Ao Senhor Deus, toda a honra e toda a glória.
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Número 6 - Dezembro 2010
Ovo - Centro de Artes Performáticas Simbolismo, Paixão e Poesia no Porto do Rio de Janeiro TFG da Arquiteta Juliana Moreira - UFF
O Quinto Elemento Avaliação do desempenho e dos benefícios no uso dos aditivos redutores de água nos concretos “virados na obra” Augusto Cesar Abduche Corrêa | Eng. Civil MsC
Restinga de Itacoatiara Um projeto de recuperação Eugênio Schitine - Arquiteto - Pres. da Soami - Gestão 2008/2009 Dezembro 2010 • MEMO online | 1
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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Prof. Roberto de Sousa Salles - Reitor Escola de Engenharia - TCE Prof. Hermano José Oliveira Cavalcanti - Diretor Departamento de Engenharia Civil - TEC Prof. Eduardo Valeriano Alves - Chefe Diretor da Editora EDUFF Prof. Mauro Romero Leal Passos
A Revista MEMO é uma publicação
dedicada principalmente à Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente, que faz a integração do meio acadêmico com o mercado. Isso é traduzido em cada publicação, que terá em sua estrutura: artigos
Fundação Euclides da Cunha
técnicos científicos, ensaios e resenhas, visando levar
Prof. Antônio Fontana - Presidente
ao leitor assuntos abrangentes, como novas técnicas,
Rua São Pedro 24 Grupo 801
projetos acadêmicos, profissionais e o cotidiano
Centro - Niterói / RJ - CEP: 24020-050 TEL: (21) 2109-1661
da construção, bem como aspectos voltados para sustentabilidade e meio ambiente.
A publicação é composta por uma equipe
de professores, estudantes, profissionais e técnicos que buscam temas de interesse da sociedade, tendo ISSN 2179 533 9
Editor: Prof. Luiz Alberto Marques Braga Pardal
como berço o Departamento de Engenharia Civil TEC, da Escola de Engenharia TCE, da Universidade
Secretaria: Dilene Mattos de Oliveira
Federal Fluminense - UFF e gerenciada pela Fundação
Conselho editorial presidente: Francisco José Varejão Marinho,
Euclides da Cunha - FEC.
MSc (UFF), Antonio Carlos Moreira da Rocha, doutorando (UERJ), Luciana Nemer Diniz, DSc (UFF) Manoel Isidro de Miranda Neto, DSc (UFF), Cláudio Ribeiro Carvalho, DSc, Dalton Garcia de Mattos Junior,
Com 20 mil exemplares e distribuição
nacional e internacional, a Revista Memo é apresentada em tamanho 20,5 x 27,5cm com 88
DSc (UFF), Luiz Carlos Mendes, DSc (UFF), Marco
páginas impessas em policromia e papel de alta
Antonio Frota Lima, DSc (UFF).
qualidade. A publicação também está disponível em
Tiragem: 20 mil exemplares Distribuição: nacional e internacional, também apresentada
formato digital, com acesso pela web.
em forma digital, com acesso pela web. Edição, texto e revisão: Rafael Marques - Reg. nº 30144/RJ Projeto gráfico, diagramação e capa: Cereja.net Design gráfico e ilustrações: Galiana Le Diagon Produção gráfica: Synergia Editora Correspondente internacional: Leandro C. de Almeida - Arq. EUA Assessoria jurídica: Dr. Carlos Augusto Rabelo Vieira 4 | MEMO online • Dezembro 2010
REVISTA MEMO Rua Passo da Pátria 156, Bl. D, sala 461 - TEC São Domingos - Niterói - RJ cep 24210-240 - Tel.: 21 2629-5447 Email: contato@revistamemo.com.br WWW.REVISTAMEMO.UFF.BR
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16. Dos barracos de madeira aos prédios de quitinetes | Prof. Gerônimo Leitão 22. O conceito de SUSTENTABILIDADE aplicado ao projeto de escolas objetivando aumentar o desempenho escolar e a PRESERVAÇÃO AMBIENTAL | Profa. A. L. T. Seroa da Motta 26. MMM Roberto: Organização profissional, parcerias e o Edifício Marquês do Herval | Prof. Luiz Felipe Machado 32. Paisagismo, cidades e jardins: Uma breve reflexão | Prof. Jorge Baptista 36. Ovo - Centro de Artes Performáticas do Porto do Rio de Janeiro | TFG da Arquiteta Juliana de A. Moreira 48. Centros Unificados: nova tendência da educação brasileira | Arquiteto Mario Biselli 52. O QUINTO ELEMENTO: Avaliação do desempenho dos concretos | Eng. Civil Augusto Cesar Abduche Corrêa 56. Simulações Computacionais em Engenharia | Prof. André Maués Brabo Pereira 64. Restinga de Itacoatiara | Arquiteto Eugênio Schitine 70. Desenvolvimento ou sustentabilidade? | Economista Luiz Fernando Felippe Guida 72. Responsabilidade civil do construtor | Dr. Carlos Augusto Rabelo Vieira 74. Sua marca só está protegida se for registrada no INPI | Prof. Luiz Otávio Beaklini 76. A atuação responsável das engenharias e arquiteturas brasileiras para a redução dos desastres naturais e acidentes tecnológicos | Eng. Civil Gleudes Praxedes de Oliveira 84. Ação de campos elétricos e térmicos espúrios impactantes na manutenção da vida operacional de produto eletro/eletrônico | Prof. Eng. Civil Belmiro Ivo Lunz 88. THEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO | Trabalho acadêmico de Samara Guimarães, Vitor Cunha e Marina Marques - UFF Dezembro 2010 • MEMO online | 5
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O amanhecer do novo tempo revigora a vontade de viver, sintonizado com os ruídos da
divina tempestade que alimenta as inovadoras fontes do saber.
A Universidade Federal Fluminense vive um novo tempo, onde a inovação é fundamental
para o seu desenvolvimento pleno, com o olhar de quem comemora 50 anos bem vividos, vencendo desafios, conquistando resultados aprovados e reconhecidos, nacional e internacionalmente, abrindo portas e criando caminhos para viver um futuro que já começou alicerçado em bases sólidas, forjadas pela determinação do corpo docente, pela força dos seus funcionários técnico-administrativos e o empenho de seus alunos, onde todos são solidários com a causa maior, a educação.
A Revista Memo, originária do departamento de Engenharia Civil-TEC, da Escola de
Engenharia-TCE, com apoio da Fundação Euclides da Cunha-FEC vem, a partir desta edição, com mais qualidade gráfica, com design mais moderno, com maior número de páginas e também, no formato virtual (WEB), objetivando a difusão dos produtos gerados, resultante do esforço de seus professores engenheiros, arquitetos, ambientalistas, seus alunos e profissionais convidados que têm valiosa contribuição reconhecida no meio.
Com nova proposta editorial que tem maior interação com o leitor, agora tridimensional,
dando grande destaque na publicação de trabalhos finais de graduação (TFG) e trabalhos acadêmicos, dando um aspecto lúdico na informação no âmbito educacional.
Esperando havermos alcançado nosso objetivo maior, qual seja, a satisfação do leitor, atento
e exigente, de molde a provocar no mesmo interesse em nos oferecer seu valioso e imprescindível retorno, a fim de que possamos nos aproximar, cada vez mais, do nosso público-alvo, tornando a Revista MEMO, mercê da interação das ideias e sugestões que aguardamos ansiosos, uma referência agradável, permanente e duradoura.
Finalmente agradecemos a todos que, de alguma forma, prestigiaram com trabalho, ideias,
artigos, anunciando suas marcas ou simplesmente ajudaram renovando e fortalecendo o nosso ânimo com palavras de incentivo, nem sempre presentes e tão importantes para o desenvolvimento de qualquer projeto e em especial ao professor Antonio Fontana - Presidente da FEC nosso maior incentivador, que DEUS nos abençõe.
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O EDITOR
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PALAVRA DO REITOR
A Revista Memo, fruto de um projeto de extensão devidamente aprovado nas
instâncias do Departamento de Engenharia Civil da Escola de Engenharia e na Proex, revela a competência, capacidade de articulação e empreendedorismo de nossa comunidade acadêmica.
Este novo número traduz o resgate de um periódico de divulgação tão
importante para o relacionamento da UFF com a comunidade em geral, especialmente nas áreas de engenharia, arquitetura e urbanismo.
Os assuntos aqui publicados demonstram a expressiva produtividade da UFF
nessas áreas. Expõem a importância de transformar as dificuldades em oportunidades no campo do ensino, da pesquisa e da extensão universitária, posto que, ao editar esta revista, todos os segmentos de nossa universidade foram envolvidos: servidores docentes, servidores técnico-administrativos e alunos.
A UFF, em seu Jubileu de Ouro, agradece a todos que participaram na
elaboração dessa Revista, que permite não apenas a divulgação de seus saberes e suas experiências mas, sobretudo, por propiciar, através de seus leitores, uma maior interação com a sociedade.
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Roberto de Souza Salles
Reitor da Universidade Federal Fluminense
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SAUDAÇÕES
“ Para a Escola de Engenharia da UFF a criação de uma revista com
a qualidade da MEMO é um marco no qual a Fundação Euclides da Cunha não poderia deixar de estar presente, pois a sua grande função é o apoio às atividades que engrandecem a nossa Universidade”.
Antonio Fontana
Presidente da Fundação Euclides da Cunha
CONGRATULAÇÕES
O Departamento de Engenharia Civil congratula os Professores em sua
iniciativa e espera que a Revista MEMO atinja seus objetivos acadêmicos.
Eduardo Valeriano Chefe do Departamento de Engenharia Civil
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No intuito de contribuir, somar e multiplicar conhecimento, toda a Revista MEMO, além de ser distribuída gratuitamente, está disponível na internet. Através do nosso endereço WWW.REVISTAMEMO.UFF.BR, você encontrará, na íntegra, todo o conteúdo das matérias e fotos de cada edição, além de detalhes de projetos e publicações.
Não deixe de nos acessar. Interaja e participe conosco!
Ovo - Centro de Artes Performáticas O QUINTO ELEMENTO: avaliação do desempenho e dos benefícios no uso dos aditivos do Porto, Rio de Janeiro Simbolismo, Paixão e Poesia no Porto do Rio
redutores de água nos concretos “virados na obra”
Estas são as palavras que definem o Trabalho Final
Apesar da evolução na tecnologia com a introdução
de Graduação da arquiteta Juliana Moreira, recém-
dos aditivos redutores de água plastificantes e
formada pela Escola de Arquitetura e Urbanismo da
superplastificantes, os procedimentos ainda são os
Universidade Federal Fluminense.
mesmos do início do século passado.
Paisagismo, cidades e jardins: uma breve reflexão
Dos barracos de madeira aos prédios de quitinetes:
O paisagismo não pode ser inocentado quando se
cinquenta anos de transformações da moradia na
detém com exclusividade nas questões dos jardins.
Favela da Rocinha
Porém, o urbanismo precisa estar mais atento para
Gerônimo Leitão, Professor da Escola de Arquitetura
com a paisagem e com os papéis estratégicos dos
e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense no
jardins públicos.
Rio de Janeiro.
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Um fulcro farol Veridiana Chiari Gatto
Beira na baía De oníricos pressentimentos Fez-se UFF em minha vida. Continental, fiz-me argonauta. Fiz-te meu convés, Não obstante, navego-te em paradoxo, Mergulho em ti, cravada em ti, Em tuas profundas institucionalizadas contradições Onde me dilacero dionisíaca em seu território apolíneo. Quando me desconstróis, Sou eu quem ambiciona te desconstruir. Na pretensão de fazer gaia tua ciência, Percorro teus blocos preenchidos de Senhores bonachões, pedantes: barbas e óculos. Rapazes de olhos ávidos, ainda infantes: bárbaros ósculos. Agudas senhoras, algumas fadigas, meninas em flor. Eu também estou ali Historicamente localizada Em fluxos epistemológicos e herança platônica. Alto do quarto andar, observo o pitoresco Espetáculo que me propicia o crepúsculo no Gragoatá. Por alguns instantes sou toda retina. Aqui, Meu espírito fluvial aprende a ser fluminense. Sabendo-te meu devir, sabendo-me teu devir Vamos de mãos dadas nessa dialética. E o fardo que é o que te transcende É facho de esperança em mim De que o material com que me nutres Não se encerre em teus limites.
“Ao Professor JOSÉ FERNANDES SENNA, do Departamento de Engenharia Civil - UFF, o nosso reconhecimento e eterna gratidão.” Poesia premiada com o 1º lugar no concurso da EDUFF.
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Dos barracos de madeira aos prédios de quitinetes:
cinquenta anos de transformações da
moradia na Favela da Rocinha por GERÔNIMO LEITÃO | PROF. DA ESCOLA DE ARQUITETURA E URBANISMO | UFF Para uns, a Rocinha é a maior favela da América Latina. Desde 1986, é uma das regiões administrativas da cidade do Rio de Janeiro. Muitos afirmam que é uma verdadeira cidade, com vários “bairros”. Alguns chegam a dizer que “a Rocinha é a segunda maior cidade do Ceará, depois de Fortaleza”, tal o número de “conterrâneos” que lá vivem. São muitas as divergências quanto ao número de moradores da Rocinha. Fontes distintas apontam números que oscilam entre 45 mil e 200 mil habitantes. Ocupando, atualmente, uma área de cerca de 453 mil metros quadrados, na encosta dos morros Dois Irmãos e Laboriaux, e tendo como vizinhos os bairros da Gávea e de São Conrado, a Rocinha passou por muitas transformações, ao longo dos últimos 50 anos: os precários barracos de madeira – que ainda existem, porém em número consideravelmente reduzido – deram lugar a construções de alvenaria, com cinco, seis e até sete pavimentos. Se, no passado, era possível, através de contatos com parentes e
Como nas décadas de 1950 e 1960, ainda se
amigos, chegar, demarcar um lote e construir
constrói com o apoio de amigos e parentes, porém,
um barraco, atualmente, para morar na
cada vez mais, essa prática de construção por ajuda
comunidade é preciso pagar – para alugar ou
mútua convive com formas remuneradas – total ou
comprar –, mesmo nas localidades de difícil
parcialmente – de produção da moradia. O uso
acesso e desprovidas de infraestrutura.
exclusivamente residencial é agora compartilhado
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por uma diversificada atividade comercial, bem como
significativamente no cotidiano da população local.
por serviços até então inimagináveis em uma favela.
Nos últimos 20 anos, a relação dos moradores da
No que diz respeito à infraestrutura, a água, antes
Rocinha com o poder público também mudou muito
captada em nascentes na encosta do morro, é
– reconhecidamente, para melhor. As intervenções
atualmente
distribuída
por
rede
pontuais e de caráter clientelista – a chamada
pública, ainda que, em algumas
“política da bica d’água” – deram lugar, a partir da
localidades, o abastecimento seja
década de 80, a ações regulares visando ampliar
precário e realizado por “sangrias”
os serviços públicos prestados à população local.
feitas pelos próprios moradores, ou
Porém, as características particulares do sítio, o porte
então, transportada morro acima
da comunidade e a complexidade dos problemas
em latões. A “Comissão de Luz”, por
a serem solucionados, fazem da urbanização da
sua vez, existe apenas no relato dos
comunidade – a principal demanda dos moradores
moradores mais antigos: há 20 anos,
– um projeto complexo e de custo elevado, o
teve início a implantação da rede
que é reconhecido por lideranças comunitárias e
de distribuição regular de energia
representantes do poder público.
domiciliar – o que não significa que não existam ligações clandestinas (os chamados gatos), sobretudo nas áreas de ocupação mais recente. As condições de esgotamento sanitário permanecem
precárias,
e
foram
agravadas, não só pelo extraordinário adensamento populacional, ocorrido ao longo das últimas duas décadas, como, também, pela inexistência de redes adequadas de coleta em toda a comunidade. As vielas continuam estreitas e sinuosas, porém, a maioria encontra-se
pavimentada,
quase
sempre, graças à ação organizada dos próprios moradores. Nem todas as transformações ocorridas na Rocinha podem ser, contudo, consideradas positivas para seus moradores. A partir de meados da década de 80,
Neste quadro de transformações pelas quais a
a presença do narcotráfico na favela ganhou uma
Rocinha passou, deve ser destacado, o papel
expressão crescente, com uma atuação que interfere
desempenhado pelo movimento associativo de
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moradores, responsável por várias lutas pela melhoria
dizendo, existem regras, mas são poucas e flexíveis
das condições de vida na favela. Da mesma forma,
o suficiente para corresponder às necessidades/
na década de 90, deve ser também ressaltado, o
possibilidades de quem constrói. Estas regras não
surgimento de organizações não-governamentais,
estão escritas e envolvem – basicamente – acordos
voltadas para a implementação de diversos programas
com vizinhos, no sentido de estabelecer o que se
de promoção social na comunidade.
pode e o que não se pode fazer. São acordos que
A Rocinha – assim como as outras favelas cariocas –
buscam resolver variadas questões. Nem sempre
veio para ficar. Não pode mais ser considerada – como
as negociações são simples. Conflitos existem e
se imaginava até os anos 60 – algo transitório, uma
são mediados pelas associações de moradores.
etapa inicial no processo de chegada dos migrantes à
Na Rocinha, a partir de meados da década de 80,
“cidade grande”. Segundo essa perspectiva, a favela
pela administração regional assumiu esta função. A
desapareceria tão logo as condições econômicas
mesma administração regional que, desde o final da
permitissem a incorporação de seus moradores à vida
década de 90, procura implantar normas edilícias
urbana. Esta visão, contudo, pertence ao passado.
que ordenem minimamente o processo de produção
Resultado de lutas históricas por justiça social, o
de moradias na comunidade – com resultados que
reconhecimento do caráter irreversível da presença da
deixam a desejar, apesar do empenho dos técnicos e
favela no cenário urbano, bem como a determinação
outros profissionais envolvidos.
política de promover a integração desses assentamentos
infor-
mais à cidade oficial, impõem
um
novo
desafio à sociedade. Além das intervenções urbanísticas que visam implantar os serviços e
a
infraestrutura
existente nos demais bairros, é necessário que a
A questão, portanto, permanece: é possível ordenar o
legislação urbanística seja estendida também à
processo de uso e ocupação do solo em uma favela
favela. E este é o desafio: regular um processo de
como a Rocinha? É possível regular uma dinâmica
produção do habitat, cuja dinâmica, embora, por
de produção da moradia que tem na “liberdade de
vezes, se assemelhe ao que ocorre na cidade oficial,
construir” uma característica primordial? Porém, não
apresenta, características tão particulares.
existindo um ordenamento mínimo da ocupação e
A produção da moradia na favela tem como aspecto
do uso do solo nas favelas, como assegurar que as
marcante a inexistência de regras ordenadoras
condições de habitabilidade não se tornarão ainda
como aquelas vigentes na cidade oficial. Ou melhor
mais precárias, com a perspectiva de crescimento
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populacional desses assentamentos – sobretudo
da favela e procurar ser simples, para que sua
após a implantação da infraestrutura de saneamento
compreensão não envolva as mesmas dificuldades
necessária?
que se têm ao consultar o código de obras da cidade
Essas considerações nos levam, portanto, a repensar
dita oficial.
as possíveis normas de ordenamento do ambiente
Definir, portanto, um conjunto de normas edilícias
construído na favela, de modo a evitar a criação de
básicas, amplamente discutidas e pactuadas pelos
“camisas de força” que impossibilitem práticas que
diferentes grupos representativos da população
asseguram, na construção da moradia, não apenas
favelada, poderá ser o primeiro passo. Viabilizar a
o abrigo (a casa), mas o trabalho (a birosca), os
implantação de programas de assessoria técnica
projetos futuros (o cômodo para o filho que casou)
a quem constrói – com a participação ativa da
e, até mesmo, a aposentadoria (a renda do quitinete
universidade pública e do Instituto de Arquitetos do
alugado) – práticas usuais que dão respostas às
Brasil – é outra das ações possíveis.
demandas e necessidades da população que vive na
Por sua vez, o estabelecimento de parcerias com
favela.
organizações não-governamentais, que já atuam
Nos parece que conscientização e ações efetivas
nas comunidades faveladas, poderá possibilitar
de fiscalização são de fundamental importância
a difusão das informações referentes às normas
na implementação desta política de ordenamento.
edilícias pactuadas, bem como a fiscalização do
A legislação proposta pelo poder público deve
cumprimento dessas regras. Nesse processo de
reconhecer
ordenamento do habitat da favela, a incorporação
as
particularidades
da
morfologia
das redes de organizações não-governamentais – cuja atuação é cada vez mais relevante no cotidiano de seus moradores – poderá levar à superação das dificuldades de caráter operacional, observadas, até aqui, nas iniciativas promovidas pelo poder público municipal. Estas são algumas das ações que poderão contribuir para a implementação de uma legislação urbanística adequada às características particulares das favelas cariocas, o que – ao lado de outras ações de promoção social e da implantação de infraestrutura – poderá aproximar duas cidades tão iguais e, ao mesmo tempo, tão distintas.
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O conceito de SUSTENTABILIDADE aplicado ao projeto de escolas,
objetivando aumentar o
desempenho escolar e a PRESERVAÇÃO AMBIENTAL por PROFESSORA A. L. T. SEROA DA MOTTA | UFF
INTRODUÇÃO Frequentemente, arquitetos e engenheiros envolvidos com o projeto de escolas discutem a inserção dos princípios da sustentabilidade aliados ao alto desempenho de escolas, principalmente quando é necessário estabelecer uma ligação entre o edifício, a saúde dos ocupantes e a qualidade das atividades escolares. Atualmente, busca-se adequar as construções aos novos conceitos de sustentabilidade. Em outras palavras, seria a proposta de empregar nas edificações os meios de reconfigurar a civilização e as atividades humanas, de tal forma que a sociedade, seus membros e a economia possam preencher suas necessidades e expressar seu maior potencial no presente, e, ao mesmo tempo, preservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais, planejando e agindo de forma a atingir proficiência na manutenção indefinida desses ideais. Em arquitetura, para ser sustentável, um assentamento ou empreendimento humano necessita atender a certos requisitos básicos. Estes devem ser, em sua plenitude: ecologicamente corretos; economicamente viáveis; socialmente justos; e culturalmente aceitos. Edificações sustentáveis são aquelas que incluem decisões de projeto que levem a construções mais saudáveis, menos poluentes, e mais eficientes no dispêndio de insumos.
No que se refere aos edifícios escolares, este texto ressalta as escolas de alto
desempenho. Elas devem apresentar um desenho integrando estratégias de conforto ambiental aliadas a todas as técnicas construtivas voltadas para as edificações que comumente são designadas sustentáveis.
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
EDIFÍCIO SUSTENTÁVEL Qual seria a definição de edifício sustentável mais
características devem ter as construções nacionais
adequada ao clima e às características construtivas
para serem qualificadas como sustentáveis. Estas
no nosso país?
características
Edifícios sustentáveis são aqueles que incorporam
disponibilidade de materiais construtivos de cada
esforços para aumentar a eficiência da edificação,
região geográfica, da tipologia da edificação, de
através de decisões de projeto que reduzem o
uma agenda ambiental estabelecendo prioridades,
consumo de energia, de água, e de materiais
entre outros fatores.
poluentes, objetivando minimizar o impacto destes
Com relação aos edifícios escolares, vale ressaltar as
na saúde dos ocupantes e no meio ambiente. O
diretrizes para a construção das escolas qualificadas
conceito está relacionado com fatores que envolvem
como de alto desempenho como um modelo a
desde a escolha do terreno, o projeto, a construção,
ser seguido. Elas são descritas em diversos textos
assim como o uso e a sua manutenção. Isto é, deve
internacionais como sendo, além de sustentáveis,
incorporar todo o ciclo de vida da edificação.
grandes aliadas na transmissão de conhecimento e
Não existe, até o momento, consenso sobre quais
na formação de novos cidadãos.
dependem
do
clima
local,
da
DIRETRIZES DO FUNDO DE FORTALECIMENTO DA ESCOLA - FUNDESCOLA No Brasil, o Manual do FUNDESCOLA, publicado
de sustentabilidade, e precisa ser ampliado para
pelo Ministério de Educação em dois volumes,
incorporar seus conceitos. Descreve, de forma sucinta,
descreve as configurações mais apropriadas para
questões relativas ao planejamento do prédio escolar,
a construção de uma escola urbana ou rural. Ele
mas não aprofunda a questão. Acredita-se que a
se utiliza de fichas técnicas para apresentar os
principal razão seja a carência de diretrizes nacionais
aspectos ergométricos, recomendações sobre taxa
para se alcançar padrões de sustentabilidade nas
de renovação de ar, proteção contra o excesso de
edificações. Aborda, detalhadamente os tipos de
insolação, emprego de ventilação natural cruzada,
macro-clima encontrados nas diversas regiões do
de luminotécnica mencionando o uso de iluminação
país. Entretanto, ao se correlacionar com o projeto,
natural e de acústica, para cada um dos espaços
não se aponta para o fato do micro-clima no terreno
propostos. Indica as principais características dos
ser bem mais importante para o desempenho
revestimentos, tais como estanqueidade, cor, e
da construção. Trata da implantação no terreno,
consequentemente, o grau de reflexão da luz, e a
sempre objetivando um melhor aproveitamento das
resistência mínima aos impactos.
condicionantes climáticas, mas, novamente, o texto
Uma comparação entre as recomendações para as
foca no macro-clima, quando é o micro-clima que
escolas urbanas e as escolas rurais permite verificar
vai influenciar a construção.
que são praticamente iguais. Somente com relação
Numa comparação com as diretrizes apresentadas
ao espaço mínimo por aluno, ao comprimento útil
em outros países, observa-se que a abordagem é
e à resistência aos impactos dos pisos é que existem
outra. Nos textos correlatos, encontram-se critérios
algumas diferenças. Portanto, nota-se a existência de
para aperfeiçoar as escolas ditas tradicionais através
material técnico que se repete, o que pode acabar
da procura para definir os critérios que norteiam
confundindo o leitor.
uma escola de alto desempenho. Qualificam como
A abordagem do Manual editado pelo FUNDESCOLA,
lembretes as informações dadas sobre os resultados
embora tenha uma preocupação com o conforto
esperados num projeto de escola de alto desempenho,
ambiental, está bem distante da descrição acima
minimizando
a
importância
de
estabelecerem
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diretrizes específicas de projeto. Enquanto os manuais do FUNDESCOLA apresentam soluções prontas, as quais, quando conjugadas, não permitem inovar ou criar ao se projetar esta tipologia de edificação, os similares encontrados em outros países buscam descrever os resultados a serem alcançados.
ESCOLAS DE ALTO DESEMPENHO São consideradas escolas de alto desempenho, as construções que protegem a saúde dos estudantes, professores e funcionários, e, ao mesmo tempo,
Uma escola de alto desempenho deve ser: • Saudável e confortável do ponto de vista térmico, acústico e visual;
reduzem o consumo de energia e outros insumos.
• Eficiente no consumo de energia;
Estas escolas devem possuir custos operacionais
• Eficiente no consumo de água;
baixos, preservar o ambiente natural e permitir uma
• Empregar materiais apropriados;
alta performance escolar. Requerem um projeto
• Ter um esquema de manutenção simplificado;
interligado, onde todos os subprojetos de instalações
• O entorno ambientalmente preservado;
e os sistemas tecnológicos selecionados sejam pensados ao mesmo tempo, desde o início do projeto, permitindo sua otimização ao se considerar seus impactos nos níveis de conforto e na produtividade dos estudantes e professores de forma integrada.
• Ser um elemento de auxílio na transmissão de conhecimentos; • Ser segura e não oferecer nenhum risco aos ocupantes e, principalmente; • Possuir uma arquitetura estimulante.
Conclusões Embora descreva níveis de desempenho a serem adotados na construção das escolas para as diversas variáveis de projeto, é interessante notar que, salvo quando descrevem parâmetros de ergonomia e de acessibilidade, os manuais se limitam a fazer correlação com as normas brasileiras. É necessário que um projeto de escola tenha como objetivo atender as necessidades do indivíduo e busque definir os critérios que norteariam uma escola de alto desempenho nacional, isto é, uma escola que proteja a saúde dos estudantes, professores e funcionários, e ao mesmo tempo, reduza o consumo de energia, e outros insumos. Para serem sustentáveis, as escolas devem se adequar às agendas ambientais locais, possuindo custos operacionais baixos, preservando o ambiente natural, e permitindo um alto desempenho escolar.
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MMM Roberto:
Organização profissional, parcerias e o
Edifício Marquês do Herval por LUIZ FELIPE MACHADO | ARQUITETO URBANISTA
No início da década de 40, a marca MMM Roberto
de formado, também projetava, ocupando-se mais
Arquitetos iniciava suas atividades. Os irmãos Marcelo
dos edifícios residenciais. A divisão do trabalho
Roberto (1908-1964) e Mílton Roberto (1914-
entre eles era muito clara. O horário de trabalho de
1953), associados, desde 1935, para o concurso
Marcelo era diferenciado dos demais, chegava mais
da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), do qual
tarde, logo antes do almoço. Ele lia e trabalhava à
foram vitoriosos, recebiam, em 1941, o reforço do
noite em casa.
caçula. Maurício seguia então o exemplo de seus
O espaço da Rodrigo Silva media aproximadamente
irmãos mais velhos na adoção do nome Maurício
100 metros quadrados e era dividido em três peças. A
Roberto (1921-1996).
sala de entrada localizada ao final de uma escadaria
No endereço à Rua Rodrigo Silva, quase esquina
ocupada pelo auxiliar direto de Marcelo, José
com a Rua da Assembleia, os Roberto ocuparam
Baesso, servia de recepção. Ainda à direita, duas
o segundo andar de uma casa. Segundo Marcelo
portas davam acesso às salas que se abriam para
Graça Couto Campello, estagiário do escritório
a rua, a de desenho e a de Marcelo, ao fundo. A
desde 1942, “era um escritório grandão, e só tinha
sala de desenho, maior, comportava oito pranchetas
uma sala separada para Marcelo.” Nessa sala,
altas com tecnígrafos, além de arquivos. Na sala
Mílton e Maurício reuniam-se com o primogênito
de Marcelo, havia uma bela mesa desenhada por
para definir projetos. Os dois trabalhavam na sala
ele, três cadeiras e uma grande estante com livros
de desenho, junto aos demais arquitetos. Campello,
e revistas.
ainda referindo-se à fase inicial de MMM Roberto,
A primeira auxiliar direta na área de projeto era a
afirma que os três irmãos eram muito diferentes no
arquiteta Estefânia Ribeiro Paixão, colega de turma
trabalho. Marcelo era o “dono da bola”; era ele
de Maurício; Antônio Augusto Dias relacionava-se
quem fazia o risco principal, enquanto Mílton cuidava
principalmente com a execução de obras. Na jovem
dos desenhos e da apresentação. Maurício, depois
equipe havia estrangeiros: dois arquitetos búlgaros,
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Jorge Sirakof e Ivan Romanoff, e um português,
profissional, Tecelagem, SENAI – Petrópolis, de 1950.
Joaquim Silva. Havia outros estagiários e arquitetos,
Relativamente aos edifícios residenciais coletivos, o
dentre os quais destaca-se Élida Engert, que se
edifício MMM Roberto, de 1945; o edifício Júlio
transformou no braço direito dos Roberto na área de
Barros Barreto, de 1947; o edifício Piancó, de 1949;
projeto. Valdemar Lício de Jesus era um desenhista
e os edifícios Mamanguape e Guarabira, ambos de
profissional.
1950.
Dentre os projetos realizados nesse endereço,
Ao final da década de 1950, por conta do aumento
destacam-se a ABI, de 1935, o terminal de passageiros
das atividades, os Roberto decidiram buscar um
e hangares do aeroporto Santos Dumont, de 1937;
imóvel maior para ampliar suas instalações. Na Rua
e também o plano urbanístico para a cidade de
do Ouvidor 54, alugaram o quinto andar do edifício
Niterói, de 1938; a sede do Instituto de Resseguros
de escritórios de propriedade da firma de engenharia
do Brasil (IRB), de 1941; a colônia de férias do IRB
Pires & Santos, uma área de cerca de 180 m2.
e a sede do Instituto dos Industriários, ambos de
Em um espaço alongado, a organização funcional
1943; as instalações industriais da SOTREQ, de
era semelhante a do endereço anterior. O acesso,
1944; a escola de formação profissional Mecânica
por elevadores, dava em um corredor que distribuía,
do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial
à direita, em direção à Rua do Ouvidor, para salas de
(SENAI), de 1946; a escola de formação profissional
reuniões e a de Marcelo, cujo acesso fazia-se através
de Carpintaria Naval do SENAI – Niterói, de 1948;
de uma ante-sala ocupada por Baesso; e à esquerda
o edifício Seguradoras e a escola de formação
para a de desenho, cuja área de aproximadamente
profissional de Carpintaria e Tecelagem do SENAI –
60 m2 abrigava cerca de 16 pranchetas, arquivos de
Vassouras, ambos de 1949; a escola de formação
desenhos e mesas para o corte e para a finalização das pranchas. As pranchetas de desenho, menores, mais baixas, horizontais e equipadas com réguas T, constituíam uma novidade para a época, pois os escritórios de arquitetura ainda dispunham de mesas altas, reguláveis e com tecnígrafos. A produção gráfica do escritório era cuidadosa, as pranchetas em grupos de cinco eram apoiadas lado a lado sobre estruturas metálicas alongadas, havendo espaço destinado à guarda de papéis e de material de desenho. Nesse endereço, a arquiteta Élida Engert tornouse mais importante. Na porta de entrada lia-se: MMM Roberto Arquitetos – Antônio Augusto Dias, Arquiteto Associado. A equipe havia crescido e incorporado alguns outros estrangeiros, além dos já
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
citados búlgaros, como: os alemães Hans Butter e
Brasília, e a escola de formação profissional em
Franciska Buckmann, os portugueses José Eduardo
Mecânica de Automóveis do SENAI, ambos de 1956;
Coelho e Eduardo Anahory, o suíço Jean Kubler, o
o plano de extensão marítima da cidade de Tunis
grego Sthefano Eleutiríadis, especialista em pré-
– Tunísia, de 1957; a sede da Companhia Souza
fabricação que, tendo chegado como um consultor,
Cruz de Cigarros, de 1958; o complexo residencial
acabou efetivado e dedicado às obras. Os já
Alberghioro – Riviera del Poente, Itália, de 1962.
citados Marcelo Graça Couto Campello e Marcelo
Relativamente aos edifícios residenciais, Dona Fátima
Fragelli, contemporâneos de Élida Engert, tornaram-
e Finúsia, João Mendes Magalhães, Sadock de Sá,
se colaboradores frequentes. Dentre os estagiários,
Almirante Sadock de Sá, Sambaíba, Angel Ramirez,
alguns nomes de destaque no cenário futuro da
Panorama, Parque, Dalton, Barão de São Clemente,
arquitetura carioca, como Matias Marcier, Jayme
São Joaquim, Guarapes, Bela Vista, Salvador e
Zetel e Mauro Guaranis.
Verlaine foram realizados no período compreendido
Ainda nesse endereço, os Roberto constituíram uma
entre 1951 e 1966.
Divisão de Engenharia, sob a chefia do engenheiro
Embora a pretendida Divisão de Engenharia não
Arézio Fonseca, auxiliado pelos estagiários Moacyr
tenha vingado conforme pretensão dos Roberto,
Gomes de Almeida - futuro sócio de uma das maiores
o cálculo estrutural e as instalações prediais eram intermediadas por eles, permitindo um desejado controle de qualidade dos projetos, além do aumento de faturamento. Pela variedade de contratos, essa situação conviveu com outros modelos de parceria. Nos casos de empreendimentos de maior vulto ou relacionados com interesses específicos de empresas construtoras, quando os responsáveis pelos projetos complementares eram impostos pelos clientes, a atuação profissional dos Roberto limitava-se à compatibilização dos projetos e à supervisão da
empresas incorporadoras da cidade, a Gomes de
execução da obra. Dentre as empresas de engenharia
Almeida Fernandes (GAFISA) – e Agostinho Camargo
que se relacionaram continuamente com os Roberto,
– futuro calculista dos Roberto.
pode-se destacar a Pires & Santos, responsável pela
Dentre os projetos realizados ali, destacam-se a
construção de, entre outros, o edifício Marquês do
residência Arthur Monteiro Coimbra e o edifício
Herval.
Marquês do Herval, ambos de 1952; a escola de
O prédio é reconhecido como uma das realizações
formação profissional, Construção Civil, SENAI, e
mais extraordinárias dos Roberto, uma demonstração
o pavilhão Lowndes Fazenda Sambaíba, Petrópolis,
de eficiência construtiva através de uma expressão
ambos de 1954; o plano turístico para a região
instigante para a época. Pode-se classificar a
de Cabo Frio-Búzios, de 1955; o plano piloto de
produção dos Roberto, através da observação do
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
conjunto da obra, e particularmente deste exemplo, como uma acumulação evolutiva pelo domínio adquirido através do fazer contínuo de técnicas e de conceitos, sem que estes se cristalizassem, evitando que se tornassem ultrapassados. No edifício Marquês do Herval, a expressão de movimento das fachadas atinge o auge, através de angulações horizontais e verticais, e do sofisticado sistema de brises móveis; a partir do nível da rua, uma rampa de acesso helicoidal descendente comprova definitivamente a tese da continuidade entre os espaços edificados e urbanos. Marcelo fala do edifício: “o destino do arquiteto é inventar”. Os parapeitos inclinados provocam uma sensação estranha à primeira vista, mas a sensação, depois, torna-se agradável. Os brises móveis em alumínio com o desenho resultante de um gráfico de visibilidade são pura invenção. O que importa são as sensações provocadas, as verdades subjetivas. A arquitetura não é bidimensional e as fachadas não podem ser como simples composições de Mondrian. Assim, seguiram Borromini, ondulando as fachadas, pois a arquitetura é mais arte do tempo do que do espaço. O edifício move-se verticalmente atraindo o interesse do olhar. O olhar humano é sucessivo e não simultâneo e, na relação entre tempo e espaço, o que existe são as verdades subjetivas. No início da década de 1950, o escritório encontrava-se no auge de sua produção. O edifício Marquês do Herval, um dos projetos mais importantes dos Roberto, e cuja autoria é atribuída a Mílton, acaba por ser estigmatizado como o “edifício maldito” por ter marcado a morte do ente querido. A morte de Mílton, em 1953, abala Marcelo a ponto de afastá-lo do escritório por um período de três meses. No entanto, a marca MMM Roberto continuou a existir até a morte de Marcelo, em 1964. A partir desta data, o escritório passa a ser M Roberto sob a direção de Maurício, mas já estava finda a melhor fase da união fraterna, a dos três irmãos, e sua parceria com os grandes profissionais da engenharia nacional.
LUIZ FELIPE MACHADO Arquiteto Urbanista formado pela FAU/UFRJ; Doutor em História da Arte, Universiré Paris I – Sorbonne; Mestre (DEA) em História da Arquitetura Moderna e Contemporânea, Université Paris I – Sorbonne; Mestre em Arquitetura, PROARQ, FAU/UFRJ; Especialista em Materiais para Engenharia Civil e Arquitetura, EE/UFRJ. Professor, desde 1979, da USU, UFRJ, UNESA e PUC. Atualmente, Professor Adjunto da EAU/UFF. Atuante nas áreas de projeto e de construção com cerca de 160 realizações em programas diversos.
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Paisagismo, cidades e jardins: uma breve reflexão O paisagismo não pode ser inocentado quando se
por todos. A partir da segunda metade do século
detém com exclusividade às questões dos jardins.
XIX, surge um processo de renovação conceitual
Porém, o urbanismo precisa estar mais atento para
e metodológica trazido por questionamentos dos
com a paisagem e com os papéis estratégicos dos
médicos higienistas.
jardins públicos.
As
O jardim é um espaço de fascínio para diversas
decorrentes da primeira fase da revolução industrial,
culturas humanas e parece um estar de bem bilateral
determinam o surgimento dos grandes jardins
com a natureza. É talvez o lugar mais próximo para
públicos na maioria das grandes cidades. É através do
a celebração de um esperado contato natural.
discurso médico que surgem os chamados pulmões
Está associado à gênese e ao final dos tempos –
verdes nas cidades, em busca da assepsia solar e
caminhamos nos mitos e nas religiões, de um jardim
do ar puro. O jardim torna-se uma das estratégias
paraíso perdido para um paraíso que podemos
para a sobrevivência social no urbano. Nessa mesma
conquistar individualmente.
época, o urbanismo se impõe como método e como
Por ser fonte de riquezas como flores raras, frutos
ciência.
e matrizes estéticas, medicinais e aromáticas, além
De infinitos particulares, os jardins também passam
de trabalhoso, efêmero e custoso, é, ao longo da
a se tornam públicos e parecem gostar de se exibir
história, privilégio de poucos, fechado e guardado
para as cidades. Na literatura dos flanairs, palavras
como tesouro. Paraíso particular existente desde as
diversas afirmam os jardins como lugares para as
mais antigas civilizações, o jardim é murado como
longas contemplações e absorções de tempo, em
no Egito, nos jardins persas e nos giardinos secrettos
deleites do avistamento que não aponta apenas a
da Itália renascentista (Jellicoe, Susan & Jellicoe,
estética estabelecida para o belo, o bom e o sublime.
Geofrey,1995).
Jardins podem sugerir paraísos, mas também podem
Em tempos de dispersão do poder e medo, o jardim
ser intencionalmente feios, lúgubres, grotescos,
se encafua no centro das construções, como nos
assustadores, ou ainda práticos, descuidados, e
hortus conclusus dos mosteiros e abadias da Idade
trabalhosos. Jardins podem ser até proibidos e
Média. Em outros tempos, se esparramava horizonte
perseguidos como foram os jardins das “feiticeiras”
afora nas grandes propriedades, possibilitadas pelas
medievais. Podem ainda ser afirmadores da memória,
acumulações de riqueza, prestígio e poder: desde
educativos e culturais.
faraós, imperadores romanos, mecenas italianos,
Ainda que Proust, citado em Rykwert (2003:4), tenha
atingindo seu ápice de monumentalidade nos jardins
observado que paraísos devam ser necessariamente
franceses barrocos dos reis absolutistas. Todavia,
perdidos, vivencia-se um período em que paraísos
mesmo a tirania de tais períodos não impede que
de diferentes tipologias são anunciados e vendidos.
os jardins sejam sempre cobiçados e admirados
Atualmente, o turismo elege e produz lugares que
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primeiras
crises
socioambientais
urbanas,
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
funcionam como “paraísos terrestres”, na medida
podem ser até mesmo rurais (Azevedo, 2008). Na
em que ali o cotidiano se encontra em aparente
dimensão pública, os jardins também acompanham
suspensão. O consumo desses locais envolve questões
a lógica perversa da distribuição de renda. Vide o
que transcendem as carências existenciais das classes
caso do Rio de Janeiro: mesmo quando maltratados,
sociais mais abastadas. O cotidiano e seus tempos
os jardins dos bairros ricos são exuberantes obras de
velozes, seus riscos e sua competitividade atingem
paisagistas famosos e nos bairros pobres inexistem
a todos os que vivem e trabalham nas cidades. No
ou são escassos e empobrecidos.
bojo da atual complexidade ambiental e do avanço
Em paralelo à consolidação da ideia generalizada da
tecnológico, podemos considerar que muitos dos
urbanização no Brasil, nas últimas décadas, foram
lugares preservados para tais fins – como praias,
notórios os avanços dos estudos paisagísticos das
montanhas, áreas rurais, florestas e remanescentes de
áreas urbanas. Deve-se destacar, nesse sentido, o
paisagens naturais – são novos jardins que o homem
trabalho pioneiro de profissionais como Roberto
cultiva e preserva de diversas das suas próprias
Cardoso e Roberto Burle Marx, sendo este, quem, de
ações. As conhecidas contradições do capitalismo se
fato, cria o jardim tropical e notabiliza o Paisagismo
renovam nesses novos jardins da sociedade urbana.
brasileiro para todo o mundo. O trabalho de Burle
Em tais locais, por exemplo, se cuida com esmero da
Marx traz preocupações ecológicas, com suas
natureza que é destruída em tantas outras partes.
composições vegetais que, dentro das cidades,
Os jardins também são realizados sem arquitetos e
recriam associações naturais de um repertório
urbanistas, paisagistas, sem desenhos preconcebidos,
botânico da flora brasileira até então renegado
como demonstram os jardins populares cariocas
(Motta, 1983). Tal valorização do paisagismo traz
até mesmo em espaços livres urbanos. Estes, quase
inúmeras publicações sobre desenho, representação
sempre, são obras abertas, permitindo inclusive
e aplicações do paisagismo, em praças, parques,
a adoção de manifestações e coparticipações da
water-fronts, vazios urbanos, ao longo de rodovias,
própria natureza e de outras pessoas, como plantas
distribuindo
novas que surgem trazidas por vento ou pássaros,
de análise e intervenção para diversas cidades,
fruteiras e flores que são plantadas por conhecidos.
metrópoles e, inclusive, investigações sobre sítios
Jardins que somam frutos e flores, que aprontam
urbanos históricos. São valiosas contribuições para
surpresas e, nesse sentido, não são cenários. E,
o avanço e consolidação do estudo do paisagismo
apesar da sociedade associar que o belo é o que
urbano no Brasil.
custa dinheiro, pessoas simples podem saber ver e
O termo “paisagismo ecológico” é empregado
criar belezas em suas modestas formas do habitar e
em experiências que remontam da década de 70.
também em seus jardins.
No Brasil, o trabalho mais divulgado e de grande
Tais espaços populares são, por vezes, aparentemente
consistência é a obra “Paisagismo e Ecogênese”,
tão desordenados que nem parecem jardins, que
de Fernando Chacel. A ecogênese pressupõe a
mais parecem quintais e, portanto, ainda que, no
concepção de projetos com a utilização de espécies
caso brasileiro, os jardins tenham nascido urbanos,
locais, na medida em que as cidades avançam sobre
conceituações,
teorias,
métodos
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
diversos ecossistemas. Essa proposta, além de preservar, também aponta uma alternância para um paisagismo homogeneizante praticado com um elenco fechado de tipologias vegetais. Junto ao movimento ecológico, ao crescimento demográfico e ao adensamento e expansão das metrópoles, aumenta o reconhecimento da importância do paisagismo e sua visibilidade. As políticas de cunho neoliberal também utilizam maciçamente o paisagismo e seus jardins como um aliado poderoso para a promoção das reformas fachadistas de áreas urbanas, estratégia capitalista avançada em que a própria cidade vira mercadoria. São exemplos de vitrines urbanas, como o Pelourinho em Salvador, na Bahia, e Parati, no Rio de Janeiro, que trazem intervenções de caráter cenográfico e jogam para fora tudo o que incomoda. E como num eterno ritornelo histórico, o que incomoda são as classes sociais desfavorecidas. Como contraponto ao crescimento da violência e das desigualdades sociais, o paisagismo, especialmente aquele que utiliza a vegetação e os jardins, ameniza a frieza e a rigidez das paisagens urbanas, em suas escalas públicas e privadas, oferecendo, por vezes, elementos para lazer e encontros. Entretanto, muitas vezes, tal amenização se limita na prática a uma simples confortância do olhar e à produção de paisagens de passagens fugidias e vazias, numa lógica que parece ter horror à permanência e convívio. Como nem tudo são flores, brotam como jardins sem vidas, ordenados e assépticos. Todo jardim é cenário quando limita as possibilidades experimentais do usuário e esgota a possibilidade de brechas para reinvenção do humano. A vida precisa de surpresas, a cenarização aponta para um mundo virtual, não porque deixe de ser real, mas por ser um real previsível A violência urbana, a dificuldade de locomoção e o estresse dos grandes centros urbanos impelem as pessoas de volta aos seus lares, e, nesse processo, evocações românticas e nostálgicas promovem, para os que podem pagar por isso, mecanismos estéticos de compensação face ao estranhamento que a cidade impõe (Carlos, 2001). Hoje, o paisagismo nos espaços urbanos contemporâneos tem responsabilidades sociais para muito além dos jardins, e que não cabem nessa breve discussão. Entretanto, o jardim público, em especial, como espaço privilegiado do convívio social nas cidades, deveria ser estrategicamente mais considerado por aqueles que acreditam que um novo mundo só será possível com a valorização das práticas coletivas em detrimento dos valores individualistas que imperam em nossa sociedade.
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
por PROF. DR. JORGE BAPTISTA | ARQUITETO ESCOLA DE ARQUITETURA - UFF
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Ovo - Centro de Artes Performáticas do Porto do Rio de Janeiro Projeto TFG de Juliana de A. Moreira
Simbolismo, Paixão e Poesia no Porto do Rio Estas são as palavras que definem o Trabalho Final de Graduação da arquiteta Juliana Moreira, recém-formada pela Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense. O local escolhido para a implantação do Centro de Artes Performáticas foi a região portuária do Rio de Janeiro, pela sua vocação como área de realização de eventos culturais e artísticos. A união de diversos elementos materializou a intenção de criar uma arquitetura imponente e, ao mesmo tempo, carregada de poesia e simbolismo que se destacasse na paisagem.
Planta de Implantação A forma do complexo reúne uma série de símbolos e referências tanto às artes quanto às características da região. 36 | MEMO online • Dezembro 2010
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Inicialmente povoada por portugueses que desem-
torno de dois eixos principais que se cruzam formando
barcavam no cais do porto, a região teve papel
uma praça central coberta. O pedestre é valorizado
fundamental na estruturação da malha urbana,
com o posicionamento das entradas de veículos em
identidade cultural e história popular da cidade do
via secundária, possibilitando a formação de uma
Rio de Janeiro. Após o quadro de decadência e
grande esquina-praça entre as vias principais.
abandono que se criou desde a segunda metade do século XX, a região portuária do Rio de Janeiro
Concebido como um centro onde as artes em geral,
está prestes a ser revitalizada com o projeto Porto
como teatro, dança e música, serão planejadas,
Maravilha. E é neste contexto que se insere o projeto,
produzidas, apresentadas e apreciadas, é o local onde
considerando os novos projetos de alinhamento e a
serão ainda criadas e experimentadas novas formas
instalação de linhas de Veículos Leves Sobre Trilhos
de arte. Local onde a vida se manifestará através
(VLTs). Localizado em um terreno de 14.518 m2, no
da arte e onde esta será concebida, desenvolvida,
bairro do Santo Cristo, o projeto se desenvolve em
aprimorada.
O trabalho da Juliana Moreira demonstra sua capacidade de enfrentamento de diferentes questões contemporâneas que se justapõem na área do Porto do Rio de Janeiro. O partido arquitetônico adotado propõe uma área de convivência no nível do acesso principal de pedestres, o que o torna convidativo e acolhedor, permitindo clara identificação dos espaços e funções no seu interior. O projeto funciona como um belvedere que favorece a autonomia nas escolhas do público, surpreendendo-os com soluções técnicas inovadoras e qualidades plásticas que os fazem sonhar! Afinal, dos sonhos nascem os grandes projetos! Orientadora Prof. Laura Elza Gomes | Arquiteta
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
O complexo teatral é composto por dois teatros de porte médio, um tradicional de palco italiano e um laboratório flexível, configurados para abrigar os mais diversos tipos de manifestação artística e abrir perspectivas para possibilidades de uso ainda não conhecidas e que estimulem a pesquisa na área.
Os blocos dos teatros localizam-se lado a lado, de modo a compartilhar seus foyers, um bistrôbar e a praça central, valorizando a convivência. Os urdimentos dos teatros se destacam pela altura e formato inclinado, que compõe com o restante da fachada, lembrando a silhueta de um navio, e representando assim as atividades portuárias ora tão importantes na região.
No segundo nível, as varandas-plateia, além de serem corredores de passagem, abrem espaço para a criatividade na utilização da praça central como área de apresentações. Podem ser utilizadas como um segundo nível de plateia, ou mesmo um segundo nível de palco, com artistas saindo de ambos os teatros.
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Perspectiva Praça Central e Teatro Tradicional
O bloco de exposições/salas de aula se desenvolve em uma grande lâmina horizontal apoiada pelas extremidades, posicionada de forma que, a partir dos foyers, seja possível observar os artistas durante as aulas. Totalmente revestida em aço corten, ela surge como uma referência ao Elevado da Perimetral, um marco da região que será demolido. Apoiando a grande lâmina em uma de suas extremidades, surge do solo um pilar esférico de superfície espelhada. Sua forma representa a capacidade do ser humano de refletir o mundo real em suas criações artísticas. A arte como um espelho da nossa interpretação do mundo.
Os blocos suspensos do auditório, juntamente com as passarelas suspensas do lado oposto, fazem a interligação entre os blocos principais. O auditório é dotado de um sistema de abertura do seu palco para o exterior, de modo a ser utilizado para apresentações ao ar livre e instalação de tela de projeção de dentro para fora, transmitindo, eventualmente, performances dos teatros para um público maior na área externa, ou eventos que estejam ocorrendo em outros locais, como um jogo de Copa do Mundo, por exemplo.
Perspectiva vista do foyer para as salas de aula
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Perspectiva praça externa Na parte posteiror do terreno, estão a administração e as diversas oficinas-escola, como serralheria, carpintaria, adereços e etc., que darão suporte a ambos os teatros, produzindo todos os ítens necessários à apresentação de uma performance. O bloco é organizado em torno de um jardim central, que o transforma na área mais fresca do complexo.
Ao redor de grande parte da fachada envidraçada, surgem brises móveis em formato triangular e material isolante térmico, controlados eletronicamente, capazes de abrir ou fechar a fachada, girar horizontalmente ou verticalmente, formando desenhos diversos evidenciados à noite, através da luz oriunda do interior do edifício. Função e arte.
Na cobertura do edifício, estão localizados os sistemas de captação de energia solar e captação de água da chuva para irrigação de jardins. Um equipamento como este é capaz de trazer grande valorização à área e induzir a sua ocupação de forma natural e mais acelerada, fazer com que a utilização da área se torne mais intensa em diversos horários do dia e da noite, transformando a atual aparência de abandono, desertificação e tristeza em uma aparência de movimento, alegria e vida!
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Vista Posterior jardim
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Perspectiva Principal
Perspectiva Secundรกria
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Porque Ovo? O que há em um nome? Aquela a que chamamos rosa Por outro nome qualquer, igual perfume exalaria. William Shakespeare Romeu e Julieta, Ato II, Cena I Um nome é capaz de impregnar um objeto e criar símbolos que influenciam todos os sentidos humanos e transmitem determinada energia. O nascimento do mundo a partir de um ovo constitui símbolo compartilhado por várias civilizações. Seu significado remete à ideia universal do ato da criação, refletindo a capacidade do homem em reinventar o cotidiano e superar os desafios. As pessoas absorveram essa energia sentindo-se renovadas, cheias de novas ideias e inspiração durante suas atividades e mesmo ao sair.
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Corte AA
Corte BB
Corte CC
Corte DD Planta 1o. Pavimento
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Planta 2o. Pavimento
Planta 3o. Pavimento
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Centros Unificados: nova tendência da educação brasileira
por MARIO BISELLI (convidado)
O Brasil desponta atualmente como
tem sido prioritário para várias gestões públicas
uma das maiores economias do
em nível nacional, estadual e municipal. Estes três
mundo, cenário que começou a
níveis de governo, no Brasil, têm projetos específicos
se consolidar, a partir do final dos
para o mesmo problema, do qual destaco como o
anos 90, quando a democracia,
mais completo o modelo de Centros de Educação
reconquistada em meados dos anos
Unificados, produzido na gestão de Marta Suplicy na
80, finalmente se encontrou, já
prefeitura de São Paulo, sob a liderança do arquiteto
nos anos 2000, com uma razoável
Alexandre Delijaicov.
estabilidade econômica e com um
O Centro de Arte e Educação dos Pimentas
cenário
internacional
pertence à prefeitura de Guarulhos, e foi concebido,
favorável. Nesta primeira década
inicialmente, como um Centro de Arte e Educação.
do milênio, em função destes fatos,
Sob a nova administração municipal, foi adaptado
o Brasil começou a colocar em
ao programa de CEU´s, sob o modelo de São Paulo,
ato o que já conhecíamos como
e de acordo com a política do partido, tendo como
potencia, ou seja, desfrutar de seus
resultado um exemplar distinto daqueles produzido
incomensuráveis recursos naturais
como padrão, o qual apresenta uma nova visão
e humanos para a produção de
sobre este programa arquitetônico.
riquezas.
O referido Centro localiza-se no bairro dos Pimentas,
Em contraste com estes avanços
um local carente de equipamentos comunitários
notáveis, o Brasil tem problemas
voltados ao ensino, lazer e esporte. O projeto
sociais históricos que precisam ser
configura-se em uma linha, materializada em uma
atacados com urgência: o combate
grande cobertura metálica que abriga, nas bordas
à pobreza em seus mais variados
de sua dimensão longitudinal, os diversos usos,
aspectos
fundamentalmente,
articulados por um vazio central, que culmina na
o problema da educação, que
área dedicada ao uso esportivo. O conjunto aquático
econômico
e,
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
localiza-se fora deste eixo, em área externa. A
comum, forros em placas nas salas de aula, estrutura
topografia plana e a forma linear do terreno foram
aparente na rua interna).
determinantes para este partido.
O eixo central foi o ambiente mais explorado
Os diversos usos se distribuem em blocos, ora em
no aspecto da escolha das cores. Foi elaborado
concreto pré-fabricado, ora em concreto moldado in-
um cuidadoso estudo cromático para que este
loco. Biblioteca, salas de aula e refeitório se localizam
grande eixo não se tornasse um espaço monótono
no lado oeste do eixo. No lado oposto, localizam-se
e não convidativo. Foi enfatizada a constante
os volumes das salas de aula, ginástica olímpica,
transformação deste espaço, através da variação
dança e auditórios.
de cores e alternância de trechos abertos (sheds) e
O vazio central é a praça. Sem programa
fechados na cobertura. Ele, na verdade, é o grande
previamente definido, articula e dá continuidade
local de permanência do projeto. Além dos intervalos
à programação ao seu redor, através de percursos
de aulas e atividades, ele funciona realmente como
sugeridos no térreo e pontes no primeiro pavimento,
uma praça.
acolhendo permanências e usos diversos ao longo de seus bancos espaços livres. Contribuem para essa diversidade e atmosfera lúdica, as cores escolhidas para as fachadas internas, que variam do verde ao amarelo, em diversas matizes.
Acessibilidade O edifício é implantado em topografia plana, o que é uma grande vantagem em relação à acessibilidade – o pavimento térreo encontra-se em apenas uma cota. O acesso ao segundo pavimento e ao pavimento inferior realiza-se por rampas de suave inclinação atendendo às normas específicas, absolutamente incorporadas aos espaços. No caso deste projeto, as rampas assumem papel protagonista na solução da maior parte dos fluxos internos; as escadas são apenas estruturas auxiliares para as grandes circulações.
Materiais Por ser um espaço de uso público intensivo, a escolha dos acabamentos foi simplificada, focando em soluções básicas e de fácil manutenção (exemplos: pisos em concreto aparente, paredes com pintura
O escritório Mario Biselli, nascido em São Paulo, Brasil, em 1961, estudou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie onde se formou em 1985. Em 2000 obteve sua titulação de Mestre em Arquitetura e Urbanismo na mesma instituição. Atualmente, cursa o Doutorado na mesma instituição. Acreditando que a prática da arquitetura deve estar sempre permeada pela reflexão acadêmica, iniciou, a partir de 1992, sua carreira como professor do Departamento de Projeto da Faculdade de Belas Artes de São Paulo e, desde 1999, integra o corpo de professores do Departamento de Projeto na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie. Artur Katchborian, nascido em São Paulo, Brasil, em 1958, estudou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie onde se formou em 1985. Desde a fundação do escritório, tem dedicado sua atividade exclusivamente a este, coordenando integralmente as atividades de gerenciamento técnico e gestão administrativa para além de suas ações de projeto. O escritório de Mario Biselli e Artur Katchborian foi fundado em 1987. Com uma arquitetura que procurou compreender e responder às transformações econômicas e culturais brasileiras, Mario Biselli e Artur Katchborian têm projetado, em todas as escalas e temas, desde um sem número de residências, edifícios públicos e privados, residenciais, comerciais e de serviços, edifícios de interesse social como escolas, centros esportivos e templos religiosos, até projetos de escala urbana, tanto através de clientes privados como de concursos públicos, nos quais, recentemente, obtiveram premiações de destaque. Atualmente, desenvolvem o projeto para o novo Terminal 3 de Guarulhos.
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
O QUINTO ELEMENTO -
Avaliação do desempenho
e dos benefícios no uso dos aditivos redutores de água nos concretos “virados na obra” por AUGUSTO CESAR ABDUCHE CORRÊA | ENG. CIVIL MsC Os traços de concreto confeccionados
uma cadeia bipolar (-) em volta dos grãos de cimento,
em canteiros de obra, na maioria
que promove uma repulsão eletrostática entre estes
dos
grãos, entre si, e também com a água.
casos,
são
compostos
de
cimento, areia, brita e água. Apesar
Desde o início da reação, as cargas positivas do
de toda a evolução na tecnologia
cimento passam a combinar quimicamente com
do concreto, com a introdução
as cargas negativas do aditivo e, enquanto houver
dos aditivos redutores de água
predominância de cargas negativas aderidas às
plastificantes e superplastificantes,
paredes dos grãos de cimento, haverá repulsão entre
os procedimentos de confecção de
essas partículas e também entre esses grãos e a água.
concreto em canteiros de obra ainda
Essas ações de repulsão vão promover uma maior
são os mesmos do início do século
dispersão entre o cimento, agregados, e a água,
passado. Os engenheiros de obra
o que aumenta a plasticidade da mistura e evita a
ainda não perceberam os enormes
formação de grumos, com um maior envolvimento
benefícios dos aditivos redutores de
da água ao redor dos grãos de cimento, resultando
água como um quinto elemento na
em um melhor grau de hidratação. Quando as
composição do traço, com ganhos
reações de combinação destas cargas negativas
principalmente na qualidade do
do aditivo com as cargas positivas do cimento são
concreto, na segurança das dosagens
esgotadas, termina o efeito dispersante do aditivo e
em canteiro, na redução do custo,
inicia o processo de hidratação.
e ainda, nos benefícios ecológicos
O aumento da plasticidade do concreto devido à
gerados pelo produto.
dispersão promovida pelo aditivo, possibilita que
Os aditivos redutores de água agem
se obtenham concretos com abatimentos de tronco
quimicamente no concreto, criando
de cone (slump), superiores ao dobro e até ao triplo
52 | MEMO online • Dezembro 2010
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
de um concreto com a mesma composição sem
traços de concreto de uma mesma obra, devido a
aditivo. Isto representa uma redução na quantidade
não interferências de grumos na mistura.
de água e, consequentemente, no consumo de
Figura 2– Estrutura dos grãos de cimento em forma
cimento. Pequenas dosagens de aditivos plastificantes
de castelo de cartas.
ou polifuncionais podem alterar o slump de um
Outro fator que pode ter muito mais impacto
concreto, aumentando-o de 60 mm para 120 mm,
sobre a qualidade do concreto “virado na obra”
o que já torna o concreto muito mais plástico. A
é o controle da dosagem de água no canteiro.
medida permite que o material se adeque a maior
Na maioria das obras, a responsabilidade pela
parte das aplicações em canteiro de obras e, se
consistência do concreto, ou seja, a quantidade de
ainda houver exigência de concretos especiais, com
água a ser adicionada ao traço, é do encarregado
slumps mais elevados, o aumento de dosagens com
pela betoneira. Este operário, muitas das vezes, não
acompanhamentos de ensaios, poderá ser explorado.
é orientado adequadamente sobre os riscos de uma
O objetivo desse artigo, no entanto, é mostrar os
dosagem excessiva de água, e que mesmo 10% a
benefícios do uso de aditivos em “concretos virados”
mais do líquido pode reduzir a resistência do concreto
na obra, com o aumento da plasticidade e também
na mesma proporção. Quando no canteiro de obras,
da qualidade do concreto.
o concreto não apresenta a plasticidade adequada
A força de repulsão entre os grãos promovida pelos
à aplicação a que se destina, ao primeiro sinal de
aditivos elimina as forças de atração de Van der
contestação da frente de trabalho, o operador da
Walls, comuns em misturas de pós muito finos, como
betoneira, na maioria das vezes, atenderá prontamente
o cimento. Essas misturas tendem a formar grumos
às solicitações com “um pouco” mais de água. Todo
na forma conhecida como “castelo de cartas”, que,
esse risco pode ser reduzido e até eliminado com
por sua união, impedem a hidratação completa das
a adoção de concretos com boa trabalhabilidade,
superfícies dos grãos. O maior grau de hidratação
com maior plasticidade, através do uso de aditivos
de cimento promovido pelos aditivos reflete no
plastificantes e polifuncionais no canteiro de obras.
incremento das resistências mecânicas do concreto,
Com respeito à qualidade e desempenho das
em muitos casos, em mais de 10%. Além do ganho
resistências, tem que se observar que, como todo
de resistências mecânicas, a melhor condição de
produto químico, as dosagens de aditivos redutores de
hidratação dos grãos de cimento tem ainda muita
água tem que obedecer a limites em função de efeitos
influência sobre a regularidade dos resultados de
secundários, como o excessivo retardamento de pega
Dezembro 2010 • MEMO online | 53
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
e a incorporação de ar no concreto. A partir de certas
concreto na obra, a conta a ser feita é relativa à
dosagens de aditivos, o desempenho das resistências
capacidade de redução de água de cada aditivo,
mecânicas pode ser afetado. As dosagens ideais de
pois, para um mesmo fator água/cimento e mesma
cada aditivo para um determinado concreto vão
consistência, um concreto com aditivo redutor de água
depender das características físicas dos agregados,
diminui o consumo do líquido, e, consequentemente,
das características físico/químicas do cimento, e das
o consumo de cimento, em no mínimo 6% para
condições de aplicação no canteiro, porém trabalhos
os aditivos plastificantes. No caso dos aditivos
tem demonstrado que as dosagens de referência
polifuncionais, esta redução é superior a 10%.
para um teste inicial no concreto da obra devem ser
Além de todos os benefícios técnicos e econômicos
de cerca de 0,4% em peso de aditivo sobre o peso
citados, deve-se destacar ainda que o uso de aditivos
de cimento, para os aditivos plastificantes, e de 0,6%
reduz o consumo e, consequentemente, a produção
para os aditivos polifuncionais. A partir dos testes
de cimento Portland. Apesar de ser o responsável por
realizados com estas dosagens, que apresentam já
cerca de 7% das emissões globais de CO2, o cimento
um bom desempenho de incremento de plasticidade
ainda é indispensável - e de mais fácil obtenção -
e um baixo risco de retardamento e incorporação
para atender às necessidades do homem de moradia
de ar, para a maioria das marcas de aditivos do
e construções em geral.
mercado, pode-se chegar a uma dosagem ideal para as condições da obra. Avaliando-se os aditivos sob a ótica dos custos do
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Augusto Cesar Abduche Corrêa, Eng. Civil,
MsC, é especialista em materiais, patologia e
recuperação estrutural.
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Dezembro 2010 • MEMO online | 55
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Simulações Computacionais em Engenharia por ANDRÉ MAUÉS BRABO PEREIRA | PROF. DO DEPTO DE ENG. CIVIL, D.S.C UFF
O Brasil está passando por um
Portanto,
momento singular de crescimento
pesquisas e na formação de recursos humanos
acelerado, com expectativas, cada
são extremamente necessários para dar suporte ao
vez maiores, de crescimento. Para
crescimento do país.
acompanhar este crescimento, é
Desta forma, baseando-se nas experiências e
imprescindível investir maciçamente
trabalhos desenvolvidos pelo autor, levantam-se
na infraestrutura do país, assim
alguns potenciais e carências em cada um dos
como na capacitação de recursos
setores estratégicos mencionados anteriormente,
humanos para atender às demandas
que justificam a demanda de novas tecnologias
e à carência de pessoas qualificadas
para o desenvolvimento desses setores. No setor
em todos os ramos e setores
de Petróleo e Gás, destacam-se as aplicações
estratégicos.
relacionadas com a exploração da nova reserva
A grande preocupação atual é que
petrolífera no litoral brasileiro, que passou a ser
o Brasil não tem infraestrutura para
conhecida como “pré-sal”.
crescer, e os principais gargalos
No setor de Transporte, destaca-se que o domínio da
estão nos setores estratégicos. Este
tecnologia de construção de túneis é estrategicamente
fato já tem exigido e demandado
essencial para o desenvolvimento da infraestrutura
o
novas
básica de cidades e estados, pois além do impacto
nos
sócio-político-econômico devido ao encurtamento
setores de Petróleo e Gás, Transporte,
de distâncias, soluções baseadas em túneis geram
Energia
o menor impacto ambiental possível. Já nos setores
desenvolvimento
tecnologias,
de
principalmente,
e
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Telecomunicações.
é
indiscutível
que
investimentos
em
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
de Energia e Telecomunicações, destacam-se os
poder computacional disponível atualmente, ainda
problemas encontrados na operação e manutenção
assim, é uma tarefa desafiadora desenvolver e
de linhas de transmissão de alta-voltagem e em torres
implementar rápidos métodos numéricos capazes
de telecomunicações, devido, em grande parte, ao
de resolver problemas multi-físicos e de multi-escala
fato destas estruturas serem, permanentemente,
com um alto grau de confiança e precisão.
sujeitas a efeitos meteorológicos. Um dos fatores
Diversos problemas reais de engenharia são sistemas
mais importantes que devem ser considerados na
que sempre envolvem a interação e acoplamento de
análise de segurança de uma torre, refere-se à
diferentes domínios físicos (tais como: transferência de
solicitação provocada pelo vento, visto que se estes
calor, elasticidade, fluido-dinâmica, eletromagnetismo,
efeitos não forem controlados através de medidas
eletroquímicos etc.), o que não é uma tarefa simples,
apropriadas, as vibrações podem levar à destruição
inclusive se efeitos de não linearidades precisarem ser
de componentes por fadiga das estruturas durante a
levados em consideração.
vida útil destes.
Os métodos numéricos mais conhecidos e aplicados
Porém, sem a utilização maciça de recursos
nas modelagens de sistemas de engenharia são: o
computacionais torna-se inviável o desenvolvimento
Método das Diferenças Finitas (MDF) e o Método dos
acelerado de novas tecnologias e de soluções para os
Elementos Finitos (MEF). Ambos métodos de domínio,
problemas levantados. Este fato retrata a importância
fundamentam-se na discretização do domínio do
das simulações computacionais na solução da
problema (Figura 1(a-b)). Nos últimos anos, uma
maioria dos problemas de engenharia. Logo, o meio
alternativa que vem ganhando muito espaço é o
acadêmico tem um papel muito importante, e pode
Método dos Elementos de Contorno (MEC), que é
dar uma grande contribuição no desenvolvimento de
um método de superfície, ou seja, fundamenta-se
novas tecnologias e avanços na área de simulações
na discretização apenas do contorno do problema
computacionais aplicadas a esses problemas.
(Figura 1(c)). O MEC é uma ferramenta muito útil nas
Nas últimas décadas, as simulações computacionais
modelagens numéricas, devido à simplicidade da
vêm
em,
geração das malhas dos modelos e a aplicação em
praticamente, todas as áreas de engenharia. Ao
problemas consistindo de domínios infinitos ou semi-
longo da maioria dos processos de desenvolvimento
infinitos. Essas são algumas das principais vantagens
de novos produtos, uma redução considerável de
do MEC sobre os outros métodos numéricos.
custo, tempo e recursos consumidos em ensaios e
Ainda mais recente, o Método dos Elementos Discretos
testes experimentais pode ser obtida com a utilização
(MED) vem ganhando bastante espaço, e vem sendo
de simulações numéricas. Isso significa que o produto
aplicado com sucesso em diversos problemas de
completo deve ser modelado e seu comportamento
engenharia. O MED tem sido empregado para
simulado. Tal simulação deve considerar não
simular o movimento de partículas de materiais
apenas estruturas complicadas, mas também uma
granulares e rochosos, mas tem se tornado popular
combinação de diferentes fenômenos físicos e
como um método para representar materiais sólidos,
escalas. Portanto, mesmo com o impressionante
e para o estudo de problemas de fluxo.
adquirindo
crescente
importância
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Porém, a caracterização das propriedades mecânicas microscópicas das partículas, necessária para o entendimento do comportamento da interação entre elas, é uma tarefa muito complexa.
Figura 1: Métodos numéricos aplicados na solução de problemas de engenharia: (a) MDF; (b) MEF; e (c) MEC. Mesmo na tentativa de se explicar
Mecânica dos Meios Contínuos (assim como
da forma mais objetiva e simples
os problemas da Mecânica dos Sólidos) são
possível, as principais diferenças na
governados por um conjunto ou sistema de equações
formulação dos métodos numéricos
diferenciais.
mencionados anteriormente, exige-se
Essas equações diferenciais podem ser expressas e
um conhecimento mínimo de alguns
resolvidas tanto na forma forte (devem ser satisfeitas
conceitos matemáticos fundamentais
ponto a ponto) como na forma fraca (devem ser
(ver Figura 1).
satisfeitas na média, que pode ser estabelecida por
Sabe-se
que
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os
problemas
da
meio de um funcional e métodos de energia).
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
A diferença básica do MDF para os outros métodos
finitos, gerando um sistema de equações algébricas
numéricos é que, no MDF, exige-se que a equação
onde as variáveis são os valores nodais, e a matriz
que governa o problema seja satisfeita em cada
do sistema é conhecida como a matriz de rigidez do
ponto da discretização do domínio (geralmente uma
modelo (Figura 1(b)). Portanto, assim como no MDF,
grade regular de pontos). Ao aplicar as equações em
quanto maior a discretização do problema no MEF,
cada ponto do domínio e expressando as derivadas
mais precisa será a solução do problema.
por diferenças, obtém-se um sistema de equações
O MEC utiliza as mesmas ideias chaves do MEF,
algébricas, cujo grau de precisão da solução vai
porém o seu diferencial principal está na formulação
depender do quão próximo estão esses pontos (ou
integral do problema.
seja, do grau de refinamento da grade), Figura 1(a).
Nas formulações variacionais clássicas, integra-se a
Já no MEF, como é um método que busca a solução
equação que governa o problema junto com uma
dos problemas satisfazendo as equações na média,
função resíduo. No caso do MEF, esses resíduos podem
ele resolve os problemas por meio de integrações,
ser grandezas virtuais nas formulações clássicas, ou
ao invés de aproximar as derivadas por diferenças.
até mesmo, as próprias funções de forma, como nas
A ideia chave por traz do método parte do princípio
formulações de Galerkin. Já no MEC, estes resíduos
que se conhece o comportamento da grandeza
são escolhidos de forma especial, ou seja, são as
básica do problema em pequenas porções de seu
conhecidas Soluções Fundamentais do problema,
domínio, por meio de interpolação de variáveis
que são soluções das equações diferenciais para
nodais (no caso de elasticidade a grandeza básica é
funções delta de Dirac. A utilização de Soluções
o campo de deslocamento, e as variáveis nodais são,
Fundamentais como resíduos ponderados, junto
portanto, deslocamentos nodais). Logo, as funções
com diversas manipulações matemáticas, faz com
de interpolação são os elementos fundamentais do
que todas as integrais de domínios desapareçam,
método, e são comumente chamadas de funções de
resultando apenas em equações integrais de
forma. A partir disso, divide-se o domínio do problema
contorno. Portanto, discretizando o contorno em nós
em pequenas partes (geralmente em triângulos,
e elementos, de forma análoga ao MEF, porém com
em problemas bidimensionais, e em tetraedros, em
uma dimensão menor do problema, aplicam-se as
problemas tridimensionais) que são chamadas de
equações integrais de contorno em cada nó, gerando
elementos finitos onde a variação do campo da
dessa forma um sistema de equações algébricas,
grandeza básica é conhecida. Dessa forma, a integral
onde as incógnitas são as variáveis desconhecidas
de domínio é obtida por integrais nos elementos
no contorno (Figura 1(c)).
Dezembro 2010 • MEMO online | 59
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Na Figura 2, ilustram-se dois modelos para um bloco de fundação enterrado no solo com o MEC e com o MEF. Com estes modelos, é possível comparar as malhas utilizadas por cada método. No caso de simulações de propagação de ondas em meios elásticos, o MEC satisfaz naturalmente as condições de radiação com as Soluções Fundamentais, porém, com o MEF, é necessário uma discretização considerável do domínio para que não ocorram ondas espúrias em virtude do truncamento da malha.
Figura 2: Modelos de um bloco de fundação enterrado no solo com o: (a) MEC e (b) MEF. Por último, o MED possui um tratamento diferenciado
mencionados, precisa-se formular técnicas que
dos outros métodos, visto que a sua formulação se
possibilitem
baseia na aplicação direta da Terceira Lei de Newton,
outro, de modo a empregar cada um de forma
com o cálculo de velocidades dos elementos e
que ele possa oferecer o seu melhor. A maioria das
verificação do contado entre os elementos, que
técnicas de acoplamento encontradas na literatura
representa, portanto, um processo interativo.
(também conhecidas como técnicas de subestrutura,
Cada método numérico tem suas vantagens e
decomposição de domínio e problemas de multi-
desvantagens. Para se explorar e se beneficiar
regiões), baseia-se nas abordagens diretas e fortes.
das vantagens de cada um dos anteriormente
De forma geral, nas abordagens diretas, o problema
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combinar/acoplar
um
método
ao
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
é resolvido de forma conjunta (geralmente por um
modelos em estudo, consistindo em uma ferramenta
sistema único de equações), enquanto que, nas
muito útil para a engenharia civil, engenharia
abordagens interativas, os sistemas de equações de
mecânica,
cada método são resolvidos independentemente.
química, entre outras áreas do conhecimento,
Nas abordagens fortes, assume-se que as condições
sendo, portanto, bem abrangente. Para ilustrar
de equilíbrio e compatibilidade devem ser satisfeitas
essa potencialidade, apresenta-se, na Figura 3, a
nó a nó, enquanto que nas abordagens fracas, essas
visualização dos deslocamentos vertical e longitudinal
condições devem ser satisfeitas na média, ou seja,
para o problema da Figura 2, para uma simulação
para interface de acoplamento.
de propagação de ondas em meios elásticos com o
As técnicas de acoplamento são também exploradas
MEC. Não se deve esquecer que, em contrapartida,
como método de multi-regiões para modelagem de
as análises experimentais são fundamentais e de
materiais seccionalmente heterogêneos, presentes,
extrema importância para calibrar, aferir e validar os
por exemplo, em problemas contendo falhas e
modelos numéricos. Além disso, quando se propõe
descontinuidades.
desenvolver novas tecnologias, os experimentos
engenharia
geotécnica,
engenharia
Figura 3: Visualização das respostas em deslocamento vertical (esquerda) e longitudinal (direita). Outro
ponto
importante
nas
simulações
representam um passo indispensável na compreensão
computacionais é a associação de um programa que
e entendimento da física que governa os problemas.
simule problemas por meio de métodos numéricos
É importante ressaltar que neste artigo se expressa
com sistemas gráficos, pois permite não apenas a
a opinião do autor, baseadas nas suas experiências
criação da geometria dos modelos, mas também a
com a área de modelagem numérica de problemas
visualização do comportamento e das repostas dos
de engenharia.
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Restinga de Itacoatiara por EUGÊNIO SCHITINE - ARQUITETO & URBANISTA | PRESIDENTE DA SOAMI - GESTÃO 2008/2009 Itacoatiara, recanto natural eleito uma das sete maravilhas da cidade, possui uma
exuberante
beleza,
com seus morros invadindo o mar e sua praia de fortes ondas e águas cristalinas. Um
verdadeiro
fascínio
para surfistas e amantes da natureza. Escolher esse pequeno
paraíso
para
morar ou visitar não é apenas para contemplação. É preciso responsabilidade e
comprometimento.
Precisamos
cuidar desse patrimônio e deixá-lo preservado para que as gerações futuras possam dele desfrutar. A restinga vinha sofrendo uma degeneração
gradativa
com
a
ocupação urbana. Durante anos, serviu de depósito de lixo de todo tipo.
Lixo
orgânico,
restos
de
obras, resíduos de alimentos e uma infinidade de outros materiais. O aparecimento de plantas invasoras, seja por meio do depósito das podas de jardins ou por plantio direto, contribuiu também para a degradação desse bioma. O projeto de preservação da restinga foi desenvolvido por uma parceria entre a Sociedade dos Amigos e
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Moradores de Itacoatiara (Soami), a Companhia de Limpeza Urbana de Niterói (Clin), e a Secretaria municipal de Meio Ambiente. Começava assim o combate ao processo de degradação da área e a sua manutenção, para que o habitat em questão reagisse e voltasse a ser como era antes da intervenção humana. Era preciso limpar, diminuir os acessos para aumentar a massa de vegetação, retirar as plantas invasoras, replantar as espécies nativas e, o mais importante, divulgar e conscientizar os usuários da preservação do bioma. Dada à exuberância da sua beleza, Itacoatiara,
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
além de ser um balneário residencial, recebe muitos
restinga era inferior ao alto da duna. Nesta época,
visitantes. O pisoteio constante da restinga abriu
foi realizado o arruamento, em saibro. No topo da
várias descidas para a praia fracionando assim o
duna foi feita a Avenida Beira Mar, com sistema de
ecossistema, e fragilizando-o contra agressões da
drenagem das águas pluviais para a restinga. Dava-
própria natureza, tais como ventos e marés.
se início ao processo de adubagem e irrigação da restinga; e de forma acelerada, pois o calcário é ótimo catalisador na reação de absorção dos nutrientes pelos vegetais. Instalava-se a distorção de cada uma das espécies da restinga com aumento da pujança e da altura das mesmas. Dez anos depois, começaram a surgir casas no bairro. Aquelas dispostas na Avenida Beira Mar funcionavam como anteparos para os fortes ventos de sudoeste,
A vegetação auxilia na estabilidade das areias
que até então faziam as “podas” naturais, ao queimar
(MENEZES & ARAÚJO, 1999 apud FEVEREIRO E
completamente a parte superior da vegetação de
GUERRA, 2001). Ela cria obstáculos com suas raízes,
restinga. Quanto mais casas surgiam na Beira Mar,
ramos e folhas que barram, ou redirecionam, os ventos
menos podas eólicas ocorriam e, consequentemente,
que as carregam, impedindo, assim, que cheguem
mais alta tornava-se a restinga.
ao asfalto e até mesmo ao interior das residências,
Durante o processo de limpeza, retiramos da restinga
causando transtornos tanto para a comunidade local
aproximadamente 50 caminhões de lixo. Havia detritos
e visitante, quanto para as autoridades competentes.
de todos os tipos, desde restos de podas até entulho
Em Itacoatiara, este efeito é maximizado pelos
de reformas das residências da Av. Beira Mar. Para
frequentes ventos de sudoeste, que atingem o bairro
cobrir o buraco que surgiu após a limpeza, colocamos
frontalmente, arrancando grande quantidade de
areia doada de outros lugares. Esse material antes
areia, e lançando-a em direção à Avenida Beira Mar.
de ser depositado foi analisado por coloração e,
A maior parte desta areia é contida pela restinga,
principalmente, tamanho de granulação. O material
enquanto ela sobreviver.
foi depositado na Av. Beira Mar para posterior
Na década de 40, a altura máxima da vegetação de
distribuição nos locais mais agredidos. Ficamos sem
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
os tratores para a remoção da areia, e a sociedade,
Talvez, o item mais difícil seja a educação e a
desconhecendo o projeto, reclamava das dunas
conscientização da população em geral.
artificiais. Contratamos um trator e colocamos mãos
O descaso ainda persiste e, principalmente, a
à obra para não atrasar mais o cronograma, uma
agressão, seja por lixo deixado na praia ou diretamente
vez que as mudas estavam prontas para o plantio,
na restinga. Temos que transmitir às futuras gerações
e já estava passando o período para fazê-lo. Vale
que a vida em harmonia com a natureza é benéfica e
ressaltar a dificuldade que tivemos em conscientizar a
duradoura para a manutenção de todas as espécies
população que todo aquele transtorno provisório era
existentes.
para o bem da restinga.
ANTES
Eugênio Schitine | é Arquiteto & urbanista | Presidente da Soami Gestão2008/2009.
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DEPOIS
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Desenvolvimento ou sustentabilidade? por LUIZ FERNANDO FELIPPE GUIDA. ECONOMISTA E CONSULTOR (convidado) Uma simples caminhada pela Avenida Paulista,
com horários irregulares, sem ar condicionado no
centro nervoso e econômico do País, nestes tempos
calor ou sem calefação no frio. Uma senhora idosa
de proibição de fumo em ambientes fechados, mostra
tem que fazer ginástica para subir os degraus dos
que a falta de educação de fumantes despeja nas
ônibus, que deveriam estar na altura do meio-fio.
calçadas centenas de restos de cigarros por minuto.
Ainda por cima, geralmente, os motoristas são mal
Claro, vai tudo pelo ralo. Vai tudo parar no Rio
treinados, trabalham em condições ruins, e por aí vai.
Tietê.
Saúde o quadro ainda é pior,
A cidade toda asfaltada, impermeabilizada, coberta
Na questão da
por areia e cimento, com córregos e rios abarrotados
até pela essência do próprio tema. A população,
de lixo, recebendo as chuvas mais constantes e
estressada,
intensas de todos os tempos – sem dúvida, devido
agredida constantemente, em todos os sentidos,
também à bagunça que provocamos no clima do
acaba ficando mais doente, do corpo e da mente.
Mundo –, vive sendo inundada.
Não há UPA, hospital ou posto de saúde que dê
Esta receita continua sendo experimentada de norte a
conta.
respirando
muita
poluição,
sendo
sul do Brasil, como se fosse um sucesso. Cada local,
Geração de Empregos?
em maior ou menor proporção, claro, vai sofrendo
E quanto à
também consequências semelhantes.
Outro dia, numa palestra, numa escola em Rio
Parece que toda cidade almeja ser uma pequena
das Ostras (RJ), um aluno me perguntou o que eu
São Paulo! Em todas, se luta por mais asfalto, mais
sugeriria para geração de empregos numa cidade
shoppings, mais edifícios altos, como se coisas deste
como a sua; e se incentivar a construção civil seria
tipo fossem marcas de desenvolvimento.
uma boa alternativa. Obra gera emprego enquanto existe a obra. Se não
Desenvolvimento?
houver outra, em seguida, gera desempregados.
Qualquer jovem indagado a respeito de qual a cidade
Geralmente, mais desempregados do que já havia,
mais desenvolvida do Brasil, certamente responderá
vindos de outros lados em busca de colocação.
que é São Paulo. Importante ajudarmos na reflexão
Muitas vezes engrossam favelas em áreas impróprias
quanto à qualidade de vida da população que vive
para habitação ou criam novas, até para ficarem
nessa cidade tida como a “mais desenvolvida do
por perto das possibilidades de ocupação, gastarem
Brasil”.
menos em transportes etc.
A repetição do modelo, citado acima, leva a
Lembro-me da construção de mais uma hidrelétrica
sistemas de trânsito e transportes, por exemplo,
no norte do Brasil, em plena Floresta Amazônica,
quase irresponsáveis. A maior parte da população é
para gerar energia, não para a gente de lá, mas para
transportada como gado, em ônibus ou trens lotados,
as indústrias de São Paulo (mais “desenvolvimento”
70 | MEMO online • Dezembro 2010
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
para São Paulo). Uma construção gigante daquelas
fato e rapidamente. Fora os acertos e adaptações nos
atrai gente de todos os cantos para trabalhar. E
sistemas de transportes urbanos tradicionais.
quando acaba a obra? Favelização na Amazônia.
Voltando à questão da Saúde, além da melhoria dos
Insegurança,
salários e das condições de trabalho dos profissionais
núcleos
urbanos
sem
qualquer
infraestrutura, sem lei. Alguma dúvida?
da área, e do reaparelhamento e modernização das redes, falta lembrar da saúde preventiva. Se as
Universidade Federal Fluminense (UFF) tem estudos que mostram que A
crianças começarem a comer menos veneno no alface e no tomate, para começar, terão menos câncer e
a região onde se localiza Rio das Ostras, ao lado
outras doenças quando crescerem. A implantação de
da agora famosa Macaé, tem vento forte e constante
agricultura orgânica, familiar, urbana, peri-urbana,
durante quase todo o ano. Além disto, faz sol
semirural, de todas as formas, pode ajudar. Pode-
também, por lá, constantemente. Por que não se
se começar substituindo o veneno de cada dia nas
dissemina naquelas cidades energia eólica e solar?
creches e escolas. Melhora a saúde e gera empregos
Por que é caro, tem que importar componentes.
novos e limpos, também.
Então, sugiro incentivos para instalação de fábricas de componentes como hélices e turbinas para energia
A base para iniciarmos mudanças significativas,
eólica e placas para energia solar, ora. Empregos
adequadas ao século XXI, está na grande questão,
novos e sustentáveis.
citada lá no primeiro parágrafo:
Educação.
Todos sabemos que a pessoa educada consegue
Transportes, é mais do que
entender direitos e deveres, escolhe melhor. Se
claro, para quem pensa um pouquinho à frente,
tivéssemos Educação de boa qualidade, em tempo
que a melhoria dos sistemas passa por mudanças
integral, disseminada pelo Brasil, como há 20 anos
radicais. Difícil lutar contra o poderio econômico e,
pregavam Brizola e Darcy Ribeiro, a situação dos
por conseguinte, infelizmente, político, do setor. Mas
jovens hoje seria bem melhor.
não impossível, se os próprios empresários também
Muito mais fácil alcançarmos a Sustentabilidade com a
forem chamados para discutirem a questão e, quem
população bem educada. Ou não?
Na questão dos
sabe, passarem a investir em alternativas. WWW.REVISTAMEMO.UFF.BR
As
águas
da Baía da Guanabara, calmas
durante quase todo o ano, por exemplo, deveriam ser muito mais usadas por barcos-táxi ou barcosônibus municipais ou intermunicipais. Toda cidade deveria lutar para ter seu sistema cicloviário, com ciclofaixas, ciclovias, vias preferenciais para ciclistas e bicicletários. Investimentos urgentes para implantação de ferrovias e metrôs deveriam estar acontecendo de
Dezembro 2010 • MEMO online | 71
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Responsabilidade civil do construtor, prazo de garantia, prescrição e decadência. por DR. CARLOS AUGUSTO RABELO VIEIRA. Impõe-se-me, proemialmente, trazer a lume, sem imodéstia ou falsa modéstia, elementos que jamais integraram meu perfil de “modus vivendi” e que não há de se transmudar na provecta idade cronológica que ora ostento, com imensa alegria de viver, a honra pelo convite recebido pelos dirigentes e mentores intelectuais da REVISTA MEMO, para colaborar com meus razoáveis conhecimentos de direito imobiliário, reservando-me tão valioso espaço neste órgão de comunicação de qualidade ímpar. Todavia e bem por essa razão, peço vênia pelo espaço ocupado com o intróito supra que, apesar da exiguidade desta página, jamais me permitira omiti-lo e, assim sendo, vou direto ao ponto tema deste artigo.
Apesar do estabelecimento de controvérsia doutrinária e jurisprudencial acerca da
matéria, enquanto vigente o Código Civil, de 1916, que disciplinava a matéria “sub exame” em seu art. 1.245, a novel legislação, atualmente em vigor, a partir de 2002 cristalizou definitivamente o assunto, da maneira como há muito já sustentávamos em seu art. 618 e seu § único.
A discussão antiga se devia ao fato de que o art. 1.245 do C.C de 1916 dispunha,
tão somente, a respeito do prazo de GARANTIA da obra, a cargo do construtor, deixando a matéria relativa à PRESCRIÇÃO dos direitos do contratante da construção para tratamento legal no capítulo específico de fixação dos prazos prescricionais que, “in casu”, pela peculiaridade de tal direito, era de 20 anos.
Por essa razão, durante décadas, persistiu o enfrentamento, doutrinário e pretoriano,
quanto ao prazo prescricional do direito de indenização por defeitos da construção, pelo contratante da mesma contra o construtor, sustentando o primeiro, tratar-se de prescrição vintenária e o último, por razões óbvias, a quinquenária.
Pondo fim, definitivamente, às mais diversas tendências hermenêuticas até então
aplicadas, após o amadurecimento da matéria no âmbito jurisprudencial, surgiu a súmula 194 do Egrégio Superior Tribunal de Justiça firmando o entendimento de que “PRESCREVE EM VINTE ANOS A AÇÃO PARA OBTER, DO CONSTRUTOR, INDENIZAÇÃO POR DEFEITOS DA OBRA”.
Diante de tal sólido entendimento de uma das consagradas fontes do direito, vale
dizer, a JURISPRUDÊNCIA, curvando-se, “comme il faut”, o legislador ao elaborar o novo Código Civil em vigor, acertadamente, cuidou de reunir as matérias, indiscutivelmente conexas (garantia, decadência e prescrição), em dois dispositivos legais, quais sejam, os art. 618 e seu único § e o art. 205 do mesmo diploma legal, que assim dispõem: 72 | MEMO online • Dezembro 2010
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
“Art. 618. Nos contratos de empreitada de edifícios ou outras construções consideráveis, o empreiteiro de materiais e execução responderá, durante o prazo irredutível de cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, assim em razão dos materiais, como do solo. (GARANTIA)
“Parágrafo único. Decairá do direito assegurado neste artigo o dono da obra que não propuser a ação contra o empreiteiro, nos cento e oitenta dias seguintes ao aparecimento do vício ou defeito.” (DECADÊNCIA)
“Art. 205. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor.” (PRESCRIÇÃO)
Como se pode perceber, de maneira clara, o novo Código Civil, de 2002, ancorado na Súmula 194
do STJ (editada na vigência do C.C. de 1916), lançou a última “pá de cal” sobre as dúvidas e divergências antigas sobre a matéria, tendo apenas reduzido de 20 para 10 anos o prazo prescricional.
Por fim, faz-se necessário chamar a atenção do leitor para um fato de extrema relevância, qual seja o
defeito da obra, para ser passível de indenização pelo construtor, há de ter sua ocorrência, comprovadamente, detectada nos 5 (cinco) primeiros anos, contados a partir da entrega da obra pelo construtor, e o recebimento da mesma pelo contratante, igualmente comprovado.
Sendo assim, o contratante da obra não terá qualquer dificuldade senão aquelas decorrentes,
infelizmente, da pública e notória morosidade do Poder Judiciário, em buscar seu direito à reparação devida pelo construtor, até que se expirem os prazos legais acima apontados.
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Sua marca só está protegida se for registrada no INPI
por LUIZ OTÁVIO BEAKLINI.
Para iniciar as atividades de qualquer firma, é necessário obter um sem número de autorizações, registros e alvarás. Ao criá-la, no entanto, o profissional não se dá conta de que um de seus principais bens é deixado completamente desprotegido: sua marca. Em geral, para se evitar dores de cabeça futuras, vai-se buscar ajuda de um contador, profissional que, acredita-se, ser plenamente capaz de nos ajudar através dessa selva de normas e regramentos. O contador vai providenciar tudo o que é necessário para a legalização daquela atividade. Ao menos assim ele crê. E é assim que a maioria das firmas é aberta no Brasil. Entre estas regularizações, está o registro da firma na Junta Comercial, selando a sensação de que, a partir daí, minha firma é a única a poder usar o nome que escolhi. O que a maioria dos contadores não sabe e, portanto, não prevê, é a necessidade de também registrar a marca – o nome fantasia da firma – no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Este registro não é obrigatório, já que, de fato, qualquer um pode usar sua marca sem que a mesma tenha sido registrada no INPI. Ao contrário de tanta coisa no Brasil, o registro é uma opção, cabendo ao gestor da marca optar por fazê-lo ou não. Mas há um problema aí: se por um lado eu posso usar a minha marca que eu não registrei, por outro lado não posso usar a marca que tenha sido registrada por outra firma. O registro na Junta Comercial é estadual, e apenas garante não haver outra firma cuja identidade – o nome de registro – seja idêntico naquele estado do Brasil. A Junta nada tem a ver com o uso de nomes fantasia ou com a identidade visual incrementada de uma marca. Já no INPI, o registro protege em âmbito nacional, evitando que, mais cedo ou mais tarde, eu possa a vir a ter sérios problemas futuros, sendo obrigado a cessar o uso da minha identidade. Como diz a sabedoria popular, é melhor prevenir do que remediar. Mas como posso registrar minha marca? Isso é caro? Complicado? Demora? A resposta é a mesma pra todas as questões: não. Este artigo visa explicar como fazer para saber se uma determinada marca está sendo solicitada ao INPI, ou ainda, se a mesma já está registrada em nome de terceiros. A seguir, um passo a passo do que deve ser feito.
Investimento inicial:
Procedimento:
depositar um pedido de marca vai
TUDO é feito online, então, assim que você decidir
custar menos de R$ 500. Depois
qual é sua marca, é só preparar a respectiva arte
terão outros valores, mas é disso que
final, gerando uma figura de 8 x 8 cm em um arquivo
você precisará no primeiro ano.
tipo “JPG”.
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Depois disso, acesse <www.inpi.gov.br>, gere e
Se o nome escolhido tivesse sido, por exemplo,
imprima a guia de pagamento relativo a esse depósito.
“Landscape” para sua nova empresa de jardinagem,
Providencie o respectivo pagamento, entrando no
a pesquisa ficaria assim:
sistema do INPI para efetuar seu depósito. Tudo isso não vai tomar mais que duas ou três horas, contando com a leitura dos manuais. Mas antes de começar o procedimento de depósito, você precisa ver se a marca que você escolheu está livre, ou seja, se você é realmente o primeiro a solicitála. Para isso, ainda no site do INPI, faça uma busca
Clique em “pesquisar” e veja o resultado:
de arquivos. O Instituto não vai conceder a você uma marca que já tenha sido solicitada por outro.
Como fazer a busca: Clique na aba “Pesquisa”, e, em seguida, em “Pesquisar Base de Marcas”. Digite a palavra desejada e clique no botão “acessar”. Estude o que encontrou. No exemplo, há uma marca homônima, processo nº 816667632, que já está registrada. Agora é com você: ou pode comprar aquela marca do seu atual detentor, ou procurar outra para si. Mas melhor saber agora do que daqui a alguns anos. Na página de pesquisa clique em “Marca”, e digite o nome (ou parte dele) que pretende registrar. Você vai obter melhores resultados se trocar “pesquisa exata”
Assim como é fácil saber se uma marca está registrada no INPI, também é fácil depositar e acompanhar seu pedido, mas disso, falaremos em outra hora.
por “pesquisa radical”. A segunda fornece uma visão mais abrangente do que já foi solicitado, ou já está registrado no INPI.
Luiz Otávio Beaklini é especialista em Propriedade
Em seguida, você deve indicar a classificação de
Industrial. Engenheiro Civil e Mestre em Engenharia
sua atividade. Clique em “Classificação de Nice”
Civil formado pela UFF, onde administra Introdução à
para abrir uma lista com 45 classes. As classes 35 a 45 são para os serviços - aí incluídas as firmas de arquitetura, engenharia, consultoria, projetos, e
Propriedade Industrial, trabalha no INPI há mais de 30 anos. É examinador de patentes, foi chefe de divisão, Diretor de Patentes e Presidente do INPI. Atualmente é o Coordenador-Geral da Qualidade do INPI.
treinamento. Escolha a que mais se ajusta ao seu negócio, feche esta página, e digite o número na quadrícula respectiva. Dezembro 2010 • MEMO online | 75
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
A atuação responsável das engenharias e arquiteturas brasileiras para a redução dos desastres naturais e acidentes tecnológicos por GLEUDES PRAXEDES DE OLIVEIRA | UFF (convidado) A
apatia,
a
desinformação,
a
impactos e injúrias ao meio ambiente. Por isso,
escassez de recursos e o excesso
o conceito de Defesa Civil não deve parecer um
de
ser
simples meio para recorrermos às providências que
obstáculos ao estabelecimento de
devamos tomar para socorrer, proteger e assistir
compromissos com a preservação
comunidades nas situações emergenciais e/ou
da vida, a segurança pública, a
de calamidade pública, decorrentes de desastres
conservação
meio
naturais ou acidentes tecnológicos. Cabe a cada
ambiente e a proteção do patrimônio.
um de nós, pela informação, divulgar e promover
É universalmente reconhecido que
a prevenção, através de um processo esclarecedor,
todo acidente, qualquer que seja
educativo e reflexivo, com o objetivo de contribuir
sua causa, sempre ocasiona fortes
voluntariamente na superação das dificuldades, para
confiança,
não
saudável
76 | MEMO online • Dezembro 2010
devem
do
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
que se assegure que a comunidade seja contemplada
mundo, danos, perdas e contaminação, equivalentes
com planos de prevenção, proteção e segurança,
aos últimos 500 anos de desenvolvimento tecnológico.
comprovadamente eficientes, para atendimentos às
Tudo isso, atingindo diretamente a saúde, o meio
Situações Emergenciais.
ambiente, a infraestrutura, e a economia das populações dos países envolvidos. Desastres naturais,
Considerando que os “desastres naturais” atingem
assim como acidentes tecnológicos, não respeitam
a saúde, o meio ambiente, a infraestrutura, e a
limites geográficos, domínios políticos, nem classes
economia das nações afetadas, têm sido numerosas
sociais.
as perdas humanas e materiais sofridas em âmbito mundial, nos últimos anos, em decorrência desses
Com o propósito de prevenir, visando identificar os
eventos. Nos países em vias de desenvolvimento,
perigos e avaliar riscos, propõe-se, desde então, a
dentre os quais se encontra o Brasil, os efeitos desses
adoção de procedimentos para prevenção, proteção
desastres se configuram na subtração de parte dos já
e segurança, através de soluções técnicas que
escassos recursos disponíveis, os quais são desviados
incrementam a conscientização sobre a existência
para atenção e recuperação dos danos. Por isso, a
dos perigos a que cada cidadão está sujeito. Esses
prevenção dos desastres passa, forçosamente, pela
procedimentos não visam evitar as catástrofes, e sim
educação – reflexiva, esclarecedora, e formadora
buscam a existência de meios de atendimento nas
da consciência do cidadão - sobre a existência dos
emergências, para que suas consequências sejam
riscos e, portanto, das consequências às quais estão
minimizadas. O perigo deve ser sempre entendido
sujeitos.
como uma fonte de risco, enquanto que o risco está sempre relacionado com a possibilidade da
Em razão do que ocorre quando acontece um
ocorrência das consequências do perigo em questão.
desastre natural, existe a necessidade da prevenção
Quanto a sua forma de expressão quantitativa os
de acidentes e redução dos desastres em geral. Dessa
riscos podem ser classificados em: riscos sociais e
forma, a minimização de riscos se faz através da
riscos individuais.
conscientização dos segmentos sociais da população sobre a importância de evitar, prevenir e preparar-
O risco social representa o potencial da possibilidade
se para enfrentar emergências e desastres, fazendo
de perdas para a sociedade como um todo,
com que as pessoas reflitam sobre a necessidade de
constituindo-se assim numa perda coletiva. Este tipo
estarem permanentemente em alerta, preparadas, e
mede o impacto sobre a sociedade, a conturbação,
protegidas para enfrentar as situações emergenciais,
e a perturbação social, portanto, os governos tendem
sinistros, desastres e catástrofes.
a dedicar maior interesse sobre os valores desse questionamento, e a tomá-los como base para
Segundo estatísticas publicadas pela Organização das
o desenvolvimento da estrutura da Defesa Civil,
Nações Unidas (ONU), somente na década de 80,
e definição de seus critérios de regulamentação.
os desastres produzidos pelo homem impuseram ao
Contudo, o risco individual é de maior importância
Dezembro 2010 • MEMO online | 77
MEMO MEMOArquitetura, Arquitetura,Engenharia EngenhariaeeMeio MeioAmbiente Ambiente
para o homem. A degradação socioeconômica gera
se traduzem como positivas e negativas. Por princípios
a pobreza. Dela, decorre a migração de grande
vários ao longo de sua vida, e pela influência de
parte da população para áreas de risco, como,
diversos fatores hereditários, educacionais, oriundos
por exemplo, terrenos geologicamente instáveis,
dos ambientes sociais e familiares, onde esse indivíduo
encostas, planícies costeiras desprotegidas, bacias
habitou e se desenvolveu, se refletem em qualidades
fluviais inundáveis, e locais insalubres ou impróprios
e defeitos que, geralmente, constituem e definem
para a habitação. Esta atitude torna essas massas
sua personalidade. Algumas dessas características
demográficas potencialmente expostas à ocorrência
podem se constituir em razões para a prática de atos
de desastres e catástrofes.
inseguros ou para a criação de condições inseguras.
Sessenta por cento da população pobre do mundo
Devido aos traços negativos de sua personalidade,
ocupa (habita) terras marginais vulneráveis a
o homem, seja qual for a sua posição hierárquica,
desastres. Sabemos que certas alterações ambientais
pode cometer falhas durante a execução de tarefas
podem ocorrer, e ocorrem, sem a interferência do
no exercício do trabalho, as quais resultarão numa
homem. Contudo, à medida que a degradação
casualidade de perdas. Não é o conhecimento da
ambiental se implementa, e cresce fisicamente, numa
causa e nem o efeito da sequência, é a falta de
região ocupada e explorada pelo homem, a sua
controle que dá início à perda. A causa básica é a
produtividade tende a se reduzir, e a qualidade de
condição ou fator que originou o ato inseguro, ou seja,
vida diminui intensamente. Então, ele tende a ocupar
a causa imediata do acidente. Certamente, sempre
novas áreas num processo repetitivo e determinante
que existirem atos inseguros, como consequência,
de destruição, que resulta sempre numa maior
ocorrerá pelo menos um acidente. Toda vez que isso
disponibilidade de investimentos e uma qualidade de
acontece, corre-se o risco de que o trabalhador venha
vida inferior. Essas observações deveriam servir para que as autoridades, os diversos segmentos sociais, e a iniciativa privada entendessem que medidas esclarecedoras e uma atuação responsável poderiam ser adotadas, contribuindo para a redução dos desastres naturais e dos acidentes tecnológicos, e garantindo uma condição melhor de sobrevivência a toda produção mundial, protegendo o nosso meio.
Quando um trabalhador é admitido numa empresa, traz consigo uma gama de características comportamentais, que
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
a sofrer lesões, e assim, se caracterizará o “acidente
materiais e dos equipamentos, e das técnicas a serem
de trabalho”, embora possam ocorrer outros tipos de
desenvolvidas em todas as fases da construção é
perdas que não provoquem lesões.
determinante. É indispensável que o uso de insumos e equipamentos diferentes dos especificados podem ser
Entre os vários estudos desenvolvidos no campo
mais baratos, mas, por não serem adequados e nem
da Segurança do Trabalho, encontra-se a “Teoria
estarem em conformidade, sem dúvida, resultarão
de Heinrich”. Essa teoria mostra que todo acidente
numa preocupante redução dos itens de segurança
é causado, ele nunca simplesmente acontece.
das construções.
É causado porque o homem não se encontra
Uma etapa extremamente importante na fase do
devidamente preparado e comete atos inseguros,
planejamento de obras é a previsão de vias de
ou porque existem condições inseguras que do
comprometem trabalhador.
a
segurança
Heinrich
procurou
demonstrar a ocorrência de acidentes e lesões com o auxílio de cinco pedras de dominó. A primeira representando a personalidade, a segunda, as falhas humanas no exercício do trabalho, a terceira, as causas de acidentes, a quarta, o acidente, e a quinta, as lesões.
Os desastres relacionados com a construção
acesso e rotas de fuga devidamente dimensionadas.
civil podem ocorrer durante a construção e após
Elas devem ser previstas para facilitar a evacuação e
a conclusão das mesmas. Durante a obra, as
rápida mobilização dos meios de ataque aos sinistros,
possibilidades de que ocorram desastres podem
principalmente nas fases iniciais desses acidentes.
ser reduzidas com a aplicação prática das normas
Além da preocupação com a segurança, as obras
técnicas e procedimentos na execução e, em
devem ser planejadas, buscando garantir sempre o
paralelo, atendendo aos parâmetros de segurança
máximo de proteção e prevenção contra os perigos
recomendados para cada caso. Após a construção,
e riscos, com o objetivo de se evitar a generalização
os desastres podem ser reduzidos em função
dos desastres.
de
um
planejamento
construtivo
tecnicamente
delineado, de um rigoroso gerenciamento, e da
Os grandes acidentes no campo da construção
adequada operacionalização das obras, de acordo
civil são relacionados a danos ou à destruição de
com as especificações de segurança. O grau de
habitações. Essas perdas são consequências naturais
responsabilidade técnica na especificação dos
da construção de unidades residenciais em áreas
Dezembro 2010 • MEMO online | 79
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
impróprias, inseguras, e em desacordo com as normas
ruptura e afundamentos de solos, rolamentos de
técnicas e com os padrões de segurança construtiva.
rochas, enxurradas e inundações.
O que está contribuindo para o agravamento desse problema, é a intensa migração de populações de
A Organização dos Estados Americanos (OEA)
baixa renda, cujo fluxo predominante se desloca
realizou uma série de estudos que demonstrou
para áreas sem infraestruturas urbanas, em busca de
que, nos centros urbanos da América Latina, para
maiores oportunidades de trabalho.
cada duzentas unidades habitacionais, apenas 51 foram construídas por empresas especializadas em
A crise econômica que se desenvolveu sobre o
construção civil e, nestes casos, muito provavelmente,
país, a partir do final da década de 70, gerou reflexos altamente negativos sobre o processo de desenvolvimento social. A intensificação das desigualdades
e
desequilíbrios
aumentou
os
movimentos migratórios internos e o êxodo rural, provocando o crescimento desordenado das cidades, e intensificando o desenvolvimento de cinturões e bolsões de pobreza, no entorno das mesmas.
O crescimento desordenado das cidades, a redução do estoque de terrenos em áreas seguras e a consequente valorização dos mesmos, associados a um relaxamento dos órgãos responsáveis pela segurança das construções, provocaram o surgimento de novas favelas, o crescimento das já existentes, e o adensamento dos estratos populacionais mais vulneráveis, em áreas de riscos maiores. Pela necessidade de obter um abrigo, muitas unidades residenciais foram erguidas em locais impróprios sem qualquer orientação técnica, e se tornaram
foram edificadas de acordo com as normas técnicas
vulneráveis à danificação e à destruição, em conse-
e posturas de segurança, atendendo às prescrições
quência de eventos adversos, inclusive de pequenas
dos Códigos municipais de Obras. Continuando
magnitudes.
o estudo, constatou-se que 98 dessas unidades
São
áreas
naturalmente
expostas
riscos
habitacionais foram construídas à margem do
permanentes, que em consequência dessas más
mercado construtor, sendo construções irregulares
condições, são potencialmente sujeitas a desastres
sobre diversos aspectos, que vão desde a fase de
tais como, deslizamentos e escorregamentos de terra,
licenciamento para a obra, como também para a
80 | MEMO online • Dezembro 2010
aos
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
obtenção do “habite-se”. Por isso, é pouco provável
Por esses motivos, é que eventos naturais de
que as normas técnicas e os Códigos municipais de
pequena magnitude e curto tempo de duração
Obras tenham sido respeitados.
podem causar catástrofes ou provocar desastres de grande intensidade. Esses impactos extremamente
Outro dado interessante, obtido nesta pesquisa,
adversos ocorrem com maior frequência nos países
é que 51 unidades já haviam sido ampliadas e
pouco desenvolvidos e nos estratos populacionais
alteradas sem qualquer orientação e apoio de firmas
marginalizados econômica e socialmente. Nas
especializadas, e também sem considerar as normas
sociedades mais desenvolvidas, é evidente que
de segurança estabelecidas. Verificou-se também
esses acidentes assumem características de desastres
que as unidades residenciais
mistos. Podem ser provocados por vários tipos de
construídas e ampliadas pela
fenômenos naturais, sempre causando uma série de
indústria da construção civil,
perdas, sejam danos materiais ou até mortes. Para
embora representassem apenas
combater essas possibilidades as quais estão bastante
(25,5%) do setor pesquisado,
e particularmente expostos os agrupamentos urbanos
consumiram aproximadamente
que habitam as reconhecidas e denominadas “Áreas
92% dos recursos aplicados
de Risco”, é imprescindível que exista um sistema
nas
construtivas
integrado de Vigilância, Fiscalização e Defesa Civil,
residenciais, enquanto 74,5%
que atue com responsabilidade social, de maneira
das unidades habitacionais
permanente, contribuindo com ações que possam
construídas
ampliadas
melhorar as condições de segurança das habitações.
sem qualquer orientação e
Sem dúvida, a existência e o funcionamento desse
acompanhamento
técnico,
sistema dependem, acima de tudo, da vontade
consumiram apenas 8% destes
política, para impedir que obras irregulares, em locais
recursos. Esses levantamentos
impróprios, inseguras ou em não Conformidade com
permitem
que
as normas técnicas, e com os padrões prescritos e
aproximadamente 75% das
estabelecidos pelas autoridades, sejam executadas
habitações
em áreas definidas como non aedificandi.
atividades
ou
concluir
são
construídas
e ampliadas com apenas 8% dos recursos gastos no setor. Por essas condições, a
Existem muitas áreas que não conseguiram evitar
conclusão óbvia é que as mesmas além de não serem
que estas obras fossem executadas, neste caso,
planejadas, são executadas por leigos e curiosos, ou
deverão estar previstas atividades de monitoramento
seja, com mão de obra despreparada e materiais de
permanente das condições climáticas, que permitam
qualidade inferior, e com dosagens insuficientes para
detectar situações de pré-impacto e, com isso, acionar
o fim a que se destinam, tudo isto se convertendo
planos de emergência devidamente projetados
em riscos permanentes que se apresentam através de
para cada um desses locais, e promover as ações
processos construtivos sem qualidade.
de redução dos impactos maiores, com o grau de
Dezembro 2010 • MEMO online | 81
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
antecipação possível. Dessa maneira, é indispensável
de Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros Militares
que existam disponibilidades de recursos humanos,
e dos engenheiros responsáveis pela fiscalização de
equipamentos e técnicas e que as áreas de risco
obras das prefeituras. Para conseguirmos construir
sejam conhecidas, destacando os pontos vulneráveis,
comunidades mais seguras é necessário atuar com
para serem inspecionadas frequentemente.
rigor para a liberação das obras e as inspeções das mesmas, durante o processo construtivo e por ocasião
Contudo existem áreas habitadas em que, pelos
da emissão do “habite-se”, priorizando a segurança
riscos que representam, devem ser previstos projetos
construtiva. E considerando a questão da construção de
habitações
seguras,
destinadas às famílias de baixa renda, é necessário que se invista em pesquisa para o desenvolvimento de tecnologias de baixo custo. A redução dos custos dessas obras pode ser obtida com a prática dos regimes de mutirão, mas, que mesmo sem o destaque justo e merecido, sejam pelo menos reconhecidas as importantes contribuições de engenheiros e arquitetos.
para transferir essas comunidades para locais onde os níveis de segurança sejam comprovadamente maiores.
Gleudes Praxedes de Oliveira, Engenheiro Civil,
Calculista de Estruturas, Engenheiro de
Dessa forma, é determinante a orientação técnica
Segurança do Trabalho, Perito e Especialista em
dos Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura
Transporte de Produtos Perigosos.
e Agronomia (CREA), da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), com as Associações Empresariais da Indústria de Construção, como órgãos
82 | MEMO online • Dezembro 2010
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Dezembro 2010 â&#x20AC;˘ MEMO online | 83
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Ação de campos elétricos e térmicos espúrios impactantes na manutenção da vida operacional de produto eletro/ eletrônico
– VOPE – ou condição crítica específica
em operação de dispositivos eletro/eletrônicos Por BELMIRO IVO LUNZ PROFESSOR DA ESCOLA DE ENG. DA UFF RESUMO Um dispositivo eletro/eletrônico de qualquer natureza em funcionamento aparentemente ‘normal’ pode estar sendo submetido a condições de campos elétricos e térmicos que vão afetar, parcial ou plenamente, seu futuro comportamento operacional. Medidas profiláticas devem ser tomadas de forma a minimizar a ocorrência destas situações. Palavras Chaves: telecomunicações; radiações eletromagnéticas; meio ambiente.
I. INTRODUÇÃO A extensão da vida operacional de um produto (VOP) está condicionada certamente ao cumprimento das condições especificadas para o seu uso padrão. Circunstancialmente, essas condições adequadas de uso estabelecidas pela engenharia de projeto poderão não ser preenchidas pelo usuário. Os efeitos adversos decorridos do mau uso impactarão então na vida do produto, abreviando-a. Produtos eletrônicos, em especial, sofrem negativa e pronunciadamente a ação de campos espúrios, tanto de natureza elétrica como térmica. Isso é natural e fácil de intuir, uma vez que sistemas eletrônicos são operacionalmente sensíveis a comandos elétricos de entrada. Se fenômenos elétricos intrusos conseguirem chegar por caminhos alternativos a circuitos sensíveis principais, com certeza por este ato, de forma não prevista, afetará negativamente o equilíbrio da unidade, que responderá à interferência com prejuízo à sua operação normal. Aliás, fenômenos prejudiciais desses campos chegam a afetar a vida biológica conforme presumem muitos pesquisadores. Campos térmicos têm efeitos similares, uma vez que a temperatura afeta a concentração de portadores na banda de condução, implicando em perturbação elétrica nos semicondutores associados no projeto.
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Grandezas em geral, não somente elétricas e
Na terra
térmicas, mas campos magnéticos, eletromagnéticos,
Em processos industriais, as condições de normalidade
radiações mistas de origem nucleares do ambiente
operacionais são supervisionadas em última instância
próximo, ou com origem na alta atmosfera, ou mesmo
por sistemas eletrônicos. Uma situação de alerta
do espaço profundo e vibrações mecânicas, podem
amarelo deve prover, adequadamente, ao pessoal
interferir em modo de transferência na operação de
de operação as condições necessárias de manobra
um componente, modificando-os de forma transitória
para controle de um processo negativo em evolução,
ou permanente.
como tempo preventivo e informações da situação. Falhas no sistema conduzem a situações como as de
II. CONFIABILIDADE E PERDAS DE CONTROLE
Bopal, na Índia, de Chernobyl, na Ucrânia, de Three
A ação dessas grandezas de influências acaba
Mille Island, nos Estados Unidos, e do VLS brasileiro,
criando situações patológicas na operação do
na Barreira do Inferno. Tudo pode começar em um
produto.
transistor!
Aquelas
manifestadas
que
danificam
inteiramente o componente são consideradas, entre todas, ironicamente, as de menor importância pelos
E dentro de nós!
especialistas. Casos onde a ação dos danos desses
Bem vindos à geração Cyborg. Um usuário
componentes se manifeste por e com intermitência,
de marcapasso cardíaco dispõe de carteira de
ou comprometa parcialmente o comportamento do
identificação que o autoriza a usar entradas não
sistema a qual pertencem, mas cuja identificação
guarnecidas de detectores eletrônicos de armas,
é difícil de ser estabelecida, consiste na principal
em bancos, aeroportos, e lugares de segurança
preocupação da área técnica, pois reduz a
ostensiva. A ideia de usar outra entrada é impedir
confiabilidade da instalação.
que campos espúrios venham a causar danos, perturbando o funcionamento normal do marcapasso.
No espaço
Normas técnicas de eletrônica embarcada e outras
Medidas extraordinárias podem ser tomadas de forma
documentações preveem que um componente
a prevenir, mais que o trivial, os componentes vitais
do sistema deve evitar que outros componentes
em um sistema. Alguns satélites em órbita terrestre
sejam afetados. Também, deve ser robusto na sua
são desativados em períodos de atividades solares
relação passiva no sistema. Tudo indica que, nesse
intensas. A agência de navegação espacial japonesa
caso, a norma que cuida da eletrônica embarcada
já informou perdas de satélites devido às condições
é adequada às próteses de aplicação humana. A
extremas do clima espacial.
intensidade da dependência humana em relação a
No segundo semestre de 2010 o satélite europeu
esses fatores cresce com o uso da tecnologia. Mais
GOSE por razões de falha em componentes
intensamente, as próteses tendem a ser cada dia
eletrônicos entrou em pane. Atividades elétricas
mais dependentes do processamento externo (nas
impactantes estão presentes de forma negativa na
nuvens), aumentando sua abrangência de controle,
maioria destes casos.
principalmente as próteses neurais.
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III. COMPONENTES SEMICONDUTORES Os
semicondutores
são
componentes
dedicação específica para certos casos. Então, na que
prática e aos custos do dia a dia, a tecnologia a
desempenham as mais diversas e variadas funções em
semicondutores é imprescindível .
um sistema. Eles são responsáveis pela qualidade da
Os semicondutores têm um problema complicado:
energia no suprimento da alimentação dos circuitos
são muito vulneráveis à temperatura. Diferentes
em geral. Eles são responsáveis pela ação lógica
da válvula termiônica, que ocupava seu lugar no
e sucesso da programação em um computador.
segundo terço do século passado, e que funcionava
Nada se faz em um sistema de medição e controle
com temperaturas internas de 800 graus, os
moderno sem os semicondutores. É claro, e não é
semicondutores em geral não podem operar a
ficção, que estas funções podem ser desempenhadas
temperaturas muito maiores que 80, 100 ou 150
por computadores pneumáticos. Embora “sejam
graus na escala Celsius, dependendo do tipo e da
práticos”, eles não são econômicos, não são nada
natureza do semicondutor utilizado.
pequenos, fazem muito barulho, ou seja, têm
Os materiais semicondutores mais importantes ainda são o silício e o germânio, este último em menor escala. A temperatura de junção de um transistor de germânio torna crítico seu comportamento aos 90 graus, e os de silício, dos 110 aos 150. O valor depende da técnica de sua construção e do seu projeto de materiais. A quantidade de calor liberada de um componente é dada pela potência que o alimenta. O produto da tensão elétrica pela corrente elétrica [VxI] define o ponto de operação do semicondutor. Esta potência é a princípio constante. É estabelecida no projeto do circuito segundo as recomendações existentes nos manuais técnicos fornecidos pelos fabricantes. A manutenção do nível de potência depende da estabilidade do circuito. Este valor pode oscilar em torno do ponto de operação, resultando numa variação média nula. Uma ocorrência de variação da potência com um viés de crescimento positivo é uma situação anormal, devido sempre a algum processo elétrico espúrio.
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IV. MECANISMO DE DANOS
componente pode entrar em processo cumulativo de
A potência desenvolvida [VxI] no interior do
dano ou ser afetado imediatamente, cessando sua
semicondutor passa para o exterior, atravessando a
vida útil no ato.
resistência térmica existente entre o centro térmico c e
Isso implica na existência de um valor máximo,
a superfície s do semicondutor [Rt (c,s)] e segue pela
“Tamax”, que a temperatura ambiente pode atingir:
resistência térmica [Rt (s,a)] entre esta superfície s e o
Ta =Tcmax – VI {Rt (c,s) + Rt (s,a)} < Tamax
ambiente livre que está a temperatura ambiente [Ta]. Nesse percurso, a potência desenvolve uma queda de
Revisitando o modelo
temperatura, promovendo uma temperatura média
Oriundas do limite máximo da temperatura no
central no semicondutor [Tc] dado por (1):
interior, duas condições podem conduzir a danos
Tc = VI {Rt (c,s) + Rt (s,a)} + Ta
na operação do semicondutor, segundo o modelo
(1)
estabelecido. Segundo esse modelo, a temperatura central [Tc] do semicondutor é afetável pelo par de elementos da
1) Acidentes elétricos que causem um crescimento
forma (2) :
na potência de alimentação do semicondutor,
Tc=f(VI, Ta) < Tcmax
(2)
onde “Tcmax” é a temperatura máxima central do
estabelecendo a condição: VI >VI Max = Tcmax / {Rt (c,s) + Rt (s,a)} + Tamax
semicondutor, que depende da natureza do material de que é constituído o componente, especificado no
2) Aumento da temperatura ambiente
manual do fabricante. A temperatura máxima para
Ta> Tamax
um dado componente não deve ser atingida. O
V. CONCLUSÃO Equipamentos eletro-eletrônicos, assim como qualquer produto do gênero, seja ele um simples computador, um satélite artificial, um sistema de controle industrial, ou a eletrônica embarcada em uma nave espacial, num veículo terrestre ou numa prótese humana estão sujeitos a serem impactados por campos espúrios de natureza elétrica, eletromagnética, estando estes termicamente manifestados ou não. Belmiro Ivo Lunz Professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal Fluminense, Presidente e orientador científico do Centro de Valorização do Homem e da Natureza – CVHN e do Instituto Ambiental Conservacionista Quinto Elemento – IAC5E.
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THEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO Trabalho Acadêmico | Escola de Arquitetura e Urbanismo - UFF, ALUNOS: SAMARA GUIMARÃES, VITOR CUNHA e MARINA MARQUES
Os profissionais da cultura, sendo eles bailarinos,
um dos mais belos monumentos arquitetônicos do
cenotécnicos, atores ou contrarregras, encontram em
Brasil, um exemplar da arquitetura eclética construído
seu ofício uma motivação a mais para executá-lo do
no início no século XX: o Theatro Municipal do Rio
que a simples necessidade de receber seu ordenado
de Janeiro. Projetado em um contexto histórico onde
ao fim do mês. Um aspecto os difere dos demais
desejava-se transformar a então capital do país em
profissionais, uma espécie de paixão, de necessidade
um grande centro aos moldes de Paris, o teatro é
de expressão, uma escolha que certamente em muitas
concebido como réplica da Ópera de Paris. O
das horas é posta como prioridade máxima sobre
ambicioso projeto de reforma urbana, liderado pelo
outros âmbitos da vida. Talvez seja o que chamam de
então prefeito Pereira Passos, consistia em abrir grandes
“alma de artista”. Vidas que são dedicadas a propagar
avenidas, construir edifícios de tipologias em acordo
cultura, arte e a contribuir para a formação de um
com a época, modernizar transportes e habitação,
mundo mais sensível, bonito, justo, menos ignorante,
dentre outras propostas, ficando sob o comando de
desigual e cruel. Compreender essa chama de vida,
Georges-Eugène Haussmann, responsável pelo projeto
esse ideal, o amor pela arte, é o primeiro passo
de reforma urbana na França de Napoleão III.
para entender o dia a dia no Municipal, entender as pessoas que ali trabalham, ensaiam e vivem, e suas relações com o espaço.
A ARQUITETURA COMO PALCO DE RELAÇÕES QUE TRANSCENDEM A MATERIALIDADE. Cinelândia, bairro do Rio de Janeiro. Ali se encontra 88 | MEMO online • Dezembro 2010
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O Theatro nasce em meio a essa atmosfera de virada
Em meio a discursos, protestos e ações, surgiram
de século, de busca por modernidade e, desde então,
líderes representando os diversos segmentos, que
traz consigo a missão de se tornar um ambiente
expuseram as desvantagens de tal lei, convocaram as
destinado à prática artística, que desenvolvesse e
pessoas para manifestações, assembleias, passeatas,
solidificasse a cultura brasileira, além de permitir um
tornaram pública a luta de seus iguais para a
intercâmbio cultural com o resto do mundo.
manutenção de uma estrutura fundamental para a
Curiosamente, a ideia de se construir um grande teatro
arte brasileira.
na cidade do Rio de Janeiro já existia e era fortemente incentivada pelo dramaturgo maranhense Arthur Azevedo, primeiro a ter um envolvimento emocional com a ideia desse espaço dedicado inteiramente às artes. Nos dias de hoje, percebemos que a relação dos artistas, funcionários e admiradores com o teatro vai além de sua significação arquitetônica. Constata-se que o Theatro não é apenas um “local de trabalho”. São anos dedicados àquela função na Orquestra, no Coro ou no Ballet (os corpos artísticos estáveis do teatro), convivendo em ensaios
É interessante observar como o valor simbólico,
diários, temporadas de sucesso, o que acarreta
da tradição, o histórico e o valor subjetivo estão
o desenvolvimento de uma ligação afetiva com o
impregnados na aura do Theatro Municipal do Rio de
espaço e com as pessoas com as quais se tem contato.
Janeiro. São valores atribuídos a ele por cada artista
Numa outra perspectiva, vê-se o desenvolvimento de
ou funcionário, diretoria ou público, subjetivamente.
um sentimento maior pelo Theatro como entidade
Esses diversos olhares são o que, juntamente com a
cultural, onde se encontra todo o ideal de mudança
sua arquitetura imponente, legitimam sua importância
social através da arte, de avanço cultural do país e de
no cenário cultural carioca e mundial.
maior valorização do artista. A tradição que existe nos corpos artísticos e a
Fotos Vânia Laranjeira
importância destes para a cultura brasileira, e inclusive mundial, contribui para a intensificação deste sentimento de pertencimento a algo maior, e tal sentimento, de certa forma unifica os artistas, como pôde ser observado no período em que pairou a dúvida acerca de um projeto de lei que, se aprovado, criaria uma Organização Social (OS) para o Theatro, o que implicaria na privatização do Municipal e na consequente extinção dos corpos artísticos estáveis. Dezembro 2010 • MEMO online | 89
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