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Pedro Guerra Demingos

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Teresa Azevedo

Teresa Azevedo

Pedro Guerra Demingos Porto Alegre/RS

Tu que não gritas de dor

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Procuro palavras em minhas próprias mãos como quem, em meio à guerra e à fome, procura na lama e no óleo grãos que comer. O mundo inteiro não mata essa fome. O mundo inteiro tem fome dessa fome.

Tenho tido muito medo ultimamente, menos sonhos e pouca energia. Ultimamente, tenho pensado no que é desistir, e quando desistir, e por quê. Tenho notado que desisti de evitar pensar nisso.

Comer já não me dá prazer. Prazer já não me dá prazer. A única paz que encontro é nisto, e apenas isto me faz sentido. Todo o resto treme, ameaça ir ao chão.

Ontem saiu uma barata de baixo da cama. Ontem saiu uma barata de baixo de mim. Eram tantas que não cabiam, eram tantas a noite toda. Depois sumiu, e nem sei mais.

Tenho dor de cabeça como que cega, tenho dores nos olhos como enlouquecesse, e alguma coisa dentro de mim dorme como se gritasse constantemente que sim e que não há tempo suficiente entre os dias.

Procuro uma utilidade para o que digo, e deixo de dizer tantas coisas que esqueço. Não encontro nada fixo além de mim, e prossigo sem muito pensar como quem lê sem paciência de olhar.

Meu tempo livre não veio com o tempo.

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Minha liberdade vai aprendendo suas condicionais conforme verifico os detalhes da minha alma. Retalhei-a algumas vezes, e a montei conforme julguei mais proveitoso no momento,

mas não se pode costurar com farrapos o que não se possui e se conhece, e muito foi em vão tudo no final. Sequer pude dar ordens à nova geometria, sempre que a luz bateu nos olhos.

Mosquitos de verão sem dias de verão: assim é todo o tempo que me resta antes de retornar à rotina e ao exato. Poesia leva tempo. Poesia leva sangue. Tempo leva sangue. Sangue leva tempo.

Preciso de versos que façam valer o dia. Não tenho versos, porém, que não estes. Não tenho versos, eu sei, que não nada. E entretanto cá estou, alimentandoos como uma mãe a um filho vegetativo.

Escravo, escrevo.

@pgdemingos

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