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Editorial

Revista Eletrônica do Grupo de Pesquisa Jornalismo e Contemporaneidade - PPGCOM/UFPE | 3 Editorial

Diante da impossibilidade de oferecer à população brasileira a melhoria econômica prometida desde o estelionato eleitoral de 2018, haja vista os compromissos com os setores especulativos do capital financeiro de concentração da riqueza e de pauperização dos trabalhadores, bem como a incapacidade de combater efetivamente a corrupção, entranhada na promíscua relação de sua família com as milícias, os esquemas de rachadinha e os negócios nebulosos de quase todos os membros da sua administração, o governo federal precisa concentrar todos os seus esforços para se mostrar como uma proposta de ruptura com o funcionamento tradicional da ordem institucional e dos poderes da República, que não lhe deixam “governar”: o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, atingindo ainda a imprensa e a oposição.

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A apologia ao golpe funciona como a única forma de esconder o desempenho econômico pífio, a incapacidade de enfrentar os esquemas de corrupção devido ao seu envolvimento com essas promiscuidades e a ignorância, a incompetência e o cinismo moral dos integrantes do desgoverno que infelicita a República, mobilizando o desejo de mudança social e o mitificando através das fantasiosas soluções conservadoras.

Segundo o professor de filosofia da USP Vladimir Safatle, no Brasil, esta situação evidencia a “incapacidade da esquerda nacional para reagir com uma mobilização compacta de ações, práticas de governo e conceitos que apontem efetivamente para uma sociedade globalmente distinta dessa que vemos no presente. Qual é a política econômica alternativa da esquerda nacional? Qual seu horizonte de reconstituição institucional? Nada disso é claro e nós nos recusamos a aprofundar tais debates”.

Na sua reflexão considera que o modelo nacional-desenvolvimentista de coalização envolvendo setores como o MST e as oligarquias políticas conservadoras (Sarney, Romero Jucá, Jáder Barbalho entre muitos outros) precisa ser transformado para vir a se constituir num projeto de país que vislumbre a possibilidade de uma nova realidade para a sociedade brasileira.

Segundo Safatle, o problema é que no Brasil “as múltiplas lutas não conseguem mais entrar em um processo de acumulação e unificação. Elas não entram em constelação. Conseguimos colocar um milhão de pessoas nas ruas em defesa da educação pública, mas não há sequência. Não há dia seguinte, não há acúmulo de lutas e, com isto, capacidade de bloquear as políticas destrutivas do governo. Como exemplo positivo de convergência na luta poPor Heitor Rocha

lítica o filósofo cita as “manifestações vitoriosas no Chile”, que “mostram que lutas de reconhecimento como as lutas feministas, indigenistas, anti-racistas são um desdobramento necessário e decisivo da luta de classe. Elas são figuras da luta de classe. Não há contraposição alguma aqui, a não ser no sonho macabro de alguns liberais (assumidos ou não) que querem retirar dessas lutas sua potência efetiva de transformação global. Concretamente, isto significa que a derrota na luta contra a reforma da previdência é, imediatamente, uma derrota da luta anti-racista. Pois são os negros e negras (...) que sentirão de maneira mais forte as consequências dessas políticas de concentração e destruição dos direitos trabalhistas. As derrotas na flexibilização dos direitos trabalhistas são derrotas da luta feminista, pois as mulheres serão as primeiras a sentir de forma violenta o significado de tal “flexibilização”.

Para Safatle, o fato de que as lutas no Brasil não consigam “convergir em um campo comum de combate às forças que espoliam os 99% (...) ocorre devido ao fato de a esquerda brasileira ter usado, até agora, as lutas de reconhecimento de forma compensatória. Como ela não tem nenhum horizonte concreto de transformação econômica, como ela teme dizer em alto e bom som que é anti- -capitalista, como ela é a última a realmente defender a necessidade de refundação da institucionalidade política nacional, como ela não consegue criar estruturas e organizações que sejam radicalmente democráticas, (...) a esquerda nacional se viu obrigada a expor de forma isolada o único setor no qual ela tem capacidade de transformação, a saber, este ligado às dinâmicas sociais de reconhecimento. Assim, ela acabou por limitar a força efetiva dessas lutas”.

Numa “era de sinais trocados”, o filósofo observa que “a extrema-direita no mundo inteiro não teme em dizer que está a lutar por uma “revolução” que possa dar ao povo a voz que eles nunca tiveram. E, com esta revolução conservadora, eles ganham eleições que constroem adesão popular real”.

Heitor Costa Lima da Rocha, Editor Geral da Revista Jornalismo e Cidadania, é professor do Departamento de Comunicação Social e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE.

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