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Edweine Loureiro

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Edweine Loureiro

Saitama – Japão

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O Japão Esquecido

É natural que se tenha a imagem de que, em um país economicamente desenvolvido como o Japão, não existam moradores de rua. Mas, sim, há também miséria e sofrimento nas ruas japonesas ― principalmente em Tóquio, que, como qualquer grande centro, possui seu quinhão de mazelas sociais. Lembro-me de que foi uma das coisas que mais me surpreenderam quando aqui cheguei em 2001. Como muitos estrangeiros, minha imagem a respeito do Japão era o da perfeição em todas as áreas da sociedade. No entanto, na primeira viagem que fiz a Tóquio ― ironicamente para assistir a uma conferência organizada pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) ―, fui tomado de surpresa quando, chegando à famosa estação de Ueno, vi vários sem-teto: basicamente um grupo composto por senhores de meia-idade (até hoje, não presenciei a existência de “moradoras de rua” no país), dormindo no chão ou remexendo as lixeiras. Os transeuntes, por sua vez, passavam apressados e indiferentes. Uma cena que, apesar de comum em qualquer parte do globo, parece ter em Tóquio um grau de frieza maior do que em outras grandes cidades do Japão. Por exemplo, quando morei em Osaka, de 2001 a 2005, pude testemunhar uma maior solidariedade dos transeuntes ao depararem-se com um semelhante caído no chão: fosse um morador de rua, um bêbado ou uma vítima de um mal-estar. Em Osaka, aliás, não era raro ver pessoas se aproximando até para oferecer ajuda aos perdidos que, como este que vos escreve, não conseguem achar um local nem com o auxílio do GPS. Em Tóquio, porém, são poucas as mãos estendidas para ajudar o próximo. Saitama, onde moro atualmente, já se parece, nesse sentido, mais com Tóquio do que com Osaka: o que é natural, dada a proximidade geográfica daquela com a capital japonesa. E em Souka, o bairro de Saitama no qual resido, há também

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um morador de rua. Não sei nada a respeito de sua história de vida, nem, claro, o que o levou àquela situação; mas sempre que passo por ele, todas as manhãs, saúdo-o com um “bom-dia” (ohayou-gozaimasu, em japonês... sem piadas, por favor). Quando fiz isso pela primeira vez, ele pareceu assustado com o meu gesto: muito provavelmente porque não costumava receber tais palavras, ainda mais vindas de um estrangeiro. Porém, refazendo-se do susto, logo correspondeu à minha saudação. E, desde então, sempre temos nos cumprimentado. No verão passado, aliás, cheguei mesmo a comprar-lhe um refrigerante, o qual, dessa vez, ele aceitou sem hesitação. Creio que, com essas pequenas atitudes, mais do que refrescar-lhe a garganta, pude trazer também um certo alívio a seu sofrido e desconfiado coração: que deseja, como qualquer um de nós, não ser tratado com desprezo.

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