PUBLICAÇÃO EDITORA INVENTA distribuição dirigida e gratuita
Curitiba/PR
_NÚMERO 08 _2010-2011
_revistainventa.com.br
F a c h ad a
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Vendas:
Incorporação e Construção:
Imagem meramente ilustrativa. Possíveis alterações de projeto serão executadas de acordo com o Memorial Descritivo do empreendimento. Registro de Incorporação efetuado sob o R.2/61.245, na 5 a Circunscrição de Registro de Imóveis de Curitiba-PR. * Referente ao apto. 2503 – torre 1.
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Você ouve. Você vê.
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EDITORIAL A arte de Jorge Galvão em nossa capa muito bem ilustra o caminho que esta revista está tomando. A Inventa é feita de pessoas e, cada vez mais, pessoas. Pessoas que pensam diferente, agem diferente mas que, como diria uma velha propaganda, têm alguma coisa em comum. Talvez seja a imensa vontade de se expressar e comunicar. Talvez seja apenas a vontade de ter uma revista em formato não convencional abordando cultura e criatividade em Curitiba. Nesta nona edição da revista, cá estamos trazendo opinião. Um dos maiores pensadores da atualidade, Luc Ferry, divide conosco suas crenças sobre o amor e a vida; o jornalista Guilherme Fiuza compartilha o desafio de fazer biografias enquanto o designer Roberto Arad desabafa sobre o cenário de moda na capital paranaense. E não é só isso. Nas páginas a seguir, você encontra um bate-papo com Otto, reportagem sobre HQs, exposições, lançamentos e muito mais.
Boa leitura e até a próxima!
CAPA_ JORGE GALVÃO
EXPEDIENTE // INVENTA // 2010-2011 // NÚMERO 08
A revista Inventa é uma publicação de caráter informativo com circulação gratuita e dirigida. Todos os direitos reservados. EDITADA POR
EDITORA INVENTA LTDA - CNPJ 11.870.080/0001-52 IEME _ Integração em Marketing, Comunicação e Vendas Ltda. - CNPJ 05.664.381/0001-27 Rua Heitor Stockler de França, 356 _ 1o andar _ Centro Cívico _ Curitiba _ PR // Tel.: (41) 3253-0553
DIRETORA RESPONSÁVEL
Taís Mainardes
CONTEÚDO COLABORAÇÃO COMERCIAL COLUNISTAS
IEME Comunicação_ iemecomunicacao.com.br Ana Amaral_ ana@iemecomunicacao.com.br Marília Bobato_ marilia@iemecomunicacao.com.br Jéssica Amaral_ ieme2@iemecomunicacao.com.br Eduardo Santana_ ieme8@iemecomunicacao.com.br Ana Carolina Bendlin_ ieme7@iemecomunicacao.com.br Sandra Solda_ ieme9@iemecomunicacao.com.br Felipe Gollnick_ ieme4@iemecomunicacao.com.br Carolina Pacheco Simões_ ieme5@iemecomunicacao.com.br Thaísa Carolina Moreira _inventa@iemecomunicacao.com.br Flávia Ferreira, Geísa Borrelli, Jussara de Jesus _ comercial@iemecomunicacao.com.br Julio Sampaio, Bia Moraes
PROJETO GRÁFICO E FINALIZAÇÃO ILUSTRAÇÃO FOTOGRAFIA REVISÃO IMPRESSÃO E ACABAMENTO
D-lab_ dlab.com.br Diego The Kid_ diegothekid.com.br Prata Gelatina_ pratagelatina.com.br Adriana Brum_ adribrum@yahoo.com.br Posigraf_ posigraf.com.br
ASSINATURAS E EDIÇÕES ANTERIORES _ inventa@iemecomunicacao.com.br Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem a opinião desta revista.
AGU NOVOASRITDE E
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ÍNDICE
13
_QUADRINHO
28-31
pgn_
36-39
21
40
22
41-42
23
44-45
24
46-47
_Voz Do povo
_ ANDERSEN E O SILÊNCIO DO NÃO-MOVIMENTO
_ Caranguejos como recompensa
_MAIS POP QUANTO MAIS O TEMPO PASSA
44-45
pgn_
_CULPADO
20
_ FASHION ART
36-39
_ ENTREVISTA GUILHERME FIUZA
15-19 32-35 _RÁPIDAS
pgn_
28-31
_ A REVIRAVOLTA DOS QUADRINHOS
_15 MINUTOS OTTO
_EM CURITIBA
_PERFIL ARAD
_AGENDA CULTURAL FCC
48-50 _COLUNAS
sexta 3 de dezembro 21h barba negra APOIO
REALIZAÇÃO
vicente machado 578 inscricoes R$10 no local MAIS INFORMACOES fixacwb.wordpress.com
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COLABORADORES
Esta não é a primeira vez que JORGE GALVÃO assina uma capa de revista mas, é, sim, sua estreia na Inventa. O ilustrador da revista Mundo Estranho já teve sua arte estampada em diversas publicações nacionais e também no Street Art Journal, de Los Angeles, e na DefishMag, da Bélgica. Já expôs por aqui (Curitiba, São Paulo) e por outros ares (Nova York, Berlim) e, para 2011, prepara novos materiais para mostrar. Mas não só em galerias ou revistas que podemos encontrá-lo: este artista - que tem como recordações seus desenhos aos sete anos de idade - ainda segue pintando pelas ruas de Curitiba ou de onde estiver.
Integrante do movimento Democracia Urbana, que reconhece o ser humano como protagonista da cidade e o espaço público como um cenário aberto para participações, TOM 14 mais uma vez participa desta publicação, emprestando sua arte para ilustrar a matéria Culpado (páginas 30 a 33). Autor da capa da Inventa_4, o designer brasileiro que permanece colorindo Barcelona participa em terras curitibanas de uma exposição coletiva n’A Casa em dezembro e anuncia que, em janeiro, levará mais amor para Buenos Aires. Alguém duvida? +TOM14.COM
+ FLICKR.COM/JORGEGALVAO
Com seus traços orientais recebidos da mãe, YASMIN TAKETANI poderia ser musa do Wong Kar-Wai ou do Kim ki-Duk. Mas como nasceu em Curitiba, você vai encontrá-la em eventos culturais - seja na plateia, na organização ou atrás das lentes de uma Canon. Apesar de se considerar um clichê por ainda sonhar com Paris, a blogueira e estudante de jornalismo não quer deixar as pequenas cenas passarem despercebidas. São dela as fotos do lançamento da obra Muchacha, de Laerte. Companheira da filha Yasmin em viagens, MITIE TAKETANI também a acompanha nos cliques. São dela os olhares sobre o lançamento do livro Candyland, de Guilherme Caldas e Olavo Rocha. + BTMESS.COM + ITIBAN.BLOGSPOT.COM
Foi nas redes sociais - twitter e facebook, para ser mais exato - que encontramos PRISCILLA SCURUPA. Quase jornalista, ela tem um blog onde costuma escrever o que sente para aliviar a febre de existir. Com uma vontade imensa de ler todos os livros do mundo, entre uma cerveja e outra, aqui a leonina se rendeu a mais três paixões: Pernambuco, música e fotografia. É dela a foto do cantor e compositor Otto na coluna 15 Minutos.
Jornalista por formação, FRAN HUNTER chega na Inventa fazendo o que mais gosta (e sabe!) fazer: registrar. Seja a sensibilidade de uma pessoa, como fez com Roberto Arad, ou o momento especial de determinada situação, a paranaense de Ibaiti busca sempre respeitar os sentimentos de quem está sendo fotografado. Mãe da pequena Sofia, a colaboradora escolheu Curitiba como sua casa e, depois de uma temporada de estudos na França e Inglaterra, por aqui fotografa não apenas pessoas, mas também momentos, objetos, editoriais e o que mais aparecer.
+ FLICKR.COM/PHOTOS/HIDDENDIMENSION
+ FRANHUNTER.COM.BR
Responsável pelo Imagem da Palavra, projeto inspirado no blog Words to Shoot By, ISADORA HOFSTAETTER PITELLA é quem lança semanalmente uma palavra para que os fotógrafos participantes do seu blog possam apresentar três registros sobre o tema. Aqui, é a autora da reportagem Culpado. Mas não é a primeira vez que você encontra a opinião dela na Inventa - até pouco tempo atrás a jornalista fazia parte da nossa equipe. Provavelmente não será a última. + IMAGEMDAPALAVRA.WORDPRESS.COM
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_QUADRINHO Guilherme Caldas e Olavo Rocha | Candyland
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CURITIBA
SUA OPINIÃO É SEMPRE MUITO BEM-VINDA
_ARAD Av Vicente Machado, 664 - Centro _Clube de Criação do Paraná (CCPR) Rua Mateus Leme, 4700 – Parque São Lourenço _D-LAB Rua Rio de Janeiro, 1271 – Água Verde _DESMOBILIA Av Vicente Machado, 2223 – Batel _ENDOSSA / LOJA COLABORATIVA Av Vicente Machado – 1047 – Batel _GALERIA LÚDICA Rua Inácio Lustosa, 367 – São Francisco _GALERIA DE ARTE UM LUGAR AO SOL Rua Jaime Reis, 134 – São Francisco _GARAGE Rua Jaime Reis, 278 – São Francisco _HACIENDA CAFÉ Al. Prudente de Moraes, 1283 - Centro _IEME COMUNICAÇÃO Rua Heitor S. de França, 356 – 1º andar – Centro Cívico _INVENTÁRIO – PAPEIS ESPECIAIS Rua Sete de Abril, 790 - Alto da Rua XV _ITIBAN COMICS Av Silva Jardim, 845 - Rebouças _JACOBINA BAR E RESTAURANTE Rua Almirante Tamandaré, 1365 – Alto da XV _ESTÚDIO JEFFERSON KULIG Rua Saldanha Marinho, 1570 Batel _Lolitas Coiffure Rua Trajano Reis, 115 – São Francisco _Lótus Rua Estados Unidos, 1067 – Bacacheri _Massuda Sabor e Arte Rua Trajano Reis, 443 – São Francisco _Mestre Cervejeiro Rua Cel. Dulcídio, 755, bl 2 - loja 03 – Batel _Mercearia Coralina Rua Hugo Simas, 862, - Bom Retiro _Museu Guido Viaro Rua XV de Novembro, 1348 – Centro _Nayp Av Vicente Machado, 285 - Loja CA6 – Omar Shopping _Original Beto Batata Rua Professor Brandão, 678 – Alto da XV _Paço da Liberdade SESC Paraná Praça Generoso Marques, 189 – Centro _Piola Al. Dom Pedro II, 105 - Batel
CTBA
_Prestinaria Rua Euclides da Cunha, 699C – Bigorrilho _Quintana Café Av do Batel 1440 - Batel _Realejo Culinária Acústica Rua Cel. Dulcídio, 1860 – Água Verde _Santillana Lounge Bar Av. República Argentina, 1649 – Água Verde _Tienda Rua Fernando Simas, 27 – Praça Espanha – Batel _Orlando Azevedo Fotografia Al. Júlia Wanderlei, 181 - Mercês _Zahil Av. Sete de Setembro ,6460 - Batel
SP São Paulo
_Desmobilia Rua Mateus Grou, 401 - Pinheiros _Doc Dog Rua Bela Cintra,2108 – Jardins _Loja Cachalote Rua Ministro Ferreira Alves, 48 - Pompéia - São Paulo _Vila Mundo Rua Belmiro Braga, 216 B, Vila Madalena
FLOPS RJ POA Florianópolis
_Garagem Korova Rua Tenente Silveira, 111 – loja 501 - Centro
Rio de Janeiro
_La Cucaracha Bazar e Galeria Rua Teixeira de Mello, 31 – Loja H - Ipanema
Porto Alegre
_Atelier Elisa Lisot Rua Silveiro, 437, Salas 202 e 204 – Menino Deus _Café Cantante Rua Fernandes Vieira, 615 – Bom Fim _Cometa Design Rua Gen. Bento Martins, 562 – Centro _Livraria Bamboletras Rua General Lima e Silva, 776 Lj 3 - Centro _Pó de Estrela Rua Alberto Torres, 228 – Cidade Baixa
BH
Belo Horizonte
_QUINA GALERIA DE ARTE Rua Bahia, 1148 – Centro
_ inventa@iemecomunicacao.com.br Simplesmente sensacional a capa de Orlando Azevedo (edição 07) na Inventa! Parabéns a este fotógrafo maravilhoso. Ana M. Perin – artista plástica
Boa surpresa encontrar um artigo de João Acuio na Inventa. Parabenizo também pelos demais artigos, em especial, o do Julio Sampaio que sempre traz uma visão maravilhosa deste mundo tão competitivo em que vivemos. Luiza Marcondes Costa
Achei esta revista muito bem elaborada com informes culturais e reportagens bastante qualitativas. Célio Borba
Acompanho o site e gosto muito da publicação. Acho muito bom o design e a diagramação. Gostaria de fazer a assinatura da revista, pois sempre que tenho um exemplar na mão, levo pra todos os lugares pra mostar a todo mundo. Tiago Ferrari
Conheci a revista na Galeria Lúdica, em Curitiba. Me interessei muito! Faço Jornalismo e adoro a estrutura textual de revista. Sofia Ricciardi Jorge – estudante
Conheci a revista Inventa no café que freqüento diariamente – o Hacienda – no ano passado. Desde então, eu tenho todas as revistas! Paula Schutze mulherdelaranja @RevistaInventa Está mui-
to massa a Inventa 7. Parabéns!!!
SE ESTA NÃO É A SUA INVENTA, VÁ PEGAR UMA.
sergioChaves_ Graças à querida @itibanco-
micshop, conheci a versão impressa da @RevistaInventa, excelente! É um projeto que dá vontade de participar. AGU REVISTAINVENTA.COM.BR NOVOASRDE IT BLOG.REVISTAINVENTA.COM.BR E
ACOMPANHE A INVENTA TAMBÉM FACEBOOK: facebook.com/revistainventa E NO TWITTER: @revistainventa SUA OPINIÃO PODE VALER UM BRINDE EXCLUSIVO DA INVENTA! COMUNIQUE-SE COM A GENTE: inventa@iemecomunicacao.com.br * Em razão de espaço ou compreensão, seu e-mail pode ser resumido, editado ou não publicado.
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De Picasso a Gary Hill
/12 1
50 obras de 35 artistas consagrados estão em exposição na mos-
tra De Picasso a Gary Hill no Museu Oscar Niemeyer (MON), em Curitiba, até 27 de fevereiro de 2011. A ideia dos curadores foi criar um “mapa” da arte moderna ocidental, em parceria com o Instituto Valenciano de Arte Moderna (IVAM), da Espanha, e o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, de Fortaleza (CE). A exposição tem sete grupos de artistas e obras e abrange desde o cubismo picassiano, do início do século XX, até a representação das linguagens eletrônicas na obra de Gary Hill.
imagens_ Divulgação MON
RÁPIDAS
Inicialmente, a mostra estava em Fortaleza. Depois de Curitiba, retorna para a Espanha. Participam nomes consagrados, entre os quais se destacam Pablo Picasso, Paul Klee, Marc Chagall, Antoni Tàpies, Salvador Dalí, Alexander Calder, Christian Boltanski, Bruce Nauman e Gary Hill. De artistas brasileiros, estão Aldemir Martins, Antonio Bandeira e Letícia Parente, além do uruguaio Arden Quin. (SS)
E ele sonhou com um mar…
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É fim de ano e Nestor vai mudar de vida. Isso é tudo o que diz a sinopse de “Naquela noite ele sonhou com um mar azul”, curta metragem do natalense radicado em Curitiba Aristeu Araújo. Conta a história de um jornalista que, em um solitário réveillon em plena Copacabana, tem um estalo revelador e decide mudar toda a trajetória de sua vida.
+ MON.ORG.BR
O script de Araújo foi laureado antes mesmo das filmagens, tendo ganho o prêmio do Workshop de Roteiro do Festival Curta Cinema em 2008, no Rio. Depois de pronta, a obra classificou-se entre as finalistas do importante Festival de Cinema de Brasília. Os curitibanos poderão acompanhar as epifanias de Nestor no dia 15 de dezembro, na Cinemateca de Curitiba. (FG) imagem_ Divulgação
Filmado em um cronograma apertado de dez dias entre o Natal de 2009 e as primeiras datas de 2010, “Naquela noite...” teve como principal local de gravação um pequeno apartamento no bairro da Glória, zona sul do Rio de Janeiro, no qual se espremeram as cerca de dez pessoas da equipe de filmagem, os enormes refletores de luz e um desengonçado buldogue chamado Benny Goodman. Os desenlaces da trama chegaram a fazer com que a equipe alagasse a sala do apartamento a fim de que o inusitado roteiro do curta fosse devidamente obedecido.
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imagem_divulgação
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Celebrando as comunidades
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2011 se aproxima e com ele, um
dos maiores eventos de música da América Latina, a Oficina de Música de Curitiba. Com o tema Celebrando as Comunidades, a 29ª edição do evento que reúne alunos de todo o Brasil e de outros países será de 9 a 29 de janeiro de 2011, transformando a cidade em um grande palco de atrações nacionais e internacionais. Além dos diversos shows abertos ao público, a Oficina oferece cursos nas áreas Erudita e Antiga, Popular Brasileira, Música e Tecnologia e Música Latino-Americana. (SS) + OFICINADEMUSICADECURITIBA.ORG.BR
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PRA NÃO PERDER TEMPO
Já imaginou relógios de parede forjados a partir de peças an-
tigas de computadores, engrenagens de bicicletas, velhos toca-discos e amplificadores? Pois é justamente o que o pessoal da Stuff Made From Stuff faz com materiais recicláveis e todo o tipo de lixo tecnológico e outras parafernálias sem utilidade. Ao acessar a loja online você vai encontrar relógios dos mais variados tipos. Todos engraçados e reciclados, é claro. Tem o relógio do HardDrive, o Velho Magnetic Tape Reel e o feito com uma placa-mãe de um Mac G3 (incluindo mouse e disco rígido). (ES) + ETSY.COM/PEOPLE/PIXELTHIS
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ABRIU A BOCA, É O LOBÃO! Mais louco que o Lobão!, diriam alguns. Zangado, romântico e revolucio-
Para colocar as ideias no papel, durante mais de um ano, Lobão e Tognolli se encontravam até três vezes por semana no restaurante Spot, em São Paulo. A escrita a quatro mãos não tinha como dar errado: os dois são apaixonados por rock’n’roll, foram processados diversas vezes e possuem visões apaixonadas sobre o mundo. Sobre a obra, Lobão ainda acrescenta: “Se não tivesse a participação do Tognolli, iam me chamar novamente de louco!” (TC)
imagens_ Divulgação
nário, diriam outros. No recém-lançado livro 50 anos a Mil, tudo isso se revela muito pouco frente à figura de um dos mais importantes e polêmicos personagens da música brasileira. Versa sobre o menino que queria ser jogador de futebol, passando por suas músicas, os amigos, as confusões com a polícia, com o Comando Vermelho e as cinco tentativas de suicídio. Tudo isso e mais um pouco está nas 752 páginas da biografia 50 anos a Mil (Editora Nova Fronteira), escrita pelo próprio cantor em parceria com o jornalista Cláudio Tognolli.
+ NOVAFRONTEIRA.COM.BR
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ESPALHE SEU AMOR POR AÍ
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A mensagem é simples: em tempos de estresse reinante e trânsito caótico, nada como espalhar o amor por onde você passar. Literalmente! O designer iraniano Hamed Kohan projetou uma bicicleta com pneus que levam embora qualquer irritação. Batizada de Spread Your Love, a invenção deixa rastros de coraçõezinhos pela cidade. O projeto de Kohan foi um dos finalistas no Seoul Cycle Design Competition, concurso organizado pelo site Designboom em parceria com a Seoul Design Foundation, que tem como objetivo motivar a evolução da bike, um dos meios de transporte mais usados pelos habitantes da cidade sul-coreana. Spread Your Love ainda traz racks com o mesmo tema e que seriam espalhados pelos quarteirões para os que deixam as magrelas nas ruas. “Simples e intenso, como o amor”, define o criador. (FG)
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+ hamedkohan.com
PRA NÃO PASSAREM POR CIMA
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Falando em bicicletas... Um dos grandes problemas encontrados dos adeptos desse meio de transporte é disputar espaço com carros, motos, ônibus e caminhões, o que acaba tornando um simples trajeto até o trabalho uma verdadeira aventura. Pensando nisso, o Lee Myung Su Design Lab criou a Seil Bag, uma mochila com um display de LED acoplado, que faz às vezes dos sinais de um carro. O aparato é simples: na mochila fica o display de LED e, no guidão da bicicleta, um aparelho sem fio que o ciclista aciona quando for virar ou parar. E tem mais! No caso de uma emergência, a mochila também lançará sinais luminosos de alerta. (AA) + leemyungsu.com
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PROFESSOR TATUADO Quem diria que a tatuagem, que décadas atrás ainda causava espanto e precon-
ceito nos mais conservadores, poderia resultar em melhor desempenho dos estudantes? Pois bem. Um estudo americano revelou que a performance dos alunos pode ser melhor se o professor for tatuado. Sim, isso mesmo. Na pesquisa, foram mostradas a estudantes universitários fotos de supostas professoras, umas tatuadas, outras não. Elas foram avaliadas em nove aspectos relacionados à sua aparente capacidade profissional. O resultado mostrou que as supostas professoras tatuadas causavam uma impressão muito melhor e estavam associadas à modernidade e mudanças positivas. O estudo constatou ainda que professores tatuados podem aumentar a motivação e a criatividade dos estudantes. Impressionante, não? (SS)
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Se o ar puro também tivesse cafeína.... Para dar um intervalo no trabalho e refrescar a
mente, coloque as pernas para trabalhar. Pesquisadores da Universidade de Rochester, em Nova York (EUA), afirmam que ficar em média 20 minutos respirando ar puro pode ter o mesmo efeito que tomar um cafezinho. Durante o trabalho, por exemplo, quando der aquele sono ou aquela moleza, é mais saudável ir para o lado de fora do ambiente e ficar ao ar livre. Além de ser melhor para o organismo, as energias são recuperadas da mesma forma.
O professor de psicologia Richard Ryan, responsável pelo estudo, afirma que “a natureza é um combustível para a alma” e que, quando nos lembramos da “ligação intrínseca entre o corpo humano e o mundo natural”, nos sentimos vivos. Foram realizados testes com 537 estudantes, expostos a diversas situações de atividades e de sedentarismo tanto dentro de um prédio como ao ar livre. Os pesquisadores mediram o humor e os níveis de energia do grupo durante as atividades. O resultado foi surpreendente: o simples fato de imaginar estar ao ar livre aumentava a energia da maioria dos estudantes. E 20 minutos ao lado de fora do prédio foi suficiente para gerar uma significativa melhora na vitalidade dos jovens. (SS)
/12 10 LOVE, LOVE
Entre piscinas esculpidas no teto de museus, pássaros mortos com máscaras coloridas e
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coqueiro em andaime, uma das obras mais interessantes do artista Julien Berthier surgiu recentemente e não poderia ser nada menos do que a reinvenção de um conceito que parecia ser imutável. Ou ainda, não menos que agregar um horizonte de possibilidades que existem e que ainda não foram exploradas. O francês dedicou dois anos para Love Love, um barco que parece estar naufragando, escultura feita a partir de um veleiro de grande porte. Especialista em transformar o mundo com suas ideias, essa foi exposta pela primeira vez em Londres durante uma crise bancária. Logo depois, o artista espaçoso quis simplesmente o oceano para ser o museu de sua obra de arte e por lá navegou diversas vezes acompanhado de sua criação. A peça é capaz de se mover graças a um motor embutido e já foi vendida para um colecionador pelo valor de £ 50 mil. Se a intenção era provocar a curiosidade e a reflexão, bingo! Pensar em um barco que ao invés de transmitir equilíbrio, fluidez e segurança, navega em direção das profundezas das águas, parece uma crítica evidente. (CS) + JULIENBERTHIER.ORG
_RÁPIDAS
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DAS RUAS PARA A TELONA
/12 11 “Isso é coisa de marginal”, provavelmente diria seu pai se lhe visse andando de skate 20 anos atrás. Felizmente, de lá para cá, a imagem do skatista perante a sociedade mudou drasticamente e muito disso se deve a quatro brasileiros importantíssimos: Bob Burnquist, Cristiano Mateus, Lincoln Ueda e Sandro Dias. São eles os protagonistas de Vida sobre rodas, documentário que é a primeira grande produção brasileira sobre a modalidade. Dirigido por Daniel Baccaro e com garbosa trilha sonora de Maurício Takara e Daniel Ganjaman, o longa-metragem conta, por meio de imagens de arquivo e depoimentos de diversos figurões do skate (o lendário Tony Hawk está entre eles!), a trajetória nas últimas décadas do esporte que chegou a ser proibido nas ruas de São Paulo pelo então prefeito Jânio Quadros e que hoje é um dos mais praticados no país. Vida sobre rodas tem estreia marcada para o dia 26 de novembro nos cinemas de todo o país. (FG) + VIDASOBRERODAS.COM.BR
VIAJANDO COM VOCÊ HÁ 156 ANOS
/12 12 Da primeira loja, aberta no ano de 1854, em Paris, a Louis Vuitton já tinha uma personalidade assumida: fazer da viagem uma experiência pessoal e única. Especializada na produção de bolsas e malas de viagens, em mais de 150 anos a marca viu algumas nações dissolvidas, outras criadas e muitos mapas alterados. Em meio a tudo, Bono Vox, Gisele Bündchen, Uma Thurman, Keith Richards e até mesmo Pelé, Maradona e Zidane já estrelaram campanhas. Atualmente, são mais de 400 lojas em 63 países. Nos anos 90, a maison lançou o primeiro City Guide, um guia turístico de cidades do mundo. A publicação tem capa de couro e traz dicas sobre moda, design, artes, turismo e gastronomia. Cada destino é apresentado por diferentes personalidades, que indicam endereços alternativos e preferências pessoais.
Sabe aqueles luxuosos hotéis, premiados restaurantes e lugares bacanas e únicos conhecidos somente por habitantes locais? Então! Para 2011, seis novas cidades foram acrescentadas: Bucareste, Glasgow, Lausanne, Palermo, Manchester e Saint-Tropez. A caixa com nove livros bilíngues (francês e inglês) contempla mais de 40 destinos e custa $ 135. Os individuais, dedicados às cidades mais importantes do mundo para os clientes da grife - Roma, Los Angeles, Nova York, Berlim,Tóquio, Paris e Londres -, $ 34 cada. Além dos guias, há um box com diversos cartões-postais ilustrados ($ 145). Para lançar os livros, uma série de vídeos em stopmotion sobre as cidades dos guias estão circulando pela internet. Quem estiver ou for à capital francesa pode acompanhar a história da Louis Vuitton com 230 peças entre pinturas, mapas, desenhos, campanhas, fotos antigas e modelos na exposição Voyage en Capitale, no Museu Carnavalet, até 27 de fevereiro de 2011. (TC) imagem_divulgação
+ louisvuitton.com
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FASHION ART
por_ANA CAROLINA BENDLIN imagem_DIVULGAÇÃO
Roupas bem desenhadas e conceituais também são uma forma de expressão e de arte. E é isso o que prega a estilista ucraniana Julia Mitrofanova Wimmerlin. Como ela própria explica, “existem muitas histórias interessantes contadas de outras maneiras, como pinturas, esculturas, literatura, música, decoração para casa, arquitetura e até tecnologia, mas eu sempre quis em transformar a moda em arte para ser vestida”. Para tanto, trabalha sempre com cores clássicas combinadas, principalmente o preto, que destaca a silhueta da mulher, assim como o tecido usado, de malha, que Julia descreve como “um tecido que pode se tornar qualquer coisa que você queira”. O resultado é uma extensa coleção de lindas peças exclusivas, que brincam com histórias conhecidas, como a maçã de Eva, ou simplesmente elementos que façam com que as pessoas imaginem as histórias que quiserem.
Assim, quem usa as roupas criadas por Julia – ou seriam as obras de arte criadas por Julia? – as exibe para que outras pessoas as vejam e tenham a experiência de ouvir um bom concerto de piano, experimentar um tradicional sushi japonês ou viajar a cidades europeias sem sair do lugar. Que tal, então, proporcionar essa experiência a outras pessoas? Apesar de morar tão longe – a estilista vive atualmente em Tóquio, no Japão –, as criações de Julia estão disponíveis para compra pela internet, nos sites Etsy, UsTrendy e DaWanda. Apesar de atuar com design de roupas mais como hobby do que como profissão, a ucraniana produz peças exclusivas para quem solicitar, além de vender as que já estão prontas. + WIN-MERLIN.COM
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R. Faye, La Houppa, 1925 (detail). Lithograph, 157.2 x 115.3 cm. Courtesy of Posters Please, Inc.
Voz do povo
por_MARÍLIA BOBATO imagem_DIVULGAÇÃO GUGGENHEIM
“Cartazes são mensageiros. Cartazes são expressão de cultura. Cartazes deixam marcas. Visíveis e inconfundíveis, como parte de um processo de comunicação, eles dependem do local e data de publicação. Bons cartazes falam uma linguagem internacional”. Manfred Triesch O período entre as duas Guerras Mundiais pode
ser descrito legitimamente como a primeira era da “sociedade de massa”. Nessa época, houve uma rica produção de cartazes motivados por modismos para promover produtos comerciais e eventos culturais, sem qualquer caráter teórico ou político. Apesar de os primeiros cartazes terem sido desenvolvidos pelos orientais ainda no século X, a arte de reunir textos e ilustrações em um único papel tornou-se mais propagada através dos europeus no final do século passado e ganhou ainda mais força entre as décadas de 20 e 30. Foi nesse período que, na França, formou-se um grupo de cartazistas do qual faziam parte A. M. Cassandre e Carlu, que pretendiam promover um novo espírito nas artes gráficas. Eles buscavam adaptar algumas ideias e formas de movimentos como o Cubismo e o Futurismo — já que estes representavam bem o ritmo acelerado de seu tempo —, com o objetivo de atingir um público mais amplo.
Cassandre, cujos cartazes marcantes dominaram a publicidade francesa no período entre as guerras, via seu papel como o de um bom comunicador, como demonstra nesta declaração feita em 1933: “O cartaz é apenas um meio para se atingir um fim, um meio de comunicação entre o negociante e o público, algo como a telegrafia. O cartaz faz o papel do telegrafista: ele não é responsável pela notícia, ele meramente a distribui”. Essa ideia contrasta fortemente com o pensamento de Kurt Schwitters, artista gráfico modernista alemão, que ressaltou, em 1928, a importância “não do ‘que’, mas do ‘como’ (...) nós vemos e ouvimos”. O que importava era a linguagem utilizada e não os significados contidos nas peças. Esplêndidos cartazes da França, Itália e Alemanha, exatamente desse período entre guerras, estão na exposição Vox Populi – em português, a “Voz do povo” –, em exibição no Centro Sackler para a Educação Artística, no Museu Guggenheim em Nova York. Até 9 de janeiro de 2011. + guggenheim.org
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ANDERSEN E O SILÊNCIO DO NÃO-MOVIMENTO por_FELIPE GOLLNICK imagem_DIVULGAÇÃO Mon
Em 1892 um navio quebrou na costa de Paranaguá. Por sorte, um
norueguês (um norueguês!) estava nele: Alfredo Andersen, pintor nascido em Kristiansand, ao sul daquele país gelado, que se encantou de vez com a brasilidade dos terrenos tupiniquins e por aí resolveu ficar, instalando-se na cidade portuária – depois de uma passada por Cabedelo, na Paraíba, e mais tarde em Curitiba, onde viria a abrir um atelier que influenciaria diretamente a arte local. Uma boa síntese dessa trajetória está no Museu Oscar Niemeyer (MON), na exposição “Alfredo Andersen – da Noruega para o Brasil, a Trajetória do Pai da Pintura”, que comemora os 150 anos do nascimento desse artista que mais tarde viria a ser uma das grandes figuras pioneiras da pintura paranaense. A série de quadros começa ainda em Kristiansand: bucólicas paisagens frias próximas à cidade natal de Andersen são retratadas com alguma rigidez, como no regime estacionário do tempo que, em uma região pacata, insiste em passar sem pressa. Verdes campos e lagos tranquilos – mas gelados – quase nos fazem ouvir o silêncio de paisagens em que não há ninguém, em que nada acontece e nem deverá acontecer nas próximas horas (essa ausência de movimento que hoje, depois de tantos anos, nos é tão chocante).
As exceções são uma estrada de ferro entre os morros verdejantes da Serra do Mar, em que repentinamente uma locomotiva a vapor interrompe o silêncio e a “nãoação” da paisagem, e as águas agitadas e barulhentas das Sete Quedas, quadro que custou a Andersen 30 dias de viagem no lombo de um burro e contração de malária. Ainda há mais em seu trabalho: trabalhadores, rocios, baías, engenhos, marinheiros, araucárias e até um eremita. A sequência de pinturas termina em retratos dos ambientes do atelier e escola de arte montado por Andersen em Curitiba. É nesse espaço que ele atinge sua maturidade artística e forma seus primeiros alunos locais, vários deles influentes no cenário das artes no estado. Eis o pai da pintura paranaense.
+ Alfredo Andersen
da Noruega para o Brasil, a Trajetória do Pai da Pintura Período: até 03/04 Local: Museu Oscar Niemeyer Rua Marechal Hermes, 999 Curadoria: Wilson Andersen Ballão Ingresso: R$ 4 a inteira
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Caranguejos como recompensa “Do modo como eu vejo, a emoção é mais uma parte comum do dia a dia. Ela existe em todos. Seres humanos sem emoções simplesmente não existem (existem?).” “Sempre tenho a impressão de que as palavras estão saindo do meu corpo e não apenas da minha mente. Eu escrevo à mão e a caneta está arranhando as palavras na página. Posso até ouvir as palavras sendo escritas.” “Estou feliz, mas não existe carro no mundo que eu queira, existem lugares que eu gostaria de ir, mas não estou sedento por uma viagem ao redor do mundo. Também não quero uma casa enorme. Com o dinheiro que ganhei do Prêmio Pulitzer, comprei 12 caranguejos. Desde que eu estava na faculdade diziam que as pequenas coisas é que me deixam feliz.” “Antes disso, minha única experiência de trauma ligado ao tempo foi quando tinha 15 anos e caí da janela do meu quarto tentando fumar um cigarro – foi uma experiência profundamente surreal.” Haruki Murakami, Paul Aster, Zadie Smith e Edward P. Jones são, respectivamente, os autores
das frases acima que estão no livro Conversas Entre Escritores, publicado no Brasil pela editora curitibana Arte e Letra. A ideia vem da compilação de entrevistas publicadas na Believer, uma das revistas literárias mais importantes dos Estados Unidos. Uma grande característica é a seção de entrevistas, feitas quase sempre por um escritor que sugere o nome de outro autor com quem gostaria de conversar. O resultado é a oportunidade de os leitores compartilharem como aconteceram momentos de criação, o que os autores pensam e fazem no dia a dia. Os bate-papos desses e mais 17 escritores (entre eles dramaturgos, memorialistas, jornalistas e poetas) estão reunidos nas 315 páginas do livro, organizado pela roterista Vendela Vida. Conversas Entre Escritores Tradução de Irinêo Netto, Miguel Abib Neto e Ernesto Klüpel Editora Arte e Letra R$ 59
por_THAISA CAROLINA imagem_DIVULGAÇÃO
Um dos pontos interessantes da publicação é que as conversas aconteceram de forma diferente uma da outra. A com Murakami, por exemplo, foi feita em inglês por Sean Wilsey e respondida em japonês, por e-mail. Sarah Manguso levou o cachorro para passear enquanto falava com Amy Hempel; Edward P. Jones e ZZ Packer levaram dois telefonemas para concluir a troca de ideias e Adam Thirlwell descobriu um pouco mais de Tom Stoppard durante uma partida de críquete e na viagem de carro a Londres depois do jogo. Embora nem todos sejam grandes conhecidos dos brasileiros, a compilação é extremamente essencial para quem gosta não só de literatura, mas também de compartilhar as coisas simples, inspiradoras e curiosas da vida. + ARTEELETRA.COM.BR
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MAIS POP QUANTO MAIS O TEMPO PASSA por_Marília Bobato
estilo ao nome do artista Keith Haring. Para quem não é desta época, o nome de Haring também não deve ser estranho, já que ecoa até os dias de hoje. Ele foi motivo de inspiração para muitos artistas e empresas. Uma dessas seria nada menos que a marca suíça Swatch, que usou a criatividade de Keith Haring por muito tempo em seus relógios. Madonna também homenageou o artista recentemente na apresentação da música Into the Groove, durante a Sticky & Sweet Tour, em que o cenário do palco trazia os famosos desenhos inspirados em Haring. O artista, que revolucionou com sua arte a década de 80, completa 20 anos de falecimento em 2010. Keith Haring morreu aos 31 anos de idade, sem jamais ter parado de trabalhar. Depois de anunciar em 1988 que tinha AIDS, a prevenção da doença ganhou sua atenção. Pouco antes de sua morte, montou a Keith Haring Foundation, que colabora com projetos de auxílio a crianças e de combate à AIDS. Durante toda sua carreira, seu estilo foi marcado por traços grossos, formas simplificadas e cores contrastantes. Haring começou a mostrar sua arte desenhando em painéis publicitários vazios do metrô de Nova York. Logo sua criatividade passou pelo crivo dos leigos e críticos. Não demorou muito para que conseguisse um agente para oferecer seus trabalhos a colecionadores, e Haring passou a viver exclusivamente de sua arte. Em pouco tempo, tinha obras exibidas em várias partes do mundo e se tornou um dos artistas mais conceituados de sua época.
Mas o sucesso também teve seus efeitos adversos. Em 1986, Haring parou de desenhar no metrô: seus desenhos eram roubados poucas horas depois de concluídos, e ressurgiam à venda em poucos dias. Mais tarde, o artista encontrou outra forma de deixar sua arte espalhada, abriu a Pop Shop na Lafayette Street, no SoHo, em Manhattan, com camisetas, bonés, estampas e muitos outros produtos concebidos por ele para venda.
Para os pequenos Este ano, as homenagens a Keith Haring ganharam o formato de livros. Nas livrarias brasileiras é possível encontrar pela primeira vez o antológico O Livro da Nina Para Guardar Pequenas Coisas. A protagonista, Nina Clemente, deu um depoimento inédito para a versão brasileira. Na época em que recebeu o incrível presente de Haring, Nina morava no Rio de Janeiro com a família. Outro lançamento sobre a vida do artista é o catálogo Ah, Se a Gente Não Precisasse Dormir, que traz depoimentos e análises de crianças e adolescentes norte-americanos sobre os trabalhos de Haring.
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Se você já era adolescente no início dos anos 80 e gostava de pop art, é bem provável que associe o
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ENTREVISTA
_Guilherme Fiuza
VIDA E OBRA por_MARÍLIA BOBATO fotos_HUMBERTO MICHATCHUK
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Discreto, o jornalista e escritor Guilherme Fiuza conta pouco sobre sua vida. Prefere as histórias dos personagens que já biografou. E é em meio a elas que relata suas experiências e a paixão pela escrita. Dentre os personagens que já descreveu está seu primo, João Guilherme Estrella, retratado em Meu Nome Não é Johnny. A obra lançada em 2004, seu primeiro livro, logo tornou-se um best-seller. Na sequência, deu origem ao filme assistido por mais de 2 milhões de espectadores. Depois, vieram os livros 3.000 Dias no Bunker, de 2006, sobre os bastidores do Plano Real, e Amazônia, 20° Andar, de 2008, história real sobre um grupo de amigos que decide se embrenhar na Amazônia para salvar a floresta. Este ano, o autor lançou mais uma biografia, Bussunda, a Vida do Casseta, que conta parte da história de um dos maiores humoristas brasileiros de todos os tempos. Nem só de biografias vive Fiuza. Apesar de acreditar que todas as suas obras têm um tom autobiográfico, ele também analisa a política nacional em seu blog na Revista Época. INVENTA - COMO VOCÊ ESCOLHE AS PESSOAS QUE SÃO DIGNAS DE UMA BIOGRAFIA? Guilherme Fiuza Como repórter, estou sempre procurando boas histórias para contar. Já me questionaram muito isso em Meu Nome Não é Johnny, o que eu pretendia, qual a mensagem que eu queria transmitir... No começo, me enrolava um pouquinho com essa pergunta e, em alguns momentos, percebi que não tinha uma mensagem. A verdade é que escrevi para entreter mesmo. Acho que as pessoas gostam de ouvir uma boa história, mesmo que ela não seja edificante ou construtiva em determinado sentido. Toda narrativa de transmissão de passagem da vida de alguém que tenha situações com as quais você pode projetar as suas próprias questões é interessante. O Bussunda é o cara que viveu durante muito tempo quase renegado pela família, ele não se adaptava a nada, a nenhuma situação: escola, família, sociedade, profissão. Era um vagabundo completo. A família bancou aquela situação durante anos, ela tinha um plano de sustento pra ele, os irmãos teriam de ajudá-lo financeiramente quando os pais não estivessem mais ali. Ele era um cara com tudo pra não ser nada. E ele não se afastou, não se revoltou, não pirou, não virou rebelde, ele foi na marcha do Bussundismo, de ser um cara que olha pra realidade de uma maneira desconfiada, com crítica pra tudo. E começou a exercer aquilo na vida, na praia, nas amizades, e assim evoluiu ao começar a escrever sobre aquilo no jornal Casseta Popular, que foi se tornando popular até que a televisão comprou esta ideia. IVT - COMO SURGIU A IDEIA DE ESCREVER A BIOGRAFIA DO BUSSUNDA? GF Começou quando o Bussunda morreu. Eu achei que era brincadeira, aliás ele já tinha brincado com a morte várias vezes. Em 2003, correu um boato muito forte na internet e era muito curioso porque vinha com toda uma teoria que justificava que o Bussunda tinha morrido e a TV Globo estava escondendo a morte dele preocupada com o Casseta & Planeta Urgente. Isso gerou um frenesi, uma excitação enorme. Não foi uma coisa que dominou o público todo, a opinião pública, mas uma parcela das pessoas da internet ficou com aquela dúvida.
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Esse boato prosperou durante um certo tempo, até que o grupo Casseta & Planeta fez uma gravação com os seis integrantes em pé e o Bussunda sentado numa mesa com a cabeça caída e diziam: “Estamos aqui pra dizer ao público brasileiro que o Bussunda não morreu, ele tá muito bem, não é, Bussunda?” Aí, um deles pegou a cabeça dele e balançou. “Bussunda, dá um tchauzinho pra mostrar pro pessoal que você tá bem”. Aí, pegavam a mão dele e sacudiam. “Bussunda, tão dizendo por aí que além de morto você é corno, é verdade?”. E sacudiam a cabeça dele pra cima e pra baixo: “Bussunda, tão dizendo por aí que além de morto e corno, você é vascaíno”. Aí ele levanta e diz: “Vascaíno, nem morto!”. (risos) Então, quando saiu a notícia da morte dele foi um negócio que chocou todo mundo. Era muito estranho o Bussunda morrer, ele não combinava com a morte. Ele se notabilizou pela alegria, um cara escrachado, que não levava nada a sério e de repente ele morre! Quando li a notícia do enfarte, achei que era uma piada. Era na Copa do Mundo, véspera do jogo do Brasil, não combinava. IVT - HÁ ALGUM FATO ESPECÍFICO AO HUMOR DELE QUE TE SURPREENDEU? GF Via o Bussunda na televisão e achava ele o cara menos espontâneo. Conhecendo a adolescência dele, percebi que o jeito de ele se colocar na vida, de fazer as coisas era muito mesmo o jeito dele de ser. Quando ele tinha uns 12, 13 anos, ficou três dias sem sair do quarto. O irmão dele, Sérgio, cinco anos mais velho, ficou preocupado porque o Bussunda era tímido, achou que ele estava deprimido. Quando ele foi conversar com o Bussunda, tentando incentivar ele a sair do quarto, o Bussunda disse que não queria sair dali porque estava com muito azar. O irmão achou que aquilo era uma desculpa qualquer, um álibi pra uma possível depressão. Então, deu dinheiro pra ele ir até a banca, comprar jornal pra ver notícias do Flamengo, seu time. O Sérgio saiu de casa, foi fazer as coisas dele e quando voltou viu que tinha uma pequena multidão no saguão do prédio, que o elevador tinha enguiçado e as pessoas estavam preocupadas porque tinha uma pessoa presa no elevador. Quando conseguiram abrir o elevador, sai o Bussunda, dá de cara com o Sérgio e diz: “Eu não falei que tava com azar?”. E voltou para o quarto.
IVT - DIFERENTE DOS SEUS OUTROS LIVROS, VOCÊ NÃO CONHECEU PESSOALMENTE O BUSSUNDA. NÃO CONHECER O BIOGRAFADO ATRAPALHA OU AJUDA? GF Na hora de escrever isso foi bom porque eu não tinha nenhuma ligação direta com ele, nem afetiva, nem especial, nem nada. Claro que há coisas que você não precisa pesquisar quando conhece a figura e isso faz um pouco de falta. Eu não tinha tanto fascínio por ele como pessoa, não achava ele o mais engraçado do grupo, por exemplo. E devo admitir que me tornei um fascinado pela figura dele depois de fazer o livro. IVT - É MAIS DIFÍCIL FAZER BIOGRAFIA DE UMA PESSOA QUE JÁ MORREU OU QUE AINDA ESTÁ VIVA? GF É difícil comparar. Em tese, pode haver os dois cenários, porque se o cara que está vivo tem interferência, se vai agradar ou não. O Fernando Morais, por exemplo, fez a do Paulo Coelho e diz que nunca mais faz biografia de gente viva. Por outro lado, o personagem vivo pode te dar entrevista, né? IVT - COMO FOI PRODUZIR A OBRA SOBRE O BUSSUNDA EM UM ESPAÇO TÃO CURTO DE TEMPO? GF Foi um ritmo absurdo, muito penoso. Algumas coisas começaram a acontecer nesse período e comecei a me sentir vulnerável. Percebi que comecei a escrever o livro com a mesma idade em que o Bussunda morreu, aos 43 anos. Meu pai morreu enquanto estava escrevendo e me separei logo depois. Em outro momento, me acidentei gravemente de carro. Então, tudo isso acabou sendo uma certa gincana. Não sou mítico, mas cheguei a sonhar que salvava o Bussunda da morte. E que eu, como biógrafo, tinha ainda a informação de que ele iria estar no voo da Air France... IVT - COM tANTAS pesquisas, comO DEFINIR O QUE ENTRA OU NÃO EM UMA BIOGRAFIA? GF Se você entrar numa de fazer um painel completo você dança. Com um personagem como Bussunda, você fica dez anos nisso. Vai aparecer coisa e você vai se perder. Com todo o respeito, tem muita biografia que perde o fio tentando ser tão completa, você acaba lendo um relatório. Não estou dizendo que esse é o melhor ou pior modelo de biografia, mas procuro fugir disso.
O Fernando Morais, por exemplo, fez a biografia do Paulo Coelho e diz que nunca mais faz biografia de gente viva. ENTREVISTA_ Guilherme Fiuza
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IVT - ASSIM COMO NO LIVRO MEU NOME NÃO É JONNHY, A BIOGRAFIA DE BUSSUNDA NÃO SEGUE UMA LINEARIDADE. FOI PROPOSITAL? GF Sim. É uma apuração monumental e você sai com um caminhão de material, todas as formas, mídias... Faço um mapa disso, vou reduzindo, reduzindo, separo o mais importante. Antes de começar a escrever um livro, tenho um decálogo da história, 80 horas gravadas, quilos de papel... Entre os mil, tenho dez pontos de importância, aí sei o que tenho pra contar. E vou escolher uma linha de dramaticidade. A minha linha para o Bussunda era a história de um cara que tinha tudo pra não ser nada e se torna um ídolo da principal emissora da televisão brasileira. Era o que achava mais forte pra conduzir a narrativa.
Em 3.000 Dias no Bunker, muita gente lê e vê que tem surfista, modelo e não acreditam naquilo. E é isso mesmo, é você pegar o Plano Real, uma coisa que mudou realmente a vida nacional, e extrair o aspecto humano, a adrenalina, mostrar como são aqueles caras, como eles chegaram até ali, pelo que passavam naquele momento, as tomadas de decisão, sem me afastar dos personagens reais. Então o que espero é conseguir encontrar dramaticidade sem desconectar o personagem da figura real.
IVT_ QUAL O FILME QUE VOCÊ MAIS ASSISTIU? GF Butch Cassidy e Sundance Kid devo ter assistido umas 20 vezes, na boa. Ah, e do (Frederico) Fellini, vários.
IVT - PRÓXIMOS PROJETOS DE LIVRO? GF Não tenho. Nos últimos seis anos, lancei quatro livros e é um ritmo muito, muito forte para livros porque gosto de caprichar muito. Eu entrego, dou minha vida por isso, fico uma pessoa às vezes insuportável pra ficar do lado.
IVT – QUAl A MELHOR BIOGRAFIA QUE VOCÊ JÁ LEU? GF Chatô, o Rei do Brasil, do Fernando Morais. Adoro! O Anjo Pornográfico, de Ruy Castro, acho espetacular. Gostei dessa última do John Lennon, que também é uma vida do casseta. É um cara sobre quem já se falou muito e é interessante porque tem muitos personagens dentro dele, como o Lennon maldito, que é muito pouco conhecido. O Lennon é o pacifista, mas o Lennon é o demônio. Essa biografia mostra bem esse aspecto de um cara dilacerado internamente, em constante conflito. Daí saía a arte dele. Uma boa biografia é isso. Ela tem de agarrar o espírito do cara, dizer quem é aquele cara! Tem de revelar o íntimo da pessoa e não ser apenas um grande dicionário do que ele fez.
Tem grandes escritores que escrevem em série muito bem, mas não tenho esse dom. É muito penoso. Eu também sou jornalista, escrevo de outras formas e posso dizer que em nenhum dos meus livros fui como um artilheiro que só esperou a bola pingar pra chutar.
Um tratamento não dava, dois, três, quatro... Foram muitos tratamentos até verem que não dava pra pegar o livro como a base estrutural do roteiro cinematográfico. Trezentas e poucas páginas para duas horas de filme? Não dá. Então, o que jogar fora? Tive uma participação informal nisso. O roteiro é do Paulo Lima, o diretor, e da Marisa Leão, a produtora.
IVT - QUAIS AS PRINCIPAIS DIFERENÇAS ENTRE O TEXTO JORNALÍSTICO E BIOGRÁFICO? GF A pesquisa, escrever sobre fatos reais tem a ver com o jornalismo. Mas o texto... Até tentei dizer no início que era reportagem, mas depois me convenceram que não é. Em Meu Nome Não é Johnny, chegaram a dizer que dei uma romantizada. Digo que não, porque aí entra um pouco o trabalho do autor, do narrador, que é perceber, com sensibilidade, as coisas bacanas que acontecem no dia a dia das pessoas, o que elas sentiram em determinado momento, fazer um mergulho psicológico... São essas coisas que dão a pegada na narrativa, que fazem você encontrar o livro que há na vida de cada pessoa real.
IVT - VOCÊ LÊ BASTANTE? GF Mais ou menos. Quer dizer, leio bastante, mas de um escritor muitas vezes espera-se que seja um devorador de livros, e eu não li todos os clássicos. Estou sempre lendo um livro... Mas não li Proust, por exemplo. Li pouca coisa de Dostoiévski, Thomas Mann. Apesar de adorar ler, não me considero um bom leitor. Quando trabalhava em redação de jornal, lia poucos livros por falta de tempo. Quando era editor do O Globo, por exemplo, tinha de ler todos os jornais, saber o que saía em todos eles. IVT – HOBBIES? GF Gosto de voo livre e futebol. (pausa). Cinema. Adoro rever filmes, até porque lançam uma quantidade enorme de filmes ruins, então vejo um filme bom muitas vezes.
IVT_ E MEU NOME NÃO É JOHNNY? GF Ah, esse tive de ver muitas. (risos) Gostei, me divirto vendo. A gente sofreu muito pra fazer, todo mundo achava que o livro era o roteiro. Não foi bem assim, o livro é muito ritmado. Os próprios produtores achavam que o roteiro estava no livro.
IVT - e TEM PROPOSTA PRA VIDA DO BUSSUNDA VIRAR UM FILME? GF Tem conversas informais. Acho difícil. Quem é que vai fazer o Bussunda? Quem vai ser o ator? Porque o Bussunda era apaixonante. Tem ali um magnetismo que é muito ligado a essa figura. Então, você criar um Bussunda que convença... difícil. Mas tem conversas aí, uns diretores dizem que vão saber fazer.
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CULPAD por_ISADORA HOFSTAETTER PITELLA ilustração_TOM 14
Emília, de Monteiro Lobato, no livro Memórias de Emília filosofando dizia: “A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem para de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda até que dorme e não acorda mais. É portanto um pisca-pisca”. Antes era pisca-casa e pisca-fica-atémorrer. Hoje, pisca-casa, pisca-separa. Para cada quatro casamentos oficializados no Brasil em 2007, foi registrada uma dissolução. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE), naquele mesmo ano, o número de casamentos subiu, mas os registros de divórcio dispararam. Em 2007, 916 mil casais oficializaram a união, 3% a mais do que em 2006. E, a soma de divórcios e separações judiciais envolveu 231 mil casais, um aumento de 44% com relação ao mesmo período de 2006. Entre os diversos possíveis fatores para o aumento no número de divórcios, a facilidade no processo de separação aparece como um dos mais comentados. Em julho deste ano, o Governo Federal aprovou a nova lei do divórcio.
Uma emenda constitucional que, para casais sem filhos menores de idade, elimina a necessidade do requisito “tempo de separação”. Antes dessa lei era preciso estar separado judicialmente por mais de um ano ou comprovar separação de fato – residências diferentes – por mais de dois anos. Agora, tudo pode ser resolvido em um só dia. Para os (as) mais feministas, a independência da mulher pode ser a causadora de tantos rompimentos. Uso de remédios para ereção, facilidade em encontrar novos relacionamentos, o avanço da medicina. É possível listar diversos possíveis fatores para o aumento no número de divórcios.
33 Para o francês Luc Ferry, considerado um dos maiores filósofos da atualidade, uma única resposta: o amor é o culpado dessas estatísticas. No ano em que a foto mais famosa do líder revolucionário Che Guevara, registrada por Alberto Korda, completa 50 anos, Ferry - que esteve em Curitiba esse amor proferindo a palestra Aprender a Viver – defende que vivemos uma nova revolução: a Revolução do Amor. Humanista, o ex-Ministro de Educação da França, autor de best-sellers e ateu declarado, afirma que hoje vivemos a ideia do Sagrado Humano. Não mais a Pátria, não mais a Religião, não mais a Revolução, seja ela de Che ou de outros que ficaram na História. Hoje, cada família – divorciada ou não – tem o seu Sagrado, o seu motivo de viver e morrer.
A REVOLUÇÃO DO AMOR INVENTA – Vivemos o fim do sagrado ou ele mudou de figura? Luc Ferry Nós vivemos uma revolução que acontece a cada 2 mil anos. Nós vivemos no Ocidente a liquidação de todas as figuras tradicionais do sagrado. O sagrado não é o religioso, é aquilo pelo que podemos nos sacrificar, dar nossas vidas. Valores são sagrados quando podemos morrer por eles. Os ocidentais morreram pelo que na História? Por Deus – nas guerras religiosas, pela pátria – nas terríveis guerras nacionalistas, e pela revolução – o maoísmo, por exemplo, fez 70 mil mortes. Essas são as três figuras tradicionais do sagrado: o Religioso, a Pátria e a Revolução. Hoje, nas gerações mais novas e até na minha, ninguém mais no Ocidente estaria disposto a morrer por esses motivos. Acabou. E eu não tenho nenhuma nostalgia disso. Essa é a melhor boa nova do milênio. IVT – Hoje, nos sacrificamos por alguma coisa? LF Questione-se e responda com o coração: você estaria disposta a morrer pelo que? A maioria de nós diria que estamos dispostos a arriscar nossas vidas por aqueles que amamos: nossos filhos, nossos pais, nossos irmãos, pelo ser humano. Pense nesse arquétipo, nesse modelo que foi o código de honra do marinheiro que deve morrer, afundar com o seu navio apesar da tripulação e dos passageiros terem saído com vida. O comandante do Titanic deve que morrer com o navio. Nos dias de hoje, ninguém mais está disposto a morrer por um barco, mas pelas pessoas que estão ali dentro, sim. Isso é uma notícia formidável. Isso vai transformar, nos próximos anos, a cultura, a política, a moral, a filosofia e a espiritualidade. Não acredite que a gente vive o desencanto do mundo, não acredite que a gente vive o final dos ideais, dos grandes desígnios, é exatamente o contrário. Vivemos o renascimento de um imenso projeto que se fundamenta na ideia de que o único sagrado real é o humano.
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O sagrado agora tem o rosto humano. Luc Ferry
IVT – O amor é “culpado”? LF Há três grandes revoluções: a Revolução Cristã, a Revolução Cientifica, séculos XVII e XVII e uma terceira revolução que é a Democrática, do humanismo moderno, da igualdade. Hoje, há uma quarta revolução, que muda completamente a situação: é a Revolução do Amor moderno. É o nascimento, no Ocidente, da história do casamento por amor. E o que isso significa? Um casamento concebido por amor e pelo amor. Na Idade Média, nos tempos antigos, nas sociedades tradicionais, nos antigos regimes, o casamento por amor não existia. Casava-se por outras razões: a linhagem, a transmissão do nome e do patrimônio ao filho mais velho, a biologia, a economia, para que a atividade pudesse caminhar. O casamento por amor é uma invenção recente do ocidente e causou, causa, uma revolução. A consequência disso, a primeira e mais visível, é a invenção do divórcio. O amor é muito mais frágil que os fatores do casamento de antigamente. Hoje, as pessoas da direita, geralmente, têm aquela nostalgia: ninguém se divorciava, as famílias não acabavam. Isso é um erro, antes as pessoas não se divorciavam pois não se amavam. O casamento em que ninguém se separava era inseparável de uma instituição que era o bordel. No casamento tradicional as mulheres sacrificavam suas vidas – profissional e afetiva – por maridos que as enganavam. Essa é a verdade.
IVT – Dentro desse contexto, qual a função da filosofia? LF A filosofia não é nada além de uma tentativa de responder a seguinte questão: o que é uma vida boa? O que é uma vida com êxito para os mortais, únicos seres nessa terra que sabem que vão morrer? Epicuro tem uma argumentação bem simples que consiste em dizer: quando eu estou aqui, estou vivo, a morte não está aqui. E quando ela está aqui, eu não estou mais aqui. Então, eu nunca vou me encontrar com a morte. Essa argumentação é lógica, mas nunca convenceu ninguém. Quando digo que a filosofia é primeiramente tentarmos vencer o medo da morte, na realidade, a gente nunca vence o medo da morte, sobretudo a morte daqueles que amamos. Como todo pai, morro de medo de receber um telefonema que me digam que uma das minhas filhas teve um acidente. E esse medo vou ter durante toda a minha vida. Não acredito em Epicuro, nem nos estóicos e nem nos budistas. A questão real não é vencer o medo da morte, a gente não se livra nunca deste medo. A questão da filosofia é algo diferente: o que é uma vida boa apesar da morte? IVT – E qual seria a base dessa vida boa? LF O ponto de partida da filosofia é a ideia de que uma vida de mortal com êxito é preferível a uma vida de imortal fracassada. São três as ideias que vão definir isso: Nenhuma vida boa é possível se os seres humanos não aceitarem a morte, isto é, a condição humana. Enquanto continuarmos tendo medo da morte, nos angustiarmos com a morte, enquanto contarmos histórias de imortalidade, vamos viver a angustia e não poderemos ter acesso à serenidade, à sabedoria. O sábio é primeiramente, antes de mais nada, aquele que aceita a morte.
O segundo critério da vida boa versa com os gregos, que tinham a ideia que há duas calamidades que pesam na vida dos mortais: o passado e o futuro. Constantemente, o passado nos puxa para trás. Quando o passado foi feliz, temos nostalgia dos bons tempos. Quando o passado foi infeliz, vivemos no remorso, na culpa. Então a gente se precipita e se joga no futuro, achando que isso vai ser melhor e que tudo vai melhorar depois. O melhor é sempre depois. Nós nunca vivemos o presente, estamos constantemente no passado, no futuro, nunca aqui e agora. Ou seja, o sábio é também aquele que consegue lamentar um pouco menos seu passado, esperar um pouco menos do seu futuro, e amar um pouco mais o presente. Carpe Diem. Quando o ser humano se reconcilia com a ordem cósmica, aquilo que os gregos chamam de cosmos, o homem compreende que ele é um fragmento de eternidade. Essa é a terceira ideia. IVT – Essas ideias são individuais, solitárias. Há responsabilidade coletiva, há moralidade? LF No fundo é bem simples: nós agimos moralmente com os outros quando nós respeitamos o outro. E, além disso, quando somos gentis, generosos, temos benevolência pelo outro. A moral é o respeito mais a generosidade. Imagine a seguinte fábula: todos os seres humanos se conduzem e agem moralmente. Todos nos respeitamos, somos gentis. Não haveria mais guerra, nem genocídio, nem massacre. Não haveria mais violação, nem desigualdade berrante. A gente não precisaria mais de exército ou de prisão, de sistemas repressivos, da policia. A face do mundo mudaria completamente. Imediatamente o que são os valores espirituais? O que não tem nada a ver com os valores morais. Mesmo que não tenhamos essa atitude moral uns com os outros, ou mesmo que tenhamos, isso não nos impede de morrer.
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Vocês podem ser perfeitos do ponto de vista moral, mas vocês vão morrer do mesmo jeito. Isso não os impedirá de perder um ente amado, de sofrer, de perder um filho em um acidente, de perder seus pais, seus irmãos e irmãs, maridos, esposas. A perda de um ser amado não é uma questão moral. Vocês podem ter uma questão moral perfeita, que isso não vai impedi-los de envelhecer. Vocês vão ter cabelo branco, vão perder cabelo mesmo que vocês atuem dentro da moral. Isso também não os impedirá de serem “chifrudos” no amor, infelizmente. Isso não os impedirá de se apaixonar por um homem ou uma mulher que não os ama. Em toda a história da Literatura, desde o século XVII, desde a invenção do romance moderno, há pessoas fantásticas moralmente, mas infelizes no amor. Isso não vai impedir que a gente sofra de tédio, de achar que a vida cotidiana é banal, que levantar todas as manhãs com uma mesma mulher ou um homem na mesma cama é cansativo. A gente pode ter vontade de mudar. Todas as questões, a questão da morte, a questão dos anos que passam, a questão da banalidade da vida cotidiana, a questão do luto, não tem nenhuma relação com a moral. Isso diz respeito à outra esfera de valores, na minha opinião, muito mais importantes que os valores morais. Quando nos apaixonamos, a gente fica muito mais preocupado com a pessoa amada do que com todas as questões morais. Quando o médico lhe diz que você está com câncer, você fica muito mais preocupado com isso do que com todas as questões morais.
IVT – Então, qual seria a diferença entre a espiritualidade religiosa e a filosófica? LF Se você acredita na ressurreição do corpo, que você vai encontrar aqueles que você ama após a morte, você não precisa de filosofia. Você tem tudo o que é necessário para viver. Mas se você não acredita, então leia os grandes filósofos, não tem nada melhor, é genial. O que é genial são as respostas que eles dão para a vida boa dos mortais. Essa é a diferença irredutível entre Filosofia e Religião. Há um momento em que é necessário nas religiões, abandonar a razão para dar lugar à fé. Se vocês não têm fé, a promessa de Cristo não vai funcionar.
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A REVIRAVOLTA DOS QUADRINHOS por_THAISA CAROLINA ilustrações inéditas do seu novo livro ainda não lançado_LOURENÇO MUTARELLI
São 6h30 e Lourenço Mutarelli já está de pé. Na frente do menor espaço
de seu apartamento, em São Paulo, uma grade branca e uma placa com a frase “Proibida a entrada de pessoas estranhas, gatos e gatos estranhos” o separa de todo o resto. Está claro que mais ninguém, nem mesmo qualquer um de seus cinco felinos pode passar para o outro lado. É nesse pequeno espaço que o artista passa a manhã inteira. Criando. E ele faz quase tudo sempre igual, todos os dias. É ali que se encontram seus materiais de criação e inspiração: CDs de música instrumental (principalmente Philip Glass), pilhas de livros, tintas, cores e um laptop. Geralmente só deixa o ambiente às 14 horas. O resto do dia vive coisas que o distanciam do trabalho de escritor e desenhista. Mas nem sempre foi assim. Há 20 anos, o isolamento chegava a durar quase 18 horas por dia. Foi nessa época que surgiram álbuns magníficos: Transubstanciação, O Dobro de Cinco, o Rei do Ponto e A Soma de Tudo. Um dos mais importantes quadrinistas do Brasil guardou as sequências de desenhos na gaveta e não lança nada na área desde Caixa de Areia, em 2005. Conta que, depois de tantos anos trabalhando por excessivas horas diariamente, os quadrinhos viraram obrigação, chegaram a causar até certo desprazer e um imenso prejuízo econômico. Ok. Só que desenhar nunca saiu da sua vida. Desde 2001, seus traços de nanquim ilustram cadernos e moleskines, contando seu cotidiano e misturando-se a bilhetes e mapas. Desde o início de 2010, Mutarelli publica no jornal O Estado de S. Paulo um apanhado de tiras feitas com tinta acrílica chamado Ensaio Sobre a Bobeira. Foi na metade dos anos 90, alguns anos antes de estacionar a criação de HQs, que o mercado editoral de quadrinhos brasileiros sofreu um declínio. O motivo? Os heróis norte-americanos, principalmente os de Allan Moore, caíram no nosso gosto, quase não deixando espaço para a produção nacional. O curitibano José Aguiar que publicará em breve um álbum com histórias em quadrinhos de personagens da companhia teatral Vigor Mortis e o livro Reisetagebuch - Uma viagem ilustrada pela Alemanha, lembra que foram os brasileiros, junto dos alemães e suíços, os precursores dos quadrinhos no mundo. “Foi o ítalo-brasileiro Angelo Agostini que iniciou a tradição das charges com sátiras políticas nos jornais do país, em 1869”, diz. Apesar de estarmos historicamente mais perto dos europeus, a história das HQs brasileiras pouco dialogou com o velho continente. Quando houve uma retomada do estilo no país, no final dos anos 30, a preferência foi por fazer algo parecido com os super-heróis estadunidenses.
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DITADURA Em 1968, surge no país o semanário Pasquim e, com ele, uma geração de cartunistas e chargistas que muito bem satirizavam as mazelas do regime militar: Ziraldo (que também fazia quadrinhos), Jaguar, Henfil, Millôr Fernandes, Claudius Ceccon e Miguel Paiva. O desenho nacional ganhava, então, uma personalidade própria, menos comportado do que o americano. Isso refletiu nos álbuns. Na década de 60, os mais vendidos eram os pornográficos, eróticos e de terror, de preferência com histórias ambientadas em terras brasileiras.
“Quando você tem uma situação social de censura, a arte acaba refletindo o terror e as coisas absurdas. A tendência é ir contra tudo o que é proibido. A época e o tom das histórias eram os mesmos das pornochanchadas do cinema”, diz José Aguiar, ao lembrar que as revistas da personagem Maria Erótica, feitas por Cláudio Seto e publicadas pela Grafipar, foram presas numa cela porque os militares não encontraram seu autor. Parte do resgate começou recentemente. A editora Peixe Grande lançou Quadrinhos Sacanas – O Catecismo Brasileiro no Traço dos Herdeiros de Carlos Zéfiro, uma coleção com livrinhos parecidos
com as histórias de Carlos Zéfiro, um dos mestres do estilo erótico alternativo, feitas entre os anos 50 e 80 por outros autores, alguns, inclusive, anônimos. A mesma editora também acaba de colocar nas prateleiras Guerra dos Gibis 2 – Maria Erótica e o Clamor do Sexo, resultado de 20 anos de pesquisa do jornalista Gonçalo Júnior sobre as histórias da paulistana Edrel e da curitibana Grafipar, duas editoras que agregaram grandes nomes dos quadrinhos dos anos 60 e 70. Além de texto, o livro traz mais de 500 imagens para quem quer entender o comportamento sexual e os bastidores da censura no país nos últimos 50 anos.
RENASCIMENTO SÉCULO XXI Nos anos 70, a revista MAD começou a circular em português com material original traduzido e colaborações de Ota. Fez tanto sucesso que impulsionou o surgimento de revistas de humor nacionais, como a Pancada e a Crazy. Na linha de crítica social apareceu, então, a Balão, com duração de apenas dez números. Alguns de seus fundadores, Laerte e Luiz Gê, são referências até hoje. Quinze anos mais tarde, surgem dois novos (e importantes!) personagens da nossa história: Angeli e Glauco. Com Laerte, eles produziram a saudosa Chiclete com Banana, uma revista que surgiu das tirinhas. Nas 24 edições, a publicação andou ao lado da redemocratização do Brasil e suas páginas guardam um precioso apanhado das criações mais geniais e engraçadas que tivemos. Se depois disso vieram os anos 90, a década perdida para a classe quadrinística (o plano Collor aumentou o preço do papel e quebrou a indústria gráfica), hoje vivemos em uma explosão de lançamentos. “O boom começou por volta de 2006, quando grandes editoras como Companhia das Letras, Zarabatana e Conrad perceberam que os artistas que já existiam melhoraram seus traços e roteiros. Isso aconteceu num momento em que a internet se mostrou uma boa vitrine e lugar de troca de ideias entre escritores e desenhistas”, afirma o quadrinhista Guilherme Caldas, que acaba de lançar Candyland (editoras Barba Negra e Caderno Listrado). Com 72 páginas, o livro reúne as histórias mais recentes e algumas inéditas da série desenhada por ele e escrita por Olavo Rocha sobre Martin, um cara que tenta, de várias formas, se identificar no mundo, mas quase sempre dá tudo errado.
André Dahmer é um dos novos. Em três anos, publicou três livros de tirinhas: O livro negro de André, Malvados e A cabeça é a ilha. Arnaldo Branco, criador do Capitão Presença, é outro. Fábio Moon e Gabriel Bá (conhecidos como Os Gêmeos), Rafael Albuquerque, Rafael Grampá, Rafael Pelizzari, Jean Galvão, Claudio Mor, S. Lobo, Fábio Lyra, Eduardo Felipe, Fábio Zimbres, Rafael Sica, Alan Sieber, Benett e o pessoal da Revista Beleléu também fazem parte da nova geração. Para Caldas, vivemos o começo de um enorme avanço em um país que não tem tradição em artes gráficas. E que começo! Em 2010, o selo Barba Negra fechou parceria com o conglomerado português LeYa. Os primeiros lançamentos da fusão (as coletâneas de tirinhas Vó, de Jean Galvão, Mundinho Animal, de
Arnaldo Branco e O Relatório do Sexo, de Ota) aconteceram em agosto, na 21ª Bienal Internacional do Livro, em São Paulo. Em 2009, a Companhia das Letras lançou o selo Quadrinhos na Cia., que publicou recentemente um dos álbuns que mais agradaram público e crítica e já está na segunda edição: Cachalote, escrito por Daniel Galera e desenhado por Rafael Coutinho. Para outubro de 2011, a editora planeja o lançamento da obra Quando Meu Pai se Encontrou com o ET Fazia um Dia Quente, de Mutarelli. “Inicialmente me pediram para fazer uma HQ. Depois vi que seria melhor como estou fazendo: uma ilustração por página, pintada com tinta acrílica”, conta o autor que adiantou, exclusivamente para a Inventa, algumas das ilustrações do álbum, que compõem esta reportagem.
SOCIEDADE DOS QUADRINHOS No dia 12 de outubro de 1989, uma inauguração na Rua Visconde do Rio Branco mudaria para sempre a relação da população curitibana com os quadrinhos. Ali se instalou a Itiban, primeira e única loja especializada em HQ da cidade, atualmente uma das mais interessantes do país. Apaixonados por quadrinhos, música e cinema, o casal Xico Utrabo e Mitie Taketani viu na loja uma forma de levar a muitas pessoas a sua primeira paixão. Fizeram grandes parcerias e eventos na Gibiteca de Curitiba e na Bienal de HQ da capital paranaense. Xico passou a ir para os Estados Unidos somente para trazer materiais inéditos e vender na loja. A fórmula funcionou tão bem que, depois de passar por mais um endereço, há dez anos, a Itiban finalmente se instalou no número 845 da Avenida Silva Jardim – em um espaço maior que possibilita a vinda de diversos artistas gráficos e escritores para lançar obras e bater papo com o público. Por ali, já passaram quase todos os quadrinistas citados nesta matéria.
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15 MINUTOS _OTTO por_THAISA CAROLINA foto_PRISCILLA SCURUPA
Uma antiga lenda diz que um pássaro ameaçava uma aldeia e Oxossi, um dos caçadores do lugar, foi chamado para matar o animal. Ele só tinha uma flecha e não podia errar, pois todos os outros já haviam tentado e errado o alvo. Com sua pontaria perfeita, ele salvou a aldeia. Descendente de índios e holandeses, há muito tempo o cantor Otto descobriu carregar as características de Oxossi, patrono dos caboclos na Umbanda, e passou a usar uma fita verde amarrada no braço direito. Seu último disco, Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos, confirma essa percepção. Com 40 anos de idade, Otto o produziu de forma independente em meio a momentos dilacerantes, e acertou em cheio na melhor fase de sua carreira. Primeiro ganhou elogios do The New York Times para depois chegar no Brasil. Inquieto, falante e inventivo, o multi-instrumentista e compositor fez um pocket show em uma livraria de Curitiba. começou tocando Crua. Entre uma música e outra, tomou taças de espumante, falou conosco e desejou paz em todos os autógrafos que deu. A conversa você confere nesta entrevista exclusiva. INVENTA - POR QUE COMEÇOU SEU POCKET SHOW COM CRUA? OTTO A música Crua fala que sempre tem um lado bom e um lado ruim e a gente vai ter que viver nessa corda aí, sabe? Nem uma coisa nem outra e as duas ao mesmo tempo. E é a que mais acho que seja kafkiana. Conceituei esse disco em cima de Kafka porque ele era um cara que explicava direitinho a porra toda que é esse mundo. Por ora, né? Porque depois vou mudar. IVT - O que vai ser? OTTO A próxima inspiração é Truffaut, que é escritor e cineasta. Ele vai dar um pouquinho mais de leveza ao meu caminho. E o disco vai se chamar The Moon 11:11. Quero lançá-lo em 11/11/2011.
IVT - Você já tem composições pra esTe novo trabalho? OTTO Não. Mas vou ter daqui a pouco (risos). É que primeiro eu coloco o nome… o Saramago parece que faz isso. Então, coloco o nome da obra primeiro pra depois pensar no restante. Mas posso inventar uma música aqui, agora. IVT - O que te inspira? OTTO Tudo que mostra como o ser humano vive. O ser humano me inspira, minha filha, amigos... A dor quando me inspira é pra melhorar e o prazer é pra continuar. Eu vivo do que eu escrevo. O último CD foi muito isso… é acreditar na independência, no que escrevo e que o meu público tá sempre comigo. É estar com a banda, estar com o público, tocar, viajar. No final, é isso. Acho que o cantor é o espelho das pessoas. Por exemplo, a música Agora Sim fala “Agora sim o saci, agora são dois irmãos...”. Lá em Pernambuco saci quer dizer bronca, é briga, discussão. E quando minha filha Betina nasceu, eu disse: “Pronto, agora vão ser dois irmãos e vai eles vão brigar!” e a música foi surgindo. É tudo isso que me inspira. IVT - Qual foi a sua impressão quando chegou pela primeira vez em Curitiba? OTTO A de que era uma cidade urbana, que tem um potencial grande. Fora o Coxa, o Atlético (risos). Eu vim de ônibus pela primeira vez e vi as araucárias logo que se entra na cidade. São lindas! IVT - E o que mais você conhece em Curitiba? OTTO Eu sempre espero o café da manhã aqui pra comer o sagu de vinho. Eu adoro. O que eu posso falar? IVT - Lugares, pessoas, bandas... OTTO Conheço muitas coisas antigas. Eu já toquei aqui há muito tempo no bar do Saul, um trompetista, Saul Trumpet Bar. Sou do tempo do Aeroanta, da Ópera de Arame. Também conheço o Festival de Teatro, a Simone Spoladore, minha amiga. A Rua 24 Horas …. Existe ainda? IVT - Não. Tá fechada. OTTO Fechada? Coitada. Eu queria conhecer mais, mas volto muito pouco. É sempre mais difícil pra mim, talvez, sei lá, não sei, não sei… Não sou tão chamado pra tocar no Sul.
15 MINUTOS_Otto
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EM CURITIBA _FORUM DE MARKETING IDEIAS, INOVAÇÕES E CRIATIVIDADE ESTIVERAM EM PAUTA NO 4ª FÓRUM DE MARKETING E NEGÓCIOS DO PARANÁ, QUE ACONTECEU NOS DIAS 8 E 9 DE NOVEMBRO, NA UNIVERSIDADE POSITIVO. MAIS DE 2 MIL PESSOAS PUDERAM CONHECER AS ESTRATÉGIAS DE GRANDES LÍDERES E DESCOBRIR O SUCESSO DE GIGANTES COMO GOOGLE, COCA-COLA E REDE GLOBO. O DESTAQUE DESTE ANO FOI A ILUSTRE PARTICIPAÇÃO DO PROFESSOR MICHAEL PORTER, UMA DAS MAIORES AUTORIDADES MUNDIAIS DA ESTRATÉGIA COMPETITIVA, DIRETAMENTE DE NOVA YORK.
fotos_LIZ WOOD E DANIEL DEREVECKI
+ FORUMDEMARKETINGENEGOCIOS.COM.BR
01 - michael porter 02 - anco saraiva 03 - nigel hollis 04 - hugo rodrigues 05 - JOHN PLOUMITSAKOS 06 - MILENA SEABRA 07- SILVIO MEIRA
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EM CURITIBA _ITIBAN COMIC SHOP TRAÇOS, RISCOS E CORES NAS PAREDES QUE DELIMITAM O ESPAÇO REPLETO DE ESTANDES COM LIVROS E REVISTAS NA ITIBAN COMIC. PARA COMPLETAR A DIVERSÃO, GRANDES ESCRITORES, DESIGNERS E QUADRINISTAS COSTUMAM PASSAR POR LÁ PARA CONVERSAR COM O PÚBLICO E AUTOGRAFAR SUAS OBRAS. NO DIA 07 DE OUTUBRO, FOI A VEZ DO GÊNIO LAERTE (VESTIDO DE MULHER, COM DIREITO A SALTO ALTO E ESMALTE VERMELHO) FALAR SOBRE SEU MAIS RECENTE LIVRO, MUCHACHA. JÁ NO DIA 18 DE NOVEMBRO, O QUADRINISTA GUILHERME CALDAS E O ROTERISTA E CANTOR DA BANDA LESTICS, OLAVO ROCHA, LANÇARAM O LIVRO CANDYLAND.
01 – Amante dos quadrinhos desde pequenino 02 – Cartunista Sampaio, José Aguiar, Laerte, Pryscila Vieira, Marco Jacobsen e Solda. 03 – Laerte 04 – Ivan Santos 05 - Daniel Barbosa 06 - MARTIN 07 - Olavo Rocha E Guilherme Caldas
+ FLICKR.COM/PHOTOS/ITIBAN
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TRADUZINDO O MOMENTO O TEMPO TODO por_THAISA CAROLINA fotos_FRAN HUNTER
Pássaros, ninfas, florestas e cortes modernos aliados à alfaiataria desfilam pelas araras de sua loja, localizada em
uma das principais avenidas da capital paranaense. A última coleção de Roberto Arad tem a ver com seu espírito passarinho, que sabe a hora de sair da gaiola e ir em busca de liberdade para voar e criar. Tudo começou quando as artes cênicas deixaram de ser trabalho para ser inspiração. A paixão pelos figurinos das peças teatrais fez com que o palco fosse trocado pelas máquinas de costura. Ou melhor, pela estrada primeiro. Depois de dois anos estudando corte de tecidos no Rio de Janeiro, voltou a Curitiba, cidade que nunca saiu de sua mente. Ele via as pessoas, no Rio, usando muitas roupas de estilistas cariocas e queria despertar a preferência por marcas regionais na capital do Paraná. “Por que o Rio pode e a gente não?”, pensava este paranaense de Andirá que escolheu Curitiba como cidade natal.
Roberto já tinha um lugar no ateliê de sua mãe, especializado em camisas. E para lá foi. O primeiro voo fora do ninho materno aconteceu em 1990 quando um sobrinho pediu que fizesse uma camiseta exclusiva para ele. A T-shirt fez tanto sucesso por onde o menino passava que Roberto desenvolveu uma linha de camisetas sob a marca Orson Welles – nome de um de seus diretores cinematográficos favoritos e aquele que revelava muito bem a ideia do “underground chique”. Daí a participar de desfiles importantes do eixo Rio-São Paulo, criar figurinos para novelas globais e vender suas criações nas duas metrópoles, inclusive para personalidades famosas, foi uma voada só. Mas, como Curitiba nunca saiu de seus planos, preferiu concentrar criação, produção e comercialização na cidade que elegeu como seu lar. Veio, então, um período de coleções fracassadas, muito à frente do que pensava a sociedade e das quais ele se lembra rindo: “Foi aprendizado. Com isso percebi que minha função é traduzir o momento”. Especializou-se em design e, em 2000, inaugurou a loja que leva seu sobrenome, no número 664 da Avenida Vicente Machado.
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Enquanto vimos (e vemos!) diversas lojas migrarem para os shoppings nestes dez anos, esse polêmico designer permanece fiel ao mesmo endereço. E pretende por lá continuar, pois acredita que estar no shopping é estar distante de identidade e personalidade. “Sei quem são meus clientes, converso com eles, sei o que gostam e eles vêm aqui porque se identificam com o que faço. Se fosse para o shopping, teria de massificar o trabalho, a criação e deixar de ter peças exclusivas”, diz Arad. “No shopping, você vai achar roupa. E roupa não é moda! Moda é tradução do tempo, humor e hábito das pessoas. O designer traduz soluções para as pessoas e, pra isso, precisa ficar perto delas.” Para que suas asas não sejam cortadas precocemente – “Há muita competição no mercado local, o que torna o meu trabalho exaustivo. Tem de fazer o melhor, amar a moda e estar ligado em tudo” –, Roberto vê pouca coisa de moda e prefere se inspirar em cinema, quadrinhos, literatura, teatro, e, é claro!, na vida. “Leio caderno de negócios, mundo, política e economia para poder traduzir o momento, saber o que fazer e como fazer”. E... como a capital paranaense nunca saiu de seu céu, todos seus fornecedores e fabricantes são da Região Metropolitana de Curitiba. + ROBERTOARAD.COM.BR + @ARADSHOP
itiba.com.brfundacaocultu46 ndacaoculturaldecuritiba. aldecuritiba.com.brfundacom.brfundacaoculturaldeAGENDA CULTURAL
LABIRINTO DO MUNDO
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Com técnica de manipulação expressiva e sensível aliada à sonoplastia, os bonecos e demais objetos criam empatia e ganham vida nesta pequena fábula dedicada às crianças. A temática do espetáculo, dirigido e escrito por Cristine Conde, pretende sensibilizar os pequenos para a importância do respeito ao próximo e aos diferentes seres que habitam o planeta, além de mostrar a importância do meio ambiente.
EUSSOUTRO SOUMOS
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//LABIRINTO DO MUNDO – ESPETÁCULO DE FORMAS ANIMADAS Data: Todos os domingos, até dia 19 de dezembro Horário: 11h Local: Teatro do Piá Ingresso: gratuito
VOLTA ÀS TELAS
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Desde sua fundação, em 1975, a
Cinemateca de Curitiba tem como um de seus principais objetivos colaborar com os esforços de preservação da memória visual. No dia 29 de novembro, o espaço abriga a segunda fase do Volta às Telas, um projeto que devolve ao público uma parte da história cinematográfica do Brasil e do Paraná. Na programação estão filmes silenciosos e também sonoros das décadas de 1920 a 1950, que traçam um perfil do cinema paranaense. Todas as obras foram recuperadas ou restauradas pela Cinemateca Brasileira com patrocínio da Petrobrás.
Data: 29 de novembro Horário: 20h Local: Cinemateca de Curitiba Ingresso: gratuito
Reúne artistas que propõem questionamentos sobre o homem
contemporâneo. Os artistas focam questões ligadas principalmente à identidade e à sexualidade, atravessadas por fatores diversos, que incluem padrões culturais tradicionais e as múltiplas decorrências das tecnologias atuais na visão que o ser humano tem a respeito dele mesmo. Data: até 13 de fevereiro de 2011 Horário: das 9h às 12h e das 14h às 18h (2ª a 6ª) e das 12h às 18h (sábado, domingo e feriados) Local: Solar do Barão - Museu da Gravura Cidade de Curitiba Ingresso: gratuito
CARDUME TALENTOSO Filho de peixe, peixinho é, certo? Com o projeto Filhos da Música, o ditado
popular é mais do que certo. O evento reúne quatro shows para celebrar o DNA musical e mostrar que as influências da música já nascem no berço. É o caso do guitarrista Bem Gil, filho de Gilberto Gil, o pianista Donatinho, filho de João Donato, a pianista Bianca Gismonti (Duo Gisbranco), filha de Egberto, André Vasconcellos, filho de Ricardo Vasconcellos, Max e João Vianna, filhos de Djavan. Além desses, participam também Claudia Castelo Branco que complementa o Duo Gisbranco, no piano, com Bianca Gismonti. Os shows são focados na união dos músicos, uma mistura de sons, ritmos e influências, fazendo uma apresentação singular, nunca vista antes. Além disso, os artistas apresentam músicas de seus pais e também composições próprias.
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//FILHOS DA MÚSICA Data: 26 e 27 de novembro – Bem Gil, Donatinho e Duo Gisbranco 3 e 4 de dezembro – André Vasconcellos, João e Max Vianna Horário: 21h Local: Teatro do Paiol Ingresso: R$ 20 e R$ 10 (para meia entrada é obrigatória a doação de 1 kg de alimento não perecível) PUBLIEDITORIAL_FCC
uraldecuritiba.com.brfundacaoculturaldecuritiba.com.brfundacaoculturaldecurit
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BIBLIOPARQUE Projetado para acomodar livros, periódicos, cadeiras e mesas disponíveis para empréstimo do público, o Biblioparque circula todos os domingos em parques curitibanos. Além disso, há atividades paralelas, como rodas de leitura, encontro com escritores e contação de histórias. Junto com as Casas e a Estação da Leitura, ele compõe um conjunto de ações de incentivo à leitura e de formação de mediadores. Tudo isso faz parte do Curitiba Lê: um programa que objetiva aumentar os índices de leitura dos moradores da cidade. Data: 28/11 (Bosque do Papa)/ 05/12 (Barigui), 12/12 (Bacacheri),19/12 (Parque Tingui), 26/12 (Barigui), 02/01 (Bacacheri), 09/01 (Tingui), 16/01 (Barigui), 23/01 (São Lourenço) e 30/01 (Tingui) Horário: das 9h às 12h e das 14h às 18h (2ª a 6ª) e das 12h às 18h (sábado, domingo e feriados) Ingresso: gratuito
ORQUESTRA CONVIDA ANDRÉ MARQUES
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INTERCÂMBIO ARTÍSTICO Com gravuras de artistas brasileiros e norte-americanos, a
ideia da exposição Universos Paralelos é do artista plástico curitibano Nelson Hohmann, instrutor nos ateliês do Museu da Gravura Cidade de Curitiba e do estadunidense Cole Hoyer Winfield, que há algum tempo é influenciado por artistas do Brasil. Os trabalhos foram expostos na Royal Gallery of Art, da Universidade de Minnesota, e agora podem ser vistos no Museu da Gravura Cidade de Curitiba. O projeto integra o evento Conference MAPC-2010, que este ano discute os possíveis rumos da gravura do século XXI.
// MOSTRA UNIVERSOS PARALELOS Data: Até 12 de dezembro Horário: das 9h às 12h e das 14h às 18h (2ª a 6ª) e das 12h às 18h (sábado, domingo e feriados) Local: Solar do Barão Ingresso: gratuito
Nesse concerto, o piano de André
Marques, um dos instrumentistas mais expressivos do Brasil, une-se à sonoridade da Orquestra À Base de Corda. No programa estão músicas de autoria do pianista que passeiam por diversos ritmos brasileiros (frevo, baião, maracatu, choro) e composições de Hermeto Pascoal com arranjos elaborados especialmente para o concerto, que tem direção artística do reconhecido músico João Egashira e patrocínio do Banco Brasil.
Data: 27 e 28 de novembro Horário: Dia 27 - 20h Dia 28 – 19h Local: Teatro do Museu Oscar Niemeyer Ingresso: R$ 10 e R$ 5 (para meia entrada é obrigatória a doação de 1 kg de alimento não perecível)
A Fundação Cultural de Curitiba é responsável pela política cultural no município. Ela atua na formação, promoção e na democratização do acesso, atendendo artistas, produtores e a população como um todo. Participa diretamente de mais de 1.700 eventos, atingindo um público estimado em 3 milhões de espectadores anualmente. Responsável por administrar e programar diversos espaços culturais de Curitiba, a Fundação também leva oficinas e espetáculos para os 75 bairros da capital paranaense. Através de oferta múltipla e pluralista de bens e serviços culturais, e da inter relação entre os diversos níveis de desenvolvimento da sociedade, ela promove a ampla participação dos habitantes na vida artística e cultural da cidade, levando ainda mais que apenas arte e cultura para os curitibanos.
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COLUNAS
_Bia Moraes Jornalista, blogueira e futura escritora. moraesbia@hotmail.com
AMIGOS, AMIGOS, REDES À PARTE
Entro na farmácia morrendo de pressa, espicho a receita médica no balcão - e o cara, bem sossegado: - E aí, amiga, vai ser só isso hoje? Como assim, “amiga”?! Que a vendedora da lojas Marisa me chame assim, tá bom. Mas peraí que um balconista de farmácia gordo, cinquentão e lerdo me chame de “amiga”, não dá. Ele leva horas para buscar o medicamento, preencher ficha, passar no caixa etc. Na saída, pergunta se a “amiga” precisa de mais alguma coisa. Perco a pressa e esqueço o compromisso seguinte. Caminho devagar lembrando que todos os dias, recebo vários pedidos de “Fulano quer ser seu amigo” no Facebook. Dezenas, por semana. Eu não sei quantos amigos tenho no Facebook, perdi as contas e não vou olhar isso agora. Nem depois. O número não me interessa. Teve uma época em que todos os amigos do Facebook eram pessoas que eu realmente conhecia. Gente que eu podia convidar pra ir na minha casa, com quem eu pararia para bater papo se encontrasse na rua ou no boteco, ou chamaria pra minha festa de aniversário (se eu desse uma). Agora, me aparece cada um querendo ser amigo, que deus-me-livre. Pessoas de quem nunca ouvi falar, mas que tem “quatro amigos em comum com você”, recomenda o robô do FB. No dia em que chegou a mensagem do filho do Dedé Santana - com a foto do fulano, em si, abraçado com o pai, portanto ele existe! - aí, bom, me assustei. Não faz muito tempo, participei, como jornalista, de um evento grande que reuniu gente de todo o Brasil e de outros países sob o tema “inovação nas cidades”. Entre palestras que assisti para produzir matérias, algumas me fascinaram em especial.
Eram sobre redes sociais e o impacto dessas novas ferramentas na vida das pessoas. Mais: como elas podem ser usadas para, realmente, transformar e levar inovações e ideias a comunidades, bairros, cidades e grupos de todo o planeta. Ouvi pessoas muito inteligentes - escritores, publicitários, filósofos - falando sobre temas interessantes, abordando a web e as redes sob novas perspectivas. Fiquei animada e contaminada pelo otimismo. Mas uma vozinha pessimista, no fundo, me cutucava - espera um pouco, que ninguém aqui está falando sobre privacidade. Como fica isso? Na entrevista com um escritor norteamericano que se dedica a estudar e escrever sobre redes sociais, enfiei a pergunta no meio de várias outras. Ele não engoliu bem, deu uma enrolada. O assunto não era previsto na programação mental dele. Devolveu-me uma resposta insatisfatória. Algo sobre “ter um acordo” com a esposa, de eles não postarem fotos dos filhos. Comecei a ler e pesquisar sobre o assunto. Fui fazer um curso de fim de semana: “Novas mídias”. No onipresente Powerpoint que o professor preparou, só vi coisas velhas (do mês passado, ano passado, dois anos atrás). Ué, o tema não era “novas mídias”? Nada realmente novo apareceu; me senti esquisita porque a faixa etária média dos alunos era a mesma das minhas duas filhas mais velhas; quando tentei debater assuntos do momento (a campanha publicitária da semana, o viral que bombou anteontem), não obtive muita receptividade. Não fui na segunda aula. Tentei contato com o professor por email, para tentar receber o conteúdo da segunda aula (já que paguei pelo curso todo), e descobri que é uma dessas pessoas que não responde, ou “não usa”, o email. Você tem de falar com ele pelo Twitter, que é “A” ferramenta do momento (pelo menos para ele, era, há três meses - pode ter mudado agora). Problema: o cara é quarentão como eu, e duvido que uma pessoa que trabalha
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em uma empresa grande de comunicação e dá aulas, como ele, possa se dar ao luxo de “não usar mais email porque isso é ultrapassado”. (Me pareceu o tipo de atitude fabricada - poseur de modernidade, quer parecer um fulano antenadíssimo). Meu filho de 12 anos e o moleque da propaganda de celular dizem isso. Eles é que têm toda razão ao achar que email é coisa de gente velha. Eles não precisam agora, e talvez não precisem nunca. Usam outras plataformas de mensagem. Continuei minha saga para aprender sobre redes sociais. Em horas no Twitter, vejo mais baboseira e superficialidades do que algo que realmente me acrescente informação e cultura, que me faça refletir. Tem muita gente fazendo coisas bacanas por lá - sigo alguns que realmente gosto. Muitos são jornalistas, outros agitadores culturais e sociais. Mas a maioria está na fase do umbigo “estou fazendo tal e tal coisa”, “acho tal e tal coisa”. O achismo e o egocentrismo reinam.
“Somos lançados num jato de progresso que nos empurra para o futuro, com uma violência tanto mais selvagem quanto mais nos arranca de nossas raízes. (...) Precipitamo-nos desenfreadamente para o novo, impelidos por um sentimento crescente de mal-estar, de descontentamento e agitação. (...) Novos métodos ou gadgets trazem melhorias imediatas, mas logo se tornam problemáticas e ainda por cima custam caro. Não aumentam o bem-estar, a felicidade em seu conjunto. Na maioria das vezes são suavizações passageiras da existência, como por exemplo, os processos de economizar tempo - que infelizmente só lhe precipitam o ritmo, deixando-nos, assim, cada vez, menos tempo.” Mais contemporâneo do que tudo que li e pesquisei.
Tenho encontrado respostas para o assunto que me interessa - a privacidade, ou a falta dela. Segurança, limites, os “eus” que se multiplicam, as fragmentações: sou uma no ambiente de trabalho, outra em casa com a família, outra na roda de amigos, outra no telefone fixo, outra no celular, outra no texto escrito, outra no Facebook, outra no Twitter, outra no blog. Qual o impacto, a curto e a longo prazo, das novas linguagens disseminadas pelas redes sociais (não estou falando do internetês abreviado que a garotada inventou, isso já é assunto velho; penso em linguagem no sentido mais amplo de forma de expressão humana). O que vai acontecer com nossos cérebros, a criação, a arte?
_Diego The Kid
Tenho encontrado reflexões e novos pontos de vista em sites especializados, em reportagens aprofundadas, nos livros e escritos de quem pensa no todo, e não em partes. Me senti particularmente iluminada pela entrevista de Terry Gilliam, pela genialidade, liberdade e lucidez do diretor de “Doctor Parnassus” e de outros filmes incríveis, publicada na revista Época na semana em que o longa-metragem foi lançado no Brasil. Mas foi em um livro escrito há 50 anos que encontrei a resposta mais completa e satisfatória para toda essa rede (com direito ao trocadilho) de questionamentos. Carl Jung, o psiquiatra, escreveu em 1957, em sua autobiografia:
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COLUNAS
_Julio Sampaio
Diretor da Resultado Consultoria e vice-presidente da ADVB-PR, autor do livro O Espírito do Dinheiro e mestre em Organizações e Desenvolvimento. juliosampaio@consultoriaresultado.com.br
XÔ, NEURA ! XÔ, ANSIEDADE !
_Diego The Kid
Peguei o avião errado. Não, não é uma metáfora. É ridículo, mas acabo de descobrir que é uma verdade literal. Vou para o Rio de Janeiro, atrasado para o casamento de uma sobrinha, e a ansiedade me faz entrar no avião errado e somente descobrir quando o piloto anuncia: “Dentro de instantes, estaremos aterrissando em Congonhas”. Minha primeira reação é: “Não, ele errou, não é possível, não há dúvida que estamos chegando no Rio”. Falo com a passageira ao lado, que confirma: “É claro que estamos indo para São Paulo. O voo para o Rio era o seguinte, logo após este”. É claro, é claro para ela e para todo mundo que está aqui, menos para mim. Tem o horário do casamento, a minha mulher que está me esperando e que certamente ficará brava, a incerteza do que fazer, pois a comissária de bordo não pode adiantar se haverá ainda horário de voo para o Rio. Além de tudo isso, o fato do quanto as minhas filhas irão fazer disso um bom motivo de chacota, invocando a culpa
à minha ansiedade, tão difamada na família. Pensei em culpar alguém (sempre faço isso quando algo dá errado). A Cia. Aérea era a primeira candidata, ou melhor, o funcionário que não conferiu direito o meu ticket. Sim, ele deveria ter verificado que eu estava entrando no portão errado, ou no chamado errado, sei lá... Mas isso não é suficiente. Talvez a culpa seja também da última edição da Inventa, que estava lendo, enquanto aguardava o embarque... A quem mais culpar? Não me resta muita saída. É mesmo a minha tradicional e conhecida (pelo menos entre amigos e familiares) ansiedade. Ela é a verdadeira culpada. Agora sim, ela me irritou profundamente. Já não é a primeira vez que ela me apronta. Não faz muito tempo, fui receber um prêmio de marketing com um cliente e, antes de subir ao palco, entre o anúncio e a entrega do prêmio, o locutor iria ler os premiados e passar um filme institucional do cliente, o que para ele era importante. O que aconteceu? A tal ansiedade me fez subir ao palco antes mesmo do locutor pronunciar os nomes dos premiados, o que fez com que a solenidade fosse tão confusa, que nem mesmo o filme foi veiculado. Há ainda outras situações costumeiras, como a de chegar sempre antes de todo mundo nas reuniões, acordar diariamente antes de o despertador tocar, ser o primeiro a entrar no avião (mesmo quando os assentos são marcados, com a desculpa de que, eventualmente, os lugares são liberados e você só descobre isso quando já está dentro do avião e alguém sentado no seu disputado lugar - no corredor, à frente). Esse, por sua vez, só é importante pela tentativa de também ser o primeiro passageiro a sair do avião (mesmo também quando ainda será necessário esperar pela bagagens, que não seguem nenhuma ordem, e que não obedecem a etiqueta de “prioridade” destinada aos passageiros vips do cartão fidelidade). Essa classificação, por sinal, tem como maior benefício, para mim, o atendimento especial, que permite fugir das longas filas, destinadas às pessoas normais ou as que não tem pressa. Percebo o quanto isto é ridículo e quanto o círculo é vicioso. Procuro a aeromoça que ainda não garante o meu retorno hoje. Lembro da minha sobrinha, da minha mulher e das implacáveis filhas, que não vão me perdoar por mais esta. Lembro também da propaganda do “xô neura da limpeza” e me identifico com a personagem. Desta vez, você passou do limite: “Xô ansiedade” !!!
_COLUNAS
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