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Beny Barbosa

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LiteraAmigos

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Beny Barbosa

Fortaleza/CE

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Perucas Mortais

Incentivada por Glória, a sua melhor amiga, Marisa foi ao Vale do Crepúsculo. Ao chegar lá, foi recebida pelas Guardiãs do Templo Sagrado de Pirinaty e levada à presença da Grande Sacerdotisa, que não se deixou identificar. Decidida, disse que cumpriria as Quatro Oferendas à Pirinaty, em troca do sucesso de seu salão de beleza. Clarice, uma ex-chacrete, finalmente estava se sentido bonita novamente, depois daquela terrível doença que a fez perder todos os cabelos e abandonar a carreira. Ao ver o seu rosto ornado pela peruca comprada no Afrodithe Hair, ela finalmente havia recuperado a sua autoestima. Diante do espelho, passava suavemente a escova nas novas madeixas. Contudo, sentiu um puxão em sua cabeça e em seguida, um gosto amargo e viu que alguns fios de cabelo estavam saindo de sua boca. Ela tentou gritar, mas um enorme tufo de pelos alojou-se em sua garganta, sufocando-a mortalmente.

Em pouco tempo, o Afrodithe Hair havia se transformado no point preferido das mulheres de bom gosto de Lubiânia. Para Marisa, a tristeza que sentira naquela malfadada noite de inauguração era uma tênue lembrança. Agora, podia frequentar os melhores restaurantes da cidade e festas mais badaladas.

Ser convidada para uma festa promovida pela socialite Fernandinha Marques, era o sonho de qualquer alpinista social. Tetê de Assis, que sonhava ascender socialmente, conseguiu um convite para o tal evento. Antes de sair de casa, deu os últimos retoques na peruca comprada no Afrodithe Hair.

Entretanto, logo que chegou na festa, Tetê sentiu uma leve fisgada em sua cabeça, fazendo-a segurar-se com mais força no braço do marido: −O que foi, minha querida? −Acho que é uma dorzinha de cabeça. −Você trouxe aquele seu remedinho? −Claro que sim.

Depois de tomar um analgésico com meia taça de moet chandon, Tetê foi ao lavabo.

As paredes de mármore branco davam um charme todo especial ao lavabo. Tetê reparou que sobre o espelho decorado de madrepérola haviam dois pequenos punhais de cabos dourados que pareciam ser de

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ouro. Àquela altura, a dor de cabeça aumentara; parecia até que o Fred Krueger estava enfiando as garras metálicas em seu cérebro. De repente, um gosto amargo na boca fez com que ela vomitasse. A falta de ar impedia que ela gritasse por socorro e, uma tontura repentina embaçou a sua visão, levando-a ao chão. Antes de cair, agarrou-se ao espelho fazendo com que os punhais se desprendessem da parede e caíssem sobre os seus olhos, ferindo-a mortalmente.

No dia seguinte, a notícia sobre a morte da socialite era notícia e chegou até ao salão de Marisa, que preferiu não valorizar aquele assunto e a todo momento, chamava atenção de suas funcionárias quando falavam sobre aquela morte.

O casamento de Cecília e Douglas foi perfeito. Ter pago caro por aquela peruca do Afrodithe Hair, valeu a pena, pois a cor dos cabelos da prótese capilar, além de combinar o seu vestido de noiva, disfarçou bem as cicatrizes deixadas por aquele incêndio do qual fora vítima ainda criança.

Ao chegarem na suíte, o casal jogou-se sobre a cama e começaram a se beijar. O desejo que emanava dos noivos fez com que aos poucos, fossem tirando a roupa. Cecília, apenas de calcinha e tiara, deixando Douglas enlouquecido. Num ímpeto, ele avançou sobre ela e enterrou o rosto entre os seus seios, fazendo-a suspirar de prazer. De repente, ele escutou um gemido mais alto, e resolveu olhar nos olhos da esposa: ela estava com os olhos esbugalhados e cabelos desciam de sua cabeça, entrando no nariz e na boca. Apavorado, Douglas tentou se desvencilhar, mas foi enlaçado pelos cabelos que pareciam arames cortantes, quebrando-lhe facilmente o pescoço. Em pouco instante, os recém-casados não passavam de dois cadáveres cobertos de sangue sobre o leito nupcial.

Sabendo que a sua filha Larinha era a quarta oferenda à Pirinaty e que chagara o dia de sua imolação, Marisa decidiu que fugir da cidade. Arrumou rapidamente as malas, mas antes de chegar no carro, deparou-se com Glória, que vinha fazer-lhe uma visita. Demonstrando preocupação, a amiga quis saber o que estava acontecendo. Marisa, sentindo-se pressionada, resolveu contar-lhe tudo e disse que não estava disposta a sacrificar a própria filha. Glória, incrédula, achava que Marisa estava tendo um surto e as duas passaram a discutir. Naquele momento, um vulto cruzou a estrada, ela perdeu o controle do veículo e chocou-se contra uma árvore.

Quando Marisa recobrou a consciência, viu que estava de volta ao vale do Crepúsculo e que naquele momento, a Grande Sacerdotisa dava início ao ritual de imolação: −Ó deusa Pirinaty, deusa da vaidade e da prosperidade, diante de vós ofereço-te o sexto cordeiro!

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Sob o comando da Sacerdotisa, as guardiãs trouxeram Larinha. Ao ver a filha, Marisa tentou em vão, desvencilhar-se da cadeira na qual estava presa.

A sacerdotisa retirou o véu lilás que até então escondia a sua identidade e, para o seu espanto, Marisa reconheceu Glória. −Chegou a hora de sacrificarmos o cordeiro ofertado por aquela quem o pariu. −Por favor, Glória, não sacrifique a minha filha! −O sacrifício à Pirinaty não é morte, mas sim, vida eterna!

A sacerdotisa conduziu Larinha ao altar onde seria imolada. −Glória, mate-me, ao invés dela!

A Sacerdotisa se aproximou de Marisa e disse: −Veja a sua criança pela última vez. Ela será preparada para assumir o posto de Grande Sacerdotisa, aquele que já foi ocupado por sua mãe. Aquela revelação caiu sobre Marisa como uma bomba, pois nunca soubera que ela fosse ligada àquela seita.

As Guardiãs se aproximaram de Marisa e começaram o ritual: rasparam o seu cabelo e em seguida, deram-lhe para beber, um líquido escuro e amargo que foi a deixando inconsciente. A sacerdotisa pôs uma peruca sobre a sua cabeça e em pouco tempo, cabelos afiados desceram por seu pescoço, entraram por seus olhos, nariz e boca, matando-a sufocada. −Está consumado! ‒ disse a sacerdotisa, quando viu Marisa sem vida sobre o altar sagrado de Pirinaty.

Em seguida, pegou Larinha nos braços e a levou para dentro do templo.

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