LiteraLivre Vl. 4 - nº 23 – Set./Out. de 2020
Felipe Valdeci da Silva Vinhedo/SP
Sonhos com a Morte A noite está completamente escura e calma. Me parece que será mais uma como qualquer outra. A rotina será a mesma: lerei mais um capítulo de meu livro e seguirei para a cama. Acordarei no dia seguinte, tomarei meu café e rumarei ao trabalho. Mas tudo muda. Ouço os gritos de um homem. São aterrorizantes. Ferozes. Desesperadores. Pergunto-me qual será a justificativa para tamanho desequilíbrio. De repente, vejo: o pobre coitado jogado no chão, sendo espancado com o que me parece ser um pedaço de pau. O agressor é possuidor de grandes músculos. A vítima está completamente suja de sangue. Não consegue respirar com eficiência, apenas solta bufadas pelas narinas. Seus olhos estão roxos; a camiseta, rasgada. A expressão estampada em sua face reflete todo o terror que passa por sua mente. Sinto pena do infeliz. O brutamontes larga o pedaço de pau. Achei que tudo aquilo iria acabar. Ou talvez o agredido já estivesse morto. Mas não, pois eu ainda conseguia reparar nos barulhos fracos de sua respiração. Ele começa a levar seguidos socos no rosto. Grita. Grita como uma mulher ao dar à luz. “Piedade, piedade!”. Posteriormente, pontapés são descarregados em suas costelas. Consigo reparar em outro barulho, dessa vez diferente. Acredito que uma delas tenha quebrado. A violência continua. Acho que o miserável nem deve mais processar o que está acontecendo. A este ponto não possui ao menos energias para gritar e expressar a sua dor. Tudo o que faz é dar tossidas que culminam em sangue saindo de sua boca, servindo para tingir a grama daquele terreno baldio. A gigantesca frieza do brutamontes me assusta. Ele não sente nenhum pingo de remorso de tudo aquilo. Não entende que a passos largos está dando fim à vida de uma pessoa. Acabando com uma história. Aliás, minto. Ele sabe. Ele tem plena noção do que está fazendo e, ademais, parece se divertir com tudo aquilo. É um psicopata. Enquanto o sofrimento está marcado na face do outro sujeito, o brutamontes sorri, em uma expressão de felicidade. A mais pura felicidade.
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