhos. As hierarquias como conhecemos são o oposto: um campo onde se gerou (artificialmente) escassez de caminhos”. Diferentemente do que muitos pensam, as Redes Sociais não são sites de relacionamento. “Como o nome diz, elas são sociais mesmo, não digitais ou virtuais. As redes são pessoas interagindo, não ferramentas de publicação ou de Pierre Levy: “Tudo que é sustentável tem padrões de rede”
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Informação e tecnologia interação, mas as plataformas interativas podem ser boas ferramentas de articulação e animação de redes”, explicou Franco. Todas as discussões da CICI 2010 apontaram que uma melhor organização da sociedade e o fortalecimento das redes são caminhos necessários, irreversíveis e intrinsecamente ligados. “As Redes Sociais são sempre redes de pessoas. Redes de instituições hierárquicas não podem ser redes distribuídas. Tal como a democracia é um movimento de desconstituição de autocracia, as redes devem ser vistas como movimentos de desconstituição de hierarquia. Uma ‘estrutura’ distribuída corresponde a um ‘metabolismo’ democrático: o grau de distribuição acompanha o grau de democratização”, complementou Augusto de Franco. Essa nova realidade virtual tem trazido significativas alterações no modo de as pessoas se relacionarem e se organizarem. “A grande geração e circulação de conhecimento no mundo virtual faz com que sejam criados novos modelos de organização das cidades, integrando diversos tipos de Redes Sociais. A sociedade e os governos estão se adaptando às ferramentas disponíveis com as novas tecnologias de comunicação, mas ainda não inventamos a forma política que combina com essa forma de comunicação atual. Temos uma camada acima da cidade real que é a cidade virtual, uma enorme quantidade de dados que no futuro estarão todos ‘indexados’, enfatizou Levy, ao apontar porque considera a cidade como rede. O netweaver Augusto de Franco destacou que as pessoas normalmente falam sobre redes, mas somente naquilo que julga fundamental para sua sobrevivência e para sua carreira. “A sociedade ainda se organiza hierarquicamente. Estudar as redes, investigá-las, escrever sobre elas ou tentar usá-las para obter algum resultado, adianta muito pouco se continuarmos nos organizando assim. Redes Sociais distribuídas são sempre redes de cooperação. Assim como a liberdade, a cooperação é um atributo do modo como os seres
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humanos se organizam e nada mais. Na democracia vale um conceito político de verdade: ‘verdade é tudo que nos faz mais livres’. Analogamente, nas redes, verdade é tudo que nos faz mais cooperativos. E se existe sociedade, então existe uma ‘rede-mãe’, independentemente de nossos esforços conectivos”. Segundo Augusto de Franco, seis tipos de pessoas não costumam gostar de redes: ensinadores (colecionadores de diplomas), codificadores de doutrinas, aprisionadores de corpos, construtores de pirâmides, fabricantes de guerras e condutores de rebanhos. “Ninguém pode ter um entendimento do que são as Redes Sociais enquanto não for capaz de experimentá-las. Ninguém poderá experimentar Redes Sociais enquanto se relacionar em organizações hierárquicas ou do tipo ‘cada um no seu quadrado’. Desconfie dos que desconfiam das redes. Estes são, quase sempre, hierarcas”. Ao abrir perspectivas para a construção de uma nova realidade, Augusto de Franco destacou a importância da interação através das Redes Sociais. “Na sociedade em rede os indicadores de sucesso não serão mais a acumulação de riqueza, de poder e de conhecimento atestado por títulos. Estão emergindo novos papeis sociais: os Hubs, os Inovadores e os Netweaver. Netweaving não é uma ciência: é uma arte. Por incrível que pareça, é a arte da política. A rede não é um instrumento para fazer a mudança: ela já é a mudança”, concluiu.
Fenômenos de conectividade
As Redes Sociais não são necessariamente sites de relacionamento como o Twitter, Facebook, Orkut etc., mas os estudiosos lembram que estes importantes espaços são facilitadores para ampliar a capacidade de articulação e mobilização social. No último dia 21 de março, o mais recente fenômeno da in-
ternet mundial completou 4 anos. Foi nesta data que Jack Dorsey (@jack), um dos criadores do Twitter, enviou seu primeiro tweet: just setting up my twttr, assim mesmo, escrito sem vogais. Em seguida, as duas outras cabeças responsáveis pelo invento, Evan Willlians (@ev) e Biz Stone (@ biz) enviaram suas mensagens. O fato de a mascote do Twitter ser um pássaro não é um mero acaso. A palavra significa em inglês algo como “piar”, “gorjear”, “trinar”, “chilrear” ou “pipilar”. Talvez este seja um dos motivos que fazem o escritor português José Saramago não gostar do site. Em entrevista ao Jornal O Globo, em agosto de 2009, destacou: “Nem sequer é para mim uma tentação de neófito. Os tais 140 caracteres refletem algo que já conhecíamos. A tendência para o monossílabo como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido”.
Com certeza este pensamento difere dos mais de 65 milhões de usuários do site – no início de 2009, não passavam de 5 milhões. Os números são impressionantes, apesar de apenas 17% destes perfis estarem ativos e 40% nunca terem sido atualizados. As redes de twitteiros também se multiplicam com a mesma velocidade. Elas realizam encontros, promovem atividades e mostram o poder de articulação das redes virtuais. Um dos responsáveis pelo Encontro de Twitteiros Culturais de Goiás (www.etcgoias.ning.com) e twitteiro ativo, Gilvane Felipe, avalia o fenômeno. “Ele não acaba com as outras mídias, mas as centraliza, organiza e sintetiza as ideias na rede mundial. O Twitter parece ser o ponto de fusão entre diversos planos na Internet. Digo parece porque ainda é cedo para certezas”. Porém, o fenômeno Twitter ainda não se compara ao Facebook, que soma mais de 200 milhões de usuários. Mas o internauta brasileiro gosta mesmo é do Orkut. Lançado em 2004 pela Google, o site tem reinado absoluto desde que chegou por aqui, sendo a rede virtual mais utilizada no país, conforme dados de uma pesquisa do Ibope Nielsen sobre o comportamento dos internautas (veja quadro ao lado). De acordo com o relatório, o tempo gasto em redes no mundo cresceu 82% em dezembro de 2009. Os usuários passaram, em média, mais de cinco horas e meia no mês em sites de relacionamento, como Orkut, Facebook e Twitter. No mesmo mês de 2008, o tempo registrado foi de três horas. O número de usuá-
rios também cresceu nos últimos três anos, terminando 2009 com a marca de 300 milhões de pessoas. As redes já podem ser consideradas um fenômeno global. Alguns e s t u d i o s o s q u e st i o n a m a t é q u e ponto essa relação virtualizada é benéfica para o desenvolvimento da humanidade, outros apontam como o caminho para uma relação menos hierarquizada e, consequentemente, mais igualitária. O certo é que, como disse Pierre Levy, “ainda estamos na pré-história virtual”, e somente aqueles que buscarem participar e entender as redes sociais/ virtuais é que poderão lidar melhor com esta nova realidade.
Conectividade 1 em cada 3 brasileiros está conectado, cerca de 67,5 milhões de pessoas; 12 milhões de PCs foram vendidos em 2008 (número equivale a toda a população da megalópole Tóquio); 23h e 12 minutos é o tempo médio do brasileiro por mês na web (tempo da viagem de volta de Tóquio). O brasileiro é o primeiro no ranking de navegação 79% das pessoas estão conectadas às redes sociais, cerca de 55 milhões de usuários; 6 horas / mês é o tempo médios que os jovens brasileiros ficam nas baladas; 6h20 / mês nas redes sociais; 40% o Facebook cresceu de maio a junho de 2009 492.750 horas de conteúdo são publicadas no Youtube por ano; 4.500 horas é o que produz de conteúdo a maior emissora de TV aberta, a rede Globo; 2ª maior audiência no Youtube é de brasileiros; 36% deles sobem conteúdo fotos e vídeos todos os dias; 1382% o Twitter cresceu só em 2008 4º país onde mais se lê blogs é o Brasil 5º país com o maior número de conexões à Internet. 2 milhões e 600 mil pessoas atualizam blogs diariamente seus blogs. Um volume de conteúdo infinitamente maior aos 123 autores que têm seus livros publicados todos os dias no país; 4ª cidade que mais usa o Twitter é São Paulo, com uma audiência jovem e qualificada; 52% dos usuários de redes sociais já interagiram com marcas; 80% confiam em indicações feitas por amigos; 27,5 milhões acessam regularmente a Internet de casa, 36,4 milhões se considerados também os acesso do trabalho 38% das pessoas acessam a web diariamente; 10% de quatro a seis vezes por semana; 21% de duas a três vezes por semana; 18% uma vez por semana. 87% dos internautas brasileiros entram na internet semanalmente. 44% da população das áreas urbanas, 97% das empresas e 23,8% dos domicílios brasileiros estão conectados à internet. Se o Orkut fosse um estado brasileiro, seria o maior estado. Março/Abril de 2010 - Hoje | 41
Turismo
A África do Sul em um
Frequentemente descrita como um mundo em em país, a África do Sul oferece ao visitante uma variedade de paisagens de tirar o fôlego e se tornou, em dez anos, um dos destinos de viagem que teve o mais rápido crescimento no mundo Izabel Todeschini izabelace@yahoo.com.br
Q
uais são as primeiras imagens que vêm à sua mente quando você ouve: África do Sul ? Pense rapido e responda... Safáris, animais selvagens soltos pela savana, negros zulus primitivos armados com lanças ? Ou você esteve acompanhando o desenrolar da história do país e pensa logo em Nelson Mandela e no “apartheid” ? Mas quer saber ? Um mergulho no chamado “berço da civilização” é muuuuito mais do que isso. Uma viagem até a ponta do continente africano é a descoberta de uma diversidade que jamais vi num só país. Tem bicho, sim, mas também cassinos e belas praias. Há dez negros para cada branco, mas também há indianos e “gays” de montão. Existem arranhacéus e empresários moderninhos, mas também choupanas e tribos vivendo rusticamente em zonas rurais.
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Centro comercial na cidade do Cabo, a segunda maior da África do Sul
Em poucos dias, você não imagina o que pode fazer e descobrir ! Só para se ter uma ideia, visitei uma “ilha” em pleno alto mar, habitada por leões marinhos e uma praia dominada por pinguins. Dei uma de Vasco da Gama e dobrei o Cabo da Boa Esperança. Vi como vivem os nativos das
tribos Zulu, Xhosa e Basotho. Em uma reserva, participei de um ritual guerreiro e dancei com o chefe Chonco. Lá, provei carne de avestruz, antílope e crocodilo – e adorei. Vivi dias de princesa em um verdadeiro palácio de sultão – em um dos dois únicos hotéis “seis estrelas” que existem no mundo, o The Palace.
ma pincelada Paisagem surpreendente: “Ilha” em alto mar é habitada por leões marinhos
Crianças nativas da tribo zulu
Diversidade: rituais e cultura de uma reserva tribal
Fiz um safári, com direito a observar elefantes, zebras e girafas bebendo água às 7 horas da manhã. Depois, fui surpreendida ao ver, da costa, três rochas gigantes malhadas soltando vapor no meio do mar: que nada, eram baleias austrais atravessando o oceano ! Percorri as ruas de Soweto, a maior “township” (área urbana subdesenvolvida) criada com o “apartheid”, onde moram cerca de três milhões de sul-africanos. Entrei na antiga casa de Nelson Mandela – hoje uma espécie de museu – e rezei na igreja perfurada de balas, onde policiais brancos atiraram em milhares de estudantes negros que faziam um protesto na década de 70. Fiquei surpresa ao saber que há onze idiomas no país. Que as línguas mais faladas são o inglês e o “afrikaans” – uma mistura de holandês com inglês. Que o desemprego chega a 25 por cento e que a epidemia de aids impera. Que o salário mínimo é de 800 “rands” – a moeda oficial – equivalente a quase 115 dólares. Que o Brasil é o maior importador de penas e plumas de avestruz para usar no carnaval. Que 60% dos diamantes e um terço do ouro mundial saem do país. ( A África do Sul é o maior produtor mundial de ouro). Que minas de ouro são exploradas até nas ruas centrais de Johannesburg, considerada a capital financeira e industrial. (A capital administrativa é Pretória, e a legislativa é a Cidade do Cabo, a mais bonita das cidades, na minha opinião). Soube também que o esporte mais popular é o “rugby” e que o golfe virou uma praga, com campos espalhados pelos quatro cantos . Que num país onde 85 por cento da população é católica e se diz “nada mística”, o número 13 foi simplesmente excluído dos aviões que fazem voos domésticos – os assentos pulam de 12 para 14. Ah, e ouvi dizer que a África do Sul é passagem obrigatória para quem quer reajustar o “karma”. Também sou católica e não acredito muito nessas coisas... Mas, por via das dúvidas, já bati meu ponto lá. Março/Abril de 2010 - Hoje | 43
Artigo
Tarzan de Castro
C
Cotas: uma conquista dos negros
omeça um novo ano letivo nas universidades públicas brasileiras. Será um ano marcado pela presença de alunos negros em salas, laboratórios, bibliotecas, corredores, campus, pátios e outros locais universitários. Finalmente o País começa a assumir um papel positivo para diminuir a discriminação racial na escolarização dos jovens brasileiros de cor negra. Os preconceitos ideológicos existentes na sociedade atingem de cheio as próprias universidades. O racismo no Brasil remonta ao escravismo capitalista adotado pelas nossas classes dominantes para a exploração da mão de obra escrava. A discriminação e o preconceito contaminaram até setores sociais e categorias não donas do poder, envolvendo gente pobre e humilde. Mesmo oprimidas, sob a influência da ideologia dominante, são racistas. É paradoxal, mas infelizmente verdadeiro. O racismo ficou entranhado, em diversas e diferentes camadas de classes do Brasil. Aos negros reservaram -se se os piores lugares no mercado de trabalho, assim como nos espaços para a moradia (favelas e periferias das cidades), no lazer, na cultura, até nas religiões e seitas dominantes. A tentativa de branquear o povo brasileiro chegou a ser política de governo, que patrocinou, após a liberação dos escravos, a entrada maciça de trabalhadores europeus no mercado de trabalho
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para ocupar as melhores posições. Afirmava-se que os negros tinham baixo índice de inteligência. Eles ficaram com o trabalho considerado sujo ou que
“O racismo no B rasil remonta ao escravismo capitalista adotado pelas classes dominantes. A discriminação e o preconceito contaminaram setores sociais, envolvendo gente pobre e humilde. É paradoxal, mas infelizmente verdadeiro” exigia a força bruta, sem qualificação. “São bons para fazer música, dançar e jogar futebol” alguém disse. Nas universidades aplicava-se a
segregação social, optando-se por uma hipócrita ideologia do mérito. “Quem for capaz passa no vestibular”. Esse mecanismo discriminatório resulta em um falso igualitarismo, onde só contemplam os brancos, os únicos preparados por “boas escolas” particulares, caras, ou algumas excepcionais públicas. Os defensores dessa posição alegam que adotar cotas, seria nivelar por baixo.Essa política educacional camuflou, por mais de um século, o verdadeiro racismo disfarçado em mérito seletivo. Com tal orientação oficial, milhões de jovens negros ficaram sem oportunidades de acesso às profissões de nível superior. É muito fácil constatar as consequências dessa cruel exclusão. Cadê a categoria de negros médicos, engenheiros, dentistas, ar-
quitetos, advogados? Enfim, de todas as carreiras profissionais chamadas superiores? 50% da nossa população são formados por afrodescendentes, ou seja, aproximadamente 95 milhões de pessoas. Que oportunidade de ascensão essa metade da população teve até agora? Precisamos resgatar com urgência esta dívida com os brasileiros negros. A concessão de cota é um primeiro passo, ainda tímido, mas muito importante, que marca o início de uma longa caminhada para derrubar os preconceitos e discriminações existentes, que teimam em resistir. Algumas correntes dentro e fora do mundo acadêmico resistem com um argumento frágil, disfarçado de democrático e republicano. Segundo esses ativistas da educação, para todos o essencial seria uma política pública de investimento massivo na educação fundamental, transformando a escola, tirando-a do caos atual, criando as condições para que ela assuma sua verdadeira função: dar formação universal e de qualidade para as crianças brasileiras, independente de raça, cor, religião e classe social. Esta meta é o ideal, mais do que justa e obrigação básica do governo. Mas eu pergunto: sem vontade política, com irrisório
volume de recursos públicos destinados à educação, isso só vai acontecer nas calendas gregas. Enquanto o governo não assumir um compromisso realmente prioritário com a educação os negros continuarão sendo as principais vítimas desse sistema caótico e desqualificado em que infelizmente transformou-se a educação pública no Brasil. Querem que os negros esperem a solução dessa crise interminável que acomete o ensino público no País, ou
“A política educacional camuflou, por mais de um século, o verdadeiro racismo disfarçado em mérito seletivo. Com tal orientação oficial, milhões de jovens negros ficaram sem oportunidades de acesso às profissões de nível superior, uma cruel exclusão” seja, que na prática, continuem punindo os jovens negros por mais outros 400 anos. Por essa e outras razões, o sistema de cotas da início ao rompimento com a discriminação odiosa imposta aos 95 milhões de pessoas negras ou afrodescendentes que já dura séculos e séculos. A luta dos negros norte-
americanos conquistou, há poucas décadas, cotas nas universidades. O resultado está sendo muito positivo. Criou-se uma classe média negra, composta por profissionais liberais, administradores, intelectuais, artistas, formada por toda a riqueza humana do povo negro americano. Ressalte-se que, nos Estados Unidos, os negros são pouco mais de 50 milhões de pessoas. Barack Houssein Obama é o maior exemplo. Esperemos que ele, como o primeiro presidente negro americano, cumpra com o que prometeu e alivie um pouco o sofrimento do seu povo e das vítimas do “Buschismo” no mundo inteiro. Estou fechado com a política de cotas nas Universidades Públicas Brasileiras. Sei que ela é apenas um passo e que o fundamental é priorizar e investir na educação com uma decisão política determinada, obsessiva, até curar esse mal, que destrói e anula o futuro das atuais e novas gerações do Brasil. Vamos torcer para que esse sistema seja provisório e breve, que o governo, em todos os níveis, aproveite da atual crise do capitalismo e de fato assuma a educação como prioridade. Implante escolas públicas de qualidade. Aproveite com criatividade as já existentes, forme centenas de milhares de professores bem pagos, preparados para assumir a formação educacional dos nossos jovens. Construa milhares de escolas inseridas com a comunidade, que viva os problemas das famílias dos alunos, enfim, é preciso fazer uma verdadeira revolução educacional para contribuir definitivamente com o desenvolvimento econômico, científico, cultural do povo brasileiro, dando de fato oportunidades para todos, a começar pela escola pública e de qualidade. Tarzan de Castro é ex-deputado (estadual e federal), diretor da revista Hoje e articulista do Diário da Manhã
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Esporte
Karla Rady |karlarady@gmail.com
Os garotos da Copa
P
ara alguns meninos, a oportunidade de participar, ainda jovens, de uma Copa, rendeu fama. A nem sempre aceita prática de alguns treinadores de escalarem revelações para vestir a amarelinha em jogos de Copa do Mundo foi a porta de entrada para a consagração de vários craques do futebol brasileiro, o mais notório deles, Pelé. O rei foi campeão mundial na Copa de 1958, quando tinha apenas 17 anos. Isso não o impede de hoje criticar a possível escalação de alguns garotos por Dunga, como é o caso de Paulo Henrique Ganso (20) e Neymar (18), ambos sensa-
Tostão e Leônidas
ção da temporada da Vila Belmiro. “Ainda é cedo para a dupla ir ao Mundial”, comentou Pelé em seu recém estreado programa no SBT. Outro caso histórico foi o do pontaesquerda Edu, que em 1966, com apenas 16 anos, foi convocado pelo técnico Vicente Feola, entrando para a história como o jogador mais novo em uma Copa do Mundo.
Outro grande craque da história do futebol a calçar as chuteiras em Copa ainda muito jovem foi Tostão. O meia-atacante integrou uma das mais notórias seleções de craques de todos os tempos, a que conquistou o tri mundial de 1970. Antes disso, porém, com apenas 19 anos, disputou a Copa de 1966, na Inglaterra, substituindo Pelé, que tinha se lesionado. Leônidas da Silva, o inventor da “bicicleta”, também conhecido como o Diamante Negro, tinha somente 16 anos quando foi convocado pela primeira vez. Mas só teve a chance de disputar um Mundial quando tinha 20 anos, em 1934, na Itália. Ele fez o único gol da seleção que, naquela época, sem o prestígio de hoje, foi eliminada na estreia, quando perdeu por 3 x1 para a Espanha. Cinco anos mais tarde, na França, ele foi o artilheiro, com sete gols em três jogos.
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O Fenômeno
Ronaldo Fenômeno não ganhou o apelido à toa. Ele não foi à Copa aos 16 anos como Edu, mas era justamente essa a idade que tinha quando conquistou a camisa 9 do Cruzeiro, virando a maior revelação do futebol brasileiro, em 1993. Naquele ano, Ronaldo marcou 12 gols em 14 jogos. Em 1994, aos 17 anos, foi convocado para a seleção brasileira, participando da festa do tetra conquistado nos Estados Unidos. E este foi apenas o começo da carreira de um dos maiores craques de todos os tempos.
Cuca X Botafogo O técnico Cuca entrou na Justiça do Trabalho do Rio de Janeiro contra o Botafogo. Ele cobra dívidas referentes à sua última passagem pelo clube, o equivalente a dois meses de trabalho, mais o fundo de garantia e outros direitos trabalhistas.
Tiger Woods
Após cinco meses afastados das partidas de golfe por problemas extraconjugais que repercutiram mundo afora, o americano Tiger Woods foi recebido com aplausos¬¬¬¬ no início do mês em Augusta National, durante o seu treinamento para o Masters. Cerca de 40 mil pessoas prestigiaram Woods, que na ocasião retornou a um campo de golfe pela primeira vez depois do escândalo que abalou sua família.
Kaká A principal estrela do Brasil para a Copa de 2010 estreou vestindo a camisa verde e amarela aos 20 anos, quando o treinador Felipão o colocou em um time misto na vitória de 5 a 2 contra a Costa Rica, em 2002. Quatro anos depois, já era ídolo na Europa e um dos principais jogadores da seleção. Consagrado como o craque do Real Madrid, Kaká vai disputar seu terceiro mundial e terá a chance de se redimir da campanha de 2006, voltando pra casa com a taça do hexa na mão.
Cielo no Flamengo Mais recente ídolo da natação brasileira, Cesar Cielo aceitou o convite da presidente do Clube de Regatas Flamengo, Patrícia Amorim, para defender o rubro-negro na temporada de 2010. Mais do que dinheiro, Cielo confessou que o que mais pesou em sua decisão foi o passado de Patrícia, nadadora que, em 1988, disputou as Olimpíadas de Seul. “Patrícia conhece do esporte. Foi pela experiência que ela tem e a tradição do clube na natação; e pelos projetos legais que eles têm para a modalidade, que talvez eu possa ajudar com minha presença”, comentou o campeão olímpico e mundial em coletiva para veículos especializados. Cielo, que também confessou que o que mais espera é ter tranquilidade para treinar, ressaltou que a qualidade técnica de sua preparação não deverá mudar. Embora contratado pelo Flamengo, ele treina nos Estados Unidos até o fim do semestre. Entre os dias 18 e 22 de agosto, ele participa do Pan-Pacífico de Irvine, na Califórnia. Depois, volta ao Brasil, alternando treinos em São Paulo e Rio de Janeiro. O campeão treinará com técnico Alberto Silva, atualmente no Pinheiros. Para driblar a situação, incluirá em sua rotina a ajuda de um personal trainer. Além de Cielo, o Flamengo contratou os atletas Henrique Barbosa e Nicholas Santos. Todos treinam atualmente em Auburn, nos Estados Unidos, sob o comando do técnico australiano Brett Hawke. A primeira batalha que o trio enfrentará oficialmente pelo clube será nos dias 3 a 9 de maio, em Santos, no Troféu Maria Lenk. Março/Abril de 2010 - Hoje | 47
Saúde
Dor pélvica, um problema do universo feminino Dor pode ser causada tanto pela contração da musculatura do assoalho pélvico como pela alteração da função intestinal
A
mulher possui uma região no corpo chamada de pelve, localizada logo abaixo do abdome, que é formada por dois ossos do quadril, sacro e cóccix, onde se encontram o útero, os ovários, as tubas uterinas, a bexiga e o reto. E dores nesse espaço do corpo podem surgir de forma aguda, súbita e intensa, ou crônica, quando têm pelo menos alguns meses de duração. “Essa dor pode ser causada tanto pela contração da musculatura do assoalho pélvico como pela alteração da função intestinal, por problemas de cistos no ovário, miomas, infecções na região da pelve e endometriose”, explica
a ginecologista Dra. Rosa Maria Neme (CRM SP-87844), graduada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, com residência médica e doutorado em Medicina na área de Ginecologia pela Universidade de São Paulo e Diretora do Centro de Endometriose São Paulo, clínica especializada no tratamento da doença. Como suas causas são variadas, o tratamento será prescrito conforme sua origem. Para entender mais sobre este problema, muito comum no universo feminino, entrevistamos a Dra. Rosa Maria Neme, que relata mais detalhes sobre o assunto. Acompanhe!
O que é dor pélvica? E quais as suas causas? A dor pélvica é uma dor no baixo ventre que pode ser sentida na forma de cólica, aperto ou como uma pontada. As causas são diversas e entre elas destaca-se a presença de mioma, alterações vasculares no útero como a presença de varizes pélvicas, cistos de ovário e endometriose que é, atualmente, a principal causa de dor pélvica nas mulheres em idade reprodutiva.
Ela só atinge os órgãos genitais internos? Em geral, sim. Pode acometer os órgãos externos, mas a manifestação, nesses casos, não é de dor, mas sim de ardor, coceira, entre outros sintomas.
Como ela é sentida pela paciente? É sentida, na grande maioria das vezes, como uma cólica que pode acontecer na menstruação ou fora dela, sensação de peso ou pontada. A dor pélvica está sempre ligada ao sistema reprodutivo e é um sinal de alguma outra doença presente na região, por isso precisa ser investigada.
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Quais as diferenças entre dor pélvica aguda e crônica? A dor aguda é aquela que acontece de forma inesperada e a crônica é aquela que já está presente há algum tempo, é constante e intermitente. Quais os tratamentos? O tratamento depende da causa do processo. Se for endometriose, o tratamento é cirurgia para retirada da doença. Se for mioma, indica-se a retirada ou tratamento com medicamentos. Se for varizes pélvicas, o tratamento é feito com medicações analgésicas apenas.
Existe alguma estimativa de quantas mulheres sofrem com este problema? Existem estimativas para outras doenças, mas não sobre a dor pélvica. A endometriose acomete cerca de 15 a 20% das mulheres em idade reprodutiva. Mulheres acima dos 50 anos de idade têm chance de 50% de ter miomas. Se a dor pélvica não for bem tratada, ela pode evoluir para algum outro problema? Tudo irá depender da causa da dor. No caso da endometriose, a mulher pode ter infertilidade e dor crônica. No caso do mioma, pode ter ciclos menstruais com hemorragia e infertilidade. Ela atinge mulheres em qual faixa de idade? Pode acometer mulheres em qualquer faixa etária.
Cirurgia corrige olhos esbugalhados em função de doença O procedimento pode ser realizado apenas nas pálpebras ou, quando métodos mais simples não surtirem resultados satisfatórios, pode ser necessária a quebra dos ossos
M
ais do que uma agressão à estética, a protusão dos olhos pode ser sinal de doença, como a doença de Graves, que é descrita como a tríade de hipertireoidismo, mixedema pré-tibial e oftalmopatia. A produção excessiva dos hormônios da tireóide podem provocar um inchaço dos músculos e da gordura que ficam atrás do órgão, além de retrair as pálpebras superiores e inferiores, causando o efeito de olhos esbugalhados. O problema pode ser amenizado ou corrigido com cirurgia nas pálpebras ou, se estiver num grau muito avançado, com a retirada dos ossos ao redor dos olhos. “Além de ser um desconforto estético, os olhos proeminentes e muito abertos ressecam a córnea. Isso pode desencadear os sintomas do Olho Seco, como ardência, vermelhidão, lacrimejamento excessivo, e até úlcera, levando a perda da visão”, afirma Rodrigo Durães, oftalmologista especialista em cirurgia plástica ocular. O tipo de cirurgia a ser feita é determinada pelo especialista após vários exames, entre eles a medição da distância da parede óssea lateral até o ápice da córnea. Acima de 27 mm pode ser necessária a quebra dos ossos, quando procedimentos mais simples não deram resultados satis-
fatórios. “Na descompressão orbitária retiramos ossos e colocamos os olhos pra dentro, com isso o paciente poderá ficar com visão dupla. Posteriormente, teremos de corrigir o estrabismo”, explica o médico. A anestesia para o procedimento é geral, o paciente fica internado um dia e afastado das atividades por uma semana. Já a cirurgia para soltar as pálpebras retraídas é uma técnica moderna e menos traumática. “Para que ela volte a apresentar um aspecto normal, retiramos um músculo (músculo de muller), soltamos outro músculo(aponeurose do elevador) das pálpebras superior e na inferior colocamos uma cartilagem auricular”, relata Rodrigo Durães. A cirurgia é feita com anestesia local, e o paciente precisa ficar apenas dois dias em repouso, usar colírios e pomadas, além de fazer compressa gelada na região. Geralmente, quando detectado cedo, o hipertireoidismo pode ser tratado e os olhos do paciente não sofrerão grandes alterações. Mas nem sempre a doença se deve ao hipertireoidismo, pois em aproximadamente 15% dos casos, a oftalmopatia de Graves (alterações oculares) ocorre isolada, sem evidências clínicas ou laboratoriais de disfunção tireoidiana, sendo referida
como doença de Graves Oftálmica ou Eutireoidiana. Os sintomas mais frequentes do hipertireoidismo são: tremores, palpitação, arritmias, emagrecimento rápido, aumento de apetite, agitação, insônia, sensação de calor, mãos quentes, aumento da região anterior do pescoço, sudorese e fraqueza muscular.
Dr.Rodrigo Durães - Oculoplástica Fone: 61- 92289359 Março/Abril de 2010 - Hoje | 49
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Marรงo/Abril de 2010 - Hoje | 51
Carlos Pompeu | culturamix@gmail.com
C ulturamiX
Música Eletrônica SWARUP é um nome que tem se destacado no universo da música eletrônica internacional. Natural de Goiânia, atualmente residindo em Brasília, o dee jay comanda o selo Vagalume Records, gravadora especializada em Trance, e ainda vende seu “peixe” mundo afora com o First Stone, projeto musical que ainda conta com Zumbi e Gustavo (Burn in Noise). Além disso, SWARUP é pai dos gêmeos Alock e Bhaskar, conhecidos no circuito das raves como LOGIKA. A dupla tem mostrado um trabalho consistente, original e bastante criativo. O som do LOGIKA faz todo mundo dançar na pista.
Parabéns, Almir A galera do Rock de Goiânia acendeu a velinha para cantar parabéns, neste mês de abril, para ALMIR ALEXANDRE, o lendário guitarrista da Língua Solta. Almirante, como é chamado por seus inúmeros amigos como Tibério Gaspar, compositor de Sá Marina, imortalizada por Wilson Simonal e Stevie Wonder; Almir já tocou com diversos músicos, na Língua, do calibre de Léo Jaime, o rei do rock brasileiro nos anos 80. Naquela época, o cara atuou como protagonista em dois filmes: “Rock Estrela”, de Lael Rodrigues, e “As Sete Vampiras”, de Ivan Cardoso, que revelou, recentemente, que havia pensado em Raul Seixas para o papel que foi interpretado pelo ex-baterista da Língua Solta, banda do aniversariante Almir.
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Videoclipe O fotógrafo Edgard Soares colhe os frutos de sua estreia como diretor no videoclipe de “Oceano de Lágrimas”, dos DOENTES DO AMOR, banda de Fon Sin que está lendo “Rio do Sonho”, livro de poesias de Maria Lúcia Felix Bufáiçal que ganhou de presente da conceituada marchand Eliane Miklos que, por sua vez, ganhou o coração do vocalista. Para ver o vídeo: http://www.youtube.com/ watch?v=dIVSzcXzR9o
Nas Ondas do Rádio O diretor de teatro Marcos Fayad tem se destacado nas ondas do rádio. Fugindo do lugar comum aposta no que há de mais fino no mundo da música com seu INDICADOR CULTURAL na rádio CBN Goiânia, transmitido às 8h30 e com reprises às 13h50 e 17h40. As dicas são preciosas para apreciadores da nova geração da música popular brasileira e da world music.
Na internet Para você não ficar perdendo seu tempo na rede indicamos alguns endereços interessantes. Começamos com o blog do designer Pablo Mirans (http:// www.pablomirans.com.br/blog), com destaque para sua agenda cultural atualizada diariamente. O Undermetalzine (www.undermetalzine.com.br) é uma boa pedida para apreciadores do Rock Pesado. O pensamento crítico também tem seu ciberespaço garantido no Insulto (www.insulto org), sob o comando de Isis Leão e Douglas do RadioCarbono.
Vampiros Os vampiros ganharam o imaginário popular com Drácula, do irlandês Bram Stoker. Depois, atores que interpretaram o conde da Transilvânia, Bela Lugosi e Christopher Lee, continuaram a saga que agora ganha sua versão adolescente com a série “Crepúsculo”, de Stephanie Meyer. No Brasil, temos o escritor André Vianco que virou sucesso editorial apostando sua literatura nesta temática com títulos como O Vampiro Rei que estão entre os mais vendidos da editora novo século que ainda publica a série House of the Night de P.C.Cast e Kristin Cast com maisde 3 milhões de livros vendidos no mundo. Detalhe: as autoras são mãe e filha.
Pense duas vezes
SAM RAIMI será sempre lembrado por ter dirigido Homem Aranha. Mas existe vida além do aracnídeo. Isto porque “o cara” fez escola com filmes que, literalmente, fazem a gente morrer de susto. Se você gosta de se divertir com películas que causam fortes emoções, assista a: “Arraste-me para o Inferno”. Depois, se alguma velhinha lhe pedir dinheiro emprestado... Pense duas vezes antes de dizer não.
Imortalizados como Drácula, os atores Christopher Lee e Bela Lugosi
Retórica Digital
Manipulação de Massa A Internet é um bom lugar para exercitarmos nosso pensamento crítico. De teses conspiratórias mirabolantes até a fofoca tradicional já incorporada em nossa cultura. Isto tudo em meio a amenidades e coisas realmente importantes. Você tem o direito de escolher o conteúdo que quiser acessar e as informações circulam livremente. Nesta ciranda eletrônica a realidade pode ser manipulada. Por isso é válido comentarmos sobre um documentário experimental que discute o poder de influência da mídia convencional. “Manipulação de Massa”( que pode ser acessado em: http://www.youtube. com/watch?v=aWQc0e9toys). Escrito, dirigido e editado por Guilherme Reis, é de 2006, mas é bastante atual e muito interessante. Uma fotografia da realidade brasileira. Os entrevistados são cidadãos que trafegam pelo centro de Belo Horizonte e que prestam seus depoimentos sobre o assunto.Trata-se de um retrato do povo brasileiro com suas carências, peculiaridades e esquisitices. Isto pode ser exemplificado por um jovem lutador de ringue que afirma que Jean Claude Vann Damme é uma grande influência em sua vida e que todos os dias assiste um filme do belga. Incrível. Outro, mais equilibrado, afirma que ser manipulado não é questão de opção, mas que não há escolha. Notória é a desarticulação dos populares que não dizem coisas sensatas, o que é um reflexo do elevadíssimo déficit educacional de nossa sociedade. Curioso é observarmos que o discurso alienado sobre “toda comunicação é boa” é proferido tanto por uma mulher de classe alta, pilotando uma caminhonete cabine
dupla, quanto por uma outra que empurra seu carrinho de churros pelas ruas. Apesar de estarem em lado opostos, da luta de classes, representam bem a baixa escolaridade, não em termos de diplomas, mas de educação de fato e conhecimento cultural. Trata-se, evidentemente, de uma crítica social. Muito bem temperada por sinal. O ritmo do documentário também é espetacular. Ágil, dinâmico e empolgante. A animação de Henrique Gomes e a trilha sonora , assinada por Rafael Nelvam, Gil Amâncio e Mateus Guerra, contribuem excepcionalmente para que o resultado seja alcançado. Inclusive, isto é um ponto a favor, não percebemos que o filme tem a duração de apenas 10 minutos e 20 segundos. Cabe ressaltar, com a devida licença poética, sendo parte da própria estrutura narrativa do documentário, o fato de na montagem deturparem os depoimentos. Isto fica evidente e é uma possibilidade, que nos é proposta, para fazermos esta leitura crítica. Literalmente matando a cobra e mostrando o pau. Sendo uma espécie de materialização do que o filme quer nos mostrar sobre a manipulação de massa. No jargão publicitário poderia ser definido como uma boa sacada. O recurso utilizado é construir um discurso que é montado na ilha de edição,com várias vozes, que revelam como é possível manipular um discurso na mídia que acaba influenciando as pessoas de uma forma ou outra. Neste aspecto, a Internet não apresenta diferença em relação aos outros meios. E foi nesta nova mídia, com todas suas contradições, que temos acesso à este filme que nos faz pensar. Enfim, a tecnologia nos aponta novas oportunidades. A rede mundial de computadores é um exemplo desta realidade. Neste contexto, a exclusão digital é sinônimo para injustiça social. Assista Manipulação de Massa e pense nisso.
Março/Abril de 2010 - Hoje | 53
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