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Maria Toinha e Marcos Andrade
Maria Toinha e Marcos Andrade Lavagem/Trairi/CE O caso assombroso da finada Alice Braga
A finada Alice Braga foi uma mulher muito rica enquanto viveu em Paraipaba. Minha avó trabalhou como lavadeira em sua casa. Era curiosa aquela relação de trabalho, pois a Alice gostava de enrolar minha boa avó. Ela jamais reclamou desses excessos da patroa. Minha avó era uma mulher baixa, negra, cabelos cacheados. Seu nome era Justina Amélia de Moura, uma mulher nobre e generosa, marcada pela pobreza. A Alice pagava seu serviço pela quantidade de peças de roupas. Fazia assim: quando minha avó saía da sua casa levava uma quantidade de peças para lavar e quando voltava com elas lavadas, então a Alice contava de um jeito diferente e assim pagava menos dinheiro para minha avó. Minha avó jamais fez questão por isso e no dia da morte da Alice, ela chamou a vovó e lhe pagou tudo o que devia. Não sei que arrumação foi aquela.
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A morte da Alice foi muito rápida e tranquila, completamente sem sombras. Seu último desejo foi muito curioso, mas todos lhe obedeceram. Ela pediu ao marido e aos filhos que ao ser levada para o túmulo gostaria que seu corpo estivesse enfeitado com todas as suas joias e a dentadura com dentes de ouro. Assim foi feito, embora todos soubessem que não se leva nada quando se parte dessa vida. Até as estórias declinam. O espírito deve partir tão limpo como quando chega na terra. O mistério que se realiza nas partidas é verdadeiramente profundo.
O caso é que não demorou um mês desde o sepultamento da Alice e seu espírito começou a aparecer. Todos que a viam ou sonhavam com ela se assombravam. Ninguém queria conversar com aquela “pantaforma”. Quando foi um dia seu próprio marido teve a sorte de vê-la no quintal. O compadre Antônio Braga já estava idoso como a esposa, mas passava muito bem. Ele saiu para o quintal na
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boca da noite e ninguém o viu mais. Preocupado, seu filho mais velho foi procurá-lo e o encontrou caído no chão. O homem trouxe seu pai para dentro de casa e procurou acordá-lo. O velho estava assombrado e quase não tinha voz para contar o que havia acontecido. Mesmo assim articulou: — Meu filho, acabei de ver a sua mãe. Ela não pode descansar por causa do ouro que levou consigo para o túmulo e me pediu pelo amor de Deus que cavasse a sepultura para tirar o ouro dos seus ossos. Eu não aguentei vê-la e desmaiei. — Pois eu não vou fazer nada por ela. Avisei que ninguém leva nada consigo depois que morre. Onde já se viu entrar com ouro no céu?
A resposta do filho do compadre Antônio Braga foi desalentadora. Porém o velho procurou o auxílio dos outros filhos para ajudar sua esposa que sofria no além. O filho mais novo pagou um coveiro para desenterrar o corpo da mãe e retirar as joias e a dentadura que ela levou para a cova. A carne ainda não tinha sido consumida pela terra e era capaz daquilo ter se encantado se tivessem demorado mais tempo. Depois que fizeram o serviço nunca mais se ouviu falar da finada Alice Braga.
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