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Terêncio Batista Guimarães Barros

Terêncio Batista Guimarães Barros Montemor-o-Velho, Portugal

Os Adelfos; ou A Fabulosa Estória de Ca[rlos E]du[ardo Ambrósio], o Bem-Amado

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MICIÃO (entrando no palco) – Storax! (Vendo que o criado não responde, inicia-se um monólogo.) Chamai-me de Micião. Hipólito, meu irmão, chegou à casa do nosso pai Agamêmnon com uma intensa vontade de se dirigir ao quarto onde costumava ficar sempre que fazia uma grande visita ao nosso pai e permanecer no aposento sozinho: ele estava com o coração recheado de ardentes sentimentos superlativos e não-compráveis, porquanto tais sentimentos não se compravam –conquistavam-se. Estou a falar acerca dos sentimentos que um jovem indivíduo possui quando se encontra enamorado por alguém, todavia, para o contexto de Hipólito, tais sentimentos eram de facto surreais pela razão de ele ser apenas uma criança de 7 (sete) anos e de sentir uma colossal paixão pela sua professora de yoga, Maria José de Alcântara Costa e Silva, quem, ainda por cima, era casada com o melhor amigo de Hipólito, o professor José Maria Mendonça Cardoso – que era o autor dum romance para crianças intitulado O Cavaleiro Portador da Primavera, que narrava a célebre lenda de Tristão e Isolda duma maneira demasiado poética e lírica através do ponto de vista infantil. Era o tipo de literatura [que, infelizmente, acha-se cada vez mais frequente em nossa tão abismável (e abominável igualmente) realidade tão consumida pelas incertezas da Inteligência e pelos tormentos do Dinheiro] que eu aprecio denominar de um jeito ousado como “pornografia infantil”, e o facto de Hipólito ter possuído um forte contacto com tal gênero literário é que o amparou abundantemente a ser dono duma personalidade sexualmente degenerada – e da pior maneira que tu possas imaginar! –aos seus 7 (sete) anos de idade.

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Em O Cavaleiro Portador da Primavera, Tristão resolve se afugentar da guerra e acaba na Bulgária, onde havia um homem de balançante beleza que a Humanidade considerava um verdadeiro santo, porém, necessito aqui ressaltar com um total prazer e a mais vasta aptidão e na mais nua e crua realidade decadente que tal homem era o completo de um lúcifer nascido nas terras que hoje se denominam República Federativa do Brasil e República Oriental do Uruguai e, depois de ter cometido o assassinato de uma madre superior, foi exilado na Bulgária. Chamava-se António tal homem. Ele fora canonizado santo pelo Papa Josué Francisco II (também conhecido como Pedro Romano) pelo móvel de ter sido sacerdote de Deus Nosso Senhor Jesus Cristo, mas o que poucas pessoas sabem é que ele viveu em plena era da decadência da Igreja Católica Apostólica Romana: a célebre era denominada Era da Inquisição. A verdade é que esse Antônio, apesar de ser padre, era como o pequeno Hipólito: dono de uma personalidade sexualmente degenerada, e por tal razão é que ele era também pai e avô também. Parcialmente idoso, parcialmente com um físico repolhudo, possuía o seu cabelo parcialmente grisalho, era literalmente alto e, ora sim, ora não, tinha dores em sua lombar que produziam vastas preguiças infindáveis. Em tais dias é que esse António deixava para abrir depois a ventana do seu aposento e não dava a mínima para os rouxinóis e pavões que ficavam a cantar à pereira que se localizava em frente à casa luxuosa na qual vivia. Apenas apreciava saber das notícias do sol – e das notícias boas. Caso elas existissem em dado contexto, ele se dirigia até ao requintado quintal coberto das mais belas e recatadas palmeiras e ali se sentava num banquinho cor-de-rosa e ficava a ler uma notável obra de Dante ou uma célebre obra de Scott. Caso as tais notícias do sol não existissem, António regressava ao seu leito com uma bolsa de água quente que um mordomo chamado Creonte lhe trouxera do então futuro ano de 2001 d.C. e ficava a escrever poesias como:

Confio desconfiando; ou O teatro do luto e da dor

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(Uma profecia para com o futuro do Brasil.)

Basta! Cansei de amar-te!... Essa partitura cheira a Cemitério, Porque o sol já se pôs há tempo E agora que a noite é chegada Tudo está lento, rondando por um triste Mistério. Neste país só é honesto aquele que trapaceou no concurso de honestidade – que maldição!... A insensatez desola o futuro ao alento. O tempo do otimismo já acabou, Porque o que vejo é uma longa estrada Pela frente, mergulhada em completa Escuridão: Já está adormecida na sua materna sepultura Esta pobre e triste nação Sem exceder o excedente em sua eficiência e sem meta, Que veio ao Mundo mesmo sendo prematura Numa sinuosa solidão. Aquele pobre menino que chora foguetes de lágrimas eu sou,

Sentado à esquina da depressão A pensar em minha falecida amada: A Democracia! A insensatez desola o futuro ao alento. O tempo do otimismo já se esgotou, Pois o que avisto é uma longa estrada Pela frente, mergulhada em completa Ingratidão (Temos que admitir que o radicalismo existe): O teatro do luto e da dor E muito discurso a pregar o desamor. Meu pobre Brasil, hei de chorar-te!... Estão os políticos cegos dos ouvidos e entendidos como mudos:

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Eu confio, embora ao mesmo tempo possua Uma colossal desconfiança com Sua Majestade. A verdade é que sou literalmente um novo Floriano Peixoto, Porquanto o seu lema por mim é seguido com a mesma velocidade duma moto! Minha terra tem a Amazónia, floresta de natureza tão vasta, diversa e bela, Mas que atualmente está a arder – e com um alto fervor na iminência de perder O céu o tradicional dia paulistano o mais rapidamente possível. Ela, a Amazónia, é o xodó do Mundo – demasiado mais notável do que a Patagónia! Não permita Zeus que ela morra com as queimadas que tem lá…

Pois o seu céu tem a mais balançante beleza, o seu ar é essencial para com a respiração humana: a Amazónia é a nossa total certeza de escrever a verdadeira identidade de um povo! Um paraíso muito além da Taprobana. Por obséquio, peço que parem de o teatro da dor e do luto encenar sem brutal alegoria do ser… Não queremos ver a nossa Amazónia querida vir a perecer!

Pois Tristão se encontra com esse tal de António e descobre que ele tem uma deslumbrante filha com uma jovem e humilde camponesa norte-irlandesa: essa filha é Isolda, por quem Tristão se apaixona. Foi Hipólito chegar nessa parte de O Cavaleiro Portador da Primavera que se sentiu tão, tão identificado na história a ponto de ver Tristão e António saltarem para fora do livro, sequestrá-lo e levá-lo para dentro da estória. (Sai.)

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