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Iraci José Marin

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Teresa Azevedo

Teresa Azevedo

Iraci José Marin Caxias do Sul/RS

Sonho

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Ali, no espaço de terra umedecida pela água do rio, que balança em ondas, estão as borboletas multicores. Às vezes, muitas delas, ou todas, revoam, colorindo o ar vazio.

As crianças também se divertem na beira do rio. Umas atiram pedras para ver a água se movimentar em círculos, outras correm com os braços abertos para ver o voo impreciso das borboletas que fogem para voar sobre o rio.

Alfredo é o mais atrevido de todos. Decide levar uma borboleta para a mãe. Ele foca a amarela e corre. Todas alçam voo rápido e ele não consegue apanhála. No chão úmido fica apenas a preta. Alfredo olha para ela e a imagina igual à noite. Mamãe não vai gostar desta, ele pensa. Ela sempre fala que borboleta preta vira bruxa.

Desiste.

Quando anoitece, e ele jantou polenta com leite, Alfredo sai da casa e fica a olhar para a extensa noite que encobre o pasto, o galpão, as plantações e a mataria. Nisto, vê uma borboleta bem perto de si. Olha melhor e ... é uma borboleta preta. Ele a espanta com a mão e ela voa alto, entrando na noite.

Não dá qualquer atenção para aquilo e vai para a cama. Adormece logo. No meio do sono, ela aparece e lhe diz: - Você não quis me pegar, na barranca do rio, e me trazer de presente pra tua mãe. Quando anoiteceu, voei até tua casa e, de novo, você não me quis. Mas eu voltei... - Eu não quero você. Não gosto de você. Você é feia. E vira bruxa!

Ela suspira, com leve sorriso, e retruca: - Eu não me transformo em bruxa. - Não quero saber...

Passa-se um instante. - Eu vou ficar no teu quarto pra cuidar de você.

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- Não precisa cuidar de mim.

A borboleta não lhe dá ouvidos, voa para fora do alcance do olhar dele e pousa na cômoda.

No instante seguinte, ele vê borboletas que ora se transformam em peixes, ora em minhocas, em peixes outra vez, e ele de repente fica tonto e se agarra num galho de árvore do barranco para não cair no rio, mas o rio aumenta de volume sem explicação, então começa a nadar, nadar e nadar pelo rio sem fim.

Aquela visão apaga-se aos poucos, mas aí é uma névoa que enche o quarto e ele não vê coisa alguma. Ouve um barulho forte e estranho e logo está em frente à janela. Abre-a e, com espanto, vê a borboleta preta ali, pairando no ar, como que suspensa por um fio invisível, desde as nuvens. Ele fecha a janela rapidamente e respira fundo.

“Não é possível que esta borboleta vá me perseguir o tempo todo. Se aparecer de novo, vou pegá-la e acabar com ela de vez.”

Volta para a cama e deita sobre o rio, sentindo a brancura da água acarinhar suas costas. Navega calmamente, parece que está numa jangada, depois numa balsa feita de toras de árvores, o rio fica enorme e o sol enche de claridade os seus olhos dormidos.

Passa por ele a figura de uma bruxa e ele se lembra da borboleta incômoda. “Ela não me abandona” - e balançou a cabeça como para se livrar daquela visão incômoda.

Sente novamente o lento balanço da navegação. Num momento de susto, se levanta e divisa, lá na barranca do rio, a borboleta preta voando solitária. Fica observando-a enquanto ela voa e revoa, até que vem pousar sobre a água, bem perto dele.

Leva um pequeno susto vendo-a esvair-se, coloridamente, e seu olhar nada no ar.

A mãe o chama uma, duas vezes. Afinal acorda, esfrega as mãos no rosto para se certificar de que está realmente acordado, passa o olhar pelo quarto... e descobre uma borboleta preta pousada sobre a cômoda.

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