IPOJUCA PONTES
BRICS
SÃO JOÃO
Articulista expõe falência do petismo
Cúpula de emergentes se reúne no Brasil
Forró estilizado vira negócio lucrativo
Gênios da Bahia na política Saiba como os presidenciáveis têm preferência pelos marqueteiros baianos Conheça a história dos profissionais que fazem grandes campanhas eleitorais
ÍNDICE ENTREVISTA
POLíTICA
ECONOMIA
10
20
41
O interlocutor do Congresso Romero Jucá tem usado fama de pacificador para servir como interlocutor entre parlamentares
Dupla petista afinada Dilma e Lula vão ao Nordeste atrás do voto do eleitorado
Um salto de desenvolvimento Pernambuco, Ceará e Piauí impulsionam a economia nordestina
UM SALTO DE DESENVOLVIMENTO
53
CAPA
32
Os gênios da Bahia Estado se destaca no país como celeiro de grandes marqueteiros. É de lá que saem os profissionais que fazem a cabeça dos presidenciáveis
22
A tática de Eduardo Candidato do PSB evita críticas a Lula e bate forte em Dilma
24
Só falta um vice e uma agenda Aécio oficializa candidatura, mas ainda não fechou sua chapa majoritária
26
Telhado de vidro Revista mostra os pontos fracos dos três candidatos ao Palácio do Planalto
38
OAB reage contra Barbosa Entidade de classe critica presidente do STF, Joaquim Barbosa, por ter postura rígida contra advogado de Genoino
Parcerias comerciais na Copa Copa atrai empresários de 104 países que querem fechar negócios por aqui
54
País sediará reunião do Brics Representantes de países emergentes estarão no Brasil para reunião que discutirá políticas de cooperação
GERAL
57
Ódio compartilhado na rede Internet vira espaço para desabafos e propagação de mensagens extremistas
60
Publicidade sai do armário Campanha com o primeiro beijo gay na publicidade nacional causa repercussão e mostra que sociedade ainda é conservadora
CULTURA
COLUNAS
72
8
Máquina de fazer dinheiro Forró estilizado vira negócio lucrativo e movimenta milhões em todo o país, sobretudo no Nordeste
Cartas e E-mails
14
SAúDE
Delfim Neto
64
16
Plugado | Walter Santos
Diagnóstico difícil Transtorno Bipolar afeta 4% da população adulta mundial e é a terceira doença mental mais frequente
30 76
Patriarca de uma dinastia musical No centenário de Dorival Caymmi, Revista lembra obra do compositor
ESPORTE
82
MEIO AMBIENTE
68
Por um planeta mais equilibrado Empresas compensam emissão de gás carbônico em recursos revertidos para programas de proteção ambiental
Gringos dão colorido à festa Copa do Mundo traz ao Brasil uma legião de estrangeiros de várias partes do mundo
90
Golpe nas dificuldades Atleta é um exemplo de como as artes marciais podem ajudar na superação de traumas
Carlos Roberto de Oliveira
40
Ipojuca Pontes
56
Conexão América
80
| Usha Pitts
Pelo Mundo | Rivânia Queiroz
70
Digestivo
88
Agito Nordeste
NORDESTE revistanordeste.com.br
Ano 8 | Número 91 | Junho | 2014 Diretor Presidente Walter Santos Diretora Administrativa/Financeira Ana Carla Uchôa Santos Diretor Comercial Pablo Forlan Santos Diretor de Marketing Vinícius Paiva C. Santos Logística Yvana Lemos COMERCIAL Gerente Comercial Marcos Paulo Atendimento Comercial Jone Falcão REPRESENTANTES Pernambuco Gil Sabino g.sabino@uol.com.br - Fone: (81) 9739-6489 REDAÇÃO Editora Rivânia Queiroz Repórteres William De Lucca e Flávia Lopes Colaboração Ágatha Justino Editoria de Arte e Tratamento de imagem Arthur César e Danielle Trinta Capa Danielle Trinta Projeto Visual Néctar Comunicação ATENDIMENTO/ FINANCEIRO Supervisora e Contas a Pagar Kelly Magna Pimenta Contas a Receber Milton Carvalho Contabilidade Big Consultoria ASSINATURAS (83) 3041-3777 Segunda a sexta, das 8 às 18 horas www.revistanordeste.com.br/assinatura CARTAS PARA REDAÇÃO faleconosco@revistanordeste.com.br
8
JUNHO / 2014
PARA ANUNCIAR Ligue: (83) 3041-3777 comercial@revistanordeste.com.br SEDE Pça. Dom Ulrico, 16 - Anexo - Centro - João Pessoa / PB Cep 58010-740 / Tel/Fax: (83) 3041-3777 Impressão Gráfica JB - Av. Mons. Walfredo Leal, 681 - Tambiá - João Pessoa / PB - Fone: (83) 3015-7200 Circulação DPA Consultores Editorias Ltda dpacon@uol.com.br - Fone: (11) 3935 5524 Distribuição FC Comercial A Revista NORDESTE é editada pela Nordeste Comunicação, Editora e Serviços Ltda-ME CNPJ: 19.658.268/0001-43
EDITORIAL Fábrica de marqueteiros A canção “Varre, varre vassourinha” consagrou-se na campanha eleitoral de Jânio Quadros, em 1960, e há quem cante o jingle eleitoral composto por Maygeri Neto até hoje. A jogada de marketing, que simbolizava a limpeza da corrupção e dos males na política brasileira, talvez tenha sido fundamental para o ex-presidente alcançar um alto patamar populista. Muitos dos especialistas dessas estratégias publicitárias surgiram no Nordeste. A criatividade do nordestino é velha conhecida do Brasil. Pra viver em uma região com poucos recursos naturais e parcos investimentos durante a história da construção do país, o nordestino teve de se reinventar e se fortalecer para sobreviver. Tamanha versatilidade transformou a região em um celeiro para uma área que depende de toda a resilIência e criatividade disponíveis, caso do marketing político. Este talento, quase natural do nordestino, soma-se com a extrema habilidade nordestina na arte da política, que registra um vasto rol de presidentes da república, senadores influentes, governadores com bom trânsito em Brasília, deputados de destaque maior do que o tamanho de seus cargos, presidentes de entidades, sindicatos e federações durante toda a história republicana. Com criatividade e vocação política,
Rivânia Queiroz
editora-chefe da Revista NORDESTE rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br
não era difícil imaginar que a região produzisse nada menos do que os responsáveis pela comunicação e planejamento de quatro campanhas eleitorais vitoriosas desde a redemocratização. Nomes com Duda Mendonça, Zé Nivaldo, Carlos Roberto de Oliveira, Antônio Melo, Nizan Guanaes, João Santana, Edson Barbosa, Fernando Barros e Sérgio Amado colaboraram ainda com a eleição de dezenas de governadores, senadores e prefeitos de capitais pelo país. Um forte exemplo de transformação de imagem foi o ex-presidente, Lula, que modificou a estigma de nordestino, sindicalista e sem experiência política relevante para candidato humilde e que luta para diminuir as desigualdades entre as classes sociais. O salto nas pesquisas de intenção de voto foi alto, chegando à eleição e até reeleição. Tudo isso graças à habilidade do marqueteiro Duda Mendonça. O trabalho é árduo. Transformar políticos com seus vícios, manias e variadas histórias de vida em candidatos palatáveis e aceitos por 50% mais um eleitores em uma eleição é algo que leva tempo, e tempo é um dos insumos mais caros de um processo eleitoral. Digerir propostas, esmiuçar planos de governo e, muitas vezes, transformar o luxo no lixo, estão na pauta do dia. Mas eles dão conta do recado, com maestria.
CARTAS E E-MAILS “Eis mais uma edição especial da revista NORDESTE, uma publicação que todos querem participar. Eu mesmo já dei entrevistas à revista”
Michel Temer Vice-presidente da República Brasília (DF)
Márcia Bulhões Diretora do MBA Cultural - Expografia/ Museologia | Niterói (RJ)
Acostumados que somos em investir em mídia em São Paulo e no Sul do país, vamos precisar mudar o foco para o Nordeste, onde até dispõe de uma revista maravilhosa, nunca existente antes fora do eixo Rio – São Paulo, por isso precisamos estar mais próximos de veículos com a qualidade como a Revista NORDESTE. Nunca vi nada igual fora do centro sul e isto prova o novo momento econômico do Nordeste” Cláudio Magnavita Secretário estadual de Turismo do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro (RJ)
Nota da Redação: Sugestões de pauta ou matérias podem ser enviadas para o endereço eletrônico da editora: rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br. Agradecemos a sua participação. NORDESTE On-line Facebook Revista Nordeste Twitter @RevistaNordeste E-mail faleconosco@revistanordeste.com.br Site www.revistanordeste.com.br
Queremos registrar o agradecimento pela fidelidade com que a entrevista envolvendo o Sr Ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, foi tratada em nível de conteúdo e parte gráfica. Atestemos um excelente nível da Revista” Raoni David Scandiuzzi Assessor de comunicação Brasília (DF)
O fato de estar produzindo jornalismo ouvindo a todas as tendências políticas já faz um diferencial enorme nestes tempos em que a mídia tem ocupado os espaços dos partidos políticos. A edição sobre ‘O Legado da Copa do Brasil’ tem equilíbrio e conteúdo” Jaime Campos São Paulo (SP)
REVISTA NORDESTE N.º 90
“Sinceramente, como leitor, fiquei muito impressionado com a abordagem bem feita da Revista tratando não só da Copa no Brasil, mas das matérias de política, economia etc., com nível a altura das melhores publicações do Brasil”
JUNHO / 2014
Luiz Alberto Amorim Superintendente do SEBRAE/PB João Pessoa (PB)
Convivendo com tantos lugares e pessoas sempre próximas de inovações, devo testemunhar que fiquei muito bem impactada com a última edição da NORDESTE, publicação nivelando para cima o valor de conteúdo e estética, por isso pretende ser leitora assídua”
Luciano Cartaxo Prefeito de João Pessoa-PB 9
Não precisa ser expert no mundo da mídia para constatar o alto nível que a publicação produzida em João Pessoa alcançou com padrão idêntico ao que há de melhor no mercado, por isso é líder. Não deve a nenhuma grande revista do Brasil e o bom de tudo é que tem esse padrão nacional sendo feita em João Pessoa”
Entrevista
O interlocutor do Congresso
C
Com a vida política dividida entre Pernambuco, Distrito Federal e Roraima, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) tem fama de bom interlocutor. Ex-tucano, o pernambucano de nascimento tem trânsito fácil na base aliada e na oposição e, mesmo fazendo parte do grupo que dá sustentação à presidente Dilma Rousseff (PT) no Senado, manda o recado: a presidente precisa dar mais atenção aos aliados.
Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br
O senhor se destaca no Congresso Nacional em momentos de crise, apontando soluções e fazendo a interlocução entre as duas casas e a sociedade. Como construiu essa habilidade?
Eu aprendi a fazer política em Pernambuco, uma grande escola no país. Trabalhei com Antônio Farias (ex-prefeito do Recife), José Jorge (ex-senador pernambucano), Roberto Magalhães (deputado federal e ex-senador), Marco Maciel (ex-vice Presidente da República) e Joaquim Francisco (ex-governador do estado). Eu adquiri muitos ensinamentos com políticos importantes, que sempre foram referência. Depois vim para Brasília, onde ocupei diversos cargos. Fui indicado pelo ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) como presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) e do projeto Rondon.Posteriormente, para o governo de Roraima, estive a frente da transição de território para esse estado. Tenho uma grande gratidão política pelo ex-presidente Sarney, que
Romero Jucá
me deu três oportunidades importantes na minha carreira política.
Como o senhor mantém uma excelente relação no Senado, seja com políticos da direita, seja com a esquerda?
Fui aprendendo na convivência com o Senado de que esta é a casa da harmonia, a casa da convergência. Fui líder do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), do ex-presidente Lula (PT) e de parte do governo da presidente Dilma (PT), e sempre buscando a convergência. De entender como o país se constrói com visões opostas em um projeto, que é coletivo. Neste exercício, me especializei em momentos difíceis, em como construir o debate. Tenho uma ótima relação com todos os senadores, independente de partido ou de grupo político, e as pessoas sabem que quando eu faço um acordo, eu cumpro, e esta credibilidade é um fator decisivo para mediar entendimentos.
O senhor já foi dos quadros do PSDB e assumiu posto importante no ninho peemedebista. Poderia nos dizer qual a principal diferença na experiência entre os dois partidos?
Fui vice-presidente nacional do PSDB e posteriormente me integrei ao PMDB, a convite do ex-presidente José Sarney e do senador Renan Calheiros. Hoje, sou vice-presidente nacional do partido. As duas legendas são grandes, ambas têm posições políticas preponderantes. O PSDB é um partido socialdemocrata e, assim como o PMDB, está no centro do espectro político. Independente do PSDB estar na oposição e o PMDB na base do governo, os dois dialogam e dão grande colaboração ao país.
Qual a sua opinião acerca da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que vai investigar supostas irregularidades na compra da Refinaria de Passadena (USA)?
Houve uma disputa claramente política-eleitoral. Temos que eximir essa investigação deste aspecto eleitoral, temos de investigar o que houve de errado e punir os responsáveis, em caso de irregularidades. Penso que Fotos: PMDB Nacional
o calendário da CPI não pode ser o mesmo das eleições. Mesmo porque as investigações serão profundas e não devem terminar antes do ano que vem.
A oposição se ausentou do debate quando a CPI ouviu o ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli. Como viu o depoimento de Gabrielli e a tentativa da oposição de esvaziar a CPI?
É outro jogo político. Na verdade, a oposição quer uma CPI mista, entre Câmara e Senado, porque acredita que isso poderá fazer com que as supostas denúncias tenham mais repercussão e, pra isso, esvaziam a CPI do Senado. As duas vão existir paralelamente, vão investigar e ouvir os depoimentos iniciais, e terão de corroborar com as investigações e com os dados técnicos. Isso demanda tempo. Não serão CPIs rápidas. Provavelmente, serão renovadas, pois necessitam de análises, laudos e pareceres técnicos. A investigação vai fugir do calendário eleitoral.
A CPI da Petrobras parece ter se tornado uma bandeira da oposição para estas eleições, principalmente por parte do PSB e PSDB. O senhor acredita que a investigação conseguirá levantar o nome dos candidatos dos dois partidos à presidência, Eduardo Campos e Aécio Neves? Acho que Eduardo e Aécio são dois
Eduardo e Aécio são excelentes quadros na nova política. Tenho boa convivência e amizade com os dois. Mas não será a CPI que pautará a eleição, e sim o que cada um pretende fazer” excelentes quadros na nova política brasileira, tenho uma boa convivência e uma amizade pessoal com os dois. Mas não será a CPI que pautará a eleição deste ano, e sim o que cada um pretende fazer para atender às demandas do povo. A pauta do brasileiro não é a CPI, apesar de a sociedade cobrar investigações. A comissão vai durar além das eleições, e é claro que ela fustiga o
os partidos e com os políticos. Não há eleição e nem governo sem a classe política. É preciso reforçar a importância do papel construtivo da política, e fazer com que essa sintonia seja cada vez melhor.
O atual ministro das relações institucionais, Ricardo Berzoini (PT), parece ter retomado um pouco da calmaria nesta relação entre os poderes. Em que ele difere da ex-ministra Ideli Salvati? Berzoini é um deputado experiente e que presidiu o PT. Tem uma relação ampla na Câmara dos Deputados e toda condição de conduzir este entendimento. Na verdade, eu acho que quem tem de estar no topo da prioridade da relação política é a presidente Dilma.
E ela não está dando a atenção necessária?
Eu acho que o Governo peca na relação com o Congresso Nacional, que atrasa decisões e, de certa forma, não opera bem a questão política, principalmente na Câmara dos Deputados”
Governo e a presidente Dilma, é natural no jogo político, mas eu entendo que o processo é mais dinâmico, onde a discussão da economia e dos avanços sociais do Brasil será preponderante.
O senhor esteve na Constituinte de 1988 e acumula experiências em negociação política. Como vê a atual relação entre o Governo Federal e o Congresso?
Eu acho que o Governo peca na relação com o Congresso Nacional, que atrasa decisões e de certa forma não opera bem a questão política, principalmente na Câmara dos Deputados. No Senado, há mais tranquilidade, com uma base mais estável, com parlamentares com mais experiência e menos ansiosos com o processo eleitoral. É certo também que o processo eleitoral torna isso tudo mais agudo, cria uma desestabilização natural pela instabilidade dos próprios parlamentares. Então, é fundamental que o governo redobre a articulação política, os cuidados, o respeito com
Eu espero que ela dê mais atenção. Acho que os ministros Mercadante (ministro-chefe da Casa Civil) e Berzoini são excelentes quadros, mas eles seguem uma orientação política da presidente. É importante que a Dilma redobre a atenção na articulação política entre os partidos e os parlamentares, porque são estes parlamentares que serão os pontas de lança em uma campanha eleitoral difícil, dura e sem favoritos. Isso tudo por conta destas movimentações sociais, esta ausência de representatividade que parte da população entende existir, tudo isso é um campo aberto para qualquer tipo de movimentação e tendência eleitoral, e tem de ser bastante analisado e amadurecido.
Quais pontos da Reforma Política o senhor defende e acredita serem mais importantes nesse projeto?
Defendo a junção das eleições, já que o custo de termos pleitos a cada dois anos é muito alto e gera dificuldade para a gestão pública. O calendário da gestão pública (de governadores, prefeitos e presidente) fica comprometido pelo calendário eleitoral. Defendo mandatos de seis anos, sem reeleição para o executivo. Além dos custos reduzidos, o setor público poderia trabalhar sem
a pressão constante das eleições. Eu defendo ainda que a eleição para parlamentares seja majoritária, em que os mais votados se elegem, acabando assim com as coligações proporcionais. A população não entende quando um deputado federal é eleito com 100 mil votos e outro que teve mais votos não se elege. Sou contra o financiamento público de campanha, já que a população não entende que se use o dinheiro público em partidos políticos para bancar campanhas. O projeto não terá uma boa repercussão na sociedade. Defendo a doação de empresas, mas com determinado limite, controle e transparência, para que as pessoas possam saber quem doou e de que forma fez a doação.
O desenvolvimento regional teve avanços no país?
Na verdade, existe uma redução das desigualdades regionais, mas em um ritmo muito lento. Acho que é preciso criar uma nova política de desenvolvimento regional, concentrando financiamentos. É preciso também mudar esta política de incentivos fiscais, pois se abriu uma guerra fiscal no país, onde todos os estados dão incentivos, o que termina impactando na arrecadação, e todos perdem. A saída é termos investimentos setorizados por região, com recursos subsidiados, com estoques financeiros para determinadas regiões e políticas diferenciadas de taxação e impostos. Não é possível que todos os estados tenham os mesmos termos, porque em uma guerra fiscal, estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, por exemplo, continuarão mais atrativos do que o Norte e Nordeste. Então, temos de focar em uma nova política de desenvolvimento regional que diminua as desigualdades e faça com que a população brasileira tenha o mesmo padrão e a qualidade de vida.
O estado de São Paulo continua resistindo em deixar que o ICMS seja cobrado na ponta, no consumo, ao mesmo tempo em que outros estados do Sudeste seguem criticando a Zona Franca de Manaus, que trata a questão tributária de forma única no Fotos: PMDB Nacional
país. Como o senhor tem analisado essas questões?
Fui relator da Reforma Tributária no Senado e aprovamos o Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que seria a cobrança na ponta, como é nos EUA e em muitos países desenvolvidos. Claro que não passou, parou na Câmara dos Deputados, mas eu defendo esse modelo. Como eu já disse, defendo a regionalização dos incentivos fiscais. O caso do Amazonas é emblemático. Se nós queremos preservá-la, se queremos evitar a derrubada de árvores, temos que dar incentivos como a zona franca de Manaus, mas esse modelo não pode ser reproduzido em outras áreas que não têm essa limitação geográfica e logística. Defendo a Zona Franca de Manaus e áreas de livre comércio em estados da Amazônia com potenciais diferenciados e direcionados para a condição do estado. Também acredito que sejam necessários investimentos para regiões do Nordeste para interiorizar o desenvolvimento. Não temos hoje um projeto de desenvolvimento de harmonia para todos os estados. Isso tudo ficará para o novo Governo.
Michel Temer será novamente o candidato a vice de Dilma? Sim, Michel Temer será nosso vice
Dilma deve redobrar a atenção na articulação política, porque serão os parlamentares que serão os pontas de lança em uma campanha eleitoral difícil, dura e sem favoritos” novamente. Estivemos até agora no Governo Dilma e temos de continuar neste projeto. A presidente está a frente nas pesquisas até agora, mas tem de fazer mais política, É importante que o governo corrija suas falhas, atenda aos anseios da população, faça política, fortaleça os partidos e as candidaturas da base, para conseguir a vitória nas eleições desse ano.
Opinião
Injeção na veia
N
ão há porque se surpreender com a decisão do Conselho de Política Monetária do Banco Central – COPOM – da quarta-feira 28 de maio, de manter em 11% a taxa básica de juros, depois de um longo ciclo de elevação da SELIC, iniciado em abril do ano passado. Estava mesmo na hora de parar de aumentar a taxa de juros e será muito bom que ela não volte a subir. Apesar da descrença de muitos, o fato é que a política monetária está produzindo os efeitos programados no comportamento da inflação e mais: o nível da atividade econômica está caindo e há sérias suspeitas de que em ritmo mais forte do que muita gente também imagina. O que falta acontecer é uma virada na expectativa inflacionária que ainda está voltada para cima; e não vira porque o governo insiste no controle de preços, mesmo diante da perspectiva de mais redução nos níveis da atividade em importantes setores. Será muito bom, mesmo, que a maioria das pessoas se convença que a taxa de juros não deve mais voltar a subir. O que ninguém pode duvidar é que o país precisa retomar o desenvolvimento e para isso tem que haver estímulo na medida correta para aumentar os investimentos, o que o governo custou a entender. Agora, animado com o renovado sucesso dos leilões das rodovias, lançou um pacote de oito bilhões de reais em licitações de obras, não apenas as rodoviárias, mas tentando recuperar o tempo perdido na ampliação da infraestrutura dos portos e do transporte ferroviário. No caso dos portos, foi preciso chegar a acordos pontuais de ampliação dos
prazos de concessões para dar tempo ao concessionário para recuperar o capital que investir, o que está sendo feito com bastante rapidez. E, finalmente, está melhorando o modelo para lançamento dos programas das ferrovias. Felizmente, já se percebe que está havendo uma mudança importante - até radical -no comportamento do governo desde que foi convencido de que não podia fixar, ao mesmo tempo, a qualidade do empreendimento e a taxa de retorno do investimento nas concessões. O Brasil está com um nível de emprego muito alto e começa a sentir que não tem mais a disponibilidade de mão-de-obra nativa para atender às necessidades do crescimento. Tornou-se evidente – para todos nós – que é preciso aumentar a produtividade e esse aumento se dá quando se põe mais capital por homem trabalhando. A relação capital por homem é fundamental, pois se o trabalhador só tem uma pá ou um arado ele cultiva 2 hectares; mas se ele passa a trabalhar com um tratorzinho, passa a cultivar seus 15 hectares. Para que a sua produção seja aproveitada, ele precisa ser servido por uma infraestrutura cuja ampliação é importante, porque funciona como uma injeção na veia no aumento da produtividade em toda a economia. Para se ter uma ideia, em três ou quatro anos de realização desses investimentos, os custos para transportar a produção agropecuária dos campos do novo Oeste brasileiro até os mercados de consumo interno ou portos de exportação do Leste ou do extremo Norte poderão ter descontos de 30% e até 40%. É como se tivesse um aumento de produtividade física. É assim que se faz o desenvolvimento.
Antonio Delfim Netto Professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento
O Brasil está com um nível de emprego muito alto e começa a sentir que não tem mais a disponibilidade de mão-deobra nativa para atender às necessidades do crescimento
Walter Santos ws@revistanordeste.com.br
O Brasil na ótica de Domenico Masi Quem acompanha as grandes obras literárias internacionais buscando compreender os rumos da sociedade global, inevitavelmente faz referência ao sociólogo italiano, Domenico Masi, sobretudo à obra “O Ócio Criativo”, no qual avalia criticamente a realidade socioeconômica dos países. De passagem pelo Brasil, ele inseriu o país na lista das sete maiores potências do mundo. Considera que o Brasil alcançou o patamar desenvolvimentista. “O futuro já chegou, não precisa mais esperar. Se um país é o 7º do mundo, significa que o futuro já chegou”, declarou em entrevista. Masi faz uma leitura crítica do Brasil. Para ele, o país copiou a Europa por 450 anos, só que o modelo europeu está
em crise. “O Brasil copiou o modelo americano por 50 anos, mas esse modelo também está em crise. Agora, o Brasil não pode mais copiar modelos. Precisa criar um modelo autônomo”. Como se sabe, o renomado sociólogo traduz em sua obra que “concepção poética, alegre, sensual e solidária da vida, uma propensão à amizade e à solidariedade, um comportamento aberto à cordialidade”. Po r i s s o m e s m o considera ainda que os índios já viviam em “ócio criativo”, numa síntese de estudo, trabalho e lazer.
Forças de um lado...
E de outro...
A primeira quinzena de junho chegou com força na exposição dos grandes enfrentamentos políticos para o Governo nos estados, a exemplo de Pernambuco, onde a presidenta Dilma Rousseff e Lula estiveram no lançamento oficial das candidaturas de Armando Monteiro e João Paulo para o Governo e Senado, respectivamente. Recife registrou numa sexta-feira, pós-vitória do Brasil na Copa, a arregimentação de aliados na construção deste projeto que, pela primeira vez, coloca Lula enfrentando Eduardo Campos.
A propósito, o presidenciável do PSB deu demonstração de força ao assegurar ao seu candidato à sucessão, Paulo Câmara, a maior coligação já registrada em Pernambuco agregando cerca de 21 partidos. No domingo, véspera do segundo jogo do Brasil na Copa, o clube português ficou pequeno para a quantidade de pessoas presentes. Em síntese, será uma das mais fortes disputas estaduais do país.
Flávio Dino se mantém líder A arregimentação produzida pelo senador Edson Lobão Filho como pré-candidato ao Governo do Maranhão mostra visivelmente que a estrutura de poder do Grupo Sarney anda produzindo muitos apoios partidários em torno dele como nome apontado pela governadora Roseana. Entretanto, o deputado federal Flávio Dino se mantém como nome mais lembrado nas pesquisas. O PT, formalmente, tem posicionamento em nível de buscar agradar aos Sarney, mas boa parte da militância e parlamentares petistas está com Dino.
Piauí: mudança no Senado
Ceará: Tasso recusa vice
Investe Nordeste
A pressão nos vários níveis para que o ex-governador do Ceará, Tasso Jereissati, aceite ser vice do presidenciável Aécio Neves, como se deu no lançamento da candidatura, não tem sido maior do que sua decisão de disputar o Senado Federal pelo Ceará. As pesquisas apontam sua liderança na preferência popular. A margem de sua liderança nas aferições estatísticas varia acima de 45%. Em segundo lugar, aparece o atual senador Inácio Arruda, do PC do B. José Guimarães, do PT, surge com 8%.
Empresários do Brasil e de Portugal vão se reunir, nos dias 27 e 28/11, em Recife, para discutir oportunidades de negócios em diversas áreas. Os diretores da 3UNO, José Lourenço e Eric Norat, estiveram em Lisboa e, em contato com outros interlocutores europeus, construíram a nova fase de elaboração da programação, que reunirá grandes nomes da economia internacional. O “Investe Nordeste” é o guarda-chuva do evento que ganha visibilidade na imprensa do exterior. A Revista NORDESTE será parceira.
Vaias orquestradas O ex-presidente Lula comentou dias atrás que a vaia recebida por ele quando do Pan-americano, no Rio de Janeiro, foi orquestrada pelo então ex-prefeito do Rio de Janeiro. - Somente depois do ocorrido é que fui informado pela Inteligência da Presidência da República, entretanto, o setor nada antecipou a mim previamente – afirmou.
JUNHO / 2014
João Vicente até que tentou segurar, mas não conseguiu aguentar o pranto diante de difícil realidade política. Ao anunciar o nome do ex-prefeito de Teresina para substituí-lo, o senador reforçou que a chapa permanece unida. “A candidatura de Elmano é a candidatura de João Vicente”, disse.
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Ainda perdura a imagem do senador João Vicente Claudino ao anunciar o nome do ex-prefeito de Teresina, Elmano Ferrer, como candidato ao Senado, mesmo diante de sua decisão de não disputar a reeleição por motivos pessoais, mais especificamente pelo apelo de sua família por não conseguir viver com sua ausência semanal em Brasília.
Política
Dupla petista afinada
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JUNHO / 2014
Por William De Lucca delucca@revistanordeste.com.br
Em primeiro evento político em Pernambuco contra o presidenciável Eduardo Campos, os petistas Dilma e Lula poupam o exgovernador e miram no tucano Aécio Neves
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o primeiro evento político contra o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), e dentro do seu quintal, o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) e a presidente Dilma Rousseff (PT) foram cuidadosos ao discursar no evento de inauguração da Via Mangue, em Recife. Eles tentaram não elevar o tom do discurso, destoando da plateia, que queria ver mesmo era um maior acirramento político. Lula, que não voltava em Pernambuco há três anos, parecia decidido a não falar em Eduardo Campos. O nome do ex-governador, aliás, não foi citado nominalmente por nenhuma das lideranças com direito à fala durante o evento. Ao responder a ‘provocação’ feita pelo deputado federal João Paulo, de que ‘Lula gostava muito do ex-governador’, o ex-presidente manteve a diplomacia, ao invés da guerra declarada. “Dei ao ex-governador o mesmo
tratamento que dei a todos os governadores, pois eu sempre tratei todo mundo igual. Dei a Jarbas Vasconcelos (ex-governador de Pernambuco pelo PMDB e hoje senador) um tratamento e respeito que Fernando Henrique Cardoso (PSDB) não deu. Nós não fizemos distinção pelo partido, porque tínhamos o compromisso de dar o pontapé inicial em uma mudança efetiva no Nordeste”, relembrou o ex-presidente. A presidente Dilma incorporou o discurso de ‘paz e amor’ do aliado, utilizado com sucesso na campanha petista de 2002. Sem citar nominalmente Eduardo campos, Dilma preferiu centrar suas críticas atacando as pretensões do pré-candidato tucano à presidência, Aécio Neves (PSDB). Ela propôs uma comparação de gestões. “Tudo o que eles (os tucanos) não fizeram quando tiveram a oportuni-
Ataques silenciosos
“Nossa vitória será a nossa vingança” Lula
O senador Armando Monteiro, um dos poucos que fez referência mais direta a cisão entre Eduardo Campos e o projeto petista, falou que ele preferiu seguir o projeto que fez Pernambuco avançar, ao contrário do presidenciável. “Nós não trocamos de caminho. Permanecemos do mesmo lado. O lado que fez Pernambuco avançar, em uma parceria que deu muito certo. Esta aliança não é artificial, estamos juntos desde 2002”. O senador aproveitou o momento político para se queixar da forma como vem sendo tratado pela oposição no estado, mais uma vez sem precisar ‘dar nomes aos bois’. Os adversários têm chamado Armando de ‘patrão’, em uma referência ao fato de ele ter presidido a Confederação Nacional da Indústria (CNI), o que tornaria a aliança com o PT um contrassenso. “Eu acho estranho que um em-
presário do lado dele (Eduardo) seja progressista e quando está do lado do PT torne-se patrão. Aprendi com Lula que as pessoas não podem ser julgadas por sua origem social, mas pelo caráter e compromisso. Por isso, reeditamos uma aliança em Pernambuco entre alguém de origem empresarial e de origem sindical”, justificou. O pré-candidato ao Senado, João Paulo, foi mais enfático. Embalado pelos gritos da plateia que entoavam frases como ‘Dudu Traidor’ e ‘Vergonha de Arraes’, o deputado federal recordou que três meses após Eduardo Campos deixar a base do Governo Federal, os socialistas passaram a ver Dilma com outros olhos. “Deixaram de ver Dilma como uma santa para tratá-la como a pessoa que está destruindo o Brasil. O Brasil não aceitará isso e Pernambuco muito menos”, declarou João Paulo.
Fotos: Divulgação
um Lula mais exaltado, chamando a elite brasileira de “preconceituosa”. Ele finalizou, ao ressaltar que “essa campanha corre o risco de ser violenta, porque a elite está conseguindo fazer o que nunca conseguimos fazer: despertar o ódio e que ele tome conta de uma campanha. E (eles) não medirão esforços para a quantidade de mentiras e preconceitos que vão contar. Nós temos que dizer, em alto bom som: se ofender a Dilma estão ofendendo a cada um de nós”. A plenária do PT, realizada em 13 de junho, em uma casa de recepções no Recife (PE), reuniu mais de 2.500 pessoas, entre partidos aliados e lideranças petistas, em torno da pré-candidatura do senador Armando Monteiro (PTB) ao Governo do Pernambuco, e do deputado federal João Paulo (PT), ex-prefeito de Recife, ao Senado.
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dade de governar (esse país) e que criticaram quando nós decidimos fazer, agora eles dizem que farão. Eles dizem que os programas sociais não são monopólio do PT, mas sempre criticaram o Bolsa Família, ao que chamaram de ‘Bolsa Esmola’, o Minha Casa Minha Vida, o Mais Médicos, e porque eles iriam manter estes programas agora?”, cutucou Dilma. Antes de encerrar o seu discurso, Lula alertou os petistas e aliados de que a campanha eleitoral será muito dura e pediu que eles partissem em defesa da presidente Dilma. Ainda fez questão de relembrar o episódio ocorrido na abertura da Copa do Mundo, onde a plateia deu uma vaia e fez xingamentos contra a presidente, o que ele considerou de “cretinice”. “Não foi uma ofensa à presidente, foi um ato de cretinice. A nossa vitória será a nossa vingança”, disse
Quem conhece a política estadual sabe da relação estreita e antiga entre Lula e a família Monteiro. Desde a primeira eleição de Lula, o empresário pernambucano Armando Monteiro Filho demonstrou apoio ao petista, chegando inclusive a externar publicamente que estava no seu palanque. Quando Armando Monteiro Neto assumiu a Confederação Nacional da Indústria, Lula se tornou ainda mais próximo de Armando Neto, que foi interlocutor privilegiado do ex-presidente. Em mais uma demonstração de amizade e lealdada, Lula fez referência ao pai do senador Armando Monteiro, lembrando-se da época em que ele foi ministro da Agricultura no governo de João Goulart, entre 1961 e 1962. À época, ele foi nomeado pelo então primeiro-ministro Tancredo Neves. “Tenho certeza de que naquela época, muitos devem ter criticado Monteiro por estar com um ‘comunista’ como João Goulart, bem como muitos criticam esta união em Pernambuco, mas é uma união pelo futuro do estado, onde todos colaboram”, ressaltou. Lula fez questão de dizer que todas as vezes que veio ao estado foi recebido no aeroporto por Monteiro Filho.
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relação antiga
Política
A tática de Eduardo Por William De Lucca delucca@revistanordeste.com.br
Evitando o confronto direto com Lula, presidenciável do PSB cumpre agendas no Nordeste criticando Dilma e exaltando o ‘jeito de governar nordestino’
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pré-candidato a presidência Eduardo Campos (PSB) não parece estar disposto a esconder como será o seu posicionamento na região Nordeste durante a campanha deste ano. Em visitas recentes a diversos estados nordestinos, o ex-governador de Pernambuco tem deixado claro que não poupará a presidente Dilma Rousseff (PT) de suas críticas, mas que vai adotar uma postura elogiosa aos legados dos ex-presidentes Lula (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em suas viagens, o socialista ataca um dos pontos críticos de Dilma: a falta de diálogo. Por isso, ele sempre reforça que está percorrendo o Brasil para ouvir prefeitos, governadores e a população, a fim de construir um plano de Governo que contemple os interesses de todos os brasileiros. “É fundamental para um presidente dialogar com os prefeitos
Fotos: Divulgação
O professor de ciências políticas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), José Artigas de Godoy, acredita que o discurso do pré-candidato no Nordeste deve girar em torno de dois eixos: a crítica dura à falta de investimentos do Governo Dilma na região, mas sem atingir Lula, e o crescimento exponencial da economia pernambucana nos últimos anos. O relacionamento amistoso com Lula, com quem Eduardo tem afinidade, não deverá ser arranhando no processo. Foi durante os governo do petista que Pernambuco recebeu os maiores investimentos econômicos de sua história, através do Banco do Nordeste, do BNDES e do próprio Governo Federal, como na implantação do Polo Petroquímico de Suape. Contudo, esse cenário mudou com a eleição da presidente Dilma Rousseff (PT). “Com Dilma, a redução nos investimentos foi drástica, se comparado com Lula, e isto será usado na campanha contra ela”, diz Artigas. A falta de investimentos no estado e obras inacabadas, como a Transposição do Rio São Francisco, alimenta outra crítica frequente de Eduardo contra a atual presidente, onde Dilma
não teria a mesma disposição de Lula para ouvir o povo nordestino. “Neste sentido, ele se colocaria mais próximo a Lula, com a capacidade de entender os problemas do Nordeste. Dilma tem um governo com a cara do Sul e do Sudeste, distante da nossa realidade”, explica o cientista político. Em outras regiões do Brasil, o ex-governador de Pernambuco deve usar justamente seu legado no estado, construído com a colaboração de Lula, como exemplo de boa administração, com crescimento econômico e social acima da média nordestina e nacional. Com isso, pode reverter parte dos votos de Lula, mas não deve ultrapassar Dilma na região. “O PT tinha seu voto historicamente ligado às grandes cidades industriais, como São Paulo e Porto Alegre, mas isso mudou depois de 2002, quando o voto no partido passou a ser de regiões mais pobres e com eleitorado menos escolarizado, principalmente no Norte e Nordeste. Com o aumento de renda, com os programas sociais como Bolsa Família, Luz para Todos e Minha Casa Minha Vida, ficou difícil para alguém reverter esse voto petista nestas regiões”, finaliza Artigas.
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Discurso pronto
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de todo o país. Eles precisam de novos critérios de partilha da receita, para que os municípios possam melhorar seus serviços públicos”, disse em visita a Paraíba durante o mês de maio. A crítica a falta de diálogo, na maioria das oportunidades, é seguida por trechos de seu plano de governo, ainda em construção, e que, diferentemente do Brasil que se vê em Brasília, teria interlocução com os cidadãos. “Os brasileiros acordam cedo, trabalham muito, pagam muito imposto e querem ver muito mais do que têm visto”, atacou Campos, em visita ao Rio Grande do Norte. O reforço do combate ao Governo Dilma na região faz sentido. Em 2010, a presidente recebeu 18,4 milhões de votos nordestinos, mais do que o dobro do que seu concorrente à época, José Serra (PSDB), que recebeu 7,6 milhões. Previamente dominada por Lula, o Nordeste passou a ser considerado reduto certo dos petistas, o que causará problemas para Eduardo durante a campanha. E como defensor do legado de Lula, ele terá de se desdobrar para explicar a população porque devem votar nele e não em Dilma, sucessora e protegida política do ex-presidente. Campos vêm se esforçando. Por onde passa diz que o Brasil cresceu com FHC e com Lula, mas que estagnou com Dilma. Critica a fragilidade econômica do país, a falta de perspectivas de crescimento e o inchaço da máquina pública. A solução para estes problemas? Eleger outro nordestino que, como Lula, teria a capacidade de entender os problemas do Brasil e, principalmente do Nordeste. “Não tenho dúvida de que o Brasil vai votar homogeneamente na mudança, o país cansou desse jeito de governar, quer um novo jeito, sem corrupção, combatendo a inflação, baixando os juros. É fundamental para o Brasil como um todo, mas principalmente para o Brasil mais pobre, que é o Nordeste, e é essa região de onde venho, que eu conheço, que sei como as pessoas vivem, com tanta luta. Não tenho dúvidas de que vamos ganhar no Nordeste e que vamos ganhar no Brasil”, projeta o pré-candidato.
Política
Aécio Neves confirma candidatura, mas ainda sofre com isolamento nas alianças imposto por Dilma e Eduardo Por William De Lucca delucca@revistanordeste.com.br
Só falta um vice e uma agenda
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m um evento que contou com poucos apoios políticos, o senador Aécio Neves (PSDB) tornou-se oficialmente candidato à Presidência da República. Com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) como maior personalidade política no palco ao seu lado, Aécio demonstra o quão difícil tem sido conseguir apoios políticos para a sua empreitada como candidato e como o PSDB tem ficado isolado na composição dos acordos eleitorais. O número de partidos na base tucana caiu consideravelmente em quatro anos. José Serra (PSDB), ex-presidenciável e que também esteve no evento para apoiar o colega mineiro, contou com PPS, PTB, PMN, DEM e PTdoB em seu palanque. Muito antes do prazo para
que as coligações estivessem oficializadas, Aécio já havia perdido o PPS para Eduardo Campos (PSB) e o PTB para Dilma Rousseff (PT). Os nanicos PMN e PTdoB decidiram continuar com os tucanos, bem como o aliado histórico DEM. A novidade fica por conta do Solidariedade (SDD), partido criado de uma dissidência do PDT, liderado pelo deputado federal Paulinho da Força (SDD), com o objetivo de compor com o PSDB. No palco, durante o evento realizado em São Paulo na metade de junho, Aécio demonstrou que não parece ter uma agenda definida para os problemas do país, e que vai propor uma comparação entre as gestões do PT e as do PSDB frente ao Governo Federal. O candidato começou seu discurso dizendo
que a ‘herança deixada por FHC está se esvaziando’ e deu como exemplo a volta da inflação e a desvalorização da Petrobras, ‘que deixou de frequentar as páginas econômicas para sair nas policiais’. “Cada ato é consequência de um governo que governa para si mesmo e que perdeu a capacidade de ouvir”, disparou. Aécio concluiu fazendo uma referência a JK e Tancredo. “Se coube a JK permitir o encontro com o desenvolvimento há 60 anos, Tancredo proporcional o reencontro com a democracia 30 anos depois. Outros 30 anos se passaram: que haja o reencontro com a decência, eficiência e a coragem. Aceito hoje a indicação do meu partido. Sou candidato à Presidência da República para mudar o Brasil”, disse.
Aliados abrem fogo
VICE INDEFINIDO
Ao contrário das aparições públicas de Dilma Rousseff, que tem evitado ataques diretos aos adversários, e de Eduardo Campos, que tem poupado críticas ao ex-presidente Lula (PT) e elogiado avanços das gestões petistas nos últimos 11 anos, Aécio e seus aliados partiram para o ataque desde o início da campanha. No evento que confirmou a candidatura do senador mineiro, o deputado federal Paulinho da Força (SDD), partidário de Dilma na campanha anterior, lembrou a vaia recebida pela presidente na abertura da Copa do Mundo. “Quando o telão mostrou a mulher, o povo mandou ela pro lugar que devia mandar”, disparou. O ex-governador de São Paulo e cotado como candidato a vice-presidente de Aécio, José Serra, foi ainda mais duro contra o PT, falando de ‘economia estagnada, inflação aumentada e saúde avançando para trás’. “Para se chegar a isso, tem de se ter uma incompetência convicta, de muito talento, como é o de Dilma”, criticou Serra. Já o ex-presidente FHC chamou o governo atual de arrogante e disse que os petistas querem culpar a imprensa e a oposição por tudo, enquanto a campanha do PSDB está unida. Sobre Aécio, uma homenagem ao avô: “Eu venho de outra época. Assisti de perto às transformações das Diretas Já e a redemocratização. Tancredo Neves deu a vida para que o Brasil pudesse mudar. É deste que descende Aécio”, disse FHC.
Com poucas alianças e perspectivas de novos aliados, Aécio tem como desafio definir quem será seu vice. Para o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UNB), o tucano perde a oportunidade de angariar votos com seu companheiro de chapa, como fazem alguns de seus oponentes. “Eles têm até o fim deste mês para definir um nome e devem tentar atrair alguém de partidos como o PP (Partido Progressista) ou o PR (Partido da República), ou seja, tirá-los da coligação da presidente Dilma. O PSDB estuda agora nomes dentro dessas siglas que tenham ficha limpa, como Ciro Nogueira. Ou vão manter uma chapa pura, com membros do próprio PSDB, como é o caso do senador Aloysio Nunes Ferreira”, projetou, em entrevista ao iG.
Aloysio Nunes
O senador do PSDB aparece como principal opção por agradar o complicado eleitorado paulista, que tem receio em votar em candidatos de fora do estado
José Serra
Ex-candidato à presidência, Serra continua cotado e aparece como nome forte entre os tucanos, a fim de agradar a ala paulista da legenda
Tasso Jereissati
Presidente nacional do DEM, o senador pelo Rio Grande do Norte é cotado como vice na chapa de Aécio por conseguir aglutinar lideranças políticas no Nordeste
Mara Gabrilli Deputada federal por São Paulo, ela foi citada em algumas oportunidades por fazer parte dos movimentos sociais em defesa dos deficientes e por ser mulher
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José Agripino Maia
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Ex-governador do Ceará, Tasso surge como opção para entrar no eleitorado nordestino, visto que PSB e PT têm mais identificação com o eleitorado local, graças a Eduardo e Lula
Política
tElhADO DE ViDRO Os principais postulantes à presidência têm motivos de sobra para temer problemas recentes e fantasmas do passado Por William De Lucca delucca@revistanordeste.com.br
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m ano eleitoral, todo o passado de vida pública (e até privada) dos candidatos é devassado e usado fartamente nos materiais publicitários de adversários. Quando o aspirante em questão pleiteia a Presidência da República, cargo mais alto no escalão da administração pública, a devassa nos fantasmas e nas deficiências é ainda mais detalhista e usada sem restrições. Nas eleições deste ano, os principais adversários da presidente Dilma Rousseff (PT), o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), e o senador e ex-governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), terão que, além de se enfrentar nas urnas, encarar as fragilidades durante a campanha. Por estar no comando do país, Dilma é quem está mais exposta. Com o desgaste ocasionado por 12 anos de gestão petistas
e a retração na economia, ela tende a ser mais afetada por problemas nacionais nos próximos meses, incluindo as manifestações contra a Copa no Brasil. O resultado do Mundial pode afetar significativamente à sua reeleição. “O resultado da Copa do Mundo afeta diretamente Dilma. Eu acredito que foi mais um tiro no pé (a escolha da sede). Se a oposição souber vender negativamente os resultados econômicos desta Copa, pode causar estragos”, diz o professor de Ciências Políticas da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Ranulfo Paranhos. O tucano Aécio Neves, que aparece em segundo lugar em todas as pesquisas de intenção de voto, enfrenta um problema compartilhado com o socialista Eduardo Campos: a falta de ‘nacionalização’ da campanha. Aécio tem dificuldade
em conquistar o eleitorado no segundo maior colégio eleitoral do Brasil, a região Nordeste. Para a cientista política e coordenadora do Grupo de Pesquisa Opinião Pública, Marketing Político e Comportamento Eleitoral da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Helcimara Telles, Aécio também tem dificuldades em construir alianças e de se apresentar como a mudança. “Ele tem pouca penetração nacional em importantes colégios eleitorais, como no Nordeste, por exemplo. Ainda que obtenha uma grande votação em Minas Gerais, terá que disputar com Eduardo a imagem do candidato da mudança. No Nordeste, a tendência é que Campos seja beneficiado”, explica Helcimara. Para chegar a colégios eleitorais onde não tem capilaridade, o ex-governador de
pernambucano tem como trunfo sua vice Marina Silva (PSB). Em 2010, ela conquistou 20 milhões de votos e terminou a corrida presidencial em terceiro lugar, com votações expressivas em estados como Distrito Federal, Amazonas, Pernambuco e Rio de Janeiro. Enquanto a campanha não começa oficialmente, Eduardo segue como opção regional e com pouca expressão em outras partes do país. “Ele está tendo dificuldades em nacionalizar a campanha e ainda permanece regionalizado. O PSB detém muitos governos estaduais, mas a maioria é no Nordeste, o que complica a visibilidade de Eduardo. Ele foi um bom ministro da Ciência e Tecnologia no Governo Lula, mas só isso não é suficiente”, analisa o cientista político da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Michel Zaidan. Fotos: Divulgação
Com 12 anos de gestão petista, o ânimo do eleitor da presidente Dilma Rousseff e da coalizão que sustenta o Governo Federal está caindo. Problemas políticos, falta de diálogo e a economia fragilizada podem ser outros empecilhos para a tentativa de um quarto mandato consecutivo petista
Resultado da Copa
Cansaço da gestão
A 30 dias do início do Mundial no Brasil, quase metade das obras prometidas pelo Governo Federal não havia sido entregues e com pior índice nas obras de mobilidade urbana (10%). Muitas delas podem ficar para depois da Copa, o que complica o discurso governista sobre o legado. O resultado da competição dentro de campo também pode ser fator decisivo, já que uma derrota do Brasil poderia causar um clima de pessimismo e que, aliado ao discurso da oposição sobre os gastos na execução do torneio, pode prejudicar a campanha.
Quando um grupo político fica muito tempo no poder e não há renovação ou rotatividade entre os partidos, há um desgaste natural. Com 12 anos de gestão e pleiteando outros quatro, o eleitor pode pensar que os petistas estão enraizados no Governo Federal. “Quando você tem um governo há 12 anos e com propostas de chegar a 16, existe um desgaste natural. O eleitor se pergunta como o gestor fará em quatro anos o que não conseguiu fazer em 12”, explica o cientista político Ranulfo Paranhos.
Falta de diálogo Em quase quatro anos de gestão, Dilma foi comparada insistentemente com Lula e uma diferença ficou clara: a atual presidente dialoga menos do que o anterior. A reclamação parte desde grupos de empresários, passando por movimentos sociais e chegando nos partidos da base, que ensaiaram um ‘Volta Lula’, saudosos dos tempos de diálogo mais aberto. Insatisfeitas, algumas siglas aliadas pensam em deixar o apoio a Dilma e até flertam com outras coligações.
Economia frágil Se os resultados sociais do Governo Federal têm agradado principalmente as classes menos favorecidas, os resultados econômicos preocupam especialistas e já mune o discurso da oposição, que critica o crescimento econômico tímido do Brasil nos últimos anos e o risco da volta da inflação. “É difícil para o eleitor médio entender com clareza esta fragilidade econômica, até que ele sinta no próprio bolso. Esta pode ser uma arma se a oposição souber usar estas informações de forma eficiente”, projeta Ranulfo.
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Os outros pré-candidatos com campanhas em andamento, como Pastor Everaldo (PSC), Randolfe Rodrigues (PSOL), Eduardo Jorge (PV), Mauro Iasi (PCB), José Maria Eymael (PSDC), Zé Maria (PSTU) e Levi Fidélix (PRTB) enfrentam o problema da invisibilidade. Com curto tempo de TV no horário eleitoral gratuito, estes partidos têm pouca esperança em voos mais altos e acabam usando o espaço para reafirmar posicionamentos ideológicos das legendas e aumentar as chances de eleição de candidatos aos legislativos estaduais e federal.
Dilma desgastada
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Pequenos e invisíveis
Aécio isolado A campanha do rival Eduardo Campos já causou um estrago na base do PSDB. O PPS, que há duas eleições aliava-se aos tucanos, anunciou apoio ao PSB e outros partidos aliados devem abandonar os tucanos e embarcar na campanha socialista. Além disso, Aécio também tem problemas em se tornar nacional e pode ter questões de ordem pessoal levantadas na campanha
Poucos partidos Com a confirmação oficial apenas do Solidariedade (SDD) e do PMN, e com o possível apoio do Democratas (DEM), Aécio terá pouco tempo no horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, ponto crucial nas pretensões do tucano. Ele disputa com Eduardo a aliança com o PTC, PTdoB, PTN, PEN e PSL e já confirmou apoio de nanicos como PHS, PPL e PRP.
Vida conturbada Boatos de abuso de álcool permeiam Aécio Neves, mesmo que nada disso tenha sido confirmado. A vida pública de ‘playboy’ pode ser utilizada contra ele, afetando a intenção de voto de eleitores mais conservadores. “Se esta vida conturbada não afetou o seu desempenho em Minas Gerais, pode ter outros efeitos na campanha nacional e impedir seu crescimento”, analisa Helcimara Telles.
nacionalização Difícil Com força em Minas Gerais, Aécio tem poucos palanques fortes quando sai de seu estado natal. No Nordeste, segundo maior colégio eleitoral do país, terá de encarar os nativos Eduardo Campos e o ex-presidente Lula, que estará trabalhando ativamente na campanha de Dilma. Em São Paulo, reduto tradicional do PSDB, o governador Geraldo Alckmin flerta com Campos e pode minar ainda mais a campanha do senador.
Sem liderança Ao contrário de Dilma, que construiu uma imagem de liderança, e de Eduardo, que aglutinou forças políticas em seu estado e alcançou grandes índices de aprovação, Aécio não consegue se mostrar como líder, com preparo para assumir a presidência. “A imagem é pouco alicerçada na figura de líder, ao contrário de Campos e Lula, com pulso e experiência para dirigir um país profundamente dividido. O que farão CUT e MST num Governo Aécio?”, questiona o sociólogo da UFMG, Rudá Ricci. Fotos: Divulgação
Eduardo desconhecido Mesmo com a aliança com Marina Silva, o nome de Eduardo Campos ainda não conseguiu decolar nas pesquisas de intenção de voto. O socialista vem enfrentando um racha dentro de seu próprio partido e tem dificuldade de se confirmar como candidato da ‘nova política’, já que está aliado a políticos de velhas oligarquias
‘Nova’ Política Para um candidato que busca tornar-se uma terceira via, Campos construiu alianças com grupos conservadores e com oligarquias regionais, como os Bornhausen, em Santa Catarina. Os aliados podem inviabilizar o discurso de renovação política. “As alianças com partidos conservadores têm afastado outros partidos, como o PDT e o PCdoB em Pernambuco. Algo assim também pode acontecer nas alianças nacionais”, diz Michel Zaidan.
Mesmo com os esforços atuais, Eduardo ainda não se tornou um nome nacional. Nem a aliança com Marina Silva trouxe, até agora, o resultado esperado no crescimento do pré-candidato do PSB. Faltando cinco meses para as eleições, Campos terá que conseguir aliados pontuais em estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste para obter palanques de peso e se viabilizar nacionalmente.
Marina Silva Considerada a grande reviravolta da pré-campanha, a união de Eduardo com Marina Silva pode não ser tão vantajoso para o socialista quanto parece. Por conta do discurso ambientalista, Marina afasta apoiadores do agronegócio e dificulta a captação de recursos. Com capital eleitoral de 20 milhões de votos, ainda não se sabe qual será o nível de transferência dos votos de Marina para Campos.
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Com a simbiose gerada durante 10 anos na base dos governos petistas, muitos nomes do PSB ficaram desagradados com o rompimento anunciado por Eduardo com os Ferreira Gomes, do Ceará. O episódio causou abalos no PSB e suas principais perdas. Os irmãos Ciro e Cid buscaram abrigo no recém-fundado PROS e levaram consigo uma legião de deputados socialistas que não pensavam em deixar a base de Dilma.
Candidato regional
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Base rachada
Opinião
Joaquim, fique para julgar tucanos e democratas
J
oaquim Barbosa resolve deixar a arena do STF antes de o jogo terminar. Antecipa sua aposentadoria em 11 anos e deixa a presidência do Supremo praticamente um semestre antes do prazo. Surpreende pela saída à francesa, iniciativa que contraria seu hábito de sempre buscar o palco e as luzes da televisão. Compensa, porém, a dieta midiática com as indagações que gera quanto às razões que o levam a essa decisão. Joaquim passa à história do Judiciário como relator e juiz da AP 470, vulgarmente chamada de mensalão do PT, cujo julgamento levou o STF à sala dos brasileiros, através de uma cobertura da imprensa que, em alguns segmentos, pressionou ministros a adotarem, na condenação dos réus, o justiciamento retratado por Arthur Miller em As Bruxas de Salém. Não se pode negar a Barbosa saber jurídico e coragem para censurar e enfrentar o Judiciário e seus agentes, o Congresso Nacional e a classe política no seu todo. Em juízes e advogados criticou o conluio e o tratamento diferenciado dado aos poderosos em detrimento das pessoas pobres, negras e sem conexões. Acusou o Congresso de ser inteiramente dominado pelo Poder Executivo e os políticos de não responderem às questões básicas do povo. Todavia, o julgamento que o tornou uma figura nacional, ao ponto de obter nas pesquisas de intenção de votos, sem estar pré-candidato a presidente, índices superiores a Aécio e Campos, o levou também à adoção de um comportamento que lhe valeu pesadas críticas e contestações. Na defesa de seus argumentos, bateu de frente com colegas do Tribunal, a um acusando de contratar pistoleiros, a outro, de fazer chicana. Recusou-se a receber os maiores criminalistas do país para conversas informais e chegou a mandar jornalista chafurdar na lama. No aspecto jurídico do julgamento do mensalão do PT, Joaquim revelou-se mais implacável que justo, mais inflexível que determinado, mais arrogante que altivo. Negou-se a juntar ao processo o inquérito 2474 que desqualificava “provas” apresentadas contra
os acusados. Comandou um julgamento que misturava pessoas com direito a foro privilegiado com outras que deviam ser julgadas em primeira instância, caminho que o STF não tomou quando apreciou o caso do deputado federal Eduardo Azeredo, principal acusado no mensalão tucano. Inovou juridicamente com a aplicação da doutrina do domínio do fato, o que fundamentou a condenação de José Dirceu. Encerrado o “espetáculo mensalão”, em que as penas aplicadas aos condenados foram, segundo ele mesmo confessou, ampliadas em até mais 75% do que as atribuídas a crimes de maior gravidade, Barbosa prosseguiu na sua sanha justiceira. Promoveu em pleno feriado da Proclamação da República um arrastão aéreo que botou na cadeia, sob os holofotes da mídia, os réus do mensalão, com especial destaque para os petistas. Roberto Jefferson, o delator petebista, seria levado à prisão seis meses depois. Faça-se, porém, justiça. Como relator do mensalão e presidente do Supremo, Barbosa em nenhum momento se preocupou em esconder que o “peixe grande a pescar” era José Dirceu. A ele dedicou especial atenção, inclusive na etapa prisional, ao mantê-lo em regime fechado de prisão, embora condenado ao regime semi-aberto. Quando provocado, negou a Dirceu o benefício do trabalho externo, contrariando o pensamento do Procurador Geral da República e de importantes juristas. Joaquim Barbosa anuncia sua aposentadoria para o final deste mês de junho. Não disse o porquê de sua decisão. Se originada do cansaço, da decepção por não mais comandar o plenário do STF, se do abatimento por ter vivido uma “tarde triste”, em que os condenados petistas se livraram da pecha de quadrilheiros. Ou, ainda, por medo de ameaças; ou pelo orgulho de não sentir-se à vontade ao ter de passar a presidência do STF para Lewandowski, a quem tanto “mimou”. Não integro o coro dos que dizem que ele já vai tarde. Ao contrário, torço para que renuncie à renúncia e permaneça no STF. Seria um nirvana vê-lo participando do julgamento dos mensalões tucano e democrata.
Carlos Roberto de Oliveira Jornalista, consultor de Marketing e sócio da CLG
No aspecto jurídico do julgamento do mensalão do PT, Joaquim revelou-se mais implacável que justo, mais inflexível que determinado, mais arrogante que altivo
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OS GÊNIOS DA BAHIA
Região é celeiro de grandes marqueteiros. Com tradição histórica na política, o estado tem exportado esses profissionais para vários locais Por William De Lucca delucca@revistanordeste.com.br
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que as duas campanhas eleitorais vitoriosas dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Luís Inácio Lula da Silva (PT), e da atual presidente Dilma Rousseff (PT), têm em comum? Todas tiveram seu planejamento e coordenação de marketing comandadas por publicitários do estado da Bahia. João Santana, Duda Mendonça e Nizan Guanaes são os expoentes de uma legião de profissionais responsáveis pela eleição de prefeitos, governadores, senadores e presidentes da República desde a redemocratização, no final dos anos 90. A lista dos baianos é extensa e passa por cabeças brilhantes, como a de Edson Barbosa. Ele comandou a campanha de Eduardo Campos a governador de Pernambuco em 2006 e 2010 e, agora, assumiu a do sucessor Paulo
Câmara no estado pernambucano. Foi responsável também pela indicação da dupla de argentinos, um deles Diego Brandy, para a campanha presidencial de Campos. Fernando Barros se destacou em campanhas fora do país e por ter sido, por longos anos, o homem por trás de Antônio Carlos Magalhães (ACM). O grande sucesso fez o profissional assumir importantes contas no governo petista. Sua agência tem escritórios espalhados por estados como Fortaleza, Brasília, São Paulo e, claro, Salvador. O publicitário Sérgio Amado, presidente do grupo Ogilvy, é um dos mais poderosos homens de negócio da propaganda no país. Ele comanda o grupo de cinco empresas que tem um faturamento bilionário, além do que conquistou posições de liderança no mercado publicitário.
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presidentes das duas casas, a Câmara e o Senado, são nordestinos. A política é uma vocação nata da região. Isso fica mais evidente se você olhar os presidentes das centrais sindicais, das confederações de indústria, todos com muitos nordestinos. Como no Sudeste se gosta de ganhar dinheiro, aqui gostam de fazer política e de fazer bem feito o marketing político”, afirma o especialista em marketing político pernambucano, Antônio Melo. Ele coordenou dezenas de campanhas, com destaque para as do ex-governador do Maranhão, Jackson Lago (PDT), e dos prefeitos Garibaldi Alves Filho, em Natal (RN), e Amazonino Mendes, em Manaus (AM), além de integrar equipes presidenciais de Mário Covas, José Eduardo Santos (em Angola), e Lino César Oviedo (no Paraguai).
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Acre, Roraima, Alagoas, Sergipe, Paraíba e Pernambuco, além do prefeito da capital panamenha, Cidade do Panamá. Zé Nivaldo diz que o marketing político nordestino acompanha o ritmo da propaganda em geral, mas com qualidade técnica inferior às grandes campanhas nacionais, em virtude da disparidade de recurso. “Apesar disso, as campanhas daqui têm qualidade equivalente às demais regiões do país, muitas vezes, até superior a dos estados do Sudeste. Basta comparar para ver que os programas políticos dos vereadores de João Pessoa, nas últimas eleições, deram banho nos de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais”, exemplifica. Apesar de relevante, a vocação regional para as campanhas políticas não advém apenas de uma causa. “Não é só na Bahia, mas no Nordeste inteiro. Se você pegar o Congresso, a maioria dos
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Mas o que fez com que o Nordeste se tornasse um celeiro de marqueteiros políticos? Para um dos principais deles, o publicitário e escritor José Nivaldo Júnior, conhecido apenas como Zé Nivaldo, a falta de espaço na iniciativa privada acaba levando os profissionais em busca de espaços na política. “Entendo isso como uma era, um ciclo que ainda não se esgotou. É uma combinação de talento e oportunidade”, avalia o publicitário. Trabalhando profissionalmente com marketing político desde 1978, o pernambucano participou de quase todas as eleições, em diversas regiões do país. Esteve envolvido, por exemplo, na campanha indireta e vitoriosa do ex-presidente Tancredo Neves e nas duas campanhas presidenciais de Leonel Brizola, além de ter coordenado campanhas nacionais do PDT. Elegeu governadores e senadores no Mato Grosso, São Paulo, Rio de Janeiro,
TALENTO DE SOBRA Os três marqueteiros políticos mais celebrados do país nas últimas décadas são os baianos. João Santana, Duda Mendonça e Nizan Guanaes. Eles têm no currículo vitórias em seis das oito eleições presidenciais desde a redemocratização do Brasil. Outros nomes baianos como Edson Barbosa, Fernando Barros e Sérgio Amado também estão no olimpo da comunicação política no Nordeste e no Brasil
Duda Mendonça
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João Santana
Músico, jornalista, compositor e escritor, João Santana teve mais sucesso na carreira como publicitário. Ele é considerado um dos mais importantes consultores políticos do Brasil e com maior projeção internacional. Comandou o marketing vitorioso de sete eleições presidenciais, o que lhe confere um local destacado no ranking mundial de sua atividade. Coordenou o marketing vitorioso das campanhas de Lula (2002 e 2006) e Dilma Rousseff (2010), no Brasil; Hugo Chávez (2012) e Nicolas Maduro (2013), na Venezuela; Mauricio Funes, em El Salvador; Danilo Medina, na República Dominicana; e José Eduardo Santos, em Angola. Três destas vitórias foram conseguidas em um mesmo ano (2012), um feito inédito no marketing político internacional. Ele ainda disse, em entrevista, que foi o responsável por convencer Lula a ser candidato, no começo de 2001, enquanto nem ele, nem o partido estavam animados com a candidatura. Até mesmo seu sócio na época, Duda Mendonça, defendia os nomes de Eduardo Suplicy ou Tarso Genro. A insistência de Santana parece ter sido positiva.
Nizan Guanaes
Empresário e publicitário, ele começou a trabalhar com marketing político em 1994, com seu sócio Geraldo Walter, coordenando a propaganda das campanhas ao Governo do Paraná, com Jaime Lerner, e do Rio Grande do Sul, com Antônio Britto. No mesmo ano tiveram êxito em eleger o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Quatro anos mais tarde, já sem Geraldo, que morreu em maio de 1998, Nizan começou em carreira solo e foi o responsável pela campanha de reeleição de FHC. Em 2002, sem tanto sucesso, coordenou o marketing de José Serra, derrotado nas urnas por Lula e no marketing para Duda Mendonça. Antes de Serra, o publicitário também foi o responsável pelo ‘fenômeno’ Roseana Sarney, governadora do Maranhão, em sua pré-candidatura à Presidência, em 2002. Nizan dirigiu diversos comerciais de 30 segundos, além do programa nacional do PFL, com 20 minutos de duração, no qual a candidata foi apresentada como uma estadista.
Duda Mendonça conquistou notoriedade com sua primeira agência de publicidade, a DM9, com a qual venceu, por três anos seguidos, o prêmio Leão de Cannes. A entrada do publicitário no marketing político aconteceu com o sucesso de sua agência. Na Bahia, fez campanhas consagradas, como a de Mário Kertész para prefeito de Salvador, em 1985, quando usou, pela primeira vez, o coração como marca, levando a DM9 a ganhar o Top de Marketing de Melhor Campanha Política do país. A campanha de Paulo Maluf (PP) para a Prefeitura de São Paulo, em 1992, projetou o publicitário nacionalmente, com a repetição do coração. Foi responsável pela campanha de reeleição da ex-prefeita Marta Suplicy (PT), em 2004, e pelas campanhas de Ciro Gomes (PROS) e de Cid Gomes (PROS), no Ceará, respectivamente a deputado federal e a governador, em 2006. Em 2002, alcançou sua plenitude com a campanha que levou Lula à Presidência. Duda implementou mudanças na forma de comunicação do PT e do candidato, incorporando um discurso mais propositivo ao partido e mostrando Lula como um candidato emotivo e pacífico. Agora, comandou campanha na Colômbia para o candidato da oposição, o qual perdeu as eleições.
Fotos: Divulgação
Edson Barbosa
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Sérgio Amado
O publicitário baiano Sérgio Amado, presidente no Brasil do grupo Ogilvy, é um dos mais poderosos homens de negócio da propaganda no país. Militante político e social desde a juventude, trabalhou como jornalista antes de embarcar na publicidade, dando uma virada em sua carreira quando se mudou para São Paulo, em 1991, onde tornouse acionista majoritário de uma agência, mais tarde comprada por um conglomerado internacional. Através de sua agência e outras controladas pelo grupo, desenvolveu diversas campanhas eleitorais de sucesso em diversos estados e capitais brasileiras.
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Fernando Barros
Nascido em Feira de Santana (BA), Fernando Barros é o atual presidente da agência Propeg. Com a bagagem de inúmeros projetos de marketing para empresas e entidades, principalmente para os governos estadual e federal, tendo recebido várias láureas, premiações regionais e nacionais. Já recebeu o Prêmio Colunistas Norte/Nordeste como Publicitário do Ano (Edições 1986, 1998 e 2006) e o Prêmio Profissionais de Marketing 2005, pelo estado da Bahia, com o case das Lojas Insinuante. Mas, como todo publicitário baiano tem um pé na política, Barros tem sua história fortemente atrelada ao ex-senador Antônio Carlos Magalhães (PFL), comandando com sucesso seu marketing eleitoral desde a década de 1970. Ainda tem no currículo a participação nas também vitoriosas campanhas de eleição e reeleição de FHC à presidência.
O também baiano Edson Barbosa é formado em jornalismo pela Universidade Federal da Bahia, tendo trabalhado nos jornais A Tarde, Tribuna da Bahia, Jornal da Bahia e Jornal do Brasil. Foi diretor-adjunto de comunicação do Grupo Perdigão e assessor do economista Rômulo Almeida na Clan Consultoria. Foi redator, diretor de criação, diretor de atendimento e diretor de planejamento em agências de publicidade como Norton, DM9, Mendes, Randam, Engenho Novo e Publivendas. De 1987 a 1989, ocupou a Diretoria de Marketing e Promoções da Bahiatursa, empresa oficial de turismo da Bahia. Presidente da agência Link desde 1997, tornou-se especialista na coordenação de projetos de marketing empresarial e político, atuando como consultor de empresários, líderes políticos e administradores no Brasil e no exterior. Seus dois trabalhos de maior sucesso, entretanto, são mais recentes. Barbosa respondeu pelas campanhas vitoriosas de Eduardo Campos ao governo de Pernambuco, em 2006 e 2010, e está escalado para a campanha de Paulo Câmara (PSB) ao governo pernambucano.
pioneiros no marketing Estratégias de comunicação aplicadas a campanhas eleitorais não são exatamente novas. Um exemplo é a criação do slogan “Varre, varre vassourinha”, na campanha eleitoral à presidência de Jânio Quadros, em 1960. A jogada de marketing virou símbolo da varredura que ele prometia fazer na imoralidade e na corrupção, impulsionado por um jingle em ritmo de marchinha carnavalesca, composto por Maugeri Neto. Ainda que trabalhado de forma embrionária e muitas vezes intuitiva (e criativa) no país durante o final do século passado, o marketing eleitoral só ganhou ares profissionais a partir da campanha do ex-presidente Fernando Collor de Mello (PMDB). Ele trouxe para a sua campanha, em 1991, experiências mercadológicas praticadas em outros países como França e Estados Unidos. “O primeiro passo foi a criação do slogan ‘caçador de marajás’. A maioria do eleitorado brasileiro não sabia o que era um marajá, mas acreditava ser uma pessoa rica, que esbanjava dinheiro, e que Collor combateria o gasto inadequado”, explica o jornalista, consultor de marketing político e colunista da Revista NORDESTE, Carlos Roberto de Oliveira. O resultado foi positivo e Collor ganhou as eleições. Entretanto, a experiência que colocou o Brasil no mapa dos grandes casos bem sucedidos de marketing político foi a eleição do presidente Lula (PT), em 2001. Carlos
Roberto relembra que Lula tinha uma grande rejeição, principalmente entre os eleitores de classe média. “Nordestino, barbudo, voz rouca, língua presa, atarracado, sindicalista, sem educação formal ou experiência política relevante, Lula tinha tudo para dar errado, mas a competência de Duda Mendonça em gerir o marketing da campanha transformou-o em um candidato humilde, com um discurso conciliador, um trabalhador que poderia representar o povo na presidência. Deu tão certo que Lula é o presidente mais popular do Brasil até hoje e será por muito tempo”, diz Carlos Roberto.
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NÃO HÁ SEGREDO NA FÓRMULA Apesar de toda a mística por trás do que realmente o marketing político faz, não há segredo na fórmula. Ele trata apenas da implantação de técnicas de marketing e comunicação social para conquistar a aprovação e simpatia da sociedade. O objetivo é construir uma imagem de um candidato que seja sólida e que consiga transmitir confiabilidade e segurança à população, elevando o seu conceito na opinião pública. De acordo com o consultor político e de estratégias eleitorais, Gilberto Musto, diferente do que as pessoas imaginam, o marketing político atua com ajustes ao comportamento, fala, aparência, condução à liderança de grupos sociais aos quais a pessoa milita, mas não muda a personalidade de ninguém. “Ele prepara o candidato para ser um líder e conquistar a confiança do eleitor, assim como faz uma moça ou um rapaz na preparação para um primeiro encontro. Ao usar um bom perfume, um vestido, uma camiseta na cor da moda, eles estão empregando uma forma de melhor se posicionarem na avaliação do par”, diz. O consultor completa que estes ajustes devem ser feitos em qualquer situação, inclusive na política. “É que na política isso ganha maior relevância”, justifica. Ele completa que as verdadeiras ações que alavancam uma campanha não são de marketing político e sim de marketing eleitoral. “Aí é que entram as estratégias fortemente empregadas para se mobilizar a opinião pública em 90 dias, acerca de tornar conhecido um candidato e suas propostas. No marketing eleitoral empregamos uma série de técnicas de mobilização de massa para que a maioria se decida pelo candidato”. No planejamento de uma campanha, os marqueteiros e outros profissionais têm de conhecer o seu cliente, o candidato em questão, e seus adversários, suas virtudes e defeitos. “Uma boa pesquisa é fundamental para definir a estratégia que você vai usar para promover o seu candidato e combater os adversários. Apesar de ter um plano definido, a campanha tem vida própria, então pesquisas constantes e completas da opinião do eleitor, da imagem do candidato e dos adversários mudam os planos o tempo todo. O dia a dia é importante para promover estas mudanças”, adianta o especialista em marketing político Antônio Melo. Fotos: Divulgação / Shutterstock
GUIA ELEITORAL AINDA RENDE Mesmo ignorados por parte dos brasileiros, os programas eleitorais veiculados no rádio e na televisão ainda são ferramentas importantes no composto das campanhas políticas. Especialistas defendem eficácia dos guias eleitorais em vários formatos de mídia.
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O programa eleitoral de TV com menor audiência ainda terá maior público do que todos os eventos presenciais da campanha somados” Zé Nivaldo
de comunicação. “As operadoras liberam o acesso ao Facebook e Twitter, mas não permitem ao usuário navegar em qualquer outro site. Desta forma chegamos a classe D e E, que até meses atrás não podiam estar se comunicando pelo celular, em uma rede social. Aplicativos, interações, likes e compartilhamento, auxiliam a mobilização da opinião pública em favor ou contra o candidato”. Parte dos políticos tem usado com frequência as redes sociais como canal de comunicação, mas tem compreendido de forma equivocada a forma como acontece a interação nestes espaços. O consultor político Zé Nivaldo diz que o uso de ferramentas como o Facebook tem aberto mais o debate e aumentado a participação da sociedade. “O eleitor agora não apenas ouve os políticos, como fala com ele nas redes sociais. O marketing precisa estar sintonizado com as inovações e tendências, mas alguns marqueteiros têm demonstrado uma compreensão incorreta das redes sociais. Elas têm que ser usadas, não manipuladas”.
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Aquele percentual de eleitores que assiste pode decidir uma eleição. Ele gosta, presta atenção e se alimenta daquelas informações. Ele passa a ser um propagador daquilo que viu” Carlos Roberto de Oliveira
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A revolução que tem mudado a forma como os indivíduos se relacionam com marcas e com outras pessoas não poderia deixar o mundo político-eleitoral impune. Autor do livro “Estratégias políticas para redes sociais”, o consultor Gilberto Musto define bem este espaço que ganha cada vez mais relevância em uma campanha, porém é apenas uma fração de todas as estratégias que compõe o marketing eleitoral. “A internet tem um verdadeiro poder de mobilização, mas não decide uma eleição para o lado positivo do candidato. O que pode seguramente fazer é um grande estrago na campanha, se não for bem administrada, conduzida e planejada na comunicação virtual. O candidato tem uma identidade, e como tal, deve ter um posicionamento de mercado no mundo on-line, como no off-line. Perceber tendências, monitorar as redes sociais e se postar como um parceiro na internet (que é diferente de redes sociais) faz a diferença. E por isso, o candidato deve ter uma equipe de comunicação voltada à gestão de conteúdo, gestão de relacionamento e monitoramento”, conta Musto. Para ele, este investimento provocaria um poder de interação diferente daquele político que utiliza a internet como meio
O rádio é muito importante. A TV da mesma forma. Em nosso Brasil, de proporções continentais, ambos os veículos têm importância fundamental em uma campanha” Gilberto Musto
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uma revolução digital
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Política
OAB reage contra Joaquim Barbosa Em ataque de fúria, presidente do STF manda seguranças expulsar advogado de condenado no Mensalão e recebe duras críticas de entidades de classe
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m um ato de desrespeito à Constituição Federal e ao direito à palavra durante as sessões do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da casa, Joaquim Barbosa, mandou seguranças da Corte retirarem do plenário o advogado Luiz Fernando Pacheco, que defende o ex-deputado José Genoino. O fato aconteceu na sessão do dia 11 de junho. Barbosa deu a ordem, após Pacheco subir à tribuna para pedir-lhe que liberasse o recurso no qual Genoino diz que tem complicações de saúde e precisa voltar a cumprir prisão domiciliar. No momento, os ministros estaLuiz Fernando Pacheco vam julgando a mudança no
tamanho das bancadas na Câmara dos Deputados. Ao subir à tribuna e interromper o julgamento para cobrar de Barbosa a liberação do recurso, Pacheco foi questionado pelo presidente: “Vossa Excelência vai pautar? (a Corte)”. O advogado respondeu: “Eu não venho pautar. Venho rogar a Vossa Excelência que coloque em pauta, porque há parecer do procurador-geral da República (Rodrigo Janot) favorável à prisão domiciliar deste réu, deste sentenciado. Vossa Excelência, ministro Joaquim Barbosa, deve honrar esta casa e trazer aos seus pares o exame da matéria”, respondeu Pacheco. Após dizer duas vezes: “eu agradeço à Vossa Excelência”, na tentativa de cortar a palavra de Pacheco, Barbosa determinou a retirada do advogado do plenário. “Eu vou pedir à segurança para tirar este homem”, disse Barbosa.
Ao ser abordado pelos seguranças, o advogado protestou: “isso é abuso de autoridade! Isso é abuso de autoridade”, gritou. Joaquim Barbosa ainda retrucou: “Quem está abusando de autoridade é Vossa Excelência. A República não pertence a Vossa Excelência, nem à sua grei (grupo). Saiba disso”. No dia 4 deste mês, o procurador Rodrigo Janot enviou ao Supremo parecer favorável ao regime de prisão domiciliar para Genoino. Segundo Janot, o ex-deputado deve voltar a cumprir pena em casa enquanto estiver com a saúde debilitada. Ele foi condenado a quatro anos e oito meses de prisão em regime semiaberto na Ação Penal 470, o processo do mensalão. Para o procurador, há dúvidas sobre as garantias de que Genoino terá atendimento médico adequado no Presídio da Papuda, no Distrito Federal, onde está preso.
Entidade faz nota de repúdio Numa reação imediata, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) divulgou repúdio contra Joaquim Barbosa, dizendo que ele deve dar as devidas explicações à advocacia brasileira, repudiando o ocorrido na Corte de forma veemente. “O presidente do STF, que jurou cumprir a Carta Federal, traiu seu compromisso ao desrespeitar o advogado
na tribuna da Suprema Corte. Sequer a Ditadura Militar chegou tão longe no que se refere ao exercício da advocacia. A OAB nacional estudará as diversas formas de obter a reparação por essa agressão ao Estado de Direito e ao livre exercício profissional. O presidente do STF não é intocável e deve dar as devidas explicações à advocacia brasileira”, declarou a entidade.
Veja o que disseram
“É ruim em termos de estado democrático de direito. O regime é essencialmente democrático e o advogado tem o direito à palavra, pelo Estatuto da Advocacia, e estamos submetidos ao princípio da legalidade” - Marco Aurélio Mello, ministro do STF
“Nem dos anos de chumbo, os advogados que militaram nos tribunais foram submetidos a um espetáculo degradante e humilhante como esse. Trata-se de uma página lamentável da Justiça brasileira e uma mancha insuportável na história do Supremo Tribunal Federal” - Técio Lins e Silva, presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB)
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DIáLOGO TENSO
Luiz Fernando Pacheco - Eu não venho pautar. Venho rogar à V. Exa. que coloque em pauta, porque há parecer do procurador- geral da República favorável à prisão domiciliar deste réu, deste sentenciado. E V. Exa., ministro Joaquim Barbosa, deve honrar esta casa e trazer aos seus pares o exame da matéria. Joaquim Barbosa - Eu agradeço à V. Exa.
Fotos: Agência Brasil / STF
Joaquim Barbosa - Eu agradeço à V. Exa. (Barbosa diz que vai cortar o som) Luiz Fernando Pacheco - O procurador... pode cortar a palavra que eu vou continuar falando (Cortam o som)
“O presidente do STF, mais uma vez, demonstrou a sua intolerância com o debate técnico, desrespeitando um advogado que estava exercendo de maneira legítima a defesa dos direitos do seu cliente” - Advogado e defensor do ex-ministro José Dirceu na Ação Penal 470, José Luis Oliveira Lima
Joaquim Barbosa - Eu vou pedir à segurança para tirar este homem. Segurança, tira.... Luiz Fernando Pacheco - Isso é abuso de autoridade! Isso é abuso de autoridade... Joaquim Barbosa - Quem está abusando de autoridade é V. Exa. A República não pertence à V. Exa. Nem à sua grei, saiba disso.
“A atitude do ministro Joaquim Barbosa revela absoluta e inaceitável violação às prerrogativas de um advogado no seu legítimo exercício profissional, atitude essa que merece o mais profundo repúdio de toda a comunidade jurídica” - Marcelo Knopfelmacher, presidente do Movimento de Defesa da Advocacia
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Joaquim Barbosa - V. Exa vai pautar?
Luiz Fernando Pacheco - Pedimos que ele viesse a regime domiciliar...
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Luiz Fernando Pacheco - Há parecer do Procuradoria Geral da República favorável. Vossa excelência, deve honrar esta casa e trazer a seu parecer o exame da matéria que está conclusa, e não está pautada. Por isso mesmo eu venho...
Opinião
O Reino de Lula
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á algo de podre no reino da Dinamarca”, considerou o príncipe Hamlet a respeito do naufrágio moral do país escandinavo, na mais longa e provavelmente complexa das tragédias de Shakespeare. A peça do dramaturgo eterno tem como cenário histórico o ambiente de corrupção, roubo, assassinato, incesto e suicídio que dominava o trono da velha Dinamarca. No entrecho, o angustiado príncipe descobre que um ambicioso tio matou o rei, seu pai, se apossou da viúva, sua mãe, com quem se casou, e ainda por cima planeja deportá-lo. Para sobreviver, Hamlet finge-se de louco, ao tempo em que desencadeia sobre o trono um projeto de vingança do qual ninguém escapa - nem ele mesmo. Outro dia, um subintelectual caboclo, cultor da sinistrose, no propósito de interpretar o que se passa no Brasil contemporâneo, vaticinou num jornalão carioca que havia “algo de podre” no cenário político e social tupiniquim. Sua tese, formulada em tom arrebatado, era de que, dentre em breve, o país, o vosso país, iria cair de podre. Literalmente. Na sua ira defasada, o subintelectual esquerdista, antigo vassalo de Lula, profetizava ameaçador: “Tudo vai explodir em 2015! Tudo vai explodir”. Já outro cronista fez previsão esdrúxula: diante do tecido purulento que encobre o governo socialista-leninista, vislumbra para breve o fim melancólico do PT que há mais de década corrompe oficialmente o Gigante Adormecido. Ele prevê (um tanto por idealizado desejo) o fim do governo petista nas próximas eleições, projetando, por outro lado, a vitória da inexistente oposição, que, para ele, uma vez eleita, presumivelmente encontrará enormes barreiras para exercer o poder. Vamos por partes (como diria o açougueiro Jack). Em primeiro lugar, é preciso dizer que o Brasil não “vai cair de podre”, e isto por uma simples razão: ele já caiu. Digo e repito: de
podre, ele já caiu. Basta olhar. Com efeito, o combalido organismo da nação está encharcado de pus, um pus denso e abundante a porejar por todo seu corpo institucional, pus que viceja nas cátedras, púlpitos, parlamentos, tribunais, burocracias e em toda a vida econômica, social e política da taba – pública e privada. Exemplo? Bem, vejamos: quando, a partir de boato divulgado na onipotente internet, a população ensandecida estraçalha na rua uma mulher indefesa (Fabiane de Jesus, moradora periférica de Guarujá, acusada de sequestro que não praticou), fica cabalmente demonstrada a falência do aparelho de segurança do Estado e da própria saúde moral da sociedade. (A bem da verdade, se diga, ambos subjugados, de forma programática, pelo bafo da ideologia revolucionária, tida como “transformadora”, disseminada no âmago do poder pelo bando que subverte o país). Por sua vez, prognosticar para breve o fim melancólico do cada vez mais forte PT e, pior ainda, projetar a possível vitória da canhestra oposição nas próximas eleições não passa, convenhamos, de tola especulação. Sim, é verdade, grande parte da classe média está mais do que saturada de um governo que a esmaga, ansiosa por protestar nas ruas e nas urnas e para vê-lo por trás das grades. Mas, ricos e pobres, é de se reconhecer, corrompidos pela práxis governamental, não só convivem bem com “tudo isto que ai está”, como aceitam de bom grado sua perpetuação. Estou enganado? De fato, o Reino de Lula expele pus por todos os poros, muito mais fétido do que o “algo de podre” conjeturado pelo príncipe Hamlet. Nele, onde se apertar escorre pus. Em abundância, pelo menos, na área cultural (regiamente corrompida), no segmento partidário, nos ministérios, empresas e bancos oficiais, sindicatos e centrais de trabalhadores, O próprio Lula, Mefistófeles caboclo, com sua voz roufenha, transita lépido e soberano no charco que ajudou.
Ipojuca Pontes Escritor e cineasta
Em primeiro lugar, é preciso dizer que o Brasil não “vai cair de podre”, e isto por uma simples razão: ele já caiu. Digo e repito: de podre, ele já caiu
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Pernambuco e Ceará estão entre os três estados que mais ajudaram a economia da região Nordeste crescer com taxa superior à da economia brasileira, isso desde 2002. Em contraponto, o Piauí encontra-se em 23º lugar no ranking do PIB dos estados brasileiros, ainda apresentando baixa contribuição regional e nacional. Continuando o caderno especial sobre o desenvolvimento econômico nordestino, a Revista NORDESTE conversou com especialistas para mostrar a evolução desses três estados e qual o saldo do desenvolvimento deles para o Brasil
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UM SALTO DE DESENVOLVIMENTO
Fotos: Governo do Estado de Pernambuco / Portal da Copa / Governo do Estado do Piauí
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nquanto a economia brasileira não vê estabilidade certa para 2014, com expectativas para o Produto Interno Bruto (PIB) oscilando desde o fim do ano passado, o Nordeste se mantém além do país quando se trata de crescimento. Em 2012, o PIB da região teve uma expansão maior que o triplo da média do Brasil. Em 2013, os estados nordestinos juntos alcançaram uma evolução de 2,1%. Os números também refletem na melhoria das situações econômicas das famílias nordestinas. Nesse tempo de crescimento, a classe A saiu de 5% para 9%. Já a classe média apresentou um acréscimo de 20 pontos percentuais, apresentando 42% dos habitantes. “A economia da região Nordeste vem crescendo, desde 2002, a uma taxa superior à da economia brasileira. Em 2012, enquanto o PIB brasileiro cresceu apenas 0,9%, o PIB dos três principais
estados nordestinos – Bahia, Pernambuco e Ceará – cresceram, respectivamente, 3,1%, 2,3% e 3,7%. Entre 2011 e 2012, por exemplo, o PIB per capta do Nordeste cresceu 35,43%, enquanto o do Brasil evoluiu 26,75%”, informa a professora de economia da União Metropolitana para Desenvolvimento da Educação e Cultura (Unime) na Bahia, Almerinda Gomes. A professora de economia afirma também que, segundo estimativas de índices de potenciais de consumo do IPC Marketing, o consumo da região representará em 2014 19,48% do consumo nacional. Desde 2008, esta fatia ultrapassou a da região Sul, colocando o Nordeste em segundo lugar no ranking nacional, perdendo apenas para o Sudeste, cuja participação no consumo brasileiro vem caindo ao longo dos anos (representava 55,79% há 10 anos e em 2014 vai cair para 49,21%).
Vocação empreendedora
Cada vez mais a atenção de empresas privadas e multinacionais está voltada para o Nordeste. A região passou de produtor de bens tradicionais a fabricante de produtos de base tecnológico, como equipamentos de irrigação, aços especiais, produtos petroquímicos e automóveis. Pernambuco é um dos estados da região que apresenta um dos maiores índices de rendimentos. Com a instalação do Complexo Portuário de Suape, os investimentos vêm crescendo mais ainda na região. Além disso, o estaleiro Atlântico Sul e a instalação da fábrica da Fiat na cidade de Goiana estão criando uma forte zona de investimentos. Nas últimas décadas, o estado se tornou a 10ª economia do Brasil, participando com 2,4% do
atraente para muitos empreendedores. Citamos como exemplo as novas cadeias produtivas que estão chegando: bens de consumo; petróleo, gás, naval e offshore; energias renováveis; automóveis; e fármacos”, conta o secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco e presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape, Márcio Stefanni Monteiro. Entre os empreendimentos estão fábricas, como Mondelez (ex-Kraft Foods), BRF e Nissin; o polo cervejeiro, com a Itaipava, a Ambev e a Brasil Kirin; a Refinaria Abreu e Lima e a Petroquímica Suape; os estaleiros Atlântico Sul além da montadora da Fiat e seus sistemistas, entre outras.
Foto: Governo do Estado de Pernambuco
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PIB nacional. Nos últimos anos, o estado tem crescido acima da média do Nordeste e do país. Em 2013, por exemplo, apresentou o percentual de 3,5%, enquanto o país pontuou em 2,5%. Em 2014, a expectativa é de 3,5% e 4%. Os investimentos privados no estado entre os anos de 2011 e 2013 somam aproximadamente R$ 22,9 bilhões e para os próximos anos a expectativa é de R$ 27,9 bilhões. Segundo a Secretaria de Planejamento e Gestão de Pernambuco, as principais atividades privadas são industriais com destaque para o setor petrolífero e automobilístico. “O ambiente econômico e social que conseguimos criar em Pernambuco tem se mostrado
O ponto forte do crescimento da economia do estado é o setor de serviços e a indústria, com destaque tanto para a construção civil quanto para a indústria de transformação. “São obras de infraestrutura e de mobilidade urbana, inclusive para a Copa do Mundo; a implantação de grandes empreendimentos, como a Refinaria Abreu e Lima e a fábrica da Fiat; e o incremento do programa Minha Casa, Minha Vida, principalmente no interior. Já o setor de serviços vem crescendo historicamente pelo desenvolvimento de importantes polos na Região Metropolitana, como o gastronômico, o médico e o de economia criativa e tecnologia, principalmente por conta do parque tecnológico Porto Digital, que impulsiona a economia do conhecimento no nosso estado. Lá funcionam cerca de 200 empresas que faturam R$ 1 bilhão por ano e empregam mais de 6.500 pessoas”, afirma o secretário Márcio Stefanni Monteiro. Em termos de investimos públicos, o estado recebeu do Governo Federal R$ 0,98 bilhões entre 2011 e 2013, com previsão para a aplicação de recursos de R$ 1,7 bilhão em 2014. Pelo Governo Estadual, foram aplicados R$ 9,2 bilhões (2011-2013) com previsão de R$ 3,7 bilhões para 2014. Pelo menos 75% das verbas federais previstas para este ano serão executadas pelo DNIT, Ministério da Integração Nacional, das Cidades, Fundo Nacional de Saúde e Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF). Já das verbas estaduais, os valores estão distribuídos em investimentos de duplicação e recuperação de rodovias, melhoria da mobilidade urbana, infraestrutura de saúde e educação, infraestrutura hídrica, infraestrutura em Suape e outras áreas.
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Serviços e indústria se destacam
Âncora de empreendimentos O Complexo de Suape tem sido a âncora para muitos desses grandes empreendimentos. São R$ 50 bilhões em investimentos privados nos últimos anos. Lá funcionam 105 empresas, gerando 35 mil empregos, e outras 45 estão em fase de instalação. Além disso, o complexo também funciona como uma locomotiva, ajudando a levar para outros estados empreendimentos cuja operação não
depende diretamente da utilização de infraestrutura portuária. O economista e professor da Universidade Norte do Paraná (Unopar), Alexander Luis Montini, explica que o destaque da região no cenário nacional está acontecendo principalmente pela busca de investimentos em lugares menos saturados. “Em grande parte isso vem ocorrendo graças ao maior dinamismo dos mercados de trabalho e de crédito e pela intensidade das políticas de transferência de renda do governo federal à região. Os estados do Sul e Sudeste, que contam com uma grande concentração industrial, sofrem com a saturação dos mercados e principalmente com as crises políticas e econômicas desencadeadas no cenário internacional nos últimos anos. Isso deixa claro que o Brasil possui estados com vantagens competitivas distintas, o que é vantajoso do ponto de vista da sustentação econômica frente a desequilíbrios exógenos e endógenos”, elucida.
Indicadores sociais Dados
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Área: 98.312 km² População: 9 208 551 hab. (7º) Densidade: 93,67 hab./km² (6º)
Investimentos do Governo Federal Economia
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Expectativa de vida: 71,1 anos (20º) Mortalidade infantil: 18,5‰ nasc. (12º) Analfabetismo: 16,7% (20º) IDH (2010) 0,673 (19º) médio
PIB: R$ 104,394 bilhões (10º) (2011) PIB per capita: R$11 776,10 (19º) (2011)
Total: R$ 93,68 bilhões De 2011 a 2014: R$ 72,70 bilhões Depois de 2014: R$ 20,98 bilhões
Foto: Governo do Estado de Pernambuco
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Foi percebendo esse ambiente propício para investimentos que o casal de empresários do Rio de Janeiro, Fabio Arnaud e Aline Braga, decidiram investir no estado instalando a Bax Distribuidora especialmente em Pernambuco, em cidades maiores e também nos municípios que normalmente não entram na rota comum de grandes distribuidoras. Eles estão apostando muito no crescimento da região para fazer o negócio decolar. “Pernambuco é um dos estados brasileiros que mais cresce. No último ano, o Nordeste ocupou o segundo lugar no ranking de regiões com maior potencial de consumo de produtos de limpeza no Brasil, e isso inclui Pernambuco. Este tipo de produto é justamente o foco da Bax Distribuidora. No nosso caso, além dos municípios mais conhecidos, incluímos em nossa rota cidades distantes, com certa carência neste tipo de serviço. O desenvolvimento econômico em Pernambuco nos proporcionou um cenário favorável: aumento do poder de consumo das classes C e D, que são nosso público alvo”, explica a empresária Aline Braga. Além do Prodepe, Pernambuco também tem incentivos fiscais específicos para a indústria produtora de navios e plataformas de petróleo e fornecedores (Prodinpe); para fabricantes de veículos automotores e fornecedores (Prodeauto); e para fabricantes de equipamentos para geração de energias renováveis e seus fornecedores. “Mas, ao mesmo tempo em que damos incentivos, também passamos a exigir que as empresas apliquem de 0,1% a 0,5% do seu faturamento anual em pesquisa, como forma de estimular a inovação no estado”, conta Márcio Stefanni.
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Ambiente para investimentos
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economia do Ceará tem previsão de crescimento de 4,5% para este ano, de acordo com estatísticas do Governo do Estado, do Ipece/Informa “Perspectivas da Economia Cearense para 2014”, divulgada pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece). O balanço de 2013 revela que as receitas fiscais registraram um crescimento real de 3,1% e os investimentos de 2,15%; o Produto Interno Bruto (PIB) fechou em 3,44%, superando, mais uma vez, o resultado nacional. Há mais de cinco anos, a economia cearense vem crescendo entre 3,5% e 5% ao ano, mais que o Nordeste e que o Brasil. “A economia cearense vem, desde 2008, crescendo a taxas superiores às da economia nacional e este dinamismo pode ser explicado pelos importantes investimentos públicos e privados realizados no estado nos últimos anos”, afirma a professora de economia Almerinda
Gomes, da Unime. De acordo com ela, a evolução acima da média nacional também é um quadro presente em todo o Nordeste e é atribuída ao franco crescimento do mercado consumidor interno, provocado pelo aumento do salário mínimo e dos programas de transferência de renda, e dos incentivos fiscais que, em conjunto, foram responsáveis pela atração de investimentos para a região nordestina. “Como, por exemplo, o Porto de Suape, na região metropolitana de Recife; da ferrovia Transnordestina que empregou 11,5 mil pessoas dos estados de Pernambuco, Ceará e Piauí; e das obras de ampliação do Porto de Ponta de Madeira e da estrada de Ferro Carajás, no Maranhão. É importante destacar ainda o crescimento da renda familiar na região, explicado, sobretudo, pelo Programa Bolsa Família. Metade das 13 milhões de famílias atendidas por este programa vive na região Nordeste”, exemplifica Almerinda.
Desde a década de 60, o Ceará vem passando por processos de urbanização e industrialização, ganhando maior impulso a partir dos anos 80 devido a políticas de concessão de benefícios fiscais e empresas privadas que se instalaram no estado. De lá para cá o desenvolvimento não parou. A maioria das indústrias fica na Região Metropolitana de Fortaleza, com destaque para a capital Fortaleza, Caucaia e Maracanaú onde se localiza o Distrito Industrial de Maracanaú, um importante complexo industrial dinamizando a economia do estado do Ceará. Em Caucaia e São Gonçalo do Amarante está instalada a primeira Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Brasil em operação que além de criar empregos, visa difundir novas tecnologias e práticas mais modernas de gestão. Ainda nessa localidade também está o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) que abriga atividades diversas.
O que predomina na economia cearense é o setor terciário de comércio e serviços, um quadro também semelhante em outros estados do Nordeste, com destaque para o turismo. De acordo com o estudo do Ipece, a expectativa é que o mercado de trabalho do Ceará apresente uma grande evolução na geração de empregos no setor de serviços, segmento que sofre diretamente os efeitos do fluxo turístico esperado para este mês de junho, durante a Copa do Mundo. Em 2013, o setor de serviços do Ceará apresentou desempenho de 13% e a geração de empregos total do estado acumulou um total de 50.206 postos de trabalho. “Os estados do Ceará, Pernambuco e Bahia contam com uma
economia diversificada, mesmo apresentando uma defasagem relativa de produtividade, quando se compara ao Sul e Sudeste, deverão crescer mais rápido que a média nacional por alguns anos, principalmente por causa da elevação relativa na qualificação disponível da mão de obra. Embora o setor da construção civil, a agropecuária e a indústria contemplem a diversidade econômica do estado, os serviços continuam sendo o grande motor que impulsiona a economia da região, principalmente quando se trata de atividades ligadas ao turismo, que serão cada vez mais relevantes para a economia regional” explica o economista e professor da Unopar, Alexander Luis Montini.
Foto: Portal da Copa
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Turismo impulsionado
Um dos fortes fatores que impulsionaram a economia do Ceará e do Nordeste foram as políticas de incentivo de crédito para as classes menos favorecidas. “É importante destacar ainda o crescimento da renda familiar na região, explicado, sobretudo, pelo Programa Bolsa Família. Metade dos 13 milhões de famílias atendidas por este programa vive na região Nordeste”, complementa a professora Almerinda Gomes. Com as políticas de incentivo ao crédito, as expectativas para o estado do Ceará em relação ao comércio/ varejo (subsetor dos serviços), para 2014, são positivas e contam com a manutenção do ritmo de expansão para o crédito, porém um pouco menor em 2014 (14,5%) do que em 2013 (14,6%). Assim como a Bahia e Pernambuco, o Ceará vem se destacando pela dinâmica nos Programas de Desenvolvimento Regional e principalmente pelos incentivos fiscais de ICMS. Para o empresário José Alves, presidente da Associação Brasileira Pró-Desenvolvimento Regional Sustentável (Adial Brasil), estes três estados conquistaram também uma coesão entre os diversos setores da organização pública estadual que vem facilitando o relacionamento com os empresários em benefício de toda a população e, principalmente, dos trabalhadores e das famílias da região. “O Ceará tem um case de destaque nacional que é o município de Sobral, que junto com o progresso do seu PIB está somando grandes conquistas sociais, principalmente na esfera da educação”, afirma José Alves.
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Políticas de crédito ajudaram
Recursos ainda são escassos Apesar do PIB do Ceará estar acima da média, os recursos ainda não são suficientes para dar à população o equilíbrio social necessário para compor as políticas de desenvolvimento regional do Brasil. Esse quadro se expande principalmente para o Nordeste, Norte e Centro Oeste do país. O equilíbrio Social, a convergência econômica e a inclusão social, pilares que a Adial defende, serão alcançados apenas quando os PIBs de cada estado nordestino atingir um valor anual mínimo entre R$ 70 bilhões e R$ 200 bilhões. “Sem um PIB muito maior e mais robusto, as ambicionadas conquistas
de ordem públicas não acontecerão, sequer através do FPE (Fundo de Participação dos Estados) que sempre será muito pequeno enquanto os PIBs também forem pequenos. E vários governadores, principalmente os do Nordeste, já perceberam que a conquista do crescimento do PIB de forma acelerada fica muito menos difícil quando trabalham o crescimento do PIB através da atração das empresas com o modelo de incentivos fiscais de ICMS que os próprios governadores passaram a desenvolver, utilizando de suas criatividades e visão de estadistas”, conclui o empresário José Alves.
Dados Área: 146.348 km² População: 8.778.575 hab. (8º) Densidade: 59,98 hab./km² (11º)
Economia
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PIB: R$87,982 bilhões (13º) (2011) PIB per capita: R$10.314 (23º) (2011)
Investimentos do Governo Federal
Indicadores sociais
Total: R$ 65,33 bilhões De 2011 a 2014: R$ 30,60 bilhões Depois de 2014: R$ R$ 34,73 bilhões
Expectativa de vida: 72,4 anos (14º) Mortalidade infantil: 19,7% nasc. (15º) Analfabetismo: 17,2% (22º) IDH (2010) 0,682 (17º) médio
fiscais disponibilizados às empresas pelo governo têm sido de grande valia para o desenvolvimento do estado. Estamos buscando agilidade e desburocratizando todo o processo, para que possamos gerar mais investimentos, mais empregos e ter mais capital girando dentro do Piauí”, afirma a secretária de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico do Piauí, Patrícia Freitas. De acordo com dados da secretaria, os números de empresas incentivadas nos quatro meses iniciais de 2014 são praticamente o mesmo volume realizado em 2011, quando foi reformulada a lei de incentivos fiscais (nº 6.146, de 20 de Dezembro de 2011). A norma concede diferimento e crédito presumido do ICMS para estabelecimentos industriais e agroindustriais do estado. “Nossas expectativas de investimentos previstos para 2014 ultrapassam o ano de 2013”, afirma Patrícia.
Para a professora de economia da Unime, Almerinda Gomes, grande parte dos problemas econômicos piauienses (o estado apresenta um quadro histórico de pouca representatividade econômica no país) advém de questões climáticas, já que mais de 60% do território está inserido num clima semiárido. Isso significa cerca de 151 municípios. Mesmo assim, ela enxerga prosperidade no estado. “A economia do estado vem crescendo nos últimos dez anos acima da média nacional, acumulando, entre 2002 e 2010, um crescimento de 52,5%, segundo dados do IBGE. Em 2008, enquanto a economia brasileira cresceu pífios 0,6%, o PIB do Piauí teve um incremento de 8,8%. Este desempenho resulta dos investimentos recebidos pelo estado e do dinamismo das regiões com maior potencial de desenvolvimento, a exemplo da Região Metropolitana de Teresina, da cidade de Parnaíba”, explica a economista. Foto: Portal da Copa / Governo do Estado do Piauí
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clima quente do Piauí também está esquentando a economia do estado. Apesar de se encontrar na 23ª colocação no ranking dos números dos PIBs estaduais, na última década o cenário econômico local está se transformando e o quadro evolutivo já é perceptível pelo crescimento do PIB. Em relação ao ano de 2010 a 2011, o PIB do Piauí teve crescimento de 6,1%, ou seja, 2,5 vezes maior que o crescimento do nacional, que foi de 2,17%. Quanto à renda per capita, o estado está colado com o Maranhão, tendo R$7.835,75 e R$7.852,77, respectivamente. Uma das causas da evolução econômica é a participação da indústria, que tem ampliado sua contribuição na economia piauiense, como reflexos da política de atração de investimentos, através da isenção do recolhimento do ICMS, a partir de 1996, e reformulada em 2011. “Não há dúvida do quanto os incentivos
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PIAUÍ
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Soja no topo das exportações As principais atividades do Piauí estão voltadas para a indústria química, têxtil e de bebidas, além da agricultura das culturas de algodão, arroz, canade-açúcar, mandioca e a pecuária. A lista de produtos que integram a pauta das exportações tem destaque para a produção de grãos, como soja e ceras vegetais, responsáveis por mais de 82% das exportações, no período de janeiro de 2012 a abril de 2014, segundo balanço divulgado pela Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Apesar da seca que assolou a região dos cerrados em 2013, a soja se mantém como o principal produto de exportação do Piauí, bem à frente das ceras vegetais. No setor industrial, a Secretaria de Desenvolvimento do estado informou que o maior volume de investimentos na área desde 2011 foi no ano de 2013, a maior parte referente ao setor alimentício, um total de R$ 23.699.262,00, representados por 11 empreendimentos, dos quais 82% se instalaram na capital do estado, Teresina. Santo Antônio de Lisboa e Pio IX foram destaques, gerando aproximadamente 1.399 empregos diretos e 7.063 indiretos. Já no setor de produtos químicos, o volume de investimentos foi de R$ 59.925.902,00 no mesmo período, gerando 719 empregos diretos e 2.658 indiretos. Das cinco indústrias, duas foram instaladas na região de Teresina, três em cidades de representatividade estadual significativa: Parnaíba, Picos e Demerval Lobão. O maior volume de investimentos na indústria do estado, até então, no ano de 2014, foi do setor de transformação, totalizando um valor de R$ 266.301.208,63.
por 18,47% do PIB do estado. A Secretaria de Desenvolvimento do Piauí informou também que com a expansão do Grupo Tomazini, que atua desde 2009 no estado, produzindo soja (nove mil hectares) e milho (mil hectares) na região dos Cerrados, será implantado um moderno complexo industrial com fábrica de rações, armazéns gerais, granja, esmagadora de grãos e frigorífico, com investimentos estimados em R$ 600 milhões. A previsão é que seja abrigado entre dois e três anos, quando o complexo deverá empregar 6 mil pessoas direta e indiretamente. O complexo terá capacidade para produzir 300 toneladas por dia de produtos industrializados (derivados de grãos e de frango) e de abater 200 mil frangos diariamente.
Extração de petróleo Em extração de petróleo, o Piauí também está avançando. A Ouro Preto Óleo e Gás adquiriu três blocos para exploração (PNT-137, PN-T-151 e PN-T-165), seus executivos apresentaram ao Governo do Estado do Piauí, em janeiro de 2014, o plano de trabalho da empresa para exploração desses lotes na Bacia do Parnaíba. No momento já iniciaram os estudos sísmicos, uma ultrassonografia do subsolo para identificar a disposição das camadas de rocha, que permite avaliar as posições de perfuração com melhores condições para encontrarem hidrocarbonetos, ou seja, óleo e gás. A expectativa da empresa é de que a produção de energia limpa na Bacia do Parnaíba seja utilizada para abastecimento de termoelétricas ou mesmo para uso no mercado industrial do estado. O compromisso de investimento da companhia junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) é de R$ 102.474.600,00 na Bacia do Parnaíba – incluindo um bloco no Maranhão, o PNT-114. De acordo com o plano de trabalho da Ouro Preto, devem ser gerados, aproximadamente, 3 mil postos de trabalho diretos e indiretos por bloco (no caso do Piauí, 9 mil empregos diretos e indiretos ao todo) ao longo dos processos de coleta, perfuração, desenvolvimento e produção.
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Com as políticas de incentivos fiscais, o Piauí já conseguiu atrair diversas indústrias nacionais e estrangeiras para o local, de setores como cimento, açúcar, álcool e transformação, essa última, sozinha, responde por 42,86% da participação das empresas incentivadas, por setor, em 2014. Com isso, ganharam impulso os distritos industriais de Teresina (Houston, Crown Embalagens), Parnaíba, Picos e Floriano, além do crescimento de economias de municípios que abrigaram novos empreendimentos, a exemplo dos municípios de Uruçui (Bunge), Fronteiras (Cimento Nassau), Guadalupe (Terracal), Paulistana (Bemisa), Simões (Casa dos Ventos) e Baixa Grande do Ribeiro que têm o maior PIB per capta do Piauí. Atualmente, o setor industrial responde
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Estado atrai indústrias
Fotos: Governo do Estado do Piauí / CNI Flickr
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Estado na pauta do PAC Por conta da necessidade de logística da região, o Piauí entrou na pauta de investimentos garantidos pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) para obras de dragagem, aprofundamento e adequação da navegabilidade nos canais de acesso. O Porto de Luís Correia é um deles. Na primeira etapa construída, o porto tinha capacidade para suportar navios de até 30 mil toneladas. Já com a ampliação que está em andamento o porto terá capacidade de suportar navios de até 70 mil toneladas, o que equivale a 70% da frota que circula no Brasil. O projeto conta com a ampliação do calado de 7m para 12,5m, onde proporcionará a navegabilidade de navios maiores. A linha da Transnordestina também irá cooperar com a situação logística do Piauí. No estado, a estrada terá quase 500 quilômetros, interligando
os sistemas ferroviários do Piauí, Ceará e Maranhão, numa extensão total de 1.728 quilômetros, ligando a cidade de Eliseu Martins à divisa do Piauí com Pernambuco. De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento do estado, o empreendimento contempla também a instalação de terminais portuários de exportação de graneis sólidos, implantados estrategicamente próximos aos principais mercados consumidores e em portos capazes de operar com navios Cape Size. Isso garantirá maior competitividade ao negócio. Ela vai cortar grande parte da região do semiárido e garantir condições para o escoamento da produção dos cerrados piauienses através da ligação com os portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco. A obra está atrasada por entraves burocráticos, mas segue com previsão de inauguração para 2016.
Dados
Economia
Área: 98.312 km² População: 9.208.551 hab. (7º) Densidade: 93,67 hab./km² (6º)
PIB: R$ 104,394 bilhões (10º) (2011) PIB per capita: R$11 776,10 (19º) (2011)
Indicadores sociais
expediente editora | RIVÂNIA QUEIROZ rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br jornalista | FLÁVIA LOPES
Total: R$ 17,32 bilhões De 2011 a 2014: R$ 11,20 bilhões Depois de 2014: R$ 6,12 bilhões
flavia@revistanordeste.com.br diagramador | ARTHUR CÉSAR arthur@revistanordeste.com.br
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Expectativa de vida: 69,7 anos (24º) Mortalidade infantil: 20,7‰ nasc. (23º) Analfabetismo: 21% (26º) IDH (2010): 0,646 (24º) médio
Investimentos do Governo Federal
Foto: Flickr PAC
Economia
parcerias comerciais durante a Copa Mundial atrai empresários de 104 países ao Brasil para investimentos. Expectativa da Apex é alcançar US$ 6 bilhões em negócios até o final do evento
Foto: Portal da Copa
dias anteriores e posteriores aos jogos da Copa, e incluem reuniões com compradores, palestras, seminários, visitas a fábricas, fazendas, laboratórios e outras instalações produtivas. A primeira parte do projeto realizado pela Apex-Brasil aconteceu na Copa das Confederações, entre 15 e 30 de junho de 2013, e gerou US$ 3 bilhões em negócios fechados entre as empresas brasileiras e os 903 empresários estrangeiros vindos de mais de 70 países. O Projeto Copa do Mundo integra as ações de Marketing de Relacionamento da Apex-Brasil, que incluem atividades semelhantes no Carnaval e em eventos internacionais como Formula Indy, Grand Prix de Fórmula 1, Professional Golfer’s Association of America (PGA) e Professional Bull Riders (PBR).
Membros estão se reunindo nas 12 cidades-sede
O Turismo de Negócios e Eventos é voltado para atividades decorrentes dos encontros de interesse profissional, associativo, institucional, de caráter comercial, promocional, técnico, científico e social. De acordo com o Ministério do Turismo, esse segmento é um dos que mais atraem turistas ao Brasil. “O setor de turismo de negócios e eventos é o segundo maior fator de atração de visitantes estrangeiros para o Brasil: 25,6% dos turistas internacionais
vêm ao país com essas finalidades”, afirma o ministro do Turismo, Vinícius Lages. Segundo o Ministério do Turismo, o perfil do turista de negócios apresenta características comuns, como escolaridade superior, poder aquisitivo elevado, representa organizações e empresas e realiza gastos elevados em comparação a outros segmentos. Além disso, os visitantes desse segmento exigem praticidade, comodidade e atendimento de qualidade.
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turismo de Negócios
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momento da Copa do Mundo no Brasil não é só para o esporte. A economia também entra em pauta quando se trata de negócios nesta época. Durante o Mundial, convidados de 104 países vão se encontrar com representantes dos setores brasileiros de tecnologia e saúde; casa e construção; alimentos, bebidas e agronegócios; moda; máquinas e equipamentos; economia criativa e serviços para ações de interação entre empresários estrangeiros e brasileiros, na expectativa de alcançar cerca de US$ 6 bilhões em negócios. A iniciativa é do Projeto Copa do Mundo, da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Entre os países com representantes no Projeto estão os maiores parceiros comerciais do Brasil como China, Estados Unidos e Japão, países europeus e da América Latina. O programa foi desenvolvido em parceria com mais de 700 empresas e entidades setoriais brasileiras, que se propuseram a apresentar suas ações econômicas. O Projeto Copa do Mundo tem ações previstas em 12 jogos do Mundial, em cinco cidade-sedes: São Paulo, Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Serão mais de 2.300 compradores, investidores e formadores de opinião de vários países que estarão no Brasil, neste período, participando das agendas de negócios organizadas. Cerca de 800 atividades do segmento estão sendo organizadas pelas empresas e entidades setoriais parceiras. Essas agendas ocorrerão nos
Economia
País sediará reunião do Brics Depois da Copa, grupo das nações emergentes estará pela 2ª vez no Brasil. Encontro da cúpula começa pelo Nordeste Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br
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mês de julho chega atraindo as atenções internacionais para novo encontro da cúpula dos países emergentes, denominados Brics – Brasil, Rússia, Índia e China. Pela segunda vez o grupo se reúne no país para encaminhar propostas políticas de cooperação. Na pauta, entre outros assuntos, está o “Crescimento Inclusivo: Soluções Sustentáveis”. Desta vez, uma capital nordestina irá acolher os membros: Fortaleza (CE). A expectativa é de que a capital cearense receba pelo menos 3 mil pessoas, boa parte delas de jornalistas de diversos países. O professor de Economia Política Internacional da Universidade de Brasília, Roberto Goulart Menezes, destaca a importância do Brasil neste grupo e ressalta a vitória da diplomacia brasileira em acolher os estrangeiros. Para ele, essa reunião é efeito do prestígio do Governo Brasileiro. “É o Brasil dizendo:
estou indo ao grupo (Brics), mas não estou esquecendo a região”, afirmou. Há informações de que a cúpula fez um convite extensivo para que os presidentes dos países da América do Sul também possam vir participar do encontro. O convite aos líderes se caracterizaria como novidade para a cúpula, além de fazer parte da estratégia de aproximação com países não membros. Os organizadores do Brics argumentam que, desta forma, estarão se priorizando nações em desenvolvimento. Apesar de ainda não ser um bloco econômico ou uma associação de comércio formal, como no caso da União Europeia, existem fortes indicadores de que os quatro países têm procurado formar um “clube político” ou uma “aliança”, e assim converter seu crescente poder econômico em uma maior influência geopolítica. Desde 2009, os líderes regionais realizam cúpulas anuais.
Fundo ajudará países em crise A expectativa dos governos desse grupo é de que até 15 de julho esteja tudo acertado para as assinaturas do Tratado Constitutivo do Arranjo Contingente de Reservas. O trato instituirá um fundo no valor de US$ 100 bilhões para auxiliar os membros que, no futuro, estejam em situação delicada no balanço de pagamentos, além de firmar acordo para a criação do Banco de Desenvolvimento Brics. O Brasil é o único país do bloco a sediar o encontro dos chefes de Estado do Brics pela segunda vez e com duas importantes decisões. De acordo com a organização do evento, o fundo de reservas internacionais contará com US$ 41 bilhões da China, US$ 18 bilhões do Brasil, da Rússia e da Índia, e US$ 5 bilhões da África do Sul. O banco com orçamento de US$ 100 bilhões terá aportes fiscais igualitários.
Demandas globais Em discussão há dois anos dentro do Brics, o banco da cúpula pretende atender a demandas não contempladas pelas grandes instituições financeiras globais, como o financiamento de projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em países em desenvolvimento. Com base nas negociações, os últimos detalhes dos dois acordos devem ser acertados no fim deste mês, em Melbourne, na Austrália, em reunião paralela ao encontro de representantes de finanças e dos bancos centrais do G20. Mas, caso não seja possível concluir todos os detalhes, haverá uma pré-reunião, no dia 14 de julho, em Fortaleza, entre ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais dos países do Brics.
Pela programação, na sexta reunião da cúpula, os líderes terão encontros reservados. Em público, darão discursos destacando o papel do bloco na inclusão de pessoas no mercado de consumo, seja pelo crescimento econômico ou por meio de políticas públicas. A ideia é reforçar o compromisso com o desenvolvimento sustentável. O tema da reunião ‘Crescimento Inclusivo: Soluções Sustentáveis’ está relacionado à contribuição dos quatro países na redução da pobreza e no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), não apenas em seus territórios. Estão previstos encontros bilaterais de representantes dois países-membros com a presidenta Dilma Rousseff.
Copa do mundo O presidente da China, Xi Jinping, e da Rússia, Vladimir Putin, já confirmaram presença na final da Copa do Mundo, dia 13 de julho. Jacob Zuma, da África do Sul, sede da última Copa, também deve estar presente.
QUEM SÃO OS BRICS? Manmohan Singh Primeiro Ministro da índia
Jacob Zuma Presidente da áfrica do Sul
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Dilma Rousseff Presidente do Brasil
Xi Jinping Primeiro Ministro da China
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Vladimir Putin Presidente da Rússia
Fotos: Governo Federal
Conexão América Futebol é famoso entre meninas Todo mundo sabe que o Brasil tem uma paixão sem igual pelo futebol, mas o esporte também é muito popular nos Estados Unidos, especialmente a modalidade feminina. Conhecido por “soccer,” o futebol é o terceiro esporte mais praticado nos EUA. É muito comum para jovens jogar o esporte em equipes nas escolas públicas e também nas universidades. Dos 4 milhões de jogadores que são registrados em campeonatos de futebol juvenil no País, 48% são femininos. Faz muito tempo que o futebol é famoso entre meninas norte-americanas, mas a popularidade aumentou quando a seleção dos EUA ganhou a primeira Copa do Mundo Feminina em 1991. Atualmente a equipe nacional é a primeira no ranking da FIFA e tem milhares de torcedores em todo o mundo. As jogadoras são interna-
cionalmente famosas e inspiram meninas a participarem mais no esporte. É claro que a maioria das jogadoras jovens não irão se tornar profissionais, mas o valor do esporte está no aprendizado do trabalho em equipe, autoestima e inclusão social. Com a realização da Copa do Mundo aqui no Brasil, a embaixada dos EUA em Brasília e o consulado geral no Recife vem desenvolvendo uma iniciativa chamada ‘Esportes Para Todos.’ Estamos trabalhando juntos com organizações em diferentes estados para promover o esporte como uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e da comunidade. Já existem muitas organizações brasileiras que trabalham todos os dias para melhorar as vidas dos jovens com esporte, e somos muito felizes em ter essa oportunidade de apoiar o sucesso delas.
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Personalidade
Turismo Mia Hamm: Mia Hamm é a jogadora de futebol mais conhecida nos EUA. Aposentada desde 2004, ela jogou em três Copas do Mundo e dois jogos Olímpicos e fez 158 gols em jogos internacionais. Em 1999 ela fundou o ONG The Mia Hamm Foundation, que trabalha para ajudar pessoas que precisam de transplantes da sangue.
Um idioma comum para descrever uma chuva muito forte. Literalmente traduzido como “Está chovendo gatos e cachorros,” sua origem não é totalmente certa. Uso: “As meninas estavam jogando futebol na praia, mas tiveram que parar porque estava raining cats and dogs.”
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“It’s raining cats and dogs.”
Conhecida mundialmente como capital do movimento Grunge, Seattle é uma cidade super dinâmica e também é o local ideal para os aficcionados pela aviação. Na cidade, visitantes podem conhecer a sede da Boeing e visitar a linha de montagem dos aviões 777, 767, 747 e o moderníssimo 787 Dreamliner. Outra boa opção é o ‘Museum of Flight’ que possui um ótimo acervo e é um dos melhores do país.
Consulado dos EUA no Recife: Rua Gonçalves Maia, 163, Boa Vista. Recife-PE / CASV: Av. Herculano Bandeira, 949- Pina Recife-PE
Geral
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O óDiO COmpARtilhADO NA REDE
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Internet vira campo fértil para a propagação de ideias extremistas de grupos de direita e de pensamentos radicais ligados à esquerda
Ilustrações: Danielle Trinta
Por Agatha Justino agatha@revistanordeste.com.br
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“À
medida que cresce uma discussão online, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Adolf Hitler ou o nazismo aproxima-se de 1 (100%)”, este é o enunciado da pouco conhecida, porém facilmente comprovada Lei de Godwin. Criada pelo jurista americano Michael Godwin, em meio aos debates em fóruns de internet na década de 1990, a ideia era mostrar como as pessoas tendem a exagerar quando estão discutindo sobre posições políticas na web. Com a proximidade das eleições, os argumentos conhecidos como Reductio ad Hitlerum, ou o “jogar com cartas nazistas”, estão mais fortes que nunca. Em pleno século XXI, as redes sociais se tornaram um palco onde ideologias de direita e esquerda estão fortes e vivas como na década de 60. No Brasil, os debates na internet costumam comparar qualquer político de esquerda à Stálin, Mao Tsé Tung e Ho Chi Mihn. Enquanto os políticos liberais são todos fascistas, ditadores militares ou atuais representantes de Margaret Thatcher na Terra. É provável que você já tenha visto alguma imagem publicada por essas páginas. Elas geralmente trazem críticas genéricas ao governo e à oposição. Assim como não existem inocentes, também não há responsabilidade no conteúdo que se é transmitido. O perigo de se misturar todos os políticos em apenas um saco é que os honestos se confundem com os corruptos e um trabalho sério, rapidamente é convertido em ‘meme’ por um público cego pelo desserviço prestado por essas mídias específicas. Os discursos de ódio na internet não se restringem apenas ao campo político, é comum acompanharmos comentários xenófobos, racistas, homofóbicos e machistas. Recentemente, a Justiça Federal decidiu quebrar o sigilo de seis internautas por comentários discriminatórios em matérias jornalísticas que noticiaram um acidente de ônibus
com 18 vítimas fatais no Ceará. Nos comentários, o grupo celebrava a tragédia com frases preconceituosas sobre o Nordeste. Se estivessem em um ambiente público, esses internautas certamente não iriam comemorar uma morte sequer. Porém, o anonimato é capaz de criar monstros opinativos. Rafael Puetter é um ativista político mais conhecido como Rafucko. Seu trabalho de mobilização on-line migrou de forma positiva para as ruas. De acordo com ele, a liberdade de conectar-se diretamente com o público, sem um intermediário que faça controle prévio do conteúdo, faz da internet um bom espaço para promover o ativismo e os debates políticos. Entretanto, a disseminação de mentiras e discursos odiosos poluem as redes e prejudicam um espaço que deveria ser útil ao cidadão. “As páginas que disseminam ódio são assustadoras, mas encaro como uma saída do armário de muitos brasileiros. Essa mentalidade cruel e perversa sempre esteve presente, mesmo que por baixo dos panos. Há que se tirar proveito do que fica às claras com o conteúdo dessas páginas, aproveitar o escancaramento deste discurso para melhor combatê-lo”, diz Rafucko.
Rede produz muito lixo O cientista político e professor da Escola de Sociologia e Política, Aldo Fornazieri, avalia as redes sociais, por terem um caráter público, como espaços submetidos ao exercício dos direitos individuais que abarcam o direito à liberdade de expressão. No entanto, ele diz que as expressões e manifestações dos indivíduos estão submetidas também às leis existentes ou a futuras leis. “Além de garantir a liberdade de expressão, a lei deve coibir os crimes, os abusos e as novas modalidades de crimes que a internet pode suscitar. O outro lado da questão é a qualidade e o conteúdo do que se veicula. Não há controle e não há como controlar a qualidade, pois isto pode interferir na liberdade de
expressão. Este controle só pode ser feito socialmente”, afirma Fornazieri. Isto quer dizer: somente a sociedade, através do debate público, pode peneirar o que é relevante e significativo, descartando a má qualidade e o lixo que se produz nas redes sociais. Para Fornarziere, não existe outro caminho para enfrentar esse problema. “Evidentemente que a elevação dos níveis de educação e cultura da sociedade também ajuda a selecionar os melhores conteúdos e as melhores práticas na rede”, diz. O professor prevê que essa guerra política que ocorre dentro das redes pode se tornar uma profusão de batalhas sem vencedores e com pouco impacto sobre as eleições.
lei penaliza grupos organizados
Ilustrações: Danielle Trinta
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expressão”, avisa o político, por meio do seu gabinete. “Num país com tantos políticos e partidos corrompidos como o nosso, é difícil achar que uma lei onde cidadãos comuns são criminalizados por disseminar tais conteúdos, traria mais benefícios que malefícios ao cidadão e à democracia. Acho importante combater as mentiras, tão comumente espalhadas pela internet, tanto pela direita quanto pela esquerda, mas há que se deixar bem claro a diferença entre a proteção da honra e a censura”, observa Rafucko.
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A criminalização da difusão de mensagens políticas criadas por grupos remunerados para atacar adversários políticos virou realidade. Na “minirreforma eleitoral” aprovada pelo Congresso Nacional há um dispositivo proposto pelo senador Cássio Cunha Lima (PSDB) que sugere a penalização desse tipo de conduta. Assim, o “hater” (pessoa que promove ódio na internet) seria punido com multa variável entre R$ 5 mil e R$ 30 mil e com prisão de seis meses a um ano. Quem o contratou para esta finalidade poderá ser punido de forma ainda mais severa, com multa de R$ 15 mil a R$ 50 mil e prisão de dois a quatro anos. A emenda de Cássio não torna crime a disseminação por parte de pessoas comuns, que não receberam dinheiro para isso, já que tal medida poderia ferir a liberdade de expressão. De acordo com o senador, ela estabelece punição para um crime específico, que é o de contratar, mediante pagamento, grupos de pessoas com a explícita finalidade de ofender, denegrir e caluniar candidatos, partidos ou coligações. “Não há intenção de censurar a liberdade de
Geral
Publicidade sai do armário Criada por uma empresa paraibana, campanha trazendo o primeiro beijo gay na publicidade nacional cria polêmica e mostra o quanto a sociedade ainda é conservadora Por Agatha Justino agatha@revistanordeste.com.br
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udo começa com um toque. Mão na cintura, no rosto e cabelos do ser amado ou mesmo de um desconhecido. Em seguida, as bocas se encontram e uma avalanche de sensações é lançada pelo corpo. Não importa quem são os protagonistas, o roteiro de um beijo sempre será repleto de clichês, sinestesia e as mais deliciosas emoções. Este contato é poderoso, libera cortisol e ocitocina, hormônio responsável pelo apego entre as pessoas. Sendo um ato de amor, deveria ser celebrado em todas as instâncias da sociedade. Entretanto, muitos ainda se sentem incomodados pelo beijo, especialmente se ele acontece entre duas pessoas do mesmo sexo. Tal incômodo pode ser acompanhado após o lançamento da campanha do Movimento do Espírito Lilás (MEL) com o primeiro beijo gay entre homens na publicidade nacional. O vídeo, que repercutiu em todo país, mostrou como os brasileiros se dividem no tocante aos direitos homossexuais. Enquanto uns celebraram a delicadeza do comercial, outros proliferaram mensagens de ódio nas redes ou de preconceito velado. “Nós focamos em atender ao pedido do cliente, a ONG MEL, que era desenvolver uma campanha que mostrasse um casal formado por duas pessoas do mesmo sexo, que se amasse e fosse feliz. A campanha retrata uma família”, afirmou Marta Queiroga, diretora de atendimento da
TagZag, agência que desenvolveu a propaganda. Segundo a agência, a afiliada da Rede Globo na Paraíba, TV Cabo Branco, pediu uma versão sem o beijo para ser veiculada no horário nobre: antes das 21 horas. “Nós fizemos esse acordo com os responsáveis pela propaganda apenas por precaução. Como a Rede Globo só liberou o beijo gay na novela transmitida no horário após as 21 horas, nós decidimos seguir a mesma linha e evitar uma reação adversa do público”, afirmou George Pereira, do setor de operações da emissora. Renan Palmeira, presidente do MEL, declarou que a ONG entendeu os limites da grade da emissora em questão e concordou com o pedido por compreender que a empresa promove, em sua programação, um debate positivo contra a homofobia e o machismo. “A gente sabe que houve um preconceito, mas só quem perdeu foi a própria emissora. Não houve problemas em relação a aceitação do público nas outras empresas que aceitaram exibir o filme na íntegra. Nosso intuito foi de fortalecer a campanha e uma emissora com tanta visibilidade e importância deve fazer parte deste processo”, observou Palmeira. A estratégia de promover os direitos LGBT por meio de campanhas faz parte da nova gestão do MEL. Antes deste, a entidade já tinha lançado o filme Roberto e Roberta, em parceria com o Ministério
Público do Trabalho, para promover a inclusão dos transexuais no mercado. “A campanha trabalhou com o mesmo personagem, mas focou na discriminação que pode sofrer as transexuais. Infelizmente, por não encontrarem espaço no mercado, elas acabam se prostituindo. Gays e lésbicas também sofrem à medida que precisam se silenciar sobre quem são para se adequar a um ambiente de trabalho preconceituoso”, completou Renan Palmeira. Neste sentido, a ONG paraibana demonstrou ousadia e pioneirismo ao tratar o assunto na publicidade. Já que, de acordo com o Professor Leandro Colling, da Universidade Federal da Bahia e pesquisador do Centro de Cultura e Sustentabilidade, a maioria da propaganda brasileira ainda ignora a presença dos casais homossexuais na sociedade de consumo. Eles estão ausentes na publicidade, embora o seu dinheiro, chamado dentro da economia de pink money (dinheiro rosa, em português), seja um dos mais desejados entre as marcas. “O grosso da propaganda brasileira ignora os gays, mas o mesmo não acontece em outros países. Tenho circulado em muitos lugares nos últimos anos e é visível o aumento das campanhas explicitamente dirigidas ao público homossexual, sem contar no apelo erótico lésbico e gay que algumas marcas muito famosas exploram em suas peças publicitárias”, diz Colling.
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O comercial lançado pela ONG paraibana abriu mais uma porta para se discutir como a mídia apresenta casais homossexuais em sua programação. Apesar de aparecerem como personagens em quase todas as novelas e séries, o afeto entre pessoas do mesmo sexo nas telas ainda é um tabu. Para Leandro Colling, a ausência de cenas românticas são um dos fatores que corroboram com a homofobia na televisão. “Enquanto os casais heterossexuais praticamente fazem sexo explícito na televisão em qualquer horário, as personagens LGBT, quando aparecem, parecem não ter vida sexual ativa, o que é muito estranho porque, em geral, a própria sociedade tem a errônea noção de que os gays possuem uma sexualidade exacerbada”, declarou Colling. Ao contrário do que muitos pensam, a história do beijo gay na televisão brasileira não se iniciou com o beijo dado entre os personagens Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso), na novela Amor à Vida, escrita por Walcyr Carrasco. Há mais de 20 anos, na extinta TV Manchete, o país assistiu ao primeiro beijo não apenas entre pessoas do mesmo sexo, como também o primeiro interracial. Foi na série “Mãe de Santo” e o beijo foi dado entre os atores Raí Alves e Daniel Barcellos. Outro beijo entre pessoas do mesmo sexo foi exibido na teledramaturgia brasileira, na produção do SBT, “Amor e Revolução” transmitida há três anos. “O beijo gay causa estranheza porque o que temos naturalizado é o beijo heterossexual, só ele pode ser incentivado, propagandeado, etc. Não diria que essa polêmica tenha sido superada em outros países, mas em outros lugares, e exemplo da Argentina, já existiram personagens gays com vida sexual ativa, beijos e trocas de afetos”, discute Colling.
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Afeto gay é tabu
Fotos: Canal do Youtube da Comissão da Diversidade Sexual e Direito Homoafetivo - OAB/CG
país intolerante
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Embora a polêmica não tenha sido completamente superada, em outros países, o beijo gay é tratado com mais naturalidade que no Brasil. Nos Estados Unidos, o primeiro beijo entre duas mulheres foi exibido em fevereiro de 1991, em um episódio do drama de tribunal L.A. Law. A cena gerou problemas para a emissora NBC, que se tornou alvo de reclamações e perdeu pelo menos cinco anunciantes. Mesmo assim, a mídia do país evoluiu neste sentido. Várias séries, inclusive, trazem a homossexualidade como tema central como The L Word, Will and Grace, Queer as Folk. Outros apresentam casais homossexuais como parte da trama, mas sem diminuir a importância do carinho entre eles. Na comédia Modern Family, Jesse Tyler Fergunson e Camaron Tucker formam uma família feliz, inclusive com a adoção de uma criança. Isto é uma prova de como a arte pode ser um elemento de integração da sociedade, diminuindo o preconceito e a discriminação nos mais diversos aspectos. O beijo dentro desse âmbito é apenas um dos fatores. Pode ser a representação simbólica de que o amor é aceito em determinada sociedade. “O beijo gay ajuda na ampliação da visibilidade, mas eu também não credito a ele a salvação de nossos males. O que precisamos é de amplas políticas públicas, de Estado, em várias frentes, para a promoção da plena cidadania de pessoas LGBT. E nessas políticas a regulamentação da mídia precisa ter papel fundamental. O que temos hoje, infelizmente, é o uso de canais públicos, de concessão pública, para a proliferação de discursos de ódio para com as pessoas LGBT”, afirma Colling.
Os índices de crimes por homofobia amargam as estatísticas do Nordeste. Segundo um levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), no ano passado, 43% das mortes de homossexuais decorrentes do preconceito, aconteceram na região. A Paraíba ficou em 4º lugar no ranking dos estados mais perigosos para a comunidade gay no país.
imagem estereotipada aspiravam completamente um modelo de vida heterossexual. A hegemonia dessa representação também gera processos de subalternização em relação às pessoas que não possuem como meta, por exemplo, casar e ter filhos como nas propagandas de margarina”, explica o professor. Embora o DNA conservador da nossa sociedade tente relutar, casais gays estão se amando por toda parte. Negá-los dentro da ficção, não vai expulsá-los da nossa realidade. Dentro do armário, devemos jogar apenas as nossas hostilidades e todas as amarras construídas pela sociedade patriarcal. E para obter um final feliz, o ideal, é que joguemos a chave deste armário fora. Só assim, os romances vencerão os filmes de terror estrelados pelo preconceito.
2004 Há mais de dez anos, a empresa Tecnisa veiculou uma série de anúncios com temática homossexual, entre elas uma que trazia duas cuecas penduradas no varal. O material também sofreu censura.
2006 Em 2006, uma propaganda da marca de camisinhas DKT trazendo um beijo gay também gerou debates acalorados. Os conservadores conseguiram retirar das ruas de São Paulo os outdoors da publicidade.
2009 Em 2009, uma campanha da marca Doritos traz um garoto hostilizado pelos amigos por dançar ao som da música YMCA, uma espécie de hino gay. O filme gerou protestos e foi retirado do ar.
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Entretanto, o professor reforça que nem sempre a presença de personagens gays é um produto midiático que pode ser classificado como positivo. Para o professor Leandro Colling, se esses personagens representarem apenas esteriótipos, eles podem se tornar um fenômeno negativo. “A presença de personagens gays nem sempre é algo que poderíamos carimbar como positivo. Ou melhor, antes de responder isso precisaríamos pensar em que critérios utilizamos para definir o que seria positivo e o que seria negativo para as pessoas LGBT. Eu uso como critério algo muito amplo: defendo que a representação seja radicalmente diversa, mas não é o que temos visto. Nas pesquisas que realizamos, concluímos que nos últimos anos cresceu a presença de personagens gays e lésbicas que
PUBLICIDADE CENSURADA
Fotos: Canal do Youtube da Comissão da Diversidade Sexual e Direito Homoafetivo - OAB/CG
Saúde
diagnóstico
difÍcil Transtorno Bipolar atinge cerca de 4% da população adulta mundial e é a terceira doença mental mais frequente. Mas, portadores podem levar uma vida normal se tiverem acompanhamento médico e tratamento direcionado
Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br
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m um passado não tão distante nos Estados Unidos, Maria (brasileira, 55 anos) foi presa por invasão de privacidade. Não por maldade, entrou na casa alheia sem ter noção do que estava fazendo, apenas por pensar que era onde morava um amigo. Em outro episódio, pensou poder voar, e à beira da sacada do prédio de sua mãe, de cinco andares, quase pulou. O nome é fictício, mas a personagem é real e os acontecidos foram algumas das histórias contadas por Maria relembrando momentos de euforia, um dos quadros apresentados por quem sofre de transtorno bipolar. O outro lado de quem tem esse distúrbio no humor é a depressão, que também pode chegar a extremos. “Em uma fileira de engarrafamento comum eu achava que era o enterro da minha irmã”, conta, referindo-se à ilusão que teve em uma de suas crises. O transtorno bipolar tem como
característica principal a flutuação ou instabilidade do humor, oscilando em extremos como fases de euforia ou depressivas, às vezes em curto espaço de tempo. Os momentos eufóricos são chamados pelos especialistas de mania. “A mania é explicada quando uma pessoa apresenta episódios de extrema alegria, euforia e humor excessivamente elevado, já a depressão consiste no humor rebaixado, apresentado pelo indivíduo e falta de vontade e disposição para fazer coisas que antes geravam prazer. Esta variação de sentimentos é que comete ao transtorno bipolar”, diz a psicóloga Letícia Guedes, especialista em terapia comportamental cognitiva, que atua em Goiânia. Mas, além das alterações de humor, o indivíduo pode apresentar variações em outras funções psíquicas e físicas, explica o psiquiatra Teng Chei Tung, médico coordenador dos Serviços de Ilustração: Danielle Trinta
BIPOLARIDADE EM números
6ª
CAUSA
De incapacidade
No mundo sofrem com o transtorno:
4% 6mi
DA POPULAçÃO
adulta MUNDIAL
De pessoas
Para Teng Chei Tung, o alto índice é decorrente de vários fatores. “Provavelmente pelas pessoas terem mais contato com drogas lícitas, como o álcool, e drogas ilícitas, como maconha e cocaína. Elas podem desequilibrar o cérebro do indivíduo, favorecendo uma tendência que o mesmo já tinha. Além disso, o estilo de vida atual, em que come-se mal e não se tem regularidade na hora de dormir e acordar, além do excesso de estresse e de pressão para fazer muitas coisas ao mesmo tempo, pode desequilibrar o cérebro e desencadear o transtorno bipolar”, elucida. A ABTB aponta também que de 30% a 70% das pessoas que apresentam casos de bipolaridade, ainda há algum outro distúrbio psiquiátrico relacionado, como fobias, síndrome do pânico, transtorno obsessivo compulsivo (TOC), transtorno de personalidade e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH).
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Interconsultas e Pronto Socorro do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Como a capacidade de pensar (muito rápido ou muito lento), o ritmo biológico (dormir demais ou insônia), apetite excessivo ou diminuído, problemas de concentração e memória. O transtorno pode causar muitos problemas sociais e ocupacionais, pela inconstância e imprevisibilidade, podendo chegar a ideias de morte e suicídio”, afirma. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença é a sexta causa de incapacidade no mundo e a terceira entre os distúrbios mentais, ficando atrás da depressão e esquizofrenia. Segundo a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), cerca de 4% da população adulta mundial sofre com o transtorno e essa prevalência vale também para o Brasil, o que representa 6 milhões de pessoas no país.
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no brasil
Momentos de depressão Na depressão a pessoa com Transtorno Bipolar fica em um estado de humor de tristeza e desespero. Com a gravidade desse problema, podem sentir alguns ou muitos dos seguintes sintomas: Perda da autoestima. Podem ficar obcecado com pensamentos negativos, sem conseguir afastá-los; Sentimentos de inutilidade, desespero e culpa excessiva; Pensamento lento, esquecimentos, dificuldade de concentração e em tomar decisões; Perda de interesse pelo trabalho, pelos hobbies e pelas pessoas, incluindo os familiares e amigos; Ideias de morte e de suicídio; tentativas de suicídio; Alterações do apetite e do peso; Choro fácil ou vontade de chorar sem ser capaz; Uso excessivo de bebidas alcoólicas ou de outras substancias.
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Uma doença bem antiga Os primeiros casos de distúrbios de alterações de humor foram descritos pelo grego Hipócrates, em 460 a.C., mas com nomenclaturas diferentes. O nome “Transtorno Bipolar” é relativamente recente, antes, a pessoa acometida pela doença era chamada de maníaca depressiva. “O termo Psicose Maníaco Depressiva era usado até a década de 1980. Mas com o surgimento de um sistema diagnóstico renovado proposto nos Estados Unidos (o DSM-III), foi trocado por Transtorno Bipolar, justamente para evitar o estigma do nome Psicose, e da associação das características maníaco depressivas a pessoas muito alteradas e possivelmente perigosas, o que não é verdade na maioria dos casos”, explica Teng Chei Tung.
O diagnóstico ainda é difícil e leva em média de 8 a 13 anos para ser constatado. Maria sofreu com isso. Antes de ser diagnosticada com transtorno bipolar teve que conviver com um laudo de esquizofrenia durante boa parte da sua vida, desde que teve sua primeira crise, aos 19 anos. “Tive cinco crises até chegar a esse diagnóstico, antes os médicos indicavam esquizofrenia”, conta ela. O psiquiatra Teng Chei Tung afirma que é preciso ter cautela na hora de diagnosticar a doença, principalmente nesses casos. “Alguns indivíduos que têm o seu primeiro surto psicótico (em que têm uma quebra grave do contato com a realidade) podem ter sintomas muito graves de desorganização, com delírios (muitas vezes persecutórios) e
alucinações auditivas, além de muita agitação e agressividade, e é quase impossível diferenciar se é esquizofrênico ou bipolar, pois em ambas as condições este tipo de quadro pode ocorrer. Só com o tempo, observando a evolução, é que pode ser diferenciado um do outro. Assim, é sempre mais prudente num primeiro surto psicótico fazer um diagnóstico menos específico, como uma psicose a esclarecer, para defini-lo mais tarde”. Segundo o psiquiatra, o transtorno bipolar tem na maioria dos casos uma base genética forte, mas a influência do estresse do ambiente é muito importante, por poder desencadear as crises mais graves e piorar a evolução da doença. Maria conta que o que desencadeou a doença nela foi a mudança de lugar. “Eu Ilustração: Danielle Trinta
Momentos de mania A mania se caracteriza por um estado de humor elevado e expansivo, eufórico ou irritável. Nas fases iniciais da crise, a pessoa pode se sentir mais alegre, sociável, confiante, inteligente e criativa. Com a elevação progressiva do humor e a aceleração psíquica podem surgir alguns sintomas, como: Irritabilidade extrema; a pessoa torna-se exigente e zanga-se quando os outros não acatam os seus desejos e vontades; Alterações emocionais súbitas e imprevisíveis, os pensamentos aceleram, a fala é muito rápida, com mudanças frequentes de assunto; Reação excessiva a estímulos, interpretação errada de acontecimentos, irritação com pequenas coisas, levando a mal comentários banais; Despesas excessivas, dívidas e ofertas exageradas; Grandiosidade, aumento do amor próprio. A pessoa, pode se sentir melhor e mais poderosa do que todo mundo.
era uma pessoa tranquila, trabalhava e namorava. Mas quando fui morar nos Estados Unidos, para estudar, desenvolvi a bipolaridade”, relembra a época que deixou o Brasil. O transtorno não tem cura, mas pode ser controlado. Hoje, Maria trata a doença com estabilizadores de humor e leva uma vida normal como qualquer outra pessoa. Depois de cinco crises, ela aprendeu a conviver com suas oscilações. “Tenho uma família muito unida e isso foi primordial para a minha recuperação. Mesmo sendo taxada de esquizofrênica sempre busquei a felicidade, consegui até me formar em psicologia e hoje trabalho como voluntária. Isso tudo me ajudou a ser uma excelente psicóloga por sentir na pele o que passei”, confessa a mãe de família.
Meio ambiente
por um planeta mais equilibrado Projeto Evento Neutro quantifica a emissão de CO2 e promove compensação em recursos revertidos para programas de proteção ambiental Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br
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s gases que ocasionam o efeito estufa são constantemente emitidos por atividades rotineiras consideradas simples. Uma viagem de avião ou de carro, o uso do ar condicionado, gastos com energia com geradores ou da rede elétrica e até mesmo o acúmulo de resíduos são exemplos de ações que produzem o gás carbônico (CO2), prejudicial à Camada de Ozônio. A maioria dessas atividades é indispensável para promover um evento bem estruturado, como um fórum ou um congresso. Mas, para compensar toda essa produção de CO2 surgiu o Evento Neutro, um selo verde dado àqueles eventos que quantificam a emissão de carbono e revertem em uma ação de compensação ambiental na mesma proporção, com a chamada neutralização. O Evento Neutro é um programa voluntário de responsabilidade socioambiental e tem como objetivo principal viabilizar economicamente projetos de desenvolvimento sustentável que não existiriam sem os incentivos do mercado de carbono. Todos os projetos que recebem o estímulo são verificados
anualmente por entidades independentes para obtenção de VERs (créditos de carbono - Voluntary Emission Reducion) por tonelada de gás carbônico removida ou por emissões evitadas. O Projeto Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Garganta do Jararaca, que trabalha com a proteção de espécie de peixes e outros cuidados ambientais da instalação, está na lista das ações socioambientais apoiadas pelo programa. Além desse há o Projeto Floresteca, que produz madeira florestal em conjunto com a conservação de trechos de mata nativa; o Projeto Floresta Santa Maria (REDD), que ajuda a preservar o rio Aripuanã por meio da conservação da floresta evitando erosão e intervenção humana, entre outros. Para o coordenador do Evento Neutro, Fernando Beltrame, o projeto tem a responsabilidade social de conscientizar e sensibilizar o público envolvido a respeito das causas e consequências das mudanças climáticas, estimulando a participação de todos na minimização de ações prejudiciais ao ambiente. “É uma forma de você conscientizar as pessoas e reduzir o impacto ambiental. A copa do Mundo da Alemanha e as Olimpíadas de Londres também tiveram essa mesma preocupação com a emissão de carbono”, conta Fernando. Ele explica que o cálculo realizado para
Fernando Beltrame
saber quanto de CO2 foi emitido em um evento pode ser quantificado em kg CO2, podendo ser realizado pelo site http://calculadora.eccaplan.com.br/, da empresa de consultoria sustentável Eccaplan, criadora do projeto. A neutralização de carbono é uma prática de responsabilidade socioambiental baseada no Protocolo de Kyoto, acordo feito em 1997 em que as principais nações do mundo se comprometeram em reduzir suas emissões de gases de efeito em 5% entre 1990 e 2012. Mas, de acordo com Fernando, a prática aqui no Brasil está muito longe disso. “Desde 2009, só São Paulo tinha que reduzir 30% da emissão de carbono até 2012. Ao invés disso aumentou a emissão do gás de 4% a 7 % até 2012. Isso mostra o descaso”, revela.
A Feira do Empreendedor do Sebrae, que aconteceu no Centro de Convenções de João Pessoa (PB) em maio, foi um dos eventos de 2014 que teve todas as suas atividades que emitisse gás carbônico quantificadas em kg CO2 e compensados, recebendo o selo do Evento Neutro. De acordo com a gestora do evento, Letícia Gadelha, a feira teve várias outras ações sustentáveis. “Em todo o evento a gente se preocupou muito com a sustentabilidade não só ambiental, mas com a parte social também. Fizemos uma parceria com a Autarquia Especial
Municipal de Limpeza Urbana de João Pessoa (Emlur) para a separação de resíduos, que ficava em uma área visível, para mostrar a separação do lixo e apresentar aos visitantes e às empresas como era feito”, explica. Letícia contou também que as impressões de papéis foram reduzidas ao máximo. “Nós imprimimos apenas a programação, mas em quantidade reduzida”, afirma. Além disso, os copos do evento eram de material biodegradável, derivado da mandioca, e o descarte era feito no lixo orgânico.
Os efeitos do CO2 O professor do curso de Engenharia Ambiental da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Francisco Sarmento, explica que o CO2, assim como o metano, por exemplo, influi no chamado Efeito Estufa e sua presença na atmosfera em concentrações elevadas funciona como um alterador do comprimento de onda da luz que, advinda do sol, incide sobre o nosso planeta e, uma vez dotada desse novo comprimento de onda, não mais retorna por reflexão para o espaço. Isso faz com que a temperatura global aumente. O professor afirma que grandes eventos normalmente ocorrem em locais previamente licenciados e adaptados de maneira que os impactos diretos que provocam são compatíveis com aqueles previstos quando licenciado pelo poder público. “Não há dúvida que há produção de dióxido de carbono envolvido na preparação ou mesmo na consecução desses eventos, porém, via de regra, são quantidades ínfimas, quando comparadas com os grandes emissores”, explica. Apesar disso, Francisco defende as ações do Evento Neutro como forma de conscientização. “Esse tipo de iniciativa é altamente positiva do ponto de vista pedagógico, na medida em que difunde a ideia de menos poluição do ar e maior consciência em torno das questões ambientais. Lembro por fim que ainda não há consenso em torno do quão determinante vem a ser a ação humana para o processo de aquecimento global atualmente detectado. Caso este resulte da ação de forças naturais de contrabalanceamento de resfriamentos planetários anteriores, ocorridos ao longo das eras de existência da Terra, todo o esforço humano será em vão”, completa.
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Feira sustentável
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Feira do Empreendedor teve ações sustentáveis
Foto: Divulgação
Areia abre Caminhos do Frio
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O Festival de Arte de Areia é marco cultural da Paraíba. Nas primeiras edições, o evento era conhecido como Festival de Verão de Areia e tinham como função repensar os valores culturais da sociedade. Neles se discutiam arte, cultura e o momento político que o Brasil vivia: a Ditadura Militar. Areia foi escolhida para palco desse grande evento devido a sua importância cultural e histórica e a sua localização geográfica. Este ano, o evento abrirá a programação dos Caminhos do Frio – Rota Cultural 2014, tendo como atrações nacional Ivan Lins, cantora Céu e os Grupos Tarancón e o Cubano Eco Caribe. A programação começará no dia 14 de julho e segue até o dia 31 de agosto, integrando os municípios Areia, Pilões, Solânea, Serraria, Bananeiras, Alagoa Nova e Alagoa Grande. O evento é uma realização do Fórum Regional de Turismo
Com o Programa de Consumo Responsável, criado em 2003, a Ambev lança edital destinado a novos projetos que tragam ações e ideias de abordagens sobre prevenção do consumo de bebida alcoólica antes dos 18 anos. A intenção é desenvolver atividades nos âmbitos cultural, esportivo e lúdico para estimular atitudes conscientes nos jovens. A campanha busca descobrir e incentivar propostas que abordem o tema de maneira simples e eficaz.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) definiu os 16 projetos a serem apoiados pela versão mais recente do seu Edital de Cinema. Serão destinados, no total, R$ 14 milhões para produção de 14 novos filmes (seis ficções, seis documentários e duas animações) e finalização de outros dois. O apoio do banco ao setor vai desde a produção até planos de negócios de produtoras, construção e digitalização de salas de cinema e patrocínio a festivais.
Sustentável do Brejo Paraibano e das sete prefeituras envolvidas. Distante 120 quilômetros de João Pessoa, Areia começou a se formar no final do século dezessete. Com clima favorável, tornou-se centro de produção agrícola e entreposto comercial. A agricultura e o comércio enriqueceram alguns moradores da cidade. Estes aprenderam a valorizar, cultivar e motivar as artes. Com esse incentivo cultural, foi construído o Teatro Minerva, um dos mais antigos do interior do Nordeste, inaugurado em 1859. Mas, foi somente em 1976 que aconteceu a primeira festa.
PROGRAMAÇÃO 14 a 20/07 - AREIA 21 a 27/07 - PILÕES 28 a 03/08 - SOLÂNEA 04 a 10/08 - SERRARIA 11 a 17/08 - BANANEIRAS 18 a 24/08 - ALAGOA NOVA 25 a 31/08 - ALAGOA GRANDE
A exposição “Esporte Movimento”, uma seleção de aproximadamente duas mil peças da coleção de mais de 70 mil itens esportivos pertencentes ao colecionador Roberto Gesta de Melo, já está aberta na Caixa Cultural São Paulo. A mostra é inédita no Brasil e conta com o patrocínio da Caixa Cultural e do Governo Federal. A exposição “Esporte Movimento” é inédita no Brasil é um recorte da maior coleção privada de artefatos esportivos do mundo. A visitação é gratuita, e estará aberta até o dia 20 de julho.
As inscrições para o Prêmio Líbero Badaró de Jornalismo, uma das premiações da área, estão abertas até o dia 18 de julho. A iniciativa da revista e Portal IMPRENSA, com apoio da Câmara Municipal de São Paulo, visa estimular o desenvolvimento da imprensa brasileira, reconhecendo os talentos nas redações e universidades. Serão distribuídos até 24 mil reais em entre as categorias: Jornalismo Impresso, Ilustração, Cobertura Internacional, Primeira Página e Fotojornalismo.
Colaboração Flávia Lopes
Do Brasil para Nova Iorque Para relembrar como tudo começou com a seleção brasileira, os autores João Carlos Assumpção e Eugenio Goussinsky escreveram a obra Deuses da Bola – 100 anos da Seleção Brasileira (Editora DSOP), que resgata diversas histórias, fatos e curiosidades do assunto. A história começa no dia 21 de julho de 1914, dia do primeiro jogo da seleção brasileira de futebol, que enfrentou o time inglês Exeter City, no antigo campo do Fluminense, à rua Guanabara, 94, no bairro das Laranjeiras. O prefácio foi escrito pelo maestro João Carlos Martins, que compara o futebol à música.
Para Sempre Nunca Mais O filme brasileiro Para Sempre Nunca Mais (Forever Never More) acaba de ser selecionado para o Ischia Film Festival, no castelo de Aragonese. Estrelado por Larissa Vereza, Bruno Dubeux e Emiliano Ruschel, e dirigido por Emerson Muzeli, o longa ganhou recentemente no Boston Film Festival, Menção Honrosa pelo Indie Spirit e foi indicado a sete categorias de prêmios. Ganhou também na Melhor Direção de Fotografia, no Festival de La Luz, em Bogotá. O filme é ambientado em 1932 e conta a história de uma camponesa que vive um amor proibido com um soldado.
O Museu da Cidade (OCA), no Ibirapuera em São Paulo, receberá mais de 380 objetos da civilização Maia, povo que viveu por séculos em uma grande parte da América do Sul. A curadoria da mostra é de Mercedes de la Garza, professora emérita da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e de sua equipe de pesquisadores do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH), em colaboração com o Conselho Nacional para a Cultura e as Artes (CONACULTA). A mostra começou no dia 10 de junho e segue até o dia 24 de agosto.
Arte popular na vitrine Foi aberta a exposiçãohomenagem ‘Linhas, Trançados e Cores: no Reino de Gilvan Samico’, na Caixa Cultural Recife (Avenida Alfredo Lisboa, Recife Antigo). A mostra reúne obras do xilogravurista pernambucano, falecido em novembro do ano passado, e pode ser visitada de terça a sábado, das 12h às 20h, e aos domingos das 10h às 17h, até o dia 10 de agosto. A entrada é gratuita. O artista começou a pintar como autodidata, influenciado pelo expressionismo de artistas como Oswaldo Goeldi e Lívio Abramo, mas consagrou-se nas artes plásticas com traços da cultura popular na xilogravura.
Brasil original na Copa Artesanatos de doze unidades produtivas da Paraíba (associações, cooperativas e microempreendedores individuais) estarão expostos em Fortaleza (CE), Brasília (DF), Natal (RN) e Salvador (BA). As exposições fazem parte do projeto Brasil Original, que irá mostrar produtos de diversos estados brasileiros em cidadessede dos jogos. Os artesãos paraibanos vão apresentar tipologias, como algodão colorido, renda renascença, labirinto, cerâmica, papel machê, madeira, tecelagem e cipó. A ação faz parte do projeto Brasil Original, concebido pelo Sebrae para aproveitar o momento da Copa do Mundo.
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Foi inaugurada no Museu Olímpico em Lausanne, na Suíça, a exposição “Buscando Tempo”, que leva o visitante a uma viagem através do tempo no esporte usando tecnologia e arte. A cenografia mostra a evolução dos Jogos Olímpicos, passando pelos primeiros estágios. O calendário de eventos faz o backup da exposição, com palestras, espetáculos teatrais e concertos, além de um programa educacional. A exposição vai até 18 de janeiro de 2015.
Exposição Maia no Brasil
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“Buscando Tempo” na Suíça
Cultura
máquina dinheiro
de fazer
Por Agatha Justino agatha@revistanordeste.com.br
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Forró se torna um negócio lucrativo e hoje envolve uma rede complexa de empresários, casas de show e mais de três mil bandas espalhadas pelo Nordeste
Fotos: Flickr Apontecom | Flickr São João de Caruaru
“Perceba que hoje o forró é uma máquina de fazer dinheiro no Nordeste; existem mais de três mil bandas espalhadas por aqui.” Emanuel Gurgel
com Leite”. Uma das pioneiras do estilo, o grupo tem um currículo extenso – em 20 anos, lançou 48 CDs e segura um show por quase cinco horas sem parar. O sucesso do grupo tem como fonte, além do talento dos músicos, o empresário Emanuel Gurgel, cuja expertise nos negócios fonográficos deixaria Brian Epstein, dos Beatles, no chinelo. Gurgel decidiu entrar no ramo por amor ao ritmo. “Eu gostava de dançar, mas não existia um lugar em que eu pudesse fazer isso. As pessoas viam o forró como uma breguice, ninguém se assumia como forrozeiro. Eu não só assumi como vi uma oportunidade de negócio. Antes, as bandas não eram profissionalizadas, não envolviam a tecnologia e não possuíam esquemas de divulgação. Nós mudamos isso”, conta Gurgel. Entre as ideias do empresário, está a de que as bandas agenciadas por ele repitam exaustivamente o nome delas durante os shows e gravações dos CDs. O objetivo? Ficarem marcadas na mente do público. Inicialmente, ele apostou suas cartas na Black Banda. Entretanto, o grupo preferia tocar músicas em inglês, ignorando o forró. Em seguida, veio o Mastruz com Leite e com eles o sucesso. Emanuel Gurgel cresceu e se tornou líder no mercado. “Resolvi montar um estúdio para os forrozeiros. Investi 150 mil dólares, muitos me chamaram de louco e achavam que eu nunca teria retorno. A música Meu Vaqueiro, Meu Peão se encarregou de pagar a conta”.
Na época, o modelo criado por Gurgel para o Mastruz foi reproduzido por diversos outros grupos como Cavalo de Pau, Brucelose, Cavaleiros do Forró e os paraibanos do Magníficos. Ainda para enfrentar o preconceito da mídia em divulgar a nova cultura do forró, Emanuel decidiu criar a Som Zoom, uma empresa que engloba uma rádio responsável por transmitir forró durante todo o dia, uma emissora de TV, um parque de vaquejada e uma editora. Um esquema montado para driblar veículos das outras regiões do país, que tinham preconceito em tocar esse estilo musical. “Nós comprávamos horários em rádios de São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus, Porto Alegre, todos os cantos do país e só tocávamos forró. Foi assim que o estigma foi quebrado. Perceba que hoje o forró é uma máquina de se fazer dinheiro no Nordeste; existem mais de três mil bandas espalhadas por aqui. Só na minha cidade (Pentecostes, interior do Ceará) temos umas cinco. Veja, a melhor casa de show de Fortaleza é o Mucuripe e eles estão sempre tocando forró. A festa que mais lota é o ‘Forró das Antigas’ com Mastruz com Leite, Limão com Mel e Calcinha Preta. Então, posso dizer que não há mais tanto preconceito”, conclui o empresário Emanuel Gurgel.
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o passado, a sanfona e a zabumba davam o ritmo ao sertão, onde Luiz Gonzaga foi coroado rei. Quando apenas o pé-de-serra era a trilha sonora oficial dos nordestinos, poucas pessoas imaginaram que um dia o forró se tornaria um negócio lucrativo e envolveria uma rede complexa de empresários, bandas, empresas e casas de show. A reinvenção do ritmo aconteceu ainda na década de 90, quando o forró adicionou aparatos eletrônicos ao antigo xote. A partir de então, as bandas passaram a contar com a presença de dançarinas, guitarras e jogos de luzes; uma combinação que resulta no ritmo frenético do chamado forró eletrônico ou estilizado, como alguns preferem definir. Como resultado desta transformação, o público recebeu uma experiência sensorial mais intensa e imediata. Isto porque, agora, o mercado forrozeiro prioriza as apresentações mais que a venda de CDs e músicas. Se livrando dos estigmas, o forró atualmente possui um público mais heterogêneo e fiel, sendo inegável a capacidade de bandas como Garota Safada de atrair uma legião de fãs para os seus shows. De cima do palco, Wesley Safadão, Xande, Solange e tantos outros se tornaram responsáveis pela mistura de classes sociais e de gêneros. No Nordeste, pode-se dizer que o forró é onipresente e feito para todos, não à toa, a palavra surgiu do inglês, “for all”. Quem viveu na região durante os últimos 23 anos, definitivamente, já ouviu o chamado: “É a banda Mastruz
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Banda Mastruz com Leite
indústria da música Ex-funcionário do empresário Emanuel Gurgel, Isaías Duarte falou sobre o intuito de fazer o forró crescer para fora do Nordeste, quebrando as barreiras da discriminação. “Antes, o forró era mal visto, as pessoas já diziam que era brega, entre outras coisas. Porém, isso tudo mudou e o Aviões fez parte processo. Hoje, “É uma indústria que desse nós tocamos em lumovimenta os setores gares que ninguém imaginaria. Mas mais diversos – desde para isso acontecer o compositor até o foi preciso mudar a maneira com que as vendedor de cachorro bandas se apresenquente que fica do lado tavam”. Atualmente, de fora do show” gerir uma banda de forró é como cuidar de Isaías Duarte um produto, em todos os aspectos. De acordo com Isaías, o forró é responsável por melhorar a economia, não apenas para as bandas que estão no palco ou empresários. Ele explica que existem milhares de pessoas que conseguem ganhar dinheiro com o forró que não aparecem nas estatísticas. “É uma indústria que movimenta os setores mais diversos – desde o
compositor até o vendedor de cachorro quente que fica do lado de fora do show – no Nordeste, tem show de forró de segunda a segunda. Com um público mais exigente, nós temos que garantir segurança, bom atendimento nos shows, organização, entre outras coisas. Todo esse trabalho mexe com a economia local, inclusive das pequenas cidades”, explica. O empresário conta que também usou a técnica de distribuir os CDs de graça para melhorar a divulgação das bandas. “Enquanto a pirataria só crescia, nós perdíamos dinheiro com os CDs. Na rua, era possível comprar três discos por R$ 10. Na loja, o nosso custava R$ 15. Não dava para competir. Foi quando o mercado forrozeiro percebeu que os CDs poderiam se transformar em um instrumento poderoso de divulgação das bandas, o cartão de entrada delas. O lucro viria a partir dos eventos. Funcionou bem!”, disse Isaías. Essa ideia de distribuição gratuita fez surgir um novo mercado, dominado por pessoas especializadas em gravar shows e distribuir com o público. Uma prática chamada “marketing do alô”.
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Estilo profissionalizado “A A3 Entretenimento nasceu do Aviões do Forró”, disse Isaías Duarte, que junto a Carlos Aristides e Claúdio Camurça, comanda a empresa, uma das maiores produtoras do Brasil. Situada em Fortaleza, no Ceará, celeiro dos grandes forrozeiros, o empreendimento surgiu a partir da necessidade de profissionalizar ainda mais as bandas que estavam surgindo no mercado, como um produto. Dentro de produtoras com um modelo de negócios similar ao da A3, os músicos são funcionários. Podendo, futuramente, adquirir parte do produto que é a marca criada pela banda. Além disso, seguindo esse modo de gestão, as empresas lançam casas de shows e rádios especializadas em forró, sempre de olho na divulgação que
é o ponto principal da indústria. Esse método vai à contramão do mercado fonográfico tradicional. A trajetória da A3 começou quando Isaías investiu na banda formada por Solange e Alexandre, mais conhecido como Xandinho. Depois, o empresário foi responsável pelo sucesso de Solteirões do Forró, Forró dos Plays e do Forró do Muído. “O Aviões do Forró é sucesso por todo Brasil. Em lugares fechados, é capaz de reunir até 45 mil pessoas. Em abertos é muito mais, até 500 mil”, explica Isaías. E ele não está mentindo. O grupo é um fenômeno em público, realizando entre 20 a 25 shows mensalmente, um número que sobe para 40 durante o período junino. Fotos: Flickr São João de Caruaru | Flickr Apontecom
“O Aviões do Forró é sucesso por todo Brasil. Em lugares fechados, é capaz de reunir até 45 mil pessoas. Em abertos é muito mais, até 500 mil” Isaías Duarte
Banda Aviões do Forró
cializados apenas na pirataria e com péssima qualidade. “Como fã de forró, percebi uma carência de divulgação das bandas. No início, eu não recebia nada por esse trabalho, minha profissão era lecionar. Eu fazia pelo prazer de colaborar, pedia para entrar de graça nas boates e gravava os shows para disponibilizar na internet. Não recebia um centavo para isso”, recorda-se. Júnior diz que o objetivo sempre foi o de fazer o forró crescer e levá-lo para outras regiões do Brasil. “Quando libero um novo show pela internet, é possível ver a dimensão que ele alcançou. Um show de Garota Safada ou Aviões do Forró chega a ser baixado por 500 mil pessoas, facilmente. Bandas menores tiram entre 150 a 200 mil downloads”, explica. O forró ultrapassou as fronteiras do Nordeste, ainda assim, é aqui onde ele gera mais renda. Em meio a uma das indústrias mais cruéis, que é a fonográfica, o estilo foi capaz de atropelar o preconceito e invadir os lares dos brasileiros. Assim como o próprio nordestino, o forró é resiliente. Na falta de uma rádio, os forrozeiros montaram uma para si. Foi assim com os estúdios e casas de show. O espetáculo do forró estilizado só existe por que souberam apostar nele.
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Banda Garota Safada
A indústria do forró se expandiu de tal forma, que houve a criação de um comércio criativo paralelo ao das grandes empresas. Esse é o caso de João Bosco, mais conhecido como “Júnior Moral”. Ex-professor de matemática, Júnior abandonou as lousas para trabalhar com forró, mais especificamente, explorar o marketing que ele pode oferecer às empresas. No esquema, as empresas pagam pelo ‘alô’ dos cantores durante os shows, gravado e distribuído gratuitamente entre os fãs - assim as bandas ganham a divulgação de seus trabalhos. “Nós usamos o forró para fazer a propaganda de todos os tipos de empresas, especialmente as pequenas. Já fomos contratados por farmácias, madeireiras, supermercados e muitas outras. Para elas, é mais barato que colocar um anúncio na rádio ou televisão. Embora no momento do show as pessoas nem escutem o alô que o cantor deu a fulano do mercadinho, aquilo vai para o CD e quando as pessoas escutam, aquilo fica gravado na mente delas. Eu manipulo o alô que o cantor deu para que saia em vários momentos do CD, inclusive na música mais famosa do momento”, explica Júnior. Ele conta que teve a ideia após perceber que os CDs de forró eram comer-
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O marketing do alô
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Cultura
Patriarca de uma dinastia musical
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orival Caymmi completaria 100 anos no dia 30 de abril de 2014. Ao falecer, em 2008, com 94 anos de idade e 70 de carreira, o compositor deixou registradas 120 composições em seu cancioneiro. Tomando a referência de quase um século de trajetória pessoal e artística, e comparando com outros compositores com menos tempo de idade e de experiência, a ideia é de que Caymmi produziu pouco, o que de forma preconceituosa reativa sua imagem de preguiçoso e por extensão a do baiano. Dorival até admitia que o chamassem de preguiçoso, mas esclarecia que sua preguiça era laboral e contemplativa quando era criar. Dizia que, enquanto muitos compositores de sua época se gabavam que tinham 200 ou 300 músicas na gaveta, ele ao contrário
só contava que tinha muito menos do que isso, mas tudo com qualidade, porque quanto mais acumulavam, mais davam impressão de que havia bagulho no meio. A obra de Caymmi é resultado de sua experiência simbólica e material, afetiva e festiva, social e cultural com Salvador, onde viveu até os 23 anos e depois por quase uma década nos anos 70, e com o Rio de Janeiro, onde, por mais de 60 anos, construiu sua carreira profissional e a sua família. É certo que a maioria de suas canções está diretamente ligada à sua memória baiana, mas sua mediação como baiano em outros contextos e identidades possibilitou que a sua criatividade musical abarcasse outras referências culturais, transformando a Bahia universal. Mas não só a sua terra, o Nordeste também. Fotos: Divulgação / Acervo da Família
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Por Marielson Carvalho Colaboração para Revista NORDESTE
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Revista NORDESTE lembra a obra de Dorival Caymmi, que este ano completaria 100 anos. O compositor deixou registros de sua experiência afetiva, social e cultural com a Bahia e com o Nordeste
O Nordeste do compositor Embora a Bahia seja no complexo identitário do Nordeste um território específico em termos físicos e humanos, ainda assim faz parte de uma invenção de Brasil a partir de engendrações políticas em vários períodos da história nacional como uma região à margem de um modelo evolutivo e modernizante econômico e social. Quando se fala da Bahia, não a dissociam do Nordeste, até porque a caracterização mais restritiva de seu clima e natureza, a saber, o semiárido, compõe a maior parte de suas dimensões territoriais. Assim como a Bahia, o Nordeste não é somente seca. E Caymmi como seu representante, sem estar filiado a grupos institucionalizados, mas nem por isso ingênuo do poder de afirmação que sua música passaria a operar no imaginário nacional, mostrava o
quanto que a voz do Nordeste através da música não se calaria diante do preconceito e da exclusão. Dorival Caymmi era contemporâneo de Luiz Gonzaga, circulando e se cruzando com ele nos corredores das rádios e nos points artísticos do Rio de Janeiro das décadas de 1940 e 1950, quando a produção radiofônica e fonográfica irradiava para todo o país a diversidade musical de seus artistas. Caymmi com seus sambas baianos e Gonzagão com seus baiões afirmavam a imagem do Nordeste a partir de sua pertença de lugar mais íntimo. Cada um na sua nordestinidade dimensionava suas identidades culturais em dicções e estéticas sonoras diferentes, mas iguais no intento de cantar e traduzir suas experiências nordestinas para um público acostumado a ouvir até então apenas marchinhas cariocas.
As canções de Caymmi “O que é que a baiana tem?” Depois de estrear em 1939 com seu samba “O que é que a baiana tem?”, com o qual Carmen Miranda tornou-se internacional, Caymmi em 1941 assina contrato para fazer sua primeira turnê fora do Rio de Janeiro. Assim, passou sete meses viajando pelo Nordeste, estrelando programas de rádio em Fortaleza, Recife e Maceió, além de Salvador. Seria seu primeiro retorno à sua terra natal.
“A janela voltou só” Em Fortaleza, em 17 de outubro, além de iniciar a temporada na Rádio Clube de Fortaleza, o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), órgão da Presidência da República sob o mandato de Getúlio Vargas, aproveitou a presença de Caymmi para fazer um curta-metragem baseado em sua canção praieira “A jangada voltou só”. O próprio compositor atuou como pescador. A gravação foi feita em Mucuripe.
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“Dora” Em Recife, ele compôs uma de suas canções mais conhecidas, “Dora”. Stella Caymmi, neta e biógrafa do avô, reproduz o que ele revela ter sido a fonte de toda inspiração para a letra: uma mulata que dançava freneticamente ao som do frevo de um bloco chamado Pão da Tarde. Desfilava com a intenção de arrecadar dinheiro para o Carnaval, dali a dois meses. Mas segundo Caymmi a animação da banda e da mulata era tanta que parecia tempo da folia. Letra e música saíram na hora. Fotos: Acervo da Família
Rendição às belezas de Dora Em 2004, num show em Recife da turnê de Nana, Dori e Danilo Caymmi do CD comemorativo aos 90 anos de Dorival, os irmãos inseriram “Dora” no repertório com exclusividade para a apresentação na cidade. Em meio à maioria de sambas baianos e canções praieiras, Nana Caymmi, que depois do pai é a voz que melhor interpreta a mais pernambucana das músicas de seu cancioneiro, ao cantá-la deu uma demonstração emocionada do quanto Dorival Caymmi se rendeu às belezas de Dora e do “Recife dos rios cortados de pontes”. O ambiente praieiro de suas memórias soteropolitanas foi irradiado a partir do Rio de Janeiro como representação de um paraíso terreal, onde pescadores, sereias e coqueirais compunham um modo de bem-viver nordestino para além da Bahia, mas a
tomando como certa idealização idílica de integração homem-natureza. Com a maior faixa litorânea do país, o que resulta indiscutivelmente vozes marinhas de uma memória popular em folguedos, cantos e manifestações culturais, o Nordeste tem o mar como uma de suas imagens simbólicas mais recorrentes no imaginário nacional. Dorival Caymmi inaugura essa mitologia praieira, confirmado por Luís da Câmara Cascudo, folclorista potiguar, como único do gênero na música brasileira.
Obra acolhedora Em seu centenário, a obra de Caymmi se reafirma como acolhedora de um tempo, cujo ritmo não era medido pela ansiedade ou celeridade das ações. A maré ditava o vaivém de suas ondas musicais. Tudo para Caymmi tinha seu curso temporal em prol dos sentidos. Cada ponto sensorial tem que ser destacado na sua criação e recepção. Tudo urdido e equilibrado pacientemente para ser contemplado. Gilberto Gil, seu aprendiz, compôs “Buda nagô”, uma das homenagens musicais mais belas para o mestre Caymmi, com os seguintes versos: “Dorival é belo/ Dorival é bom/ Dorival é tudo/ Que estiver no tom”.
Pelo
Rivânia Queiroz
Mundo
rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br
Parque artificial de naufrágios
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Mergulhar com arraias, tubarões, lagostas e uma infinidade de peixes multicoloridos. Essa experiência tem sido possível graças a um parque artificial de naufrágios que vem sendo criado no litoral pernambucano desde 2002. Várias embarcações fora de operação já foram afundadas propositalmente para a criação de recifes artificiais. Elas têm criado um refúgio e habitat para o meio marinho, permitindo o estabelecimento de uma cadeia alimentar e de relações ecológicas no recife. A iniciativa tem contribuído para o desenvolvimento da atividade ligada ao ecoturismo e ao mergulho subaquático na região, estimulando o fluxo de turistas e mergulhadores. Além de movimentar a economia, essa prática tem sido importante para o incremento da pesca artesanal em função do crescimento da fauna marinha. A atividade faz parte de um projeto idealizado pelo grupo Wilson Sons, um dos maiores operadores integrados de logística portuária e marítima e soluções de cadeia de suprimento no mercado brasileiro. Ele recebe a parceria da Universidade Federal Rural de Pernambuco. A maioria dos naufrágios de Pernambuco é localizada em Recife, Olinda, Cabo de Santo Agostinho, Ponta de Pedra e Serrambi.
Camarão na ilha
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A cidade de Paraty, no litoral carioca, atrai todos os anos uma legião de visitantes nesta época. É que acontece por lá a tradicional Festa do Camarão, que comemora
o fim da temporada de proibição da pesca deste fruto do mar. Além de poder provar dos deliciosos pratos feitos com o crustáceo, o turista que visita esse balneário pode desfrutar de muita cultura, passeios de barco e compras de artesanato. O festival gastronômico acontece de 20 a 22 de junho.
Hotéis flutuantes cruzeiro fluvial em meio aos rios Negro, Solimões e Amazonas, ficará atracado no Porto de Manaus até 22 junho. Ele tem capacidade para 150 passageiroshóspedes. O Monarch, da empresa Pullmantur, atenderá os torcedores da Costa Rica. A embarcação ficará no porto de Santos entre 22 e 25 de junho e tem capacidade para 2.800 passageiros. No Rio de Janeiro, 25 iates com mais de 100 pés vindos da Inglaterra, Alemanha e Estados Unidos, além do Brasil, ficarão atracados no píer da Marina da Glória.
Localizada a 20 minutos do centro de Paraty e rodeada por uma imensa área verde, a Pousada Bromélias dispõe de excelentes acomodações para quem está pensando em descansar neste paraíso. Ela possui cachoeira e piscinas naturais, trilhas pela Mata Atlântica, quadra de tênis, jogos de mesa (xadrez, cartas) e snooker. Ainda tem spa, com massagens e banhos aromaterapêuticos em ofurô, drenagem linfática e tratamentos corporais. Os bangalôs, ou chalés, são totalmente individuais e afastados das áreas sociais, o que possibilita desfrutar do silêncio e muito descanso. E ainda fica bem pertinho das praias de São Gonçalo e da Prainha. Na pousada carioca, os valores de pacote para um casal com quatro dias/três noites variam entre R$2.100,00 a R$2.960,00, e inclui café da manhã, dois ingressos para a Casa de Cultura, 20% de desconto em banho aromaterapêutico na sala de ofurô para duas pessoas e 10% de desconto em tratamentos corporais.
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Refúgio natural
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A falta de leitos na hotelaria brasileira fez surgir uma ideia criativa: os hotéis flutuantes. São navios de cruzeiros e iates de luxo que estão atracados em portos e marinas de várias cidades-sede da Copa do Mundo. Eles vêm servindo de apoio aos turistas, sobretudo estrangeiros, em lugares como Manaus, Natal, Fortaleza, Recife e Rio de Janeiro. Em Manaus, por exemplo, a previsão é de que 28,5 mil estrangeiros e outros 147,7 mil brasileiros se hospedem por lá nos dias de jogos. A capacidade hoteleira da cidade é limitada a 20,6 mil acomodações. Um dos navios que servirá de hotel flutuante é o MSC Divina que navega em águas brasileiras pela primeira vez. Além de passar pelo porto de Santos, a embarcação ficará atracada em portos de Recife, Natal e Fortaleza, até o dia 23 de junho. Com capacidade para 3.500 pessoas, ele foi fretado por torcedores mexicanos. O Grand Amazon, que desde 2005 faz
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Esporte
Foto: Agência Brasil
este ano deverá alcançar 9,5% do PIB (R$ 466,6 bilhões), um crescimento de 5,2% em relação aos números de 2013. Um percentual maior que a média mundial, que será de 2,5%. De acordo com o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, o país está aproveitando bem as oportunidades que a Copa do Mundo oferece. “O Brasil é protagonista importante nas relações internacionais. Somos a sétima economia mundial, um mercado em crescimento. A Copa movimenta bilhões de reais dos governos e da iniciativa privada. Aqui, teremos um acréscimo de R$ 142 bilhões durante o ciclo do torneio. Vamos gerar 3,6 milhões de empregos e atrair novos investimentos
nacionais e internacionais. Então, nossos concorrentes, tanto na geopolítica, quando na economia não aceitam que tenhamos uma nota 10 também na organização de grandes eventos. Mas, se não tirarmos 10, vamos conseguir um 9,5”, diz. O relatório da consultoria Value Partners também é positivo. O balanço afirma que campanhas institucionais, exposições, incentivos para pacotes de viagens, entre outras ações irão gerar R$ 614 milhões com turistas internacionais. Haverá também um incremento de 10% no número de turistas base, ou seja, 60 mil visitantes, representando um ganho de R$ 395 milhões.
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paixão pelo futebol não é só brasileira, a expectativa do número de visitantes para a Copa do Mundo equivale a praticamente dois terços da população do Rio de Janeiro, a segunda maior cidade do Brasil. De acordo com levantamento da consultoria Value Partners, encomendado pelo Ministério do Esporte, espera-se que o Mundial reúna mais de 600 mil turistas internacionais (movimentando cerca de R$ 3,9 bilhões) e mobilize 3.100 turistas nacionais (gerando em torno de R$ 5,5 bilhões). Segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), o impacto do segmento na economia do Brasil
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mAiS DE 600 mil tuRiStAS AquECEm ECONOmiA
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NAVIOS SERVEM DE APOIO A VISITANTES Os mexicanos estão na lista dos visitantes que irão ajudar a movimentar a economia do país. Cerca de três mil pessoas do México desembarcaram em Pernambuco para o jogo da seleção do México contra Camarões, na Arena das Dunas, em Natal. Os torcedores chegaram de avião dois dias antes do Mundial, no Aeroporto dos Guararapes, mas se hospedaram em um navio ancorado no Porto do Recife. O local está sendo usado como ponto de apoio, porém o grupo deve viajar por todas as cidades onde a seleção mexicana jogará. A seleção do México já passou pelo Rio Grande do Norte e Ceará (jogando contra a seleção brasileira), além de Recife. Segundo estimativa do Ministério do Turismo, o estado de Pernambuco deve receber por volta de 200 mil turistas de diferentes estados e nacionalidades durante o período do evento. Outro grupo de 3,2 mil torcedores chilenos também chegou ao país e vai percorrer o Brasil em uma caravana, de acordo com informações do Ministério do Turismo. Os visitantes vieram para acompanhar os jogos da seleção chilena na Arena Pantanal, em Cuiabá; no Maracanã; Rio de Janeiro; e no Itaquerão, em São Paulo. Parte deles acompanha a Caravana Santiago Brasil 2014, que reúne cerca de 800 carros e pretende percorrer 10 mil Km junto com a seleção de seu país. Os visitantes já são veteranos. O Chile é o quinto maior emissor de turistas para o Brasil e o terceiro entre os sul-americanos, depois da Argentina e do Uruguai. Em 2012, mais de 250 mil chilenos visitaram os destinos turísticos brasileiros. As cidades mais procuradas pelos turistas de lazer foram Rio de Janeiro, Armação de Búzios, Balneário Camboriú, São Paulo e Florianópolis.
DO MAR PARA AS ARENAS Outros estrangeiros de várias nacionalidades também atracaram seus navios na cidade do Rio de Janeiro. A primeira embarcação trazendo turistas para a Copa do Mundo no Brasil, navio MSC Divina, é o maior em número de passageiros que já atracou na capital carioca. Ao todo, são 5,6 mil pessoas dentro da embarcação, sendo 4,1 mil passageiros e 1,5 mil tripulantes. Do total de passageiros, cerca de 1,1 mil devem desembarcar no Rio. Até o fim do Mundial, são esperados mais de 9 mil passageiros na capital carioca. O navio veio de Miami, nos Estados Unidos, fez uma escala em Salvador, na Bahia, e já seguiu para Santos, no litoral paulista. Americanos, europeus, asiáticos e australianos são as nacio-
nalidades mais comuns que ocupam a imensa estrutura do transatlântico. O Ministério do Turismo criou um plano alternativo de hospedagens para atender à demanda de turistas em algumas cidades-sedes da Copa. Albergues, aluguéis de temporadas, campings, cama e café oferecem novos leitos além dos tradicionais, como hotéis e pousadas. Manaus, por exemplo, deve receber cerca de 28,5 mil estrangeiros e outros 147,7 mil brasileiros nos dias de jogos, de acordo com o órgão. A capacidade hoteleira tradicional da cidade era de 20,6 mil acomodações e com as hospedagens alternativas, outros 4,3 mil leitos foram disponibilizados. O mesmo aconteceu com as demais cidades-sede como Natal, Recife, Salvador e Cuiabá.
Fotos: Agência Brasil / Portal da Copa
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Mesmo não sendo cidade-sede da Copa, a cidade de João Pessoa recebeu 600 torcedores do México, Camarões e Japão. A presidente da Empresa Paraibana de Turismo (PBTur), Ruth Avelino, afirmou que o estado está pronto para atender bem todos os gringos, contando com a tradicional receptividade do povo paraibano. A expectativa é de que os torcedores das três seleções permaneçam o máximo de tempo na capital paraibana, no período do Mundial. A presidente da PBTur enfatizou que o Governo do Estado estabeleceu uma programação de divulgação do ‘Destino Paraíba’ nas cidades-sede, como Recife, Natal e até o Rio de Janeiro, desde 2012. Foi realizada a distribuição de material institucional e mostra de vídeos destacando os pontos turísticos, além da instalação de outdoors na capital pernambucana e em Fortaleza. Para atender todos os torcedores, representantes do trade turístico se mobilizaram para promover uma série de atividades no receptivo desses turistas.
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LOGÍSTICA BENEFICIA PARAÍBA
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COPA GARANTE EMPREGO E RENDA Segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o futebol movimenta mais de R$ 10 bilhões e gera 370 mil empregos no Brasil. Com os investimentos realizados para a Copa, esses números tendem a aumentar ainda mais. Em entrevista exclusiva à Revista NORDESTE, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, faz uma avaliação do saldo que a Copa do Mundo deixará para o Brasil, analisando também a atual conjuntura política do país.
O brasileiro reclamou que o Governo gastou muito com o Mundial e que esse dinheiro deveria ter sido aplicado na saúde, na mobilidade urbana e em outras áreas.
Esse é um dos argumentos de quem não quer ver o sucesso da Copa no Brasil. Nem um centavo foi tirado dos orçamentos da Saúde, da Educação e da Segurança para a Copa. Agora, na véspera do torneio, os jornais já reconhecem que o investimento total na Copa do Mundo – R$ 25,6 bilhões – equivale a um mês dos investimentos em educação. As pessoas precisam admitir que as obras não são para a Copa. São para a população, que
Fotos: Agência Brasil / Portal da Copa
No fim das contas, quanto o Governo brasileiro - através de suas instituições financeiras- investiu no Mundial e qual o saldo concreto em favor do país de agora em diante?
O governo, por intermédio do BNDES, criou uma linha de financiamento para construção e reforma dos estádios. Cada arena teve direito a um empréstimo de, no máximo, R$ 400 milhões. Nem todos usaram esse financiamento, que foi concedido sob as mesmas condições impostas a qualquer outra atividade econômica e será pago dentro dos prazos legais. Além disso, foi executado um programa de renúncia fiscal para operações de compra de matéria prima para obras nos estádios, que não passa de R$ 670 milhões. Os outros investimentos estavam previstos no PAC para as obras de mobilidade urbana. O efeito concreto desses investimentos é a modernização dos nossos sistemas de mobilidade urbana, de segurança, de transporte público.
De que forma a precocidade da disputa presidencial influiu na construção de um clima negativista da Copa?
A tentativa de criar um clima negativo já vem desde que o Brasil foi escolhido para sediar o torneio. Agora, o debate em torno da Copa está contaminado, também, pela disputa eleitoral. Mas, à medida que os jogos acontecem, o clima muda e o Brasil estará unido na torcida pelo sucesso dentro e fora dos estádios.
Como o senhor encara a postura dos veículos de comunicação, em
especial de parte da grande mídia, a respeito das ações governistas?
A cobertura de uma parte dos meios de comunicação optou por enfatizar nossos problemas e deixar de lado nossas virtudes na organização da Copa. O Brasil, como qualquer outro país tem problemas. Não queremos esconder nossas dificuldades, nossos desequilíbrios. Mas não podemos aceitar que esqueçam nossa condição de sétima economia do mundo, de país onde 40 milhões de pessoas deixaram a pobreza e conquistaram inserção no mercado de trabalho. Aos poucos isso também está mudando e a percepção de que somos capazes de organizar bem uma Copa do Mundo vai acabar prevalecendo.
Passada a Copa no Brasil, qual o legado que o senhor projeta e como será a gestão das arenas construídas?
As arenas, bem administradas, vão gerar resultados positivos para seus gestores. Estádios modernos e seguros atraem mais gente para os jogos de futebol. E não só jogos de times locais. Times do Rio, de São Paulo, de Minas, vão querer jogar em Manaus, em Natal, em Cuiabá. Equipes estrangeiras vão se interessar em jogar no Brasil. Além disso, as arenas são espaços multiuso, onde podem ser realizados outros grandes espetáculos, feiras, convenções. Tudo isso gera renda.
Arrisca um palpite sobre o desempenho da seleção brasileira?
Vamos à final e vamos ficar com a taça pela sexta vez. Além dos nossos craques dentro do campo, teremos o apoio da torcida brasileira e, no enfrentamento dos europeus, também dos latinos americanos, que vão se sentir em casa aqui no Brasil.
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O Brasil está aproveitando bem as oportunidades que a Copa oferece ao país sede. Criamos as condições para que tudo corra bem, dentro e fora dos gramados. Ninguém realiza um evento desse tamanho sem enfrentar nenhum problema. O próprio presidente da FIFA reconheceu isso em entrevista a um jornal suíço, entrevista reproduzida em parte por jornais brasileiros. Blatter disse o seguinte: “Esta é a minha décima Copa do Mundo, e sempre aparecem as mesmas preocupações três semanas antes do início da competição. Na Itália, um dia antes do apito inicial estávamos fixando cadeiras no estádio”. Os nossos estádios ficaram prontos. As obras fundamentais para garantir conforto e segurança durante o torneio também foram entregues. O que ainda não está terminado continua em execução e ficará como benefício para a população.
terá cidades melhores, transporte público com mais qualidade, mais empregos e que o Brasil vai arrecadar mais para investir mais em saúde e educação.
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Estamos em plena Copa do Mundo no Brasil. Qual a avaliação que o senhor faz dos investimentos para a competição e seus efeitos na sociedade brasileira?
NORDESTE Agito
agitonordeste@revistanordeste.com.br
Eunicio e Mônica Paes de Andrade Candidato ao Governo de PE, Armando Monteiro recebe Dilma em jantar
João Alves e o senador Eduardo Amorim
Aécio Neves ao lado dos tucanos Tasso Jereissati e Fernando Henrique
Wellington Dias e Elmano
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Eduardo Campos e o seu candidato à sucessão, Paulo Câmara
Buega Gadelha (vice-presidente da Confederação Brasileira de Ind.) e esposa Armando Monteiro, Mônica Guimarães, Jorge e Ana Côrte Real
Aparecida e Lafaiete Coutinho
Paulo Souto (ex-governador) e esposa
Robson Farias e Juliana
Amaury Jr no lançamento do livro “Glória Roubada”, de Edgardo Martolio, em São Paulo
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Paulo Câmara e Ana Luisa
Esporte
golpe nas dificuldades Atleta radicado em Pernambuco é um exemplo de como as artes marciais podem ajudar na superação de traumas Por Agatha Justino agatha@revistanordeste.com.br
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A
ssim como outros esportes rotina intensa de treinos, de 8 a 9 relacionados à luta, o Jiu horas por dia. Um ritmo que só foi Jitsu ainda carrega o estigma interrompido no ano passado por de ser violento e marginalizado. Mas, causa de um atropelamento sofrido isso tem mudado graças a atitudes de por ele, em Boa Viagem, no Recife. pessoas que têm buscado nessa prática Por causa deste acidente, Wagner esportiva mais saúde, disciplina, tranprecisou se submeter a uma cirurgia e quilidade e superação. “Aos poucos, ficou impedido de entrar nos tatames estamos conseguindo deixar de lado por quase seis meses. os estigmas do passado e, com apoio Além destas vicissitudes enfrentadas da mídia, mostrar os benefícios desse pelo atleta, ele também passou pelo tipo de atividade”, diz o paulista radidrama de tantos outros, que é a falta cado em Pernambuco, Wagner Ramos, de patrocínio para lutadores. Hoje, medalha de ouro na categoria peso peapoiado por uma marca de barras de sado do Houston Internacional Open, cereais, ele pode mostrar seu talento campeonato realizado nos Estados e buscar mais apoio pelo Brasil. “Eu Unidos, no mês de fevereiro. tive sorte, pois conseguir o apoio de O atleta é um exemplo de como as uma empresa no setor de alimentos artes marciais podem ajudar na supenão é fácil, mas antes disso foi bastante ração de traumas. Após complicado. Inclusive, para perder a família em um conseguir ir lutar nos Estados 3 medalhas acidente de carro, WagUnidos. Para isso, contei com de ouro ner passou a treinar e isso ajuda de amigos da academia o ajudou a se afastar da onde treino e trouxe a medatristeza e da depressão. lha de ouro para o nosso país”, Com o tempo, o lutador comemora. 2 medalhas se profissionalizou, cheEle lamenta que o Brasil de prata gando a acumular oito ainda seja conservador em medalhas (cinco ouros, ações de patrocínios. “Poucos duas pratas e um bronatletas tiveram a mesma sorte 1 medalha ze), além de passar uma que estou tendo”. E diz que a de bronze temporada na Coreia do falta de um apoio concreto faz Sul, onde se tornou vicecom que o país perca a opor-campeão na categoria tunidade de ser reconhecido lá meio-pesado. fora em outros tipos de modalidades Para garantir o destaque nos camesportivas. “Há excelentes atletas em peonatos, Ramos se dedica a uma vários níveis de esportes”, conclui. Fotos: Divulgação