LiteraLivre Vl. 6 - nº 34 – Jul./Ago. de 2022
Ilana Sodré Salvador/BA
O rato Boa tarde. Você não sabe o que acaba de acontecer!!! Estou tremendo até agora. Ainda sinto o odor de rato morto. Aconteceu assim... Há meia hora resolvi investigar o odor para recolher o corpo, jogar fora e melhorar a qualidade do ar. Qual não é minha surpresa quando arrasto o sofá e vejo um rato imprensado contra ele? O problema, no entanto, era que o bendito rato estava vivo. Estava entre a parede o sofá, as patas tentando erguer seu corpo minúsculo e fragilizado. O rabo mexendo descontroladamente como se em busca de uma salvação. Eu, medrosa como a porra e nervosa como só alguém sem noção alguma de horário e lugar pode ser, gritei tão alto que o papa lá em Roma deve ter escutado o pavor em minha voz. Ah, minha senhora, nem te conto. O bicho estava nervoso de um lado, eu histérica do outro. Meu primeiro pensamento foi na manhã de hoje, quando você encontrou o ninho dos ratinhos. Lembra que um deles correu até a tábua que encostamos no corredor da área de serviço para que a tartaruga não entre em casa? Fiquei abismada. Foi a primeira vez que vi um bicho como aquele ratinho semi desnutrido e que mal conseguia pular uma tábua com menos de vinte centímetros de altura. O mesmo animal estava ali, atrás do sofá, esperneando contra a parede, fazendo minhas pernas tremerem, meu coração pular acelerado e minhas mãos, envolvidas pelo momento, ganharem vida própria e uma característica que eu não tenho em uma gota de meu corpo roliço: coragem.
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