LiteraLivre Vl. 6 - nº 34 – Jul./Ago. de 2022
Luís Amorim Oeiras, Portugal
Na terra da avó Na terra da avó, o rural é quem manda
Há quem vá prevenido no chicote em
e apesar dos incontáveis cães, o viver
forma de pau, apenas para caminhar
até segue pacato entre os que chegam e
em benefício da saúde, pelo menos à
os que partem. Em tempos vividos por
pardida de caminhada e quem vá à
realmente distantes, houve numerosos
alheia sorte, porventura divina. Na
campos, vistosos, cultivados e trabalha-
missa, o padre dá sermão a toda po-
dos, mas hoje em dia, o urbano distante
pulação, que são cegos e também
é responsável por demasiado abandono,
surdos, parecem bichos, têm compor-
avançando o matagal sem pedir licença.
tamentos distintos consoante estejam
Canídeos não a pedem e é vê-los arras-
na igreja ou fora da propriedade reli-
tando o seu portão até ao início e fim de
giosa, vão à missa apenas para se-
rua, como se a casa não lhes chegasse
rem vistos e assim serem boas pes-
ou, no talvez mais certo, terem a pre-
soas, são egoístas e não pensam nos
tensão de serem os donos da rua, sendo
outros. E assegura que mais acima
quase uma aventura de risco incerto, o
nunca se dorme, pelo que o castigo,
simples caminhar descontraído na pro-
um dia virá. Mas não serão todos as-
priedade alcatroada ou apenas por cami-
sim, ainda que o espírito da avó, mais
nho designada e que deveria ser de gen-
preocupada com os restantes do que
te toda, mas que afinal parece ter-se
consigo própria, seja uma raridade
transformado em rafeira, ainda que so-
que mete pena face a quem não a es-
mente na percepção destes. Felizmente
colhe por adopção e sai enfim um re-
que os cães dormem muito e atravessar
signado encolher de ombros em como
ruas circundantes aos campos, tem pos-
nada haverá a fazer. Uns desviam
sibilidade validada por mais outro vera-
águas dos outros, com torneiras e ca-
neio, pois que no próximo então se verá.
nos de legalidade duvidosa, adicional
102