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Felipe Valdeci da Silva

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Valéria Barbosa

Valéria Barbosa

Felipe Valdeci da Silva Vinhedo/SP

Sonhos com a Morte

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A noite está completamente escura e calma. Me parece que será mais uma como qualquer outra. A rotina será a mesma: lerei mais um capítulo de meu livro e seguirei para a cama. Acordarei no dia seguinte, tomarei meu café e rumarei ao trabalho. Mas tudo muda. Ouço os gritos de um homem. São aterrorizantes. Ferozes. Desesperadores. Pergunto-me qual será a justificativa para tamanho desequilíbrio. De repente, vejo: o pobre coitado jogado no chão, sendo espancado com o que me parece ser um pedaço de pau. O agressor é possuidor de grandes músculos. A vítima está completamente suja de sangue. Não consegue respirar com eficiência, apenas solta bufadas pelas narinas. Seus olhos estão roxos; a camiseta, rasgada. A expressão estampada em sua face reflete todo o terror que passa por sua mente. Sinto pena do infeliz. O brutamontes larga o pedaço de pau. Achei que tudo aquilo iria acabar. Ou talvez o agredido já estivesse morto. Mas não, pois eu ainda conseguia reparar nos barulhos fracos de sua respiração. Ele começa a levar seguidos socos no rosto. Grita. Grita como uma mulher ao dar à luz. “Piedade, piedade!”. Posteriormente, pontapés são descarregados em suas costelas. Consigo reparar em outro barulho, dessa vez diferente. Acredito que uma delas tenha quebrado. A violência continua. Acho que o miserável nem deve mais processar o que está acontecendo. A este ponto não possui ao menos energias para gritar e expressar a sua dor. Tudo o que faz é dar tossidas que culminam em sangue saindo de sua boca, servindo para tingir a grama daquele terreno baldio. A gigantesca frieza do brutamontes me assusta. Ele não sente nenhum pingo de remorso de tudo aquilo. Não entende que a passos largos está dando fim à vida de uma pessoa. Acabando com uma história. Aliás, minto. Ele sabe. Ele tem plena noção do que está fazendo e, ademais, parece se divertir com tudo aquilo. É um psicopata. Enquanto o sofrimento está marcado na face do outro sujeito, o brutamontes sorri, em uma expressão de felicidade. A mais pura felicidade.

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Em minha mente, me pego tentando achar explicações para aquele ato bárbaro. Penso se o agredido era um criminoso, se havia feito algo para o agressor ou para alguém próximo dele, entre tantas outras perguntas que permeiam em minha mente. Mas não. Eu estou errado. Nada explica ou justifica aquilo. Ele está tirando uma vida de uma maneira extremamente cruel. É desumano, grotesco. O brutamontes para subitamente. Dá dois pequenos chutes na vítima. O pega pela gola da camiseta e o solta. O corpo cai como um objeto ao ser solto. Agora era uma massa inerte de carne e ossos. Estava morto. O brutamontes solta uma risada monstruosa de prazer.

Me remexo na cama. Estava dormindo profundamente, mas acordo de repente. Dou praticamente um pulo e fico com as costas apoiadas na cabeceira. Por Deus, acabo de ter um pesadelo horrível! Acendo meu abajur, passo as mãos pelo o rosto e respiro fundo. Como odeio pesadelos! Me sirvo um copo d'água que estava ao lado da cômoda. Estou mais calmo. Tento voltar a dormir. O dia começará em breve. Tenho meu sono interrompido pelo barulho infernal do despertador do celular –não há nada mais estraga prazer do que isso. Rapidamente, para não cair no sono, me levanto da cama. Coloco a colcha e logo em seguida vou ao banheiro escovar os dentes. Molho meu rosto com a água fria da torneira para definitivamente acordar. Desço para a cozinha e preparo um delicioso café sem açúcar. Como de costume, enquanto como meu bolo e tomo meu café, pego meu celular e vou para a página de notícias. Não deveria ter feito isso. Lágrimas começam a escorrer em meu rosto. Não consigo respirar direito. Choro desesperadamente, assim como uma criança ao cair e se ralar no asfalto, quando leio que um homem foi espancado até a morte no terreno baldio da rua ao lado.

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