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Roque Aloisio Weschenfelder

Roque Aloisio Weschenfelder Santa Rosa/RS

O Homem Alado

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Olho-me no espelho e perguntolhe: — como ainda estou aqui?

A surpresa me ataca quando ele fala: — porque ainda não lhe pegaram, o vírus não lhe atingiu, os que o possuíam não espirraram ou tossiram muito próximo de você. Agora ele já se enfraqueceu e quem recebeu vacina, como você, corre pouco risco de contaminação e de ter sintomas.

O que será que acontecerá no futuro, lá adiante, daqui a vinte anos, quando meus netos forem todos adultos e preocupados em sustentar sua vida e a de meus possíveis bisnetos?

Fiz a pergunta a mim mesmo, pensando em cientistas que previram alguns dos itens do progresso a que chegamos hoje. Que resposta poderei me dar? Será que é necessário me preocupar com o que, possivelmente, não presenciarei?

Vou ao espelho, ele ri. Nele vejo um rosto que é diferente de muitos anos atrás, quando tinha barba escura, e subindo, na cabeça, encontrava cabelos; agora, tão poucos restam porque são teimosos em não caírem também.

Penso que a pandemia de covid estará com os dias contados, mas que o futuro poderá ter problemas mais sérios. Quais eu não consigo imaginar, devem ser tão surpreendentes como foi, em 2020, o surgimento, entre nós, do coronavírus.

O espelho fala: — antes de novo tipo de pandemia, o homem criará asas a vestir e voará sem precisar de combustíveis. Basta que sejam carregadas as baterias embutidas em cada uma delas, que serão do tamanho de um dedo mínimo de homem normal e durarão até vinte e quatro horas.

Rio na cara do espelho, mas ele não se impressiona e continua: — o homem pode voar até fora da atmosfera próxima à terra firme ou ao mar, basta carregar um nariz capaz de se prover de oxigênio super comprimido a ponto de não ter peso. — Como se fará isso? — pergunto, sem entender como os cientistas poderão chegar a criar tais novidades. — Quem, há dois séculos, pensaria em aviões, em vacinas, em internet? Mesmo assim, temos tudo isso. Quantas pessoas entendem como essas coisa funcionam? Se a ciência criou o impensável no passado, por que não poderá criar asas alimentadas por baterias para as pessoas? Ela já não criou pássaros metálicos enormes? Quantas luas, digo, satélites, não estão no espaço,

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criados por humanos? Você mesmo os usa para aproveitar a internet no seu notebook, telefone celular e no receptor televisivo. Seu avô teve algo disso? Até seus pais mal tinham alguma noção daquilo que você usufrui hoje — falou o espelho, sem pestanejar. — É, até as vacinas contra covid foram feitas rapidamente — retruquei. — Contra que outras doenças se conseguiu isso antes? Parece até desconf... — não terminei, afinal, é até um risco pensar demais...

Preciso pensar positivo, a ciência é capaz de muita coisa e, mais cedo ou mais tarde, encontrará a tão procurada vida no espaço. Quem sabe, seres voadores com pilhas nas asas! Quem sabe, capazes de entrar em condutos em que a velocidade possa ser maior que a da luz, para ir de um sistema estelar a outro, de passar, em instantes, de uma galáxia à outra! Vai ver que, no futuro, nem seja necessária a terra para a humanidade viver! Vai saber se as pessoas ainda precisarão de nossa estatura atual no futuro! Ter asas pilhadas para voar será plausível, não gastar combustível fóssil para se locomover, ainda mais. Agora, poder voar no espaço sideral com nariz de oxigênio comprimido, isso queria poder sentir! Claro que será para meus bisnetos ou tataranetos, se antes a “burra” humanidade não se extinguir por seus erros grosseiros na parte ambiental e por sua ganância por bens e privilégios em excesso.

Enquanto os vírus não me matarem, e meu sistema coronário me deixar vivo, quero imaginar que a ciência ficcional seja capaz de ser ciência verdadeira, mesmo com pessoas aladas voando por aí.

Então, baterias já existem e são produzidas há muito tempo. Para que possam ser carregadas, é claro que se precisará de energia elétrica. O espelho não me diz, mas minha imaginação quer ficcionar que ela possa ser captada diretamente do sol por meio de agulhas metálicas direcionadas do chão na direção dele. Essas agulhas terão fios de linha ligados à central elétrica da casa de seu dono. Num dia de sol armazenarse-á o suficiente para um mês de consumo.

Para impedir que outros vírus, criados ou não em laboratórios, venham a ameaçar meus sucessores familiares, uma pequena teia magnética invisível circundará os corpos das pessoas, obtida por uma vacina feita de beijos dados por jovens mulheres que não tenham parido ainda. Elas serão as pessoas mais ricas do mundo e, para transmitir tais vacinas, precisarão tomar um suave banho magnético, voando a mil metros de altitude em dia ensolarado.

Pena, certamente, não estarei aqui para receber um beijo tão magnético.

www.facebook.com/roquealoisio.weschenfelder

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