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Roger Cacci

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Roberto Schima

Roberto Schima

Roger Cacci Mogi das Cruzes/SP

O Crepúsculo do Desejo

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Suas luas são duas luas minhas. São dois montes de barro da argila doce do mangue; é o cálice do mundo. São como vasos de cerâmica macia; é o cacho de fruta madura, Posto de certa forma, é um doce de amêndoas, tenro como amendoim, liso como jasmim. São dois bolos de massa feita do trigo selvagem com o gosto de terra preta e aroma de ternura.

Sovo-lhe as pernas, como sovo o pão. E sinto-a fermentar pelo fervor em que suspira, e exala vapor. Sovo-lhe certas massas como sovam-se pequenos e delicados doces franceses. Mas toco-lhe as carnes, como se tocam as carnes de um animal calmo e arisco. Não meço força, nem calor. Não a vontade por seu sabor.

Sovo-lhe as massas como se sovam as massas de pães italianos. Em demasia, sem pressa, até sentir o glúten se desprender do grão, até o fermento escorrer e ver a massa crescer, e aquecer, e romper, e gemer...

Eu sou a brasa que queima tua pele até o suor secar e fazer crostas em tuas costas. Sou a chama que te deixa nua e crua para que possas crescer em mim. Para que assim, eleve-se na ossada única e cozinhe na forma longa a te ornar. Para que fique no ponto, perca o ponto. Fique ao dente e me coma com os dentes, vertendo sem pele e nem pêlo, carne sobre carne em masoração. E que seja eu o gosto que teu corpo pedir, e que seus pedidos sejam eloquentes, ferozes, lentos.

Ao anoitecer, sob o crepúsculo de duas luas negras e sangrentas, te levo a mesa, na cama colocamos os pratos.

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Ceiamos. Sejamos. Ceiamos-nos. Sejamos um.

Sob o crepúsculo nupcial, o doce verte sobre nós o mel das nossas bocas. Desguarnecido de possíveis torrentes protetivas, descoberto os nossos egos, entregues nossas bandeiras, apresentadas as nossas verdades, somos tudo aquilo que saboreamos. Somos e nos encontramos de verdade no momento lírico-visceral, quando as duas luas tangenciam o pico mais alto dessa montanha. Cairão os lenços e os lençóis, faltarão talheres, arranjaremos meios. Somos os bichos que uivam a luz do luar, somos as bestam que exalam o suspiro da manhã. Somos os poros virgens dessa mata nova e antiga, e as nascentes dúcteis do gozo divino. Somos as encostas dessa serra desmatada, por onde escorre o orvalho ao amanhecer e ao amanhecer saborearemos as gostosuras da relva fresca.

Ainda que a nuvem negra paire frente à luz dos astros, e esconda o brilho desse teu corpo celeste, teus mares jorram desde os céus da minha boca. São como fontes de um universo distante tão íntimo. São como fontes verdejantes no meio do deserto interior.

Sob o luar de um coração luminoso, vislumbro num ponto de fuga, o teu reflexo no fundo do vasto oceano de águas quentes e profundas. E sobre ele, nele, com ele, se assenta uma montanha ilhada, que de forma lúdica, toca a lua, e a lua a toca, numa composição paisagística de um crepúsculo sensorial veemente e territorial. São teus olhos, teus olhos, morena.

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