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Cristiane Ventre Porcini

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Cristiane Ventre Porcini

São Paulo/SP

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Janelas da Alma

Machado de Assis, em suas obras, descreveu os olhares de suas personagens femininas. Ele também fez uma análise do ser humano destacando seus defeitos e qualidades. No livro Dom Casmurro (publicado pela primeira vez em 1899), Machado de Assis assim se refere a personagem Capitu:” cabelos grossos, feitos em duas tranças, com as pontas atadas uma a outra” (...) “olhos claros e grandes (...) os olhos pareciam olhos de resseca”.” Traziam não sei que fluido misterioso e energético, uma força que

arrastava para dentro, com a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca.” O personagem Bento se sentia tragado talvez pelos olhos de ressaca de Capitu. Leonardo da Vinci (1452-1519), pintor e um dos maiores gênios de seu tempo disse: “os olhos são janelas da alma e o espelho do mundo.“

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É no olhar, então, que se revelam as vontades, paixões, ódio, etc. Tem olhos que levam a calmaria; outros, um mar revolto, agitado pelas ondas altas. O poeta Manuel Bandeira assim definiu em versos os olhos da cantora Maysa: ”dois oceanos não pacíficos”. Ainda há olhos muito fundos, verdadeiras covas, que revelam a desesperança, a fome e a doença. O olhar de uma pessoa expressa muito do que vai na alma. Conheço pessoas que parecem sorrir com os olhos, ou quem sabe pedir com eles. É também nos olhos que se traz toda a ternura, a compaixão. E há quem diga que um olhar diz mais que palavras. O olhar sério de um pai coloca limite, educa o filho. No cinema, renomados artistas conquistaram o público com seus olhos expressivos. A atriz Bette Davis (1908-1989) brilhava em meio a tantas outras atrizes de sua época com seus grandes olhos amendoados e sua interpretação de personagens fortes. Charles Chaplin (1889-1977) diretor, ator e compositor, no cinema mudo, conseguiu emocionar grandes platéias com seu olhar e personagens verdadeiramente inesquecíveis. O escritor português Eça de Queiroz (1845-1900) também revela “o não querer olhar”, no contexto de sua obra literária remete a cegueira da sociedade onde os indivíduos por vezes não querem olhar para os seus próprios defeitos, mas são rápidos a apontar os erros alheios. A Bíblia diz que os olhos são a candeia do corpo, e que se nossos olhos forem bons, todo o nosso corpo terá luz.

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