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Ilana Sodré

Ilana Sodré Salvador/BA

Boa tarde.

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Você não sabe o que acaba de acontecer!!! Estou tremendo até agora. Ainda sinto o odor de rato morto.

Aconteceu assim...

Há meia hora resolvi investigar o odor para recolher o corpo, jogar fora e melhorar a qualidade do ar. Qual não é minha surpresa quando arrasto o sofá e vejo um rato imprensado contra ele?

O problema, no entanto, era que o bendito rato estava vivo. Estava entre a parede o sofá, as patas tentando erguer seu corpo minúsculo e fragilizado. O rabo mexendo descontroladamente como se em busca de uma salvação. Eu, medrosa como a porra e nervosa como só alguém sem noção alguma de horário e lugar pode ser, gritei tão alto que o papa lá em Roma deve ter escutado o pavor em minha voz. Ah, minha senhora, nem te conto. O bicho estava nervoso de um lado, eu histérica do outro. Meu primeiro pensamento foi na manhã de hoje, quando você encontrou o ninho dos ratinhos.

Lembra que um deles correu até a tábua que encostamos no corredor da área de serviço para que a tartaruga não entre em casa? Fiquei abismada. Foi a primeira vez que vi um bicho como aquele ratinho semi desnutrido e que mal conseguia pular uma tábua com menos de vinte centímetros de altura.

O mesmo animal estava ali, atrás do sofá, esperneando contra a parede, fazendo minhas pernas tremerem, meu coração pular acelerado e minhas mãos, envolvidas pelo momento, ganharem vida própria e uma característica que eu não tenho em uma gota de meu corpo roliço: coragem.

O rato

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O baque do sofá contra a parede deve ter feito eu, o rato e a vizinhança nos assustarmos. Só a possibilidade de ter que enfrentar aquele roedor já me fez querer sair de casa e pedir abrigo ao vizinho mais próximo. Porém, meu sangue fervendo foi mais coerente que minha mente, a esta altura tão frita quanto o bife que comemos no almoço. Afastei devagar o sofá, ainda estava em dúvida se o bicho estava vivo (desde o princípio achei que ele havia morrido com o veneno e estava só agarrado estofado). Consegui a proeza de não deixar o bicho sair do lugar. Ele ainda se debatia, mas estava preso. Empurrei mais uma vez, com força, medo e histeria. Fui, corajosamente, diga-se de passagem, até o outro lado do sofá, onde o bicho se encontrava. Parei na frente e empurrei com força, com medo de que ele estivesse já solto e pudesse correr por entre meus pés me fazendo gritar e acordar Jang Ki Yong, que está prestando serviços ao exército na Coreia do Sul, na Ásia.

Voltei ao meu posto e mais uma vez afastei o sofá. Pude ver então um rabo que não se mexia. Seria truque? Cansaço? Minha miopia podia, de alguma forma, ter se agravado nos poucos minutos de embate bicho versus humana? Ah, minha querida mãe, foi com pesar que fui até o outro lado, para ver se havia ganhado o embate. Mal olhei parede quando outro grito voou de minha garganta seca. O bicho, esmagado, parecia um personagem de desenho animado atropelado. Quase imitei minha prima, aquela sua sobrinha que deixa a urina escorrer pelas pernas sempre que sente medo intenso. Mas fiz algo ainda mais estranho, contrariei meus hábitos, esqueci-me do ateísmo e comecei a pedir perdão a Deus por matar uma criatura. Foi o choque, creio eu, afinal, sou a matadora oficial de baratas da família. E nem lembrava mais como se fazia o sinal da cruz.

Tive que afastar o sofá para pegar o rato. Ainda me arrepio só de pensar. Coloquei-o no apanhador e, depois de colocar no lixo, joguei fora as luvas que vesti quando comecei a arquitetar este maligno plano de morte. Devo dizer que a ficha de minha maldade passional só caiu quando encontrei um pedaço vermelho dos miolos do rato na parede. Limpei-o com repugnância e joguei no lixo. Estou traumatizada. Pior, não consegui achar o rato morto que, por princípio, me fez iniciar a busca. Por isso envio-lhe esta mensagem urgente, peço que volte imediatamente para casa. Esqueça o trabalho, o dinheiro, as responsabilidades e volte, estou com medo do posso fazer se eu for tão cruelmente atacada outra vez.

https://medium.com/@ilanasodre

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