Edição 97

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Carlos roberto

Reeleição

Resiliência

Novos ministros não oxigenam a economia

Proposta de mandato único é polêmica

Nordestino se reinventa com criatividade

Novo pacto para velhos problemas

Governadores do Nordeste elaboram Carta com 15 reivindicações Royalties, recurso do BNDES e até volta da CPMF são prioridades


Combustível do carro.

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ÍNDICE ENTREVISTA

POLÍTICA

GERAL

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Delfim prega cautela e retomada da indústria Ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto faz reflexões sobre a conjuntura econômica atual e diz aprovar a nova equipe de Dilma Rousseff

Novo debate sobre a reeleição Parte das discussões em torno da Reforma Política, a proposta de pôr fim ao mandato único tanto no Executivo como no Legislativo não é unânime na sociedade.

ECONOMIA

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Negócios em família Maior parte do empresariado nacional é de gestão familiar. Apesar das vantagens competitivas que têm, a taxa de sobrevivência no mercado ainda é baixa

História restaurada A memória do Nordeste tem sido reacendida a partir da revitalização de vários centros históricos da região

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É possível se livrar da pobreza? Brasil apresenta quedas acentuadas nos índices de pobreza crônica, mas problemática ainda preocupa

CAPA

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Unindo forças para enfrentar crise Governadores eleitos do Nordeste se reúnem antes da posse para elaborar carta com demandas para o Governo Federal

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Intercâmbio de rum e chocolate O Consulado Geral da Venezuela para o Nordeste promove intercâmbio cultural através dos dois produtos mais tradicionais do país latino

A resiliência do nordestino Criar e reinventar são meios de viver com dignidade em meio às adversidades, por isso, a economia criativa cresce cada vez mais no Nordeste


EDUCAÇÃO

CULTURA

COLUNAS

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Educação com afeto Não basta transmitir conhecimento. A relação afetuosa entre aluno e professor otimiza o processo de aprendizagem em qualquer grau de ensino

Um clássico popular O maestro da Orquestra Sinfônica de João Pessoa, Laércio Diniz, fala à NORDESTE sobre o panorama atual da música clássica e seu desejo de incluir no trabalho elementos dos ritmos populares do Nordeste

Cartas e E-mails

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Carlos Roberto

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Plugado | Walter Santos

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Conexão América

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TECNOLOGIA

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Centro de Inovação Nordeste é celeiro de importantes iniciativas na área de Tecnologia da Informação

Pelo Mundo | Rivânia Queiroz

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Mês de grandes espetáculos Recife sedia a 21ª edição do Janeiro de Grandes Espetáculos nas duas últimas semanas do mês

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Digestivo

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Upgrade

78 Vitrina

70

Conexão das Coisas A integração dos objetos na internet e sua interligação diminuem nossa percepção do que é online e offline


NORDESTE revistanordeste.com.br

Ano 9 | Número 97 | Dezembro | 2014 Diretor Presidente Walter Santos Diretora Administrativa/Financeira Ana Carla Uchôa Santos Diretor Comercial Pablo Forlan Santos Diretor de Marketing Vinícius Paiva C. Santos Logística Yvana Lemos COMERCIAL Gerente Comercial Marcos Paulo Atendimento Comercial Jone Falcão REPRESENTANTES Pernambuco Gil Sabino g.sabino@uol.com.br - Fone: (81) 9739-6489 REDAÇÃO Editora Rivânia Queiroz Repórteres Grazielle Uchôa, Isadora Lira, Flávia Lopes e Umberlândia Cabral Editoria de Arte e Tratamento de imagem Danielle Trinta e Felipe Headley Capa Danielle Trinta Projeto Visual Néctar Comunicação ATENDIMENTO/ FINANCEIRO Supervisora e Contas a Pagar Kelly Magna Pimenta Contas a Receber Milton Carvalho Contabilidade Big Consultoria ASSINATURAS (83) 3041-3777 Segunda a sexta, das 8 às 18 horas www.revistanordeste.com.br/assinatura CARTAS PARA REDAÇÃO faleconosco@revistanordeste.com.br

DEZEMBRO / 2014

PARA ANUNCIAR Ligue: (83) 3041-3777 comercial@revistanordeste.com.br SEDE Pça. Dom Ulrico, 16 - Anexo - Centro - João Pessoa / PB Cep 58010-740 / Tel/Fax: (83) 3041-3777 Impressão Gráfica JB - Av. Mons. Walfredo Leal, 681 - Tambiá - João Pessoa / PB - Fone: (83) 3015-7200 Circulação DPA Consultores Editorias Ltda dpacon@uol.com.br - Fone: (11) 3935 5524 Distribuição FC Comercial

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A Revista NORDESTE é editada pela Nordeste Comunicação, Editora e Serviços Ltda-ME CNPJ: 19.658.268/0001-43

EDITORIAL Mais recursos e desenvolvimento Já não era sem tempo. Carente de iniciativas desenvolvimentistas integradas, o Nordeste foi palco neste mês de um evento histórico, que marca uma nova etapa na região. A capital paraibana, João Pessoa, recebeu o Encontro dos Governadores eleitos do Nordeste, idealizado pelo governador do estado, Ricardo Coutinho. A formulação de uma agenda positiva para a região perpassa a necessidade de consolidar os avanços sociais e econômicos conquistados nas últimas décadas e ainda de diminuir as desigualdades regionais que persistem há séculos no país. A reunião sublinha, antes mesmo da posse, a intenção dos representantes políticos de fomentarem um ciclo conjunto de desenvolvimento, a despeito das previsões pessimistas que 2015 traz no horizonte do Brasil. Para isso, os governadores eleitos elaboraram a chamada Carta da Paraíba, composta por 15 propostas a serem encaminhadas para o Governo Federal. As demandas envolvem a atração de mais recursos que viabilizem a manutenção do crescimento da região Nordeste e a reparação das disparidades entre as regiões. Novas fontes de financiamento para a saúde, novas linhas de crédito para investimentos, entrada em vigor da lei dos Royalties, unificação do ICMS e a formulação de uma política nacional de segurança são alguns dos assuntos abordados no documento. Além dessas demandas, o encontro

Rivânia Queiroz

editora-chefe da Revista NORDESTE rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br

também serviu para reativar o Fórum de Governadores do Nordeste, que promete ser um importante foro de discussão e ações integradas, se levado à frente com comprometimento por seus representantes. O primeiro passo foi tomado e sua importância deve ser reconhecida. Pensar o desenvolvimento nordestino de maneira isolada já não faz mais sentido, afinal, pensar o mundo dessa forma também não é mais coerente. O que se espera é que, a partir da articulação de uma agenda positiva e propositiva para a região, 2015 traga novos ventos de desenvolvimento que alcancem o Nordeste e, em consequência, o Brasil. Além dessa reportagem, trazemos nesta edição outros assuntos de relevância para a região, a exemplo da matéria “A resiliência do nordestino”, que mostra como o sertanejo é, antes de tudo, um forte. A reportagem traz experiências de pessoas que conseguiram transformar suas vidas com criatividade, “fazendo de um limão uma limonada”, como costumamos dizer por aqui. Ainda se destaca a matéria “História restaurada”, sobre o processso de revitalização dos centros históricos do Nordeste. Eles vêm sofrendo mudanças com o propósito de preservar os valores culturais para as próximas gerações. Esperamos que gostem do material elaborado especialmentew para os nossos leitores. Boa leitura!


CARTAS E E-MAILS “Tanto eu quanto o presidente do Senado, Renan Calheiros, temos acompanhado há anos todo o trabalho de alta qualidade feita pela equipe da NORDESTE e isto precisa ser reconhecido”

Renan FIlho Governador eleito de Alagoas Maceió –AL

Precisamos levar a revista para o debate no interior do Nordeste discutindo nosso futuro” Dom Aldo Pagotto Arcebispo João Pessoa - PB

Nota da Redação: Sugestões de pauta ou matérias podem ser enviadas para o endereço eletrônico da editora: rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br. Agradecemos a sua participação. NORDESTE On-line Facebook Revista Nordeste Twitter @RevistaNordeste E-mail faleconosco@revistanordeste.com.br Site www.revistanordeste.com.br

Horácio Tavares Diretor de Marketing Corporativo da Unimed Recife | Recife – PE

Impressiona o nível das edições da revista. Tem sido uma referência muito importante até como reforço escolar para professores” Professor Luiz Júnior Ex-secretário de Educação de João Pessoa João Pessoa –PB

Neste ano de 2014 pudemos acompanhar e distinguir os veículos com interação com a Bahia. Identificamos, ao acessar as edições da Revista NORDESTE, que nosso estado está diante de uma publicação séria que merece estar mais próxima em 2015” Marlupe Secretária de Comunicação do Bahia Salvador-BA

Acho que chegou a hora de vermos reportagens abordando mais as questões do estado do Maranhão” Aline Louise Jornalista São Luiz – MA.

REVISTA NORDESTE N.º 96 Ao longo do ano ficou evidente a cobertura política diferenciada da revista no tocante aos assuntos da disputa nacional e dos demais estados consolidando assim uma publicação com profundidade na abordagem política”

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Flávio Dino Governador eleito do Maranhão São Luís –MA

A abordagem sobre o que pensam os governadores eleitos do Nordeste, na edição 96, reproduz um acompanhamento importante para o leitor. Isto mostra o papel diferenciado da NORDESTE”

Francisca Carvalho Brasilia – DF 9

Acompanho a revista desde quando era presidente da EMBRATUR e esperamos estar mais próximos dela nesses tempos à frente quando vamos precisar expor o estado do Maranhão com os desafios à frente”


Entrevista

Delfim prega cautela e retomada da indústria

O

ex-ministro da Fazenda e professor Antonio Delfim Netto faz reflexões sobre a atual política econômica brasileira e mundial. Ele avalia a nova equipe econômica da presidente Dilma e diz que ela acertou nas escolhas. Porém, acrdita que a petista terá muito trabalho pela frente para reorganizar as finanças do país. Na entrevista, Delfim ainda analisa a conjuntura global e projeta dificuldades, defende a indústria nacional e ressalta o papel dos estados do Nordeste.

Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

NORDESTE: Saímos de um processo eleitoral e esperamos o início de mais um governo da presidente Dilma. Como o senhor tem acompanhado os fatos e qual a leitura que faz da atual conjuntura política e econômica? Delfim: Temos muitas coisas acontecendo em diversos campos, certamente com os fatos econômicos no Brasil e no mundo causando alerta e preocupações porque os indicadores estão ruins e geram perspectivas negativas para o futuro recente e o próximo ano. Em relação à definição da equipe econômica da presidenta Dilma Rousseff, acredito que ela acertou em cheio. Todos os ministros anunciados têm formação reconhecida e estão preparados para enfrentar os tempos de possíveis turbulências diante da crise econômica insta-

Delfim Netto


lada, não apenas no país, como mundial. Não podemos analisar as questões de fundo apenas tendo o Brasil no foco. NORDESTE: A elevação das taxas de juros pelo Banco Central tem sido uma constante numa tentativa de segurar os preços. Há uma tendência de se manter a inflação? O senhor concorda com a estratégia adotada pelo Palácio do Planalto? Delfim: Absolutamente. Particularmente não acho que o remédio para resolver os nossos problemas econômicos com efeitos sociais estejam na elevação dos juros. Ao contrário, acho que isso só faz piorar e atinge nossa indústria que, aliás, anda mal há muitos anos. NORDESTE: No caso da indústria brasileira e levando em conta as medidas econômicas a serem anunciadas pelo governo, o que o senhor elencaria como prioridade? Delfim: O governo precisa imediatamente rever seu posicionamento na relação com a nossa indústria, que vive péssimo momento e não Fotos: Divulgação

é de agora. São anos continuados com a quebradeira do parque industrial brasileiro e de nosso poder de competitividade com a concorrência internacional. Por isso, um dos primeiros pontos a merecer atenção especial do novo mandato são as políticas para o setor. NORDESTE: Como o senhor insere nesse contexto o setor sucroalcooleiro? Delfim: Este vive a pior de todas as crises de sua história. A realidade de nossa indústria sucroalcooleira é de dar dó. Desde quando se constituiu a desaceleração, pouca importância vem sendo dada ao setor e não se ouve falar em investimentos no etanol. O setor entrou em derrocada e enfrenta problemas por todos os lados. Aliás, esse é um dos desafios da nova equipe econômica de Dilma, que terá de pensar políticas para o aquecimento da economia e voltar a colocar em pauta a discussão de medidas de apoio ao etanol. NORDESTE : Qual a avaliação que faz dos nove estados nordestinos em relação ao país?

Todos os ministros anunciados têm formação reconhecida e estão preparados para enfrentar os tempos de possíveis turbulências diante da crise econômica instalada”


Não acho que o remédio para resolver os problemas econômicos esteja na elevação dos juros. Ao contrário, acho que isso só faz piorar e atinge a indústria que, aliás, anda mal”

Delfim: São duas situações distintas. No plano federal, apesar das crises e dos enfrentamentos localizados, acho que o saldo das medidas adotadas pela presidenta Dilma Rousseff são mais positivas. Podemos falar em saldos sociais importantes no Brasil para segurar e enfrentar a crise econômica, a exemplo do emprego e das políticas sociais. No conjunto geral, existem problemas, mas não podemos deixar de considerar que foram adotadas medidas efetivas do governo Dilma. NORDESTE: O senhor tem conversado com a presidente Dilma sobre a situação econômica brasileira? Delfim: Muito pouco, mas quando chamado não nego a disponibilidade para avaliarmos a conjuntura. NORDESTE: E o senhor inclui em sua análise com a presidente a realidade dos nove estados nordestinos? Delfim: Sim, quando conversamos falamos sobre a região. Nos últimos anos tivemos um crescimento visível da economia nos estados nordestinos.

Hoje, a realidade é outra e de mais perspectivas. Os números nos mostram isso. E não é fruto do Programa Bolsa Família, como alguns tentam tipificar e desmerecer, mas de um conjunto de medidas voltadas a essa parte do Brasil. NORDESTE: Dentro de uma visão global e com efeitos no Brasil, como está a economia dos demais continentes? Delfim: Todos os indicadores apontam para projeções negativas em 2015. A Europa não consegue se recuperar e o desemprego aumenta visivelmente em diversos países desse continente. A China, como puxador da economia, também vive uma fase de retração. Por todos os fatores, vamos viver um ano ainda difícil e tendo que resolver problemas em face da crise econômica que deve perdurar. NORDESTE : E os enfrentamentos políticos? Delfim: O Brasil e todos os seus agentes políticos precisam se dedicar a um pacto para construir meios de


superar a crise. O ano de 2015 se projeta, como disse, prospectando a manutenção da crise, por isso o foco é fazer o Brasil reencontrar o caminho da retomada do desenvolvimento. NORDESTE: Hoje, o assunto mais recorrente é o caso da Petrobras. Como tudo isso afeta a empresa e os negócios no Brasil? Delfim: A crise política diante dos fatos envolvendo escândalos com a Petrobras têm causado efeitos danosos, sem dúvidas. Não sabemos até onde vai a crise, mesmo assim é possível admitir que a Petrobras supere os efeitos na valoração de seu patrimônio. NORDESTE: Podemos falar em futuro da matriz energética advinda do petróleo? Fotos: Divulgação

Delfim: Sem que nos apercebamos, começam a existir outras matrizes importantes no campo da energia. Os Estados Unidos tem avançado muito nessa área. É evidente que ainda teremos a força do petróleo, mas já não mais como em tempos passados, nos quais os países do Oriente Médio ditavam o preço do barril no mundo. Hoje não é mais assim. Aliás, precisamos encontrar outras fontes de energia. NORDESTE: O senhor poderia dar algum exemplo? Delfim: A eólica tem crescido muito no mundo. Mas também não podemos desprezar a energia solar. O Brasil ainda pode se dar ao luxo de produzir algumas hidrelétricas, como se dá no Norte do país, porém precisamos encarar as novas fontes de energia.

A realidade de nossa indústria sucroalcooleira é de dar dó. Desde quando se constituiu a desaceleração, pouca importância vem sendo dada ao setor”


Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

A regulação da Mídia e os efeitos econômicos A sociedade brasileira deve acompanhar com atenção em 2015 um processo de debates e normatização dos parâmetros e procedimentos econômicos no segmento da Mídia nacional como nunca visando, sobretudo, disciplinar esta área tão importante no país. Os grandes países já fizeram isso, menos o nosso. De cara, se faz imprescindível observar como princípio que nada valerá, nem está em cogitação, interferir na primazia da Liberdade de Expressão tão fundamental no Brasil. Com esses cuidados, então, não dá mais para manter o “status

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Na Paraíba, redução da máquina O governador reeleito da Paraiba, Ricardo Coutinho, terminou o ano de 2014 anunciando uma série de ajustes na máquina administrativa com extinção de órgãos e fusão de outras para, segundo ele, reduzir as despesas com a estrutura de Governo. Para ele, é possível chegar a resultados atendendo os anseios da sociedade paraibana com uma equipe mais enxuta. Na prática, significará redução de pessoal comissionado.

quo” defasado e concentrador vigente até agora onde poucas empresas têm direito a tudo e ao maior tamanho possível das negociações econômicas do setor. É evidente que será importante respeitar a proporcionalidade, mas com os novos ventos que sopram com a redemocratização imposta pela internet e redes sociais, já se faz indispensável também abrigar a valorização dos veículos regionais na participação do bolo publicitário e das negociações comerciais. O modelo de monopólio precisa ser revisto e extirpado definitivamente de nosso curso histórico.

Palavras de JCPM O mega empresário João Carlos Paes Mendonça avaliou o término do ano de 2014 como tempo para refletir sobre os problemas enfrentados nos diversos níveis, desde a retração econômica como a série deprimente de escândalos envolvendo as classes política e econômica. No entendimento de JCPM, desde quando da Copa do Mundo já ali sentíamos uma redução expressiva nos negócios se acentuando durante os meses seguintes. - Veio a fase eleitoral e aí todos sabem no que se deu com os fatos estarrecedores que vivemos, por isso espero que 2015 tire de nosso caminho tantos problemas – avaliou.


Armando dá o tom sobre Desenvolvimento

Uma nova realidade se consolidou na vida pública do ex-senador Vital do Rêgo Filho quando, ao final de dezembro, teve ato de Ministro do Tribunal de Contas da União publicado no Diário oficial e a consequente posse no cargo. Depois de exercer diversas posições importantes no Congresso Nacional, agora ele se volta para a vida recatada dentro do Tribunal. “Vou me empenhar maximamente para ter o mesmo desempenho em favor da ética e da missão imposta pelo novo cargo”, resumiu.

Retração do Negócio Externo I

ACM adota política de “Paz e amor”

O consultor de Comércio Externo, Wilbur Jacome, avaliou ao final do ano, que em relação ao comércio internacional a Paraíba amarga uma triste realidade por conta das interferências federais. “Apesar do nosso Produto Interno Bruto (PIB) ser maior que o do Rio Grande do Norte, o foco e o parâmetro têm sido o vizinho estado de Pernambuco. Entre as causas para isto estão os investimentos em infraestrutura feitos no Porto de Suape, que transformaram o cenário de movimentação de cargas”, pontuou. “Enquanto a Paraíba movimentou entre janeiro e outubro deste ano USD $ 735 milhões de dólares, entre importações e exportações, Pernambuco chegou no mesmo período a quase USD $ 7 bilhões de dólares. Ou seja, o comércio exterior de Pernambuco é aproximadamente sete vezes maior que o da Paraíba”, completou.

O prefeito de Salvador, ACM Neto, prepara a equipe visando o processo sucessório. Ele tem desenvolvido as estratégias evitando crise com o governador diplomado Rui Costa, tanto que foi à solenidade de diplomação. A ideia é evitar críticas a Rui, que indicará alguém com força para lhe enfrentar. “Não vou opinar. O governador tem todo o direito de escolher seus colaboradores. A gente tem que dar um tempo para depois avaliar o desempenho do governo. Nesse momento, a única opção é aguardar”.

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Agora ministro do Tribunal de Contas

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O ministro do Desenvolvimento Econômico no segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff, Armando Monteiro, assegurou em contato com a Coluna que o futuro da economia do Brasil tem tudo a ver com a pasta dirigida por ele. Ele conceitua que para a retomada do desenvolvimento se faz necessário reaquecer as bases econômicas do país, a partir da indústria nacional considerada defasada nos últimos tempos, e de outros setores e artificios. Para o ministro, “toda a expectativa sobre a superação das dificuldades econômicas passa pela série de medidas que o Governo Dilma adotará através de nosso Ministério”.


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Capa

uNINDO FORÇAS PARA ENFRENTAR CRISE

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Por Grazielle Uchôa e Umberlândia Cabral grazielle@revistanordeste.com.br umberlandia@revistanordeste.com.br

O ano 2015 promete ser difícil, tanto que governadores do Nordeste se antecipam e acertam retomada de Forum e definição de 15 pontos de Reivindicação comum, a exemplo do Pré-Sal, novos recursos do BNDES, cobrança do ICMS no destino, etc para enfrentar a nova fase do País

F

oi em um pedaço do Nordeste que nasceu o Brasil da civilização europeia, no instante em que a esquadra de Cabral avistou um monte “mui alto e redondo” no entardecer de 22 de abril de 1500. De lá pra cá, o território que hoje abrange nove estados busca sua reinvenção no mapa social, político e econômico brasileiro. Após séculos de atraso em relação ao restante do país, a região cresce hoje mais que a média nacional e requer espaço e atenção do Governo Federal. A ampliação da renda, do emprego e dos investimentos em setores estruturantes possibilita aos estados nordestinos um novo horizonte de desenvolvimento. Embora 2015 traga consigo desafios importantes para todo o país, a região quer consolidar os avanços conquistados na última década e pleitear mais oportunidades de crescimento. Esse desejo, que já foi objeto de muitos discursos políticos, desta vez ganhou uma iniciativa prática, liderada


“Temos que integrar o Nordeste ao Brasil e ao mundo. Se já não é fácil juntos, imagine isoladamente”

Foto: Jose Marques

torno de uma pauta governamental integrada é, para os governadores eleitos da região, imprescindível. Governador eleito de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB) acredita que uma política de desenvolvimento regional deve ser reforçada, para que alcance todos os estados de maneira efetiva, e para que haja maiores condições de competitividade com as regiões mais ricas do país. “Esse é um pleito antigo, que eu já vinha acompanhando como secretário da Fazenda no governo de Eduardo Campos. É cada vez mais importante a presença do Estado nas regiões menos favorecidas e o Nordeste ainda tem muito a desenvolver, apesar de estar crescendo muito mais do que o país. Temos que estar unidos para que as políticas efetivas aconteçam e possamos crescer mais e se igualar em nível de condições com as outras regiões do país”, afirma o socialista. Anfitrião do evento, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, reconhece as dificuldades que o Brasil tem a enfrentar

no cenário mundial daqui em diante, mas acredita que sua superação só é possível se a sociedade se unir em torno de uma agenda positiva para o país, e a iniciativa pode partir do Nordeste. “A china crescia a 10%, agora cresce a 7%. A Alemanha teve problemas graves nesse ano e o país estagnou. Neste cenário, o Brasil precisa fazer um esforço muito grande para superar os seus desafios, portanto, é preciso que os agentes públicos, as instituições e a sociedade se unam para construir uma nova agenda, que não seja pautada simplesmente por manchetes de telejornais, por mais importantes que sejam”, argumenta o político paraibano. Sobre o encontro, Coutinho afirma que seu aspecto mais importante é a articulação dos governadores. “A região tem a capacidade, através de seus governadores, de construir uma pauta regional, uma pauta única de desenvolvimento, de defesa dos interesses, de crescimento com distribuição de riquezas”, disse.

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pelo governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB). No início do mês, a capital do estado recebeu o Encontro dos Governadores Eleitos do Nordeste. Um evento histórico, que resultou na chamada Carta da Paraíba, composta por 15 propostas a serem encaminhadas ao Governo Federal. Dentre elas, figuram a demanda por novas fontes de financiamento para a saúde, novas linhas de crédito para investimentos, entrada em vigor da lei dos Royalties, formulação de uma política nacional de segurança, entre outros pontos. Além disso, o evento consagrou a retomada do Fórum dos Governadores do Nordeste. Embora a região tenha tido nos últimos dez anos crescimento médio de cerca de 20% acima da média do país, para que alcançasse a mesma participação do Sul no PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, levaria ainda 35 anos se crescesse mais do que o país em média 27%. Para que o retrato da desigualdade regional possa se inverter, portanto, a união em

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Wellington Dias


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Saúde é pauta central Segundo pesquisa Datafolha, 93% da população não aprovam os serviços oferecidos pela rede pública e privada de saúde. O dado não chega a ser surpreendente porque as demandas em torno do setor são antigas e expressam uma insatisfação já conhecida, embora ainda não solucionada. Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) constatou que entre 2010 e 2013 foram desativados 11.500 leitos do Sistema Único de Saúde (SUS). No Ceará, por exemplo, 45 hospitais conveniados foram fechados nos últimos 10 anos. Primeira das propostas da Carta da Paraíba, a defesa de novas fontes de financiamento para a saúde para garantir a melhoria do atendimento, especialmente de média e alta complexidade, é unanimidade entre os governadores eleitos do Nordeste. Segundo Ricardo Coutinho, enquanto a União, em 1988, entrava com 88% dos recursos para o setor, hoje contribui com apenas 44%. O restante fica a cargo de estados e municípios, que, sobrecarregados, veem a necessidade de uma readequação desse modelo. A forma de incremento dos recursos para os serviços de saúde, no entanto, ainda gera muita discussão, já que o retorno da Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF), tributo extinto em 2007, também passa a ser debatido. Camilo Santana (PT), governador eleito do Ceará, foi um dos que se colocou a favor da volta da contribuição, mas em moldes diferentes, já que, segundo ele, apenas quem recebe mais de 15 salários mínimos pagaria o tributo, o que representa 1,2% da população. “A CPMF era cobrada de todos e foi desvirtuada quando aplicaram seus recursos para outras áreas do governo. Estou defendendo um novo sistema, onde os ricos pagam a conta da maioria da população, que precisa do atendimento público de saúde. Essa contribuição onde os que têm mais pagam mais é a mais justa que existe em qualquer país”, ressalta.

“Eu sou contra qualquer novo imposto no Brasil. Eu acho que a população não suporta mais pagar imposto. Nós temos uma alta carga tributária” Robinson Faria

Renan Filho (PMDB), governador eleito de Alagoas, e Rui Costa (PT), da Bahia, concordam com o petista, mas Costa defende uma consulta popular antes de definir o retorno da CPFM ou de qualquer outro tributo. “Eu prefiro não batizar de nenhum nome, prefiro apenas que nós possamos discutir entre os governadores do Brasil, os deputados federais, senadores e a população se há necessidade ou não de uma nova fonte de financiamento”, pontua o representante baiano. Flávio Dino (PCdoB-MA), Robinson Faria (PSD-RN) e Paulo Câmara (PSB-PE), por outro lado, acreditam que não há sentido no aumento da tributação brasileira. Para os governadores, é possível discutir um remanejamento dos recursos já existentes para atender as demandas do setor, que enfrenta graves problemas. “Eu acho que temos outros instrumentos que podem fazer uma melhor distribuição de recursos sem aumentar a carga tributária do país, que hoje é muito alta. O Governo de Pernambuco fez isso nos últimos anos, conseguiu arrecadar mais sem aumentar tributos”, opina Câmara.


Foto: Jose Marques

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Reduzir as assimetrias entre as regiões é palavra de ordem para os governadores nordestinos. A redistribuição das riquezas geradas pelo país é um dos principais mecanismos levantados pelos representantes da região para fortalecer sua economia e infraestrutura. Para tal, a entrada em vigor da lei dos royalties pode ser um primeiro e importante passo em direção à diminuição das desigualdades regionais no Brasil. É o que acredita o senador Wellington Dias, governador eleito do Piauí e autor do projeto que culminou na aprovação da lei dos royalties. “Essa é uma lei que coloca uma distribuição justa da riqueza de petróleo e gás em mar. Isso significa para um estado como a Paraíba um incremento de aproximadamente 350 milhões de dinheiro novo por ano, já a partir do primeiro ano se essa lei entrar em vigor”, defende o piauiense. Aprovada pelo Congresso Nacional em 2012, a lei dos royalties foi vetada em março de 2013 pela ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Carmem Lúcia, que alegou a inconstitucionalidade da medida. Decisão tomada a partir de Ação Direta de Inconstitucionalidade apresentada pelo governo do Rio de Janeiro. Enquanto estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo perderiam receitas com a derrubada do veto, estados e capitais do Nordeste seriam os maiores beneficiários, já que, com os novos critérios de distribuição dos royalties do petróleo, passariam a receber mais recursos do Fundo de Participação dos Estados e Municípios. “Fazem dois anos que o Estado brasileiro tem perdido recursos que podiam hoje estar sendo investidos em saúde e educação”, reclama o governador eleito do Ceará, Camilo Santana.

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DISTRIBUIÇÃO DAS RIQUEZAS


Mais arrecadação Outra preocupação dos governadores do Nordeste é o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), tributo cobrado desde a Constituição de 1988, que é reconhecido pelo Governo Federal como o principal imposto do país porque gera R$320 bilhões por ano. Ou seja, chega a arrecadar mais do que o Imposto de Renda. O ICMS incide sobre variados tipos de serviços, como transporte interestadual de mercadorias, importação e prestação de serviços. O Governo Federal planeja a unificação do tributo, que tem taxas diferentes para cada estado. O projeto quer cobrar uma alíquota única de 4% sobre produtos não industrializados ou industrializados cujo conteúdo importado seja maior do que 40% do valor da mercadoria. A proposta não foi bem aceita pelos estados do Norte, Nordeste e Centro-oeste, regiões onde antes era cobrada uma alíquota de 12%, enquanto nas demais regiões a alíquota era de 7%. Embora o Governo Federal tenha concordado em criar um fundo para compensar eventuais perdas causadas pela mudança nas taxas dos impostos, os governadores das regiões prejudicadas pela suposta

falta de arrecadação pediram que o Sul e Sudeste tivessem suas percentagens reduzidas a 4%, enquanto o Norte, Nordeste e Centro-Oeste reduzissem a 7%. Seria uma solução imediata para o equilíbrio da arrecadação do tributo, uma vez que a igualdade na distribuição só viria a longo prazo. A medida foi planejada para combater a chamada guerra fiscal que, segundo o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, prejudica estados e União. De acordo com ele, há mais desvantagens do que vantagens, já que as empresas deixam de investir por causa das incertezas trazidas pelos incentivos dessa disputa.

Para Mantega, reformar o ICMS é dar condições para que empresários possam aumentar a sua produção. Um dos críticos da resolução foi o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), que condenava a guerra fiscal através das alíquotas diferenciadas de importação e já afirmou que essa era uma barreira contra o desenvolvimento regional. Ele também foi um dos críticos da unificação do ICMS, quando dizia ser injusto aplicar a mesma taxa a todos os estados. Ele defende que se as regiões tinham valores diferentes e todos ficassem com um valor só, a taxa de sacrifício do Nordeste seria maior que a do Sudeste.

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Correções exigem pressa O governador eleito da Bahia, Rui Costa, também pensa que a forma que o ICMS do comércio eletrônico é arrecadado é injusta. Hoje a cobrança do tributo é feita no estado de origem da mercadoria quando ela se destina a pessoas físicas até nas compras pela internet. Quando a mercadoria se destina a empresas, a alíquota interestadual é utilizada. Em pauta na Câmara dos Deputados, o novo texto prevê que os estados de destino da mercadoria ou do serviço terão direito a uma parcela maior do imposto se o consumidor for pessoa física. “É preciso resolver questões como o incentivo fiscal, o ICMS do comércio eletrônico, porque hoje os estados do Sudeste ficam com os impostos pagos

pelos nordestinos. É preciso corrigir isso urgente”, declara o petista. Para o piauiense Wellington Dias, a questão do ICMS do comércio eletrônico também é prioridade. “Temos na Câmara a última votação da lei do comércio eletrônico, que também tem a ver com receitas, fazendo justiça nessa área, buscando dar equilíbrio ao comércio presencial e ao mesmo tempo buscando viabilizar receitas novas”, afirma. O maranhense Flávio Dino defende que haja um balanceamento de tributos, mas diz que para isso não há necessidade de se criar outros impostos. “A carga tributária brasileira está na média internacional, o problema é que os serviços não são compatíveis.

Esse intercâmbio entre os governadores é interessante para discutirmos boas práticas. Nós temos que balancear tributos e combater os desperdícios, com maior eficiência na aplicação de recursos públicos”, sugere. No texto final da Carta da Paraíba, os governadores solicitaram a conclusão do projeto de modificação da tributação das operações interestaduais não presenciais, incluindo as compras pela internet. Eles defendem que a alteração no imposto deve ser finalizado este ano para entrar em vigor em 2015. “O Nordeste não pode continuar a conviver com as perdas decorrentes do atual modelo de tributação do comércio eletrônico”, diz o documento.


Área indispensável para o desenvolvimento de uma região, a falta de investimento e de recursos para a infraestrutura do Nordeste é um problema prioritário para os nove governadores eleitos. “É preciso ter uma estratégia em comum para energia solar e eólica, biomassa, mineração, política de gás e petróleo, para a infraestrutura de portos e aeroportos, de ferrovia. Ou seja, temos que integrar o Nordeste ao Brasil e ao mundo e isso não se faz isoladamente”, afirma o piauiense Wellington Dias. Para resolver esse problema, os governadores reivindicam que uma linha de crédito junto ao BNDES seja criada para o desenvolvimento de projetos de infraestrutura. O Proinveste Nordeste seria utilizado para novos investimentos, além de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos para a melhoria da competitividade frente às demais regiões. Os governadores defendem que essa linha de crédito seja criada já no primeiro semestre de 2015 e siga o modelo que está em execução atualmente.

Foto: Jose Marques | Agência Câmara

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Infraestrutura é prioridade

Segundo os últimos dados do Mapa da O governador reeleito da Paraíba, Violência, ao contrário da região SudesRicardo Coutinho, analisa que o Norte, que apresentou uma grande diminuideste está despreparado para enfrentar ção nas taxas de homicídios de jovens, o os índices alarmantes de violência. Nordeste duplicou esses números entre “É preciso uma política nacional de 2001 e 2011. O destaque vai para os segurança pública. É preciso dialogar estados da Bahia, Rio Grande do Norte com os municípios e estados”, sugere. e Paraíba que, durante esta década, mais Coutinho ainda afirma que analisanque triplicaram os do todos os estados homicídios juvenis. do Nordeste, os Mesmo com muinúmeros indicam “Esse país precisa tos avanços na inuma tendência difraestrutura, com fícil de evolução de uma política a redução da desinos indicadores nacional de gualdade social e de criminalidade. mais empregos, a segurança pública, “Há uma epidemia região ainda apreem todo o país, e precisa dialogar senta indicadores particularmente na com os municípios, nossa região. Acho sociais preocupantes. A Organização que nós precisamos que na mesma Mundial de Saúde ter uma ação muito base, os estados trata a situação da determinada para segurança pública o país. O Governo precisam resolver em alguns estados deve produuma melhoria na sua Federal como endêmica. A zir não apenas uma segurança pública” política única para única exceção é o estado de Pernamo país, mas também Ricardo Coutinho buco, que conseum Fundo Nacional guiu reduzir o núde Segurança Públimero de mortes. ca, que permita aos “O crime está miestados o aumento grando para o Nordeste, está vindo do de seus efetivos”, completa. Sul e do Sudeste e isso é muito perigoso Foi essa a resolução a que chegaram para nós nordestinos. Temos que nos os nove governadores da região na proteger, a começar pelas fronteiras. carta que será debatida com o GoverO meu estado tem hoje os piores inno Federal nos próximos meses. Esse dicadores da sua história na questão ponto foi um consenso entre eles, que da segurança pública. Isso tem que ser buscam redefinir o papel da União na tratado”, afirma o governador eleito do construção de uma política nacional Rio Grande do Norte, Robinson Faria. de segurança. Os governadores eleitos O governador eleito esclarece que querem a modernização das Forças 95% da população do Rio Grande do de Segurança e a elaboração de um Norte desaprova o atual governo por plano nacional que seja integrado e falta de segurança pública. “Isso é uma que combata o tráfico de drogas e de preocupação que atinge todas as classes armas. O documento pede também sociais: vai do grande empresário ao a implantação imediata do programa pequeno produtor rural, ao homem do Crack: é possível vencer, que ainda não campo. Ou seja: a insegurança já chegou foi totalmente implantado, e também até o setor rural, que é o mais pobre, mais solicita a criação do Fundo Complecarente”, declara. mentar para a Segurança Pública.

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Um fundo único de segurança


Opinião

Levy e Katia põem Dilma na defensiva

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ilma está jogando na defensiva. Depois de um pós-eleição triunfante, em que propôs o diálogo como controlador dos ânimos naturalmente exaltados, prometeu apoiar a reforma política e cobrar, doesse em quem doesse, o aprofundamento das investigações na Petrobras. A presidente recolheu os flaps, e o fez sob o impacto do anúncio das escolhas de Joaquim Levy para a Fazenda e de Kátia Abreu (ainda não oficializada) para a Agricultura. Impacto de alto teor negativo junto ao eleitorado que lhe deu um novo mandato e positivo, com restrições, junto às oposições, midiática e política, e a essa entidade denominada mercado, que, seguramente, não tem nem cara de pobre, nem de suas necessidades. Por pragmatismo ou conveniência, ou as duas coisas juntas, Dilma sinalizou que vinha errando na condução da política econômica, ou tentou “dar carne aos leões”, amansando-os e ganhando tempo para montar, com alguma tranquilidade, o novo governo. Na visão petista, pôs raposas para cuidarem de galinheiros; na versão tucana, praticou estelionato eleitoral. A iniciativa de Dilma, se causou polêmica e buxixo,não surtiu efeito em seu favor. Não oxigenou os índices econômicos que continuam praticamente os mesmos do período eleitoral. O mercado não foi a Bolsa, nem os investidores trouxeram capitais para o país. A inflação ameaça ignorar a meta traçada e o dólar, para desespero dos mochileiros de Miami, persiste em reduzir o poder de compra do real. Os opositores vão às ruas em pequenas passeatas que pregam o impeachment de Dilma e até a volta da ditadura militar. O “menino” de Tancredo se descobre líder e orador e, apoiado por claques, prega a ilegitimidade da vitória de Dilma e chama o PT de “uma organização criminosa”. É obvio que o esforço de Aécio visa carimbar, antecipadamente, o seu passaporte de candidato a presidente em 2018, tarefa dificílima diante do patrimônio de votos do governador Geraldo Alckmin. Nessa blitz política, o tucano mineiro faz do petrolão o seu míssil de guerra, esquecendo, entre outras pérolas, que as facilidades na Petrobras começaram, em 1998, quando

FHC assinou um decreto permitindo que a empresa passasse a contratar serviços sem licitação. Na época, pouco antes de morrer, o jornalista Paulo Francis já denunciava os escândalos da Petrobras. A grande mídia não acolheu, porém, as suas denúncias. Deprimido, Francis morreu de repente. Aécio vitupera, também, contra as contribuições das empreiteiras à campanha do PT, mas “esquece” que, segundo os “heróis” delatores, Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, a Toyo Setal, uma das titulares do petrolão, doou recursos ao seu partido, o PSDB. E o trensalão tucano, em São Paulo, parece não ser do seu conhecimento. Não é difícil compreender que boa parte do tempo de Dilma esteja sendo dedicado à composição do novo governo e, principalmente, à eleição das mesas do Congresso Nacional. Com um parceiro escorregadio como o PMDB, Dilma deve ter o fantasma de Collor na cabeça e ter o Congresso a seu favor é fundamental. Assim viu sumirem as oportunidades de ser pró-ativa na cobrança pela aceitação do diálogo oferecido, pela reforma política defendida e pela presença na linha de frente das investigações na Petrobras. Até o processo contra a Veja, anunciado em momento de indignação – na sexta-feira que antecedeu o domingo de votação do segundo turno – foi parar debaixo do tapete. A oposição midiática continua “solta na buraqueira”. Infla vaidades, cativa com espaços nobres, oferece uma fama que, mesmo fugaz, rende notoriedade nos corredores dos aviões ou nas páginas das revistas semanais (e até da Playboy). Intimida (lembre-se do que aconteceu com o ministro Celso de Melo) aqueles que ousam divergir. Uma lavagem cerebral, já com alguns aninhos a comemorar, põe na cabeça dos brasileiros que vivemos em um país em condições iguais àquelas em que mourejam Etiópia, Serra Leoa, Libéria, Zimbábue e outros “paraísos” africanos. A posição de Dilma, neste momento, além de lhe render ácidas críticas junto aos seus eleitores, já a penaliza. Em recente pesquisa nacional (Ibope), os seus índices de popularidade e de avaliação do seu governo estão abaixo daqueles apurados em outubro.

Carlos Roberto de Oliveira Jornalista, consultor de Marketing e sócio da CLG

Com um parceiro escorregadio como o PMDB, Dilma deve ter o fantasma de Collor na cabeça e ter o Congresso a seu favor é fundamental


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Política

NOVO DEBATE SOBRE A Reeleição Após 17 anos da aprovação do fim do mandato único, o Brasil volta a discutir o assunto com o objetivo de redemocratizar o processo eleitoral e inibir a corrupção. A proposta, no entanto, não é unânime Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

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Reforma Política é a bola da vez no cenário sócio-político brasileiro. Dentre os vários tópicos que a abarca, um dos que tem incitado os debates mais calorosos é o fim da reeleição. Isso porque no Brasil a alternância de poder, própria do regime democrático, transformou-se em uma dança das cadeiras. Nas eleições deste ano, dos 513 parlamentares que compõem a Câmara dos Deputados, 399 tentaram a reeleição em outubro. Outros 77 concorreram a cargos eletivos diferentes. Com isso, apenas 37 deputados não se candidataram a nenhum cargo em 2014. Alexis de Tocqueville, ainda no século XIX, apresentava em seus escritos sobre a democracia na América argumentos que o levavam à defesa de um mandato único. O pensador acreditava que o político sujeito à reeleição é um governante vulnerável, que se preocupa mais com a preservação de seu poder – conquistada muitas vezes através do uso da máquina pública – do que com

o legado que deixará para a população. Além disso, Tocqueville tratava do personalismo político ao afirmar que seria um erro acreditar que um bom líder não poderia ser substituído por outro ainda melhor. No Brasil, a eleição, especialmente quando se trata do chefe do Executivo, tem forte caráter personalista e reforça a cultura populista, aquela que leva parte da população a crer em libertadores e “salvadores da pátria”. No processo eleitoral deste ano, a reeleição presidencial retornou à agenda nacional. Acabar com a possibilidade de dois mandatos consecutivos por meio da Reforma Política foi item dos programas de governo de Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB). A proposta quer reverter a Emenda Constitucional nº 16, de 1997, instituída sob a presidência de Fernando Henrique Cardoso e aprovada em meio a um escândalo que indicava a compra de votos de deputados para que a aprovassem. O historiador Renato Cristofi

Dos 513 parlamentares que compõem a Câmara dos Deputados, 399 tentaram novo mandato em outubro


Foto: Agência Brasil | Divulgação

“Democraticamente é extremamente importante que a sociedade e seus representantes se ocupem em pensar suas formas de organização, estruturação, representação e governança”

ato do voto, elegendo pessoas comprometidas com o país. Em relação aos governantes que permanecem no poder ano após ano, Ramalho atribui à sociedade a responsabilidade sobre eles. “Na realidade, essa pessoa vem conseguindo ao longo dos anos a aprovação popular para que ele se perpetue no cargo, portanto, se é para buscar culpado, esse é o próprio povo que elege sempre um mesmo candidato”, afirma.

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Renato Cristofi

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lembra que o estatuto da reeleição no Brasil foi constituído em um governo que colhia os frutos da popularidade derivada da estabilização econômica permitida pelo Plano Real, mas que a medida capitaneada por FHC ainda assim teve oposição, mesmo dentro do seu próprio partido, em especial do então governador de São Paulo, Mário Covas. “Eu sou contra a reeleição, acho que vai ser um desastre”, disse o governador tucano ainda em 1995. Para o historiador, o restabelecimento de um regramento constitucional original, embora possa parecer uma debilidade do nosso sistema político (já que a mudança constante das leis apontaria fragilidades do regime), demonstra na verdade maturidade da democracia no Brasil. “Sendo assim, democraticamente é extremamente importante que a sociedade e seus representantes se ocupem constantemente em pensar e repensar suas formas de organização, estruturação, representação e governança”, afirma Cristofi, que considera ser relevante a discussão sobre a manutenção ou não da reeleição. Ele destaca, porém, que ela precisará ser acompanhada de uma discussão maior, que é a Reforma Política. “Sem essa inserção enquanto parte da reforma, a discussão do fim da reeleição pode ser novamente encarada como mais uma ação casuística dos velhos atores políticos, os mesmos que em sua maioria a instituíram quando lhes conveio”, conclui. Apesar das discussões em torno do assunto, há quem não veja sentido no debate. Para o advogado José Ricardo Ramalho, o instituto da reeleição não tem caráter prejudicial, mas é um fator benéfico para o Brasil e a democracia. Ele acredita que cabe a cada cidadão analisar os seus representantes nas casas legislativas e ser consciente no


“Política não é profissão” Um dos juristas mais renomados do país, Luiz Flávio Gomes vai no sentido oposto da opinião do advogado, já que entrou na dianteira das discussões em torno do fim da reeleição ao criar o movimento “Fim do político profissional”, que tem hoje mais de 38 mil assinaturas e adesões. O objetivo é conseguir o apoio de mais de 1 milhão de pessoas. O movimento defende o máximo de um mandato para cargos executivos e máximo de dois para os legislativos. Luiz Flávio Gomes acredita que o fim da reeleição seria uma medida muito importante para o país, porque reduziria custos e diminuiria a corrupção. “Quanto mais o político se perpetua, mais contato ele tem com a máquina corrupta, logo o risco dele se contaminar é muito grande. O que nós estamos propondo é a renovação contínua dos mandatos e dos políticos, porque isso vai fazendo com que a máquina seja oxigenada, com novas lideranças, gente que está preocupada, efetivamente, com os interesses do país, não com os interesses partidários ou próprios”. O jurista explica que o fim da reeleição traz como consequência o fim do político profissional, que é aquele governante que faz da política sua vida. “É preciso que o político, depois de ter exercido o cargo

“Quanto mais o político se perpetua, mais contato ele tem com a máquina corrupta, logo o risco dele se contaminar é muito grande” Luiz Flávio Gomes

público, que é um cargo com o qual ele está prestando serviço à nação, volte para sua profissão. Se é advogado, que volte a ser advogado; se é médico, que volte a ser médico. O que nós não concordamos é que alguns políticos façam carreira. Alguns até com 60 anos de carreira pública. Nenhum país do mundo suporta isso, tem que renovar”, argumenta ao afirmar que esse é um dos pontos de atraso do país. Luiz Flávio Gomes diz que o brasileiro é bom em protestar, na rua e na internet, mas que só isso não é suficiente. Para ele, é preciso se organizar e se mobi-

lizar. “Chegou a hora de ingressar em todos os movimentos concretos que vão pressionar o Parlamento brasileiro para promover essa indispensável reforma política”, explica o jurista, que acredita que a proposta enfrentará resistência dos parlamentares. “Os políticos também não queriam a Lei da Ficha Limpa. Ela só saiu porque o povo apoiou, e só dessa maneira será possível. Ulisses Guimarães dizia que político tem medo do povo. Então, se o povo se mobiliza e deixa sua zona de conforto para lutar pelas causas da nação, aí sim alguma coisa acontece”, completa.

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Empecilho jurídico, força política O professor de Direito Constitucional da PUC/SP e FADISP/SP, Renato Henari, chama atenção para a falta de efetividade jurídica da coleta de assinaturas feita pelo movimento liderado por Luiz Flávio Gomes. Ele lembra que a alteração da atual sistemática de alternância dos cargos políticos eletivos depende de mudança da Constituição. Henari, que também faz parte da Comissão de Estudos Constitucionais da OAB/SP, explica que apenas leis complementares e ordinárias podem ser objeto de projetos de lei de iniciativa popular. Caso da recente Lei da Ficha Limpa, apresentada ao Congresso Nacional com mais de 1

milhão de assinaturas. Apesar disso, segundo o professor, a falta de efetividade jurídica não implica na falta de efetividade política. “Um número expressivo de assinaturas poderá chamar a atenção da classe política favorável ao fim da reeleição e fazer dessa expressão popular o impulso para o ambiente jurídico de formulação de uma PEC. Toda iniciativa popular, mesmo que não seja suficiente para instaurar o processo legislativo, é relevante e transcendente”, constata. Renato Henari conta, no entanto, que já tramita no Congresso projeto para autorizar a iniciativa popular a propor, por meio de

assinaturas eletrônicas, não só projetos de lei, como também PECs. O professor considera que a retomada dessa pauta no Brasil demanda, antes de tudo, uma séria ponderação. “O assunto ressurge logo depois de uma disputada eleição presidencial. A definição do melhor modelo de periodicidade na ocupação dos cargos políticos eletivos no Brasil não se alcança, é certo, sem antes haver uma ampla e profunda reflexão política com a participação da sociedade, preferencialmente num momento em que já se tenha atenuado qualquer sentimento de retaliação ao resultado das recentes eleições”.


Congresso resiste As propostas em torno do fim da reeleição para cargos executivos já estão de certo modo encaminhadas e têm sido aceitas no cenário político. Entretanto, quando se trata da mesma proposição para os cargos legislativos, ainda há muito que avançar nos debates. Enquanto os parlamentares não demonstram interesse em discutir o assunto, cabe aos demais setores da sociedade abraçarem a causa e imporem essa discussão. Em Brasília, tramita no Congresso Nacional a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 352/13, que acaba com a reeleição do presidente da República, dos governadores e prefeitos, põe fim ao voto obrigatório e muda as regras das coligações eleitorais. A PEC foi aprovada pelo Grupo de Trabalho da Reforma Política, presidido pelo deputado Cândido Vaccarezza (PT-

-SP), que diferiu de outros membros da Comissão ao discordar da proposição de retorno ao mandato único. A proposta do GT não contempla, contudo, o fim da reeleição legislativa, que enfrenta resistência da maioria dos parlamentares no Congresso já que, por razões óbvias, são eles os maiores beneficiados pelo regime atual. O uso da máquina para alcançar um próximo mandato, aliás, é prática recorrente. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) é um dos poucos que aceitam a ideia de limitar a recondução nos cargos do legislativo. “Não digo nem que não se deva reeleger parlamentares, porque a experiência em legislaturas contribui para o trabalho. Agora, talvez devêssemos estabelecer um limite, de três ou quatro mandatos consecutivos. Isso renova a política”, argumenta.

Foto: Divulgação | EBC | Fernando Cavalcanti

entretanto temos que entender que este ponto passa longe de ser o problema central. É um direito do cidadão que gostou do mandato de seus principais representantes ter a oportunidade de votar pelo continuísmo em um ciclo curto de mais quatro anos”, justifica. O professor Renato Henari vai além e diz que a mudança não resgataria a dignidade dos cargos políticos nem mesmo potencializaria, por si só, os laços do respeito à soberania popular. “O fim da reeleição não leva à moralização dos partidos políticos, pois não podemos esquecer que um sistema de ‘irreelegibilidade’ não impede a perpetuação no poder de um único grupo partidário, mesmo o de conduta duvidosa. Somente a responsabilização do mandatário, imposta pelo povo, é que pode impedir o retorno ou a recondução de um político desqualificado ou colocar um partido político no ostracismo. A eficiência de ambos os sistemas não resiste à impunidade popular”, afirma.

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Cartaz de protesto em manifestação

A agência de pesquisa Hello Reseach realizou, antes das eleições deste ano, um estudo chamado “Mapa Político”. Questionados sobre seu nível de interesse no pleito, 62% dos entrevistados pela agência afirmaram ter pouco ou nenhum interesse nas eleições de 2014. “Este número evidencia a falta de representatividade dos brasileiros em relação à classe política. Obviamente fruto de anos e anos de gestões complicadas e falta de agendas políticas claras dos principais partidos, que normalmente decidem suas posições políticas pensando meramente na popularidade de cada uma das medidas”. É o que afirma o analista político Davi Bertoncello, diretor executivo da Hello Research. Bertoncello considera o fim da reeleição como uma medida paliativa que, sozinha, não é suficiente para pôr fim à corrupção. Para o analista político, existem outros pontos mais importantes dentro da Reforma Política. “É evidente que em nosso cenário político (recheado de escândalos) esta discussão é legítima,

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Falta representatividade


Economia

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Empresas familiares constituem a maior parcela dos empreendimentos no país e as que têm a maior taxa de mortalidade

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Por Isadora Lira isadoralira@revistanordeste.com.br

Negócios em família

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á quem acredite no provérbio “amigos, amigos, negócios à parte”. Entretanto, a máxima não se aplica quando o assunto envolve família nos negócios. Pelo menos é o que aponta uma pesquisa feita em 2012 pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). O estudo indica que 90% das empresas do Brasil são familiares, ou seja, uma gigantesca parcela do empresariado nacional. A taxa de sobrevivência dessas empresas, no entanto, é baixa. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 30% desses negócios sobrevivem após a transição entre a primeira e a segunda geração e apenas 15% atingem a terceira. No Nordeste, a mortalidade é ainda maior:

apenas 25% chegam à segunda geração e somente 8% alcançam a terceira. Por representar um percentual alto no ramo empresarial brasileiro, especialistas defendem este tipo de investimento e buscam evitar a mortalidade das empresas familiares, como é o caso de Vincent Baron, diretor executivo da Naxentia, consultora de gestão e negócios. “A gestão familiar tem suas vantagens competitivas, como velocidade e agilidade na tomada de decisão, em função de ter uma estrutura de deliberação menor e de não ter tantos níveis de alçada, isso faz que ela se movimente mais rápido do que uma multinacional. Além disso, tem habilidade para planejamento a longo prazo e manutenção de


Apego ao nome

valores. Porém, os conflitos familiares são pontos que deixam a empresa em desvantagem, principalmente, quando há interesse em buscar investidor diante de uma crise, por exemplo”, fala. Vincent Baron acrescenta que a maioria das grandes multinacionais começou com uma gestão familiar. “A empresa pode vender porcentagem do negócio para investidor, pode abrir capital, optar pelo fatiamento, sem mesmo perder controle da empresa. Abrir horizontes, renovar a gestão e novas perspectivas são sempre desafios. Toda empresa que apresenta perspectiva de crescimento é interessante aos olhos do investidor, principalmente se ela oferece diferenciais”, ensina.

Para o especialista em gestão empresarial familiar, Cícero Rocha, o empresário familiar tem um vínculo afetivo com o seu negócio, porque é uma continuidade dele. Ali está a sua história ou a história do pai dele. “Atualmente, estamos na era do storytelling (capacidade de contar histórias relevantes). Nos próprios brandings das marcas, elas buscam trazer a história que a empresa tenha para contar”. Ele acrescenta que, quando se trata de uma empresa familiar, o empreendedor projeta a vida dele nela. “Seria natural, que, ao participar da gestão de uma empresa familiar, o empresário tenha um nível de comprometimento maior, porque os vínculos emocionais não são tão arraigados numa empresa não-familiar”.

Foto: unsplash.com | Divulgação

“Antes de começar meu próprio negócio eu já trabalhava no negócio do meu pai, no mesmo ramo. Acho que é algo natural de quem trabalha em empresa familiar ter um pouco de insatisfação e querer abrir seu próprio empreendimento”

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nome dele que aparece lá”, comenta. Gabriel afirma que embora tenha interesse por várias áreas, optou por trabalhar com seu pai logo que terminou o ensino médio. “Trabalhar na empresa foi o que me pareceu melhor na época”, diz Gabriel, que começou a fazer o curso de Tecnologia e Construção de Edifícios, no Instituto Federal da Paraíba, para se profissionalizar na área. Para o consultor Cícero Rocha, a capacitação familiar não deve ser negligenciada. “A profissionalização não é um evento, é um processo e, para isso, precisa de método. Não dá para simplesmente colocar seu filho no RH”, pontua. Joellington concluiu o curso de Tecnologia e Construção de Edifícios no ano passado e diz que ter o curso não mudou a forma como trabalha.

Vincent Baron

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Colocar o próprio nome na empresa gera uma responsabilidade maior. A JL Construções, de João Pessoa, nasceu em 1999 levando o nome do seu único dono: Joellington Lima. “Antes de começar meu próprio negócio eu já trabalhava no negócio do meu pai, no mesmo ramo. Acho que é algo natural de quem trabalha em empresa familiar ter um pouco de insatisfação e querer abrir seu próprio empreendimento”, argumenta. A menção ao dono no nome da empresa gerou um compromisso maior no seu filho do meio, Gabriel Belo, que desde 2009 trabalha com o pai, sendo atualmente o responsável pela contabilidade. “A empresa é Joellington, eu sou filho da empresa. Tenho que tomar cuidado para não atrasar alguma conta ou qualquer coisa do tipo, porque é o


Administração racional Um dos grandes entraves neste tipo de negócio é a separação entre o âmbito pessoal e o profissional, aspecto que o empresário Jorge Cavalcante buscou delimitar com sua família. “A razão sempre fala mais alto que a emoção”, sublinha o maranhense. Jorge iniciou seu negócio com a esposa, Graça Cavalcante, há 15 anos, em São Luís (MA), abrindo uma franquia da loja de depilação Depyl Action. Antes de dar início a este empreendimento, Jorge trabalhava em uma multinacional. “Minha esposa conheceu a Depyl e nós investimos na franquia. Desde então, já montamos mais quatro lojas e temos 85 funcionários. Hoje, meu filho Diego e minha filha Natália trabalham conosco. Atualmente, são responsáveis pelo operacional, enquanto eu e minha esposa somos a parte estratégica”, conta. Embora tenha optado por um negócio familiar, o empresário não está fechado para outras possibilidades. “A grande vantagem é que você tem uma administração

única, ou seja, você tem um projeto, delimita o planejamento estratégico e cada um tem sua função específica”. Mas o lado negativo em sua opinião é quando algo não sai como planejado e aí é preciso retomar os planos. “Você acaba tendo que falar grosso para que a coisa volte para dentro do planejado e aí, na posição de pai, não tem jeito, dói no coração, mas tem que ser profissional”, lamenta. Para Jorge, um dos segredos do sucesso é a delimitação do dinheiro do caixa. Ele ensina que o ideal é que os envolvidos com a empresa entendam que não se pode mexer no financeiro. Para o consultor Vincent, essa é uma grande dificuldade nas empresas familiares. “Fluxo de caixa/custos de controle, planejamento tributário, plano de sucessão nos escalões superiores, além de uma preocupação com investimentos em tecnologia, novos produtos e desenvolvimento e qualidade são quesitos que afetam o desempenho de qualquer empresa, caso não aja uma gestão preparada para a crise”, esclarece.

Gerenciando o próprio negócio Marília Ramos começou seu negócio do zero. Ela conta que em 1995, então funcionária pública, decidiu ser sócia do irmão, no restaurante Oxente, em João Pessoa. Nesses quase 20 anos, ela se aposentou da atividade pública, desfez a sociedade com o irmão e, hoje, trabalha com os filhos Diego, 27, e Ingrid, 22. “Sempre incentivei meus filhos a seguirem a carreira que eles quisessem. Diego cursa Ciências Contábeis e Ingrid se formou em Direito. Até porque o comércio prende muito, exige e impossibilita férias”, comenta a empresária. Desde o princípio do negócio, Marília sempre quis manter o empreendimento entre a família. Para ela, é complicado firmar sociedade com alguém que não seja da família. “Claro que existem dificuldades. Quando temos algum problema entramos em conflito, mas sempre resolvemos as questões”, relata.

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Diego, Nathalia e Jorge Cavalcante, Glacy Van Straten e Maria Cavalcante são sócios na franquia Depyl Action


PADRÃO DE ÉTICA ELEVADO Cícero Rocha

Responsável por mais de 200 projetos estratégicos empresariais nos últimos 12 anos, Cícero Rocha é especialista em governança corporativa em empresas familiares. Desde que fundou o Instituto Empresariar, tem viajado pelo Brasil fazendo palestras e orientando pequenas e grandes companhias a alcançarem o sucesso financeiro

-Por que o senhor defende que as empresas se mantenham no âmbito familiar?

Elas são as mais rentáveis, mais lucrativas, e as que crescem mais rápido. São os melhores lugares para se trabalhar. O detalhe é o índice de mortalidade elevado, principalmente no Nordeste. Por isso, trabalhamos no Instituto Empresariar, para conter essa alta taxa de mortalidade.

-A que se deve esse número elevado da taxa de mortalidade?

Devido a um processo chamado ‘profissionalização’. Em primeiro lugar, esse processo necessita de uma boa orientação. No segundo aspecto, tem que haver metodologia, para, em seguida, recorrer a especialistas que os auxiliem dentro desse processo. Por fim, é preciso coragem para implantar essas mudanças.

-Como o senhor acha que essas empresas contribuem para a economia numa situação de crise? A partir de 2008, o mercado começou a observar as empresas familiares. Percebeu-se que esses negócios têm um padrão de ética mais elevado que as não-familiares. Em relação a valores, elas estão bem à frente no sentido de apresentar baixos índices de corrupção. Isso é um fator importantíssimo para a sustentação de uma economia que é movida em confiança. O mercado de capital conta com a confiança e as empresas familiares têm baixa predisposição à corrupção.

-Quais as principais diferenças entre uma empresa familiar e não-familiar?

A familiar foi feita pra não vender. A outra está constantemente sendo preparada para ser vendida. No primeiro caso, a venda só acontece em última instância, porque é lá que está o nome dela, a sua história. Quando se vende uma empresa familiar, você está vendendo a história de uma família.

O empresário Edilberto Moreira compactua desta opinião. “Quando se tem um empreendimento, essa é uma preocupação grande. Você precisa de um sócio, mas se não conhecer a gestão da pessoa, isso fica difícil. Qualquer coisinha pode virar uma desconfiança muito grande”, argumenta. Edilberto largou seu emprego no banco e iniciou o seu empreendimento em 2011, abrindo uma franquia da rede Casa do Construtor, em

Fortaleza. Logo quando deu início ao negócio, convidou o filho Marcelo para trabalhar na área administrativa, enquanto Edilberto é responsável pela área comercial. “Quando decidimos dar início ao negócio, nós tivemos treinamento da rede, aulas teóricas e práticas, ou seja, foi uma tranquilidade”, relembra Edilberto, ao ressaltar que numa empresa familiar o que não se deve fazer é tomar a frente na decisão do outro. “Cada um tem sua função”.

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A confiabilidade é uma das características mais marcantes deste tipo de empreendimento, de acordo com o consultor Cícero Rocha. Ele diz que em relação a valores, como índice de corrupção, por exemplo, as empresas familiares estão bem à frente no sentido de apresentar baixos índices. Na sua visão, isso é um fator importante para a sustentação de uma economia que é movida em confiança. O mercado de capital conta com a confiança. As empresas familiares têm baixa predisposição à corrupção.

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Mais valor e menor corrupção

Foto: Divulgação


Economia

Intercâmbio de Rum e chocolate

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Produtos venezuelanos são apresentados pelo Consulado Geral para o Nordeste a empresários e especialistas no assunto

Por Jônatas Campos especial para a Revista NORDESTE

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ão é só a aproximação política e econômica entre os governos, iniciada com os presidentes Lula e Hugo Chávez e mantida por Dilma Rousseff e Nicolás Maduro. A Venezuela, por meio de seu Consulado Geral para o Nordeste, com sede no Recife, quer promover um intercâmbio cultural entre os dois países, agora, através de dois dos produtos mais tradicionais venezuelano: o rum e o chocolate. No início de dezembro, o Consulado promoveu uma rodada de apresentação da bebida alcoólica tradicional para especialistas, importadores e empresários interessados em conhecer um novo produto para colocar no mercado. O encontro foi no restaurante Biruta, no bairro de Brasília Teimosa, em Recife (PE) e contou com runs das principais marcas venezuelanas, além da presença do renomado “mixólogo” (como são chamados os bartenders naquele país) Dazfer Sobero. O rum venezuelano tipo exportação passa por um rigoroso processo de produção, chamado “Denominação de Origem Controlada” (DOC). Dentre as várias exigências de qualidade, está a seleção da cana-de-açúcar, o manejo da terra, o cozimento do melaço, a destilação e o obrigatório envelhecimento em barris de carvalho. Essa mesma metodologia de regras de qualidade também é usada, por exemplo, na tequila mexicana e no café da Colômbia. Em processo parecido com a cachaça brasileira, o rum venezuelano é derivado da cana-de-açúcar, mas passa por destiFoto: Divulgação


lação e manejo distintos. As empresas que detêm o selo de qualidade DOC estão sediadas em estados com as mesmas condições climáticas: solo fértil, vento constante, a maior parte do ano com sol abundante e muita água doce, fazendo com que a colheita de cana-de-açúcar seja de alta qualidade. Com a exigência de permanecer, no mínimo, dois anos em barris de carvalho, e com as temperaturas altas ao dia e frescas a

noite, o rum interage com mais ênfase com a madeira dos barris, que devem ser lacrados e abertos na presença de fiscais do governo, para que tenham sua qualidade atestada. Outra característica do processo de qualidade da bebida é a verificação pelos “mestres roneros”, especialistas em sabor, aroma, aparência e qualidade do produto. As marcas que possuem o selo DOC são: Cacique, Canaima, Cañaveral, Ca-

rúpano, Diplomático, El Muco, Estelar, Ocumare, Pampero, Roble Viejo, Santa Teresa, Tepuy e Veroes.

Serviço:

Consulado Geral da República Bolivariana da Venezuela em Recife Endereço: Av. Conselheiro Aguiar, n° 597, Boa Viagem. Telefone: (81) 3131.8150


apresenta

escolha

inteligente

Optar por um combustível de qualidade é essencial para assegurar o máximo desempenho de automóveis e evitar gastos e preocupações desnecessárias

O

brasileiro tem uma relação especial de carinho e zelo com o seu automóvel. Alguns, no entanto, não se dão conta de que, além da escolha de um bom veículo, é preciso investir em outros fatores que prolongam a satisfação do usuário com seu auto. O simples ato de abastecer é um deles. Afinal, o combustível não é só o líquido responsável pela locomoção do veículo, mas é também determinante na manutenção de sua vida útil e na otimização de seu desempenho.

Chefe da oficina de uma concessionária de veículos, Celso de Medeiros conta que vários aspectos influenciam no desempenho de um carro, mas a opção feita pelo motorista na hora do abastecimento é uma das mais importantes. A resposta de aceleração do veículo, por exemplo, pode ser comprometida pelo uso de combustíveis de má qualidade, que sujam o filtro e, segundo Celso, ocasionam o “cansaço” do motor. Já quando o motorista opta por uma gasolina de qualidade, é possível manter o bom rendimento do motor e garantir a economia no consumo. Isso não ocorre quando a gasolina está adulterada, porque o motor do carro sofre com os prejuízos decorrentes da adição de substâncias que desfiguram sua qualidade. O veículo não consegue mais alcançar a velocidade que normalmente atingia ou parece não ter o mesmo desempenho de antes e pode chegar a falhar ou engasgar. Foi o que aconteceu com o técnico em mecânica Abelson Domingos. “Ao parar, meu carro simplesmente apagava”, lembra.


POR QUE A PETROBRAS GRID AUMENTA O DESEMPENHO DO CARRO?

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1

Permite respostas mais rápidas nas acelerações

Otimiza a dirigibilidade

Ele trabalha como analista em uma concessionária e conta que depois da experiência negativa com o veículo anterior, passou a utilizar apenas gasolina aditivada. Abelson sabe que o uso contínuo da gasolina de má qualidade o levaria à oficina mais vezes e aumentaria os custos da manutenção do seu auto. “O meu temor é porque, como trabalho em uma concessionária, vejo com frequência os danos causados pelo uso de combustível adulterado. Em alguns casos os problemas são graves, já que os motores atuais trabalham com uma tecnologia muito moderna e cara, e um combustível de má qualidade pode danificar definitivamente alguns componentes do sistema de alimentação, o que gera um prejuízo imenso, porque o fabricante do automóvel não cobre danos causados por esse uso”, afirma. Foi justamente a partir de pesquisas que tinham o intuito de formular um combustível que trouxesse benefícios para os motores que a gasolina Petrobras GRID foi criada. O resultado é um combustível de qualidade que influencia diretamente no desempenho

Foto: iStock | Banco de Imagens Petrobras

do veículo e garante melhor dirigibilidade e desenvolvimento do carro. Formulada com uma nova geração de aditivos detergentes e dispersantes que são responsáveis por manter sempre limpo o sistema de alimentação, e com o aditivo redutor de atrito, que diminui o desgaste das peças, a Petrobras GRID garante desempenho superior do veículo. Isso porque possibilita melhores respostas nas acelerações em retomadas de velocidade e, ao atuar nos componentes internos do motor (anéis de segmento, pistões e cilindros) de forma a minimizar o atrito entre eles, proporciona um maior aproveitamento da energia mecânica produzida pelo veículo. Além de retardar a manutenção dos motores, garantir seu melhor desempenho e evitar prejuízos ao motorista, a Petrobras GRID tem coloração esverdeada para facilitar a identificação da gasolina pelo consumidor. Ela possui baixo teor de enxofre e reduz em até 94% os índices de gases poluentes. Com teor de enxofre até 50ppm, atende aos requisitos da Agência Nacional de Petróleo, Gás natural e Biocombustíveis (ANP).

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Reduz o atrito entre as peças do motor

Amplia o rendimento do motor


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Geral


Por Umberlândia Cabral umberlandia@revistanordeste.com.br

Foto: Passarinho

“C

onjunto de bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação é de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico”. Assim é definido o patrimônio nacional no decreto-lei de número 25 de 1937, o qual – entre outras medidas – institui o instrumento do tombamento. Tombar é reconhecer um valor cultural de um bem e consequentemente preservá-lo para as próximas gerações. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), órgão responsável por realizar estes tombamentos, lista 77 conjuntos urbanos tombados em todo o território brasileiro. Destes, 30 são do Nordeste, região que foi a primeira zona de povoamento criada pelos colonizadores portugueses no Brasil. A conquista partiu do litoral nordestino porque oferecia as melhores condições para o povoamento. Desde o cultivo da cana-de-açúcar, esta região passou por diversas guerras, povos e atividades econômicas e hoje exibe prédios históricos de diversos estilos de arquitetura. A Bahia é o estado nordestino com maior número de bens tombados pelo patrimônio público e o terceiro do Brasil, atrás apenas do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Salvador, que foi a primeira cidade fundada no Brasil e a nossa primeira capital, tem atualmente noventa prédios tombados. A capital se divide em Cidade Baixa - construída no nível do mar e que possui atividades comerciais, mas já perdeu muitas de suas características originais-, e Cidade Alta – área mais conservada onde espaços administrativos e residenciais são mais encontrados. Esta última concentra a principal atração turística do centro histórico de Salvador e uma das mais

conhecidas do mundo: o Pelourinho. Totalmente restaurado nos anos 90, o Pelourinho reúne modelos arquitetônicos dos séculos XVII, XVIII e XIX e é mundialmente conhecido por retratar a cultura africana no seu cotidiano. Durante a sua restauração, o governo sofreu muitas críticas pela retirada dos moradores do local. Hoje, 23 prédios históricos são restaurados na capital baiana apenas pelo PAC Cidades Históricas. Pernambuco, segundo estado do Nordeste com mais prédios tombados, também enfrenta hoje uma restauração em massa de prédios históricos pelo mesmo programa. Apenas neste estado foram investidos R$ 171 milhões para serem gastos em três anos nas revitalizações dos centros históricos. Por lei, todos os projetos têm que passar pelo Iphan para serem aprovados e realizados. “As prefeituras mandam os projetos urbanísticos individuais e nós temos que chegar ao tratamento adequado para a obra, tanto na questão financeira como na preocupação com a restauração da obra em si”, declara Frederico Almeida, superintendente do Iphan de Pernambuco. Almeida garante que há uma preocupação do órgão também na sustentabilidade do projeto e no acesso da população a eles. “Nós não nos preocupamos apenas com a recuperação do bem público, mas também com a forma de acesso que a população terá a essa obra, depois da entrega. Temos um compromisso de entregar a obra com equipamento funcional para garantir o acesso às pessoas, respeitando sempre a individualidade de cada obra porque muitas vezes as obras restauradas são igrejas, então esse acesso depende da administração delas, mas entregamos as obras com boas condições de serem visitadas pela população. Todas elas são feitas com ações integradas para garantir a sustentabilidade”, afirma.

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Nos últimos anos, os centros históricos nordestinos vêm passando por uma revitalização em massa, o que divide opiniões. O berço da colonização nordestina no Brasil está enfrentando uma aceleração nos processos de restauração e movimentos prómoradia se destacam ao pedir a ocupação nesses locais

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História restaurada


INTERESSE PELA PRESERVAÇÃO

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Arquiteto especializado em Restauração e Conservação de Edificações, Olympio Augusto Ribeiro notou que o interesse pela preservação de prédios históricos vem aumentando nos últimos anos, mas afirma que uma campanha educativa ainda é necessária para que a população se conscientize a conservar os prédios históricos. “Todo tipo de educação patrimonial é muito importante para que as pessoas de fato deem importância aos prédios históricos. Porque muito pouco se olha para eles como parte da nossa história. Mas isso tem melhorado muito. Há um movimento em relação a esses bens, principalmente que partem do setor privado, mas também do público”, declara. No entanto, o arquiteto afirma que ainda falta muito para que se chegue a um nível satisfatório de monumentos históricos restaurados. “Isso acontece porque no setor público o processo é lento, tem que passar por concurso, licitação, contribuindo para que esses bens continuem abandonados”. O arquiteto observa que o vilão dessa história ainda é a desinformação. Muitos proprietários ainda desconhecem as leis de incentivo e de descontos de impostos. ”Quando um prédio é tombado, ele é reconhecido como parte da história cultural, mas não muda o proprietário. Se ele precisar de ajuda para reformar a sua propriedade é só procurar os setores responsáveis”, exemplifica. Isto, segundo Olympio, é o que torna o processo ainda mais demorado.

MAIS RECURSOS PARA INVESTIR NO PATRIMÔNIO O PAC Cidades Históricas faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento 2 (PAC 2) do Governo Federal. Em agosto de 2013, a presidenta Dilma Rousseff anunciou R$ 1,6 bilhão em recursos para o programa, que tem o objetivo de recuperar as cidades históricas do país. Outros R$ 300 milhões em linha de crédito foram colocados à disposição para que donos de imóveis possam restaurar os prédios de acordo com as regras de tombamento. À época, o programa foi criticado não só pela oposição - o senador Aécio Neves afirmou que esse mesmo programa já havia lançado quatro vezes e que nunca havia saído do papel -, mas também por arquitetos que se preocupavam com a pressa que o programa é executado. O superintendente do Iphan de

Pernambuco, Frederico Almeida, diz, no entanto, que as restaurações executadas pelo programa são feitas com muito cuidado e sempre há muita fiscalização. “O programa está no PAC 2, mas é específico para obras que precisam de restauração. Isso garante o desenvolvimento com todo o cuidado que um bem histórico necessita. Eu vejo isso como uma vanguarda mesmo”, afirma. Frederico Almeida observa que por terem que passar pelo Iphan, os projetos são melhorados e que a parceria com as prefeituras e a execução das obras são acompanhadas de perto. “Isso acontece para que os projetos não se descaracterizem”, explica. Ele acrescenta que novas equipes foram contratadas para realizar este novo trabalho.

O QUE PODE SER CONSIDERADO PATRIMÔNIO HISTÓRICO:

Igreja São Pedro dos Clérigos

- as formas de expressão - os modos de criar, fazer e viver - as criações científicas, artísticas e tecnológicas - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais


Foto: Jan Ribeiro | Carlos Oliveira | Dayse Euzebio | Divulgação

No dia 24 de março deste ano, trinta casas da principal rua do Centro Histórico de Salvador amanheceram marcadas com os dizeres “aqui podia morar gente”. A intervenção foi feita por um grupo de moradores locais, que pede a ocupação imediata por pessoas sem moradia. O colecionador de arte Dimitri Ganzelevitch foi um dos que carimbaram a mensagem nas casas. “O Centro Histórico de Salvador tem 1500 casas abandonadas. A situação não é nada boa. Por eu ter feito parte desse movimento, o grupo poderoso que é dono dessas casas não gostou e está me processando por difamação. O primeiro processo sai

em janeiro. Eles compraram cerca de 30 casas, restauraram uma ou duas e depois abandonaram, não sei se por pura má intenção”, afirma o francês que mora em Salvador desde 1975. Movimentos por ocupação como o “Aqui podia morar gente” de Salvador têm se destacado desde o aumento no número de revitalizações dos centros históricos nordestinos. Ganzelevitch atribui o problema ao governo que não prioriza o direito à moradia. “Os projetos por parte do governo para revitalização não saem do papel. A intenção deles é vender Salvador para os turistas, por isso transformaram o centro em um local apenas de comércio”, afirma.

MORADORES RESISTEM Além dos movimentos pró-moradia, há outros que pedem que a revitalização seja feita de forma transparente e que não prejudique os moradores locais. Este o caso do Porto do Capim em Ação, de João Pessoa. O centro histórico da capital paraibana está sendo revitalizado e a comunidade Porto do Capim não tem informações do que acontecerá em breve com seus moradores. “A ameaça de que o Porto do Capim será revitalizado não é nova, vem desde 1997. Nós não somos contra a restauração dos prédios históricos. Tem que fazer mesmo. O problema é para onde vão colocar os moradores”, declara Rossana Holanda, presidenta da Associação de Mulheres do Porto do Capim. A comunidade tem cerca de 500 famílias e 250 casas estão em área de risco. Durante a revitalização, a prefeitura planeja remover essas residências. “Formamos a associação para conseguir maiores informações sobre os projetos para a comunidade. Desde 2011 estamos lutando, mas até a última reunião com a Secretaria de Educação do município, que aconteceu em setembro, o que nos apresentaram foi apenas um esboço do projeto”, explica Rossana.

Centro histórico de João Pessoa

Os moradores insistem em não apenas conhecer o projeto residencial, mas todo o projeto que envolve a comunidade. “Somos uma comunidade de mais de sessenta anos, onde a maioria é pescador. Nós queremos que haja mais que uma revitalização, queremos uma requalificação desse local”, afirma a presidenta da associação. “Enquanto os governantes se preocuparem mais com o comércio do que com a moradia, esse problema vai apenas crescer”, declara Ganzelevitch. “Existem muitas pessoas sem moradia e muitos prédios abandonados. A solução está clara”.

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O PAC Cidades Históricas é responsável por restaurar 26 novos projetos só no estado de Pernambuco. “Três projetos já estão em fase de execução: a Igreja de São Pedro dos Clérigos, a Matriz de Santo Antônio e Nossa Senhora da Conceição dos Militares. As outras estão em fase de licitação, como é o caso do Forte de Fernando de Noronha”, declara o arquiteto Frederico Almeida. Os nove estados nordestinos estão entre os vinte beneficiados pelo programa no país. Kátia Santos Bogea, superintendente do Iphan do Maranhão, afirma que o PAC Cidades Históricas veio para acelerar o processo que antes era mais demorado. “As restaurações dos prédios históricos de São Luiz são totalmente feitas pelo Iphan e aqui nós temos parceria com os governos municipal e estadual. O PAC nos possibilitou a contratação de mais de vinte pessoas para executar a obra, entre elas arquitetos e arqueólogos. O programa tem beneficiado bastante a nossa capital”. Ela conta que São Luís já está com as obras aceleradas (as 44 obras aprovadas estão em processo de licitação e seis já estão sendo executadas) porque a capital maranhense já fazia parte do primeiro PAC, que beneficiou oito cidades tombadas como Patrimônio Cultural da Humanidade.

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PAC ACELERA PROCESSO

“REVITALIZAR É OCUPAR”


Geral

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É possível se livrar da pobreza? Brasil avançou no combate à miséria com políticas públicas, mas problemática é crônica e ainda levanta debate

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Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

A

pesar dos números revelarem um aumento da extrema pobreza no Brasil, há registros de quedas acentuadas da pobreza crônica. De acordo com os dados revelados pela ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Tereza Campello, durante o I Seminário Internacional WWP – Um Mundo Sem Pobreza, em Brasília, houve uma queda de pouco mais de 7% nos índices, entre os anos de 2002 e 2013. No período, o país registrava 8,3% e foi para 1,1%. Atualmente, vivem no Brasil mais de 10 milhões de pessoas que se sustentam com R$ 77 por mês, ou menos. Essas pessoas fazem parte do grupo pertencente à faixa da extrema pobreza. Em 2012, eles eram

10.081.225 e no ano seguinte pularam para 10.452.383, ou seja, um aumento de 3,56%. Em 2013, a população abaixo da linha de extrema pobreza aumentou 3,68%, de acordo com dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). No Brasil, a cada cinco minutos morre uma criança de doença ou de fome. Isso descortina o problema e levanta questionamentos. Será possível erradicar a pobreza no país? De acordo com o secretário extraordinário de erradicação da extrema pobreza do MDS, Tiago Falcão, a resposta é positiva. “Em relação a um mundo sem pobreza, é possível sim, é desejável e digo até necessário”, assegura contando também que hoje existem políticas sociais testadas e com resultados aprovados,


financeiros envolvidos. Trocando em miúdos: são as raposas tomando conta dos galinheiros”, critica Pedro. O trabalho “O topo da distribuição de renda no Brasil”, dos pesquisadores Marcelo Medeiros, Pedro Souza e Fabio Avila Castro, da Universidade de Brasília, mostra que os 5% mais ricos do Brasil detinham cerca de 40% da renda do país em 2006, e em 2012 passaram a responder por 44%. Para eles, fica claro que o crescimento da economia não revela um país desenvolvido. Durante o I Seminário Internacional WWP, Kaushik Basu, vice-presidente sênior e economista-chefe do Banco Mundial, disse que não se discute zerar a miséria no mundo e que a meta do Banco Mundial para 2030 é reduzir a extrema pobreza a 3% da população. Outro objetivo, segundo ele, é melhorar a renda de cerca de 40% da população mais pobre. Contudo, ele reconhece que a problemática não será solucionada apenas pelo crescimento econômico.

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Tereza Campello

“Há uma classe dominante de interesses financeiros que exerce o oligopólio de grandes corporações ao redor do mundo. Essa classe, está tão inserida no contexto político que não é possível mais separá-la do que seja tão somente financeiro”

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como o Plano Brasil Sem Miséria. Após esse programa, de acordo com os dados do MDS, o Brasil já apresentava 22 milhões de pessoas a menos na condição de pobreza. Além disso, antes dele, o grupo de pobres era formado por 71% de negros, tinha 60% concentrados no Nordeste e 40% de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos. No Nordeste, a pobreza multidimensional crônica caiu de 17,9% para 1,9%. Entre os negros, a queda foi de 12,6% para 1,7%. E nas famílias com pelo menos um filho de seis anos ou menos de 13,4% para 2,1%. Para o economista Pedro Machado, um mundo sem pobreza não passa de uma ilusão, uma utopia. Ele afirma que é apenas possível imaginar um lugar onde se possa viver com o mínimo necessário para subsistir, mas nada além disso. O ceticismo do especialista é decorrente do sistema capitalista que rege os setores políticos e sociais atualmente. “Há uma classe dominante de interesses financeiros que exerce o oligopólio de grandes corporações ao redor do mundo. Essa classe, está tão inserida no contexto político que não é possível mais separá-la do que seja tão somente financeiro. Os dirigentes das instituições dos países centrais também são donos ou, no mínimo, pessoas com grandes interesses econômicos/

Foto: MDS | divulgação


Incentivo ao trabalho De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), do total de 1 bilhão de pobres no mundo (dentro da linha de 1,25 dólar/dia), 375 milhões trabalham. Laís Abramo, diretora da OIT no Brasil, entende que não é qualquer trabalho que permite a superação da pobreza. Para ela, é fundamental uma atividade digna. Mas observa que o país avançou nesse sentido e que o trabalho, um dos principais eixos para superação do problema, precisa incluir uma política de escala que dê conta das desigualdades com inclusão produtiva. Um dos incentivos do Governo Federal em relação a isso foi incluído no Plano Brasil Sem Miséria que, prevendo a inclusão produtiva urbana, instalou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), do Ministério da Educação, com cursos gratuitos que oferecem qualificação profissional para o público de baixa renda. Para o secretário do MDS, Tiago Falcão, depois da implantação do Brasil

Sem Miséria, o país passou a ser referência com as politicas públicas desenvolvidas pelo programa. Ele destaca a atuação na área de educação, com a oferta dos cursos profissionalizantes que, em sua opinião, estão mudando o curso da trajetória escolar das futuras gerações e diferenciando-se das gerações passadas “que não tinham o mesmo acesso”. Segundo explica, há cerca de 1 milhão e meio de brasileiros extremamente pobres se beneficiando das aulas oferecidas. Outro incentivo do programa é a formalização do Microempreendedor Individual (MEI). Quem ingressar no programa de assistência técnica e gerencial coordenado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) tem acesso ao microcrédito produtivo, orientado pelos bancos públicos federais no Programa Crescer, com taxa de juros reduzida de 60% para 5% ao ano, e taxa de abertura de crédito diminuída de 3% para 1%.

Tiago Falcão

“Há uma classe dominante de interesses financeiros que exerce o oligopólio de grandes corporações”

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Além da questão monetária Ter um mundo sem pobreza vai além da questão monetária. Tiago Falcão, do MDS, entende que o fim da pobreza é possível a partir da garantia dos direitos humanos essenciais e da liberdade plena instituídas na sociedade. “Seria um mundo de maiores oportunidades para todos”, declara. Para o sociólogo Reinaldo Guimarães, pensar um mundo sem pobreza é plausível se considerarmos a problemática uma forma ampla, não apenas em relação à questão monetária, na distribuição de renda, mas em uma concepção que envolve outros elementos, tais como: a redução da discriminação por raça, gênero e etnia, a redução das desigualdades que existe entre as regiões e entre as classes, no que concerne a educação, aos bens simbólicos e culturais. “Vejo, nesse sentido, que ampliar as igualdades de oportunidades para os cidadãos em

condição de vulnerabilidade social é o melhor caminho para um mundo sem pobreza”, pontua. O economista Pedro Machado também retira a responsabilidade da pobreza das cotas do sistema monetário, afirmando que as políticas desse setor não são capazes, por si só, de resolver a questão, uma vez que elas têm efeito a curto prazo, atingindo a demanda por consumo, fazendo aumentar ou diminuir a redução de oferta de moeda no mercado. Porém, ele defende que para diminuirmos a sensação de pobreza e aumentarmos o bem-estar da população mais carente, o importante são investimentos em obras de infraestrutura que beneficiem e facilitem a vida dessas pessoas. Ele cita investimentos voltados à saúde, saneamento e educação. “É tudo uma questão de vontade política. Tudo isso é, de fato, investimento e não gasto, como

pode parecer a um olhar menos atento. Haverá retorno maior em forma de capital humano mais desenvolvido, com gente mais saudável, com mais educação (em seu sentido de desenvolvimento intelectual) e, o principal, mais prosperidade – que é o que todos desejam”, conclui o especialista.


VALORIZAÇÃO

RURAL

Foto: Divulgação | MDS

Acusado de ser o maior cabo eleitoral do PT nas últimas eleições presidenciais, o programa Bolsa Família levanta polêmicas quando ganha espaço em debates. Dividindo opiniões entre ser uma política que acomoda e uma iniciativa que tirou milhões da fome, o fato é que esse modelo foi reconhecido internacionalmente. O programa, que beneficia atualmente 14 milhões de famílias, não é o único responsável pelos resultados positivos obtidos pelo Brasil, já que é apenas uma parte do modelo de desenvolvimento econômico inclusivo adotado pelo país, que envolve várias outras políticas. Mas, foi o carro chefe de todo enfrentamento da pobreza. Durante o painel “A experiência brasileira na superação da extrema pobreza”, no Seminário WWP, a gestora interina de Práticas de Proteção Social e Trabalho para a América Latina e o Caribe do Banco Mundial, Margaret Grosh, parabenizou o país pelos programas sociais e defendeu que o Bolsa Família deveria ser conhecido no mundo, destacando o monitoramento de famílias pobres. Apesar das críticas recebidas sobre os programas de assistência que o Brasil vem implantando nos últimos anos, foi com essas políticas públicas que o

país conseguiu dar os primeiros passos firmes no combate à miséria. Para o sociólogo Reinaldo Guimarães, no entanto, o que será capaz de erradicar a pobreza no país são os investimentos em educação. Ele acredita que as políticas de ação afirmativa, não só as cotas para o ingresso nas universidades e empresas públicas, como também programas como ProUni (Programa Universidade para Todos) e Fies (Programa de Financiamento Estudantil), têm possibilitado a mudança nas condições materiais de existência e transformado a vida das pessoas pertencentes às populações mais vulneráveis socialmente, como os indivíduos da população negra, por exemplo. “Posso dizer, neste sentido, que a ‘revolução silenciosa’, que as ações afirmativas puseram em marcha na última década no Brasil, só poderá extrair sensibilidade, beleza e harmonia de um processo de transformação das desiguais relações sociais e raciais brasileiras em um futuro, cujo presente já começou a construir. Será apenas olhando para o futuro que se poderá vislumbrar a possibilidade de termos uma sociedade social e racialmente mais justa”, pontua.

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Os dois lados da assistencia social

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Para a região Nordeste, Tiago Falcão afirmou que o enfrentamento à pobreza focou no incentivo à inclusão produtiva no meio rural, se concentrando em políticas de combate à pobreza nas regiões semiáridas, por exemplo. “O reconhecimento do agricultor familiar como unidade importante de profissão foi considerado inovação”, explica o secretário do MDS, ao afirmar que a proposta é implantar melhorias de convivência em regiões difíceis de viver. Tiago Falcão afirmou também que o programa chegou a implantar mais de 750 mil cisternas para universalizar o acesso à água para famílias do semiárido, permitindo assim a permanência do sertanejo e de pessoas de outras regiões secas a continuarem em suas terras. Com o programa, 131,3 mil das famílias com projetos apoiados com assistência técnica já estão recebendo recursos de fomento para implantá-los. Os projetos produtivos têm atividades voltadas à criação de pequenos animais (porcos, aves, cabras e ovelhas), bovinocultura e horticultura. Além disso, os recursos são investidos principalmente na compra de animais e na construção de estrutura física para a criação, como galinheiros e chiqueiros. O público do Brasil Sem Miséria no campo é formado por agricultores familiares, assentados da reforma agrária, acampados, extrativistas, pescadores, quilombolas, indígenas e outros povos e comunidades tradicionais. O Plano criou para eles uma rota específica de inclusão produtiva. Tiago Falcão explica que o processo produtivo fornecido às famílias tem acompanhamento individualizado e continuado de técnicos agrícolas, que mostram formas de aumentar a produção, a qualidade e o valor dos produtos. Os assistidos recebem no mínimo 2,4 mil reais em recursos não reembolsáveis para usar na implantação do projeto produtivo construído em conjunto com os técnicos. Além disso, são distribuídos insumos e sementes para aumentar a produção.


Conexão América Acesso à educação

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Um dos pilares da missão diplomática dos Estados Unidos no Brasil é promover oportunidades educacionais. O Departamento de Estado dos EUA tem inúmeros programas para fazer isso. Promovemos intercâmbio de jovens líderes, de profissionais de diversas áreas e de estudantes de escolas públicas. Temos patrocinado especialistas americanos a participarem de programas de capacitação de professores de escolas públicas em diversos estados brasileiros. Eles vêm ao Brasil para ensinar novas técnicas do ensino de inglês. Além de promover esses programas, também colaboramos com os projetos do governo brasileiro. Temos trabalhado com os governos estaduais e federal para enviar milhares de estudantes para os Estados Unidos. Mas, independente dos programas citados, é importante saber que cada um, estudante ou profissional, pode buscar sua oportunidade de estudo nos Estados Unidos. Temos mais de quatro

mil universidades em todo o país. São instituições com qualidade comprovada. De acordo com um ranking recente de avaliação de universidades (Times Higher Education World University Rankings), das vinte melhores universidades do mundo, 15 estão nos Estados Unidos. Estudar nos EUA é uma possibilidade real! Além do contato direto com escolas ou universidades, é possível contar com o apoio também dos centros EducationUSA

espalhados pelo Brasil. Os centros são fonte oficial de informações sobre oportunidade de estudos nos EUA e fazem atendimento gratuito a todos (www. educationusa.org.br ). Um intercâmbio pode ser uma boa oportunidade para quem quer fortalecer sua experiência acadêmica e cultural, e para aqueles que buscam dar um upgrade na carreira. E os estudantes brasileiros são sempre bem-vindos nos Estados Unidos!

Instagram

Turismo

Em sua primeira viagem oficial para o Rio Grande do Norte, o cônsul geral dos EUA para o Nordeste, Richard Reiter, visitou o centro Education USA em Natal. Reiter foi recebido pela coordenadora Mariana Montenegro (esquerda na foto). Reiter também visitou a cônsul de Assuntos Políticos e Econômicos, Paloma Gonzalez.

Plymouth, Massachusetts Plymouth, também conhecida como “America’s Hometown” foi fundada em 1820 pelos peregrinos que desembarcaram do famoso navio Mayflower, começando assim um novo capítulo na história dos Estados Unidos. Foi lá onde aconteceu o primeiro Thanksgiving, ou ceia de Ação de Graças. E por isso ela é até hoje muito visitada pelos turistas que querem ver os desfiles nas ruas durante o feriado.

“O lixo de um homem é o tesouro de outro”. Este provérbio pode ser bem utilizado hoje em dia quando falamos de reutilização ou doação de materais usados.

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“One man’s trash is another man’s treasure”

Consulado dos EUA no Recife: Rua Gonçalves Maia, 163, Boa Vista Recife-PE/ CASV: Av. Herculano Bandeira 949, Pina Recife-PE



Geral

Mestra Zefinha exibe um de seus artesanatos


A resiliência do

nordestino População resiste às adversidades e se reinventa em meio a dificuldades que servem de inspiração para negócios criativos e lucrativos

Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

Foto: ????????????????

“A resiliência é esse desejo do ser humano de viver bem, de ter direitos”

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A pessoa faz moinho de vento, faz até água jorrar do chão, porque pensa ‘vou inventar para viver bem’”, explica. Para os nordestinos, esse processo de resiliência tem sido fundamental para a transformação das condições materiais de suas existências. O sociólogo Reinaldo da Silva Guimarães, professor do curso de Serviço Social da Anhanguera de Niterói, assegura a capacidade de se reinventar desta população. “Podemos dizer que um dos seus principais traços e que expressa a diferença entre a população nordestina e o restante da população brasileira é o fato de considerarmos o nordestino como o ‘cabra da peste’, aquele que enfrenta em sua história um processo anual de seca, que o leva a adquirir conhecimentos para superar e se adaptar às condições de vida do Sertão”, opina o mestre em Sociologia e doutor em Serviços Sociais. Reinaldo observa também que consequências positivas podem advir da superação e adaptação em um meio hostil e credita à resiliência dos “cabras da peste” a capacidade de criar meios de transformar a vida, gerando a chamada “Economia Criativa”. Mas, antes mesmo de ser adotado esse conceito, Dona Maria José do Nascimento, mais conhecida como Mestra Zefinha, já tinha criado dois filhos com recursos provenientes de sua engenhosidade.

Socióloga Glória Rabay

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O sertanejo é, antes de tudo, um forte”. A verdade dita por Euclídes da Cunha, em Os Sertões, também se estende para todo aquele que tem nas veias a “nordestinidade”. Filhos da seca, andadores de pau-de-arara, jagunços e cabras-da-peste preenchem o imaginário do ser nordestino. Esses personagens, além de terem conexão direta à terra alinhada ao nascer do sol, estão ligados a algo intrínseco de quem vive em um meio hostil: a resiliência. O conceito, emprestado da física, remete à capacidade do ser humano, submetido a situações adversas, de se adaptar, superar seus obstáculos e criar uma maneira de viver melhor. É quase que um segundo nome para a teoria da “seleção natural” do biólogo Darwin. A beleza da força dos sertanejos já foi tema de músicas, cordéis, xilogravuras e outras formas de arte que cantaram e poetizaram as vitórias desse povo. Essa superação das dificuldades da vida é uma característica, antes de tudo, humana e essa adaptação é para a socióloga Glória Rabay, professora da Universidade Federal da Paraíba, atributo inerente e essencial para a sobrevivência em qualquer meio. “Desde sempre, na sociedade, os grupos explorados lutam por acesso. E lutam de qualquer forma, com a criatividade, através da organização popular.


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Sítio Alto das Missões

Moradora da praia de Pitimbu e conhecida como “mulher de fibra”, ela se tornou um ícone local pelo seu artesanato com fibra de coco. Desde então, espalha a sabedoria do trançado, por isso o título de mestre. “Sempre sobrevivi com isso. Quando o pai dos meus filhos me deixou, eu fiquei trabalhando sozinha com a fibra de coco. Vendia para as lojas de Recife e para onde mais tivesse encomenda. Trabalhava dia e noite. Pouco dormia para dar conta do trabalho”, conta a artesã que, durante longo tempo, forçou a vista para trançar a palha sob a fraca luz do candeeiro. “Na época, na minha rua não tinha energia”, lembra. Com a palha, Zefinha produz fruteiras, chapéus, bolsas e até animais. Sua grande criação é a galinha, comercializada por R$ 80,00. Também foi se adaptando e resistindo às adversidades do seu meio, dessa vez das terras silenciosas e semiáridas do Cariri da Paraíba, no Distrito do Tabu-

“é preciso se adaptar à região do semiárido. Água aqui não é fácil, isso dificulta a economia. Só dá para viver de agricultura e de criatividade”

ado de Baixo, que Darciley Gomes de Oliveira criou um novo meio de ganhar dinheiro. “A luta da minha família é grande. É difícil ter uma propriedade no Cariri, porque é preciso se adaptar à região do semiárido. Água aqui não é fácil, isso dificulta a economia. Só dá para viver de agricultura e de criatividade”, conta. Das dificuldades do local onde vive, renasceu o Sítio Alto dos Missões, local onde é possível conhecer a vivência familiar em um contexto rural e ainda tomar um café olhando a Serra do Caturité. O sítio, distante 7 quilômetros da cidade de Boqueirão, já existia, mas Darciley, que estava desempregada e sobrevivia apenas da aposentaria do pai e da mãe somado a recursos provenientes da agricultura e da fabricação de tear, decidiu reinventar o lugar. Com apenas R$ 150,00 pôs em andamento o seu projeto. Comprou algumas tintas para pintar placas de identificação de árvores e trilhas, usou um forno de fogão velho como lixeira e utilizou carretéis de fio de alta tensão como mesa para os futuros visitantes. Estava pronta sua nova fonte de renda. “A riqueza se faz com o que se tem. E nós temos muita coisa. Eu agreguei valor ao que eu já tinha. Economia criativa é isso: você ter alguma coisa e fazer dela um atrativo”, explica.


Ideias empreendedoras

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Sítio Alto das Missões

Produção Associada ao Turismo, o que desenvolve a economia criativa. A consultora já caminhou pelos quatro cantos do Brasil, e na Paraíba, ajudou a enumerar as atividades criativas associadas ao turismo do estado. Pelo projeto do Sebrae, junto com seu sócio Carlos de Almeida, visitou mais de 10 municípios e teve a oportunidade de dialogar diretamente com a criatividade dos moradores locais. “O povo nordestino é um povo criativo de nascença e que vem superando suas dificuldades de seca e falta de estrutura organizacional. Eles são corajosos, desbravadores, inteligentes e, o melhor, têm humor e fé”, conta a carioca. As qualidades citadas por Mirian ajudam a destacar personagens locais, que podem se tornar ícones no roteiro turístico da cidade. O consultor Carlos, no entanto, observa que essas iniciativas ainda precisam ser mais valorizadas pelo público e pelas próprias pessoas das localidades. “O cara da ponta é que faz o turismo. Mas, tem gente que não tem a menor noção de que agrega valor à área”, conta ele, que trabalha no sentido de incentivar esse novo olhar.

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“Quando você junta criatividade com conhecimento e cultura você pode fazer o grande diferencial do seu negócio”

O sítio Alto dos Missões está no catálogo de Turismo de Experiência de Boqueirão, organizado pelo Projeto do Sebrae- Turismo de Experiência 20132016. De acordo com Regina Medeiros, gestora de turismo da instituição, a intenção da iniciativa é dar apoio a ideias empreendedoras. Ela explica que o único recurso que vai continuar sendo elástico e ilimitado é a criatividade e que quando esse atributo é unido a conhecimento e cultura é possível fazer o grande diferencial do seu negócio. “Sem ter problema com concorrência, porque cada um tem um potencial e poder fazer diferente”, complementa. Mestra Zefinha também está na lista de atrações da praia de Pitimbu. A cidade é conhecida pelo belo litoral, mas também tem outras opções turísticas que proporcionam experiências e vivências diferenciadas aos visitantes. Mirian Rocha, da Associação de Culturas Gerais (ACG) e consultora do Sebrae, explica que qualquer produção artesanal, industrial ou agropecuária que detenha atributos naturais ou culturais de uma região, capazes de agregar valor ao produto turístico, pode ser considerado um produto da


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Um olhar criativo Filha legítima do Nordeste, Maria Lúcia Dornelas se mudou de Pernambuco para a Paraíba procurando um lugar melhor para viver. Desde que veio para o litoral paraibano tentou diversas atividades para ganhar dinheiro. Ao lado do marido, abriu uma funerária e, além disso, trabalha com segurança eletrônica. Porém, há algum tempo, os lucros com os dois empreendimentos não têm sido suficientes e Maria decidiu abusar da criatividade fabricando peças artesanais com cacos de cerâmica. “Comecei com o mosaico porque vi que os negócios com a funerária estavam indo devagar. E pensei ‘vou ter que me virar, fazer outra coisa’. Foi preciso levar uma ‘porrada’ para começar”, conta a artesã declarada apaixonada pela sua arte. “Hoje eu amo trabalhar com isso”. É com o impulso das intempéries da vida que a criatividade desperta. Foi assim com os primeiros homens do mundo, e assim será com os últimos. Mestre em Empreendedorismo Cultural e Criativo, pela Goldsmiths University of London, Rafaela Cappai afirma que a criatividade é uma forma de operar diante das dificuldades e dos obstáculos. “No momento que o primeiro ser humano não se contentou em passar frio e ter que comer carne crua, o fogo foi inventado”, ilustrou a especialista. Ela acrescenta que o descontentamento com a dificuldade e a resiliência são os grandes motores da criatividade e que nos faz buscar soluções para aquilo que não nos agrada, obrigando-nos a encontrar jeitos diferentes de fazer as coisas. Ela ressalta ainda que esse dom criativo pode ser considerado uma característica marcante dos nordestinos. “Na busca de transpor essas dificuldades impostas por esse ambiente (tempo seco, terreno árido, altas temperaturas) o povo nordestino aprendeu a inventar as próprias soluções para as dificuldades. E esse aprendizado é a criatividade acontecendo, que acaba por se tornar

um tesouro cultural do povo. Encontrar soluções para as dificuldades é uma das grandes características do povo nordestino”, completa. Exemplo disso é Maria Lúcia que já vende suas peças em feiras e oferece oficinas de artesanato de mosaico com cacos de cerâmicas na cidade onde vive, projeto que conseguiu implantar graças ao apoio do Sebrae. O lucro de seu dom chega a ser maior que os recursos adquiridos com os outros empreendimentos que tem com o marido. Um jarro, dependendo do tamanho, pode custar até R$ 900,00. A artesã, assim como Mestra Zefinha, também está catalogada como um produto do turismo de experiência da cidade.

Maria Lúcia e sua produção com cacos de cerâmica


Santo de casa faz milagre sim Uma das profecias do, talvez, maior estudioso do Nordeste dos séculos 19 e 20, Euclídes da Cunha, já dizia que “o jagunço destemeroso, o tabaréu ingênuo e o caipira simplório serão em breve tipos relegados às tradições evanescentes, ou extintas”. Demorou pouco mais de um século para que o imaginário da identidade nordestina fosse desvinculado desse estereótipo, mas o que veio tardiamente chegou para ficar. Hoje, o nordestino é reconhecido pelo valor que dá à sua terra natal, que cresce economicamente até mais que a média nacional. Levantamentos do IBGE comprovam: na última década houve um significativo movimento de retorno da população à região de origem e a corrente migratória mais expressiva, do Nordeste para o Sudeste, caiu cerca de 50%. O reflexo da valorização da terra local também atinge proporções menores, pessoais até. Maria Lúcia conta que uma vez, uma compradora queria adquirir suas peças conquanto que ela dissesse que foram feitas em outra localidade, fora do Nordeste. A resposta foi curta e grossa: “Sinto muito, mas minhas peças são daqui. Eu moro aqui”, lembra a artesã, indignada. Lia Caju não é nordestina, mas vive aqui como se daqui fosse. Nascida no Pará, e criada em Pernambuco, a artesã faz dos frutos do mar seus recursos de arte. Da escama do peixe ela fabrica bijuterias e utensílios de decoração. Além disso, cria peças com couro de peixe e materiais com cascalhos de mariscos. Moradora de Pitimbu, ela desenvolve as atividade junto ao grupo Amigos da Arte de Pitimbu e com a Associação das Marisqueiras. Os incentivos foram alavancados com a assessoria prestada pela consultoria do Sebrae. “Eles abriram muito os olhos da gente”, fala a artesã, catalogada como uma atração do turismo de experiência da cidade.

Abrir as vistas para o potencial da economia criativa das comunidades é basicamente o trabalho dos consultores Mirian Rocha e Carlos de Almeida. A consultora explica que a ACG possui uma metodologia de trabalho e que através do conceito da Economia Criativa e da Produção Associada desperta as teias de trabalho coletivo, gerando fluxo de interesse e interligando pessoas que fazem parte do projeto. “Daí nasce a necessidade de organização como teia em associativismo. Por isso, as cidades depois do trabalho ficam com as associações turísticas organizadas”, explica.

Lia Caju usa os frutos do mar para criar bijuterias e utensílios de decoração

Hoje, o nordestino é reconhecido pelo valor que dá à sua terra natal, que cresce economicamente até mais que a média nacional


Criatividade é a saída

Seu João abriu uma pousada no sítio onde vive com a mulher

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Cabra da peste simpático Quem valoriza o lugar onde sempre morou é seu João Bosco da Silva. Herdeiro das terras do Sítio da Pedra Solta, localizado na Serra Negra, município de Bezerros (PE), ele decidiu, junto à esposa Dona Maria da Paz, compartilhar o pedacinho de paraíso com os visitantes do local. Abriram uma pequena pousada e uma área de camping, e desde então vêm somando os recurso provenientes do empreendimento à renda familiar. “Fiz um curso sobre turismo e fazia trilha, depois coloquei meu sítio no roteiro turístico da Serra Negra”, conta ele, dizendo que teve a ideia sozinho e convencendo que vale a pena conhecer o recanto que passou de avô para pai e de pai para filho. O sítio, consolidado há 12 anos no roteiro local, é hoje não só fonte de renda para seu João, mas também fonte de alegria, já que para ele uma das maiores felicidades é receber visitantes e ter contato com quem aparece para apreciar o lugar. “Gosto de receber com todo o

carinho. E nunca tive acanhamento com as pessoas, apesar de minha leitura ser pouca”. O nome do recanto faz referência a uma grande pedra redonda sustentada apenas pelo dedo de Deus. “Essa pedra solta é um símbolo da natureza”, exclama João sobre a atração do lugar, que foi pensado para proporcionar um contato direto com a natureza. Lá, o visitante pode comer jabuticaba no pé, apreciar a paisagem da serra pelo Mirante da Lua Cheia e o das Cadeiras (formações rochosas que oferecem um lugar confortável para sentar) e a Pedra do Som, que quando tocada emite um barulho oco. São quatro apartamentos que comportam até 5 pessoas. O aposentado e ex-agricultor cobra por cada casal R$ 150,00, oferecendo café da manhã. O camping custa R$ 20,00 por pessoa. As maiores temporadas são durante os meses de junho (por conta do São João da cidade), abril (quando acontece a Semana Santa) e a época do Carnaval.

Dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) afirmam que os setores da economia criativa respondem hoje por mais de 8% dos empregos formais no país, apresentando uma renda salarial de R$2.293,64. O levantamento anunciado ano passado, afirma que essa média é 44% superior à de remuneração nos demais setores da economia. A economia criativa é um conjunto de segmentos, principalmente culturais, que se diferencia de local para local. Para a Unesco, ela se conceitua nos espetáculos, nas artes, artesanatos, mídias design e outros, visando criar fluxos coletivos. A consultora Mirian Rocha sublinha que, para a sua consultoria de estímulo à produção associada ao turismo com a economia criativa funcionar de maneira satisfatória, boa parte do interesse tem que partir das pessoas. “Elas já têm esse desejo de construir, de inovar, e digo que quanto tiramos as cataratas de seus olhos, elas passam a enxergar melhor as possibilidades. O trabalho em grupo facilita essa colocação no mercado”. A especialista em empreendedorismo criativo, Rafaela Cappai, destaca que todos nós temos, nem que seja pequena, uma parcela de criatividade. “Pois a criatividade é uma forma de operar que faz parte do DNA cultural do ser humano”. Ela conta que o ser humano já nasce criativo e que começam a usar a criatividade nos primeiros anos de vida. “Ao longo do tempo, alguns esquecem como exercitá-la, em função de regras, ambientes e tudo aquilo que está ao redor”.


Superação histórica O Nordeste é uma invenção do século 20. Antes de Getúlio Vargas encomendar a divisão do Brasil por regiões, não existia a sombra do imaginário miserável que se tem da região atualmente. O Nordeste é uma criação humana, assim como essa imagem miserável pintada pelo interesse da chamada indústria da seca. A professora Glória Rabay conta que, para perceber o povo dessa localidade, é importante desvincular essa visão de pobreza da terra, que já foi fonte de exploração das maiores riquezas do Brasil. Glória esclarece que, para a Sociologia, não existe um perfil do nordestino e que a resiliência demonstrada durante a história dessa população é apenas uma característica aflorada por um meio hostil. “Eu diria que o nordestino, como qualquer ser humano, diante das dificuldades, tende a buscar superações. Isso é uma característica do ser humano, que aflora nos lugares onde vivem com dificuldades. Nesse sentido, a gente vai encontrar exemplos de pessoas que captam essa essência humana através do desejo de superação dos obstáculos”, explica.

Já a criatividade manifestada pelo povo nordestino é creditada pelo historiador Vinícius de Miranda às diversidades herdadas dos vários povos que a região recebeu durante todos esses 500 anos. “Não se tem um estudo que trate dessa criatividade historicamente, mas se formos avaliar o lado das influências dos povos que vieram para cá nós tivemos influências francesas, portuguesas, inglesas, holandesas, e essa criatividade talvez seja uma mistura dessas culturas”, considera o historiador. Essas experiências adquiridas pelos colonizadores também refletem nas formas de trabalho, segundo esclarece. Especializado em História do Brasil, Vinícius comenta que os contratempos vividos pela população do Nordeste faz a criatividade aflorar. O próprio clima e a dificuldade de vida já é motivo para que o povo nordestino se reinventar, ou tenha ideias simples para poder solucionar os casos do dia a dia. “A falta d’água, por exemplo, fez com que ele sempre tivesse esse perfil de ser econômico, criasse cisternas, economizasse água da chuva etc. A adversidade da vida faz com que você se reinvente. O nordestino não é um povo que se entrega assim tão fácil”, pontua.

“O próprio clima e a dificuldade de vida faz com que o povo nordestino se reinvente, ou tenha ideias simples para poder solucionar os casos do dia a dia”

Historiador Vinícius de Miranda

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Educação

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Educação com afeto Promover ensino de qualidade é um desafio diário. Professores, pesquisadores, psicopedagogos e demais profissionais percebem que desenvolver a afetividade entre professores e alunos pode ser a peça-chave na melhoria do aprendizado


Foto: Divulgação

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Segundo o estudo, um a cada quatro alunos que inicia o ensino fundamental abandona a escola antes de completar a última série. Algumas dificuldades para desenvolver essa aproximação são percebidas pelo professor de inglês Pablo Sabadelhe. “A forma mercantilista com que a rede de ensino privada e pública tem utilizado é desestimulante. As turmas são lotadas e falta uma sistematização e fidelização dos processos. Se o sistema continuar enfrentando crises contínuas como nos últimos anos, cogito sair dele. Há outras formas de ensinar sem que seja numa escola regular”, observa o educador. Há 15 anos lecionando, Pablo defende a tese da afetividade como ferramenta que auxilia a aprendizagem. Para ele, o professor (ou mediador) deve utilizá-la mais. “Nessa relação (professor e aluno) há uma espécie de antagonismo que perfila entre a atividade intelectual e a emoção. Como a parte madura e mais experiente, o professor tem que detectar e até evitar o aparecimento de barreiras que possam dificultar o processo ensino-aprendizagem”, fala. Salma, que atribui parcela de seu afastamento dos estudos à ausência de afetividade e compromisso em sala de aula, voltou a estudar em fevereiro deste ano. Agora, se sente mais próxima dos professores. “Essa aproximação ajuda muito a pessoa a se desenvolver mais na escola e nos estudos em casa. Minha mente se abre mais e consigo enxergar além”, argumenta. “Quero me formar em Engenharia Civil”, avisa.

Salma cursa o 7º ano do ensino fundamental na Escola Estadual Almirante Tamandaré, em João Pessoa (PB), através da Educação de Jovens e Adultos (EJA). A professora Laurita Dias, formada em história e atuando há dezesseis anos em espaços formais e não formais (entre escolas, assentamentos e associações), aposta que a afetividade é transformadora no âmbito da educação, principalmente dentro da EJA. “Desenvolver essa afetividade é importante para garantir a permanência na escola. Esse é um grande desafio na EJA. Pra quem encontrou as maneiras de estar no mundo e interagir com a cultura letrada independente da escola, uma vez decidindo retomar, essa escola precisa fazer muito sentido, precisa provocar identidade. Então, se não há essa liga do afeto, que passa por um processo de acolhida, o estudante nem fica na escola”, ressalta. O outro ponto que a professora chama atenção é quanto à questão da confiança. “Quando o aluno confia no professor ele se sente mais confortável em arriscar, por mais que ‘errem’. No meu entendimento, essa entrega sem reserva só se consegue quando se tem uma afetividade costurando a relação professor/aluno”.

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iscutir educação é falar sobre a sociedade que se pretende construir. Não à toa esse é um dos primeiros pontos levantados em manifestações públicas em busca de melhorias ou em debates políticos. No Brasil, é extensa a lista de desafios no que se refere à educação. Ela passa pelo sistema de ensino e acaba na elevada taxa de evasão escolar. A construção de uma educação de qualidade é um processo diário e a afetividade entre professor e aluno pode ter papel fundamental nesse processo. Para os especialistas nesta área, a sala de aula, algumas vezes compreendida como ambiente asfixiante e claustrofóbico, é, também, umconsiderável na rotina dos professores e alunos. Por isso, aprimorar esse vínculo é transformar mais que o cotidiano. É fazer melhor uso do tempo de aprendizado. Para a psicopedagoga Samara Cabral, criar laços entre educadores e alunos é muito benéfico. “A afetividade é um componente significativo durante o processo de ensino-aprendizagem, pois vai servir como um instrumento mediador na troca e construção de conhecimentos. É através da afetividade que o acesso ao aprender se torna mais abrangente e acessível”, aponta. A ausência de vínculo afetivo foi decisiva para a estudante Salma Santos, 22, que passou sete anos longe da sala de aula. “Eu me desanimei com os estudos. Meus professores antigos não me ajudavam muito”, diz. Salma foi uma das tantas jovens a abandonar a escola, ainda no ensino fundamental, entrando na taxa do Relatório de Desenvolvimento 2012, realizado pelo

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EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Por Isadora Lira isadoralira@revistanordeste.com.br


crianças têm maior vínculo com escola

Rachel Trinta

“Elas vão apreendendo que você é uma proteção e que pode ampará-las”

Por quase oito anos Rachel Trinta foi professora de crianças do ensino fundamental, mas há oito meses se dedica a lecionar na EJA. Ela percebe que há diferença em desenvolver a afetividade entre esses públicos distintos. “As crianças do ensino fundamental buscam o que elas, por ventura, não tenham com tanta intensidade em casa. Elas vão apreendendo que você é uma proteção e que pode ampará-las, criando um vínculo quase familiar. Já na fase adulta, esta afetividade passa a ser de companheirismo, de suporte ou mesmo de ponte para possam traçar caminhos mais firmes na sua profissão”, compara. A professora Laurita Dias percebe que conhecer o aluno é essencial, ainda mais na EJA que tem público heterogêneo. “Sempre peço uma produção

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LAÇOS SÃO CRIADOS NA FASE INFANTIL Como se pode criar essa aproximação? “Sendo honesto acima de tudo”. A declaração é do professor Pablo Sabedelhe. Ele entende que o mais importante é não rotular o aluno. “Rótulos são internalizados e passam a ser verdadeiros para o educando. O professor é parte essencial no processo de desenvolvimento da autoimagem e autoestima do aluno”, analisa. Samara Cabral explica que a função do psicopedagogo é auxiliar a aproximação entre professor e aluno, atuando na mediação e intervenção nos processos de aprendizagem e nas dificuldades que possam surgir. Para ela, esse trabalho deve despertar na criança o gosto pela escola e pelo aprender. É função do psicopedagogo, em auxílio ao professor, buscar estratégias para que o aprendizado seja mais prazeroso para o aluno. A professora Laurita acredita que a experiência de vida do estudante deve

estar em sala de aula e ser reconhecida pelos professores. “As práticas que aproximam professor e aluno são as que provocam identidade nos alunos. Mas no geral, a vida está sempre presente e é o currículo. Na EJA, se a vida deles não estiver no currículo a aprendizagem fica comprometida”.

textual como atividade primeira em cada grupo: ‘Quem eu sou? O que eu quero? Para onde vou?’. Saber deles faz com que eu tenha um ponto de partida para acolher, me dá muito conhecimento sobre quem são meus alunos e me dá inteira condição de preparar uma aula que lhes provoque identidade”. Laurita começou a trabalhar na EJA ainda com 15 anos e está envolvida com a modalidade de educação. Ela acredita que sua satisfação está no fato de trabalhar com um público que viveu no mundo independente da escola. “As pessoas que entram nesse espaço querem aprender e têm generosidade”, diz. Ela ressalta que os aprendizes do EJA já trazem, em suas histórias, as marcas do preconceito e da inadequação aos padrões. “É comum que tenham também uma baixa autoestima”.


“As pessoas que entram nesse espaço querem aprender e têm generosidade”

Laurita Dias

TRABALHO COLETIVO Estimular esse afeto entre professor e aluno, entretanto, não é o sufiente. É preciso fazer um acompanhamento da equipe. Diretora do Instituto Pessoense de Educação Integrada (I.P.E.I.) desde 1988, Antonieta Nóbrega acredita que é importante desenvolver afeto também entre os professores, com ajuda da orientação psicológica da escola. E que não são apenas atividades em sala de aula que estimulam a afetividade entre professor e aluno, mas utilizar a arte como apoio nesta construção. “O ser humano tem que se educar por inteiro, no aspecto cognitivo, social, afetivo, espiritual, tudo está envolvido. A afetividade vem como carro-chefe porque ela vem pela empatia. A gente trabalha muito a empatia com nossos alunos e com os nossos profissionais, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro, de tentar entender o ponto de vista do outro”, contou.

Foto: Matheus Souza | Arquivo pessoal


UPGRADE Daten inova com 2 em 1 Uma das principais fabricantes brasileiras de equipamentos de informática, a empresa Daten inova e lança no mercado um modelo 2 em 1. O ZIO 10twi é ideal para quem busca a versatilidade do tablet, sem abrir mão do conforto do teclado físico do notebook. A máquina pode ser usada de acordo com a necessidade do usuário: se o teclado for conectado, o equipamento torna-se um notebook slim e, com a entrada HDMI, é possível ligá-lo à TV ou ao monitor do desktop. Por outro lado, ganha mobilidade, sendo prático e leve de carregar para qualquer lugar. O modelo vem com o sistema operacional Microsoft, Windows 8.1, podendo acessar arquivos ou programas pessoais na Nuvem, com o recurso Skydrive, bem como utilizar o pacote Office. Possui câmera traseira e frontal de 2.0 MP de resolução; processador Intel® Baytrail-T Quad-core 1,5GHz; e plataforma da 4ª geração da Intel®, reconhecida pelo baixo consumo de energia, rapidez e longa duração da bateria. Com tela 16:10 de 10,1 polegadas com tecnologia IPS; touchscreen capacitiva e alta resolução (HD) com 1280x800 pixels, o equipamento tem capacidade de armazenar 32GB e sua memória é de 2GB. Além disso, oferece wireless, bluetooth, porta para microSDcard, USB (OTG) e plugue para adaptador CA de 18W. Valor: R$ 1.399,00.

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A volta das polaroids Ideal para quem procura uma câmera com visual diferenciado e que produza imagens estilizadas, a Polaroid oferece dois novos modelos que, além de serem apropriados para presentear neste final de ano, são ideais para os fãs da fotografia. A Polaroid CUBE vem com lente grande-angular, que abrange 124º, e captura vídeos de alta definição de 1080 ou 720p; além de fotos em 6 MP, utilizando um único botão. A câmera suporta até 32 gigabytes com um microcartão SD e permite até 90 minutos de vídeo graças à bateria de alta capacidade. Ela também é resistente à água, apresenta um microfone integrado e luz de LED para uso à

noite ou no escuro. O valor sugerido: R$ 669,00. Já o modelo Polaroid Socialmatic reúne os diferenciais das antigas Polaroids, integrando novos recursos, como a edição e compartilhamento de imagens através das redes sociais (Instagram e Facebook) e na rede exclusiva Socialmatic Network, via comunicação Wi-Fi. A câmera oferece aplicativos de edição de imagens diretamente na tela LED de 4.5’’. O equipamento captura imagens em 14 MP na câmera frontal e em 2MP na traseira, permitindo que o usuário faça um selfie rápido enquanto registra momentos de diversão. Valor: R$ 1.699,00.


Superando o Concorde

O exército eletrônico da Síria voltou a atacar na última semana de novembro. No dia da Ação de Graças, foram realizados diversos ataques a páginas de veículos de comunicação, como a CBC e o Boston Globe. O site oficial do Walmart no Canadá também foi invadido pelo exército.

A Microsoft acaba de lançar um relógio/pulseira inteligente que recebeu o nome de Microsoft Band. Ele vem com sensores que podem avaliar determinados parâmetros do dia-a-dia, como medir a quantidade de passos dados, a incidência de raios ultravioleta e os batimentos cardíacos em tempo real. O acessório é compatível com iOS, Android e Windows Phone.

Quando o assunto é velocidade, uma das primeiras coisas que vêm à mente é o avião Concorde, que teve seu uso comercial encerrado em 2003. Mas outra aeronave à altura já está a caminho. O N+2 está sendo desenvolvido pela famosa empresa fabricante de produtos aeroespaciais, a Lockheed Martin. De acordo com a empresa, o modelo será capaz de realizar uma viagem entre New York e Los Angeles (um percurso de quase 5 mil quilômetros) em apenas 2 horas e meia, transportando até 80 passageiros. Ele utilizará um sistema de propulsão com três turbinas, que reduz os efeitos supersônicos.

Profecia

Chip nas mãos

Varejo online

O fim da televisão vem sendo profetizado desde a explosão da web 2.0. Para o CEO da Netflix, Reed Hastings, esse final será em 2030. Sites que oferecem serviços de TV pela internet seriam os substitutos do modelo tradicional. Com mais de 50 milhões de usuários no mundo, o Netflix é um dos sites que tem conquistado esse novo telespectador.

Implantar chips nas mãos para armazenar dinheiro? A experiência foi feita pelo empresário holandês Martjin Wismeijer, especializado na moeda virtual bitcoin e co-fundador da empresa MrBitcoin. Ele implantou dois chips nas mãos que permitem a troca de dados entre dispositivos e têm capacidade de armazenar, cada um, até 888 bits de informação. O equipamento pode ser adquirido na internet ao custo de U$ 99 dólares, na “Dangerous Things”.

As vendas do comércio eletrônico na Black Friday deste ano somaram R$ 1,16 bilhão, de acordo com a empresa especializada em informações do setor E-bit. Isso representou um crescimento de 51% em relação ao ano anterior. Por se tratar de uma sexta-feira comum (a última sexta-feira de outubro de 2014), a promoção registrou 867% mais de faturamento. Houve alta de 619% na quantidade de pedidos e de 536% em número de consumidores únicos. No mobile commerce, houve 609% de aumento no faturamento e 600% na quantidade de pedidos.

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Relógio inteligente

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Ataques hackers


Tecnologia

Centro de inovação

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Por Umberlândia Cabral umberlandia@revistanordeste.com.br

Nordeste se destaca na Tecnologia da Informação e se torna ambiente de incentivo à criatividade. Áreas de softwares e hardwares têm tido crescimento expressivo e impulsionam a economia dos nove estados

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mundo da Tecnologia da Informação parece distante e complexo quando observado de longe. A maioria das pessoas não está habituada a pensar no funcionamento de seus aparelhos eletrônicos e para onde vão as informações que são depositadas diariamente na Rede Mundial de Computadores. No entanto, essa área da tecnologia está mais perto do que muita gente imagina. Mesmo uma pessoa que não usa computadores, por exemplo, é usuária da Tecnologia da Informação quando faz uma ligação telefônica, ao realizar a sua declaração de imposto de renda ou simplesmente quando realiza uma compra no supermercado, já que os dados da negociação são armazenados no sistema da empresa. A Tecnologia da Informação pode ser definida como a união de todas as atividades que permitem a obtenção, o armazenamento, o uso e o acesso das


Foto: SECTI Bahia

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comporta empresas nacionais e internacionais, que investem em melhorias dos processos de desenvolvimento de software. Além das pequenas e médias empresas criadas na cidade do Recife, o Porto Digital abriga várias multinacionais como a Microsoft, a Samsung e a IBM. Dentre as áreas de atuação do parque tecnológico, se destacam o desenvolvimento de sistemas de gestão empresarial, mobilidade urbana, games, animação e aplicação para os dispositivos móveis. O Parque Tecnológico da Bahia também é um dos destaques na área da tecnologia do Nordeste. Criado há apenas dois anos, já possui 40 empresas e instituições instaladas apenas no Tecnocentro, o que representa mais de 90% da estrutura do prédio central do Parque ocupado. Destas empresas, 85% são da área de TI. O Parque então se tornou um agente fortalecedor da economia da

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informações. Portanto, ela se faz presente todos os dias quando você acessa as mídias sociais ou pesquisa algo em um site de buscas. O Nordeste tem se destacado nessa área tecnológica, como mostra o ranking da Associação para Promoção do Software Brasileiro (Softex), que promove o selo Melhoria de Processo do Software Brasileiro (MPS). O modelo MPS é uma certificação de garantia de qualidade, que impulsiona a competitividade das empresas. Segundo a Softex, das 590 empresas certificadas pelo selo em todo o Brasil, 94 são do Nordeste, enquanto apenas 13 ficam na região Norte. Embora ainda esteja distante das outras regiões do país, o Nordeste vem apontando um crescimento expressivo nas áreas de softwares e também de hardwares. O Porto Digital do Recife (PE), maior parque tecnológico do país, tem quase doze anos de atuação e

Bahia. “Em dois anos de funcionamento já foram gerados 450 empregos diretos no Tecnocentro, prédio central do Parque, havendo perspectiva de criação de mais 100 vagas de empregos até o final de 2015”, afirma Leandro Barreto, coordenador do Parque Tecnológico da Bahia e da Áity Incubadora de Empresas. “O Parque Tecnológico atua como o centro irradiador da inovação no estado da Bahia. Nele estão os principais agentes dinamizadores do processo de desenvolvimento tecnológico, integrados em um ambiente concebido para estimular a cooperação e a geração de novas ideias e soluções criativas”, declara. Para Barreto, um dos motivos do destaque do Parque Tecnológico é o Programa de Atração para Empresas Inovadoras, destinado a alocação de recursos humanos qualificados e com experiência comprovada em projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação para empresas e instituições do Parque. “É o único Parque Tecnológico que possui um programa próprio de apoio com bolsas de pesquisa para empresas instaladas no valor de até R$ 14 mil”, completa o coordenador do Parque. Entre os projetos inovadores desenvolvidos por empresas instaladas no Parque Tecnológico da Bahia, Leandro Barreto destaca o Movpack, uma mochila que se transforma em um patinete motorizado em questão de segundos. O novo meio de transporte passou dois anos entre pesquisa e projetos até chegar ao protótipo, que foi lançado com sucesso nos Estados Unidos e na Europa. O equipamento tem o propósito de facilitar a vida do usuário, que levará a mochila-patinete nas costas até a hora de subir e sair pelas ruas. Ele pode atingir uma velocidade de 30km/h e deve chegar ao mercado custando cerca de R$2,5 mil.


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Do laboratório para o mercado Em junho de 2013, o estudante de Engenharia do Software da Universidade Federal do Rio Grande do Norte , Sósteney Dantas, começou um projeto a partir de pesquisas em jogos educativos iniciadas em um laboratório dentro da própria universidade. Assim surgiu a Gamelogica, que foca a aplicação desse aprendizado acadêmico na criação de jogos eletrônicos educativos para o mercado. Atualmente, ele e mais sete pessoas da equipe estão desenvolvendo o jogo Carta à Vista, cujo lançamento está planejado para o primeiro trimestre de 2015. “O foco inicial dele é realmente auxiliar o ensino de português para as crianças do primeiro ciclo do ensino básico, dando feedback a pais e professores do que está sendo aprendido. O Carta na verdade é composto pelo jogo, que tem como alvo as crianças e a plataforma de acompanhamento de evolução, onde todos os dados de desenvolvimento do conhecimento da criança podem ser acompanhados por pais e professores, onde esses últimos são nosso segundo público-alvo”, afirma. Como a Gamelogica é uma startup criada por universitários, a equipe tem dificuldade em calcular o investimento inicial do projeto, visto que cada um dos oito membros levou seu próprio equipamento, mas eles analisam que o custo inicial seja cerca de R$7 mil. A equipe ainda economizou mais ao entrar em um programa de incubação, que cede a infraestrutura das salas, computadores, internet e servidores a preços módicos. O projeto se destacou tanto que recebeu um apoio financeiro do Conselho Nacional Científico e Tecnológico (CNPq). “Com a entrada do apoio do CNPq conseguimos expandir nossa equipe e adquirir equipamentos, isso foi fundamental para que pudéssemos dar continuidade ao desenvolvimento do Carta à Vista, além de, claro, nos dar mais segurança nesses primeiros anos de desenvolvimento e implantação do projeto, que creio eu, são os mais complicados para toda startup”, declara Sósteney. Outro projeto tecnológico de sucesso que também funciona no Rio

“Nosso projeto é voltado para empresas. O maior impacto na vida das pessoas será sentido na tecnologia aplicada nos hospitais” Eduardo Sande

Grande do Norte é a Ex-Machina, uma startup que utiliza sistemas de inteligência artificial para automatizar processos. O objetivo é eliminar um longo ciclo de desenvolvimento que envolve operação de equipamentos, engenharia de controles e programação. Ou seja, futuramente o projeto pretende criar conhecimento artificial e máquinas capazes de realizar funções que hoje são exclusivas dos humanos. “Nosso projeto é voltado para empresas. O maior impacto na vida das pessoas será sentido na tecnologia aplicada nos hospitais. Hoje, 60% dos doentes

com infecção generalizada morrem nas unidades de saúde do Brasil. Esse índice chega a ser menor que 20% em alguns países desenvolvidos. Equipes de UTI que mantêm bom nível de comunicação têm um índice 28% menor de mortalidade entre os pacientes. O MIP é um assistente de pesquisa pessoal que faz a transmissão de informações entre os especialistas em atendimento. No futuro, o equipamento será usado em pulseiras e relógios inteligentes, com sensores biomédicos”, explica Eduardo Sande, professor da UFRN e coordenador do projeto.

Equipe Gamelogica desenvolve jogo Carta à Vista


Empresa paraibana oferece tecnologia a varejo e atacado

Na mira das empresas

10% 13% 2011

13% 15% Foto: Divulgação

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da Softcom é analisar toda a produção da empresa para modernizá-la, desde a criação de sites até o serviço de pós-vendas para os clientes. “A nossa relação com os clientes nunca termina. Porque ao passo que a empresa vai se modernizando, se otimizando, ela vai crescendo, e aí nossos serviços se ampliam”, relata o diretor Renato Rodrigues. “A tecnologia é um diferencial competitivo e é essencial para que uma micro ou pequena empresa sobreviva no mercado”, complementa. A Softcom hoje atua em três cidades: João Pessoa, Campina Grande e Recife e possui mais de 4.500 clientes.

Renato Rodrigues 65

crescimento no acesso à TIC nas casas com computadores e com internet

Segundo os últimos dados do Índice Brasscom de Convergência Digital, o crescimento no acesso à Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) pela população foi bastante expressiva entre 2010 e 2011. A comparação entre esses dois anos indicou crescimento de 10% em 2010 e 13% em 2011 nas casas com computadores e de 13% e 15% nas casas com acesso a Internet. Analisando geograficamente, o Sudeste e o Sul são os que apresentam melhor distribuição dos acessos, já que mais de 50% das casas já possuem computador e mais de 40% tem acesso a Internet. Mas a taxa média anual da região Nordeste é a que mostra maior aceleração de crescimento, com um aumento de 17,7% para domicílios com computador e de 19,1% de casas com acesso a Internet entre os anos de 2002 e 2011. Os empreendedores da Softcom, empresa de tecnologia paraibana, notaram essa modernização do Nordeste há quinze anos, quando a empresa foi criada. A companhia de software oferece tecnologia para lojas de varejo e atacado. Quando uma loja contrata o serviço da empresa, eles fazem a modernização dela, principalmente analisando a relação empresa-clientes. Por exemplo, se o cliente for uma oficina mecânica, a missão


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Curso tem grande evasão No início de 2009, a estudante paraibana Jéssica Dias recebeu o resultado que mais aguardava naquele ano: a sua aprovação no vestibular. Ela havia sido aprovada para os dois cursos que havia optado, um tecnológico e outro na área de humanas. “Não tinha muito contato com a área. O que me levou a escolher o curso foi a curiosidade e a vontade de aprender, já que só tive um computador em casa quando cursava o ensino médio e isso me fez querer descobrir mais”, afirma. Então, ela começou a cursar Redes de Computadores, no IFPB, mas as poucas semanas de aulas não a empolgaram e Jéssica acabou abandonando o curso para estudar Direito. Ela acredita que se houvessem mais esforços das escolas para ensinar as

disciplinas de exatas muitos alunos penderiam para essa área de estudos. “Há um choque muito grande para o aluno quando ele se vê diante das disciplinas de um curso superior, já que as matérias de exatas nas escolas não oferecem o suporte necessário para um bom desempenho na faculdade”, declara. Jéssica faz parte de um número que preocupa os empresários do ramo da Tecnologia da Informação: os estudantes que abandonam o curso superior nesta área. Segundo um estudo realizado pela RCR Consultoria para a Brasscom em 2010, a evasão dos cursos ligados à área de TI foi de 87% em todo o Brasil. Essa falta de mão de obra qualificada é a principal dificuldade para que a área tecnológica atenda o crescimento do mercado.

Jéssica Dias

“Não tinha muito contato com a área. O que me levou a escolher o curso foi a curiosidade e a vontade de aprender. Só tive um computador em casa quando cursava o ensino médio”


estímulo para jovens

Foto: Divulgação

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de grandes investimentos para empreender. A prova disso é que a área da Tecnologia da Informação é a que mais tem empreendedores no mundo inteiro. Então o jovem entende que além de entrar no mercado de trabalho como empregado, ele também pode ser o dono da empresa”, conclui.

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para os cursos onde ele tenha maior Tendo em vista a carência de interesse. profissionais do setor, a Associação “A única exigência que fazemos Brasileira de Empresas de Tecnolopara que as pessoas se cadastrem nos gia da Informação e Comunicação cursos é que o aluno tenha mais de (Brasscom) lançou o projeto Brasil 15 anos. A partir daí ele vai enconMais TI, que oferece cursos para que trar uma grande variedade de curmais jovens se interessem para seguir sos, desde o básico da programação carreira na área de TI. “O problema até os mais aprofundados. É muito da mão de obra nessa área não é só difícil uma pesno Brasil, é no soa entrar nessa mundo. O que “O que se imaginou área sem o co se imaginou ao nhecimento de criar esse projeao criar esse projeto Por isso to foi dar condifoi dar condições aos inglês. oferecemos o curções aos jovens jovens de encararem so desse idioma, de encararem a que inclusive é o Tecnologia da Ina Tecnologia da mais procurado formação como Informação como da plataforma”, possibilidade afirma Ney Leal. real de trabalho. possibilidade real de Ele ainda defenÉ para os jovens trabalho” de que a área de entenderem o Te c n o l o g i a d a que é isso, o que Ney Leal Informação não essa área, com é só um grande o que o pessoal campo de trabadessa área trabalho, mas também de empreendimenlha. Hoje oferecemos 1500 horas de to. “A área de TI não tem a necessiaulas distribuídas em vários cursos, dade de criar raiz, você não precisa de mas todos envolvendo TI”, declara grandes esforços, outras áreas precisam Ney Leal, vice-presidente executivo da Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex), empresa gestora operacional do programa. Além de oferecer cursos na área de Tecnologia da Informação para despertar a vocação, o Brasil mais TI, se preocupa em estimular a entrada de novos profissionais na área, ligando as empresas das indústrias aos alunos da plataforma. Qualquer empresa de TI do Brasil pode se cadastrar no site e inserir o perfil profissional que querem e a quantidade de vagas disponíveis. Os alunos que concluírem o curso também podem colocar o currículo para disposição das empresas. Além disso, o aluno pode testar o seu conhecimento e interesses na área de TI por meio de um jogo, desenvolvido em parceria com a Fundação Getúlio Vargas. O game simula uma série de entrevistas que orientam o estudante


Tecnologia

A conexão das coisas Os objetos passam a se integrar no universo online, contribuindo para a diminuição da tênue diferença entre existência online e offline, humano e robótico, real e virtual Por Isadora Lira isadoralira@revistanordeste.com.br

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uase como as ligações cerebrais, na internet cada usuário serve como um ponto ou uma sinapse que se une a outros, gerando assim uma rede. Atualmente, quase 3 bilhões de pessoas estão na web, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). O detalhe é que agora não só as pessoas se comunicam entre si, mas também as coisas. A essa comunicação entre os objetos dár-se o nome de internet das coisas (ou IoT, em inglês, “Internet of Things”). O conceito remete à conexão de dispositivos inteligentes, que buscam compartilhar dados em rede. Apesar do termo ainda não ter se popularizado, essa tecnologia já vem sendo aplicada na nossa rotina. Hoje, já é possível ter sensores que controlam o portão da garagem de casa ou que rastreiem o veículo, por exemplo. Claudio Nasajon, gestor da Nasajon Sistemas, empresa que desenvolve

softwares empresariais, integrado de gestão empresarial, explica a utilidade desta tecnologia. “A ideia da ‘internet das coisas’ é automatizar processos que até então seriam manuais. Já existem geladeiras que identificam problemas através de sensores e enviam a informação para a autorizada de assistência técnica que encaminha um técnico para consertar o eletrodoméstico. Imagine você estar em casa e resolver a questão na maior comodidade?”. O gestor da Nasajon Sistemas diz que o país ainda está engatinhando na tecnologia. E ressalta que há algumas barreiras para que ela possa ser desenvolvida e disseminada por aqui. Ele cita, por exemplo, a questão do imposto de importação, que torna os aparelhos modernos quase que proibidos para a maior parte da população, haja vista os altos valores. “Por enquanto, os usuários se restringem às empresas, principalmente do setor das indústrias,

Claudio Nasajon

que justificam o investimento por meio da economia que esse tipo de serviço pode oferecer”. Essa tecnologia tem se tornado mais visível aos usuários a partir do aumento de dispositivos que podem se conectar à internet e também devido à popularização dos smartphones. Nos dois casos, as opções são diversas e só tendem a crescer, já que o “espaço” em rede tem sido ampliado.


Rastreamento de produtos Já imaginou saber quando a fruta que você consome foi plantada, qual tipo de adubo foi utilizado em seu cultivo e quanto tempo levará para que o produto chegue à sua mesa? Tudo isso pode ser possível através de um simples código. A empresa cearense Itaueira, produtora de melões, tem utilizado a tecnologia da internet das coisas para rastrear cada etapa da produção da fruta, desde 2011. Os melões possuem um código QR, que pode ser lido pelo cliente através de smartphones. “Mantemos registro de todos os procedimentos realizados no campo, desde a preparação do solo, a colheita, a identificação das equipes, até os relatórios de qualidade. Todas essas informações são relacionadas à numeração presente nas frutas, bem como à numeração de lote informada nas caixas dos produtos”, confirma Amanda Prado, gerente administrativa da Itaueira. Segundo Amanda, a empresa adotou uma ferramenta do fornecedor de sistema ERP (Bematech) para poder registrar as informações de coletadas e produção. Isso também permitiu o rastreamento das venda. “Além disso, ainda é feito o rastreamento por meio de outros sistemas terceirizados, por solicitação de redes de varejo como Grupo Pão de Açúcar e Carrefour”, completa.

Foto: Divulgação

Sérgio acrescenta que o C.E.S.A.R tem acompanhado no Brasil o uso da internet das coisas e que no exterior ela já vem sendo trabalhada há pelo menos 15 anos. “Em 1998, Steve Mann (pesquisador canadense) já trabalhava com um servidor de web móvel, registrando tudo o que se passava na vida dele”, relata. Steve Mann é considerado um dos precursores da internet móvel e cunhou, já em 1998, o termo “internet vestível”. Um computador vestível é uma máquina que está alocada no espaço pessoal do usuário, controlado pelo usuário, e que possui constância de operação e interação. Ou seja, que está sempre ligada e acessível. “É um dispositivo que está com o usuário e permite que ele digite comandos ou os execute, enquanto anda ou faz outras atividades”,

Sergio Cavalcanti

argumenta Sérgio. Esse aspecto “vestível” se enquadra na categoria “Qualified self”, indicada por Kleber Bacili, e está ligado ao âmbito mais particular da nossa experiência com a internet das coisas.

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A possibilidade de conectar mais dispositivos através da evolução do protocolo IP permitiu que a internet das coisas se tornasse mais visível para os usuários. Sérgio Cavalcante, superintendente do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (C.E.S.A.R.), afirma que já estão sendo desenvolvidas pesquisas nessa área. “Há uns 5 ou 6 anos a gente fez, no C.E.S.A.R., um identificador de movimento. O dispositivo pode extrair os registros de movimentos de qualquer objeto. Recentemente, desenvolvemos um sistema de monitoramento de irrigação. O equipamento registra exatamente a pressão da água jogada na área e o braço da irrigação. Com ele, o dono da propriedade pode ter acesso a todas as informações”, conta.

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A internet vestível


Era uma vez o príncipe encantado...

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Se antes as princesas precisavam esperar o final da história para encontrar seus príncipes encantados, agora, o encontro com a “felicidade” ganha novos contornos. Para refrescar a memória, é só voltar ao tempo de Branca de Neve, protagonista branca, bonita, casta e indefesa que inaugurou a saga das princesas do Walt Disney em 1937 aguardando um beijo em um caixão de vidro. As produções seguiam basicamente um enredo: os problemas eram resolvidos quando elas encontravam seu grande amor, um homem perfeito. Foi assim com Cinderela (1950) que selibertar da escravidão ao se casar; com Aurora (A Bela Adormecida, 1959), ícone de apatia que aguarda dormindo o príncipe encantado; e com outras princesas que até hoje ajudam a construir o perfil de mulher ideal no imaginário infantil. Mas, os tempos mudaram, e é de se esperar que o reflexo da sociedade tenha uma

A Casa do Rio Vermelho, onde viveram Jorge Amado e Zélia Gattai, passou por restauração e desde novembro está aberta à visitação. O espaço tem projeções de vídeos que apresentam trechos da obra do casal e depoimentos de pessoas que conviveram com eles, além de fotos e objetos pessoais. Jorge Amado é o escritor brasileiro mais vendido no mundo depois de Paulo Coelho, e o reconhecimento e a importância de suas obras são um atrativo a mais aos turistas que visitam a capital baiana.

forte carga de influência nas produções atuais. Desde Pocahontas e Mulan, o príncipe e o amor entre um casal já não é mais o plot central das histórias das princesas. Exemplo disso é a animação A Princesa e o Sapo, que tem a primeira personagem Real negra que traz um sonho maior do que o príncipe encantado: montar um restaurante. Tiana é a primeira princesa a ter o perfil trabalhadora. A recente adaptação do conto da Bela Adormecida, o filme Malévola, é outro exemplo. O longa, que se

A organização do Fest Verão Paraíba, que acontece em Intermares, no litoral paraibano, já divulgou a programação do próximo evento. O festival acontece nos dias 4, 11 e 18 de janeiro e contará com apresentações de Ivete Sangalo, Jorge e Mateus e O Rappa, entre outras atrações. O ingresso custará a partir de R$100 por dia de evento, com direito a meiaentrada. O ponto de vendas é a bilheteria Domus Hall, em João Pessoa.

tornou um clássico do live action (animação com atores reais), conta a história ao inverso, apresentando a uma vilã como personagem principal. O enredo mostra outros valores, dando destaque ao poder que a mulher pode ter. A princesa Merida, de Valente (2012), também sai dos padrões. Ela foi criada pela mãe para assumir o cargo de rainha. Sem vocação, exalta toda a sua rebeldia. A história foca na afetividade entre mãe e filha. A descaracterização da imagem do príncipe encantado como salvador das princesas também acontece Em Frozen – Uma Aventura Congelante (2014), onde o foco é o amor entre irmãs. Os desenhos animados refletem o contexto social da atualidade em que surgiu. Não se pode comparar Branca de Neve, A Bela Adormecida e Cinderela com as atuais produções. É preciso avaliar primeiro o papel da mulher na sociedade durante a época do produto.

A banda Natiruts, uma das grandes referências do reggae nacional, se apresentará no Pré Réveillon, dia 26 de Dezembro em Recife. O show acontecerá no Chevrolet Hall, com a participação também de Monobloco e o Dj Thiago Mansur. Os ingressos já estão à venda. A banda de reage está na cena musical do Brasil desde 1996 e desde então vem fazendo sucesso com canções como ‘Presente De Um Beijaflor’, ‘Povo Brasileiro’, ‘Andei Só’, ‘Quero Ser Feliz Também’ e ‘Natiruts Reggae Power’.

Produtores e promotores de espetáculos de teatro, dança e música que buscam realizar espetáculos no Teatro Arthur Azevedo, em São Luís (MA), no primeiro semestre de 2015, já podem encaminhar suas solicitações de pautas para a direção do TAA online. No link Solicitação de Pauta do portal do Teatro Arthur Azevedo, no endereço www. cultura.ma.gov.br/portal/taa é possível acessar a Ficha de Solicitação de Pauta que deverá ser corretamente preenchida e enviada.


Uma doutora em samba Dona Dalva Damiana de Freitas, conhecida por ter fundado e mantido em atividade o Samba de Roda Suerdick, um dos grupos mais tradicionais do Recôncavo baiano foi parar em documentário. O filme “Dona Dalva Uma Doutora do Samba”, foi dirigido por Lindiwe Aguiar e teve lançamento no fim de novembro. Ele fez parte do III Encontro das Culturas Negras. O filme conta a história desse ícone cultural da Bahia, integrante da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte e Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

Audiovisual em destaque Com o objetivo de fomentar, reconhecer e contemplar novos talentos e futuros profissionais da área do audiovisual brasileiro, o Festival Aruanda apresentou em sua 9ª edição dez longas, um média e 12 curtas inéditos durante a mostra que aconteceu em dezembro. O evento homenageou quatro personalidades: Alceu Valença (diretor estreante de ‘A Luneta do Tempo’; o ator Daniel de Oliveira (presente em ‘Sangue Azul’, de Lírio Ferreira); o paraibano Nanego Lira e o cineasta Vladimir Carvalho.

Este mês foram expostas 20 obras do artista plástico Willy Valenzuela no Espaço Cultural Yázigi. A exposição, intitulada Equinox, trouxe esculturas, pinturas e painéis. Willy é chileno, radicado no Brasil desde 1975 e está em Sergipe desde 1988. Graduado como arquiteto e urbanista, Willy é um pesquisador das formas e técnicas extraídas dos movimentos artísticos contemporâneos que envolvem pesquisas com reciclagem. Sua arte costuma fazer referências a madonas, vênus, magos e guerreiros.

Réveillon de Fortaleza A virada do ano da Praia de Iracema, em Fortaleza, vai ferver. Grandes atrações nacionais de ritmos diversificados do sertanejo, rock, forró e axé farão a festa, gratuitamente. Entre as atrações confirmadas para animar a 8ª edição do Réveillon de Fortaleza estão: O Rappa, Daniela Mercury, Bruno e Marrone e a banda Jota Quest. A programação começa a partir das 18h do dia 31 de dezembro e vai até às 06h do dia 01 de janeiro.

Sergipe nas telonas Gravado em Sergipe, o longa ‘O Senhor do Labirinto’, dirigido por Geraldo Motta, está em cartaz nos cinemas. Ele já foi apresentado em algumas mostras, como o Festival de Cinema do Rio, onde ganhou o Troféu Redentor de Melhor Filme de Ficção, eleito pelo júri popular. ‘O Senhor do Labirinto’ conta a história de Arthur Bispo do Rosário, sergipano vítima de esquizofrenia, que depois de ser internado em instituições psiquiátricas, desenvolve obras de artes. Anos depois, os bordados, estandartes e assemblages foram reconhecidos e expostos por museus e galerias.

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Símbolo do Carnaval de Pernambuco, os bonecos gigantes ganharam uma exposição na Estação Quatro Cantos, na Cidade Alta, em Olinda. O artista plástico Sílvio Botelho é responsável pela criação dos personagens mais famosos da folia e vai expor suas obras no local até o dia 5 de fevereiro. A mostra reúne cerca de 30 peças, entre eles o Menino da Tarde, primeira criação de Botelho, produzida em 1974. A Estação fica aberta todos os dias da semana, das 11h às 18h, e o ingresso custa R$5 com direito a meia-entrada.

Arte chilena em Sergipe

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Clima de carnaval


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Cultura


Maestro Laércio Diniz, um dos nomes da música clássica brasileira e responsável pela criação da Orquestra Filarmônica do Brasil, pretende trazer para a Sinfônica de João Pessoa elementos da cultura nordestina, como o frevo e o maracatu. A mistura de ritmos visa aproximar o público desse estilo musical

Foto: Danielle Trinta

O

senhor esteve à frente de várias orquestras e já tocou em diversos países. Há quanto tempo comanda a Orquestra Municipal de João Pessoa e como se deu este convite?

Estou há um ano e dois meses. A prefeitura quis fazer um resgate na tradição de João Pessoa com a música clássica, criada há 30 anos, com o ex-governador Tarcísio Buriti. O atual secretário da Cultura, Maurício Buriti Filho, assumiu a pasta e, nos primeiros meses, já pensou nisso. Investir no Festival de música clássica de João Pessoa e na orquestra, assim como em vários aparatos culturais da cidade foi uma decisão acertada. Buscamos profissionais de diversas orquestras e organizamos uma Sinfônica de qualidade, que já pode representar João Pessoa em qualquer lugar.

Como vê a iniciação da música erudita nos meios de comunicação. Há espaço para esse estilo musical?

Existem espaços nas rádios e nas televisões específicos para isso, mas não há uma visualização tão popular. Ainda há dificuldade nisso. É muito difícil discutir essa questão da comunicação porque as rádios particulares precisam ganhar dinheiro, então elas seguem o gosto do público, do povo. Esse gosto é baseado no conhecimento ou na

ignorância. Então, se você se baseia no povo, vai partir também do desconhecimento. Você tem que ter o trabalho não de inserir a música clássica, pois não é colocando a 9ª Sinfonia de Beethoven de qualquer jeito, mas mostrar e desmistificar esse estilo musical. Mas eu acho que isso é um processo e que deve ser começado de baixo mesmo, porque é preciso educação. Há, inclusive, uma lei criada pelo presidente Lula para que a música seja inserida nas escolas, embora a lei ainda esteja engatinhando, ela é muito importante. Nós, enquanto orquestra, pretendemos realizar concertos didáticos em João Pessoa. Acho que esse estilo pode ser inserido na sociedade através de programas que sejam de fácil acesso, porque essa música não é um bicho de sete cabeças, ela está no nosso dia a dia também, está no supermercado, na propaganda e em vários locais. É uma música que foi filtrada por 300 anos. Muita gente diz que não conhece nada de música clássica, mas fala algo como “Minha avó adorava ópera” ou então “meu bisavô cantava isso”.

O senhor considera importante a criação de mecanismos que incentivem as pessoas a se aproximarem da música clássica, restrita antes a um público específico?

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Por Grazielle Uchôa e Isadora Lira grazielle@revistanordeste.com.br isadoralira@revistanordeste.com.br

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Um clássico popular


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Laércio Sinhorelli Diniz passou pelo Quarteto de Cordas Auereus, pela Orquestra de Câmara Eugênio Barroco e foi diretor e regente titular da New Netherlands Orchestra, uma das mais célebres orquestras europeias

Eu concordo com cotas como, por exemplo, as das produções nacionais que têm espaço determinado por lei na grade da programação da TV a cabo. A gente percebe que já há um interesse em se buscar condições para mudar a cultura. Hoje em dia existem muitos projetos sociais com música clássica. E a população, de certa forma, começa a ouvir mais esse estilo. Aliás, não vou dizer que se começou mais a ouvir essa música, mas que as camadas mais pobres foram abrigadas, de certa forma, a conhecer também esse tipo de música. É importante abrir as oportunidades, dar opções as pessoas na área cultural, incentivar para que elas conheçam o teatro, a música erudita. Se não for feito isso, as crianças de classes menos favorecidas vão ouvir apenas o funk.

Diria que hoje existe um pouco mais de parcerias entre compositores da música popular e da música clássica?

Isso existe há 300 anos. Você colocar obras da música popular na música erudita é algo que sempre aconteceu. Eu mesmo já gravei várias coisas com música popular. Existe a Orquestra Sinfônica de São Paulo que faz basicamente só isso. A gente vai fazer isso também com a Orquestra Sinfônica de João Pessoa. O problema é que muitas vezes isso é feito sem qualidade, de qualquer forma, simplesmente para chamar atenção do público.

Quais são os cantores que vocês pensam em convidar para essa futura parceria?

Primeiro, vamos trabalhar com o material que se tem aqui no Nordeste, como Sivuca, os arranjos de (maestro) Duda, que são absolutamente fantásticos e de um conhecimento harmônico enorme. A partir daí, vamos incrementar. Existem alguns nomes que eu gostaria de convidar porque eu sei que faria um trabalho muito bom conosco, como o Ivan Lins, o Toquinho. São dois nomes que eu ainda nem entrei em contato, mas já andei pesquisando. A ideia é fazer algo maior, trabalhar com material do folclore, do frevo e do maracatu. Ou seja, que nos traga outra visão, sem esquecer o nosso berço que é a música sinfônica erudita. A ideia é mostrar as duas coisas.

O primeiro festival de música clássica internacional da capital paraibana foi criado pelo maestro. A segunda edição foi realizada na primeira semana de dezembro deste ano


Há algum nome na atualidade que se destaca no cenário nacional que esteja fazendo este tipo de música?

O país ainda precisa importar músicos para as orquestras ou temos bons talentos em casa?

Antigamente, para ter um bom professor de música no país era preciso ir à Europa ou Estados Unidos. Agora, não é mais necessário. Para atingir um bom nível você pode estudar música no Brasil. Claro que se você for para a Europa terá outra experiência, uma visão diferente. Mas diria que o Brasil é autossuficiente. Temos muitos projetos sociais e talentos absurdos se formando, o problema é que ainda há poucas orquestras. Mas João Pessoa deu um passo à frente ao criar essa orquestra, que ainda está engatinhando. É uma coisa nova não só para os músicos, mas também para a cidade e para a prefeitura, que está dando um apoio completo e nós estamos esperando boas surpresas a partir deste projeto. Foto: Danielle Trinta

O José Siqueira é um compositor paraibano nascido em Conceição e teve grande representatividade. Ele foi o fundador da Sinfônica brasileira, criou a Ordem dos Músicos, que era o máximo que a gente tinha no Brasil, além de ter sido um grande intelectual. Mas ele foi totalmente esquecido porque foi caçado na ditadura militar, foi um dos primeiros a ser exilado e precisou migrar pra Rússia. Em Moscou, ele realizou um grande trabalho. Várias obras foram editadas lá. Há até uma sala com o nome dele.

Então, o senhor vem tentando fazer o resgate do trabalho desse artista?

Na verdade, eu comecei a verificar onde estava esse material. Muita gente tem tentado fazer esse resgate, o problema é que você tem que ter dinheiro. A ideia seria buscar esse material e fazer o trabalho de revitalização e digitalização. Mas por enquanto eu não tenho um projeto pronto. Não posso nem falar direito sobre isso. Muita gente tem algo sobre ele, o que eu realmente queria era tentar unificar o que já foi escrito e fazer a digitalização de tudo para poder executar e chamar o José Siqueira para ser o patrono de nossa orquestra. Assim, a gente pode representá-lo.

O senhor falou em inserir o maracatu, o frevo e outros ritmos populares na música clássica. Como é possível popularizar e reinventar a música clássica sem descaracterizá-la? Isso é recente ou já tem exemplos? Existem várias tentativas com pouca qualidade. A Osesp, a orquestra de Minas Gerais, enfim, algumas orquestras fazem isso com boa qualidade. Não é um fenômeno recente. A questão é a seguinte: nós somos uma orquestra do Nordeste. Existem outras que também buscam fazer isso, trazem esses ritmos para a música clássica. A gente está procurando fazer não apenas isso, mas manter o aspecto sinfônico. Porque essa música não é uma música europeia ou dos Estados Unidos. É uma música mundial. Tem uma qualidade que você não pode fugir, sejam compositores brasileiros ou americanos.

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O senhor vem buscando resgatar o trabalho do compositor José Siqueira. Como tem sido isso?

Laércio vem colhendo material para resgatar o trabalho do compositor paraibano José Siqueira. A ideia é revitalizar e digitalizar os documentos que falam sobre o trabalho do músico.

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Vou citar nomes de quem está atuando e que se não estivesse não teríamos chegado aonde chegamos. O maestro Isaac Karabtchevsky é o primeiro exemplo. Ele é a pessoa que popularizou a música erudita sem descaracterizá-la. Você vai a qualquer lugar e as pessoas o reconhecem. Outro nome é o maestro John Nash, menos conhecido aqui, mas responsável pela Orquestra Sinfônica do estado de São Paulo (Osesp), que também mudou a qualidade da música, trazendo outros recursos a ela. Ele também fez a Osesp virar uma referência e ajudou a mudar a música no Brasil.


VITRINA Moldura

marcante

A transformação da mulher trouxe consigo novos padrões estéticos. Agora, as sobrancelhas bem marcadas, que por algum tempo foram mal vistas, são objeto de desejo do público feminino. Mais expressivas, as sobrancelhas grossas realçam o rosto e definem uma mulher mais firme e determinada. Por darem um aspecto natural à face, elas também aparentam jovialidade. A princesa Kate Middleton e a top model Cara Delavigne são algumas das representantes dessa tendência. O sucesso do visual é tão grande que no exterior as mulheres começaram a optar por implantes de pelos nas sobrancelhas. Essa moda ainda não pegou no Brasil, mas é importante lembrar que a sobrancelha grossa não fica bem em qualquer tipo de rosto. Por isso, é interessante procurar um profissional que avalie o que fica melhor para o seu estilo, feição, etnia etc.

para o rosto

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Flúor para os homens Nesta temporada, os tons fluór não vêm com tudo na moda feminina, mas são as cores do verão para a produção dos homens. A Cobra D’agua, marca de moda jovem, apresenta na coleção Verão Sem Fim diversos modelos que podem ser usados no dia a dia e à noite. Pink, azul e amarelo são as cores que se destacam.

Tecnologia da Amazônia Inspirada na cosmetologia natural da Amazônia, a Lóreal lança o creme-em-óleo perfumado Néctar Murumuru. Ativo genuinamente brasileiro e sustentável, a manteiga de murumuru proporciona reposição lipídica, que devolve aos fios o brilho e a hidratação. O produto pode ser usado de manhã ou à noite, nos cabelos secos ou úmidos, antes da prancha para alisar ou cachear.


Especiais de Natal Época de dar e receber presentes, o fim de ano é o período em que as marcas lançam kits especiais. Veja algumas opções para presentear. Kit de Natal Marina Smith R$ 97,00

Piauíense ganha o mundo

Make up bag palette da Sephora R$ 99,00

Kit unhas perfeitas Granado R$ 58,00

Natural de Miguel Alves, no Piauí, a top model Laís Ribeiro se consagra como uma das mais importantes no cenário da moda internacional. No início de dezembro, ela desfilou mais uma vez pela Victoria’s Secrets, grife de lingerie badalada. O desfile-show é um dos mais cobiçados pelas modelos do mundo todo.

Damyller abre 5ª loja na Paraíba

Jeans no alto verão Quem pensa que jeans e verão não combinam está muito enganado. As opções da Hering para a estação mais quente do ano vão de macaquinhos e vestidos a camisas e bermudas em jeans lavado ou escuro, que ampliam as ocasiões de uso.

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Kit L’occitane R$ 338,00

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Estojo Carbon Eudora R$ 90,20

Presente em todos os estados do país, a grife jeanswear instala novo espaço no também recém inaugurado Mangabeira Shopping, em João Pessoa. A loja possui mais de 114m² e apresenta o novo layout da grife, mais moderno, com iluminação especial e novos manequins. Na vitrine, o Verão 2015 atrai os clientes a conhecerem o novo espaço repleto de novidades, entre elas, a primeira coleção beachwear da marca.


Pelo

Mundo

Rivânia Queiroz

rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br

Mais luxo em Paris Fundado em 1913 e queridinho dos brasileiros, o hotel Plaza Athénée, um dos maiores ícones da alta hotelaria mundial, passou por uma ousada reforma ao completar 100 anos de existência. As luxuosas suítes com vista para a Torre Eiffel e o badalado restaurante Alain Ducasse au Plaza Athénée, que muda de cenário no almoço e jantar, ficaram ainda mais deslumbrantes. Com a reforma concluída em agosto deste ano, o empreendimento levou o charme das famosas maisons da Avenue Montaigne para o interior de seus ambientes, que não perderam a característica de luxo clássico, porém aliaram tecnologia e modernidade. Após a compra de alguns prédios vizinhos, o Plaza foi ampliado e agora conta com um total de 154 apartamentos e 54 suítes, além de dois espaços para eventos de negócios e um salão de festas. A designer de interiores Marie-José Pommereau, responsável por decorar os quartos do empreendimento nos últimos 14 anos, também assinou os ambientes recémconstruídos. Entre as suítes destacam-se as chamadas Eiffel que possuem estilo art déco e móveis em ébano e mogno, todas com uma incrível vista para a famosa dama de ferro francesa. Com a recente repaginação, o Athénée garante sua permanência no topo da disputadíssima e seleta categoria de hotéis superluxo internacionais.

O “Oscar da Neve” O Valle Nevado, a maior estação de esqui da América do Sul, foi novamente eleito o melhor resort de esqui do Chile pelo World Travel Awards. O prêmio World Ski Awards é considerado o “Oscar da Neve”. Em 2013, o empreendimento também recebeu este reconhecimento. A entrega do prêmio aconteceu na Áustria e reuniu os expoentes do segmento de turismo de neve de 21 países da Europa, Ásia e América. A eleição contou com votos de esquiadores amadores e profissionais, membros da indústria hoteleira, operadores turísticos e agências de viagens. Foram consideradas as categorias: melhor resort de esqui, melhor hotel, melhor boutique hotel e melhor chalé de esqui. Os turistas brasileiros que planejam curtir a melhor neve do Hemisfério Sul já podem garantir as férias no Valle Nevado e ainda têm descontos que podem chegar a 35% para reservas até 30 de dezembro nos hotéis (Valle Nevado, Puerta del Sol e Tres Puntas) e edifícios de apartamentos do empreendimento. Serviço: Site: www.vallenevado.com/pt


Festa da virada A festa de réveillon do Kenoa Exclusive Beach Spa and Resort promete ser inesquecível. No dia 31 será servida uma ceia assinada pelo chef César Santos e regada a Veuve Clicquot. Na festa da virada os hóspedes poderão se deliciar com drinks e menu especial e ainda desfrutar boa música. No dia primeiro, como é de costume, o Kenoa oferece um brunch de boas vindas ao novo ano. O destino é ideal para aqueles que querem dar adeus a 2014 em meio a uma paisagem paradisíaca. Localizado em Barra de São Miguel, a 30 km de Maceió, o resort conta com 23 acomodações que variam entre 45m² e 200m². Para o período de 26 de dezembro de 2014 a 05 de janeiro de 2015 o hotel oferece pacote com o mínimo de 7 noites.

Nova embalagem

Fomento ao turismo

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A Temporada de Verão 2015 está aberta na Costa do Conde (PB). A região, que oferece praias paradisíacas como Tambaba e Coqueirinho, quer atrair mais turistas este ano, gerar novos empregos e movimentar a economia local. Para isso, a Prefeitura do Conde desenvolveu ações estruturantes. Em Tambaba, realizou reformas na sede da Área de Preservação Ambiental (APA), no posto integrado das polícias e nas barracas, que agora estão padronizadas. A orla recebeu novos chuveiros e banheiros. Em Coqueirinho, fez pavimentação no acesso à praia e reforma e ampliação dos banheiros do Centro Turístico, bem como limpeza das barreiras e sinalização turística. Quem estiver na região durante o veraneio poderá conhecer a Festa de Santo Reis, na primeira semana de janeiro, quando acontece a procissão marítima e terrestre; a tourada de Jacumã e a Festa de São Sebastião, no distrito de Gurugi. Os visitantes podem visualizar o site promocional www.costadocondepb.com.br e ter acesso às informações.

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O licor sul-africano Amarula acaba de lançar um pack especial que mostra para os fãs da bebida como é fácil preparar drinques icônicos da marca. Os coquetéis sugeridos (Amarula Fashion, Amarula On Ice e Amarula Hot Coffe) são simples de reproduzir em casa, numa festa ou encontro de amigos. Cada receita é composta apenas por 2 ingredientes e basta seguir as orientações do modo de preparo para viver a experiência de um bartender em qualquer lugar. Dois porta-copos feitos com couro ecológico fazem parte do pack que pode ser encontrado nos supermercados, empórios e delicatessen de todo o país. A nova embalagem é uma ferramenta importante para estreitar o relacionamento de Amarula com seu consumidor e reforçar a versatilidade do produto.


Cultura

Mês de grandes espetáculos Já tradicional na agenda cultural da região, Recife sediará a 21ª edição do Janeiro de Grandes Espetáculos nas duas últimas semanas do mês Por Isadora Lira isadoralira@revistanordeste.com.br

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á mais de duas décadas iniciando os anos com uma lista apurada de apresentações cênicas, o Janeiro de Grandes Espetáculos já tem data e seleção das peças escolhidas para a 21ª edição. Serão treze apresentações realizadas entre os dias 14 e 31 de janeiro de 2015, divididas nas categorias adulto, dança e infanto-juvenil. O foco na programação local é uma das características principais do evento, investindo na diversificação da produção, envolvendo comédias, dramas e buscando levar também o público jovem para o teatro. Desde 2008 o evento tem convidado curadores e programadores de festivais de artes cênicas do país para assistirem as produções de Pernambuco e, assim, contribuírem para a grade do Janeiro. Uma das apresentações selecionadas para a próxima edição é a Gaiola das Moscas, do grupo Peleja, que tem sede em Recife. A obra é uma adaptação do conto homônimo do escritor moçambicano Mia Couto, inspirado na brincadeira popular pernambucana do Cavalo Marinho. A peça retrata a vida de Zuzé, um vendedor de cuspes que, para salvar os negócios, se torna vendedor de moscas. Sua mulher,

cansada das ideias do marido, se encanta por um forasteiro vendedor de “pintadas” de batons. A história remete a um vilarejo imaginário que poderia estar localizado em Moçambique, no Brasil, ou em qualquer outro lugar onde se combine desigualdade social e criatividade. A atriz Carolina Laranjeiras conta que o espetáculo circula pelo país já há alguns anos. “Essa apresentação estreou em 2007 e desde então já passamos por 40 cidades por todo o Brasil”, contou. “O Janeiro de Grandes Espetáculos é muito importante para a cultura local, porque é uma janela para os artistas, afinal é um festival internacional, super consolidado. E integra artistas locais e também os de fora. Essa coisa da continuidade faz com que se tenha um público cativo. Quando me apresentei em 2012, em um espetáculo solo, a edição do evento permitia que nós conversássemos com o público após a apresentação. Fazia parte do formato. E isso possibilita que artistas locais sejam interlocutores de um diálogo com quem se apresenta”, completou a atriz. O festival, que surgiu com o intuito de se tornar uma vitrine das artes cê-

nicas da região, começou a ampliar sua abrangência contemplando também espetáculos nacionais, mas desde 2011 tem integrado apresentações internacionais. Atualmente o evento integra o Núcleo dos Festivais Internacionais de Artes Cênicas do Brasil em parceria com outros festivais de grande porte. Foto: Renata Pires




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