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Reinaldo da Silva Fernandes

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LiteraAmigos

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Reinaldo da Silva Fernandes Brumadinho /MG Rua G ua i c ur us , e s q ui n a co m S ã o Pa ulo

— Porteiro de zona. — Ahn! — Porteiro de zona. — Como assim, moço? — Como assim como assim?! — Eu estou perguntando qual é a sua profissão. — É puteiro, quer dizer, porteiro de zona. Essa é minha profissão.

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A atendente se desconcerta, mexe nos seus papeis, levanta. Senta-se. Ele olha, mudo, esperando. — O senhor trabalha num prostíbulo?, volta ela, cerimoniosa. — Prósti o que, moça? — Prostíbulo, senhor! Casa de prostituição. É nisso que o senhor trabalha? — Isso é puteiro, moça? — Bom, meu senhor, lá... nesse lugar que o senhor trabalha... as moças... as mulheres mantém relações sexuais com os homens? — Olha, dona, eu num sei se é isso aí que a senhora tá falando, não! Mas que elas dão pros homem que vão lá, isso elas dão!, sorrindo um sorriso amarelado. — Então é um prostíbulo... — Nós chama de zona, Rua Guaicurus, Rua São Paulo, ali no Centro de Belo Horizonte, dona...

Ela volta a preencher o cadastro. Para daí a pouco. — E as mulheres lá, são bonitas? — Bonitas?! Ah, moça, tem umas que sim, outras, tadinhas, tão feinhas, dá até dó! Dona Geci, coitada, quase 70 anos, ninguém quer ela, só uma vez ou outra, os mais velhos, ou algum menino mirrado, primeira vez, entende?

Mas não deixa ela responder e continua, empolgado: — Agora, a Jéssica é linda! Cabelo bonito, jeitosa, até educada com a gente. Geraldinha é pequenininha mas é gostosa (já perdendo a compostura)... a Ângela é das mais procurada, tem pernas grossa, boca grande, uns peitão...

Para para respirar e ela aproveita: — São muitas? — Ah, umas 15 lá na minha zona...

Mas não deixa que ela o tire do foco e volta a falar “das menina”: — A Zezé Doidinha é até bonitinha. Mas gosta de bater em homem, de vez em quando leva uns soco também dos mais nervoso.

A moça larga o cadastro, segura o queixo com a mão, pensativa. — E ganham muito? — Moça, aquilo parece formigueiro! É um entra e sai que num para! Deve dá um dinheiro bão, porque elas continua lá, compram roupa, comem bem. Quando tão apanhando e a gente vai lá pegar os safado, umas dão até presente pra gente.

Esquecida do cadastro, ouvindo-o como se fosse o palestrante mais interessante do mundo, ela pergunta:

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— Quanto é? — Quanto é o quê, moça? — Quanto elas cobram? — Dos homem? A trepada (com um sorriso sacana)? — É. Quanto é? — Dez, vinte... a Ângela cobra trinta...

Levanta-se, vai ao banheiro, se olha toda no espelho, de frente e de trás. Lembra-se da porcaria do salário, das 44 horas semanais; olha-se novamente, lembrando-se da estória de Narciso e rindo-se um pouco de si mesma. Levanta e apalpa os seios com as duas mãos, fita o bumbum, faz contas.

Volta depressa para sua mesa, encara o porteiro e dispara: — Tem vaga lá?

Reinaldofernandes.13

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