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Editorial
Heitor Rocha é Editor Geral da Revista Jornalismo e Cidadania, é professor do Departamento de Comunicação Social e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.
Heitor Rocha
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Acomissão de 3,7 milhões de reais pagos ao ex-juiz Sérgio Moro pela empresa Alvarez & Marsal, que se beneficiou em cerca de 42 milhões de reais de processo judicial com a Odebrecht, é, esta sim, uma evidente prova material de corrupção no golpe da Lavajato. O caso do triplex do Guarujá, imóvel que nunca saiu da posse da construtora, foi o ridículo pretexto utilizado pelos criminosos da Lavajato para impedir Lula, líder absoluto nas pesquisas de intenção de voto, de ser candidato na eleição presidencial de 2018 e garantir a vitória do atual presidente, além da inconstitucional prisão do ex-presidente depois de decisão em segunda instância, quando ainda havia direito a recurso, e de diversas divulgações ilegais de gravações não autorizadas pela justiça para influir na campanha eleitoral. Neste sentido, conforme constataram o Supremo Tribunal Federal e Tribunal Internacional, é impossível negar a suspeição do ex-juiz e o intuito político eleitoral no processo contra Lula, bem como a utilização midiática do “grampo” de Dilma comunicando ao ex-presidente sua nomeação para a Casa Civil e, especialmente, a espetacularização da gravação do ex-ministro Antonio Palocci acusando a existência de “pacto de sangue” com Lula durante o segundo turno da campanha. A delinquência dos participantes do golpe da Lavajato (a quadrilha de Deltan Dallagnol e outros criminosos) fica patente também na comissão de cerca de 2 bilhões de reais que os investidores norte-americanos deram á fundação criada pelos procuradores de Curitiba para remunerar a assessoria que lhes possibilitou extorquir mais de 6 bilhões da Petrobras. Estes recursos vêm sendo lavados através de contratos milionários de palestras, hospedagem e passagens pelos agora reconhecidos bandidos do golpe da Lavajato. Evidentemente, que a realização do genocídio por conta do atraso da compra de vacinas, para tentar viabilizar a propina de um dólar por dose de imunizante pretendida pela quadrilha do líder do governo na Câmara Federal, deputado Ricardo Barros, bem como as atuais manobras para intimidar a vacinação de crianças, esta grande operação que lançou o país na barbárie obscurantista da atual administração só foi possível devido ao clima de opinião forjado pela grande mídia liderada pela Rede Globo, que agora faz gracinhas e posa de oposicionista, quando, na verdade, é leniente com esses crimes. Um bom exemplo de como um jornalismo sério e responsável deve enquadrar as notícias da quadrilha que se apossou da República depois do golpe de 2016 que cassou Dilma Rousseff é o Jornal da Cultura (TV Cultura), com a participação de comentaristas que aprofundam e abordam adequadamente os acontecimentos. Não se pode deixar de considerar lamentável a posição de Glenn Greenwald, jornalista que deu uma contribuição significativa para desmascarar as conspirações dos criminosos da Lavajato, de apoio a Ciro Gomes que ensaia posturas convenientemente de esquerda, mas que pode ser enquadrado no que Gramsci denomina de “transformismo”, o desempenho de políticos que simulam papéis progressistas, mas que, quando se consolidam no poder, revelam seu caráter conservador e até reacionário, como deixam transparecer seus ímpetos machistas, narcisistas e atrabiliários. Assim, como não considerar o fato de que Ciro Gomes, caso tivesse assumido franca e publicamente o apoio a Bolsonaro, não teria colaborado tanto com a sua vitória quanto com a posição que adotou quando alimentou, durante quase toda campanha do segundo turno, com sua viagem a Europa, um grande suspense sobre a que candidato daria apoio e, quando voltou às vésperas da eleição, se restringiu a criticar Fernando Haddad e estimular o anti-petismo. É realmente muito cinismo um político que tanto contribuiu para o retrocesso que o Brasil enfrenta atualmente ainda pretender ser candidato à Presidência. Nesta edição 45, a Revista Jornalismo e Cidadania traz a oportuna discussão levantada pelo artigo de Rubens Pinto Lyra sobre a questão da necessidade de aliança da esquerda com o centro para viabilizar um projeto progressista para o País, uma controvérsia que remonta a estratégia nacional-desenvolvimentista desde a década de 50. Depois de analisar várias situações históricas semelhantes em outros países, Lyra argumenta que a chapa Lula-Alckmin tem o objetivo maior de “fazer com que o país dê passos à frente, garantindo a derrota das hostes neofascistas, e o consequente retorno à normalidade democrática”. Outro artigo desta edição que levanta a questão das condições necessárias para a conquista de mudanças sociais é o de Francisco Dominguez, que analisa a vitória da esquerda no Chile citando como epígrafe trecho do 18 Brumário de Napoleão Bonaparte de Marx em que pondera, ao contrário do determinismo economicista de muitos de seus intérpretes, que o ser humano pode, sim, ser sujeito da história, não ao seu bel prazer como a concepção idealista pretende, mas a partir de circunstâncias materiais concretas, como concebe a filosofia dialética materialista histórica, com homens e mulheres que se tornam capazes de fazer a sua própria história.