Revista nordeste ed 92 issu

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bRICS

CaIs estelita

Desenvolvimento

A criação do banco e as relações com a China

Movimento desperta reação nacional

Estados têm crescimento maior que o Brasil

O futuro do Brasil O raio X das eleições de 2014 no país e nos nove estados



ÍNDICE ENTREVISTA

POLÍTICA

8

28

Desafios e metas do BNB para o segundo semestre Presidente do BNB, Nelson Souza, fala das ações do banco no Nordeste e avalia situação econômica do país

Muito além da Copa Presidente tenta aproveitar saldo positivo da Copa do Mundo e concentra atenções na economia e reforma política

30

Casamento com dias contados? Aliança entre candidato Eduardo Campos e vice Marina Silva tem somado desentendimentos

49

Classe média está maior Mais de 20 milhões de nordestinos integram hoje esse grupo social

50

Economia sai fortalecida Reunião da cúpula do Brics implanta fundo de cooperação para países membros

GERAL

SAÚDE

COLUNAS

56

76

6

Gênero Invisível Revista NORDESTE conversa com especialistas para saber como sistema carcerário trata mulheres

61

Tecnologia aliada à educação Cresce número de computadores em salas de aula, revela pesquisa brasileira

62

32

Saindo dos muros Marcha das Vadias promove debate sobre direitos sexuais e reprodutivos da mulher

Aécio em empate no 2º turno? Pesquisa mostra tucano com bons resultados, mas recebe críticas por não tratar de economia em sabatina

Cai número de fumantes Consciência sobre problemas causados pelo cigarro e rigor da legislação ajudaram a diminuir tabagismo

MEIO AMBIENTE

80

Clima preocupa cidades Brasil tem 28 cidades com projetos sustentáveis, oito municípios são do Nordeste

ECONOMIA

16

35

O que esperar do futuro? Faltam menos de três meses para as eleições deste ano, mas as alianças já estão definidas para o confronto nas urnas pela presidência do Brasil e governança dos estados

Um salto de desenvolvimento Alagoas, Maranhão e Paraíba começam a se destacar na economia do Nordeste e do Brasil

82

Areia nos pés e bola nas mãos Recife sedia Copa do Mundo de Handebol de Areia, na Praia do Pina

52

A força dos ventos Energia eólica é boa fonte de energia limpa e mostra-se alternativa viável para o Nordeste

UM SALTO DE DESENVOLVIMENTO

12

Plugado | Walter Santos

34

Delfim Neto

60

Carlos Roberto de Oliveira

48

Ipojuca Pontes

ESPORTE CAPA

Cartas e E-mails

54

Temporada de poucos frutos Empresários reclamam de prejuízo durante a Copa do Mundo

66

Uma ilha de elite Ocupação do Cais Estelita toma forma de movimento cultural com repercussão em todo país

EDUCAÇÃO

72

Uma nova escrita Jovens escrevem mais nas redes sociais, mas a qualidade da escrita diminui em comparação com gerações passadas

84

Pelo Mundo | Rivânia Queiroz

86

Digestivo | Flávia Lopes

CULTURA

90

Augusto dos Anjos em Quadrinhos Escritor paraibano, Jairo Cézar, lança obra infantil sobre a história poeta

88

Agito Nordeste


Diretor Presidente Walter Santos Diretora Administrativa/Financeira Ana Carla Uchôa Santos Diretor Comercial Pablo Forlan Santos Diretor de Marketing Vinícius Paiva C. Santos Logística Yvana Lemos COMERCIAL Gerente Comercial Marcos Paulo Atendimento Comercial Jone Falcão REPRESENTANTES Pernambuco Gil Sabino g.sabino@uol.com.br - Fone: (81) 9739-6489 REDAÇÃO Editora Rivânia Queiroz Repórteres William De Lucca e Flávia Lopes Colaboração Ágatha Justino e Isadora Lira Editoria de Arte e Tratamento de imagem Arthur César e Danielle Trinta Capa Danielle Trinta Projeto Visual Néctar Comunicação ATENDIMENTO/ FINANCEIRO Supervisora e Contas a Pagar Kelly Magna Pimenta Contas a Receber Milton Carvalho Contabilidade Big Consultoria ASSINATURAS (83) 3041-3777 Segunda a sexta, das 8 às 18 horas www.revistanordeste.com.br/assinatura CARTAS PARA REDAÇÃO faleconosco@revistanordeste.com.br

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JULHO / 2014

PARA ANUNCIAR Ligue: (83) 3041-3777 comercial@revistanordeste.com.br SEDE Pça. Dom Ulrico, 16 - Anexo - Centro - João Pessoa / PB Cep 58010-740 / Tel/Fax: (83) 3041-3777 Impressão Gráfica JB - Av. Mons. Walfredo Leal, 681 - Tambiá - João Pessoa / PB - Fone: (83) 3015-7200 Circulação DPA Consultores Editorias Ltda dpacon@uol.com.br - Fone: (11) 3935 5524 Distribuição FC Comercial A Revista NORDESTE é editada pela Nordeste Comunicação, Editora e Serviços Ltda-ME CNPJ: 19.658.268/0001-43

CARTAS E E-MAILS “Um dia desses, em uma dessas reuniões de campanha, veio uma avaliação dos veículos de comunicação e a Revista NORDESTE entrou na pauta. Fiquei muito feliz porque todas as menções e avaliações feitas na publicação foram de respeito e reconhecimento ao trabalho da equipe e de seu incansável diretor, sempre visto nos lugares com ética e postura à altura do empreendimento vitorioso”.

O jogo está sendo jogado A grande disputa que marcará o ano começou há pouco com a confirmação dos candidatos que irão disputar a presidência do Brasil e os governos estaduais. Apesar da definição não ter trazido nenhuma novidade, algumas situações devem ainda embaralhar o processo eleitoral deste ano, como por exemplo, a questão econômica do país que está enfrentando turbulências, ainda em virtude da crise internacional, com aumento de inflação e crescimento das taxas de juros, apesar da suposta estabilidade do Plano Real. O tema promete ser explorado ainda mais agora pelos adversários da presidente Dilma Rousseff. Apesar dos desgastes que a presidente vinha tendo, como as críticas e as manifestações contra a Copa do Mundo, além das lamúrias em relação ao atraso nas obras para o Mundial, é possível que ela tome um fôlego e seja beneficiada com o ainda tímido desempenho dos seus adversários. Nessa última pesquisa realizada pelo Ibope, os números revelaram um cenário de alívio para Dilma, que retomou os 38% das intenções de voto. Aécio Neves subiu duas casas, pontuando 22%, já Eduardo Campos caiu um ponto (8%). O que significa dizer que os votos dos insatisfeitos com o atual governo não estão chegando aos oponentes que poderiam disputar o segundo turno com a presidente. Apesar das incertezas, o cenário eleitoral tende a se repetir, com uma polarização entre PT e PSDB, uma história de confronto que se estende por 20 anos e que promete se demorar mais. Porém, a presidente, além de manter a liderança, Rivânia Queiroz

editora-chefe da Revista NORDESTE rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br

conseguiu segurar a maioria dos partidos que lhe deu sustentação no Congresso Nacional, o que torna o quadro mais favorável para ela nestas eleições. Mas, Aécio parece estar confiante na corrida para o segundo turno. Em seu Twitter, ele havia comentado a pesquisa divulgada pelo Datafolha, também este mês, onde aparece com 20%. Ou seja, ele se manteve em relação a avaliação anterior desse instituto: “O segundo turno está cada vez mais próximo”. A esperança dele se configura na sua estabilidade e possibilidade de um segundo turno com a presidente. Enquanto isso, Eduardo Campos, ainda sem destaque nacional, não consegue crescer nas intenções de voto, ao contrário, tem caído. Mesmo com Marina Silva (Rede) ao seu lado como vice, que gerou no socialista a esperança de conseguir os 20 milhões de votos que ela obteve em 2010, Eduardo ainda não se firmou no cenário eleitoral. Nos estados, os candidatos a governo fizeram arranjos de última hora para viabilizar seus palanques. Há situações emblemáticas e até interessante. O PT, que em eleições passadas indicava a cabeça de chapa na maioria dos municípios, este ano está tendo que se conformar apenas em apoiar palanques de aliados. É o caso de Pernambuco e da Paraíba. No primeiro, o partido vai apoiar Armando Monteiro do PTB, e na Paraíba, o PT estará no mesmo palanque do candidato Ricardo Coutinho, do PSB. Apenas no Ceará e na Bahia os petistas terão cabeça de chapa no Nordeste. Resta pouco menos de três meses para a gente saber o resultado deste jogo, que já está sendo jogado.

Edson Barbosa Publicitário, marqueteiro, presidente da LINK PROPAGANDA e responsável pela Campanha de Eduardo Campos à Presidência da República Brasília – DF.

Quem vive em Brasília e quer saber dos assuntos e das notícias envolvendo os nove estados nordestinos já tem um endereço certo: a Revista NORDESTE, que é muito respeitada por aqui”. Napoleão de Castro Jornalista e apresentador Brasília – DF

Sinceramente, enche de orgulho ver e atestar o nível do trabalho que a Revista NORDESTE tem desenvolvido como instrumento de comunicação para fora do Nordeste”. José Nivaldo Publicitário, marqueteiro e proprietário da Makplan | Recife-PE

Não me canso de dizer que a abordagem feita pela NORDESTE nos remete à condição de sociedade que, enfim, dispõe de uma publicação que trata dos problemas e perspectivas do Brasil de forma competente e nunca vista”. Marconi Medeiros Presidente da FECOMERCIO-PB

Nota da Redação: Sugestões de pauta ou matérias podem ser enviadas para o endereço eletrônico da editora: rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br. Agradecemos a sua participação. NORDESTE On-line Facebook Revista Nordeste Twitter @RevistaNordeste E-mail faleconosco@revistanordeste.com.br Site www.revistanordeste.com.br

Ao longo desses 8 anos, a Revista NORDESTE tem se consolidado como publicação extraordinária sem perfil igual, mas de qualidade inconteste”. Flávio Alenkastro Executivo e chefe de gabinete do presidenciável Aécio Neves | Brasília - DF

Erramos: Os sócios da Bax Distribuidora são Aline Braga Arnaud e Bruno Arnaud, e não Fábio Arnaud como foi dito no caderno especial “Um Salto de Desenvolvimento”, na edição passada, nº 91.

REVISTA NORDESTE N.º 91

A última edição da revista, abordando a genialidade dos publicitários da Bahia que constroem as grandes campanhas presidenciais, merece registro pela importância da forma em que foi tratado o tema”.

JULHO / 2014

Ano 8 | Número 92 | Julho | 2014

EDITORIAL

Bebeta Freitas Empresária | João Pessoa-PB

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NORDESTE revistanordeste.com.br


Entrevista

Desafios e metas do BNB para segundo semestre

O

presidente do BNB, Nelson Souza, avalia a economia do país, fala das ações para o Nordeste e das prioridades do banco para o segundo semestre deste ano. Sobre a reunião dos BRICs, que aconteceu este mês em Fortaleza, ele avalia que o grupo de países emergentes também pode contribuir para o desenvolvimento da região

Sua gestão vai priorizar alguns estados ou todo o Nordeste será chamado a participar do bolo estratégico do BNB?

Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

O que significa sua perma no comando do BNB?

Entrei no BNB em julho de 2012, como diretor de Estratégia, Administração e TI, em um momento difícil, quando foi absolutamente necessário um freio de arrumação. Os diretores e todo o corpo funcional, liderados pelo ex-presidente Ary Joel de Abreu Lanzarin, compreenderam a situação e resolvemos vencer os desafios, entregando-nos plenamente ao BNB, num esforço de soerguimento. Afinal, esse banco é uma das mais importantes instituições do país. Dessa forma, trata-se de grande honra presidir a maior empresa do Governo Federal na Região, talvez o ápice na carreira de um profissional que trabalha em banco desde adolescente. Na condição de servidor público, na melhor acepção do termo, qual executivo não gostaria de liderar a equipe qualificada e competente do Banco do Nordeste? Essa empresa tem papel crucial no desenvolvimento da região, tem serviços prestados à sociedade, sua ação financiadora é absolutamente relevante e gera impactos sociais, desenvolve

programas criativos e inovadores e guarda um cabedal de conhecimento sobre temas fundamentais para o Nordeste. É quase impossível imaginar o Nordeste de hoje sem o BNB. Sua presença está marcada nos muitos empreendimentos nas capitais e no interior da região.

Nelson Souza

É natural que estados com economia mais pujante, como Bahia, Pernambuco e Ceará, demandem mais recursos. Entretanto, a economia regional é dinâmica e ao longo do tempo observa-se que outros estados vão assumindo maior participação nos financiamentos, a exemplo do Maranhão e Piauí, que experimentam crescimento econômico com expansão de fronteiras agrícolas e novos empreendimentos de médio e grande portes que alavancam a demanda de recursos para investimentos. O Banco do Nordeste atua em onze estados, os nove que compõem a região, mais o Norte dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, além do Vale do Jequitinhonha, também em Minas Gerais. Essa região ampliada conta com 1.990 municípios. Trata-se de área com forte identidade regional, que abriga a totalidade do semiárido brasileiro, mas, em diferentes estágios econômicos, com predominância dos espaços de baixa renda. Como banco público, o BNB busca direcionar seus recursos de forma a promover o desenvolvimento intra e inter-regional, adotando metas em seu planejamento estratégico, no sentido de promover a pulverização do crédito, não apenas em termos geográficos, mas também com relação ao porte dos beneficiários. O BNB é o agente FNE, com diretrizes norteadoras, como por exemplo, financiar em cada exercício empreendimentos em 100% dos municípios de sua área de atuação e contemplar cada Estado com no mínimo 4,5% dos recursos (à exceção do espaço atendido no Estado do Espírito Santo, de reduzida área e população). As metas operacionais de Fotos: Divulgação

cada Superintendência Estadual do Banco refletem a demanda, o desempenho ao longo dos anos e a própria dinâmica da economia.

O BNB tem ajudado, ao longo desses anos, aos nordestinos...

O banco tem ajudado a mudar a vida das pessoas, no contexto das políticas públicas do país. Para esse fim ele foi concebido por homens como Rômulo Almeida. E, somente por isso, minha efetivação na presidência do BNB traduz também as responsabilidades delegadas no ato de nomeação assinado pela presidente Dilma e a confiança do ministro da Fazenda, Guido Mantega, no sentido de que todos queremos um Banco do Nordeste cada vez mais forte.

Qual a posição do banco hoje em relação às demais instituições financeiras governamentais?

Em termos de saldo de operações de crédito, o banco ocupa o quarto lugar entre os bancos governamentais e o oitavo lugar entre os maiores bancos do país. Estamos entre os 350 maiores bancos do mundo. Na sua principal área de atuação, que envolve os nove estados do Nordeste mais o Norte de Minas Gerais e do Espírito Santo, o BNB se destaca nos financiamentos de longo prazo, sobretudo porque é

O BNB quer ser o banco preferido no Nordeste. Queremos que o banco reassuma seu papel de protagonista das grandes questões regionais” gestor do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), respondendo por 57% do total dessas operações (54% do crédito para Indústria, Comércio e Serviços e 60% do crédito Rural e Agroindustrial). O BNB alcança, ainda, quase 27% do total de financiamentos na região. Dentre as principais ações do banco no fomento ao crédito na região, além do financiamento de longo prazo, o BNB é líder absoluto no segmento do microcrédito, por meio dos programas CrediAmigo e AgroAmigo, tendo ofertado nestes programas, em 2013, respectivamente, R$ 5,7 bilhões e R$ 1,25 bilhão, em quase 4 milhões


É quase impossível imaginar o Nordeste de hoje sem o BNB. Sua presença está marcada nos muitos empreendimentos nas capitais e no interior da região” de operações de crédito. O BNB também é responsável por 61% do total aplicado no âmbito do Programa Nacional do Microcrédito Produtivo Orientado-PNMPO.

Qual o impacto social que o BNB tem causado na região?

Um impacto social extraordinário consiste no fato de que 37% dos empregos formais criados no Nordeste originam-se dos empreendimentos financiados com recursos do FNE. É importante ressaltar, por outro lado,

a integração dos programas do banco com o Bolsa Família. No AgroAmigo, por exemplo, 67% dos clientes são beneficiários do programa do Governo Federal, enquanto no CrediAmigo esse percentual chega a 45%. O BNB, em seus 62 anos de atividade, tem papel destacado e singular no fomento ao desenvolvimento sustentável da sua área de atuação, resultado de ações que envolvem não somente a alocação de crédito para os setores produtivos da região, mas também o financiamento para infraestrutura, execução de políticas governamentais, incentivo e difusão da cultura regional. Por intermédio do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE), o banco também financia a pesquisa e a elaboração de estudos econômicos, difundindo conhecimentos técnicos, científicos e estratégias, além de planejar, formular, coordenar e avaliar políticas e programas, subsidiando as ações do banco e da sociedade na busca do desenvolvimento sustentável de sua área de atuação.

O que o senhor definiria como prioridades máximas do BNB neste segundo semestre do ano? O BNB quer ser o banco preferido na

região Nordeste, reconhecido pela excelência no atendimento e efetividade na promoção do desenvolvimento sustentável. É isso que reflete a nossa visão, por isso queremos que o Banco do Nordeste reassuma seu papel de protagonista das grandes questões regionais. A participação e liderança do banco no debate sobre os problemas e soluções para a região são elementos intrínsecos à própria existência do banco. Em outros pontos, priorizamos a melhoria da TI, com altos investimentos, bem como a melhoria do atendimento ao cliente, seja abrindo novas agências, seja possibilitando o acesso de nossos clientes aos terminais de casas lotéricas, por meio de convênio com a Caixa Econômica Federal. Mas, o mais importante reside na celeridade do crédito. Temos que ser mais eficientes, mais eficazes e mais rápidos. Sem descuidar da governança e atentando para os riscos, o crédito precisa chegar à ponta no tempo ideal e correto para os empreendedores. Isso é imperativo para uma empresa competitiva. Outra prioridade é a renegociação de dívidas. Ao recuperar créditos, o banco possibilita que o dinheiro retroalimente a economia, permitindo ao Banco cumprir seu papel de agente do desenvolvimento regional.

Este mês nós tivemos a reunião dos BRICs em Fortaleza. Os países emergentes desejam a criação de um fundo estratégico para os países membros. Como isso tem sido visto pelo senhor e pelo banco? Isso pode ser encarado como um reforço estratégico ao desenvolvimento brasileiro? Com população conjunta de quase 3 bilhões de pessoas, cerca de 41% do total mundial, e um PIB conjunto de US$ 15 trilhões, aproximadamente 20% do total mundial, o peso econômico e social do BRICS é considerável. São países em estágio de desenvolvimento similar. São grandes mercados e querem promover o progresso de suas populações. Em termos comerciais, China e Índia então entre os principais fornecedores mundiais de produtos manufaturados e serviços,

enquanto África do Sul, Brasil e Rússia têm-se tornado importantes produtores de matérias-primas. Note-se que o Brasil tem capacidade de prosseguir produzindo e exportando ampla gama de produtos, a exemplo de matériasprimas, bens industriais e serviços simultaneamente. A idéia de criação de um banco do BRICS é fomentar e garantir o desenvolvimento das economias pertencentes ao grupo. A criação do fundo de reserva constitui medida importante, pois se apresenta como mecanismo de proteção às moedas nacionais dos países integrantes do grupo, contra a instabilidade e a volatilidade do sistema financeiro internacional. No total, esse fundo de estabilização terá disponível aproximadamente US$ 100 bilhões de dólares, com maior parcela da China (41%), seguida por Brasil, Índia e Rússia (18% cada) e participação menor da África do Sul (5%). A criação dessas duas entidades é uma resposta aos anseios dos países emergentes que pediam reformas em instituições multilaterais, como o Banco Mundial e o FMI, tradicionalmente sob controle dos países desenvolvidos.

Qual seria, então, o papel mais especial desse fundo?

O objetivo do novo banco não será substituir essas instituições, mas suplementar, apoiando projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável em países do BRICS ou em países emergentes, importantes para o BRICS. Assim, o banco e o fundo de estabilização do BRICS constituirão não somente importantes ferramentas para alavancar investimentos em infraestrutura, mas também possibilitarão o intercâmbio de profissionais, de informações, conhecimentos, a identificação de convergências, a articulação e assistência técnica entre esses países em relação a diversos temas, fortalecendo assim a cooperação internacional com o consequente desenvolvimento dos países deste bloco. Espera-se, portanto, que a consolidação do BRICS, por meio do seu próprio banco, resulte em novo equilíbrio de forças no cenário mundial. Fotos: Divulgação

Há um temor de que possa haver uma elevação dos indicadores inflacionários no país. Qual sua análise e o que o BNB tem promovido ainda no quesito de estímulo econômico?

A projeção de nosso Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE) é que a inflação medida pelo IPCA termine o ano com um índice de 6,1%. Portanto, próximo ao teto da meta, de 6,5% ao ano, porém sem ultrapassá-lo, demonstrando a sintonia fina realizada pelo Governo, inclusive Banco Central, no sentido de não permitir qualquer possibilidade de descontrole inflacionário ao tempo em que procura não prejudicar o crescimento econômico previsto para o ano, por volta de 2%, pelas estimativas do ETENE. Para o próximo ano, a inflação deve comportar-se de maneira parecida, embora um pouco menor, em função sobretudo da necessidade de permitir alguns ajustes em preços administrados pelo Governo. Já a retomada de um processo de crescimento econômico mais contundente depende cada vez mais da ampliação do investimento público e privado, vez que o modelo baseado no incremento do consumo como principal indutor da atividade econômica não deverá repetir o êxito que teve em anos anteriores. Assim, é necessário recuperar a capacidade de investir por parte do poder público, ampliar as possibilidades de parcerias com o

Estamos entre os 350 maiores bancos do mundo. No Nordeste, o BNB se destaca nos financiamentos de longo prazo, sobretudo porque é gestor do FNE” setor privado, resgatar a confiança dos empresários e aumentar a oferta de crédito voltado ao investimento.

Como ficará a atuação do BNB como indutor?

Quanto a esse aspecto, o Banco do Nordeste tem jogado relevante papel em sua área de atuação, injetando mais de R$ 23 bilhões por ano na economia, dos quais cerca de R$ 13 bilhões por intermédio do FNE, financiando diretamente o investimento produtivo, estimulando a economia com recursos que representam quase 2,5% de todo o PIB anual gerado em sua área de atuação.


Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

China resolve investir no Nordeste brasileiro parceiro comercial e levá-los para além da troca de commodities para os bens manufaturados. Os acordos que a China assinaram com o Brasil quando Xi se reuniu com a presidente Dilma Rousseff concentram-se na melhoria da infraestrutura para garantir que as matérias-primas, pelas quais a China anseia, cheguem aos portos, e as ferrovias são uma prioridade absoluta. O comércio entre os dois países aumentou de 3,2 bilhões de dólares em 2002 para 83,3 bilhões de dólares no ano passado -minério de ferro, soja e petróleo são a maior parte das exportações brasileiras.

Termelétrica em SUAPE II

O Complexo Industrial de Suape, na cidade de Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, vai mantendo a expansão. Agora, quem resolveu instalar uma térmica a gás natural e um terminal de regaseificação foi o grupo gaúcho Bolognesi. De acordo com informações chegadas à coluna, o investimento será de R$ 3,5 bilhões devendo a Unidade Termelétrica Novo Tempo ser instalada num terreno de 15,7 hectares e terá a capacidade de gerar 1,2 mil megawatts (MW).

Comparativamente, para se ter uma ideia, a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) produz em média 6 mil MW médios e uma das suas grandes hidrelétricas, a de Sobradinho pode gerar 1,05 mil MW. “O terminal de regaseificação vai viabilizar a térmica. Temos uma oferta de gás limitada e a empresa poderá ofertar gás natural para outras companhias interessadas em comprá-lo, o que traz uma vantagem para o estado”, argumenta o diretor de Gestão Portuária de Suape, Leonardo Cerquinho.

Todas as pesquisas de opinião pública divulgadas em Salvador apontam para a liderança do ex-governador Paulo Souto sobre a segunda colocada, Lídice da Mata, e o candidato do governador Jaques Wagner, Rui Costa (PT). A performance de Paulo Souto tem a ver também com a aliança produzida com ACM Neto, prefeito de Salvador, e o ex-ministro Geddel Vieira Lima, candidato ao Senado. Mesmo que os tempos sejam outros, na Bahia só se fala que, em caso de êxito de Souto, significaria a retomada do Poder pelo Carlismo (seguidores do ex-governador ACM).

O confronto pelo Poder no Rio Grande do Norte passa pelo também presidente da Câmara Federal, Henrique Alves, do PMDB, e o atual vice-governador Robinson Faria rompido com a governadora Rozalba Ciarlini desde o início da gestão. Com super-estrutura, Alves enfrenta Robinson com sua habilidade e relacionamento nos vários níveis, embora a posição do deputado federal seja de quem sabe usar das prerrogativas do cargo a exercer na atualidade. Na ultima pesquisa Henrique Alves apareceu com 31% enquanto Robinson teve 21%. A disputa é forte.

Expectativa na Paraíba

A cena de Pernambuco Quem chega pela primeira vez em Recife identifica fácil a super-estrutura da campanha do executivo Paulo Câmara no processo eleitoral de escolha do sucessor do governador João Lyra. Há que se registrar, também, a performance da candidatura de Armando Monteiro. Independentemente, as pesquisas apontam melhor desempenho e preferência do candidato do PTB sobre o do presidenciável Eduardo Campos. A última, por exemplo, do Instituto Opinião, apresentou Armando com 40,5% das intenções contra 8%. Até agora, Câmara não decolou como previa-se.

Até o início de agosto, mais uma pesauisa vai revelar as intenções de votos no estado. agora, com o nome do senador Vital Filho, que entrou na disputa no lugar do irmão Veneziano Vital. Na última amostragem, Cássio Cunha tinha entre 42% e 45% das intenções e o governador Ricardo Coutinho entre 21% e 23%. As expectativas são em cima da decisão do Tribunal Eleitoral. O PT Nacional entrou com medida indicando que a aliança estadual será com o PMDB, mas a instância estadual aprovou coligação com o PSB. Há ainda pedidos de impugnação da candidatura de Cássio, com base na Ficha Limpa.

Alagoas de disputa Todos aguardam um confronto maior entre o deputado federal Renan Filho e o senador Benedito de Lira. O candidato do governador Tetônio Vilella Filho, Eduardo Tavares, aparece em terceiro lugar. Na última pesquisa, Renan obteve 36% das intenções, contra 25% em favor de Benedito e 4% de Eduardo.

No Piauí, Wellington se mantém Embora o ex-governador e ex-senador Mão Santa faça uma zoada imensa por onde passe na condição de candidato ao Governo do Piauí, nas pesquisas o que prevalece desde o ano passado é a liderança do ex-governador e senador Wellington Dias, sobre todos os concorrentes. O petista tem 53% das intenções, contra 16% do governador Zé Filho e do ex-governador Mão Santa (14%).

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Termelétrica em SUAPE I

Rio Grande do Norte: Alves X Faria

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JULHO / 2014

Até os primeiros dias de julho de 2014, a estrutura diplomática da China andava procurando um imóvel de no mínimo 3.000 metros quadrados para instalar pela primeira vez o Consulado com fins voltados para o Nordeste, no Brasil. Até o mês de setembro, no máximo, isso estará sendo concretizado por conta do interesse chinês de estar mais próximo dos negócios dos nove estados nordestinos. Entretanto, como a coluna pode atestar acompanhando a reunião dos BRICS, em Fortaleza e Brasilia, na esteira da visita do presidente chinês, Xi Jinping, ao Brasil, os chineses esperam fortalecer os laços com seu maior

Carlismo de volta?


Capa

O que esperar do futuro?

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JULHO / 2014

JULHO / 2014

A disputa que marcará o ano já começou. Com os candidatos e as alianças definidas, os partidos e as coligações têm pouco menos de três meses para conquistar eleitores que os levem à vitória nestas eleições

A

definição das candidaturas não trouxe nenhuma novidade para o cenário das eleições presidenciais. A presidente Dilma Rousseff (PT) conseguiu manter a maioria dos partidos que lhe deu sustentação no Congresso Nacional durante quatro anos, tendo o PMDB mantido a vice-presidência, com Michel Temer, e provavelmente o mesmo poder dentro da gestão petista, em caso de reeleição. O cenário parece positivo, visto que as pesquisas têm apresentado sempre o candidato do PSDB Aécio Neves abaixo de Dilma, mantendo a disputa, por enquanto, na dicotomia tucano-petista que divide a política brasileira há exatos 20 anos. A novidade desta vez vem de um dissidente da base de Dilma: o PSB do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Sem destaque nacional, ainda, ganhou atenção do mundo político ao conseguir atrair a ex-senadora e ex-candidata à Presidência da República, Marina Silva (Rede), para o seu projeto presidencial, já que ela não conseguiu regularizar seu partido a tempo de concorrer nestas eleições. As pesquisas, entretanto, não têm sido animadoras, e Eduardo não conseguiu decolar ou transferir para si parte dos 20 milhões de votos que Marina obteve em 2010. Sua esperança reside em crescer na campanha eleitoral.

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Por William De Lucca delucca@revistanordeste.com.br


disputa na Bahia

psdb

Dilma Rousseff Vice: Michel Temer (PMDB) Coligação: PT, PMDB, PDT, PC do B, PP, PR, PSD, PROS e PRB

Aécio Neves Vice: Aloysio Nunes (PSDB) Coligação: PSDB, DEM, PTB, SD, PMN, PTC, PT do B, PEN e PTN

Pastor Everaldo (PSC) Vice: Leonardo Gadelha (PSC) Sem coligação

PSB Eduardo Campos Vice: Marina Silva (Rede) Coligação: PSB, PRP, PPS, PSL, PPL e PHS

José Maria Eymael (PSDC) Vice: Roberto Lopes (PSDC) Sem coligação

Paulo Souto Levy Fidélix (PRTB) Vice: José Alves de Oliveira (PRTB) Sem coligação

Luciana Genro (PSOL) Coligação: PSOL Sem coligação

Rui Costa Pimenta (PCO) Vice: Ricardo Machado (PCO) Sem coligação

Vice: Joaci Góes (PSDB) Senado: Geddel Viera de Lima (PMDB) Coligação: PSDB, PMDB, PROS, PTN, SDD, PRB, PV, PRP, PPS, PT do B, PSDC, PTC, PHS, PEN e PMN.

JULHO / 2014

Eduardo Jorge (PV) Vice: Célia Sacramento (PV) Sem coligação

Renata Mallet (PSTU) Vice: Carlos Nascimento (PSTU) Senado: Sem candidato

Mauro Iasi (PCB) Vice: Sofia Manzano (PCB) Sem coligação

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Zé Maria (PSTU) Vice: Cláudia Durans (PSTU) Sem coligação

PT

DEM

Fotos: Divulgação

Rui Costa Vice: João Leão (PP) Senado: Otto Alencar (PSD) Coligação: PT, PP, PR, PTB, PC do B, PTC, PDT e PSD.

Rogério Da Luz (PRTB) Vice: Neto (PRTB) Senado: Idalba Marins (PEN) Coligação: PRTB e PEN

coligação, sete a menos do que os da coligação petista. Do lado da situação, Rui Costa espera que o apoio do ex-presidente Lula, da presidente Dilma Rousseff (PT) e do governador Jaques Wagner seja suficientes para alça-lo ao governo do estado. Como terceira força, o PSB lança o nome da senadora Lídice da Mata ao governo, em uma chapa pura integrada ainda por Eduardo Vasconcelos como vice e Eliane Calmon para o Senado. Sem muitas perspectivas, a candidatura socialista garante ao menos um palanque exclusivo para o candidato presidencial Eduardo Campos (PSB).

PSB Lídice da Mata Vice: Eduardo Vasconcelos (PSB) Candidato ao Senado: Eliane Calmon (PSB) Coligação: PSB, PSL e PPL

Marcos Mendes (PSOL) Vice: Ronaldo Santos (PSOL) Senado: Hamilton Assis (PSOL)

JULHO / 2014

PT

No estado da Bahia,a disputa eleitoral deste ano terá um cenário diferente, agora as forças políticas estão unidas em torno do “carlismo” (leia aliados de ACM Neto), que vai enfrentar os oitos anos do PT liderado pelo governador Jaques Wagner (PT) através da candidatura de Rui Costa (PT). As forças de oposição se uniram em volta da candidatura do ex-governador Paulo Souto (DEM) que lançou sua candidatura ao governo baiano, tendo Joaci Goés como vice na chapa e o ex-ministro do Governo Lula, Geddel Vieira Lima (PMDB), como candidato ao Senado. O grupo conseguiu ainda arrebanhar 15 partidos para a

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Veja o cenário da disputa


Palanques de peso

Ceará teve uma fase de pré-campanha com definições de última hora. Depois de abandonar o PSB de Eduardo Campos, Ciro e Cid Gomes, esse último atual governador cearense, migraram para o PROS e levaram boa parte do partido. Apesar disso, eles não conseguiram construir uma candidatura própria e acabaram decidindo por apoiar o palanque do deputado estadual Camilo Santana (PT), indicando a vice Izolda Coelho (PROS) e o candidato ao Senado Mauro Filho (PROS). A coligação soma 19 partidos, ficando maior do que a aliança do principal adversário: o PMDB.

Os peemedebistas lançaram a candidatura do senador Eunício Oliveira ao governo. Eles tentaram garantir uma aliança entre PT e PMDB, mas não obtiveram sucesso, o que os levou a procurar os principais adversários petistas no cenário federal, o DEM e PSDB, e agora abrirá seu palanque para Aécio Neves (PSDB), tendo aliança com o ex-senador Tasso Jereissati. O PSB, que estava entre uma candidatura própria ou apoiar o PMDB, decidiu lançar o nome de Eliane Novaes ao governo, em uma chapa sem alianças, mas com garantia de palanque para Campos.

Não existem tons de cinza na eleição pernambucana. Na maior aliança construída em todo o Brasil nestas eleições, o candidato governista Paulo Câmara (PSB), sacado da manga por Eduardo Campos, conta com nada menos que 20 partidos e ainda o apoio do presidenciável Eduardo Campos (PSB) para enfrentar a oposição. O senador Armando Monteiro (PTB) lidera a oposição ao lado do PT e com a força de Lula e Dilma. Com exceção das candidaturas da extrema-esquerda, com poucas chances na disputa eleito-

PTB

Eliane Novaes (PSB) Vice: Leonardo Bayma (PSB) Senado: Geovana Cartaxo (PSB) Sem coligação

Vice: Izolda (PROS) Senado: Mauro Filho (PROS) Coligação: PRB / PP / PDT / PT / PTB / PSL / PRTB / PHS / PMN / PTC / PV / PEN / PPL / PSD / PC do B / PT do B / SD / PROS

armando monteiro

paulo câmara

Vice: João Paulo (PT) Senado: Humberto Costa (PT) Coligação: PTB, PT, PDT, PSC, PRB e PT do B

Vice: Raul Henry (PMDB) Senado: Fernando Bezerra Coelho (PSB) Coligação: PSB, PMDB, PSD, PCdoB, DEM, SDD, PR, PTC, PTN, PPL, PV, PPS, PHS, PSL, PTdoB, PRP, PSDB, PMN, PSDC e PROS

Ailton Lopes (PSTU) Vice: Bene (PCB) Senado: Raquel Dias (PSTU) Coligação: PSTU, PCB e PSOL

Zé Gomes (PSOL) Vice: Viviane Benevides Cruz (PMN) Senado: Albanise Pires (PSOL) Coligação: PSOL e PMN

Pantaleão (PCO) Vice: Silvio Santos (PCO) Senado: Sem candidato Sem coligação

Miguel Anacleto (PCB) Vice: Delio Mendes (PCB) Senado: Oxis (PCB) Sem coligação

19

18

JULHO / 2014

Vice: Roberto Pessoa (PR) Senado: Tasso Jereissati (PSDB) Coligação: PMDB, PSC, DEM, PSDC, PRP, PSDB, PR, PTN e PPS

camilo

Jair Pedro (PSTU) Vice: Kátia Telles (PSTU) Senado: Simone Santana (PSTU) Sem coligação

PSB

PT

PMBD

Eunício lopes

ral, Paulo Câmara e Monteiro travarão uma batalha oposta a que o PT e o PSB travarão nacionalmente. Enquanto Armando Monteiro e o PT tentam destronar o PSB de Eduardo Campos, que ainda detém alta popularidade no seu estado, o ex-governador disputará uma guerra dura contra Dilma e o PT para o Governo Federal, visto que a presidente tem se saído bem nas pesquisas eleitorais mais recentes. Na primeira pesquisa do Instituto Opinião, Armando Monteiro aparece com 40% de intenções de voto e Paulo Câmara com 8%.

JULHO / 2014

cena cearense

Fotos: Divulgação


Vital do Rêgo Filho (PMDB) já havia garantido o apoio petista ao seu palanque. Mas agora precisa aguardar a decisão do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PB) para poder saber se vai mesmo ter o PT ao seu lado na campanha. Entre os três principais candidatos, Cássio conseguiu a maior aliança, o maior tempo de TV e tem saído na frente das pesquisas até agora, mas enfrenta pedidos de impugnação da sua candidatura, visto que está inelegível até 5 de outubro, por ter sido cassado do cargo de governador, em 2009.

Os sergipanos, assim como os pernambucanos, terão uma eleição extremamente polarizada. O candidato governista Jackson Barreto (PMDB) tenta a reeleição em um palanque que conta com o PT e o PSB. Jackson Barreto tenta manter o legado do ex-governador Marcelo Déda (PT), morto em 2013, vítima de um câncer. Ele foi o primeiro governador de um partido de esquerda a governar o menor estado

pmdb

psdb

Cássio cunha lima

20

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Vice: Rui Carneiro (PSDB) Senado: Wilson Santiago (PTB) Coligação: PSDB / PEN / PR / PTB / PSD / SD / PMN / PPS / PT do B / PTN / PRB / PSDC / PSC / PP

Major Fábio (PROS) Vice: Pastor Olavo Filho (PROS) Senado: Leila Fonseca (PROS) Sem coligação

PSB ricardo coutinho Vice: Lígia Feliciano (PDT) Senado: Lucélio Cartaxo (PT) Coligação: PSB / PT / PDT / DEM / PRTB / PRP / PV / PSL / PC do B / PHS / PPL Antônio Radical (PSTU) Vice: Lena Leite (PSTU) Senado: Rama Dantas (PSTU) Sem coligação

jackson barreto

pmdb

Vice: Belivaldo Chagas (PSB) Senado: Rogério Carvalho (PT) Coligação: PMDB, PSB, PT, PSD, PDT, PRB, PROS, PC DO B, PRTB, PSDC e PRP

vital do Rêgo filho Vice: Roberto Paulino (PMDB) Senado: José Maranhão (PMDB) Coligação: PMDB

Sônia Meire (PSOL) Vice: Roberto Aguiar (PSOL) Senado: Edvaldo Leandro (PSTU) Coligação PSOL, PSTU e PCB

Tárcio Teixeira (PSOL) Vice: Marcos Dias (PSOL) Senado: Nelson Júnior (PSOL) Sem coligação

Fotos: Divulgação

Airton da CGTB (PPL) Vice: José Vieira (PPL) Senado: Bila (PPL) Sem coligação

brasileiro, após a redemocratização. O principal adversário do candidato do PMDB, o senador Eduardo (PSC) Amorim foi convidado pela direção regional do seu partido para tentar a vaga ao governo sergipano e conta com o apoio da oposição, aglutinando aliados opositores de petistas e pemedebistas, como DEM e PSDB. A chapa ainda reúne PP, PTdoB, PSC e outras dez legendas pequenas.

PSc eduardo amorim Vice: Augusto Franco Neto (PSDB) Senado: Maria do Carmo (DEM) Coligação: PSC, DEM, PTB, PR, PP, PV, PTC, PSL, SDD, PTdoB, PPS, PMN, PHS, PSDB e PEN

Alberto dos Santos (PTN) Vice: Sargento Wellington (PTN) Senado: Betinho (PTN) Sem coligação

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Outro cenário que teve reviravoltas até o último minuto da pré-campanha foi o paraibano. O governador Ricardo Coutinho (PSB), único que disputará a reeleição neste ano no Nordeste, havia perdido seu principal aliado, o senador Cássio Cunha Lima (PSDB), que decidiu lançar candidatura própria, mas no apagar das luzes conquistou o apoio importante do PT, com Lucélio Cartaxo, irmão gêmeo do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, embora contestado pelo PMDB. A terceira força no cenário, o senador

Eleição polarizada

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paraíba espera tre


disputa ACIRRADA

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PP

Renan filho

benedito de lira

Vice: Luciano Barbosa (PMDB) Senado: Fernando Collor (PTB) Coligação: PV / PT do B / PMDB / PROS / PC do B / PSC / PHS / PTB / PSD / PDT / PT

Vice: Alexandre Toledo (PSB) Senado: Omar Coelho (DEM) Coligação: PPS / PP / PSDC / PRP / PR / PSL / PSB / DEM / SD

Eleição difícil no RN Estado natal do presidente nacional do DEM, o senador Agripino Maia, o Rio Grande do Norte verá o partido perder forças nestas eleições. Com uma gestão catastrófica e risco de cassação de mandato, a atual governadora Rosalba Ciarlini (DEM) nem cogitou disputar a reeleição, abrindo espaço

para o vice e novo desafeto político, Robinson Faria (PSD). A disputa, entretanto, não será fácil. Robinson enfrente o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB), que carrega nas costas o apoio de 16 partidos e uma maior bagagem eleitoral.

psdb

eduardo tavares Vice: Gilvan Barros (PSDB) Senado: Eduardo Magalhães (PSDB) Coligação: PSDB e PRB

PSD robinson Faria

Mário Agra (PSOL) Vice: Paulo Bob (PSTU) Senado: Heloísa Helena (PSOL) Coligação: PSOL e PSTU

Golbery Lessa (PCB) Vice: Fernando Medeiros (PCB) Senado: Sem candidato Sem coligação

Jefferson Piones (PRTB) Vice: James (PRTB) Senado: Oldenber Paranhos (PRTB) Coligação: PRTB / PPL / PMN

Coronel Goulart (PEN) Vice: Capitão Bulhões (PEN) Senado: Coronel Brito (PEN) Sem coligação

Joathas Albuquerque (PTC) Vice: Marineide Messias (PTC) Senado: Elias Barros (PTC) Sem coligação

Luciano Balbino (PTN) Vice: Pericles Cabral (PTN) Senado: Marcos Aguiar (PTN) Sem coligação

Vice: Fábio Dantas (PC do B) Senado: Fátima Bezerra (PT) Coligação: PSD, PT, PC do B, PT do B, PSD, PP, PEN, PRTB, PTC e PPL

Araken Farias (PSL) Vice: Paulo Roberto (PSL) Senado: Roberto Ronconi (PSL) Sem coligação Fotos: Divulgação

pmdb

Henrique eduardo A. Vice: João Maia (PR) Senado: Wilma de Faria (PSB) Coligação: PMDB, PSB, PR, PROS, DEM, PSD, PDT, PRB, PPS, PHS, PTB, PV, PSC, PSDC, PMN e PRP

Robério Paulino (PSOL) Vice: Ronaldo Garcia (PSOL) Senado: Professor Lailson (PSOL) Sem coligação

Simone Dutra (PSTU) Vice: Socorro Ribeiro (PSTU) Senado: Ana Célia (PSTU) Sem coligação

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pmdb

o povo pra Alagoas avançar. Teotônio, Renan e Benedito têm disputado de forma acirrada os primeiros lugares nas pesquisas. Outros pontos no cenário alagoano ficam pela disputa entre Fernando Collor de Mello (PTB) e Heloísa Helena (PSOL) para o Senado. O deputado Renan Filho tem liderado as pesquisas.

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O governador tucano Teotônio Vilela não conseguiu construir candidatura forte em Alagoas, e terá como candidato Eduardo Tavares (PSDB). A esperança é ir para o segundo turno entre os principais candidatos, o senador Benedito de Lira (PP) e Renan Filho (PMDB), que disputará o pleito pela coligação Com


pcdoB

flávio dino

pmdb

lobão filho Vice: Armaldo Melo (PMDB) Senado: Gastão Vieira Dias (PMDB) Coligação: PMDB / PSL / PEN / PSDC / PRP / PTN / PMN / PSC / PHS / PRTB / PR / PRB / DEM / PSD / PV / PT / PTB / PT do B

Professor Josivaldo (PCB) Vice: Francinaldo Leita (PCB) Senado: Evan de Andrade (PCB) Sem coligação Pedrosa (PSOL) Vice: Professor Odívio (PSOL) Senado: Haroldo Saboia (PSOL) Sem coligação

Saulo Arcangeli (PSTU) Vice: Ana Paula Martins (PSTU) Senado: Marcos Silva (PSTU) Sem coligação

Principais aliados em âmbito federal, PMDB e PT se enfrentam nas eleições do Piauí. Assim como no Maranhão, a coligação pemedebista liderada pelo atual governador Zé Filho (PMDB) terá de abrir palanque para os três principais candidatos na esfera federal, Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Do outro lado, o ex-

-governador Wellington Dias (PT) tenta firmar-se como o ‘verdadeiro palanque de Dilma’ no estado, em uma aliança menor do que do adversário, mas embalada por bons resultados nas pesquisas eleitorais até agora liderando em todas. O ex-governador Mão Santa (PSC) também está na disputa e garante um palanque ao presidenciável Pastor Everaldo (PSC).

PT wellington dias Vice: Margarete Coelho (PP) Senado: Elamano Férrer (PTB) Coligação: PT, PP, PTB, PHS, PR, PROS, PRP, SD, PRTB

pmdb

zé filho Vice: Silvio Mendes (PSDB) Senado: Wilson Martins (PSB) Coligação: PMDB, PSDB, PSB, PRB, PDT, PSL, PTN, PPS, DEM, PSDC, PMN, PTC, PSD, PC do B, PT do B, PV e PEN

Mão Santa (PSC) Vice: Mano (PSC) Senado: Gustavo Henrique (PSC) Sem coligação Daniel Solon (PSTU) Vice: Solimar Silva (PSTU) Senado: Geraldo Carvalho (PSTU) Sem coligação

Maklandel (PSOL) Vice: Romualdo Brazil (PSOL) Senado: Aldir Nunes (PCB) Coligação: PSOL/PCB Lourdes Melo (PCO) Clóves José (PCO) Senado: Sem candidato Sem coligação Nilo Sambaiba (PPL) Vice: Professora Rejane Palácio (PPL) Senado: Professor Claudionor (PPL) Sem coligação

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Vice: Carlos Brandão (PSDB) Senado: Roberto Rocha (PSB) Coligação: PP, SD, PROS, PSDB, PC do B, PSB, PDT, PTC, PPS

Filho (PMDB), que disputa a eleição em uma chapa majoritária pura, mas apoiada por 18 partidos, incluindo o PT, rachado. Uma ala petista já declarou apoio a Flávio Dino (PCdoB) que tem uma aliança interessante sustentando sua candidatura: PSB e PSDB, adversários da presidente Dilma Rousseff (PT) em âmbito federal. Tudo para derrubar de vez os Sarney do poder.

confronto de aliados

Fotos: Divulgação

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Estas eleições serão históricas no Maranhão. Pela primeira vez em 46 anos, o estado não terá nenhum membro da família Sarney disputando cargos majoritários, já que tanto o senador José Sarney e sua filha, a governador Roseana Sarney, anunciaram aposentadoria das eleições eletivas. Mesmo perto da aposentadoria, o clã Sarney continua realizando a articulação política do candidato governista Lobão

Zé Luis Lago (PPL) Vice: Cristiana Jansen (PPL) Senado: Gersão (PPL) Sem coligação

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Clã fora da disputa


Muito além da Copa

Após derrota da seleção brasileira na Copa, presidente tenta se afastar da frustração dos torcedores e aproveita o saldo do Mundial para reconquistar eleitores. Ela centra suas atenções no crescimento econômico e temas como a reforma política Por Isadora Lira isadoralira@revistanordeste.com.br

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A

conteceu. A Copa do Mundo acabou com a consagração da equipe alemã. Contudo, deixou no Brasil uma lembrança de um evento bem realizado, embora a mídia brasileira e estrangeira tenha tentado passar a ideia de que o Mundial seria um desastre. O reconhecimento de que a Copa foi um sucesso se transformou em um trunfo na manga da presidente Dilma Rousseff (PT) na sua campanha à reeleição. Joseph Blatter, economista suíço e presidente da Fifa deu nota 9,25 à Copa do Mundo realizada no Brasil. Apesar de tantas profecias apocalípticas, não foi registrado nenhum caos nos aeroportos (de acordo com o Ministério do Turismo, 263 mil movimentações foram registradas e apenas 7,46% dos voos atrasaram),

apagão, tumulto nos estádios ou falta de transporte para os visitantes. Ou seja, a infraestrutura não se mostrou um grande problema na realização do evento. Antes mesmo de o Mundial terminar, os jornais internacionais reconheciam que os problemas ‘prometidos’ para o período dos jogos, como manifestações de ruas, não aconteceram. Isso, somado às pesquisas do pós-Copa, deve fazer com quem os números voltem a subir em favor da presidente Dilma. Na primeira quinzena de junho deste ano a petista tinha 39% dos votos do eleitorado, seguida por Aécio Neves (PSDB), com 21% das intenções, e Eduardo Campos (10%), de acordo com o Ibope. Um levantamento feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas

(Fipe) divulgado pelo Ministério do Turismo ajuda a consolidar esse momento de bom humor da presidente. De acordo com a pesquisa, 83% dos turistas internacionais consideraram que a visita ao Brasil atendeu ou superou as expectativas. Destes, 95% têm a intenção de voltar ao país. Foram um milhão de estrangeiros, em 378 municípios brasileiros, entrevistados. A Copa revelou que o país é capaz de receber bem um evento deste porte -as Olimpíadas estarão aqui em breve – e Dilma, apesar dos desgastes, mostrou que sua gestão acertou em apostar na Copa. A presidente quer aproveitar essa nova fase para tirar uma ‘casquinha’. Ela tem se mostrado mais confiante e disposta a enfrentar os adversários, agora, em situação mais favorável.

OS EFEITOS DA ECONOMIA

Flickr - Blog do Planalto

Próximo de terminar seu mandato, Dilma tem pressa de confirmar-se como boa gestora e garantir assim sua continuidade. Como estratégia, mudou a rota e assume a linha de defesa da Copa como evento, mostrando o resultado da preparação para o torneio e o legado estrutural que ele deixa para os brasileiros. Apesar de algumas obras não estarem concluídas (o monotrilho de São Paulo, a Via 710 de Belo Horizonte, dentre outras - no total são 23), o ministro das Cidades, Gilberto Occhi garante que elas ainda serão entregues à população. Assim, Dilma vai se afastando da frustração nacional gerada pela seleção e se aliando à imagem positiva do saldo. Ela passou também a utilizar a palavra “ciclo” para definir sua administração e o cenário econômico mundial.

Num balanço recente, a presidente colocou que a sua marca foi a criação de condições para que o Brasil entre num novo momento, ressaltando que 75% da população brasileira hoje pertence às classes C, B e A. E atribui essa realidade aos programas de inclusão social que não sejam apenas de renda, como o Minha Casa, Minha Vida e o Mais Médicos. Em entrevista à GloboNews, ela enfatiza o investimento em infraestrutura: “Este é um ciclo que vai apostar na competitividade produtiva. Nós vamos ter de investir pesadamente em infraestrutura, com parcerias público-privadas, só através do investimento privado, como é o caso das concessões ou com investimentos públicos. É uma combinação de tudo: aeroportos, portos e rodovias nós encaminhamos”. Embora esses “encaminhamentos” não tenham sido completados, deixando um legado de obras pendentes (de acordo com um levantamento da Folha de S. Paulo, apenas 53% das obras da Copa ficaram prontas), a presidente apontou quais são os passos a seguir: investir em ferrovias, no potencial das bacias hidrográficas brasileiras, produção agrícola, cabotagem e inclusão digital.

Dilma Rousseff tem que mostrar também como tem lidado com a economia de forma segura. A geração de empregos vem passando por um esfriamento, o crescimento da economia é anêmico, mas a presidente diz que seu mandato começou num momento em que a economia global está num processo de “reversão de ciclo” e que é preciso analisar o cenário internacional. “Quando estive em Davos, em janeiro deste ano, a tese era de que os países desenvolvidos seriam os grandes puxadores de crescimento do ciclo agora, e os países emergentes teriam perdido a vez deles porque teriam re-

duzido muito sua taxa de crescimento. Pois bem, hoje, seis meses depois o que se verifica é que (...) as taxas de todos os países estão extremamente baixas (...)”, argumenta. Para a presidente, o Brasil tem conseguido enfrentar a crise, reconhecendo o problema. “O que eu acho terrível é que alguém possa supor que nós temos um comportamento de crescimento econômico com outro momento internacional. Nós não somos uma ilha. Esses efeitos nos atingem. Mas nos atingem de forma contraditória. Não tivemos que demitir milhões e milhões de pessoas. (...) Nós conseguimos manter esse processo de decréscimo violento de economia internacional com o emprego em alta”, pondera a petista na entrevista.

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Um novo ciclo para A petista

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Política


Política

No Rio de Janeiro, o então pré-candidato Miro Teixeira (PROS), que parecia ter sua candidatura Miro Teixeira assegurada com o apoio de Eduardo e Marina, desistiu de disputar o pleito por sentir que “não havia clima”, após uma visita do presidenciável ao estado. “A coligação não se revelou na prática, durante a recepção ao Eduardo Campos, na Mangueira, por exemplo. Se isso aconteceu numa pré-campanha, imagina durante a campanha oficial”, avalia Miro. Com isso, o PSB costurou uma aliança com o PT, e terá o deputado federal Romário (PSB) como candidato ao Senado, apoiando o petista Lindberg Farias ao governo carioca. A decisão gerou reações duras dentro das bases socialistas no Rio, levando o deputado federal Alfredo Sirkis (Rede) a desistir de disputar a reeleição. “Sou totalmente contrário a essa coligação. Nada contra o senador, pessoalmente. Mas perdoem-me o recurso ao chulo: isso não seria uma coligação, mas uma suruba! Não sou avesso a uma certa dose de pragmatismo, mas aí já é demais: é uma dose cavalar. Quais os acordos por trás disso? Por que razão o PT consentiria?”, critica Sirkis em seu blog.

O problema maior, entreCampos. “Juntamente com tanto, foi vivenciado em São todos os integrantes da Rede Paulo. Marina Silva e outros Sustentabilidade, discordo da dirigentes da Rede defendiam indicação aprovada ontem na a candidatura própria, o exreunião do diretório estadual -governador de Pernambuco do PSB de São Paulo de apoiar Eduardo Campos articulou o projeto político do PSDB. Márcio França a composição com o PSDB, Para nós, isso é um equívoindicando o deputado federal co. Consideramos necessário Márcio França (PSB) como vice do manter independência e lançar uma governador Geraldo Alckmin (PSDB). candidatura própria, que dê suporte Em nota e em entrevista, Marina ao projeto de mudança para o Brasil criticou severamente a decisão de liderado por Eduardo Campos, e que

dê ao povo de São Paulo a chance de fazer essa mudança também no âmbito estadual”, disse. Eduardo minimizou a crise dizendo que Marina já havia criticado a aliança entre PSB e PSDB e que ambos respeitam as opiniões um do outro. “Nós somos de partidos diferentes, fizemos uma aliança. Temos de respeitar uns as posições dos outros”, lembrando que a permanência da Rede no PSB é passageira. E talvez, quando o casamento terminar, ele não deixe saudades.

Eduardo Campos e Marina Silva começaram a campanha acumulando rusgas e atritos, principalmente na composição das alianças estaduais Por William De Lucca delucca@revistanordeste.com.br

C

om o mesmo tempo de uma gestação, a aliança entre Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva (Rede) completou nove meses em julho. O que parecia ser um casamento feliz e sem maiores percalços até, quem sabe, o segundo turno das eleições presidenciáveis deste ano mostrou-se mais complicado do que os presidentes nacionais do PSB e da Rede previam. As divergências começaram logo na concepção do primeiro ‘filho’ de Eduardo e Marina. Durante a construção do programa de governo, no início deste ano e que será apresentado ao país durante as eleições, a Rede encontrou dificuldades em afinar seu

discurso ambientalista e sustentável ao desenvolvimentismo apresentado pelo PSB. Sem demonstrar rusgas publicamente, os grupos de trabalho dos dois partidos conseguiram costurar um ‘consenso’, ainda que não agradasse integralmente nenhum dos lados. Com a construção da aliança nacional, que inclui além de PSB e Rede as legendas PPS, PPL, PRP e PHS, e quando marineiros e socialistas acreditavam que o pior já havia passado, a principal crise foi deflagrada: a montagem dos palanques estaduais. O maior foco de divergências aconteceu justamente no principal colégio eleitoral do país: a Região Sudeste. Ilustração: Arthur César

Fotos: Flickr - Eduardo Campos / Agência Senado / Secretaria dos Portos

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CASAMENTO COM DIAS CONTADOS?

Em Minas Gerais, o porta-voz do para outros presidenciáveis, como partido Apolo Heringer (Rede) pleiAécio Neves (PSDB) ou Dilma teava sua candidatura ao governo do Rousseff (PT). estado, o que foi negado por Eduardo “Uma coisa é atender a Marina e Campos, que articulou o nome outra diferente é atender a Rede, do delegado Tarcísio Delgado em Minas. Ficamos muito (PSB), pai do deputado feprejudicados com esse acorderal Júlio Delgado (PSB). do, que foi apenas no plano A decisão desagradou tannacional, negligenciando o Apolo Heringer to partidários da Rede que papel político dos estados. Há uma desunião total. O apoiavam Apolo quanto aos Eduardo (Campos) não inspira próprios militantes socialistas mais confiança de ser a terceira força no estado, que queriam outra candipara mudar o Brasil. Eles vão tentar o datura e eram contra ter candidato voto pela TV, mas não terão palanque próprio. Os dissidentes ameaçam forte em Minas”, argumenta Apolo. agora fazer campanha publicamente

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DESISTÊNCIA CARIOCA


Política

Aeroporto para a Família A fase de comemorações dos números para seguir rumo ao segundo turno nas eleições presidenciais foram sequenciadas com um assunto desconfortável merecendo ação dos adversários no Ministério Público de Minas Gerais: uma acusação da Folha de São Paulo. De acordo com a denúncia, no segundo mandato de seu governo em Minas, Aécio construiu um aeroporto com quase R$ 14 milhões de recursos públicos em uma propriedade que pertencia ao seu tio, no município de Cláudio. Mesmo assim, durante visita ao Santuário Nossa Senhora da Piedade, em Caeté, na Grande Belo Horizonte, o presidenciável minimizou a denúncia, atribuindo-a ao período eleitoral. “Não podemos aceitar é que em razão da proximidade eleitoral se deturpe fatos”, argumentou.

Aécio em empate no 2º Turno? Candidato tucano apresenta bons números em pesquisas, mas não explica como tocar economia e vive efeitos de denúncia

Mas, independentemente do humor do tucano, o presidente do PT e membro do comitê presidencial de Dilma, Rui Falcão, acusou Aécio Neves de “usar o governo de Minas Gerais como extensão de suas propriedades” e de não distinguir o “público do privado”. Aécio publicou respostas à reportagem pelas redes sociais. Além do Ministério Público, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) confirmou que vai investigar se há registro de pousos e decolagens no aeródromo construído durante o governo de Aécio na cidade. Isso porque, de acordo com a agência, não há autorização para o uso da estrutura, uma vez que a pista ainda não foi liberada pelo órgão de fiscalização. A Anac deu dez dias para o governo de Minas e a Prefeitura de Cláudio se pronunciarem sobre o caso e se investigará supostas operações clandestinas.

Dispersão na economia

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empate técnico de 44% a 40% a favor da petista – a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Contra Campos, Dilma venceria por 45% a 38%. Mesmo apresentando bons resultados nas pesquisas, o candidato não soube se servir da oportunidade de debate e sabatina produzida em São Paulo por um pool de veículos de comunicação para explicar como vai resolver a economia nacional numa hipótese de eleição, algo que mereceu crítica até do aliado e ex-governador José Serra. Além disso, o mês terminou com denúncias de uso do poder para beneficiar terras de um tio em Minas Gerais, onde foi construído um aeroporto.

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O

presidenciável Aécio Neves chegou ao mês de julho comemorando dados da pesquisa do Instituto Datafolha, segundo a qual estaria empatado com a candidata Dilma Rousseff numa hipótese de segundo turno, o que motivou comemorações no PSDB. Na pesquisa, este foi o elemento que mais animou o presidenciável porque pela primeira vez a projeção de empate num segundo turno ficou mais evidente. “Ele vai avançar e crescer muito mais”, afirmou a assessoria de imprensa do candidato em contato com a Revista NORDESTE. O Datafolha simulou dois cenários para o segundo turno. Quando Dilma enfrenta Aécio, o resultado foi um

Portões do Aeroporto no município de Cláudio, em Minas Gerais Foto: Divulgação

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Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

Ninguém mais insuspeito do que o candidato ao Senado pelo PSDB em São Paulo, José Serra, para avaliar que faltou ao candidato Aécio Neves ter maior domínio sobre política econômica. Para ele, o tucano não disse quais seriam as medidas a serem adotadas e evitou detalhar outras considerações que pretende adotar em caso de ser eleito. Em análise, Serra pontuou a melhor solução econômica que deve ser desenvolvida por Aécio. “O problema hoje da contração de investimentos é o receio do que pode acontecer no futuro. No momento em que isso tiver saído da pauta, com o próximo presidente, no caso o Aécio, o investimento privado vai ser retomado. Isso gera atividade econômica e empregos. É uma das questões que poderiam ter sido aprofundadas neste debate”, afirmou. Ele disse ter ficado “bem impressionado” com o desempenho do seu correligionário na sabatina, mas achou que houve dispersão em alguns momentos.


Opinião

Obra Inacabada

O

Plano Real completou 20 anos e continua uma obra inacabada, mas os avanços por ele obtidos no combate à inflação não correm nenhum risco. O perigo de uma volta à hiperinflação está muito longe do alcance de qualquer radar. O Plano Real foi um dos programas de estabilização mais brilhantes construídos no Brasil e seus efeitos são reconhecidos universalmente: um grupo de economistas de muito boa qualidade organizou um programa e depois de seis tentativas mal sucedidas de estabilização, obteve um grande sucesso. É sem dúvida um momento alto da profissão: esses profissionais mostraram que tinham conhecimento profundo da mecânica da economia, construindo um plano que é uma autêntica “obra-prima”, uma joia rara. O seu lançamento vitorioso dependeu de um apoio político muito forte do presidente Itamar Franco e do desempenho dos ministros da fazenda Rubens Ricúpero e Fernando Henrique Cardoso que convenceram o poder político de sua necessidade e da viabilidade de sua execução. Isso tudo fala muito a favor do aperfeiçoamento das instituições brasileiras depois da Constituição de 1988. O Plano Real nunca terminou: o sucesso inicial de estabelecer um controle da inflação foi tamanho que a parte politicamente desagradável de sua execução que era a de acabar com o déficit fiscal nunca foi feita. Em razão desta “abstinência”, o resultado foi pífio em matéria de crescimento econômico e em termos do equilíbrio no balanço em contas-correntes. Em que pesem esses fatos, foi sem dúvida o mais bem sucedido programa

de estabilização de todos os que foram tentados no Brasil, uma economia notoriamente com triste retrospecto em matéria de combate à inflação. Hoje, vinte anos depois, persiste uma sensação desagradável porque mantemos uma taxa de inflação sempre superior ao núcleo da meta, estabelecida posteriormente para ancorar as expectativas. Apesar de não existir nenhuma tragédia à vista no comportamento da inflação, deixa muito a desejar no quesito crescimento O Brasil precisa corrigir isto. E corrigir reiniciando o ataque ao problema central que é o retorno ao equilíbrio fiscal de forma absolutamente segura. A concepção do Plano Real foi uma obra-prima, que honra a inteligência de seus formuladores, mas é um plano inacabado porque os governos nunca tiveram a coragem de enfrentar em profundidade os problemas da indexação e nunca decidiram fechar o déficit fiscal. Por causa dessas indecisões as empresas brasileiras estão sufocadas, em primeiro lugar, pela maior carga de tributos incidente em países cujos níveis de renda se assemelham ao nosso; em segundo lugar, elas foram obrigadas a conviver com a maior taxa de juros do mundo por um período terrível de vinte anos e em terceiro lugar são submetidas a um sistema de câmbio supervalorizado que anulou as condições de competição de setores inteiros da indústria brasileira, eliminando-se a maior alavanca de modernização e expansão da atividade manufatureira que é o comércio exterior. A valorização do Real acabou sendo muito superior ao que seria necessário se tivéssemos feito o esforço adequado para obter o equilíbrio fiscal.

Antonio Delfim Netto Professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento

O Plano Real nunca terminou: o sucesso inicial de estabelecer um controle da inflação foi tamanho que a parte de sua execução que era a de acabar com o déficit fiscal nunca foi feita

UM SALTO DE DESENVOLVIMENTO Alagoas, Maranhão e Paraíba não estão entre os estados que mais arrecadam recursos no Brasil. Mas, nos últimos dez anos, têm apresentado índices de crescimento acima da média do país, como quase todos os outros estados nordestinos. Nesta edição do caderno especial sobre o desenvolvimento do Nordeste, a reportagem vai mostrar quais são os pontos fortes da economia de cada um deles expediente editora | Rivânia Queiroz rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br jornalista | Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br diagramador | Arthur César arthur@revistanordeste.com.br

Fotos: Flickr - Governo do Estado de Alagoas / Governo do Estado do Maranhão / Secom - PMJP


O impasse da dívida pública

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econômico que vem mudando gradualmente, assim como em todo o Nordeste. De acordo com a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico do Estado, nos últimos anos, Alagoas tem crescido acima da média nacional e regional. A estimativa do Produto Interno Bruto (PIB) de 2013 apresentou um crescimento de 3,3% em relação ao ano anterior, índice acima da média nacional, cuja estimativa foi de 2,3%. Quando comparado a outros estados do Nordeste que realizam a pesquisa estimada, os números do PIB colocam Alagoas acima dos índices da Bahia (3,0%) e próximos dos números dos estados do Ceará (3,4%) e de Pernambuco (3,5%). No PIB de 2012, o estado teve crescimento de 4,4%, número acima da média nacional, que foi de 0,9%. Já em 2011, o PIB foi de 6,7%, superando e muito o

índice de crescimento do Brasil, que foi de 2,7% naquele ano. Em 2010, mesmo com as enchentes sofridas naquele ano, Alagoas teve um grande crescimento econômico, cuja estimativa foi de 6,8%. O crédito de grande parte do salto no desenvolvimento econômico do estado foi a injeção de políticas públicas de atração de empresas privadas. Segundo a secretária de Planejamento e do Desenvolvimento Econômico de Alagoas, Poliana Santana, desde 2007, o estado começou a viver um crescimento econômico jamais visto antes. A economista Tania Bacelar completa que há inovadores projetos no segmento da indústria química e que o estado foi capaz de captar empreendimento do novo momento da indústria naval no Nordeste, além de ter excelente potencial para o turismo.

Fotos: Flickr - Governo do Estado de Alagoas

Nos últimos sete anos, Alagoas conseguiu atrair mais de 60 novos empreendimentos para o setor empresarial. Parte do impulso econômico adveio do Programa de Desenvolvimento Integrado do Estado de Alagoas (Prodesin), regulamentado e instituído em maio de 2000. O programa compreende três modalidades de incentivo (locacional, creditício e fiscal) com o objetivo de suprir as necessidades dos interessados em iniciar ou expandir seus empreendimentos no estado. “A atual gestão reformulou a política de incentivos do estado, realizada por meio do Programa de Desenvolvimento Integrado do Estado de Alagoas, o Prodesin, como forma de atrair importantes indústrias. O programa consiste na concessão de incentivos fiscais, locacionais e creditícios a empreendimentos turísticos ou industriais, novos ou já instalados em Alagoas, independente do porte. Para isso, a empresa interessada deve apresentar um projeto técnico econômico-financeiro, apontando a expectativa de geração de ICMS, emprego direto e indi-

reto, montante de investimento total, entre outras informações que estejam em conformidade com a legislação fiscal”, conta a secretária de Desenvolvimento, Poliana Santana. Como resultado do programa, grandes indústrias já foram atraídas, a exemplo da Braskem, Krona, Corrplastik, Tigre ADS, Jaraguá Equipamentos, Bauducco, Granbio, entre outros empreendimentos importantes para o desenvolvimento da economia alagoana. Com isso, a capacidade de destaque no setor industrial está aumentando, atraindo ainda mais investimentos. Só do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Alagoas recebeu R$ 1,24 bilhão em recursos em 2013, 14% a mais que em 2012. Os recursos ajudaram na implantação de novas indústrias e gerou crédito emergencial para agricultores e capital de giro para o comércio. Os R$ 336 milhões aplicados no setor em 2013 são justificados pelo fluxo contínuo de prospecções mantido pelo governo, em que o segmento cerâmico e a Cadeia Produtiva da Química e do Plástico (CPQP) encabeçam o ranking.

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ais de 62% da população alagoana era considerada pobre, em 2000. O caso se agravava quando se comparava à média nacional, de 32,5%. De acordo com o levantamento do Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil, divulgado em 2013, o estado lidera o hanking de pior IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios), com 0,631. Segundo a pesquisa, dos 102 municípios alagoanos, 88 estão em baixas faixas classificatórias. Mas, de acordo com o Governo do Estado de Alagoas, ao longo da década 2000-2010, a região teve o segundo maior crescimento no ranking de IDH entre os estados, com um percentual de 34% de aumento, permitindo que a classificação saísse de “muito baixo” para o “médio”. Isso é reflexo do quadro

ATRAINDO MAIS INVESTIMENTOS

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ALAGOAS SAI DO MARASMO

A dívida pública se mostra como impasse na evolução econômica do segundo menor estado brasileiro. Em 2012, o estado tinha uma dívida consolidada em 7,7 bilhões, segundo matéria publicada no Valor Econômico. A dívida superava os números da Bahia, que apresenta várias políticas de atração de investimentos e que tem hoje um PIB seis vezes maior que o de Alagoas, sendo responsável por boa parte da arrecadação no Nordeste. O valor total da dívida representava 170% da receita corrente líquida do estado, um custo próximo ao limite estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal, que é de 200%. Na época, 55% da receita do estado vinham de verbas federais, sem contar com o Bolsa Família, INSS e repasses para educação e saúde. Isso acontecia por conta de uma arrecadação própria insuficiente. Até 2010, a receita tributária do estado de Alagoas cresceu no mesmo ritmo das despesas correntes, 11% ao ano. A situação começou a melhorar em 2007, quando o governador Teotônio Vilela Filho, convidou o Instituto Nacional de Desenvolvimento Gerencial (INDG) para cooperar com a organização fiscal e financeira do estado. “Cerca de 5 bilhões foram investidos nos últimos sete anos e mais de 100 indústrias foram captadas, por meio de incentivos concedidos pelo Governo de Alagoas. Como resultado, milhares de empregos diretos e indiretos foram gerados para a população. Isso foi possível graças à credibilidade conquistada junto a empresários e investidores, após a atual gestão ter sanado toda a dívida pública do estado”, afirma a secretária Poliana.


Criando uma cadeia produtiva A atividade industrial em Alagoas tem, como subsetores predominantes, o químico, a produção de açúcar e álcool, de cimento e o processamento de alimentos. Com as políticas de incentivo e de atração de novos empreendimentos industriais, nos últimos anos a instalação de novas indústrias em Alagoas cresceu exponencialmente. A indústria da cultura canavieira, que atinge 45% de contribuição na economia, o turismo, com 23%, a indústria alimentícia, com 20% e a de química e mineração, com 12%. A CPQP é um dos eixos mais bem consolidados da economia alagoana. Integrada por agentes da iniciativa pública e privada, atua em duas vertentes, as indústrias da química e da transformação.

Com uma grande oferta de resinas, a cadeia abarca indústrias de grande e médio porte, de segunda e terceira geração, tendo a Braskem como a principal fornecedora de insumos, que transformou o estado no maior produtor de Policloreto de Vinila (PVC) da América Latina. “Além disso, o faturamento do setor dobrou com a captação de mais de 30 empresas desde 2007, que injetaram R$ 2,3 bilhões na economia, gerando mais de cinco mil empregos diretos. Podemos destacar ainda a produção dos Polos Industriais, que abrigam importantes empreendimentos, a exemplo das empresas Krona, Tigre ADS, Jaraguá Equipamentos e outros. O estado também tem no setor sucroenergético um grande eixo gerador de emprego e renda, com uma das produções mais destacadas de todo o país”, completa Poliana.

Dados Área: 27.778,506 Km² População: 3 120 922 hab. (15º) Densidade: 112,35 hab./km² (4º)

Economia

SETOR SUCROENERGÉTICO desregulamentação do setor, em 1990, a situação mudou. Nessa época, usineiros foram obrigados a se capacitarem para competirem com a produção do Centro-Sul. O quadro gerou cortes de custos que inviabilizaram produções de pequenos e médios fornecedores. “A dinamização da economia alagoana foi pautada por uma gestão com foco no planejamento e alcance de resultados, tornando o estado competitivo diante das novas realidades do país e do mundo. Alagoas passa a ter um mercado atrativo, conquistando credibilidade junto a empresários e investidores”, explica a secretária de Desenvolvimento de Alagoas, Poliana.

Além de adotar a política de incentivos para atração de novos negócios, a secretária de Desenvolvimento afirma que o Governo do Estado apostou também na desconcentração dos investimentos, que levou desenvolvimento econômico para o interior; na desburocratização dos processos; na readequação da infraestrutura dos polos industriais e multissetoriais, entre outras ações. “Isso fez com que o setor industrial tivesse maior participação no PIB do Estado. Com o fortalecimento de outras cadeias produtivas, a dependência econômica em relação ao setor sucroalcooleiro tende a diminuir nos próximos anos”, conclui.

Indicadores sociais Expectativa de vida: 67,2 anos (27º) Mortalidade infantil: 18,6% nasc. (27º) Analfabetismo: 25,7% (27º) IDH (2010) 0,631 (27º) – médio

Investimentos do Governo Federal

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O segundo menor estado do Brasil, perdendo apenas para Sergipe, é um dos maiores produtores de cana-de-açúcar e coco-da-baía do país. A agropecuária sempre foi a base da economia alagoana. Entre as décadas de 60 e 80, a indústria sucroalcooleira alavancou com programas federais, e passou a ocupar grandes áreas agricultáveis. Por isso, a cultura da cana-de-açúcar quase monopolizou toda a atividade econômica da região. Porém, por conta dessa economia pouco diversificada, Alagoas ficou nas mãos da produção e da venda de canade-açúcar por longo tempo. Mas, com o fim do Proálcool e

Total: R$ 19,88 bilhões De 2011 a 2014: R$ 9,96 bilhões Depois de 2014: R$ 9,93 bilhões 37

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PIB: R$ 24,575 bilhões (20º) PIB per capita: R$ 7 874 (25º)

Fotos: Flickr - Governo do Estado de Alagoas


Solo fértil para a indústria

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52.187 bilhões, em 2011, um crescimento de 10,3% (ficando acima das médias do Brasil e do Nordeste). E é ainda o 4º PIB do Nordeste. Em termos reais, houve um acréscimo de R$ 12.332 bilhões, enquanto o PIB per capita saltou de R$ 6.259,43 para R$ 7.852,71 no mesmo período. De acordo com a economista Tânia Bacelar, o Maranhão já vem tendo bom crescimento e tem atraído um importante bloco de cerca de R$ 100 bilhões de investimentos, tanto em infraestrutura como em atividades produtivas. “Na infraestrutura se destacam investimentos na ampliação do seu já moderno complexo portuário, a duplicação da ferrovia e do terminal portuário do Vale e projetos do setor de energia (petróleo, gás, construção de linhas de transmissão de energia e a produção de energia eólica)”, explica a economista. Já dentre os investimentos produtivos, segundo Tânia, merecem destaque o agronegócio produtor de soja, milho e de cana-de-açúcar, a plantação de eucaliptos

para produção de celulose e papel, projetos siderúrgicos, ampliação do complexo avícola, novos empreendimentos produtores de cimento, entre outros. Boa parte dos investimentos e do crescimento econômico no Maranhão é decorrente de políticas de atração de investimentos desenvolvendo programas e ações de incentivo à instalação tanto de grandes empreendimentos como de micro e pequenas empresas. Para o Secretário da Sedinc, Maurício Macedo, o Maranhão tem um conjunto de condições naturais como localização geográfica privilegiada, vasta extensão de terras, água em abundância, aliadas a infraestrutura de portos, ferrovias, estradas, energia e outras. “Ao longo de cinco anos, investimos em obras de infraestrutura como estradas e porto. Implantamos uma política de atração de investimentos que oferecem desde incentivos competitivos à infraestrutura produtiva, visando atender à grande demanda de empresas que buscam o estado para investir”, afirma.

Fotos: Flickr - Governo do Estado do Maranhão

Para se tornar um polo industrial no Brasil, o Maranhão tem investido em políticas de atração de empresas e indústrias. Como incentivo, tem oferecido dispensa do pagamento de 75% do saldo devedor do ICMS e desoneração parcial do ICMS incidente nas aquisições interestaduais, como é o caso do Programa de Incentivo às Atividades Industriais e Tecnológicas do Maranhão (ProMaranhão). Criado em 2010, o programa oferece estímulos fiscais para implantação, ampliação e reativação de indústrias e agroindústrias no território maranhense, além de fomentar o desenvolvimento de empresas de pequeno porte que atuam nestes setores. Atualmente, já beneficia 34 empresas que, juntas, somam investimentos na ordem de R$ 7,36 bilhões e são responsáveis pela geração de mais de 70 mil empregos diretos e indiretos. Outro programa de incentivo

à indústria no Maranhão é o Programa de Desenvolvimento de Fornecedores (PDF), principal instrumento de articulação entre o poder público e a iniciativa privada, que prepara empresas locais para aumentar a participação destas no fornecimento de bens e serviços para as grandes empresas instaladas ou que venham a se instalar no estado. O PDF já movimentou R$ 18,8 bilhões no acumulado de 20002013. “A volta da confiança na gestão governamental também é outro fator importante de motivação, pois o empresariado recebe todo o apoio do governo nos processos que necessita para a implantação dos seus empreendimentos. O governo fez o dever de casa e agora colhe resultados positivos, tanto que nossa carteira de investimentos ultrapassou os R$ 130 bilhões, entre públicos e privados”, afirma o Secretário Maurício Macedo.

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estado que exporta a imagem da terra dos lençóis de águas entre dunas e do bumba-meu-boi, vem também aderindo à fama de grande polo econômico. A implantação de 56 grandes empreendimentos que já estão em operação gerou mais de 100 mil empregos diretos. Dos R$ 130 bilhões em investimentos previstos para o Maranhão (no período de 2009-2018), já foram investidos até o 1º trimestre de 2014 cerca de R$ 59,3 bilhões desses empreendimentos. São mais de 50 projetos em fase de implantação ou estudo até 2018, de acordo com a Secretaria de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Sedinc). A indústria foi o setor que mais ganhou participação no PIB estadual, saltando de 15,4%, em 2009, para 17,5%, em 2011. De acordo com os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) do Maranhão saltou de R$ 39.855 bilhões, em 2009, para R$

PROGRAMAS DE ATRAÇÃO

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MARANHÃO DE RESULTADOS

Para oferecer infraestrutura às empresas, o estado investiu na recuperação e construção de distritos industriais e parques empresariais, para atender não só as demandas da indústria como também do comércio e serviços. Entre 2010 e 2013, foram gastos cerca de R$ 30 milhões na construção de distritos industriais nos município de São Luís, Imperatriz, Aldeias Altas, Balsas, Grajaú e Porto Franco. Segundo a Sedinc, já no primeiro semestre de 2014, foi iniciada a construção de parques empresariais nas cidades de Caxias, Timon, Pinheiro, Rosário, São José de Ribamar e Imperatriz. A implantação dos parques de Codó, Chapadinha, Capinzal do Norte, Presidente Dutra, Santa Inês, Coroatá e Alcântara estão em fase de estudo. O investimento total previsto para os parques empresariais é da ordem de R$ 84 milhões, dos quais R$ 42 milhões devem ser investidos neste ano. Além de melhorias na infraestrutura, a política de atração de investimentos trabalha no desenvolvimento de programas e ações de incentivo à instalação tanto de grandes empreendimentos como de micro e pequenas empresas. Recentemente, foi lançado pela Sedinc o Programa de Valorização do Empreendedor Maranhense, o Made in Maranhão, que visa inserir competitivamente entre empresas maranhenses nos mercados nacional e internacional, por meio da inovação tecnológica, da produtividade e da qualidade. O Made in Maranhão é constituído por mais de 18 instituições parceiras e promoveu, em abril, a sua primeira rodada de negócios com uma grande rede atacadista do estado. O programa já conta com 56 empresas cadastradas.


Principais recursos Além do agronegócio, carro chefe da economia de vários estados nordestinos, o Maranhão está apostando na produção de gás natural. Em 2010, a empresa de óleo e gás natural OGX descobriu a existência de uma grande reserva no Maranhão, mais precisamente na região de Capinzal do Norte, o que abriu mais perspectiva de novos negócios a partir do gás como geração de energia, para uso em veículos, fertilizantes e indústria petroquímica. O Maranhão tem também um potencial para gerar energia limpa a partir de biomassa, hidráulica e eólica. Segundo a Sedinc, o estado acabou de receber o certificado de zona livre de febre aftosa, o que certamente vai impulsionar a pecuária. Além disso, a secretaria afirma que a região tem descoberto novas potencialidades como a mineração de ouro, verticalização do ferro-gusa, florestas plantadas para a produção de carvão, celulose, entre outros.

Dados Área: 331 937,450 km² (8º) População: 6 794 298 hab. (10º) Densidade: 20,47 hab./km² (16º)

Economia PIB: R$ 45,256 bilhões (16º) PIB per capita: R$ 6 888 (26º)

ganhando visibilidade. Com a ampliação do Canal do Panamá, o Nordeste se aproximará de mercados asiáticos, o que pode ser atraente para uma rota de exportação ao Oriente. De acordo com a Confederação Nacional das Indústrias, o Canal do Panamá também pode ampliar a demanda de grãos em portos, como o de Itaqui, que deve sofrer aumento da demanda desses granéis a partir do término das obras da Ferrovia Norte-Sul. A Secretaria de Portos

Indicadores sociais

estima um aumento expressivo na movimentação do Terminal de Uso Privativo (TUP) Ponta da Madeira, ligado ao Porto de Itaqui, administrado pela Vale do Rio Doce, nos próximos anos. Atualmente ele é considerado o segundo maior TUP em movimentação de cargas do país, sendo um porto de padrão internacional na movimentação de minério de ferro, tanto em função da sua profundidade e eficiência, quanto em razão da sua movimentação de carregamentos.

Expectativa de vida: 68,0 anos (26º) Mortalidade infantil: 87% nasc. (26º) Analfabetismo: 18,76% IDH (2010) 0,639 (26º) – médio

Investimentos do Governo Federal

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O Porto do Itaqui já está se tornando um dos grandes polos de escoamento de exportação e importação no Brasil. Interligado às ferrovias Carajás, Norte e Sul e Trasnordestina, localizado em São Luiz, capital do Maranhão, teve um volume operacional de 15 milhões e 300 mil toneladas durante 2013. Para 2014, a estimativa é que sejam movimentadas cerca de 17 milhões de toneladas de cargas. O local é estratégico, e a logística do porto já está

Total: R$ 65,25 bilhões De 2011 a 2014: R$ 18,25 bilhões Depois de 2014: R$ 47,01 bilhões 41

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POLO DE EXPORTAÇÃO

Fotos: Flickr - Governo do Estado do Maranhão


Seguindo o padrão nordestino

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tos maiores que o próprio país. “Nos anos finais do século 20, a região vinha perdendo peso na economia do país (chegou a 12,5%, em 2000) e inverteu esta tendência nos anos recentes. Isso aconteceu porque a economia da região cresceu (4,2% ao ano) acima da média nacional (3,5% ao ano) nos anos iniciais do século 20, como mostra gráfico a seguir”, explica a economista Tânia Bacelar. Nesse contexto está o estado da Paraíba, que apesar de ainda não ser conhecido como verdadeiro polo econômico, está ganhando espaço no mundo dos negócios no Brasil e atraindo grandes investimentos. Alguns números comprovam. O Produto Interno Bruto (PIB) da Paraíba, no ano de 2011, registrou crescimento de 5,6% em relação ao ano anterior, segundo o Instituto de Desenvolvimento Municipal e Estadual

da Paraíba (Ideme) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos últimos dados divulgados, o estado alcançou o montante de R$ 35,444 bilhões, mantendo sua participação no PIB nacional em torno de 0,9%. Desse montante, R$ 31,718 bilhões (89,5%) são provenientes do Valor Adicionado total das atividades econômicas realizadas no estado e R$ 3,725 bilhões (10,5%) são referentes ao total dos impostos sobre produtos arrecadados líquidos de subsídios. Esse desempenho positivo foi reflexo do crescimento da produção e comercialização de bens e serviços de todas as atividades econômicas. Em 2013, a Paraíba apresentou a segunda maior taxa de crescimento do Nordeste, segundo a Pesquisa do Comércio do IBGE, ficando atrás apenas do Rio Grande do Norte (3,8%), que liderou as vendas na região.

Fotos: Flickr - Governo do Estado da Paraíba

POTÊNCIA TURÍSTICA A Paraíba tem a capital mais cobiçada por turistas. João Pessoa, lugar onde o sol nasce primeiro, foi eleita o quarto destino mais procurado da América do Sul em 2013, pelo TripAdvisor, maior site de viagem do mundo. A cidade recebeu ótimas indicações e avaliações dos visitantes e por isso ganhou, junto com Fortaleza, o prêmio ‘Travelers Choice 2013 – Destinos em Alta’. A capital paraibana também ficou entre os 54 lugares

no mundo que mais tiveram opiniões positivas e apresentaram aumento no interesse ao longo do ano passado, segundo opinião dos usuários do site. Em entrevista à Revista Nordeste, Ruth Avelino, presidente da Empresa Paraibana de Turismo (PBTur), afirmou que a cidade atrai turistas por conta da sua qualidade de vida. “Nós temos hospitalidade e a cidade tem uma vivência interessante para o visitante”, valoriza.

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região Nordeste foi base histórica da economia do Brasil. Daqui começou o desbravamento das terras tupiniquins, e logo nos primeiros centenários do descobrimento todas as riquezas vinham da região. O produto principal era a cana-de-açúcar, exportado para todo o mundo. Mas, a concorrência dos holandeses superou. Somando isso ao deslocamento da família Real da Bahia para o Rio de Janeiro e, posteriormente, à mudança da economia para a cultura do café com leite do Sul-Sudeste, o Nordeste deixou, por um bom tempo, de ser terras fartas para grandes investimentos e polo econômico. O quadro está mudando gradativamente desde então. Mas, foi há cerca de 10 anos que a região começou a se consolidar na economia brasileira, apresentando até índices de crescimen-

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PARAÍBA GANHA ESPAÇOS NOS NEGÓCIOS

A economista Tânia Bacelar acredita que um dos grandes fatores de crescimento da região Nordeste é a elevação da renda das famílias (fruto especialmente do aumento real do salário mínimo, das políticas sociais e da ampliação do nível de emprego), associada à ampliação do crédito, que dinamizou o consumo (de bens e serviços). Ela completa que a atração de investimentos produtivos tem aproveitado as potencialidades do Nordeste, dentre as quais seu dinâmico mercado consumidor, suas riquezas naturais (terras boas e água farta no cerrado, por exemplo), entre outras. “A Paraíba, embora não tenha o mesmo desempenho maranhense, tem dinamizado seu setor terciário e tem potencial para muitas atividades, como as de agricultura irrigada, turismo, calçados e tecnologia da informação. Além disso, possui uma boa e descentralizada rede de ensino superior e infraestrutura rodoviária, considerando os padrões nordestinos”, afirma. A economista destaca ainda a importância do fortalecimento da infraestrutura das cidades, como interligação de bacias, construção de adutoras, construção de ferrovias, duplicação de rodovias, construção ou modernização de aeroportos e portos e, também, a estruturação de uma infraestrutura social, como projetos urbanos e de expansão das redes de saúde e educação. “Parte importante dessas obras ainda está em execução, mas estima-se que só a partir dos projetos de infraestrutura listados no PAC-2, um montante de R$ 30,4 bilhões se destina a infraestrutura do Nordeste. Tal bloco de investimentos dinamizou a construção civil na região e criou muitos dos novos empregos formais, nos anos recentes”, explica.


Comércio tem gerado empregos De acordo com dados divulgados no início do ano pelo Ministério do Trabalho e Emprego, através do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o comércio foi o segundo setor de maior destaque na criação de postos de emprego no ano de 2013, com 301.095 postos, apresentando um crescimento de 3,36%. No mercado de trabalho comercial, os destaques do ano foram os segmentos de farmácias e perfumarias (+5,8% ou 30.598 vagas) e hipermercados e supermercados (+4,2% ou 88.535 vagas). Segundo o relatório do Instituto de Desenvolvimento Municipal e Estadual da Paraíba (Ideme), o setor terciário abrange as atividades de maior peso na economia paraibana. Dentre as atividades que mais colaboraram para o crescimento do PIB total estão o comércio, que apresentou maior volume (11,7%) e maior contribuição e as atividades imobiliárias e aluguel, que teve expansão de 5,3%.

Dados

Indicadores sociais

Área: 56 469,778 km² (21º) População: 3 914 418 hab. (13º) Densidade: 69,32 hab./km² (8º)

Expectativa de vida: 71,2 anos (18º) Mortalidade infantil: 18,2% nasc. (15º) Analfabetismo: : 20,2% (25º) IDH (2010) 0,658 (23º) – médio

Economia

Investimentos do Governo Federal

PIB: R$ 35.444 bilhões (19º) PIB per capita: R$9.348 (24º)

Total: R$ 16,51 bilhões De 2011 a 2014: R$ 12,45 bilhões Depois de 2014: R$ 4,06 bilhões

Os pontos turísticos vão além da capital porta do sol. Para os visitantes que procuram atrativos além de mar, a opção são outros seguimentos, como o histórico, religioso, e uma viagem pelo interior, por exemplo, como o Cariri com suas pedras gigantes, a Roliúde Nordestina de Cabaceiras e o maior São João do Mundo de Campina Grande. De acordo com os dados do Governo da Paraíba, o estado mostrou uma evolução no número de visitas de estrangeiros apresentando um crescimento

de 9,2% nos desembarques da região, segundo a Empresa Brasileira de Infraestrutura e Aeroportuária (Infraero). Isso apenas nos três primeiros meses deste ano. Nesse tempo, mais de 159 mil passageiros chegaram ao destino, pouco mais dos 148 mil registrados nos mesmos períodos do ano passado. Em Cabaceiras, no Cariri Ocidental da Paraíba, lugar onde a visita das chuvas só bate 30 dias por ano e a paisagem é de galhos secos da caatinga, o projeto ‘Bode e Turismo’ vem gerando emprego

e renda no município mais seco do Brasil. A ação já transformou a realidade da região, aproveitando as características da cadeia de ovinocaprinocultura (carne, leite, derivados, couro, dentre outros subprodutos) como atrativos. O projeto ajudou a alavancar a imagem cinematográfica da ‘Roliúde Nordestina’, onde já foram rodados mais de 25 filmes do cinema nacional, como, por exemplo, ‘O auto da compadecida’ e ‘Romance’ do diretor Guel Arraes e ‘Cinema, Aspirinas e Urubus’, de Marcelo Gomes.

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TURISMO ALÉM DA PRAIA

Fotos: Flickr - Governo do Estado da Paraíba


Economia

Opinião

Princípios de decência

Ipojuca Pontes Escritor e cineasta

classe média está maior Mais de 20 milhões de nordestinos passaram a ter mais poder de consumo

O que determinou a saída de Barbosa do STF foi o completo aparelhamento ideológico do Poder Judiciário, funcional aos ditames do governo esquerdista

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esde 2002, o Nordeste vem passando por uma ascensão econômica acima da média brasileira, mudando o cenário da economia nacional. Por exemplo, em 2012 o PIB nacional foi de apenas 0,9% e os PIBs da Bahia, Pernambuco e Ceará cresceram, respectivamente: 3,1%, 2,3% e 3,7%. A renda per capta do Nordeste evoluiu 35,43% entre 2011 e 2012, enquanto no Brasil essa taxa ficou em 26,75%. É nesse contexto que a classe média vem ultrapassando o número de pobres e miseráveis no Nordeste. De acordo com levantamento da consultoria Plano CDE baseado nos dados de 2012 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), a classe C tem 23,9 milhões de pessoas, enquanto estão na D e E 23,7 milhões, o que significa uma redução de 21% da base da pirâmide em relação a 2001. Ainda assim, a classe média se concentra na região Sudeste (43%), o Nordeste representa (26%), seguido pelo Sul (15%), Centro-Oeste (8%) e Norte (8%). Parte do crescimento pode ser atribuída a diversos fatores, entre eles o Programa Bolsa Família, já que metade dos 13 milhões de famílias

atendidas são do Nordeste. Também é possível identificar outros impulsionadores como a elevação da renda familiar através das políticas sociais e do aumento do salário mínimo, que estendeu o consumo de bens e serviços. Outro fator que contribuiu para o crescimento econômico das classes na região foi a atração de blocos de investimento produtivos que vêm aproveitando as potencialidades do Nordeste, a exemplo das riquezas naturais e mercado consumidor. Além da realização de várias obras de infraestrutura econômica como a interligação de bacias, construção de adutoras e ferrovias, duplicação de rodovias e infraestrutura social e projetos urbanos e de expansão das redes de saúde e educação. Um estudo feito pelo Serasa Experian e Data Popular divulgado no começo do ano mostrou um retrato detalhado dos perfis que compõe a classe C brasileira, que gastou mais de R$ 1,17 trilhão em 2013 e movimentou 58% do crédito nacional. Se a classe média fosse um país, seria o 12º em população e a 18ª nação do mundo em consumo, podendo pertencer ao G20.

Perfis do grupo PROMISSORES Padrão jovem (22,2 anos), solteiro (95%), possui ensino médio completo (59%) e tem emprego com carteira assinada (57%), acessa internet (72%) e se descontrolam financeiramente (51%). Se interessam por: academia de ginástica, faculdade, curso profissionalizante, móveis para casa, notebook, smartphone, carro e moto.

BATALHADORES O grupo é formado por pessoas com média de 40,4 anos de idade, possui ensino fundamental completo (48%), solteiro (72%). Considera o emprego como caminho para a estabilidade. Investe em turismo nacional, veículos, eletrônicos, imóveis, móveis, eletrodomésticos e seguros.

EXPERIENTES Com perfil idoso (65,8 anos), viúvo (41%), autônomo (36%), possui ensino fundamental completo e 31% não têm instrução. Os experientes veem a pós-aposentadoria como sinônimo de depressão e preconceito por parte dos jovens, embora se mantenham no mercado de trabalho para preservar seu padrão de vida.

EMPREENDEDORES Com perfil idoso (65,8 anos), viúvo (41%), autônomo (36%), possui ensino fundamental completo e 31% não têm instrução. Os experientes veem a pós-aposentadoria como sinônimo de depressão e preconceito por parte dos jovens, embora se mantenham no mercado de trabalho para preservar seu padrão de vida.

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uns, JB deixa a presidência por puro medo. De fato, sua vida tornou-se um inferno. Desde a prisão dos mensaleiros, não pode mais freqüentar ambientes públicos. Nos restaurantes de Brasília, vez por outra se vê xingado e ameaçado por grupos de militantes do PT. No longínquo Rio Grande do Norte, um secretário de organização petista prometeu matá-lo. Na Internet, quadrilhas digitais acusavam-no de surrar a própria esposa, que o teria denunciado numa delegacia especializada. Em outro ataque frontal se diz que “toda violência contra o ministro será permitida, pois ele não passa de um monstro e de uma aberração moral. Joaquim Barbosa deve ser morto”. Nos sites da chamada direita, por sua vez, ele é apontado como o ministro que votou contra a extradição de Cesare Battisti, o terrorista italiano que, à frente do PAC (Operários Armados pelo Comunismo) matou 4 pessoas, entre elas 2 crianças. Além de ser favorável ao aborto e a liberação das células-tronco para fins de pesquisa. No resumo da ópera, o que determinou a saída de Barbosa do STF foi o completo aparelhamento ideológico do Poder Judiciário, funcional aos ditames do governo esquerdista. De fato, o magistrado negro não mandava em mais nada. Por exemplo, numa das últimas sessões do Supremo que presidiu, o advogado de José Genuíno, “visivelmente embriagado”, invadiu o plenário e ameaçou matá-lo. Na prisão da Papuda, com ou sem direito a celular, o condenado Zé Dirceu, segundo um articulista do Globo, orquestrou o apoio do reincidente Garotinho à reeleição de Dilma. E mais: sairá da Papuda para habitar um aprazível centro de recuperação em Brasília, ao tempo em que obtém o privilégio de ser bibliotecário no escritório de um amigo, para o qual se dirige numa caminhonete de luxo, no valor de R$ 100 mil, pilotada por motorista particular. Até dezembro, quem sabe, estará em casa, livre para articular, ao lado de Lula, o pesado jogo político do PT e abraçar o rendoso mundo dos negócios. Quando ao atrevido Joaquim Barbosa... Bem, ele que se cuide!

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ão será de todo improvável que o ministro Joaquim Barbosa, ainda presidente do Supremo Tribunal Federal, venha a ser punido pelos seus poderosos inimigos – entre eles, políticos condenados por corrupção e formação de quadrilha, advogados da OAB, militantes petistas em geral e até mesmo membros da Suprema Corte – pela ousadia de ter procurado estabelecer no STF, especialmente no julgamento do mensalão, princípios mínimos de decência. Eis aqui um seu breve histórico funcional: indicado por Lula para ministro do STF, Joaquim Benedito Barbosa Gomes tomou posse no cargo em junho de 2003 (segundo se propaga, por ser negro e ter votado no operário relâmpago). Em 2006, antes de assumir a vice-presidência do Tribunal Superior Eleitoral, cargo que renunciaria por problema de saúde, Joaquim Barbosa assumiu o papel de relator da denúncia contra os mensaleiros feita pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Sousa, este, por sua vez, amparado em fatos escabrosos expostos pelo ex-deputado federal Roberto Jefferson, outro mensaleiro. No julgamento histórico, Joaquim Barbosa acolheu as acusações contra 40 parlamentares envolvidos na suja compra de votos (com o dinheiro público) concebida nas entranhas do governo petista então presidido pelo doutor Lula da Silva. No julgamento, JB não deu refresco, ordenando, entre outras coisas, a quebra do sigilo fiscal dos réus. Em 2012, Barbosa, eleito presidente do STF por voto secreto, revelou-se um magistrado seguro, firme e íntegro na condução e defesa do cumprimento das penas impostas aos criminosos do mensalão. Mas, em 2014, surpreendendo a nação, o magistrado tornou pública a sua aposentadoria precoce e antecipou sua saída da presidência do Supremo, cargo que vai deixar, sem apelo, no fim de agosto. Então, a pergunta que se impõe é a seguinte: por que um magistrado, venerado pela opinião pública do país, deixa antes do prazo o mais alto posto da Suprema Corte? As respostas são as mais diversas. Para


Economia

Reunião da cúpula do Brics termina com boas previsões para o setor econômico dos países membros, chamando atenção até de instituições financeiras mundiais

Fotos: Flickr - Blog do Planalto

Parceria sino-brasileira A reunião da cúpula dos Brics no Brasil calhou na visita bilateral do presidente chinês Xi Jinping com a presidente Dilma Rousseff. Durante o encontro, os países assinaram 32 atos que beneficiaram vários setores, como logística, infraestrutura, comércio e indústria. Para a área de energia, um dos acordos foi a parceria entre Eletrobrás e a chinesa State Grid, que pretende trabalhar na construção de linhas de transmissão para ultra-alta tensão na Usina de Belo Monte. Para o setor de infraestrutura, o Ministério dos Transportes e a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma abriram espaços para a participação de empresas chinesas na licitação de um trecho da Ferrovia Transcontinental, que ligará Lucas do Rio Verde (MT) a Campinorte (GO),

com o Memorando de Entendimento sobre Cooperação Ferroviária. Os chineses são os principais parceiros comerciais do Brasil, desde 2009. Segundo a presidente Dilma a intenção é que essa predominância se estenda também ao setor industrial, como afirmou em entrevista coletiva. “No setor industrial, a relação bilateral sai fortalecida com os anúncios de investimentos significativos para a fábrica de maquinário para construção civil, pela Sany, no valor de US$ 300 milhões, e a instalação da montadora Chery, no valor de US$ 400 milhões, ambas em Jacareí. Cada uma gerará mil novos postos de trabalho. Identificamos, ainda, amplas oportunidades de cooperação no setor do agronegócio”, explicou a presidente Dilma.

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Economia sai fortalecida

estratégica entre quatro potências emergentes. Primeiro, criamos o Banco dos BRICS, com um capital inicial de 100 bilhões de dólares, cujo principal destino é apoiar as economias dos países membros das intempéries do mercado financeiro e dos seus ataques especulativos”, afirma. De acordo com o professor, este ano a reunião inovou. “A aliança se estende para o comércio entre os membros, quando nas importações serão pagas em moeda do país comprador, o que é uma revolução em termos de padrão monetário, de conversibilidade de moedas, uma experiência que, pelo menos nas transações entre os Brics, representará o início do fim da dependência em relação ao dólar e ao euro. Nunca é demais lembrar que o PIB somado dos BRICS ultrapassa os 20 trilhões de dólares. E a projeção é de que, daqui a 15 anos, das sete maiores economias do mundo, quatro pertencerão ao bloco - China (1º), Índia (3º), Brasil (4º) e Rússia (6º)”, ressalta. O professor Lúcio Flávio frisa que os Brics são mais que um arranjo comercial entre economias de peso similar. “Os cinco países que hoje compõem os BRICS representam mais do que a força demográfica, e de mercado interno, portanto, que chegam sozinhos a quase 3 bilhões de pessoas, o que representa mais de 40% de toda a população mundial”.

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encontro dos cinco chefes de países emergentes, que aconteceu no Brasil, agora em julho, resultou na criação de um fundo de cooperação para socorrer a China, o Brasil, a África do Sul, a Rússia e a Índia, em caso de crise. O Tratado Constitutivo do Arranjo Contingente de Reservas tem como objetivo criar uma reserva auxiliar para os membros da cúpula que, no futuro, estejam em situação delicada no balanço de pagamentos e do acordo para a criação do Banco de Desenvolvimento do Brics, outra importante definição econômica para esses países. Durante a reunião, que aconteceu em Fortaleza (CE), os chefes de Estados decidiram pela criação do banco para financiar projetos de infraestrutura nos países emergentes, semelhante ao Banco Mundial e FMI. O projeto começa com capital inicial de US$ 50 bilhões, divididos igualmente entre os membros, com o valor podendo chegar a US$ 100 bilhões. A proposta, debatida desde 2012, finalmente ganhou corpo e a previsão é que o banco comece a funcionar em 2016. “(...) O staff do FMI terá grande satisfação de trabalhar com a equipe dos Brics (...) com vistas a reforçar a cooperação entre todas as partes integrantes da rede internacional de segurança destinada a preservar a estabilidade financeira no mundo”. O posicionamento positivo do Fundo Monetário Internacional foi emitido em nota pela presidente da organização, Christine Lagarde, atestando o sucesso da reunião dos países emergentes. Para Flávio Lúcio, professor da Universidade Federal da Paraíba e doutor em História, as decisões mostram o novo perfil de uma aliança estratégica voltada para o apoio à superação dos gargalos e limitações da economia de cada país. “Hoje, demos um grande passo para consolidar essa aliança


Economia

Biomassa Petróleo (Afins) Outros

Carvão Eólica

O Nordeste já é o maior produtor de energia eólica no país. Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará lideram na produção desta energia limpa. A potência total (instalada, em construção e contratada) dos três estados é de 7206,9 MW, com o total absoluto de 275 parques eólicos. A região também é responsável por 13,8% da produção nacional de energia proveniente de hidrelétricas.

O Brasil é bem servido de energia limpa. A hidráulica, que atende à maior parte da demanda, é renovável, mas existem outras possibilidades:

SOLAR A luz é captada por painéis e transformada em energia elétrica. Apontada como outra fonte com muito potencial, mas tem como principal desvantagem o custo elevado do equipamento. No Brasil existem apenas 83 microgeradores de energia solar. O maior parque é localizado na cidade de Russas, Ceará.

BIOMASSA É toda matéria orgânica não fóssil, de origem animal ou vegetal, que pode ser utilizada na produção de calor, seja para uso térmico industrial, seja para geração de eletricidade e/ou que pode ser transformada em outras formas de energias sólidas Nesse setor, o país lidera o ranking mundial. Representa 16% da produção mundial.

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Gás Natural

PARQUES DE ENERGIA EÓLICA

PARAÍBA

Hidráulica

Energia no Nordeste

SANTA CATARINA

Fontes de energia no Brasil

RIO GRANDE DO SUL

cântara Júnior, Diretor Administrativo e Diretor Econômico-Financeiro, disse que em termos de potência instalada, isso equivale a cerca de 10% da energia produzida. Os parques eólicos já estão sendo construídos.

CEARÁ

zada no Brasil provém de hidrelétricas, o equivalente a 75% da produção. É uma fonte limpa e que funciona muito bem no país. Mas, alguns estados nordestinos não dispõem de áreas propícias para a exploração desse tipo de energia. A região é responsável por apenas 13,8% da produção nacional. Entretanto, existem outras possibilidades. Para atingir esse mercado em expansão, a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf), subsidiária da Eletrobrás e principal geradora de energia da região, está aplicando R$ 3,1 bi em energia eólica em quatro estados: Piauí, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Norte. “Não há mais possibilidade para construção de hidrelétricas na região, e as eólicas têm margens boas de ganhos. Foi por isso que começamos a explorar essa possibilidade”, explicou o diretor de Engenharia e Construção da Chesf, José Ailton de Lima. Ele ainda acrescentou que em 2018 o potencial de energia eólica será igual ao hidrelétrico gerado pela Chesf. José Pedro de Al-

tação dessa fonte. A presidente executiva da ABEEólica, Élbia Melo, relatou que o setor enfrenta dificuldades no transporte de equipamentos por causa das grandes distâncias e da má qualidade das estradas brasileiras. Além dos parques instalados e parados por não estarem conectados à rede. “As empresas de transmissão tiveram dificuldade de licenciamento ambiental e regularização fundiária das linhas de transmissão. É importante considerar que os leilões das Linhas de Transmissão estão sendo realizados pelo Governo e que, apesar deste atraso das linhas, os parques estarão conectados à rede até o final de 2014”. Enquanto isso, o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, defende a hidroeletricidade como fonte de energia prioritária, pois a eólica é uma fonte instável e a energia solar é um projeto para médio e longo prazo. Ele vê nas fontes hidrotérmicas a esperança de transformar os já 100 mil megawatts de potência do Brasil em mais 120 mil MW. Mas, a instabilidade dos ventos não é um problema na opinião de Francisco Sarmento. “Quando as vazões dos rios encontram-se menores, nas épocas menos chuvosas, pode ocorrer que os ventos estejam em seu melhor período, permitindo assim a complementariedade das fontes”.

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Nordeste é o maior beneficiado pelo programa habitacional Minha Casa, Minha Vida. Isso significa que 60.287 unidades foram destinadas à região. Para incrementar essas moradias, o governo federal anunciou, em junho de 2013, uma linha especial de R$ 18,7 bilhões para financiar a compra de eletrodomésticos e móveis aos beneficiários do programa. Mais pessoas tiveram acesso a bens como geladeira, máquina de lavar roupa, televisão, e isso fez a diferença no consumo de energia elétrica. A taxa na região aumentou 11,8% no ano passado. Quem alavancou essa subida foi a classe residencial. Nas casas nordestinas, o crescimento do consumo ficou entre 10% e 15% por trimestre no ano passado. Na região, o consumo médio mensal de energia residencial passou de 109 para 117 quilowatts-hora (kWh), o que representa um acréscimo de 7,7%, uma taxa bem superior à média nacional de 2,5%. A maior parte da energia elétrica utili-

Apesar da expressividade nordestina na produção da energia eólica a nível nacional, isso ainda é muito pouco perto do que é possível realizar na região. O professor Francisco Sarmento, do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal da Paraíba, coloca que a aceleração do processo de aumento de participação pode se dar com ajustes de políticas, que criem uma ambiência mais atraente para investimentos. E esses investimentos estão vindo. Além do projeto da Chesf, outros parques eólicos já estão em atividade no Nordeste. Na Paraíba, a Pacific Hydro foi pioneira na construção de parques eólicos no âmbito do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa), liderado pelo Governo Federal, que abastecem em torno de 150 mil residências paraibanas. “Em 2007, entregamos nosso primeiro projeto no país, os 10,2MW Parque Eólico Millenium, seguido pelos 48MW de Vale dos Ventos, em 2009”, declarou Camila Holgado, consultora de gerenciamento da Andreoli MSL Brasil. Em todo país existem 143 parques eólicos em operação, que correspondem juntos a uma capacidade instalada de 3.479,7MW. Essa fonte contribui em 4% com a Matriz Elétrica Nacional, que possui uma capacidade instalada de 4,7GW. Existem obstáculos na implementan-

BAHIA

Investimento de 3,1 bi em parques eólicos em estados nordestinos é um estímulo em fontes alternativas de energia

Ambiente atrai recursos

RIO GRANDE DO NORTE

A força dos ventos

Fotos: Shutterstock


Economia

Temporada de poucos frutos

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s jogos da Copa do Mundo da Fifa 2014 foram encerrados. O espetáculo acabou. Agora, empresários e gerentes de empresas de diversos setores, que investiram pesado em seus estabelecimentos esperando que com a movimentação que o evento trouxesse, contabilizam os prejuízos. Isso mesmo! Ao contrário do que se possa imaginar, a Copa não rendeu o que se esperava e foi além: trouxe perdas aos lojistas e comerciantes não só nas cidades-sede, mas no país todo. As primeiras previsões mostravam uma visão otimista sobre o assunto. Em agosto de 2011, numa reunião do Conselho de Turismo Integrado do Nordeste (CTI-NE) em Aracaju, nove representantes da região nordestina discutiram o rumo que os estados levaria. Na pauta, apontaram que a Copa do Mundo seria um ótimo momento para o crescimento e, consequentemente, o período perfeito para alavancar toda a região. Marcos Aurélio Bono, diretor de operações e marketing do Piauí, explicou, na época, que o turismo é o setor que mais cresce e que, portanto, ofereceria uma oportunidade única, uma vez que toda a cadeia produtiva sairia ganhando, do pequeno comerciante até as grandes redes de hotéis. Indo mais adiante, um encontro entre membros da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), em julho de 2012, anunciava a chegada de uma temporada com grandes frutos para o comércio brasileiro.

Previsão de lucro

300mi “Para o comércio, a realização de uma Copa do Mundo no Brasil é valiosa, pois trará uma grande visibilidade para a cidade de Fortaleza”, afirmava o Presidente da CDL de Fortaleza, Freitas Cordeiro. A expectativa não era para menos. De acordo com estudo feito no mesmo ano pela Fundação Getúlio Vargas, patrocinado pelo Ministério do Turismo, mais de 700 mil turistas deveriam passar pela cidade de Fortaleza somente nos meses de junho e julho de 2014, representando um acréscimo de 94,02% em relação ao fluxo registrado no mesmo período do ano de 2011. Contudo, no dia 11 de junho do corrente ano, um dia antes da partida de abertura da Copa, a Associação Comercial e Industrial de Campinas (ACIC) declarava que a previsão de lucro iria diminuir em, pelo menos, 40%, passando de R$ 500 milhões para R$ 300 milhões. As razões, entretanto, eram frustações advindas da má administração do Governo em gerir as falhas em obras, das quais algumas não chegaram a conclusão dentro das metas da Fifa. Mal sabiam os comerciantes de Campinas, mas eles estavam certos pelos motivos errados e alguns dias depois a crise foi alardeada

um dia antes da abertura da copa

40% de queda pelos próprios campineiros: comerciantes chegaram a registrar queda de 80% nas vendas. A realidade, segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Campinas e região (Sindivarejista), demonstrou que todos os setores sentiram os reflexos dos jogos do Brasil. Até o término de junho, vários proprietários e lojistas alegaram falta de movimento em seus estabelecimentos. No Sul, os estados de Santa Catarina e do Rio Grande Sul sofreram com os impactos trazidos pela Copa. Enquanto que na capital catarinense os comerciantes comemoraram a decisão do governador do estado, Raimundo Colombo (PSD-SC), em adiantar o pagamento da primeira parcela do 13° salário dos servidores públicos. Tendo a vista recuperação financeira dos prejuízos no horário dos jogos da seleção brasileira, os funcionários do comércio porto-alegrense reclamaram que os turistas não gastaram o esperado e se limitaram a fazer compras nos arredores do estádio Beira-Rio.

Empresários frustrados O cenário não é diferente no Nordeste. Em Caruaru (PE), o proprietário da Bittersweet Cupcakes & Coffes, Saulo Gusmão, afirmou que, mesmo com pouco investimento, houve uma grande frustração no movimento durante os jogos. “As expectativas eram que o movimento aumentasse em, pelo menos, 50%. Mas o que aconteceu realmente foi que o movimento caiu em 80%”, conta. “O nosso prejuízo foi maior porque tivemos que fechar a loja durante os jogos do Brasil. Claro, não é uma obrigatoriedade, mas ficamos abertos no primeiro jogo e nenhum cliente apareceu”, completa Gusmão. A dona da Miss Coffé, Emanuela Albuquerque, localizada no Centro de João Pessoa (PB), cafeteria que fica longe das cidades-sede, também sentiu o reflexo da baixa rotatividade de clientes em horários de jogos do Brasil. “No meio-dia não tem Fotos: Divulgação

mais ninguém. Não imaginava que isso acontecesse, mas foram muitos feriados que acabaram prejudicando o andamento da nossa loja”, afirma. Emanuela também considera que se a cafeteria se encontrasse perto da orla, a perspectiva poderia ser outra. “Estou constatando isso por nós estarmos localizados no centro da cidade, talvez se eu estivesse em bairros como Tambaú ou Cabo Branco provavelmente estaria contando outra história”. Eugenio Pacelli entende a decepção de Emanuela, mas para ele, proprietário do açougue JD Carnes e Frios, também em João Pessoa, a Copa foi boa. “Escuto gente de outros segmentos do comércio falar que a Copa não está rendendo, porém, para mim que vendo carne e carvão, comida e materiais para churrasco, em dia de jogo chego a ter lucro de 30%”, comemora Eugenio.

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Copa do Mundo frustra comerciantes. No Nordeste, dia de jogos deixou estabelecimentos de portas fechadas

Na cidade do Recife (PE), palco de grandes disputas futebolísticas durante o Mundial, a situação não foi diferente. Muitos empresários reclamaram de prejuízo. Os estabelecimentos próximos à orla de Boa Viagem, bairro nobre e onde se concentram os grandes hotéis da capital pernambucana, ficaram cheios. O restaurante Ilha da Kosta, por exemplo, nunca viu tanto gringo em seus estabelecimentos. “Todas as casas da rede (Ilha de Restaurantes) ficaram lotadas, principalmente no dia do jogo dos mexicanos. Isso aqui foi um derrame”, disse um garçon do restaurante. No entanto, os empreendimentos mais afastados sofreram com a falta de clientela. A empresária recifense Chris Nunes postou em seu Faceboock, no início do mês de julho, que esperava ansiosa para que a Copa chegasse ao fim. Ela é proprietária de um restaurante localizado no bairro do Derby, área central do Recife, que normalmente fica lotado. “Pensei que era (prejuízo) só comigo”, disse ela entre os mais de quarenta comentários de empresários do setor. “Não está ruim só no seu segmento não. Acho que todos estão sofrendo, mas não credito somente a Copa, outros fatores influenciam, vide as eleições que se aproximam”, argumenta o colega Thiago Corrêa de Araújo, de Jaboatão dos Guararapes. A frase é completada pela proprietária da sorveteria Zepelim, em Casa Forte, Rosana Valença: “eu também estou louca (que o mundial acabe) e que, de preferência, leve a chuva junto”, brincou a empresária.

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Cadê os clientes?


Geral

ligada ao NCDH, que elaborou sua tese de doutorado sobre mulheres presidiárias. “A gente tem tido um crescimento assustador na criminalidade feminina. Hoje, elas assumem a parte criminosa, assumem que entraram por opção. Não são apenas um braço direito do companheiro, seja no tráfico ou no roubo. Elas têm liderado e escondido o discurso do amor bandido, de vitimização”, explica. Uma das modificações na legislação penal brasileira, talvez a mais significativa, foi a instauração da Lei de Execução Penal, de 1984, que trouxe para o sistema penitenciário as necessidades femininas, como a garantia do acompanhamento médico à mulher, com pré-natal e pós-parto, extensivo ao recém-nascido. Além disso, o sistema penitenciário, apoiado pela Constituição Federal, também estabelece que o ambiente carcerário deve ter espaços para abrigar berçários e lugar para amamentação dos filhos das apenadas, como também agentes de sexo feminino para atender aos estabelecimentos prisionais femininos. Mas, não é raro encontrar o descaso com essas especificidades femininas. Há diversos casos de superlotação, falta de estrutura e maus tratos nos presídios para mulheres. Exemplo disso foi o caso do Presídio Feminino de Tucum, no Espírito Santo, em que mulheres eram presas em contêineres, em 2009. Denúncias de descaso do sistema carcerário feminino foram constatadas também no Nordeste. Segundo a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada pela Câmara dos Deputados para apurar a situação dos presídios

brasileiros, em 2008, a Penitenciária Feminina Bom Pastor (PE) mantinha presas e filhos recém-nascidos dividindo celas insalubres. O presídio tinha capacidade para alojar 140 mulheres, mas 660 pessoas eram alojadas no mesmo espaço, na época. A CPI mostrou que presidiárias e filhos recém-nascidos dividiam celas “insalubres e superlotadas”, além disso, mulheres portadoras de doenças contagiosas ficavam nos pavilhões com presas sadias. Para a assistente social e socióloga Goretti Laier, especializada em criminologia, dentro do sistema penitenciário brasileiro as garantias individuais são violadas em várias dimensões e afrontam várias observações da Constituição Federal em relação aos presidiários. Contudo, este panorama se torna mais perverso quando se trata da mulher. “Existe uma miopia pública e oficial, caracterizada pela morosidade e ausência da Justiça, pessoal desqualificado, ociosidade forçada das encarceradas, ausência de programas educacionais e profissionais, superlotação, motivações políticas da administração prisional, práticas imprudentes, além de que, muitas das vezes em nome do combate ao crime, precisamente quando se está visando à aplicação da pena, existem circunstâncias que o papel do Estado causa efeitos negativos às pessoas, levando-as a sofrer grandes prejuízos irrestituíveis”, conta Goretti. Parte dessas problemáticas está em seu livro Mulheres Atrás das Grades, fruto de um trabalho de acompanhamento de encarcerados com alunos de direito da FESP Faculdades, de João Pessoa.

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ogo no caput (cabeça) do Artigo 5º da Constituição Federal de 1988, o maior símbolo da democracia brasileira, a lei garante a igualdade entre os seres, sem distinção de qualquer natureza. Porém, para que prevaleça o tratamento igual entre as pessoas é preciso que se se respeite a desigualdade entre elas. O princípio de isonomia ou igualdade, de acordo com a Carta Magna, estabelece essa distinção de direitos e deveres. Mas, a diferença entre as peculiaridades de homens e mulheres são latentes, e isso interfere diretamente no direito prisional e nas necessidades carcerárias. Construídas por homens e para homens, o sistema penal brasileiro ganhou adaptações femininas muito recentemente e ainda não alcançou o ideal. O estereótipo feminino nunca teve relação direta com o crime. A figura do criminoso, ativo nas infrações, sempre cabia ao homem. À mulher era reservada a posição de vítima, esposa do traficante ou assaltante, induzida ao erro. Com o crescimento da população carcerária feminina, o sistema prisional teve que se adequar, mas as mudanças aconteceram tardiamente. A professora Nazaré Zenaide, ligada ao Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da Universidade Federal da Paraíba (NCDH), confirma a mudança do papel na mulher na sociedade, inclusive no mundo do crime. “A população presidiária é maior em número de homens, mas as mulheres estão entrando no narcotráfico”, afirma. Quem compartilha da mesma opinião é a professora Marlene França, também

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Mulheres apenadas começam a despir o papel de vítimas para assumir a posição de réu. Mas, como o sistema prisional brasileiro lida com as questões femininas dentro das prisões? A Revista NORDESTE conversou com especialistas para saber se os presídios femininos são adaptados às necessidades das mulheres

Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

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Gênero invisível

Foto: Flickr - Conselho Nacional de Justiça - CNJ


PERFIL DE EXCLUSÃO

O estereótipo feminino sempre girou em torno da fidelidade, castidade e da figura materna. Quando se pensa em mulher é raro fazer uma ligação direta ao crime. Porém, a mudança da posição dela no sistema penal acompanhou a sua mudança na representação social. Antes, os crimes mais pesados das mulheres eram ligados à prostituição.

A professora Marlene França conta como o sistema prisional começou na Paraíba e revela esse quadro ligado à prostituição. “O nosso primeiro presídio feminino na Paraíba surgiu num prédio que pertencia à Igreja Católica e aquelas mulheres, que engravidavam antes de casar ou que perdiam a virgindade ou que eram deixadas pelos maridos, acabavam entrando na prostituição e iam para lá. Isso foi nos anos 40. E ficou até a década de 90. Em 2000, elas foram transferidas para um prédio no bairro de Mangabeira onde passaram a ocupar um presídio construído para homens, com estrutura não adequada para elas”, explica a pesquisadora. Com a mudança do papel da mulher na sociedade, a prostituição deixou de ser o principal motivo das prisões. Mas, uma

Ainda que dentro do mundo do crime, as mulheres não representam o mesmo grau de agressividade que os homens, como explica a professora Marlene França. “As mulheres naturalmente demonstram menos violência e agressividade. Raramente

NOVAS POLÍTICAS PÚBLICAS vez presa, ela sempre carregará com sigo o estigma de criminosa, influenciando diretamente no seu papel de mulher e mãe. E a exclusão não para nelas, o quadro se estende por, no mínimo, mais uma geração. Além da falta de assistência eficaz para os filhos das apenadas, o retorno à sociedade deles fica marcado como filho de bandida, como explica a socióloga Goretti Laier. “A Amnesty International (2010) atesta que as prisões no Brasil são vistas como depósito da escória humana e de acordo com o senso comum, quem lá se encontra, não merece ter nenhum direito, pois quem matou, roubou, estuprou, usou drogas, não merece viver na sociedade. E este preconceito se estende aos filhos das apenadas, pois filho de bandido já nasce bandido!”

De acordo com a Secretaria de Política para Mulheres da Presidência da República (SPM), algumas medidas já estão sendo tomadas para melhorar a situação nos presídios femininos, como, por exemplo, a Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do Sistema Prisional (PNAMPE). A portaria interministerial nº 210, publicada em 16 de janeiro de 2014, em parceria com a SPM e Ministério da Justiça já está em curso. Dentre as ações, a portaria prevê Assistência jurídica gratuita, revisão Fotos: Flickr - Conselho Nacional de Justiça - CNJ

de pena judicial, humanização dos equipamentos prisionais e espaços físicos adequados, capacitação para inserção no mercado de trabalho, padrão de tempo de convivência entre mãe filha ou filho e período de amamentação e visitas. Pela portaria, governos estaduais passam a contar com diretrizes nacionais para a humanização das condições de atendimento a mulheres em situação de prisão no país. A SPM tem também convênios com secretarias do Rio Grande do Sul, Sergipe, Bahia e Minas Gerais que contemplam a capacitação de apenadas.

Em 2008, a SPM alocou R$ 2.812.531,00 para as defensorias públicas promoverem o Mutirão Nacional de Assistência Jurídica às Mulheres em Situação de Prisão. A ação envolveu 11 estados: Acre, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Pernambuco, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins. Na época, foram atendidas mais de 11 mil mulheres. O investimento ocorreu por meio do Pacto Nacional de Enfrentamento de Violência contra as Mulheres, da SPM, no eixo acesso das mulheres à justiça e à segurança cidadã.

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FILHO DE BANDIDO, BANDIDO É...

de estratificação étnico-racial baseada na pobreza e na cor levando o próprio sistema judiciário a também ser seletivo na aplicabilidade da pena, e na sua execução, submetendo os apenados negros e pobres, assim como as apenadas, negras e pobres, às penas mais pesadas do que um branco que comete o mesmo delito. Ademais, a apenada negra, analfabeta e pobre, uma vez atrás das grades, também sofre, além do preconceito de cor e social, o de gênero, sendo menos beneficiada por um sistema jurídico androcêntrico (voltado ao homem) e esquecida pelas políticas públicas”, afirma Goretti. O quadro se torna pior quando o próprio sistema carcerário não coopera efetivamente com a ressocialização das presidiárias, como afirma a professora Nazaré Zenaide. “Quando a pessoa está presa ela está privada da liberdade, não dos outros direitos. Dentro do presídio, só uma pequena parcela tem acesso ao direito da educação. Os prédios femininos não estão preparados para ter várias salas de aula, é como se o presídio não fosse construído para socializar”, conta. Goretti critica: “O Estado é culpado por ser omisso na efetivação das determinações da nossa legislação, renegando seu cumprimento e se caracterizando como violador dos direitos fundamentais das encarceradas, de seus filhos e familiares”.

deixa de ser visível. Marlene conta que elas tornam a prisão um lugar que possam chamar de seu, tornando a pena o menos cruel possível. A professora lembra que elas se preocupam com detalhes decorativos como cortinas e jarrinhos de flores. As celas são chamadas de casa. “Lembro-me de quando eu estava fazendo uma entrevista e elas perguntavam ‘pode ser na minha casa?’, e eu ficava me perguntando se era na casa dela. ‘Não a minha casa é a cela onde eu durmo’, dizia”.

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Os números mais recentes do InfoPen Estatística, banco de dados sobre o sistema carcerário do Ministério da Justiça, mostram que, entre 2007 e 2012, a população carcerária feminina no Brasil aumentou 42%. Em dezembro de 2007, havia mais de 24 mil mulheres cumprindo pena nos regimes fechado e semiaberto ou em medida de segurança nos hospitais de custódia. Já em 2012, o número somava 34.159 mulheres no sistema carcerário brasileiro. Goretti Laier explica que os principais motivos para a condenação de mulheres são vinculados aos crimes contra o patrimônio, o uso de drogas e tráfico. “Contudo, a sua participação no mundo criminal se enquadra em uma menor distribuição de poder, ou seja, a mulher delitante participa do crime como coadjuvante do companheiro”. Segundo a socióloga, o perfil das mulheres encarceradas, pelo menos em João Pessoa (local onde realizou a pesquisa para o seu livro), integra as estatísticas da marginalidade e da exclusão social e de gênero. A maioria é negra ou parda, mãe solteira, com nível de escolaridade incipiente e possui uma história laboral de exploração. Esse perfil de exclusão dificulta ainda mais a situação das mulheres dentro das prisões. “A violência no Brasil tem um recorte de classe e

TOQUE FEMININO

a gente vê na mídia mulheres fazendo rebeliões e assassinando outras dentro da cela como a gente vê em presídios masculinos. Elas não praticam ações violentas, respeitam mais suas colegas de cela”, conta a professora, apesar de frisar que as prisioneiras demonstram intolerância com quem assassina os próprios pais ou os próprios filhos. “Elas apenas rejeitam a apenada no convívio, com quase nenhum envolvimento físico”. O toque feminino nos presídios não


Opinião

Vai ter sim a copa do voto soube enfrentar a grande mídia que, de modo impiedoso e constante, fez do mensalão petista uma novela de grande audiência e quase convenceu o país de que a Petrobrás estava na iminência de fechar as portas...ou as refinarias. Nem soube “vender” a Copa à opinião pública como uma oportunidade de divulgar o Brasil e mostrar ao mundo a capacidade empreendedora do seu povo. O relacionamento de Dilma com a classe política foi um desastre. Chega ao pleito com a sua base fragilizada. Salvo do incêndio, o tempo do Horário Eleitoral que, com 11mim48s, lhe dará a oportunidade de mostrar as realizações de seu governo sem olhos fixos no relógio. Como contraponto ao fraquíssimo desempenho do candidato petista ao governo de São Paulo – Raimundo Padilha (4%) - que a impede de deslanchar no maior colégio eleitoral do país, Dilma tem como padrinho político o ex-presidente Lula. Aécio Neves levou meses para sair do patamar de votos em 12%. Chegou, meses atrás, aos 20% e ali permanece estagnado. Espera mover-se na campanha e consolidar-se – o que não parece difícil – como o candidato da oposição. Tem mais que o dobro da votação de Eduardo Campos (8%). Está respaldado pela penetração que tem em São Paulo e Minas Gerais e usa o avô, Tancredo Neves, como grife política. Como proposta de campanha,prega uma genérica “nova relação política” e promete dar continuidade – e até melhorar – os programas sociais implementados pelo PT. No passivo, tem o mensalão tucanoe,mais recentemente, a construção de um aeroporto em terras da família.Dispõe de 4min31 no Horário Eleitoral. Eduardo Campos também usa o avô, Miguel Arraes, com o garantidor de sua trajetória política. Protagonizou o lance mais ousado da pré-campanha, atraindo Marina Silva para ser sua vice, eivou suas propostas das palavras novo, nova e mudança e insiste na necessidade de o eleitor quebrar a gangorra do poder criada pela dupla PT-PSDB. Ainda não conseguiu empolgar os eleitores, nem mesmo os da sua região Nordeste.Sofre restrições por ter participado dos governos Lula e Dilma e, em pouco tempo, ter se transformado em um de seus maiores críticos.No Horário Eleitoral, seu tempo é de apenas 1mim49s.

Carlos Roberto de Oliveira Jornalista, consultor de Marketing e sócio da CLG

Dilma, Aécio e Campos são os astros do jogo. Os demais candidatos, coadjuvantes. As pesquisas mais recentes afirmam que “se as eleições fossem hoje” a presidenta poderia ser reeleita já no primeiro turno ou disputar o segundo turno com Aécio

Tecnologia aliada à educação Pesquisa revela aumento do uso de computadores e internet na sala de aula. Mais de 40% dos professores declararam utilizar tecnologia com alunos na escola

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tecnologia se tornou uma forte aliada da educação. Com tantas ferramentas de buscas disponíveis na rede é fácil obter um vasto número de informações, e o uso desses artifícios de buscas estão se tornando cada vez mais corriqueiros dentro da sala de aula. De acordo com a pesquisa TIC Educação 2013, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, os professores e alunos brasileiros cada vez mais utilizam computador e Internet em suas atividades escolares. Os indicadores do estudo mostram que 96% dos professores de escolas públicas usam recursos educacionais disponíveis na Internet para preparar aulas ou atividades com os alunos. Os tipos de recursos mais utilizados são imagens, figuras, ilustrações ou fotos (84%), textos (83%), questões de

prova (73%) e vídeos (74%). O uso de jogos chega a 42%, apresentações prontas, 41%, e programas e softwares educacionais, 39%. A coleta de dados aconteceu entre os meses de setembro e dezembro de 2013 e foram entrevistados, presencialmente, 939 diretores, 870 coordenadores pedagógicos, 1.987 professores e 9.657 alunos, de 994 escolas públicas e privadas localizadas em áreas urbanas de todas as regiões do Brasil. A Internet está presente na maioria das escolas que possuem computador na rede pública (95%) e na rede privada (99%). Segundo a pesquisa, o uso dos artifícios tecnológicos na sala de aula aumentou graças à tendência de mobilidade nas escolas. Mais de 70% das escolas públicas possuem acesso à Internet sem fio (WiFi), um aumento de 14 pontos percentuais em relação a 2012.

Realidade pública Nas escolas públicas, 46% dos professores declararam utilizar computador e Internet em atividades com os alunos dentro da sala de aula, porém o ambiente mais comum na utilização desses recursos ainda são os laboratórios de informática, apresentando 76% na opinião dos entrevistados. O uso de tablets nas escolas públicas também foi relevante na pesquisa. Enquanto em 2012 apenas 2% delas possuíam esse tipo de equipamento, em 2013 esse número chegou a 11%. Porém, a baixa velocidade de conexão da rede ainda é um desafio: 52% das escolas públicas declararam possuir uma conexão de até 2 Mbps, enquanto este percentual é de 28% nas escolas particulares. E isso ainda se constitui em uma barreira para adoção das novas tecnologias nos processos de ensino e aprendizagem.

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fez-se a Copa. Elogiado por brasileiros e estrangeiros, o evento que envergonharia o país, segundo as previsões catastróficas das oposições política e midiática, foi realizado quase à perfeição no julgamento da barraqueira Fifa. Surpreendeu positivamente a imprensa internacional e, graças ao jeitinho e à hospitalidade do brasileiro, devolveu aos pessimistas de profissão e aos portadores do complexo vira-lata, os sentimentos de frustração e de constrangimento. O evento mostrou, o Brasil a mais de 200 países; trouxe ao país 700 mil turistas; impactou 30 bilhões de reais no PIB e gerou 900 mil empregos. Como um de seus melhores resultados,proporcionou um conhecimento recíproco entre os povos sulamericanos. Sai a Copa de Futebol, entra em campo a “copa eleitoral”. Depois de 30 dias de descompressão e relaxamento, em que notícias de assassinatos, roubos e depredações não frequentaram televisões, rádios e redes sociais, o país se reencontra com a política. E o faz sob o impacto de denúncia que atinge o candidato Aécio Neves. O tucano é acusado de ter construído, quando governador de Minas Gerais, um aeroporto na fazenda de sua família, no município de Claudio, gastando na empreitada aproximadamente 14 milhões de reais.Notícia que apimenta os primeiros dias da campanha e que joga, pelo menos momentaneamente, a oposição na defensiva. Uma degustação do que certamente está por vir, nesse jogo de “vale tudo” em que se transformará a disputa. Dilma, Aécio e Campos são os astros do jogo. Os demais candidatos, coadjuvantes. As pesquisas mais recentes afirmam que “se as eleições fossem hoje” a presidenta poderia ser reeleita já no primeiro turno ou disputar, segundo possibilidade estatística remota,o segundo turno com Aécio. Identificam também um crescente número de eleitores rumo ao estágio de “expectativa/indecisão” – 27% - o que demonstra não terem eles, ainda, aderido a nenhum candidato. Muitos dessses ex-eleitores de Dilma não teriam, ainda, sentido firmeza na pregação de Aécio e de Campos. Dilma Rousseff entra na campanha com um patrimônio de votos erodido em aproximadamente 1/3 daquele que possuía no início de 2013. Sua Comunicação não

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Geral

Movimento que debate direitos sexuais e reprodutivos da mulher levanta polêmicas, mas arrasta muitos defensores no Brasil e no Nordeste

o d n i Sa

S O s do MUR

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Fotos: Thercles Silva

e não deixa de ser uma ironia, mostrando que apesar de ser “vadia”, não se justifica a falta de direitos e respeito. A ideia não era chocar a sociedade quando se saía para as ruas gritando “eu sou uma vadia”, mas apenas mostrar a autonomia do corpo feminino. “Talvez choque ver algumas mulheres tão imponderadas cantando ‘se o corpo é da mulher, ela dá pra quem quiser (inclusive outra mulher)’, ou com cartazes afirmando que o seu útero é laico (como o estado deveria ser), que feminismo não é o contrário de machismo (não queremos ser melhores ou maiores que os homens, mas ter os mesmos direitos, dos mais básicos como o de ‘andar tranquilamente com a roupa que escolhi’, como diz outra música cantada nas marchas. Ou mais políticos, como o de ter as mesmas oportunidades que os homens têm na política, no mercado de trabalho e por aí vai”, explica Mayra Medeiros, militante do movimento na Paraíba. Mais do que chocar, porém, o objetivo do movimento é levantar discursos que questionem o comportamento da sociedade atual. “Acho que mais do que chocar ou incomodar, a grande sacada da marcha é o questionar. O nosso questionar, se a sociedade não vê as violências simbólicas, psicológicas, verbais e físicas que são praticadas e do questionar da sociedade, que vê a manifestação e qual a pauta, o que estão querendo mudar, falar, enfim, expressar”, completa a ativista.

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oi estuprada por que era uma vadia, usava decote e saia curta”. O discurso, infelizmente, não é tão fictício. Um conselho assim foi dado em uma palestra de conscientização por um policial na Universidade de Toronto, sugerindo que mulheres evitassem se vestir como vadias para impedir abusos sexuais. O que gerou revolta. Afinal, a culpa de estupros é de quem faz o ato e não da vítima que usa um salto ou uma saia mais curta. A fala do policial, que foi proferida depois de uma onda de ataques no campus da universidade canadense, gerou polêmica e estourou no movimento slut walk (caminhada de cadelas, em tradução livre). O fato ocorreu em 2011, e de lá para cá a luta pelos direitos sexuais e liberdade do corpo da mulher se proliferou pelo mundo adaptando-se aos contextos sociais aonde chegava. No Brasil não foi diferente e a Marcha das Vadias chegou para representar a liberdade das mulheres em um contexto conservador. Um polêmico resultado do estudo ‘’Tolerância social à violência contra as mulheres’’, realizado pelo Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), mostrou que pelo menos um público de 26% de 3.810 brasileiros entrevistados, concordaram que se as mulheres soubessem se comportar haveria menos estupros. O movimento aqui no Brasil foi batizado de Marcha das Vadias. O nome, assim como no Canadá, é uma polêmica

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Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br


Um direito de todos

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Risco à vida da mulher A qualquer momento da gestação

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anencefalia do feto a qualquer momento da gestação

Ato mobiliza sociedade

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Marcha se molda a contextos No Brasil, apesar de todos os anos desfilarem mulheres seminuas no carnaval e de exportar essa cultura do corpo escultural para o exterior, a sociedade ainda enxerga a luta dos direitos sexuais femininos como um tabu. Também é assim na região Nordeste, lugar onde foram apresentados os maiores números de violência contra mulheres. Porém, a Marcha das Vadias foi ganhando espaço no calendário de manifestações de cada estado. Este ano, quase todas as capitais nordestinas já realizaram o evento que luta pelos direitos femininos. Fortaleza, Natal, Recife, Salvador e Teresina estão nessa lista. Em João Pessoa, capital paraibana, a marcha acontecerá pela terceira vez no dia 16 de agosto, trazendo um debate sobre os direitos sexuais e reprodutivos da mulher. “São direitos distintos, mas que estão relacionados. Os direitos reprodutivos são um conjunto de normas e leis referentes à autonomia da mulher para decidir se quer ter, quando, quantos,

como e com quem ela vai ter filho(s). Já os direitos sexuais são mais abrangentes ainda. Porque se refere tanto à liberdade sexual, autonomia, integridade e segurança, quanto ao direito à privacidade, prazer e escolhas sobre o corpo”, explica a ativista da marcha e colaboradora do movimento Mayra Medeiros. Na capital paraibana a manifestação acontece desde 2012 e logo durante o primeiro ato havia um contexto de revolta em relação ao crescente índice de violência contra mulheres e meninas, em que o Mapa da Violência posicionava a Paraíba no 4º lugar do ranking de estados com o maior número de homicídios contra mulheres e a cidade pessoense aparecia na 12ª posição. Durante o curso da manifestação, os discursos se estenderam para diversas áreas, mas este ano o tema em pauta da Marcha na cidade é a violência obstétrica e aborto legal, que serão discutidos em alguns espaços de formação do movimento. “Uma coisa muito preocupante no

Brasil atualmente, e que pesou muito para que a Marcha das Vadias em João Pessoa optasse por abordar os direitos sexuais e reprodutivos da mulher (focando o debate em violência obstétrica e aborto legal), é que a bancada “fundamentalista” do Congresso tem crescido em número de parlamentares e de projetos que minam alguns dos direitos das mulheres conquistados depois de muita luta”, explica Mayra. Ela defende que a sociedade deveria fornecer informação suficiente sobre sexo e todos os fatores que envolvem a vida sexual de um ser humano desde cedo e pontuando que homens e mulheres podem ter sua liberdade sexual, inclusive de maneira responsável. “Mas, como a gente vive numa sociedade ainda muito machista e religiosa ao extremo (onde o estado laico só existe no nome), falar sobre sexo com a família e dentro das salas de aula ainda é um tabu e sofremos muitas pressões quanto a usufruir da sexualidade”, opina.

A capital potiguar tem uma configuração diferente da marcha. Em Natal, segundo a militante Ligyane Tavares, o evento engloba todos os tipos de manifestantes, inclusive as feministas. “A construímos coletivamente, com todas as mulheres dispostas a participar. Sobre a percepção das pessoas, o Rio Grande do Norte é um estado que ainda tem um caráter provinciano muito forte, o fundamentalismo cristão prevalece aceso e por isso não acredito que todos consigam ou tenham interesse em entender a nossa proposta”, explica. O evento aconteceu no fim de junho movimentando além dos universitários. “No entanto, sair dos muros da universidade e estabelecer um diálogo com a comunidade sempre foi uma pauta discutida na construção da Marcha das Vadias. Conseguimos conquistar uma proximidade com as mulheres da Vila de Ponta Negra (local escolhido para concentração do ato). Ter a presença delas no ato foi motivante! Então, por mais complicado que seja às vezes, sinto que as mulheres de Natal, como em todo o mundo, começam a entender o lugar que ocupam socialmente, a se revoltar com essa realidade e a reivindicar não só direitos iguais, mas liberdade!”

Fotos: Thercles Silva

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Gravidez decorrente de violência sexual até a 20ª semana

à mercantilização do corpo da mulher. Enfim, como mulher e bissexual, vejo hoje como um movimento que atende às minhas necessidades, que abraça minhas lutas e não exclui a luta de outras companheiras (e aí se incluem as pessoas não binárias, que têm sido mais vistas e estão cada vez mais participantes)”, conta a militante. Segundo Mayra, que acompanha o contexto da marcha desde o surgimento, no Brasil, uma coisa que marcou muito a questão da culpabilização da vítima foi o caso de Eliza Samúdio que ganhou destaque. “Muitos veículos de comunicação tentavam a desqualificar enquanto pessoa (sugerindo que ela era garota de programa, que tinha dado o golpe da barriga no goleiro Bruno), como se isso justificasse a sua morte e o seu corpo ter sido cortado e jogado para os cachorros. Só que aí a marcha não se limitou a esta bandeira do fim da culpabilização das vítimas de violência e foi incorporando outras bandeiras e temas”.

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No Brasil, o aborto é permitido por lei em três casos:

Não há partidos políticos ou instituições vinculadas à marcha. A luta pelos direitos das mulheres é de todos e feita por quem quiser contribuir com o processo. A manifestação tem uma marca feminista forte, mas participa dela quem concorda em lutar pelas suas causas. “Quase todos os temas fazem parte da luta feminista, mas nem todo mundo que comparece e faz parte das marchas se afirma ou reconhece feminista. As pessoas são livres e independentes até nisso, entende?”, explica Mayra Medeiros. Para Amanda Bastos, ativista participante das marchas desde 2011 e uma das colaboradoras da marcha em Campinas (SP), o movimento foi ganhando uma evolução muito interessante. “Se no começo era sobre a luta contra a violência contra a mulher, hoje ganha proporções maiores, pois mais pessoas aderiram ao movimento trazendo suas demandas: pautas LGBTs; mais amplas, que não se relacionam só à violência física do estupro, mas também aos abusos psicológicos,


Geral

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Integrantes do Ocupe Estelita classificam o Novo Recife como um espaço segregacionista, irregular e prejudicial ao espaço urbano. Movimento tem povoado o cais promovendo shows e atividades culturais, com objetivo de impedir a destruição dos armazéns

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a década de 20, um importante engenheiro pernambucano costumava defender em jornais do país a preservação do patrimônio arquitetônico do estado e um projeto de urbanização consciente. Para ele, o desenvolvimento das cidades deveria ser não apenas uma questão técnica, mas também um problema a ser resolvido com a arte. Se estivesse vivo, José Estelita, provavelmente, teria em seu facebook mensagens de apoio à ocupação de um cais que, por ironia do destino, leva o seu nome e se tornou o palco de uma polêmica acerca do caos urbano de Recife. Para entender o que está acontecendo no local é preciso regressar ao ano de 2008, quando um consórcio formado pelas construtoras Moura Dubeux, Queiroz Galvão, GL Empreendimentos e Ara

Para Pablo Holmes, professor de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB), o projeto repete erros de urbanização cometidos há mais de 40 anos. “Como está, o projeto deverá tornar o lugar ainda mais ermo e as consequências disso são bem claras: haverá um impacto na segurança, já que calçadas vazias tornam as ruas mais perigosas; haverá um impacto social, por que o projeto não integra a cidade a outros bairros. Além dos problemas que isso deverá gerar no trânsito. A criação de 3 a 7 mil vagas de estacionamento tornará o espaço caótico. Reflita, o projeto foi criado em 2008, pense no quanto uma cidade é capaz de mudar em um curto período de tempo. Quando estiver pronto, o impacto será mais diferente do que

se imagina hoje.” critica Holmes. Outro fator ressaltado por ele é a falta de compromisso do projeto com identidade arquitetônica e paisagística do lugar, fatores que devem ser valorizados no desenvolvimento de cidades inteligentes. De fato, o projeto esbarra nos anseios de uma população cansada dos problemas inerentes às metrópoles. Atualmente, os cidadãos de Recife sofrem com a falta de mobilidade e a ausência de espaços públicos dedicados ao lazer. “A região do cais é privilegiada, deveria ser transformada em um espaço de circulação de pessoas”, diz Holmes. A professora de Direito da Universidade Federal de Pernambuco, Liana Lins, alerta que o movimento se opõe ao projeto. “O Novo Recife deverá transformar o lugar em uma ilha de elite, pois não se comunica com a cidade. Além disso, as empresas falharam a não apresentar um estudo de impacto ambiental, pareceres do IPHAN, DNIT e não promover uma audiência pública”.

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Por Agatha Justino e Isadora Lira

PROJETO ESBARRA EM ANSEIOS SOCIAIS

Portanto, não demorou para que o Novo Recife, mesmo atendendo a lei, agitasse os mais diversos setores da cidade. De repente, os pernambucanos se dividiram em mais uma partida do Fla x Flu social: contra e a favor da construção do empreendimento. Os times então evoluíram e surgiu o Movimento Ocupe Estelita, que promove a resistência do Cais e, ainda, quer discutir os impactos sociais, ambientais e urbanísticos da obra. Muitos integrantes do Movimento classificam o Novo Recife como um espaço segregacionista, irregular e prejudicial ao espaço urbano. O movimento, coordenado pelo grupo Direitos Urbanos, tem ocupado o Cais promovendo shows e atividades culturais, com objetivo de impedir a destruição dos armazéns.

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Uma ILHA de elite

Empreendimentos adquiriu da União, por meio de um leilão público organizado pela Caixa Econômica Federal, uma área central da capital pernambucana, banhada pela Bacia do Pina e responsável por ligar os bairros Cabanga e São José. “O processo administrativo de aprovação do projeto foi submetida a dois órgãos colegiados: CCU (onde a prefeitura tem sete dos 16 membros) e o CDU (a prefeitura tem nove, dos 30 membros)”, informa a assessoria da Prefeitura do Recife. Em sua descrição, o “Consórcio Novo Recife” apresenta a construção de uma ciclovia, um centro cultural, uma biblioteca pública, um parque público e ainda 13 prédios residenciais e comerciais de 35 a 40 andares. Isso tudo em uma área de 101.754m² (10,1 ha). Definitivamente, um projeto que mudará o cotidiano da Veneza brasileira, mesmo àqueles que não desejam viver na área.

Foto: Flickr - Marcelo Soares / Direitos Urbanos / Eric Gomes


No dia 16 de junho de 2014 foi assinado um documento com oito tópicos que definem o processo e os prazos para o redesenho das construções no cais. A Prefeitura do Recife e as entidades e instituições que mediavam as negociações sobre o projeto teriam um mês para alterar alguns termos técnicos e estabelecer diretrizes urbanísticas. Mas, a ocupação continuou e a madrugada seguinte foi marcante para o movimento. Bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha, detenções - um revival das manifestações de junho de 2013 - despertaram os manifestantes às 5h do dia 17 de junho. Era uma equipe imensa: batalhões de Choque, de Trânsito, da Polícia Montada e da Companhia Independente de Policiamento com Cães chegaram cumprindo uma ordem judicial de reintegração de posse. O caos foi

GALPÕES AGUARDAM DEMOLIÇÃO Apesar de terem iniciado a demolição dos galpões ainda em maio, a Justiça impediu a continuidade da construção. A Revista NORDESTE tentou conversar com as construtoras envolvidas no processo, mas não obteve sucesso. Porém, em nota divulgada no portal de notícias G1, o Consórcio Novo Recife informou que o grupo de construtoras “sempre esteve aberto ao diálogo e cumpriu, como cumprirá, os requisitos legais para a continuidade da obra. O Novo Recife ressalta que acredita na ordem jurídica vigente e no respeito ao seu cumprimento”. Foto: Flickr - Daniel Guimarães

instaurado. Em nota, o movimento acusou a polícia de descumprir acordos firmados com as secretarias estaduais de Defesa Social e de Direitos Humanos e com o Ministério Público Estadual. A Anistia Internacional, o Ministério Público Federal (MPF), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e vários políticos se posicionaram contra a brutalidade policial. A Anistia publicou em nota que “condena o uso excessivo da força e das chamadas armas menos letais (balas de borracha, gás lacrimogêneo, spray de pimenta) utilizadas pela Polícia Militar de Pernambuco para desocupar o Cais Estelita. [...] Os manifestantes estavam em negociação com autoridades locais, com acompanhamento do Ministério Público, e havia o compromisso de que qualquer reintegração de posse teria um aviso prévio de 48 horas. Há denúncias de manifestantes feridos, equipamentos confiscados, destruição do acampamento e pessoas detidas sob a acusação de formação de quadrilha”.

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Com a divergência entre as empresas e os manifestantes cada vez mais latentes, a Prefeitura do Recife precisou se manifestar sobre o assunto. Por meio de nota, a administração comandada pelo prefeito Geraldo Júlio explicou que convocou os empreendedores e exigiu que fossem adicionados ao projeto ações que valorizassem o espaço público, integrassem as comunidades de São José, Cabanga, João Paulo II e Coque. Segundo o comunicado, este encontro garantiu benefícios como o Parque Linear, seis quadras poliesportivas e áreas de lazer sob o Viaduto Capitão Temudo; biblioteca pública no giradouro do Cabanga; intervenção na esplanada do Forte das Cinco Pontas, com a demolição do viaduto, urbanização e paisagismo; implantação de ciclovia conectando

a Zona Sul com o Bairro do Recife; dentre 16 medidas acordadas, quase duplicando o valor sob responsabilidade do empreendedor, de 32 para 62 milhões de reais. Benefícios, que para alguns manifestantes, são insuficientes. “Precisamos repensar o projeto e garantir que, por exemplo, o parque que está sendo proposto não se torne apenas um canteiro para admirarmos enquanto presos no trânsito”, disse Holmes. O terreno é estratégico e integra vários pontos da cidade. A ocupação desse espaço pelos manifestantes reflete não apenas uma insatisfação com o projeto Novo Recife, mas também com as consequências da verticalização do espaço urbano. A população da capital anseia por uma reflexão sobre os problemas que interferem na qualidade de vida do recifense.

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PCR SE MANIFESTA


UM MOVIMENTO CULTURAL A discussão em torno do Estelita estimulou a criação de outros projetos para a cidade, como o #penserecife. O grupo é composto por onze arquitetos e urbanistas e apresentou sugestões para a revitalização do cais, com imagens de como poderia ser melhor aproveitado o espaço. “O objetivo principal é mostrar ao cidadão comum outras possibilidades para a demanda do Cais do Estelita, para que ele possa cobrar das autoridades uma solução mais bem elaborada para a cidade. De qualquer forma, estamos abertos ao debate com quem se interessar pelo tema, seja um cidadão comum ou algum representante público”, diz o grupo.

A ação policial não parou o movimento, que continua suas atividades no cais, mostrando que viver a cidade é possível. Graças à pressão dos manifestantes, a prefeitura vem dialogando com o movimento, dando espaço para que haja a participação nas reuniões do redesenho do projeto. Alejandro Vargas, um dos membros do Ocupe Estelita diz que o ideal não seria um redesenho, e sim a

anulação dele, uma proposta feita do zero. “Nosso papel é apresentar as normas para que elas sejam cumpridas”. Ele aponta falhas que o projeto Novo Recife apresenta como, por exemplo, a ausência do estudo de impacto ambiental. As reuniões ocorreram até o dia da audiência pública - que não tinha sido realizada até o fechamento desta edição. “O cais é um emblema de como não há um planejamento urbano em Recife”, disse Érico Andrade, professor de filosofia da UFPE. Entretanto, talvez possa ser visto, dentro de algum tempo, como símbolo de transformação.

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OCUPE ESTELITA RESISTE

Fotos: Flickr - Chico Ludemir / Marcelo Soares

Além da discussão arquitetônica, o Movimento Ocupe Estelita tem mudado o fluxo cultural recifense. São diversas atividades realizadas no cais - a variedade é imensa. São oficinas (serigrafia, iniciação audiovisual, reciclagem, malabares), exibição de filmes, rodas de conversa, debates (os temas são diversos: tem de urbanismo e arquitetura do cais até transreligiosidade) e shows. Já passaram artistas como Dj Dolores, Otto, Lirinha, Lia de Itamaracá, Karina Buhr e Criolo, que apresentou música de apoio ao movimento, “Sangue no cais”. Através da página no Facebook Movimento#OcupeEstelita e

do tumblr VaiTerNoEstelita.tumblr. com, a programação do movimento é divulgada. Para realizar um evento no Cais Estelita, é só conversar com alguém do Ocupe, dar a ideia e dizer o horário para não coincidir com alguma outra atividade. Caso precise de algum tipo de material para executar a ação, pode ser dialogado com o movimento a ajuda para realizá-lo. Até o final da polêmica, o Consórcio Novo Recife poderá se orgulhar, ao menos, de ter despertado o espírito crítico inerente aos velhos recifenses. Esses que tanto amam a capital pernambucana e se preocupam verdadeiramente com os rumos da cidade em que vivem. Uma paixão que não permeia apenas em mero bairrismo, mas se converte em ações. Com certeza, o engenheiro Estelita se orgulharia dos seus conterrâneos.


Educação

Ambiente virtual pode ajudar

Nos últimos dois anos, a Marineuma tem investigado, a partir de projetos de iniciação científica (PIBIC), com alunos do curso de Pedagogia da UFPB, o que alunos do ensino básico escrevem e com qual objetivo escrevem. A pesquisa foi realizada em algumas escolas de João Pessoa. “Para isso, tenho buscado fazer um levantamento sobre como o que é produzido em sala de aula, através da escrita, circula e com que finalidade, no sentido de, posteriormente, proceder a uma análise dos dados colhidos, os quais poderão vir a ser suporte para uma possível sistematização de um conjunto de práticas que vise a contribuir para a eficácia do ensino de Língua Portuguesa, a partir da possibilidade do diálogo entre universidade e escola” conta a professora Marineuma sobre sua pesquisa. De acordo com a professora, os dados ainda estão sendo levantados. Mas, numa análise preliminar, já se pode afirmar que com a popularização das redes sociais os jovens passaram a escrever mais, mas a escola ainda não tem dado o devido valor a essa questão, ignorando, de certa forma, o que os alunos produzem fora dela e que poderia ser objeto de reflexão em sala de aula. “O trabalho pedagógico com a escrita continua sendo feito a partir de atividades que simulam produções textuais, quando as redes sociais poderiam ser usadas como ambiente real, no qual os textos são produzidos, editados, publicados e avaliados por um público cada vez maior. O meu objetivo pessoal enquanto pesquisadora desse tema é poder contribuir para que, cada vez mais, as pessoas se sintam à vontade para, através da escrita, dizer o que pensam e o que sentem, de uma forma coerente, clara, concisa e bem estruturada”, explica.

Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

Especialistas da área de educação afirmam que jovens escrevem mais, por conta das redes sociais, mas a qualidade da escrita deixa a desejar em comparação com outras gerações

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Há mais de trinta anos, para se comunicar com alguém que morava longe, você faria uma carta com todo labor e esperaria a resposta com toda ansiedade. Para o intelectual em educação Carlos Alberto Torres o momento da escrita, antigamente, exigia concentração. “O modelo implicava em auto reflexão, que dava tempo de corrigir e fazer muitos rascunhos. Mandar uma carta era um ato de amor e de esperança, no caso dos enamorados”, comenta. O argentino, reconhecido como o primeiro crítico do “pensamento freiriano” pelo próprio Paulo Freire, afirma que a profundidade na escrita se perdeu com a instantaneidade e a velocidade das informações nos dias atuais e com isso os jovens abafaram a elegância nos textos, cometendo erros. “A população só quer se comunicar”, explica. A professora Marineuma Cavalcanti, do Departamento de Metodologia da Educação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), afirma que a linguagem na internet é assim tão falha por conta da proximidade da linguagem oral. “No caso do ‘internetês’, a mudança se dá porque também, quando se escreve na internet, há um misto de fala e de escrita, ou seja, escreve-se representando uma possível fala, que é, na maioria das vezes, coloquial. Além disso, é preciso agilizar essa escrita/fala para que ela acompanhe o ritmo da oralidade. Enxergo essas mudanças linguísticas como normais, inclusive porque devem ocorrer num ambiente específico, que é o virtual”, comenta a professora doutora em linguística e autora de um projeto de pesquisa que analisa a escrita de jovens na era digital.

Marineuma Cavalcanti, professora do Departamento de Educação da UFPB

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a juventude de Idalba Lopes (77), a comunicação era longa e lenta quando a distância se prontificava entre os interlocutores. Se queria dizer o quanto amava um namorado escrevia-se uma carta com dez páginas, que dependendo do local de onde fosse enviada e do destino final, demorava dias para a chegada do recado. Tinha-se tempo para ler e reler antes de enviar, para corrigir cada falha. “O português era muito correto e a gente tinha muita preocupação. A gente dava muito mais valor à língua correta. Hoje, a juventude é muito cheia de gíria. Mas, a gente fazia questão de ter um português equilibrado”, conta Idalba, aposentada como enfermeira no Ceará, perdendo-se em nostalgia quando fala das cartas do passado. Enquanto Idalba conta suas memórias escritas, Safira Félix ainda constrói experiências de relacionamentos, mas trocando mensagens que demoram menos de um segundo para serem enviadas ao namorado, pelo Facebook. “Meu namorado é virtual. Não o conheço pessoalmente, ainda. Namoro com ele há quase sete meses. Ele mora em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. São quase 5.000km de distância”, conta a estudante de 14 anos, que vive em João Pessoa, capital da Paraíba. O encontro entre os dois já era para ter acontecido. “Mas ocorreram imprevistos e talvez a gente vá se encontrar no fim desse ano, ou começo do ano que vem”, diz. Ela usa as redes sociais como ferramentas de comunicação. “Costumo falar com amigos, acompanhar a vida de meus ídolos e me informar sobre as atualidades (toda hora que acontece algo, em minutos está nas redes sociais, isso é muito bom)”, justifica.

Foto: Divulgação | Ilustrações: Danielle Trinta


redes sociais foram um meio bem legal de facilitar a comunicação, mas como as pessoas se tornaram tão envolvidas com a tecnologia, elas acabaram estragando uma parte do contato físico que os jovens tinham, mas se usadas com moderação, podem proporcionar muita coisa boa”, comenta Orlando. Quando responde se esses mecanismos da internet estão lhe ajudando de certa forma a escrever mais ele é pontual. “Definitivamente sim, a minha quantidade de escrita diminuiria consideravelmente se eu parasse de usar as redes sociais”. Para a professora Marineuma, o uso das redes sociais tem sido benéfico para a socialização de ideias e de opiniões intermediadas pela escrita. “Nunca se escreveu tanto quanto agora. A internet deu voz a pessoas que antes jamais teriam coragem de dizer o que pensam nem como percebem o mundo em que vivem. Lembro-me de alunos que me entregavam tarefas de produção textual e as colocavam embaixo das dos colegas para que não ficassem à vista, como se tivessem vergonha do que e de como escreviam”. Segundo ela, agora todos compartilham seus textos nas redes. Mas, os desvios linguísticos sempre estiverem presentes, só que atualmente estão mais visíveis, por serem expostos a um público cada vez maior e mais exigente, sem contar com o preconceito contra os que não dominam a língua formal. “As redes sociais estimulam a escrita, porque dão voz e autonomia às pessoas, principalmente aos jovens, que são nativos digitais e estão quase sempre online”, opina.

Escreve-se mais, é fato. Porém, a grande questão é: que tipo de escrita os jovens estão produzindo nas redes? Para o educador Carlos Alberto Torres, a cultura digital aumenta o acesso, a velocidade e a possibilidade de se comunicar, porém essas qualidades são inversamente proporcionais aos malefícios. Quanto mais instantaneidade, menos reflexibilidade, profundidade e densidade na comunicação. Apesar de mais textos serem divulgados e de jovens darem a cara à tapa quando se mostram através de escritos, o intelectual questiona “mas se escreve melhor”? Ele defende que é impossível escrever um bom texto em pouco tempo, com a pressa da internet. E em relação ao Twitter ele dispara: “O que se pode dizer em 140 caracteres?”. Por conta da rapidez e do grande fluxo de informações, também lê-se menos na internet. Os textos da rede, em geral, são curtos e concisos. Isso é apenas um reflexo da cultura contemporânea. A pesquisa do Instituto Pró-Livros (IPL), de 2012, revela que o número de livros lidos por ano entre os brasileiros, de 5 a 17 anos, é de apenas 5 por ano. O pior é que é uma leitura forçada e obrigatória, já que os paradidáticos estão no topo da lista dos mais lidos. O estudo Retratos da Leitura no Brasil divulgou também que ler é apenas o sétimo hábito preferido do brasileiro nas horas vagas. Carlos Alberto conclui que um bom leitor é um bom escritor e que um bom escritor é também um bom orador, que respeita as vírgulas, as pausas e os silêncios.

Ilustração: Danielle Trinta | Foto: Divulgação

Pesquisador da área educacional, Carlos Alberto Torres, defende profundidade na escrita

Gêneros Modernos

Pensar na produção textual de jovens na internet, dentro de um mundo digital, é trazer o debate para dentro da sala de aula. Algumas formas de comunicação na rede já são reconhecidas e até mesmo identificadas como gêneros textuais. “O e-mail é um gênero textual, inclusive, talvez o mais comum dos textos usados na esfera digital. A escola precisa estar atenta às características desse gênero, trabalhando-o, como objeto de ensino, para que seja cada vez mais coerente e coeso, enquanto instrumento de interação social”, explica a professora Marineuma. Mas, apesar dessa adequação às novas formas de linguagem, a professora explica que cabe à escola se comunicar, oralmente, na língua dessa comunidade. Já em relação à escrita, sempre coube à escola a tarefa de ensiná-la. E esse ensino tem, ao longo dos anos, pautadose em um modelo muito formal, diferente da fala coloquial, usual, o que dificulta que seja utilizada com fluência. “No entanto, cabe à escola trabalhar essas questões para que as mudanças não interfiram, desnecessariamente, na língua formal, padrão”, completa.

Analfabetos funcionais A taxa de analfabetismo no Brasil de pessoas de 15 anos ou mais foi estimada em 8,7%, equivalente a 13,2 milhões de analfabetos, segundo a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad). O país do futebol está entre as nações com o maior índice de pessoas que não sabem ler, ocupando o 8º lugar nesse hanking do relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Para Carlos Alberto Torres, intelectual que difunde ideias da educação como forma de liberdade, a internet precisa ser um meio que ajude a mudar esse quadro. “Estes mecanismos (redes sociais) têm que promover mais alfabetização”, afirma o argentino vendo uma luz no fim do túnel, em um equipamento, dito por alguns intelectuais, capaz de promover alienação. Mas, se não usada da maneira certa a rede pode ser um grande problema na questão educacional, criando analfabetos funcionais (aqueles que sabem ler, mas não sabem interpretar nem processar as informações). A rapidez, superficialidade e instantaneidade podem ser obstáculos na evolução da leitura e da escrita de jovens, para Carlos Torres. Quem compartilha da mesma opinião é a professora Marineuma. “O analfabeto funcional é aquele que foi, por algum tempo, à escola e até aprendeu a

ler e a escrever, mas, por não usar esses conhecimentos em seu cotidiano, como uma prática social, não domina a língua formal. Em relação à leitura, creio que a internet tem disponibilizado para todos um sem-número de textos dos mais diversos gêneros. E isso é positivo. A questão é que a internet também possibilita a superficialidade, tendo em visto o excesso de informações circulando em rede. Desse fato, surge uma nova preocupação, além da que diz respeito à falta de leitura e de escrita: a incapacidade de muitos, diante de tanta opção, fazerem uma boa seleção do material a ser lido, para que se torne, também, conteúdo para a escrita”, explica. Quando questionada se a inclusão de pessoas nas redes sociais pode ajudar a melhorar a situação do analfabetismo, mesmo com os déficits na linguagem digital, ela afirma: “Infelizmente, estamos sempre correndo contra o tempo e contra as limitações dos usuários da língua. Agora, além de enfrentarmos o problema do analfabetismo literal, temos que enfrentar o do digital. Os déficits são dobrados, pois se apresentam nos dois sistemas, o linguístico e o digital. Nós, professores, temos que trabalhar nessas duas frentes, e não sei, ainda, se um poderá ajudar no desenvolvimento do outro. E nem estou falando em letramento, o que já é uma outra demanda...”

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Ao longo de 500 anos do estabelecimento da língua portuguesa no Brasil, algumas expressões que antes tinham claros sujeitos e predicados, depois de um tempo foram encurtadas. A despedida do “vamos em boa hora”, já passou da fase quase obsoleta de “vamos embora” para “vambora” ou até mesmo o “bora”. A modificação na linguagem falada e coloquial é natural. “Toda língua está sujeita a uma constante mudança, porque as pessoas não habitam os mesmos lugares, nem vivem no mesmo tempo, como também não pertencem a uma única classe social nem têm igual grau de instrução. Sendo assim, aspectos socioculturais e até econômicos podem interferir no processo do uso da língua como instrumento de interação social”, afirma Marineuma. Mas, na internet a mudança parece ser mais rápida e volátil. E as abreviações são constantes em papos de três linhas. Orlando Camelo, estudante do ensino médio, divide um dialeto com amigos. “Nossa, tem um monte (de gíria). Eu e meus amigos costumamos abreviar sempre que possível, principalmente no Wa (Whatsapp), às vezes até deixamos de colocar acentuação por que é meio incômodo de colocar no celular. Mas, as principais palavras são: vc (você), dps (depois), td (tudo), qnt (gente) e etc. E, às vezes, a gente até escreve errado de propósito só por brincadeira tipo : ‘mim deixa’”, conta o paraibano de 16 anos. Além do ‘Wa’, ele utiliza o Facebook, onde costuma fazer de tudo, como falar com amigos, ler notícias, ver vídeos e até jogar alguns joguinhos. “Acho que as

Cadê a qualidade?

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Linguagem moderna

bora


Saúde

Cai número de fumantes

90%

dos fumantes

Rigor da legislação e maior consciência sobre os malefícios do cigarro são as causas principais para a queda do tabagismo no país

desejam

LARGAR

o vício

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e 2012. A pesquisa constatou que houve uma diminuição do tabagismo em todas as classes sociais, e que é a classe mais baixa a que mais fuma no país, embora tenha sido a classe A que registrou o maior aumento no número de fumantes (de 5,2% em 2006 para 10,9% em 2012 – totalizando 110% de aumento). Quanto ao gênero, o LENAD aponta que são os homens os maiores consumidores do tabaco, mas foram também eles quem mais reduziram o hábito de fumar (de 27% em 2006 para 21% em 2012). A diminuição do tabagismo, segundo a pesquisa, se expressa ainda em todas as regiões do país. O Sul é campeão em redução, mas ainda figura em primeiro na lista, com uma porcentagem de 20,2% de fumantes em sua população. O Nordeste é a região com menor índice e teve uma redução de 17,3% em 2006 para 14,2% em 2012. Dados que chamam atenção são os relacionados à vontade de parar de fumar das pessoas entrevistadas no 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas: 90% delas afirmaram ter o desejo de largar o vício. No entanto, apenas 17% reportaram ter planos

para tal. Gabrielle Cunha, 27 anos, resolveu fazer parte da porcentagem de pessoas que resolveram partir para a ação. Ex-fumante há oito meses, Gabrielle recorreu ao tratamento médico e teve auxílio de alguns medicamentos, como o BUP (Cloridato de Brupopiona), para inibir o desejo de fumar nas primeiras semanas. “O remédio ajuda muito, mas o medicamento não é suficiente por si só. Parar de fumar não é fácil, até hoje ainda não é pra mim, mas todos os dias faço essa escolha”. Para a psicóloga Mayara Almeida, o número de pessoas que planejam parar de fumar apontado pelo LENAD preocupa e expressa a necessidade do apoio familiar e emocional, capaz de fazer com que o indivíduo realmente se mobilize. “É extremamente importante que no tratamento à dependência de qualquer vício o acompanhamento psicológico esteja envolvido, porque ele tem a função de Fotos: Divulgação

trazer o indivíduo para uma nova condição, (...) descobrindo prazeres saudáveis e reconhecendo que o contrário disto pode levar a um caminho sem volta”, alertou a psicóloga. O oncologista Anderson Silvestrini também vê o acompanhamento psicológico como importante ferramenta de tratamento para os tabagistas. De acordo com o médico do Grupo Acreditar, de Brasília, as pessoas podem parar de fumar sem apoio, mas outras precisam do apoio psicológico associado ao tratamento medicamentoso, o que, segundo ele, aumenta as taxas de sucesso de cerca de 10% para 25% de efetividade. “É verdade que algumas lesões celulares causadas pelo cigarro são irreversíveis, mas continuar fumando pode agravá-las como no caso do DPOC. E algumas outras doenças que ainda não ocorreram podem ser evitadas, além de melhorar a pressão arterial e os batimentos cardíacos por exemplo”, ressalta o médico oncologista Silvestrini.

Sem nicotina Independente da forma de tratamento do tabagismo, os benefícios ao parar de fumar são imediatos. De acordo os médicos, em 20 minutos a pressão sanguínea e pulsação se regularizam e em duas horas não há mais nicotina circulando no sangue. Após oito horas, o nível de oxigênio é normalizado e entre 12 e 24 horas os pulmões funcionam melhor. Em um ano, o risco de morte por infarto cai 50%, e de cinco a dez anos depois de largar o cigarro, o risco de sofrer um infarto é igual ao de pessoas que nunca fumaram.

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a minha época, o cigarro era sinônimo de status e mesmo de afirmação masculina. Hoje, é totalmente diferente. Isso porque, além de ser mal visto, o fumante também é tido como inconveniente”. A afirmação é de Edson Cordeiro (49), que fumou dos 14 aos 30 anos de idade. A frase representa uma percepção comum a muitas pessoas, especialmente aquelas com mais de 30 anos. Se há poucas décadas o cigarro era tido como um símbolo de status e objeto de desejo, hoje se tornou alvo de políticas públicas e objeto de controle e enfrentamento. Estima-se que existam ainda cerca de 20 milhões de brasileiros fumantes. Apesar de expressivo, esse número representa uma parcela muito menor da população do que em anos atrás. De acordo com o 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD), realizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas (INPAD), da Universidade Federal de São Paulo, o consumo do tabaco no Brasil caiu 20% entre 2006

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Colaboração Grazielle Uchôa


Fumantes buscam ajuda Gerson Zafalon Martins, segundo secretário do Conselho Federal de Medicina e coordenador da Comissão de Controle do Tabagismo do Conselho, atribui a redução no número de fumantes no Brasil à proibição de publicidades sobre o tabagismo no país e a proibição do fumo em ambientes fechados. Ele aponta também como uma causa as campanhas de conscientização realizadas pelo Ministério da Saúde, e Sociedades Médicas de

Pediatria, Pneumologia, Cardiologia e Obstetrícia, além dos Conselhos Regionais de Medicina. O médico Zafalon lembrou ainda que o CFM possui uma Comissão de Controle do Tabagismo que trata diretamente sobre o assunto e, segundo esclarece: “o grupo tem desenvolvido trabalhos a fim de esclarecer os efeitos do cigarro e orientar os médicos sobre o tema”. Julyana Vieira Caporal é coordenadora de Qualidade de Vida de uma empresa de Medicina e Segurança do Trabalho do Paraná. Ela concorda que os programas de governo e da própria iniciativa privada, além da maior divulgação em torno dos malefícios que o cigarro traz, são os fatores principais que tem contribuído com a redução no número de tabagistas no país. Para Julyana, existe uma mudança

no perfil do fumante que busca ajuda para vencer o vício. “Algum tempo atrás era comum pessoas com alguma doença grave, muitas vezes em estágios avançados de comprometimento físico, buscarem por tratamento. Atualmente, os tabagistas jovens, saudáveis, ativos vêm em busca do tratamento, pois sentem-se marginalizados pela sociedade que cada vez menos aceita e dá espaço ao cigarro”. Para ela, a percepção sobre os malefícios do tabagismo se encontra tão generalizada que as empresas privadas, por meio de ações e programas, também têm dado suporte para os funcionários que desejam deixar o tabagismo. Isto porque as corporações que adotam este tipo de comportamento verificaram uma redução significativa dos prejuízos financeiros causados pelo empregado tabagista.

É proibido fumar!

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O preço do vício Um funcionário fumante custa R$ 4,3 mil a mais para uma empresa do que um não fumante. O levantamento feito pela empresa de medicina e segurança no trabalho, Imtep, registrou que deste total, 46% são resultados do tempo parado para fumar; 34% causados pelas faltas, 15% relativos a custos com assistência à saúde e os 5% restantes são outros motivos relacionados ao tabagismo.

Desde dezembro de 2011, a Lei nº 12.546 proíbe fumar em recintos coletivos fechados, privados ou públicos de todo o país, mas a partir de dezembro deste ano, os chamados fumódromos – antes permitidos – terão de ser banidos. Com a nova regra, fica vetado o uso de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos e até narguilês em ambientes parcialmente fechados por uma parede, teto e até mesmo toldo. Pela legislação atual então o indivíduo fica liberado para fumar apenas em casa e ao ar livre, mas existem algumas exceções à regra: o fumo será permitido em tabacarias sinalizadas, estúdios de filmagem quando necessário à produção da obra, cultos religiosos cujo fumo seja parte do ritual, em locais destinados à pesquisa e desenvolvimento de produtos fumígenos e em instituições de tratamento de saúde que tenham pacientes autorizados por médico a fumar cigarros. Existe ainda um Projeto de Lei tramitando no Senado que promete

fechar ainda mais o cerco da indústria tabagista. Trata-se do PLS 139/2012, de autoria do senador Paulo Davim (PV-RN), que proíbe a comercialização de cigarros em postos de gasolina, supermercados, lojas de conveniência e bancas de jornais. De acordo com o autor do projeto, vários estudos científicos mostram que em mais de 70% dos casos, a decisão de comprar o cigarro acontece no local de venda, por isso, um produto tão danoso à saúde não pode ser comercializado junto a doces, pães, bebidas, etc. O senador também justifica que o marketing da indústria tabagista coloca o cigarro junto aos produtos alimentares e bebidas justamente para gerar no inconsciente do indivíduo a ideia que este é um produto como qualquer outro. “Nosso Projeto de Lei tem o objetivo claro de dificultar o acesso ao produto e despertar a consciência do mal que o cigarro causa ao indivíduo e à saúde financeira dos cofres públicos”, explicou Paulo.

Mecanismo de controle Para Mônica Andreis, vice-diretora da ONG Aliança de Controle do Tabagismo (ACT), o Brasil tem importantes avanços em termos de legislação, mas algumas medidas ainda não foram adotadas, como por exemplo a proibição do uso de aditivos de sabores e aromas nos cigarros, que tornam o produto mais atrativo, especialmente para os jovens. Segundo Mônica, essa medida chegou a vigorar, mas foi suspensa por uma liminar da Justiça, que privilegiou a indústria do tabaco. Mônica Andreis destaca a recém aprovada lei antifumo como importante mecanismo de controle do tabagismo. “A lei antifumo, por exemplo, é considerada um sucesso. Foi adotada inicialmente em São Paulo e tem ampla aprovação da população, ótimos níveis de cumprimento pelos estabelecimentos comerciais e melhora dos índices de avaliação da qualidade do ar nestes ambientes”. A lei gerou um efeito dominó e foi adotada em outros estados da federação, até que se tornou a lei federal n°12.546, em 2011. No último dia 31 de maio, data que se comemora o Dia Mundial sem Tabaco, foi finalmente apresentado o Decreto regulamentador.

Tratamento disponível no SUS O governo brasileiro disponibiliza tratamento gratuito para quem deseja parar de fumar por meio do Programa de Controle do Tabagismo do Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com o Ministério da Saúde, o SUS oferece hoje tratamento gratuito em mais de três mil unidades públicas de saúde. O apoio psicológico e o tratamento com medicamentos fazem parte do serviço de atendimento aos tabagistas. No site da ONG Aliança de Controle ao Tabagismo, é possível consultar o locais de tratamento do tabagismo de todo Brasil, através do link: http://www.actbr.org.br/tabagismo/ tratamento-locais

Fotos: Divulgação


Meio Ambiente

Clima

preocupa

cidades R

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egular a emissão de dióxido de carbono (CO2) é uma preocupação mundial. No ano passado, a Organização das Nações Unidas (ONU) solicitou um esforço global na redução da emissão do gás poluente. Para tanto, foi realizado, em novembro de 2013, um acordo com delegados da ONU para ser assinado por chefes de Estado em 2015, em mais uma tentativa de conter os danos ao meio ambiente. Existem iniciativas ao redor do mundo para diminuir esse e outros prejuízos à natureza. A organização internacional Carbon Disclosure Project (CDP) é responsável por coletar e divulgar dados referentes ao impacto de empresas e cidades no meio ambiente para, dessa forma, descobrir como reduzi-los. O CDP solicitou tais informações pela primeira vez em 2003, enviando o pedido às 500 maiores empresas do mundo, segundo o Standard&Poors. Os dados coletados são disponibilizados por provedores, tais como Bloomberg, EIRIS, MSCI, Sustainalytics, Thompson Reuters e Trucost.

Dos 28 municípios brasileiros que fazem parte do relatório internacional do CDP, oito deles são nordestinos Por Isadora Lira isadoralira@revistanordeste.com.br

A organização divulga diversos relatórios anualmente. No Programa Cities, publicado no último dia 10 de julho, com os dados referentes a 2014, constava a participação de 207 cidades de todo o planeta. Destas, 108 relataram os inventários de emissão de carbono. Foi uma redução de 13,1 milhões de toneladas de CO2. Das cidades contidas no relatório do CDP, 28 são brasileiras e oito delas estão na região Nordeste. São elas: Aracaju (SE); Fortaleza (CE); João Pessoa (PB); Maceió (AL); Natal (RN); Salvador (BA); Recife (PE); São Luís (MA). Apenas o estado do Piauí ficou de fora, pois não informou dados referentes a ações ambientais realizadas em algum município do estado.

Segundo o relatório, 76% das cidades reportaram que a mudança climática pode afetar setores dos negócios, como transporte, produção de alimentos, turismo e serviços. Elas estão dispostas a reduzirem 129, de 194 riscos ambientais causados pelas empresas. As cidades estão oferecendo informações, incentivos e regulamentos que ajudem as empresas a se tornarem mais resistentes às alterações no clima. Entretanto, nem todas as cidades apresentaram resultados conclusivos. O relatório é feito com base em questionários feitos pelo próprio CDP que os coloca em sua página na internet. As cidades podem enviar seus dados para a organização e participar do maior banco de dados sobre ações de meio ambiente .

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Cresce participação brasileira A participação do Brasil no relatório do CDP tem crescido vertiginosamente nos últimos três anos. Em 2012, apenas três cidades participaram do relatório do CDP, o número chegou a 11 no ano passado, contra 28 cidades este ano. Aparecida (SP); Belém (PA); Belo Horizonte (MG); Brasília (DF); Caieiras (SP); Cuiabá (MT); Curitiba (PR); Florianópolis (SC); Goiânia (GO); Guarulhos (SP); Jaguaré (SP); Macapá (AP); Manaus (AM); Porto Alegre (RS); Rio Branco (AC); Rio de Janeiro (RJ); São Bernardo do Campo (SP); São Paulo (SP); Sorocaba (SP) e Vitória (ES) completam a lista.

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Fortaleza consolida projeto A cidade de Fortaleza (CE) é outra que tem tido um olhar mais atento às questões climáticas. Algumas ações estão sendo feitas no sentido de ajudar no controle aos efeitos dos gases poluentes. Uma delas é a elaboração, já em fase de finalização, do 1º Inventário das Emissões de GEE, um dos principais instrumentos do Programa Estratégias de Desenvolvimento de Baixo Carbono (Urban Leds), implementado pelo Conselho Internacional para Iniciativas Ambientais Locais (Iclei) em parceria com A Organização das Nações Unidas (ONU/Habitat) e financiado pela Comissão Europeia. A finalidade é demonstrar estratégias de desenvolvimento urbano inclusivo de baixa emissão de carbono em países com condições de crescimento e transição acelerados. Para a consolidação deste projeto, foi criado de forma inédita o Comitê Gestor

Local de Autoridades Municipais, com o objetivo de discutir e tomar decisões em planos, ações e programas relacionados à emissão dos gases do efeito estufa. A Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) também está construindo uma Célula de Controle da Poluição Atmosférica (CCPA) e tem atuado em duas vertentes: a preventiva, que será feita através da implantação de uma rede de monitoramento da qualidade do ar - a previsão é que a estação móvel de monitoramento seja adquirida em 2015; e a repressiva, que atende denúncias e efetua blitzen contra a poluição atmosférica veicular. “Uma cidade com ar poluído e submetido a alterações climáticas sem que haja um controle, afeta diretamente a saúde de seus habitantes, e consequentemente, aumenta os gastos públicos com saúde, havendo assim impacto

negativo para a economia. Em um município turístico, como é o caso de Fortaleza, cujo principal atrativo é a natureza, é de fundamental importância manter a qualidade ambiental para que os visitantes voltem e contribuam positivamente para a economia local”, destaca a secretária de Urbanismo e Meio Ambiente, Águeda Muniz. A prefeitura de Fortaleza está realizando blitzen em grandes avenidas, na qual os proprietários de veículos (ciclo diesel) que estejam circulando com emissões fora dos padrões estipulados em Lei, são advertidos ou autuados (dependendo da densidade colorimétrica da fumaça emitida) e recebem prazo para regularizar seu veículo e reapresentá-lo à Seuma com Laudo de Inspeção Veicular, que há de ser emitido e assinado pelo Núcleo de Tecnologia Industrial do Ceará (Nutec).

Recife intensifica ações Pela segunda vez apresentando seus estudos ao CDP, a capital pernambucana vem mostrando como está lidando com a questão da emissão de CO2, através de implantação de 40000 pontos de iluminação pública com lâmpadas led; implantação de ciclofaixas e ciclorrotas; e ampliação de arborização urbana, tendo a meta de 100 mil mudas até 2016. Recife também publicou, no final de abril, o 1º Inventário das Emissões de Gases de Efeito Estufa, que servirá de parâmetro para ações e programas de redução das emissões, que farão parte do Plano de Ação para a Mitigação das Emissões, Adaptação e Resiliência aos Efeitos das Mudanças Climáticas. “Também estamos elaborando o Sistema de Certificação e Premiação Ambiental para empresas, pessoas físicas, escolas e boas práticas comunitárias. Estamos conscientizando a população no sentido de se sensibilizar com a importância do tema e seus efeitos na vida cotidiana”,

observou o secretário Executivo de Sustentabilidade do Recife, Maurício Guerra, ao acrescentar que a secretaria discute com o estado o projeto de contenção da erosão da faixa de praia. A cidade do Recife tem motivos para se preocupar com as questões climáticas, uma vez que é particularmente vulnerável. Além do avanço do mar de Boa Viagem, tem o seu subúrbio arrodeado por morros, que sofrem desastres a cada inverno. “À medida que as temperaturas médias globais sobem devido às emissões de gases de efeito estufa, as consequências sobre o planeta, tais como condições meteorológicas extremas, secas e elevação dos mares, vão ameaçar populações e produções de alimentos”, conclui o secretário Maurício Guerra.


Esporte

Areia nos pés

e bola nas mãos

Os grupos da Copa O torneio tem participação de doze seleções em cada categoria. No masculino, os brasileiros disputam a primeira fase no Grupo A contra os seguintes times: Austrália, Dinamarca, Omã, Sérvia e Uruguai. A chave B é composta por Argentina, Catar, Croácia, Egito, Espanha e Rússia. A seleção feminina disputa com Austrália já no primeiro jogo, em seguida tem Itália, Noruega, Taipei e Uruguai. O grupo B é formado pela Argentina, Dinamarca, Espanha, Hungria, Tailândia e Ucrânia.

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sse tem sido um ano bem servido de eventos esportivos no Brasil. Após a realização do Mundial de futebol, a capital pernambucana recebe a Copa do Mundo de Handebol de Areia (ou Beach Handball), na praia do Pina, de 22 a 27 deste mês. O torneio, organizado pela Federação Internacional de Handebol, junto com a Confederação Brasileira (CBHb), teve sua primeira edição em 2004, no Egito, e desde então é realizado a cada dois anos em praias de todo o mundo, reunindo as melhores seleções das equipes masculinas e femininas. Apesar de ser pouco difundido no país, as seleções brasileiras são favoritas ao título. De acordo com a Federação Internacional de Handebol, o Brasil possui os melhores jogadores do esporte. Nessa lista, estão no topo Naílson Amaral e Patrícia Sheppa. Na copa anterior, realizada num país da península Arábica chamado Omã, os times brasileiros trouxeram para casa o primeiro lugar. A equipe masculina brasileira é tricampeã, e a feminina já conquistou o mundial duas vezes. Para essa competição, as seleções treinaram intensamente durante todo o mês nas areias da praia do Cabo

Branco, em João Pessoa (PB) até o dia da estreia. Foram convocados para essa fase 17 atletas do masculino e 17 do feminino - de diversos estados do país. Desses, apenas 10 de cada categoria foram escolhidos para a disputa do Mundial. Cinthya Piquet, natural de João Pessoa, 29 anos, é lateral direita. Começou a jogar handebol há vinte anos, mas entrou no Beach em 2004 e já em 2005 integrou a seleção brasileira. A jogadora tem as melhores expectativas possíveis para o torneio. “Conhecemos os outros países, estudamos eles sempre em nossas reuniões e jogando em casa acredito que temos um gosto bem especial de ter a torcida perto da gente”, diz. Natural de Caucaia (CE), Naílson Amaral (24) pratica o esporte desde os 17 anos. Integra a seleção brasileira desde 2008 e participou de duas World Games. Agora, está na sua segunda copa. “Minhas expectativas são sempre as melhores, pois treinamos muito pra isso”. Animado com o jogo de estreia, Naílson confessa que está trabalhando o psicológico para fazer uma boa campanha em casa. “Na primeira vez que o Brasil sediou uma copa de handebol de areia, as duas equipes conquistaram o ouro”.

A seleção brasileira É a grande potência do mundo na modalidade

Diferenças no esporte Foi numa pequena ilha no Sul da Itália, em 1992, que o Beach Handball foi registrado pela primeira vez. O esporte apresenta diferenças nítidas em relação ao de quadra. Uma das primeiras dúvidas que podem vir à cabeça é como quicar a bola no handebol de areia? Proibido não é, mas é praticamente inviável por conta da instabilidade do terreno. Mas essa não é a única disparidade. No Beach Handball é possível fazer um gol que valha dois pontos. São os gols de goleiro ou os espetaculares, que se dividem em dois tipos: quando o jogador pega a bola no ar e lança antes de tocar o solo; ou quando o jogador Fotos: ?

entra de frente para o gol, realiza um giro de 360º e lança a bola antes de tocar o solo. É comum que alguns jogadores nivelem a região próxima ao gol para receber as bolas aéreas. O nivelamento evita que eles afundem na hora da impulsão, permitindo pegar a bola mais alta possível. A quadra do handebol de areia também é menor. Possui apenas 27m x 12m, com áreas de 6m em linhas paralelas à linha de fundo. A equipe é composta por apenas quatro jogadores mais o goleiro. O tempo do jogo é dividido em dois sets de 10 minutos, podendo haver um set de desempate, chamado de “Shoot out”.

É a atual campeã mundial (título conquistado em Omã, na Ásia, em 2012) É líder do ranking mundial e possui os dois melhores jogadores: Nailson Amaral e Patrícia Scheppa

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Por Isadora Lira isadoralira@revistanordeste.com.br

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Seleções buscam o título mais importante da Copa do Mundo de Handebol de Areia neste mês de julho, na capital pernambucana


Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

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O Banco do Nordeste lançou edital de seleção pública para projetos culturais, com prioridade para aqueles que contemplem a programação dos Centros Culturais Banco do Nordeste de Fortaleza, Cariri e Sousa. A seleção será destinada a estimular a produção e difusão de ações culturais de artes cênicas (teatro, dança, performance e circo), artes visuais (exposições), música erudita, festivais de cinema e humanidades. As inscrições vão até fim de agosto.

Pedidos de apoio a eventos ou projetos culturais, por meio de convênio, deverão ser protocolados com a antecedência mínima de 90 dias do início da atividade. As propostas deverão ser apresentadas de forma completa, atendendo a documentação mínima exigida para cada tipo de ação. Essas são algumas das novas normas da Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza, que informou em julho os protocolos de pedido de apoio a projetos e eventos.

estudiosos brasileiros que buscaram ler, compreender e aplicar a pedagogia freiriana, além de oferecer uma das primeiras biografias sobre Freire desde seu trabalho no Brasil, e o exílio. Para o autor do livro a teoria educacional de Paulo Freire é uma proposta do futuro. “Freire é atual, os mecanismo dele foram propostos nos anos 60, mas continuam sendo atuais”, afirma. Assim como o educador brasileiro, Carlos Torres direciona sua obra para a construção de uma sociedade racional, oferecendo ideias de como construir uma população de pessoas com formação política e de pensamento analítico. Carlos Torres é diretor fundador do Instituto Paulo Freire da Argentina (2003), do Instituto Paulo Freire da Universidade da Califórnia Los Angeles, e diretor fundador do Instituto Paulo Freire de São Paulo (1991). Além disso, trabalha como Professor de Ciências Sociais e Educação Comparada na Universidade da Califórnia Los Angeles e sociólogo político da educação.

Os Paralamas do Sucesso vão voltar às terras paraibanas. A banda que fez sucesso nos anos 80 e que ainda continua arrastando uma legião de fãs fará show no próximo dia 16 de agosto, em João Pessoa, na casa de show Domus Hall. Os ingressos custam R$ 25,00 (meia) e R$ 50 (inteira). A banda de pop rock, formada no Rio de Janeiro no final dos anos 70, é composta por Herbert Vianna (guitarra e vocal), Bi Ribeiro (baixo) e João Barone (bateria), que mistura rock com reggae, e instrumentos de sopro.

Em comemoração aos 30 anos de carreira, o grupo de pop rock RPM está realizando a turnê Elektra, com a formação original da banda. Pela turnê, a banda vai se apresentar em Fortaleza no dia 9 de agosto, na casa de show Musique Fortaleza, na Avenida Washington Soares. As vendas dos ingressos da turnê já começaram no site www. ingressando.com.br. Elektra é o quarto álbum de estúdio da banda de rock brasileira RPM, lançado em 2011 com músicas inéditas.

Xscpae, álbum póstumo de Michael Jackson, foi destrinchado em um documentário disponível na internet, lançado neste mês de julho. O vídeo de 25 minutos traz depoimentos dos produtores do disco, como Antonio “LA” Reid, e também do cantor Justin Timbarlake, que faz dueto como Michael em duas músicas do álbum. A direção do filme ficou por conta de Michael Lawrence e as entrevistas são realizadas por Joe Levy, editor da revista especializada em música Billboard. No documentário, é possível ver e ouvir o trabalho de modernização das canções, enquanto tocam trechos das faixas do disco Xscape, gravadas entre 1983 e 1999.

Seguindo a onda de animações com adaptações lançadas com personagens humanos e reais, como Malévola, que reconta A Bela Adormecida e Alice no País das Maravilhas, uma adaptação de Lewis Carroll, a história do elefantinho Dumbo também terá uma versão em carne osso. O desenho da Disney, lançado em 1941, ganhará um novo filme com atores de verdade, segundo o ‘The Hollywood Reporter’. O responsável pelo remake será Justin Springer (Oblivion; Tron: o legado), e o roteiro será de Ehren Kruger, de “Transformers”. Dumbo é um animal de circo que acredita poder voar graças às suas grandes orelhas e, na nova versão, ganhará uma narrativa paralela sobre uma família humana.

O Maior Show do Mundo Ivete Sangalo, Thiaguinho, Banda Eva, Israel Novaes, Gabriel Diniz, Jammil, Citrus Clube, Helton Lima e mais vários DJs estarão agitando a noite de Olinda na área externa do Centro de Convenções de Pernambuco, no dia 16 de agosto. Entre as novidades do evento, O Maior Show do Mundo, a cantora Ivete Sangalo realizará dois shows, um no palco e um no trio, além de aproveitar a oportunidade para lançar seu novo DVD. Os ingressos para o Maior Show do Mundo de 2014 já podem ser adquiridos no site Ingresso Prime.

Desejos em poesia O anseio de comer chocolate, de cantar e voar e mais alguns desejos humanos estão em forma de poesia no novo livro da autora Roseana Murray. A obra Poço dos desejos, da escritora brasileira de livros infantis, faz parte da coleção Veredas que é constituída de uma variedade de gêneros e tipos de texto, como poemas, contos, crônicas, novelas e romances. Há histórias de amor, suspense, mistério, aventura, humor, relações familiares, do mundo do além, de terror e ficção científica. Poço dos desejos é voltado para crianças a partir de 11 anos e de forma leve e divertida, aproxima as crianças ao mundo da poesia.

Histórias de divã Em um contexto seminário, na década de 50, dois jovens aspirantes a padre se apaixonam e se entregam um ao outro de forma surpreendente. Essa é a história do livro de Libélula (Pontes Editores, R$ 39,90) que será lançado em São Paulo na Livraria da Vila da Lorena, no dia 9 de agosto. O autor paraibano, Marcos Lacerda é psicanalista e se inspirou em suas experiências de 21 anos em consultório para produzir a obra fictícia. O lançamento terá a participação do ator Global, Leonardo Miggiorin, que encenará um trecho do livro.

Jazz e bossa nova em Pipa A 5ª edição do Fest Bossa & Jazz, que acontecerá na Praia de Pipa (RN) nos dias 21 a 24 de agosto, já tem algumas participações confirmadas. Dentre os nomes está o do cantor Ed Motta, que se apresentará acompanhado pela Sesi Big Band, orquestra de jazz do projeto Sesi Arte do Rio Grande do Norte. Marcos Valle também está entre as atrações, assim como o guitarrista Nuno Mindelis e a cantora Camila Masiso. O evento gratuito já reuniu nomes como Jose James, Leny Andrade, João Donato e Os Cariocas, e espera para este ano reunir um público de mais de 30 mil pessoas.

JULHO / 2014

JULHO / 2014

Há 50 anos, em uma pequena cidade do Rio Grande do Norte, um sonhador com uma sociedade ideal lutava contra o analfabetismo. Em 1964, Paulo Freire colocava em ação a sua experiência educativa mais famosa: Quarenta horas de Angicos, um projeto de alfabetização para 380 trabalhadores, interrompido pelo baque do golpe militar no mesmo ano. Para comemorar o cinquentenário dessa ação, a Loyola Edições (SP) decidiu relançar o livro “Diálogo e práxis educativa: Uma leitura crítica de Paulo Freire, do

educador argentino Carlos Alberto Torres. Carlo Alberto Torres é daqueles educadores que defende a educação como uma prática de liberdade. Em entrevista exclusiva à Revista NORDESTE ele afirma que esta obra, relançada recentemente na Paraíba e em Pernambuco, ajudou a disseminar o pensamento de Freire em uma época marcada pela censura. “É um livro simbólico e importante e todo material discute como se pensar a educação no país”, explica. A obra reúne três importantes livros publicados de Carlos Torres, escritos em 1979. O conteúdo possibilita aproximação do leitor com as principais categorias do pensamento de freire, contendo textos que influenciaram educadores e

Dumbo em carne e osso

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Uma leitura para a liberdade

Álbum vira documentário


Mundo

rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br

Entre mar, praia e mangue É na reserva do Paiva, uma área privilegiada do litoral Sul pernambucano, que o grupo Sheraton acaba de se instalar. A marca inaugurou o mais novo empreendimento hoteleiro e o primeiro equipamento internacional cinco estrelas naquela localidade, distante apenas 30 minutos de Recife. O Hotel & Resort conta com 298 quartos, sendo 18 suítes club e uma das maiores suítes presidenciais da região, com 120 metros quadrados. Ele oferece ainda um spa com aproximadamente 600 metros quadrados, academia fitness, club lounge, dois restaurantes e um beach club com várias opções de lazer, dentre elas, piscina e área de descanso. O hóspede ainda tem à sua disposição um bar e um espaço para interações virtuais, através de tecnologia de última ponta. No Sheraton Reserva do Paiva o comando da cozinha é do chef português Fernando Fonseca, que faz um menu

sofisticado que inclui combinações de sabores, arranjos criativos e vinhos de altíssima qualidade para acompanhar os pratos à la carte. O buffet oferece pratos internacionais e locais com um serviço diferenciado. Os clientes podem, inclusive, ver a preparação dos pratos nas estações de cozinhas ao vivo.

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Bistrô de muito charme A casa fica escondida no interior de uma galeria na avenida Edson Ramalho, bairro nobre de João Pessoa (PB). Um corredor estreito com um jardim vertical leva até a porta de vidro do bistrô Videira Enogastronomia, da proprietária Afra Soares, uma grande entendedora de vinhos. Ela abriu o negócio sem muita intenção e hoje ele virou ponto de encontro de bons gourmets e apreciadores de vinhos. A casa abre de quarta à sexta, para almoço e jantar e no sábado funciona apenas para almoço. O cardápio apresenta ótimas opções, desde filé ao

molho de laranja, codorna recheada, frango indiano, nhoque tricolor e bobó de camarão, com opções de 15 entradas e sobremesas. Além de bistrô, o espaço conta com escola de vinhos e uma loja com mais de 200 rótulos de várias regiões do mundo. Lá, você encontra argentinos como Amalaia Gran Corte, que sai por R$ 103,00, ou um Brunello di Montalcino, por R$ 1.700. Mas, se a ideia for seguir a linha custo-benefício pode apostar no chileno Terra Nobre, cuja garrafa custa R$ 49,00. Serviço: Avenida Edson Ramalho, 922. Sls 201 A-B Empresarial Enseada do Mar – João Pessoa (PB) Contato: videiracomerciojp@hotmail.com / videiradistribuidora@hotmail.com Fone: (83) 3021-6080 | 9838-6216

Premiação de ouro O Grupo Famiglia Valduga foi condecorado com duas medalhas grande ouro e duas ouros, no Concurso Mundial de Bruxelas, edição Brasil, realizado em Florianópolis. O evento premiou 45 rótulos, de quatro estados brasileiros. O vinho Casa Valduga Raízes 2010 e o espumante Ponto Nero Brut da Domno receberam a medalha Grande Ouro. Já o rótulo Casa Valduga Gran Leopoldina Chardonnay D.O 2012 e o espumante Ponto Nero Celebration Moscatel, lançamento da Domno, ficaram com a de Ouro. Foram mais de 250 rótulos inscritos, de cinco estados do país: Pernambuco, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraná. Os jurados, especialistas nacionais e internacionais convidados da França, Alemanha, Peru, Chile e Taiwan, degustaram às cegas e dentro dos critérios internacionais adotados pelo Concurso Mundial de Bruxelas. O concurso consolida-se como um grande propagador dos vinhos brasileiros, no mercado interno e no exterior, pois coloca os rótulos nacionais em contato com grandes formadores de opinião em seus países de atuação e das várias regiões do Brasil.

Competição atrai turistas A Copa do Mundo continua nos campos de João Pessoa. Uma semana após a final do Mundial, um evento com o mesmo tema, deve chamar a atenção de brasileiros e estrangeiros e movimentar a capital da Paraíba. Trata-se do RoboCup 2014, um campeonato mundial de futebol de robôs que acontece este mês de julho e deve reunir cerca de 400 equipes de mais de três mil participantes. É a primeira vez que a competição acontece no Brasil.

O futebol de robôs representa a maior parte das modalidades do torneio, havendo ainda competições de dança e desafios de resgate. Vence o jogador que desenvolver robôs autônomos, que tomem decisões inteligentes de forma rápida enquanto trabalham juntos em um ambiente de mudanças. Haverá também oficinas, simpósios, exposições interativas e workshops. Espera-se atrair pelo menos 60 mil visitantes durante essa competição. A RoboCup 2014 será disputada no Centro de Convenções de João Pessoa. As informações da Empresa Paraibana de Turismo (PBtur) mostram que o centro de eventos tem garantido um acréscimo de 20% no número de turistas de eventos à cidade.

Para matar a sede Considerada um isotônico natural, que possui um alto poder de hidratação e oferece boas doses de cálcio, magnésio e vitamina C, a água de coco deixou de ser consumida apenas nas praias e durante o verão. A bebida ganha cada vez mais espaço no cardápio daqueles que se preocupam em ter uma vida mais saudável. Diante dos inúmeros benefícios que promove para o corpo humano, a bebida torna-se o novo produto da Suqo, marca de bebidas artesanais desenvolvidas pela Indústria de Alimentos Buon Gelatto. O lançamento do produto segue a proposta da marca de oferecer sabor, saúde e praticidade aos clientes exigentes e que consomem alimentos seguros e saudáveis. Nos próximos meses, a água

de coco da Suqo poderá ser encontrada, além da Paraíba, em Pernambuco e no Rio Grande do Norte. Outras informações sobre os produtos da Suqo podem ser conferidas pelo site www.suqo.com.br.

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Rivânia Queiroz

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Pelo


Nordeste Agito

agitonordeste@revistanordeste.com.br

Janguiê Diniz e esposa Sandra

Presidente Dilma com Robinson Faria (do Rio Grande do Norte) e seu filho Fábio

Pamela e Cynthia Morilla da sociedade de Teresina

Os empresários paraibanos Ricardo e Eduardo Carlos, com o pai José Carlos da Silva Júnior

Renato Cunha e Nina, sua esposa

O empresário João Carlos Paes Mendonça e esposa

Cristina Mello com Geraldo Julio

Wilson Oliveira comemora aniversário da esposa Ana

Antonio José e Bethania Borges Leal celebram sua união diante do altar, em agosto

Laurita Arruda e Henrique Alves

O aniversariante Hélio Zuliani e Zeli com os filhos: Ricardo, Clarisse e Cláudia

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Desembargadora Fátima Bezerra ao lado do casal José Ricardo e Salete Porto

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A cantora Elba Ramalho visita o Grupo WSCOM com o casal Juiz Junior e a deputada estadual Daniela Ribeiro


Cultura

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Escritor Jairo Cézar lança obra ilustrada sobre história da vida do poeta paraibano para o público infantil

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Augusto dos Anjos em Quadrinhos J

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lado mais humano dele. Vamos mostrar ele brincando, a paixão dele pelos livros, a juventude, a fase adulta até o fim da vida em Leopoldina”, explicou Jairo Cézar, autor da obra que foi lançada este mês de julho. Jairo conta que as pessoas só conhecem o lado das trevas de Augusto dos Anjos, mas que é importante apreciar a outra face do poeta que foi tão importante para a literatura brasileira. “As pessoas pensam que Augusto só trata de morte, de tristeza, e eu acho isso nocivo, até porque a obra dele é mais do que isso, a morte para ele é uma libertação ou um rito de passagem”, explica o autor. A HQ, com ilustrações da paraibana Luyse Costa, terá uma versão para livraria e outra didática que vem com sugestões em atividades para serem trabalhadas dentro de sala de aula, como dicas de poemas para se estudar em literatura, por exemplo. Tudo isso voltado para o público infantil. “A gente escolheu o quadrinho como forma de se aproximar das crianças. Nesse meio nós citamos alguns poemas

uy se C

A

pesar de rimar a tristeza em versos sombrios, Augusto dos Anjos é bem mais que o poeta da morte. Para o escritor paraibano de literatura infantil, Jairo Cézar, ele é o poeta da vida e foi pensando nisso que escreveu o livro Augusto dos Anjos em Quadrinhos (Patmos, R$ 24,90). Escapando da visão negativista que a literatura tem sobre o poeta paraibano, a história conta o lado humano de Augusto, de um menino poeta, de um homem doce, educado, respeitoso, amante dos livros e da leitura, querido por todos que o cercavam e que sempre acreditou que tudo ia dar certo, mesmo nos piores momentos. O livro não é uma adaptação da obra do poeta sorumbático para crianças, é mais uma biografia dele em quadrinhos. “Quando a gente falou em Augusto dos Anjos para crianças, as pessoas achavam que eu ia adoçar, por que a literatura dele tem que ser dark, tem que ser pesada. Eu não vou adaptar a obra para as crianças, a proposta é aproximar o autor do público infantil. Mas, nós vamos mostrar um

osta

Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

L

que são possíveis de trabalhar dentro da sala de aula”, explica. Jairo Cézar é escritor, professor e autor de vários livros de poemas, incluindo Escritos no Ônibus, que levou o prêmio Novos Escritos da Fundação Cultural de João Pessoa – FUNJOPE, em 2010. Especializado em literatura infantil, ele vem trabalhando na obra Augusto dos Anjos em Quadrinhos desde 2006. Para o projeto convidou Luyse, ilustradora paraibana, mas que vive na capital paulista e já ilustrou diversos livros para adultos e criança. Para ele a presença dela era essencial no projeto. “Ela tem o traço que eu quero para humanizar Augusto, para tirá-lo das trevas e colocar um pouco de luz”, justifica. Ilustrações: Luyse Costa


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