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Luís Amorim
Luís Amorim Oeiras, Portugal
Na terra da avó
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Na terra da avó, o rural é quem manda e apesar dos incontáveis cães, o viver até segue pacato entre os que chegam e os que partem. Em tempos vividos por realmente distantes, houve numerosos campos, vistosos, cultivados e trabalhados, mas hoje em dia, o urbano distante é responsável por demasiado abandono, avançando o matagal sem pedir licença. Canídeos não a pedem e é vê-los arrastando o seu portão até ao início e fim de rua, como se a casa não lhes chegasse ou, no talvez mais certo, terem a pretensão de serem os donos da rua, sendo quase uma aventura de risco incerto, o simples caminhar descontraído na propriedade alcatroada ou apenas por caminho designada e que deveria ser de gente toda, mas que afinal parece ter-se transformado em rafeira, ainda que somente na percepção destes. Felizmente que os cães dormem muito e atravessar ruas circundantes aos campos, tem possibilidade validada por mais outro veraneio, pois que no próximo então se verá. Há quem vá prevenido no chicote em forma de pau, apenas para caminhar em benefício da saúde, pelo menos à pardida de caminhada e quem vá à alheia sorte, porventura divina. Na missa, o padre dá sermão a toda população, que são cegos e também surdos, parecem bichos, têm comportamentos distintos consoante estejam na igreja ou fora da propriedade religiosa, vão à missa apenas para serem vistos e assim serem boas pessoas, são egoístas e não pensam nos outros. E assegura que mais acima nunca se dorme, pelo que o castigo, um dia virá. Mas não serão todos assim, ainda que o espírito da avó, mais preocupada com os restantes do que consigo própria, seja uma raridade que mete pena face a quem não a escolhe por adopção e sai enfim um resignado encolher de ombros em como nada haverá a fazer. Uns desviam águas dos outros, com torneiras e canos de legalidade duvidosa, adicional
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gente tenta mas não consegue ou, depois de sucesso pontual, obrigada é na reposição de situação anterior. Mas também existe gente boa, levando frutas e legumes por ter fartura sem qualquer previsto fim, no gosto de oferecer, igualmente de sua música ensaiada como folclore e registada por gravada à posteridade. Os ensaios alegres e de contagiante inspiração festiva são numa antiga escola primária, relativamente perto de santuário onde padre é o mesmo nos sermões inflamados, sob olhar atento de seus cães, assíduos de missa sem ladrarem a ninguém. Só que em dias de semana, a música é diferente. Quem for para um retiro espiritual ou de pensar e divagar sem fim à vista, fora do templo, porque este apresenta-se sempre fechado, é de imediato ameaçado pelos rafeiros do padre, uns três bem grandes e de nulos sorrisos, perseguindo e ladrando até suposto intruso sair do recinto ao santuário, aparentemente propriedade deles. A casa do padre tem portão directo para as escadas, quais altares ascensionais, sensivelmente a meio do imponente religioso templo, razão pela qual os cães saltam as barreiras ou vedações a fazerem envolvência, de modo a irem patrulhar com atenção canídea todo o espaço. Este identifica-se ao perigo como lugar vizinho, sendo mais acertado o regresso à terra da avó, também ela com seu belo templo e sem rafeiros demasiado próximos de sorrisos rabugentos, quase uns vultos feudais por perto. Outros ilustres têm igualmente seu residir, talvez menos visitado, mas digno de registo em tributo. Deste local de honra, deveras calmo e preenchido, avista-se a dita propriedade da fartura, realmente de grandes dimensões, bem como a senhora que ensaia música e toca na sua interminável diversão e alegria, vislumbrando-se infinitos legumes e frutas à sua proximidade, na verdade por ela proferida em como haverá sempre para muitas amizades por agradada oferta. Outro ponto bem visível é o imponente acrescento indisfarçável a casa amarela, recente, ainda que agora tenha esse muro posto de cima para baixo até à rua, uma autêntica saia em dimensão por imenso betão do seu terreno, havendo quem diga que a propriedade se assemelha a uma barragem. A rua sobe, no quase sempre e direcção essa serve para ir ao monte na terra da avó, encontrando-se casualmente,
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afáveis senhoras que muito gostam de conversar e no seu natural cuidado até questionam um eventual sujeito perdido caminhando na terra rural, pelo menos até reconhecimento facial indicar o contrário, apenas um merecido e saudável passeio de ocasião. Conversa em dia, desde pretérito ano e rumo ao monte, onde tudo se percepciona com nitidez, desde que não seja hora de nevoeiro. É bastante quente, até para a fauna na vontade de contracenar ao fotográfico registo, sendo o menos tímido, um feio gafanhoto, assim mesmo foi ouvido. Lá na aldeia, no centro e mais concretamente pela admirada e afamada horta, perante intermináveis mirones por tudo crescer nela, feito inquestionável milagre apenas divino, passeia-se um pequeno, todo verde e que nem ousa fugir, parecendo gostar da hortícola área e de quem lhe dá a suculenta refeição, a exemplo de coelho e uns quantos gatos, demonstrando saber que comida de horta é mais benéfica para a saúde. Mas lá em cima, necessária limpeza de monte pela fresca hora, quando o maior calor já passou e antes de escuro em aproximação fazer cara feia, tudo fica impecável até à vizinhança familiar de terreno, a ser limpo oportunamente pelo seu dono. Este, no dia anterior, até se deu agradavelmente cumprimentado desde sua propriedade, uma quinta, assim mesmo apontada pelos residentes no lugar, sita ao início geográfico da terra, onde dizia que estava a fazer a poda e tinha eléctrica máquina para tudo ficar em condições. Do outro lado dessa rua, outra quinta com mais área de cultivo, quase a perder de vista e ao fundo, na direcção de ribeiro, distinto terreno na proximidade adjacente, com alojamento de veraneio, recebendo urbanas pessoas com férias diferentes em saudável ar respirado. Por esse caminho e quase sempre caminhando no sentido frontal, ainda que com uma viragem final à direita, histórica capela se visita, fechada desde tempos distantes assim continua com dois santos em pedra trabalhada sorrindo e cumprimentando do seu ponto alto, na actualidade como no passado longínquo. E pelo futuro, tudo indica que continuarão acenando desse sossegado modo até visibilidade que alegremente disponham vinda de sua grandiosa altura. Capela secular pertence supostamente à mansão em frente, mas os seus vastos campos, a exem-
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plo de outros antes referidos, estão ao triste abandono. Pela aldeia fora, acima e dispersando, muito se perdeu de cultivo e relações sérias, onde a palavra era mais do que suficiente, contrastando aos dias actuais, onde tudo quer papel e às vezes, para não somar mais em demasiada cortesia, apenas pretendendo e inclusive tentando inscrever curiosas adendas à sua obsessiva vontade de alargar posses. Talvez o padre até tenha alguma razão, descontando no óbvio a sonora patrulha do santuário, mas pensando melhor, se alguém merece elogio maior nesta terra, só poderá ser a senhora mais apreciada pela aldeia, rumando sem hesitações uma outra vez até proximidade de avó no seu digno templo.
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