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Iraci José Marin

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Iraci José Marin

Caxias Do Sul/RS

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Em Busca do Tesouro Enterrado

Contava-se que, num lugar muito distante, havia tesouros enterrados. Eram moedas de ouro que os índios tinham escondido em panelas de barro, antes de serem atacados e exterminados pelos exércitos invasores.

A história chegou onde morava a família de seu Jorge. Quem contava ainda dizia que alguns aventureiros tinham enriquecido com a descoberta. Mas chegar até lá era difícil.

Os dois filhos de seu Jorge decidiram enfrentar os perigos e procurar aquele lugar. O esforço seria recompensado: livrariam a família da miséria em que vivia.

Num certo dia, então, Lúcio e Alfredo montaram em seus cavalos e, levando os alforjes com comida, instrumentos para cavar a terra e outros apetrechos, se puseram a caminho. Andaram vários dias até que enfim, no meio de uma tarde, viram terra amontoada ao lado de buracos abertos no meio de um grande campo desabitado.

Passaram por entre os buracos e escolheram um local próximo a um bosque, num espaço amplo e intocado, cercado de taipas de pedras, e se puseram a cavar a terra. Havia por ali algumas cruzes caídas.

Fizeram pouco naquele dia.

Já era noite quando abriram uma lona velha sobre os galhos das árvores, limparam o espaço, acenderam uma pequena fogueira, comeram e dormiram.

Cedo, recomeçaram a escavação.

O sol se escondia por trás das árvores quando, ao invés de um cofre com moedas de ouro, encontraram ossos. Pularam para fora do buraco e se acomodaram no acampamento. — Acho que o tesouro está embaixo desses ossos – Lúcio falou. — Pode ser – respondeu Alfredo. – Botaram os ossos ali pra enganar. Confiantes na sorte, adormeceram.

Na madrugada, um vento fraco balançou a lona e uma leve

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luminosidade clareou o acampamento. Levantaram num pulo e viram uma figura branca sobre o buraco que tinham feito. Assustados, empunharam seus facões. Tremiam de medo do fantasma que pairava no ar. Depois de breve tempo, o vento parou e a figura foi esmorecendo, até desaparecer.

Ficaram olhando para o escuro. Caminharam um pouco ao redor do acampamento, corajosos e temerosos ao mesmo tempo. Não viram nada, nem ouviram qualquer barulho. Acenderam novamente a fogueira e ficaram acordados até o amanhecer.

Desistiram de cavar o buraco. Repuseram terra sobre os ossos e começaram a abrir outro em lugar mais afastado. Trabalharam muito. No final do dia, encontraram ossos novamente. Pularam rapidamente para fora do buraco.

Na madrugada, novamente um vento soprou na galharia das árvores e outro vulto branco apareceu em cima da cova. Eles se levantaram com os facões em punho e ficaram na espreita. O vento e o vulto desapareceram vagarosamente.

Dormiram pouco naquela noite.

— Este lugar é amaldiçoado –disse Lúcio. – Vamos adiante, pra lá –e apontou o dedo na direção norte.

Era um campo extenso e desabitado. Pararam sob um majestoso umbu. A poucos metros dele, havia uma grande pedra preta.

Lúcio comentou que aquela árvore isolada no meio do campo podia servir de marco para indicar onde os índios tinham enterrado o tesouro.

Logo se puseram a cavar por ali. Mas de novo nada encontraram.

Entardecia e eles sentaram numa raiz da árvore para descansar. Foi quando apareceu um cavaleiro, que os saudou amigavelmente. Vendo que era homem da região, contaram o que faziam. O cavaleiro respondeu: — Muita gente veio procurar tesouro enterrado nestes campos. Mas ninguém encontrou nada. E não existe mesmo. É só lorota.

Fez uma pausa, olhou ao redor e concluiu: — Dizem que muita gente viu fantasma, principalmente lá pros lados do cemitério dos índios. Mas acho que também é lorota.

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Lúcio e Alfredo se olharam e ficaram calados. O cavaleiro tocou a aba de seu chapéu, disse “adeus!” e seguiu caminho. Como anoitecia, abriram a barraca, acenderam uma pequena fogueira, comeram e dormiram.

Na madrugada, um vento leve começou a soprar. Eles acordaram e viram uma luz nascendo da pedra. Pouco depois, o vento cessou e a luz foi descendo devagar para dentro da terra.

Lúcio exclamou: — Isto é um sinal!

Removeram a pedra. Cavaram e cavaram. Perto do meio-dia, bateram em algo oco. Era uma panela de barro. Olharam-se e sorriram. Eles a desenterraram, levaram para fora do buraco, quebraram a tampa e incontáveis moedas de ouro reluziram. Mergulharam suas mãos no metal salvador, sentiram o valor do ouro em sua pele, dançaram de alegria e riram como se tivessem ganhado o céu.

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