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Roberto Schima

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Teresa Azevedo

Teresa Azevedo

Roberto Schima Salto/SP

Guardiãs do Mar

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O cardume avançou rapidamente sob o mar. Cortava as águas tão ágil e facilmente quantos os albatrozes rasgavam o céu. Ondulavam seus corpos de escamas prateadas em rápidas manobras: revoluteavam, ziguezagueavam entre si, por vezes, pulavam sobre a superfície estirando os braços como se também quisessem voar sobre os ares... ... Braços? Sim. Braços... ...Sereias. Centenas delas nadavam em conjunto, rente às ondas, guiadas pelo luar, pelas estrelas, pelos sons que somente elas podiam ouvir. Um chamado. Um clamor de socorro. E elas responderam. Escutaram das profundezas, de onde claridade alguma conseguia atingir, de onde o frio e o tempo, tão antigos quanto a eternidade, permaneciam incólumes. E vieram. Dezenas, centenas, milhares. Uma gigantesca espada de prata a ondular sob o oceano. Lá longe, barcos haviam cercado os golfinhos e os delfins. Arpões eram lançados. Carnes eram rasgadas. Sangue, gritos agudos e dor. O odor de morte misturava-se à maresia. Homens sem piedade içavam corpos ainda vivos para as suas embarcações. E retalhavam. A longa distância tornou-se menor. O cardume avançava e avançava. Beldades de mitos. Uma beleza em fúria. E as sereias chegaram. Agindo como se fossem uma única criatura, viraram um barco após o outro.

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Novos gritos cortaram a noite. Gritos graves. Homens ao mar. Caçadores tornaram-se a caça. A lua de prata assistiu na sua glacial quietude. Estrelas caladas cintilaram seu assombro. O mar tornou-se mais rubro. Nenhum tubarão atreveu-se a chegar mais perto. Sereias. Tão belas quanto ferozes. A vingar a irmandade ferida. Não tardou para as águas aquietarem-se. Breve, nada parecia revelar a extraordinária batalha. Golfinhos emitiram gritos de agradecimento. Delfins remanescentes nadaram rente as damas dos mares. Corpos prateados refletiram o luar uma última vez, antes de retornarem às profundezas. Mas um grumete sobreviveu. Agarrado a um destroço, mais morto do que vivo... Sobreviveu. Nunca mais entrou em um barco. Nunca mais pescou. Nunca mais deixou de pisar em uma praia sem que um tremor involuntário subisse-lhe pelas pernas. Elas jamais saíram de sua mente, de seus pensamentos, de seus sonhos e pesadelos. Todavia, ele nunca.... nunca, nunca... falou. De um modo peculiar ele sabia haver sido enfeitiçada por elas... ... pelas guardiãs do mar... as sereias.

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