Revista nordeste ed 93 issuuu

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Justiça

Economia

cultura

Cardozo diz como enfrentar polêmicas

Indústria precisa de reforma tributária

Ney Matogrosso conta trajetória de carreira

Eleição ganha novo rumo Efeitos da morte de Eduardo põem Marina no jogo Aécio anuncia plano de ações para o Nordeste Dilma segue com fôlego e liderando pesquisas




RioMar Recife

GRUPO JCPM E NORDESTE. ORGULhO DE iNVESTiR,

Ao investir no Nordeste, o Grupo JCPM implantou projetos para satisfazer as expectativas dos nordestinos, contribuindo para o desenvolvimento da Região e gerando milhares de postos de trabalho e renda. O Grupo JCPM se orgulha de suas realizações e das suas conquistas. Atua nos segmentos de shoppings, imobiliário e de comunicação. Desenvolve obras na área social através da Fundação Pedro Paes Mendonça e do Instituto JCPM. Conduz seus negócios dentro das premissas de seu compromisso socioambiental, fundamentado no desenvolvimento sustentável. Tornou-se um dos maiores empreendedores do Nordeste, fazendo da sua marca um símbolo de credibilidade e confiabilidade.


Fundação Pedro Paes Mendonça

JCPM Trade Center

Instituto JCPM

Os negócios do Grupo JCPM se estendem pela Região Nordeste, onde participa, em Pernambuco, do RioMar Recife (90%), Shopping Tacaruna (67,6%), Shopping Guararapes (50%), Shopping Recife (33,33%) e Plaza Shopping (23%). Em Sergipe, do Shopping Jardins (60%) e RioMar Aracaju (60%). Na Bahia, tem o Salvador Shopping (95%) e Salvador Norte Shopping (60%). No Ceará, o RioMar Fortaleza (76,5%), que será inaugurado em 29/10/2014, e desenvolve o projeto de implantação do RioMar Presidente Kennedy. No Sudeste, participa do Shopping VillaLobos (20%) e Granja Vianna (25%), ambos em São Paulo.

EMPREENDER, REALizAR.

Salvador Shopping

RioMar Aracaju

RioMar Fortaleza

RioMar Presidente Kennedy (em fase de projeto)

w w w.jcpm.com.br


ÍNDICE ENTREVISTA

POLÍTICA

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24

44

28

49

Proposta além da religião Pastor Everaldo, candidato à Presidência da República pelo PSC, critica governo e promete promover reformas fiscais, administrativas e tributárias

Dilma se mantém na liderança Mesmo com as recentes mudanças no cenário político, presidente permanece à frente nas pesquisas

Plano Nordeste Candidato à Presidência, Aécio Neves, lança propostas para a região

32

Mais rotas aéreas regionais Programa de Desenvolvimento da Aviação Regional estimula voos domésticos em cidades de pequeno porte

Setor elétrico espera decisão Empresas se preocupam com renovação de contratos com Chesf e procuram saída para aumento no custo de energia

Novas e velhas caras na disputa Levantamento mostra o cenário eleitoral de senadores nos nove estados do Nordeste

CAPA

ECONOMIA

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38

Eleição ganha novos contornos Substituição de Eduardo por Marina na corrida para alcançar a Presidência do Brasil aumenta incerteza na disputa eleitoral

O futuro da economia Indústria necessita de mudanças para se firmar na economia. Reforma tributária, infraestrutura e logística são pontos principais

54

De olho em novos negócios INVESTE NORDESTE promove ambiente de interação com investidores internacionais e empresas nacionais interessadas em novas oportunidades

58

O mar está para peixe Brasil precisa de medidas para fortalecimento do setor de pescados e Ministério da Pesca tem o desafio de explorar as possibilidades do país


GERAL

MEIO AMBIENTE

COLUNAS

64

82

8

Amor além do tempo Reportagem conta histórias de amor que superam o tempo e a idade

Parque do Jacaré ameaçado Ponto turístico de João Pessoa tem ocupação irregular de bares e sofrerá intervenções

68

Da tanga à toga Ministro da Justiça fala, em entrevista, sobre desafios da pasta

74

Tropas de elite do ar Curso de paraquedismo na Bahia forma policiais capacitados para operações em locais de difícil acesso

Cartas e E-mails

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Plugado | Walter Santos

TECNOLOGIA

86

Capital de máquinas e robôs Copa mundial de robótica, Robocup, foi sediada em João Pessoa e atraiu olhares para a capital paraibana

90

Jovens on-line Jovens ficam ansiosos quando não estão usando celular, aponta pesquisa

30

Delfim Neto

36

Carlos Roberto de Oliveira

48

Ipojuca Pontes

98

Pelo Mundo | Rivânia Queiroz

CULTURA

94

SAÚDE

76

Aguenta coração Pesquisa revela que Brasil tem 100 mil novos casos por ano de insuficiência cardíaca, doença que mata mais que câncer no país

80

Tecnologia em favor da saúde Número de infectados por dengue em Salvador tem diminuído graças a Sistema Integrado de Zoonoses

Um ‘bicho solto’ Ney Matrogrosso conta sua trajetória de 40 anos de carreira e critica cenário social do Brasil

102

Temporada de música Mostra Internacional de Música em Olinda (Mimo) se espalha pelo Brasil levando arte para várias cidades

92

Digestivo | Flávia Lopes

100

Agito Nordeste

52

Conexão EUA


NORDESTE revistanordeste.com.br

Ano 8 | Número 93 | Agosto | 2014 Diretor Presidente Walter Santos Diretora Administrativa/Financeira Ana Carla Uchôa Santos Diretor Comercial Pablo Forlan Santos Diretor de Marketing Vinícius Paiva C. Santos Logística Yvana Lemos COMERCIAL Gerente Comercial Marcos Paulo Atendimento Comercial Jone Falcão REPRESENTANTES Pernambuco Gil Sabino g.sabino@uol.com.br - Fone: (81) 9739-6489 REDAÇÃO Editora Rivânia Queiroz Subeditora Fávia Lopes Repórteres Grazielle Uchôa, Isadora Lira e Flávia Lopes Editoria de Arte e Tratamento de imagem Arthur César, Danielle Trinta e Felipe Headley Capa Danielle Trinta Projeto Visual Néctar Comunicação ATENDIMENTO/ FINANCEIRO Supervisora e Contas a Pagar Kelly Magna Pimenta Contas a Receber Milton Carvalho Contabilidade Big Consultoria ASSINATURAS (83) 3041-3777 Segunda a sexta, das 8 às 18 horas www.revistanordeste.com.br/assinatura CARTAS PARA REDAÇÃO faleconosco@revistanordeste.com.br

AGOSTO / 2014

PARA ANUNCIAR Ligue: (83) 3041-3777 comercial@revistanordeste.com.br SEDE Pça. Dom Ulrico, 16 - Anexo - Centro - João Pessoa / PB Cep 58010-740 / Tel/Fax: (83) 3041-3777 Impressão Gráfica JB - Av. Mons. Walfredo Leal, 681 - Tambiá - João Pessoa / PB - Fone: (83) 3015-7200 Circulação DPA Consultores Editorias Ltda dpacon@uol.com.br - Fone: (11) 3935 5524 Distribuição FC Comercial

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A Revista NORDESTE é editada pela Nordeste Comunicação, Editora e Serviços Ltda-ME CNPJ: 19.658.268/0001-43

EDITORIAL Os novos rumos da disputa O mundo político sofreu um abalo no final da primeira quinzena de agosto. A morte trágica do pernambucano Eduardo Campos (PSB), em um acidente aéreo, forçou a entrada da então vice Marina Silva, na cabeça de chapa do palanque socialista para a disputa presidencial. Os primeiros reflexos foram sentidos já na primeira pesquisa de intenção de votos publicada pelo Datafolha, em que a ex-senadora aparece na frente do tucano Aécio Neves, com possibilidades reais de ir a um segundo turno com Dilma Rousseff (PT). O redesenho político causou nervosismo entre petistas e staff da campanha de Dilma. A presidente chegou a conversar com Lula sobre os novos contornos desta campanha. Depois foi a vez do Partido dos Trabalhadores se reunir para discutir o efeito Marina. Petistas analisaram o tom a ser adotado na campanha para enfrentar o crescimento da ex-ministra nas intenções de voto. Há o temor de que atacá-la possa ter o resultado inverso, de fazê-la crescer como vítima. É fato que Marina vai impor um novo debate na campanha eleitoral. A avaliação dos petistas é a de que ela vai forçar alguns debates, muitos dos quais a presidente Dilma resiste, como o da questão ambiental. É bom lembrar que, no governo Lula, Dilma e Marina travaram algumas batalhas acerca desse tema. Enquanto Dilma defendia obras de desenvolvimento na área, Marina cobrava o cumprimento de regras ambientais. Rivânia Queiroz

editora-chefe da Revista NORDESTE rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br

O alerta vermelho também foi aceso do lado de Aécio Neves. Embora o candidato do PSDB tente ignorar algumas previsões e passar a ideia de que o resultado do Datafolha já era esperado, a sua campanha está adotando novas táticas. A primeira delas foi identificar e atuar nos estados onde sua candidatura está mais suscetível: São Paulo e no Rio de Janeiro. Diante disso, a orientação da cúpula é reforçar a campanha nos dois redutos, principalmente nas regiões metropolitanas. Assim, evita que a entrada de Marina na eleição prejudique o crescimento de Aécio. Outra medida a ser adotada é colar a imagem do presidenciável à de Geraldo Alckmin, que disputa o governo de São Paulo e tem 55% das intenções de voto. O tucano conta com o desempenho no Sudeste para chegar ao segundo turno das eleições. Com um cenário ainda muito nebuloso, os três candidatos agora tentam conquistar ao máximo os eleitores. Nesse contexto, devem investir pesado na região Nordeste, onde esperaram atrair os votos do ex-governador Eduardo Campos. Ainda é cedo para dizer para onde vai o espólio do pernambucano. Alguns analistas sugerem que Dilma será a mais favorecida, já que tem a seu favor programas sociais implementados pelo governo do PT, a exemplo do Bolsa Família. Agora é esperar as novas pesquisas para saber como ficam os futuros rumos da campanha presidencial.


Desde quando acompanho a Revista é perceptível que tem abordado com capacidade os muitos assuntos e editorias, por isso surpreende positivamente vê-la consolidada no difícil mercado editorial.”

Não tem o que discutir em termos de valor de conteúdo, como nesta edição traçando um panorama da sucessão nos governos do Nordeste dando um mapa atualizado do processo eleitoral.”

José Eduardo Cardozo Ministro da Justiça Brasília -DF.

Carlos Vieira Secretário executivo do Ministério das Cidades | Brasília - DF.

A Nordeste tem forma e conteúdo. Às vésperas das eleições, traz matéria substantiva sobre as disputas no Brasil afora; críticas; colunistas de reconhecimento como Ipojuca e Delfim Neto etc. Gostei especificamente da matéria sobre o Gênero Invisível, sobre mulheres apenadas, como também da matéria Saindo dos Muros, sobre o movimento que debate os direitos sexuais e reprodutivos da mulher. Fiquei até conhecendo um novo Bistrô... Enfim, a revista tem substância e pretende se firmar, se é que já não se firmou, como uma concorrente de outras que transitam pela política, economia e comportamento. Parabéns!” Ana Adelaide Peixoto Escritora e Professora doutora em Literatura da UFPB – João Pessoa (PB)

Nota da Redação: Sugestões de pauta ou matérias podem ser enviadas para o endereço eletrônico da editora: rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br. Agradecemos a sua participação. NORDESTE On-line Facebook Revista Nordeste Twitter @RevistaNordeste E-mail faleconosco@revistanordeste.com.br Site www.revistanordeste.com.br

Indiscutivelmente é a Veja do Nordeste.” Carlos Henrique de Vasconcelos(Peninha) Jornalista e marqueteiro Rio de Janeiro - RJ

Para nós que estamos dialogando com o mercado brasileiro e de Portugal testemunhamos o nível do que é produzido pela Revista NORDESTE, tanto que estamos buscando formas de parceria para realizarmos o INVESTE NORDESTE em Novembro, em Recife.” José Lourenço e Erik Norat Lisboa - PT | João Pessoa - PB).

Fiquei muito bem impressionado com o nível dos assuntos tratados nas últimas edições.” Pastor Everaldo Candidato à presidente da República | Rio de Janeiro - RJ

Erramos: A matéria “Uma nova escrita” (Edição 92) tem fotos de Ricardo Puppe. Na matéria “O que esperar do futuro” (Edição 92) erramos a foto de Tárcio Teixeira(PSOL), candidato ao Governo da Paraíba.

REVISTA NORDESTE N.º 92 Como comunicador muito atento com o que está acontecendo no Brasil e no meu Pernambuco, posso atestar e o mercado precisa se advertir que há 8 anos estamos convivendo com uma publicação de análises sem dever a nenhuma outra revista do país. E tudo se faz muito importante porque é feita em nosso Nordeste.”

AGOSTO / 2014

Wang Xian Cônsul-geral da China – Recife (PE)

“Minha impressão é de que a revista tem um conteúdo variado falando de temas gerais de relevância para o Brasil e em especial ao Nordeste, além de uma apresentação gráfica agradável.”

Samir Abou Hana Multimídia | Recife - PE 9

CARTAS E E-MAILS


Entrevista

Proposta além da religião

P

astor Everaldo tem tido um desempenho surpreendente nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais. Em entrevista exclusiva à Revista NORDESTE, ele se apresenta de centro-direita, quer o Estado mínimo e nega ser candidato apenas dos evangélicos. Além disso, faz uma análise crítica do governo, prometendo enxugar a máquina e promover reformas fiscal, administrativa e tributária, caso seja eleito. Para Everaldo, ao invés de milagre, é preciso trabalho Por Grazielle Uchôa e Walter Santos grazielle@revistanordeste.com.br ws@revistanordeste.com.br

NORDESTE: O senhor chega em um momento especial, em que o país vive uma exposição de projetos diferentes para o futuro do Brasil e, falando do seu projeto, como analisa a conjuntura atual do Brasil, do ponto de vista econômico e social? Qual a leitura que o senhor faz do país hoje? Pastor Everaldo: Eu, que ando o Brasil

de Norte a Sul, de Leste a Oeste, tenho detectado pessoalmente, ao vivo e a cores, o que as pesquisas têm trazido à tona. Segundo a última amostragem Data Folha, 74% dos brasileiros querem mudança. A proposta do Partido Social Cristão vai ao encontro desse desejo do brasileiro, porque hoje o Estado brasileiro se encontra inchado, aparelhado.

NORDESTE: O senhor encontra algum mérito no atual governo? Pastor Everaldo: Todos os governos contribuem para o progresso do país. Fazendo uma reflexão, depois da

Pastor Everaldo


redemocratização, os presidentes eleitos sempre deixaram um país melhor. O presidente Collor deixou melhor do que quando assumiu, o Itamar deixou melhor para o seu sucessor, o Fernando Henrique deixou melhor para o Lula e o Lula entregou um governo melhor para a atual presidente. Dilma vai deixar o pior governo da história da redemocratização do país. Sempre tem alguma coisa (boa), mas é difícil até de encontrar essa coisa no atual governo. NORDESTE: Parece haver uma espécie de confronto entre o legado do governo do PT contra o legado do governo do PSDB. O senhor acha que há espaço para uma terceira alternativa? Considera-se essa via? Pastor Everaldo: Eu acredito que sou a alternativa a esses últimos 20 anos, porque coloco claramente as nossas propostas para a população brasileira, com objetividade, clareza e transparência. Como eu disse, na democracia cada um constrói, cada um vai colocando um tijolo para consolidá-la. E, hoje, o cidadão brasileiro quer mais Brasil e menos Brasília na vida. Isso quer dizer que Brasília hoje sufoca o brasileiro e não o deixar produzir, trabalhar. Então, quando nós defendemos a mudança do foco do governo é porque hoje temos um governo que suga o suor do trabalhador com uma das mais altas cargas tributárias do planeta e não retorna com serviços as áreas fundamentais, como educação, saúde, segurança. Com isso, o governo se serve do cidadão e falta inverter isso, colocar o governo para servir o cidadão brasileiro. NORDESTE: Em sua opinião, deve ser conduzida uma reforma tributária no país? Pastor Everaldo: Nós vamos fazer uma reforma administrativa, cortar na carne, diminuir o número de ministérios, extinguir um bocado desses cargos comissionados. Vamos fazer também uma reforma fiscal. Vamos extinguir as contribuições Fotos: Divulgação

CSL, Confins e outras contribuições na proporcionalidade de um 1/20 ao ano, durante 20 anos, porque essas contribuições não vão para o bolo da receita nacional para redistribuir para o Fundo de Participação dos Municípios, nem para o Fundo de Participação dos Estados, então fica só com o Governo Federal. Seria uma irresponsabilidade fiscal abrir mão dessa receita de imediato. No ano passado foi em torno de R$ 260 bilhões de reais. Seria leviandade falar que vai acabar, mas pretendo extinguir e dentro desse contexto refazer o pacto federativo que há 25 anos, quando foi feita a construção, a participação dos municípios no bolo nacional, na receita global, era de 22% e hoje está reduzido a 12%. Fazendo essa reforma fiscal, administrativa e tributária iremos simplificar. Hoje, tem empresas que gastam do seu orçamento 3% a 8% só para montar a máquina para recolher os impostos. NORDESTE: Um aspecto que deverá chamar atenção nesse ano eleitoral é o destino econômico do Brasil. O que o senhor tem em mente para conter a inflação, manter a empregabilidade nos patamares que o Brasil precisa e dar rumo certo ao país? Pastor Everaldo: A inflação no Brasil é provocada pelo governo, porque

No meu governo jamais vou criar uma estatal. Eu vou passar tudo para iniciativa privada. Quando eu fizer isso, o governo para de tirar dinheiro do Tesouro, que é para servir à saúde e educação” ele gasta mais do que arrecada. No semestre passado, houve um déficit primário, que quer dizer que naquele mês o governo gastou mais do que arrecadou. Com isso, o governo tem que ir ao mercado e captar recursos a 11% (que é a taxa Celic hoje) e o mais assustador e deprimente é que o governo pega dinheiro desses recursos no mercado, vai para o tesouro, repassa para o BNDES e empresta a juros subsidiados e se torna acio-


De uma empresa pujante, de uma empresa que é orgulho nacional, hoje está aí em situação deficitária, com dívidas econômicas e ainda foco de corrupção, com denúncias todos os dias nos jornais. Nós vamos fazer tudo que for possível para recuperar a Petrobrás. NORDESTE: E Pasadena? Como trataria o assunto se assumisse em 1º de janeiro a Presidência? Pastor Everaldo: Nós vamos aplicar a justiça para aqueles que infringiram a lei e que fizeram depredação do patrimônio público. A Justiça fará as devidas correções. Tem que ser. Quem cometeu o erro fraudulento tem que ir pra cadeia.

Hoje temos um governo que suga o suor do trabalhador com carga tributária ” nista sócio de muitas empresas com juro reduzido. Isso provoca inflação. NORDESTE: Quais empresas o senhor pretende privatizar? Pastor Everaldo: Todas as empresas que forem possíveis. Eu cito o exemplo sempre da BR distribuidora. Para que o governo ter posto de gasolina? Para que ter usina de álcool? Para que ter uma Infraero deficitária? Ano passado a Infraero teve um rombo de quase R$ 2 milhões e o governo agora está propondo criar uma nova estatal para enxugar e deixar as coisas podres na outra. No meu governo, jamais vou criar uma estatal. Eu vou passar tudo para a iniciativa privada. Quando eu fizer isso, o governo para de tirar dinheiro do Tesouro, que é para servir à saúde e educação, para

de dar dinheiro à iniciativa privada nos focos de corrupção. O que causa a corrupção no país é a possibilidade de um servidor público ter recurso para negociar. NORDESTE: Sobre a taxa Celic, como agiria se estivesse na Presidência da República hoje? E como o senhor projeta o Banco Central? Pastor Everaldo: No mundo não existe Banco Central totalmente independente. O meu modelo de instituição seria à la Henrique Meireles, que é um banco com uma certa autonomia. E eu defendo sempre o livre mercado. O Banco Central é o guardião da moeda, então à medida que o governo para de gastar mais do que arrecada, ele não precisa tomar dinheiro no mercado, e aí a taxa Celic vai abaixando automaticamente, porque à medida que você está necessitando, você precisa de mais, você vai oferecendo vantagens para o investidor. NORDESTE: Qual o destino da Petrobras? O senhor pretende privatizá-la? Pastor Everaldo: A Petrobras é um patrimônio nacional que, lamentavelmente, esse governo dilapidou.

NORDESTE: Vemos hoje um movimento político forte, ensejado também pelos movimentos sociais, de rejeição ao conservadorismo. O senhor é tido como um candidato conservador. Como pretende lidar com essa imagem para impulsionar sua candidatura? Pastor Everaldo: Eu não vejo dessa forma. Graças a Deus eu estou em um país democrático, onde tenho a liberdade de defender aquilo que eu acredito. Acho que democracia é isso. Cada um defende seu ponto de vista, com liberdade, respeitando sempre o seu próximo, respeitando o direito do outro. NORDESTE: Em relação ao aborto, a legalização da maconha e o casamento gay, como o senhor se posiciona? Pastor Everaldo: Sou a favor da vida do ser humano desde sua concepção. Sobre drogas, sou contra. Já chega a droga oficial, autorizada, que é o álcool. Você chega na delegacia de dez da noite até às duas da manhã, a maioria dos índices de registro é consequência do álcool. Então, não conte comigo para legalizar a maconha ou qualquer tipo de droga. Sou a favor do casamento entre homem e mulher. A perpetuação da espécie depende do casamento heterossexual. Respeito todas as pessoas e sempre


digo que a pessoa mais democrática é Deus que deu o livre arbítrio para cada um fazer o que quer da sua vida. NORDESTE: A pergunta inevitável: o senhor é candidato dos evangélicos? Pastor Everaldo: Eu sou candidato do Partido Social Cristão. Sou candidato de todos os brasileiros, para todos os brasileiros. NORDESTE: O Brasil é um país cujo catolicismo tem forte expressão. Como encara essa realidade? Vai dialogar com os católicos para atraí-los para o seu projeto? Pastor Everaldo: Como tenho feito dentro do partido. O presidente do partido, Vitor Nósseis é católico ortodoxo, fundador da sigla. O primeiro vice-presidente sou eu, evangélico. O segundo vice-presidente é Marcondes Gadelha, católico. Terceiro vice-presidente, Sérgio Bueno, também fundador do partido, é espírita. A legenda é assim, com princípios cristãos. O meu vice é um católico e nós somos irmãos e queremos o bem do Brasil. Vamos trabalhar para que todo brasileiro, independente da sua fé ou não fé, tenha condições de segurança e de saúde digna nesse país. NORDESTE: O senhor terá um pouco mais de um minuto na televisão para a propaganda eleitoral, enquanto o PT, por exemplo, terá 12 minutos. Como pretende administrar essa desvantagem? Pastor Everaldo: Existe um princípio cristão que eu sempre aplico. Quando Jesus pregou na região da Galiléia, no final do dia, tinham 5 mil homens. Os seus discípulos falaram: “senhor, vamos embora, o povo não tem o que comer”, então o André falou: “mestre, temos cinco pães e dois peixes”. Jesus mandou todos se organizarem em grupos de 50 e de 100 e mandou os discípulos distribuírem os pães e peixes. Comeram todos e ainda sobraram 12 cestos. Quais são os princípios que vemos aí? O primeiro princípio é que Jesus, filho de Deus, nunca trabalhou sozinho, Fotos: Divulgação

mas sempre em equipe. O segundo é que era uma pessoa organizada. A nossa bandeira diz ordem e progresso, eu digo organização e sucesso. O terceiro princípio é o de que ele não olhou para o que não tinha. O que tinha? Cinco pães e dois peixes. Então foi com isso que ele alimentou a multidão. Se são 70 segundos que eu tenho que trabalhar, é com isso que eu vou, sem problema. Eu não olho o que eu não tenho, eu olho o que eu tenho. NORDESTE: O Nordeste certamente terá um papel importante nas eleições deste ano. Essa região, ao longo do tempo, tem ficado à margem dos grandes investimentos. Qual a leitura que o senhor faz da região e o que o pretende adotar como linha básica? Pastor Everaldo: O Nordeste é muito importante. Quando fomos escolher o candidato a vice, analisamos o contexto nacional e chegamos a conclusão de que teria de ser um nordestino. Porque o Nordeste tem contribuído de maneira espetacular para o progresso do Brasil, inclusive com cérebros, personagens da política brasileira, da cultura brasileira, enfim, de vários setores do Brasil. NORDESTE: O senhor acha que esse potencial tem sido aproveitado? Pastor Everaldo: Na época da eleição usam o Nordeste e prometem fazer e fazer, mas depois não cuidam.

Eu acredito que sou a alternativa a esses últimos 20 anos, porque coloco claramente as nossas propostas para a população brasileira, com objetividade, clareza e transparência” Veja o que acontece com o sal de Mossoró, ele vai para o Sudeste ser beneficiado e depois volta para o Nordeste. Isso é inadmissível. A gente precisa criar condições para que haja obras estruturantes nesta região. A maior demonstração de carinho e atenção com o Nordeste foi a nossa escolha a vice. Um homem preparado intelectualmente e jovem, com disposição de fazer as coisas. Leonardo Gadelha é um jovem com talento para dar à sua região e ao Brasil. Escolhemos o Leonardo, para representar a atenção que vamos dar ao Nordeste.


Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

A disputa entre a comoção e a realidade

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AGOSTO / 2014

Em Pernambuco, terra natal do ex candidato a presidente Eduardo Campos, a disputa para o Governo e Senado Federal tende a apresentar valores inusitados sobre o legado do ex-presidente do PSB porque deles dependem, sobretudo, o candidato Paulo Câmara. Nos primeiros dias de horário eleitoral, o socialista indicado por Eduardo passou o tempo inteiro realçando a história e indicação para sua campanha, da mesma forma que aconteceu com Fernando Bezerra Coelho no Senado, atraindo até a viúva Renata. Ocorre que a coligação formada por Armando Monteiro e João Paulo também recorreu à dosagem de “reverenciamento” quando assumiram no horário eleitoral relação de respeito e admiração

a Eduardo, tanto que exibiram fotos ao lado do socialista, mas ponderando que o futuro de Pernambuco estará no mesmo tom de desejo e compromisso do ex-governador. O uso de imagens pela oposição levou o Jurídico da Frente Popular a ingressar com ato proibitivo, mesmo com acenos do Tribunal para acatamento em parte dos vídeos. Em síntese, a comoção pela morte de Eduardo faz o candidato Paulo Câmara buscar a primazia na proximidade do legado para fazê-lo crescer e vencer a disputa, enquanto no contraponto Armando Monteiro estabelece compromisso de expandir as conquistas do ex-governador para manter-se na liderança da intenção de votos do eleitorado.

FORA DE JOÃO PESSOA

SHOPPING DE ROSCA

O conglomerado empresarial Moura Dobeaux, uma das principais referências da construção civil do Nordeste, decidiu se afastar dos negócios a começar por João Pessoa, capital da Paraíba, temendo o futuro conjuntural do estado em face dos rumos políticos. Para evitar conviver com problemas, reuniu alguns dos empresários do setor e comunicou a decisão para implementação imediata.

A propósito de João Pessoa, o grupo Holanda com atividades desde 1975 na capital paraibana, tem procurado por todos os meios conseguir liberação da Prefeitura de João Pessoa para construir novo Shopping na Zona Sul da cidade, onde já se projeta a implantação em breve do Mangabeira Shopping, mas ainda encontra dificuldade para essa pretensão. Segundo os dirigentes, desde os anos 2000 que eles dispõem de área e de condições para a implementação e até agora não conseguem a liberação.


De olho no Nordeste O tucano Aécio Neves resolveu focar no Nordeste depois de estabelecer a prioridade nos primeiros dias de campanha no Sudeste, em especial em São Paulo. Ele tem andado com o candidato ao Governo da Paraíba, Cássio Cunha Lima, e outros aliados na disputa estadual prometendo que vai concluir as principais obras da região, em especial a Transposição do Rio Francisco. Aécio tomou ainda a decisão de acatar os programas sociais adotados pelo Governo Lula/Dilma, bem como projetos de desenvolvimento social, e até mesmo ampliá-los. Desde a segunda quinzena de agosto, depois da morte de Eduardo Campos, que ele tem priorizado visitas e debates no Nordeste.

A posição do PV na alimentação O candidato à Presidência da República, Eduardo Jorge (PV), com quem estivemos recentemente em São Paulo, voltou a defender a alimentação vegetariana como uma escolha ética, saudável e sustentável para a população e a implementação de políticas de incentivo à alimentação vegetariana, caso seja eleito. Ele assinou um termo de compromisso com a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). Conforme explicou, a carta sugere que sejam feitas campanhas educativas sobre os benefícios do vegetarianismo, estímulo à oferta de opções vegetarianas em estabelecimentos públicos e privados, implantação de benefícios fiscais e incentivo para o desenvolvimento.

Descendo para subir? O ex-governador de Pernambuco e senador Jarbas Vasconcelos percebeu cedo que a onda não era favorável para tentar a reeleição, por isso está disputando uma vaga para a Câmara dos Deputados ao lado do esquema de seu ex-inimigo Eduardo Campos. Na verdade, o talento do senador está voltado a bater em Lula e no Governo Dilma nesta campanha, com quem tem sérias divergências.

Fora da disputa

Petrobras e indústria naval

O que parecia algo difícil de acontecer terminou efetivado. O senador Cícero Lucena, relator de importantes matérias sobre resíduos sólidos, não vai disputar a reeleição para o Senado, depois que seu partido, o PSDB, decidiu compor com o PTB e assim tirando o parlamentar definitivamente do processo. Como consequência, ele anuncia a saída definitiva da vida pública passando não mais a se envolver com a atividade política, segundo declaração recente. O candidato ao Governo na Paraíba é um aliado, além de ser do PSDB, senador Cássio Cunha Lima.

Alvo de denúncias e desestabilização, a Petrobras acaba de ser focada por um prisma favorável. É que os investimentos da empresa foram fundamentais para a retomada da indústria naval brasileira ao longo dos últimos 14 anos. Desde 2000, o setor apresenta crescimento de 19,5% ao ano. O dado faz parte do estudo “Ressurgimento da Indústria Naval no Brasil (2000 – 2013)”, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e apresentado esta semana na Marintec South America – 11ª Navalshore, no Rio de Janeiro.

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Aos poucos, os vários estados do país consolidam homenagem à memória do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Na Bahia, por exemplo, o governador Jaques Wagner inaugurou via marginal que liga a Avenida Luís Eduardo Magalhães ao Imbuí e o segundo viaduto do Complexo Viário Imbuí - Narandiba, com nome do líder socialista. O viaduto tem duas faixas no mesmo sentido e 380 metros de extensão e já está sinalizado, iluminado e foi liberado para o tráfego.

AGOSTO / 2014

Homenagem a Eduardo


Capa

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AGOSTO / 2014

A

reconfiguração do cenário eleitoral depois da morte do candidato à Presidência da República Eduardo Campos causou um rebuliço no processo eleitoral. Até três semanas atrás ninguém imaginava que o socialista iria deixar a campanha e que Marina Silva assumiria a cabeça de chapa para dar continuidade ao projeto presidencial. O fatídico acidente aéreo que tirou a vida do ex-governador de Pernambuco, no dia 13 deste mês, deixou o cenário tumultuado. Para o cientista político pernambucano, Adriano Oliveira, é possível que, passado o calor da emoção com a morte de Campos, e agora com o guia eleitoral

na casa dos brasileiros, o cenário se estabilize. “É possível que a presidente Dilma Rousseff (PT) obtenha frágil conforto. O tempo de TV também a ajudará. Além disto, Dilma tem alto percentual de votos no Nordeste e nas classes C e D”, analisa. Ele ainda acredita que a petista tem condições de vencer no primeiro turno das eleições. Mas pondera: “a incerteza permanece”. Por isto, prefere aguardar meados de setembro para identificar qual será o rumo que a eleição irá tomar. O primeiro impacto do que pode vir pela frente foi sentido na pesquisa de intenções de voto divulgada pelo Datafolha logo após a tragédia. Como era de se esperar, Marina deu um salto, indo

Adriano Oliveira


Eleição GANHA

CONTORNOS

NOVOS

Substituição de Eduardo por Marina muda cenário político. Candidata começa a enfrentar problemas, como a falta de informações no TSE sobre gastos com avião acidentado

Foto: Divulgação

contra 36% dos rivais, o que indicava uma incerteza sobre a necessidade de uma nova rodada. Frederico Cesarino está convicto disso. “Certamente haverá um segundo turno e, caso não ocorra algum escândalo ou outro fator extraordinário, ele será entre Marina e Dilma”. Frederico é professor da Universidade Luterana do Brasil e pesquisador da Universidade Federal do Amazonas. Segundo ele, neste momento, Dilma e Aécio deveriam encontrar o rumo certo para a definição de suas estratégias de campanha. “A entrada de Marina afeta diretamente os demais, uma vez que houve a migração dos votos brancos, nulos e indecisos para a nova candidata”.

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José Nivaldo

para 21% e ultrapassando Aécio Neves (PSDB), que pontuou 20%. Dilma se manteve à frente com 36%. “Não acho que seja apenas um momento, uma nuvem passageira. Marina tem uma base sólida de votos, chegou perto de 30% em algumas pesquisas quando ainda era candidata lá atrás. Nessa pesquisa, ela recupera de imediato os votos que teve nas últimas amostragens onde ainda aparecia na disputa”, considera o marqueteiro político José Nivaldo. A pesquisa Datafolha também mostra que se a eleição fosse hoje, haveria segundo turno: Dilma teria 36% contra 46% da soma dos demais candidatos. Na amostragem anterior, ela tinha 36%

AGOSTO / 2014

Por Rivânia Queiroz rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br


Redesenho político

Por enquanto, os especialistas estão divididos sobre um segundo turno. Enquanto alguns acreditam que Marina pode avançar mais e provocar outra rodada com Dilma, graças à comoção com a perda do líder pernambucano, outros acham que a ex-senadora não tem tanto fôlego como se imagina. “Se ela quiser ameaçar o trono de Dilma, ela precisa dialogar. É possível ela fazer isto?”, questiona Adriano Oliveira. Dentro do cenário apontado na pesquisa, Marina está em situação de empate

técnico com Aécio Neves, numericamente à frente do tucano: 21% a 20%, dentro da margem de erro, de dois pontos percentuais. Assim, vai se desenhando um novo cenário político. “Marina será protagonista nesta eleição. O que não garante a sua participação no segundo turno porque para isto entram em cena três componentes importantes: tempo de propaganda, bases de apoio e estrutura de campanha”, observa José Nivaldo. Para a historiadora e pesquisadora da

Fundação Getúlio Vargas, Marly da Silva Motta, a tragédia envolvendo Eduardo pode ser compensada através do voto. “Pode suscitar numa transformação. Marina apareceria como a candidata que viria lutar pelos ideais de Campos. (Sobre) os votos em branco e nulos, que chegam a um terço do eleitorado, essas pessoas têm mais chances de optar por ela do que teriam de optar por Eduardo. Ele representava uma terceira via, mas ela preenche melhor esse espaço”, considera em entrevista ao jornal O Globo.

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O eleitorado do Nordeste

Frederico Cesarino

Com a morte de Campos, a disputa no Nordeste terá um forte impacto, já que a região tem os maiores percentuais de intenção de votos divididos entre Dilma e Eduardo. No início do mês, o Ibope mostrou que a presidente tinha 51%, e o pernambucano, 12%, no Nordeste. “Dilma tem seu eleitorado cativo. No Norte e Nordeste ela é unanimidade, muito por conta da herança recebida por Lula. De fato, devemos admitir que o governo do PT, apesar de suas falhas, beneficiou muito os mais pobres e permitiu ascensão social e econômica de uma grande camada da população”, considera o professor Frederico Cesarino. Por isso, o PT espera que boa parte do eleitorado do ex-governador de Pernambuco migre para a candidatura da presidente. E não para Marina, como seria natural. A mudança pode ocorrer

principalmente entre os eleitores de baixo poder aquisitivo, beneficiados por programas sociais, como o Bolsa Família. “Eduardo não tinha um eleitorado forte no Nordeste, e sim concentrado em Pernambuco onde foi governador. Ele representava uma mudança, uma liderança jovem, em ascensão. E era um homem bonito, mostrava ter uma família unida, era inteligente e erudito. Mas devemos lembrar que em 1989 outro candidato nordestino, jovem, esportista, bonito e com discurso de mudanças foi eleito presidente e levou o Brasil ao caos”, comparou o professor fazendo referência ao ex-presidente Collor de Melo. Na sua avaliação, Marina ganhará votos porque os demais candidatos possuem grande parcela de rejeição. “Existem os anti-Dilma e os anti-Aécio. Esses votarão em Marina”, opina.


Condição desigual O horário político eleitoral começou e nele Dilma leva vantagem, deixando Aécio Neves e Marina Silva em uma condição muito desigual. Com uma coligação de nove partidos, Dilma tem 11 minutos e 24 segundos para expor suas propostas, quase metade de todo o tempo do programa. Os adversários Aécio e Marina somam, juntos, 13 minutos e 36 segundos. A coligação de Aécio ficou com 4

minutos e 35 segundos e a do PSB, que agora tem a ex-senadora Marina Silva como cabeça de chapa, ficou com 2 minutos e 3 segundos. Os demais candidatos têm os seguintes tempos: Pastor Everaldo (PSC), 1 min e 10 s; Eduardo Jorge (PV), 1 min e 04 s; Luciana Genro (Psol), 51 s; Eymael (PSDC), 45 s; Levy Fidelix (PRTB), 47 s; Zé Maria (PSTU), 45 s; Mauro Iasi (PCB), 45 s; e Rui Pimenta (PCO), 45s.

Caso seja necessária a realização de um segundo turno, o horário eleitoral será retomado no dia 11 de outubro, terminando no dia 24 do mesmo mês, a dois dias da votação em todo o país. Desta vez, os dois candidatos da disputa vão dividir em tempos iguais os blocos de 20 minutos na TV e no rádio. Quem abre é aquele mais votado no primeiro turno, alternando nos programas posteriores.

Interesses difusos de validade no PSB e cujo plano é tirar do papel seu próprio partido preocupa os socialistas. Nos bastidores, os comentários são de que a sigla vai se esforçar para eleger alguém que está com a saída programada. “Marina foi escolhida candidata unicamente pelo fato de ela representar a única chance do PSB em ganhar esta eleição. Mas, de fato, ela possui alguma rejeição interna no partido por conta de seu vínculo à Rede. Mas acredito que, uma vez eleita, ela manterá a fidelidade partidária até mesmo por conta de situações que envolvem a legislação eleitoral”, afirma o professor Frederico Cesarino. Para evitar arestas,

a ex-senadora está negociando e deve assumir compromissos com o PSB. Os socialistas defendem alguns acordos com o PT e têm alianças em curso em alguns estados, sem falar no programa de governo que não aceitam mudanças de última hora. No entanto, Marina já avisou que não sobe em qualquer palanque. A ex-senadora terá de ter muita habilidade. Ela precisará juntar interesses difusos entre alas distintas nos partidos que integram sua coligação (PSB, PHS, PRP, PPS, PPL, PSL) e aqueles que ainda tentam instituir a Rede, além do que tem de ser um nome de confiança entre os socialistas.

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A decisão do PSB por Marina não é algo fácil de digerir. É sabido que Campos era quem bancava a presença da ex-senadora no partido, com o qual ela tem divergências e onde está de passagem. Marina se filiou ao PSB porque não obteve o registro do seu partido, a Rede Sustentabilidade, a tempo de concorrer nestas eleições. “Agora, trata-se de um casamento de conveniência. Ambas as partes têm que ceder. Pode não ser uma convivência fácil, mas será necessária. A escolha de Beto Albuquerque como vice facilita essa interlocução”, acredita o pernambucano José Nivaldo. A ideia de um esforço partidário para uma candidata que tem prazo

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Marina Silva e seu vice Beto Albuquerque

Foto: Divulgação


Guia explora imagem A propaganda eleitoral nas emissoras de rádio e TV começou a ser exibida no dia 19 deste mês. O que se viu foi uma exploração da imagem de Eduardo. Vários partidos e coligações usaram seu tempo para homenagens. Uns queriam associar a imagem do homem sério e líder popular, outros, ratificar o compromisso do socialista. O PSB abriu sua propaganda falando que “o Brasil perdeu Eduardo Campos,

um candidato a presidente em quem os brasileiros queriam, mas não puderam votar”. A mensagem dizia ainda que “Eduardo se foi, mas seus valores e ideais ficaram. Dentre eles, a esperança para seguir em frente”, destacou o programa. O PT de Dilma não ficou de fora. O guia da candidata à reeleição prestou a homenagem, não através da fala de Dilma e sim com a de Lula. Dizendo

que havia acertado com Dilma encerrar o programa de estreia com uma homenagem ao pernambucano. Lula colocou que o Brasil inteiro estava traumatizado com a perda de Eduardo e que ele “foi um grande companheiro”. Disse ainda que ele jamais ia desistir do Brasil, como Eduardo falou na sua última entrevista. Por fim, ressaltou que tinha com ele uma relação de pai para filho.

Preocupação para Marina

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Por Walter Santos | ws@revistanordeste.com.br

A campanha de Marina Silva à Presidência da República não consegue se livrar de um fantasma que a persegue para explicar, convincentemente, como é que seu partido, o ex-presidenciável Eduardo Campos e ela própria utilizaram-se de um avião – o mesmo que caiu e ocasionou a morte do ex-presidente do PSB –, sem que haja registro nas contas do Tribunal Superior Eleitoral, bem como sobre a propriedade e/ou tutela da aeronave de campanha. O problema pode inviabilizar legalmente sua candidatura, caso não apresente documentos comprobatórios da negociação legal. Desde quando a questão estourou levando a Polícia Federal a proceder investigação, a candidata da Rede silencia e transfere para o vice, deputado federal Beto Albuquerque, a incumbência de se defender, embora o companheiro de chapa procure mais atacar a PF do que responder as origens das movimentações. Toda a imprensa nacional reproduziu a reação de Beto Albuquerque. Mesmo assim, ele assegura que o partido prestará informações a todos sobre as condições daquele contrato. Na prática, o PSB está numa sinuca de bico, uma vez que a aeronave era uma espécie de avião fantasma, sem dono declarado; se o imbróglio persistir, o PSB pode ter sua candidatura cassada. O partido continua encontrando dificuldades para explicar a

Avião utilizado por Eduardo Campos e sua equipe

quem pertencia o avião que vitimou Eduardo Campos e outras seis pessoas, na recente tragédia aérea em Santos. Os antigos proprietários, do grupo AF Andrade, alegam ter vendido a aeronave a pessoas próximas a Eduardo Campos. O empresário que teria intermediado a transação, o pernambucano Aldo Guedes, sócio de Campos numa fazenda, nega ter adquirido a aeronave. O problema é que, tanto em um caso como em outro, o avião não poderia ter sido cedido à campanha, por não pertencer a uma empresa de táxi aéreo. E ninguém se dispõe a assumir a propriedade, uma vez que teria que arcar com os custos de indenizações às vítimas dos acidentes. É uma situação tão delicada que Marina Silva, que fez campanha em São Paulo, se negou a falar sobre o caso.

A NOTA DO PSB Até a primeira quinzena de agosto, somente uma nota reproduzia a palavra oficial do Partido Socialista, que reproduzimos na íntegra: Ao ser questionada sobre notícia publicada hoje pela Folha de S.Paulo de que a Polícia Federal vai investigar se a aeronave do acidente que matou Eduardo Campos foi comprada com dinheiro de caixa 2 do PSB, Marina deixou que seu vice, Beto Albuquerque, respondesse à pergunta. “Continuamos querendo explicações das causas do acidente, como ele caiu e porque a caixa-preta não tinha gravado [a conversa no avião]. Não sei o que a Polícia Federal está falando, mas se ela está falando, ela precisa apurar antes de falar. O partido prestará informações a todos sobre as condições daquele contrato”, falou ele, acrescentando que o PSB deve se pronunciar durante a semana sobre o assunto. Foto: Divulgação



Política

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Dilma se mantém na liderança Apesar das reviravoltas do cenário eleitoral no último mês, a presidente permanece com a mesma pontuação na pesquisa de intenção de votos e a aprovação ao seu governo teve alta de seis pontos entre julho e agosto


Foto: Ichira Guerra | Divulgação

Bahia, Dilma Roussef e Lula gravaram imagens para a propaganda eleitoral da presidente, almoçaram com 200 operários. Prova do apelo popular do ex-presidente petista, um grupo de trabalhadores que ficou afastado do local de visita chegou a gritar o nome de Lula em Cabrobró, município pernambucano. Neste momento, Lula saiu de cena e quem acenou foi a presidente Dilma. O Nordeste passa a ter foco especial. As obras de transposição do rio São Francisco preveem 477 quilômetros de canais passando por quatro estados e é considerada a maior obra de infraestrutura hídrica do país. Durante a visita às obras em Pernambuco, Dilma Roussef destacou que, ao todo, as obras adicionais de segurança hídrica para a região Nordeste têm investimentos totais de R$ 32 bilhões e beneficiam 12 milhões de pessoas em mais de 390 municípios da região.

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pesquisas. “A presidenta Dilma permanece sólida em primeiro lugar na preferência dos brasileiros”, afirma nota no site da campanha. O vice-presidente do PT, Deputado José Guimarães, considerou o resultado da pesquisa positivo, dada a campanha da oposição contra Dilma Roussef, a qual ele considera aberta e ostensiva. “Estamos de bem com a vida com a campanha da Dilma”, garantiu. Para disparar na disputa, o partido confia no extenso tempo de TV da coligação (12 minutos), que possibilitará expor os feitos da presidente Dilma, as grandes obras do seu governo e os avanços sociais conquistados por sua gestão a partir da herança da administração Lula, seu padrinho político. O apoio do ex-presidente, aliás, é um dos trunfos da candidata. Em visita às obras de transposição do rio São Francisco durante agenda de campanha em Pernambuco e na

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entrada de Marina Silva na corrida eleitoral para a Presidência da República mudou, inegavelmente, a temperatura da disputa. Até a primeira quinzena de agosto, a eleição ainda tomava forma e era notadamente morna. A partir do anúncio da nova candidata do PSB, os ânimos se acirraram e a disputa ganhou corpo. O esforço das coordenações de campanhas em dar fôlego à imagem dos seus candidatos protagoniza agora a cena eleitoral. O Nordeste, mais do que nunca, tornou-se alvo dos candidatos, já que, se Eduardo tinha na região seu maior foco de força eleitoral, Marina Silva ultrapassa o pernambucano no percentual do eleitorado nordestino. Na agenda para a região, Dilma foi a Pernambuco ao lado de Lula e Aécio Neves esteve no Rio Grande do Norte, Paraíba e Salvador. Embora o PT mantenha a liderança na disputa, os desdobramentos da candidatura da ambientalista Marina Silva e as mudanças a serem feitas no andamento da campanha já estão sendo debatidos. A pesquisa do Datafolha divulgada no último dia 18 de agosto aponta o crescimento de 12 pontos percentuais de Marina Silva em relação a Eduardo Campos. Apesar do crescimento da candidatura pessebista, a presidente Dilma Roussef continua com seus 36% de intenções de voto, tal como aconteceu nos levantamentos anteriores. A mesma pesquisa aponta que a aprovação ao governo de Dilma também aumentou. Na pesquisa Datafolha anterior, divulgada no dia 17 de julho, o índice de aprovação do governo era de 32%, já no levantamento de agosto, esse número passou para 38%. A pesquisa mostra ainda que o índice de pessoas que consideram o governo ruim ou péssimo é de 23% (antes era 29%) e, dos eleitores ouvidos, 38% consideram a administração de Dilma regular (mesmo percentual anterior). Após a divulgação do Datafolha, os petistas demonstraram satisfação com os estáveis 36% alcançados nas


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Novo cenário, nova estratégia Com o novo cenário, o cientista político Alexandre Gouveia, acredita que a principal estratégia da campanha de Dilma será manter sua linha de programa e concentrar toda sua comunicação nas realizações e principalmente na diminuição da pobreza e inclusão social dos seus programas e políticas públicas. Embora, assim como o PSDB, o Partido dos Trabalhadores evite sinalizar apreensão em relação aos novos rumos da disputa eleitoral, petistas encaram a necessidade de avaliar o “efeito Marina” nas eleições. Em uma simulação de segundo turno, a pesquisa Datafolha avaliou que, em um cenário entre Marina Silva e Dilma Roussef, a candidata do PSB estaria numericamente quatro pontos à frente da presidente, embora empatadas tecnicamente devido a margem de erro de dois pontos percentuais. Conterrâneo e amigo da ex-ministra do Meio Ambiente, o senador Jorge Viana (PT-AC) disse que Marina Silva vai impor um novo debate na campanha eleitoral. “Eu diria que a entrada dela, no mínimo, acende a luz vermelha no PSDB e a luz amarela no PT”, afirmou

em entrevista coletiva. No último dia 20 de agosto, a coordenação de campanha da presidente Dilma Roussef se reuniu para analisar como o PT deve enfrentar o crescimento de Marina Silva. As análises foram feitas com a participação de Lula, da própria Dilma, do ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, do presidente do PT, Rui Falcão, entre outros. A Revista NORDESTE apurou que há uma orientação da direção nacional do partido para que os coordenadores regionais da campanha petista não se posicionem acerca desses acontecimentos e toquem a campanha normalmente. Por isso, o tom a ser adotado quanto à Marina Silva ainda está sob análise, já que há o temor de que atacá-la possa fazer crescer ainda mais seu nome. Para o cientista político Alexandre Gouveia, qualquer ataque ou embate direto será o último recurso da cúpula petista. “Qualquer ataque à candidata Marina Silva neste momento pode ser uma estratégia equivocada, visto que Marina está legitimada pelo grupo de Eduardo Campos e traz consigo

a responsabilidade de representar a candidatura que foi interrompida por uma tragédia que obteve uma grande exposição e resultou em uma comoção nacional de alto impacto nas eleições”, explica Alexandre, que é parceiro da Elegie - plataforma web e mobile para gerenciamento de campanha eleitoral e relacionamento com eleitores.

Alexandre Gouveia - Elegie

Foto: Divulgação



Política

Aécio Neves com seu vice, Aloysio Nunes, no lançamento

Infraestrutura e competitividade

PLANO

NORDESTE

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Candidato do PSDB amplia propostas eleitorais para região e anuncia 44 ações com plano que abrange infraestrutura, competitividade, combate à pobreza, qualidade de vida, segurança pública, educação, entre outros

S

alvador foi a cidade escolhida pelo candidato à Presidência da República pela Coligação Muda Brasil, Aécio Neves, para apresentar o Plano Nordeste Forte, que tem como objetivo encontrar soluções de desenvolvimento econômico sustentável, reduzir desigualdades e promover a integração regional a partir de suas próprias vocações e potencialidades. Em 44 ações, o plano é dividido em

sete eixos: infraestrutura e competitividade; semiárido; combate à pobreza; qualidade de vida; segurança pública; educação, ciência e tecnologia; e juventude. Chamado de “Nordeste Forte” o plano ressalta a necessidade de planejamento para todas as ações desenvolvidas – em curto, médio e longo prazo – o aumento de recursos destinados para a região, além de seu desenvolvimento econômico.

Na área de infraestrutura, o Nordeste Forte conta com oito ações principais, entre elas a conclusão da Ferrovia Transnordestina, a expansão da malha ferroviária da região e a conclusão da Ferrovia Oeste-Leste, melhorias e duplicação de BRs em toda a região, além de investimentos em energia e na infraestrutura turística.

Semiárido Neste eixo, o plano se compromete com a elevação da renda per capita, do IDEB e do IDH da região semiárida em uma década. As seis ações previstas incluem a implantação do Programa Decenal de Desenvolvimento do Semiárido, em parceria com os Estados e com elaboração de orçamentos plurianuais. Também há o compromisso com a conclusão da Transposição do São Francisco, além da revitalização do Velho Chico e a recuperação de sua foz. Integrar mananciais com ampliações por poços e cisternas, revitalizar pequenas barragens e investir no financiamento de projetos para captação e armazenamento da água das chuvas também são citados.


Combate à pobreza Aécio se compromete com a garantia da renda per capita mínima de U$ 1,25 por dia para as famílias nordestinas, conforme as metas do milênio, mantendo o Bolsa Família e o transformando em política de Estado e combatendo outras precariedades das famílias de mais baixa renda. Outro objetivo da candidatura de Aécio Neves é fazer com que a renda média domiciliar per capita nordestina chegue ao menos em 70% da média nacional em dez anos.

Educação, ciência e tecnologia

Haverá a redução do percentual de pessoas sem instrução, incentivo à ampliação do percentual de professores com formação superior e o transporte escolar merecerá atenção especial do governo Aécio Neves. Um programa de ciência contará com núcleos de ciência e tecnologia guiando soluções tecnológicas associadas às vocações regionais de cada microrregião. As Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) serão potencializadas, seguindo as vocações locais e promovendo oportunidades de investimentos públicos e privados em infraestrutura, capital intelectual, ciência, tecnologia e inovação.

Juventude Um dos compromissos de Aécio é com a ampliação de oportunidades de educação e emprego para os jovens nordestinos. Será implantado o Programa Poupança Jovem Brasil, no qual o estudante do ensino médio recebe em uma conta o valor de R$ 1 mil a cada ano do ensino médio, podendo sacar o valor ao final dos três anos com o objetivo de ampliar as oportunidades no ensino superior ou no início da carreira profissional, a exemplo do programa criado por Aécio durante seu governo em Minas Gerais. O Prouni, o Fies e o Ciência Sem Fronteiras também serão mantidos e ampliados, com especial atenção aos estados do Nordeste.

Qualidade de vida

Reduzir em 30% as taxas de homicídio no Nordeste é o compromisso de Aécio com os nordestinos para os próximos anos na área de segurança pública. Para isso, o déficit do sistema prisional será combatido de forma especial na região, que contará com investimentos acima da média nacional. A Política Nacional de Segurança Pública a ser desenvolvida pelo já anunciado Ministério da Segurança Pública e Justiça terá um braço específico na região, que terá um Centro Regional de Inteligência.

Foto: Divulgação

A curto prazo, o mais afetado politicamente pela morte de Eduardo Campos é, sem dúvida, Aécio Neves. Em pesquisa do Datafolha, divulgada em meados de agosto, Marina Silva já ultrapassou numericamente o candidato do PSDB e põe em risco sua presença no segundo turno das eleições. Aécio, em entrevista coletiva no seu primeiro ato de campanha após o sepultamento do líder pessebista, declarou tranquilidade em relação à pesquisa. “Eu vejo certo açodamento de se prospectar cenários futuros. (...) Tenho muita confiança de que estaremos no segundo turno. Estaremos prontos para vencer as eleições”, declarou. Sobre a candidatura de Marina, o presidenciável admitiu que gera um impacto nas eleições mas que, ainda assim, não representa uma mudança essencial. Mas, o discurso de tranquilidade passa longe das ações do partido, que na noite do último dia 20 de agosto fez uma reunião reservada de emergência em São Paulo. O temor do PSDB é que Aécio Neves deixe de ser o destinatário do voto de oposição nas grandes e médias cidades. Em 2010, Marina

venceu em Belo Horizonte e Brasília. E chegou em segundo no Rio de Janeiro, em Salvador, Recife e Fortaleza. Para o cientista político Michel Zaidan, a alternativa do PSDB para conter o avanço de Marina Silva seria contrapor o obscurantismo ao moderno. “Marina é pentecostal e tem posições públicas sobre vários pontos de uma agenda do interesse das maiorias, além das questões dogmáticas do cristianismo reformado e fundamentalista”, explica Zaidan, que credita à trágica morte de Eduardo Campos a provável presença do PSB no segundo turno das eleições. O professor da Universidade Federal de Pernambuco pensa ainda que é possível o PSDB evitar a migração do eleitorado de Eduardo Campos para a presidente Dilma no Nordeste, a legenda teria de explorar os preconceitos contra o pobre, a mulher e o negro, comuns no imaginário político nordestino. Tarefa difícil para um partido com a tradição do PSDB, mas, em se tratando da política brasileira, discursos e práticas mostram-se cada vez mais volúveis.

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Segurança pública

Novas táticas

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Para melhorar os índices de mortalidade infantil e materna e a desnutrição, entre outros, o Programa Saúde da Família será universalizado no Nordeste. Os gastos com saúde na região serão ampliados, assim como os serviços de saneamento. As políticas para as mulheres serão reforçadas, o programa Minha Casa, Minha Vida ampliado e haverá uma reforma urbana das médias e grandes cidades, com foco na mobilidade.


Opinião

Analistas

A

parentemente, os analistas que se ocupam dos temas econômicos entre nós, não se distinguem pela objetividade, mas pelas crenças que cultivam e que insistem em apresentar como resultado de “suas ciências”. Simplificadamente poderíamos dividi-los em duas tribos principais. De um lado os que visivelmente são maioria nos grandes veículos de comunicação e que se creem neoliberais e, de outro, os que se afirmam heterodoxos, o que lhes permite uma ampla liberdade de contestação, praticamente sem fronteiras... Neoliberais são aqueles que se consideram “certinhos” e, fundamentalmente acreditam que há uma ordem “natural” na organização econômica da sociedade através de “mercados”. Ela pode ser “revelada” pela análise da ação dos agentes em resposta aos incentivos que aqueles lhe proporcionam. Caberia ao Estado apenas garantir o desimpedido funcionamento dos mercados (propriedade privada) e providenciar o fornecimento de bens públicos (segurança, justiça, valor da moeda etc.) que não podem ser eficientemente produzidos por ele. A combinação (mercados + Estado) levaria à combinação “ótima” do uso dos fatores de produção e à satisfação máxima dos agentes. “Evidentemente”, uma combinação que garantiria à sociedade manter sempre um nível natural do desemprego. A intervenção do Estado é, portanto, dispensável e, no limite, perturbadora Do outro lado, a tribo mais interessante e que se crê heterodoxa, inclui toda a sorte de contestadores

da existência daquela “ordem” liberal: keynesianos e marxistas em todas as suas infinitas matizes, neo-desenvolvimentistas, ecologistas, “políticos ambientais”, politicólogos, historiadores, geógrafos, niilistas, anarquistas e “tutti quanti”. Cada um com seu próprio diagnóstico de nossos problemas e, obviamente, com receitas infalíveis para resolvê-los, desde que lhes fosse dado ilimitado “poder” para implementá-las. Felizmente, nem sempre obtêm a parcela de poder desejado. Quando o tiveram, produziram os desastres do século Se de um lado é evidente que não existe ordem “natural” no universo econômico, do outro é também evidente que não é possível superar impossibilidades físicas - como distribuir o que não foi produzido, por exemplo -- com medidas que pareçam “politicamente corretas”. O fracasso do “poder” é sempre justificado pela falta de “mais poder”, até atingir o “poder absoluto”. O caminho mais custoso para enfrentar os problemas é o da ruptura com o sistema vigente e entregar-se a um ente “sobrenatural”, portador da santíssima trindade: a onipotência, a onipresença e a onisciência, o partido incontestável, como sugerem nas entrelinhas alguns dos nossos contestadores... Um exemplo daquela divisão é o respeito sacrossanto dos membros da primeira tribo à opinião das Agências de “ratings”. E o solene desprezo das demais tribos à ortodoxia das “notas”, cujo anúncio é ansiosamente esperado pelas rivais. Nem uma coisa, nem outra, mas é inútil ignorá-las, porque o “mercado” não as ignora...

Antonio Delfim Netto Professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento

De um lado os que visivelmente são maioria nos grandes veículos de comunicação e que se creem neoliberais e, de outro, os que se afirmam heterodoxos, o que lhes permite uma ampla liberdade de contestação, praticamente sem fronteiras...



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Política

A corrida por uma cadeira no Senado está acirrada. Muitos nomes já conhecidos do eleitorado brasileiro estão no páreo. Outros tentam ganhar visibilidade para atrair os votos em todos os estados. No Nordeste, se sobressaem candidatos como Fernando Collor e Heloisa Helena, de Alagoas, Geddel Vieira, na Bahia, e José Maranhão na Paraíba. Todos velhos conhecidos da política regional. A NORDESTE traz, nesta edição, um levantamento do quadro eleitoral Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br


ALAGOAS A disputa no Senado sofre efeitos do processo casado com a eleição para o governo estadual. Embora, de forma especial, nesse estado exista um caso isolado: o da ex-senadora Heloisa Helena, cujo partido PSOL não tem candidatura competitiva na sucessão estadual. Ela ainda sobrevive com o recall de sua atuação no Senado, anos atrás. Na disputa, o senador e ex-presidente da República, Fernando

Fernando Collor

Collor, aparece com 42% das intenções de votos contra 25% em favor da candidata do PSOL. Os demais concorrentes Omar (DEM), Oldemberg Paranhos (PRTB) e Elias Barros (PTC) têm projeção variando entre 2% e 1%. O senador Collor tem dobradinha com o candidato do PMDB, Renan Filho, que lidera as intenções de voto para o Governo do Estado, na disputa contra Benedito de Lira.

Heloisa Helena

BAHIA No estado de Jorge Amado e Gilberto Gil, o processo eleitoral casa as campanhas do governo estadual e Senado, numa dicotomia entre petistas e ex-carlistas (aliados do ex-senador ACM) com índices de preferência apontando os candidatos Paulo Souto, este na liderança das pesquisas, contra Rui Costa, em

situações de projeção e possibilidade de enfrentamento no segundo turno. O candidato ao Senado Geddel Vieira Lima (PMDB) tem despontado nas pesquisas de intenção de votos com 34% diante do candidato do governo, Otto Alencar (PSD), com apenas 17%. A ex-ministra Eliana Calmon (PSB) pontua 5%.

Geddel Vieira Lima

Otto Alencar

Tasso Jereissati

Mauro Filho Fotos: Divulgação

A disputa pelo governo estadual coloca Eunício Oliveira (PMDB) na liderança. Ele firmou aliança com o PSDB de Jereissati e está enfrentando o PT e PROS do governador Cid, que tem como candidato o petista Camilo Santana. É bom lembrar que na eleição passada, em 2010, Tasso foi derrotado.

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O empresário e ex-senador Tasso Jereissati mais uma vez aparece na disputa política. Antes, aliado, hoje um dos mais ferrenhos adversários dos irmãos Cid e Ciro Gomes, nas últimas aferições, aparece com 53% da preferência, contra 18% em favor do candidato Mauro Filho (PROS), nome indicado pelos irmãos Gomes.

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CEARÁ


MARANHÃO A sucessão na terra dos Sarney traz para o ano de 2014 uma situação “sui generis”: aponta o deputado federal e ex-presidente da Embratur, Flávio Dino, ameaçando o comando político da família no estado. Nas pesquisas para o Senado o seu candidato Roberto Rocha (PSB) está com 24% das intenções de voto. Em segundo lugar vem o ex-ministro do Turismo e ex-deputado federal, Gastão Vieira

Roberto Rocha

(PMDB), com 18,9% das intenções. O quadro mostra para a disputa senatorial números de confronto acirrado entre os dois principais candidatos, registrando Haroldo Saboia (PSOL) com 6,8%. Como é de conhecimento geral, a disputa de Flávio Dino se dá contra o senador Edison Lobão Filho representando a família Sarney, já que a governadora Roseana se manteve no cargo.

Gastão Vieira

PARAÍBA O processo eleitoral na terra de Augusto dos Anjos e Sivuca tem o ex-governador do estado, José Maranhão (PMDB), de volta à disputa. Até meados de agosto ele tinha 31,5% da preferência eleitoral, de acordo com pesquisas registradas no TSE. No segundo lugar aparece o ex-senador e

ex-deputado federal Wilson Santiago (PTB), com 16,7%. A novidade na disputa é a presença do executivo Lucélio Cartaxo, irmão do prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, criando cenário de aliança com o PSB do governador Ricardo Coutinho e aparecendo com 7% das intenções.

José Maranhão

Wilson Santiago

Lucélio Cartaxo

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PERNAMBUCO João Paulo

Fernando Bezerra

As últimas pesquisas de opinião no estado são anteriores à morte trágica do candidato a presidente Eduardo Campos, cuja comoção teve caráter inusitado, não se aferindo ainda o impacto deste evento no processo eleitoral do Senado. Mesmo assim, com base nas aferições, o candidato do PT João Paulo aparece com 43% das intenções de voto, contra

16% do seu principal concorrente, o ex-ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho (PSB). Os números para o Senado em Pernambuco se assemelham relativamente ao que se processa na disputa para o governo estadual, onde Armando Monteiro Neto (PTB) tem 47% da preferência, contra Paulo Câmara (PSB) com 13%.


PIAUÍ Os números para o Senado pontuam o ex-governador Wilson Martins (PSB) com a liderança nas pesquisas. Ele tem 39% das intenções, diante do candidato Elmano Ferrer (PTB), com 25%. Registre-se que em aferição anterior o socialista chegou a ter 46% das intenções, contra 23% de Ferrer, o que mostra uma redução na dife-

Wilson Martins

rença percentual. A disputa no Piauí dependerá muito do desempenho do candidato ao governo, Wellington Dias (PT), atualmente aparecendo com 46% dos votos, contra 23% do governador Zé Filho (PMDB). A possibilidade de vitória de Ferrer depende exclusivamente da performance do senador e ex-governador petista.

Elmano Ferrer

RIO GRANDE DO NORTE O enfrentamento maior na disputa para o Senado no estado se dá exatamente entre o PSB, liderado pela ex-governadora Wilma Faria, e a deputada federal Fátima Bezerra, do PT. A proporção da diferença entre elas é relativa ao processo governamental entre Henrique Alves, presidente da Câmara Federal, e o vice-governador Robinson Farias.

De acordo com pesquisas, Wilma Faria tem 39% da preferência popular, contra 29% em favor de Fátima. Os próximos dias, levando em conta o volume de campanha nas ruas e o desempenho das candidaturas no horário eleitoral, serão decisivos para a fase de afunilamento e definição do processo, que deverá ser resolvido no primeiro turno.

Wilma Faria

Fátima Bezerra

Maria do Carmo

Rogério Carvalho

Fotos: Divulgação

aparece com 13% das intenções. Quem lidera com folga a disputa ainda é a candidata do DEM, Maria do Carmo, com 42% dos votos. O desempenho da democrata tem a ver, sobretudo, com a liderança de seu marido, atual prefeito de Aracaju, João Alves Filho, também ex-governador do estado.

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A morte do ex-governador Marcelo Deda fez o PT perder a hegemonia política no estado, mesmo tendo o atual governador Jackson Barreto (PMDB) como aliado e candidato com apoio petista à reeleição. Também por isso, o candidato do PT ao Senado, deputado federal Rogério,

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SERGIPE


Opinião

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Marina Silva e seu El Cid

comoção política, gerada por tragédias, não aterrissou no Brasil com o acidente aéreo que matou Eduardo. Antes, o assassinato, em julho de 1930, do paraibano João Pessoa e o suicídio do gaúcho Getúlio Vargas, em agosto de 1954, haviam levado os brasileiros às ruas e às lágrimas. Multidões acompanharam os esquifes em emocionantes cortejos. Elogios verdadeiros, falsos, sinceros ou oportunistas, saudaram os tragicamente desaparecidos. O sentimentalismo brasileiro “santificou” João Pessoa, Getúlio Vargas e faz o mesmo, agora, com Eduardo Campos. A morte de João Pessoa provocou a Revolução de 30 que, entre outras mudanças, instalou no país a modernização capitalista. Getúlio, ao atirar no próprio peito, não apenas saiu da vida para “entrar na história”, mas derrotou um esquema que guardava certa analogia com o embate que, hoje, envolve petismo e antipetismo. Eduardo ainda engatinhava na campanha presidencial, buscando convencer o eleitorado de que o progresso do Brasil só ocorreria com o abandono da bipolarização entre PT e PSDB. Um nevoeiro e um mergulho num terreno baldio, seguidos da explosão de um Cessna, praticamente zeraram os números de um pleito. A comoção causada pela morte de Campos continua nas ruas. E se depender de Marina, ela só aumentará, capitalizando votos e abrindo o caminho para o Palácio do Planalto. A exponencialização do “efeito Eduardo” começou no sepultamento dos seus restos mortais e prossegue nos encontros políticos, nas entrevistas e nos horários eleitorais. Pega carona, inclusive, no costume “ético” de que às pessoas recém-falecidas não se faz críticas, só elogios. Embora faça de Eduardo o seu El Cid, Marina não consegue esconder a crença no seu potencial de votos. Já age como candidata de si mesma. Exacerba as críticas às alianças costuradas por Campos em vários Estados, particularmente em São Paulo e Rio de Janeiro, e não esperou a missa do 7º dia para fazer mudanças radicais no comando da campanha. De origem paupérrima, estudos iniciados aos 16 anos e saúde arruinada por falta de dinheiro, não pertence, para frustração petista, à maioria

branca. Evangélica, em um país com 65% de católicos, tem posições definidas contra questões polêmicas como o aborto e as relações homoafetivas. Nos últimos pronunciamentos, optou, estrategicamente, por amenizar suas críticas ao mercado e ao agronegócio. Das cinco condições básicas e necessárias à vitória de um candidato – carisma, partido forte, dinheiro, tempo de televisão e propostas claras - Marina, seguramente, possui a primeira. É vista como um fato novo, embora candidata pela 2ª vez à presidência, goza de empatia com, praticamente, um terço do eleitorado brasileiro, que cansou da bipolarização política (PT X PSDB) e repudia a guerra do “nós contra eles”. Pode tornar realidade uma terceira via, tentada e não alcançada por Garotinho e Ciro Gomes. Dilma toca a campanha cavalgando obras monumentais e programas sociais. São tantos que parecem irreais. No contraponto tem mensalão do PT, Petrobras, o fraco desempenho da economia. Tudo potencializado pelo combate indormido da oposição midiática. Aécio “vende” o êxito do seu governo em Minas, assume o compromisso de continuar alguns programas sociais do PT, finge não ter intimidade política com FHC e anuncia, sem detalhar, mudanças que alavancariam a economia brasileira. Perturbam seus passos, o mensalão tucano, o trensalão do metrô de São Paulo e a construção de um aeroporto em fazenda da sua família, quando governava as Gerais. Contra Aécio e Dilma, Marina vai à luta com baixa rejeição, perfil biográfico parecido com o de Lula e sem passivo por nunca ter exercido um mandato executivo. Entre as dificuldades a enfrentar estão o seu “xiitismo” em algumas questões e uma linguagem estranha que prega a“ centralidade da necessidade” o “espaço transversal”, “a agenda plasmante”, o “ controle ex post frente”, e “a sustentabilidade”, este o mais popular e compreensível dos seus conceitos. De olhos bem abertos em Marina, devem assim estar Dilma e Aécio. Fazem-no bem, pois melhor combater perigos concretos do que ter pela frente inimigos movidos por emoções.

Carlos Roberto de Oliveira Jornalista, consultor de Marketing e sócio da CLG

De olhos bem abertos em Marina, devem assim estar Dilma e Aécio. Fazem-no bem, pois melhor combater perigos concretos do que ter pela frente inimigos movidos por emoções



Economia

O FUTURO DA ECONOMIA Nos últimos quatro anos a indústria vem passando por um marasmo e necessita de muitas mudanças, como uma reforma tributária, defendida por empresários. Para o Nordeste, a necessidade é de investimentos na infraestrutura e logística Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

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esde 2010 a indústria brasileira encontra-se em um estado de estagnação. Pouco se viu a evolução no setor dos últimos quatro anos até aqui. A importação no mercado doméstico de manufaturados cresceu de 12% (2005) para 22% (2013), enquanto a exportação industrial continua abaixo da quantidade pré-crise de 2009. O cenário é inverso à atual situação global, já que países de toda a parte estão lutando para revalorizar a potência do setor. O posicionamento parte da premissa: uma indústria forte tem papel fundamental no crescimento econômico. As vezes que o PIB brasileiro cresceu acima de 4% ao ano, os números revelaram que as atividades industriais foram as que apresentaram os maiores índices. Mas, o


IMPORTAçÃo

mercado doméstico de manufaturados

12%

de AUMENTO

22%

que será preciso para a indústria voltar a impulsionar a economia do Brasil? Aproveitando o período de campanha eleitoral, a Confederação Nacional das Indústrias (CNI) lançou algumas propostas que prometem alavancar a economia do país e impulsionar o setor aos candidatos à presidência. As sugestões, elaboradas pela organização com a ajuda de líderes empresariais, especialistas e representantes das associações e federações da indústria, procuram promover mudanças no sistema tributário, modernizar as relações de trabalho e investir em infraestrutura. As Propostas da Indústria para as Eleições 2014 contém 42 sugestões de como aumentar a competitividade do setor. De acordo com o diretor de Políticas e Estratégia da CNI, José Augusto Fernandes, é preciso vencer desafios que impedem a competitividade do Brasil, país que se tornou caro para investir. Ilustração: Felipe Headley

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“O foco principal está em aumentar a competitividade da indústria. Precisamos de um sistema de gestão que identifique aonde nós queremos chegar, e que trabalhe a melhoria no sistema tributário, aumento dos investimentos na infraestrutura, e redução na insegurança jurídica nos sistemas de relação do trabalho”, explica ele em entrevista à Revista NORDESTE. Um dos grandes vilões da competitividade no Brasil é a questão tributária. O documento da CNI mostra que os tributos elevam em 10,6% o custo de implantação de uma planta industrial no Brasil, por isso a defesa da reforma no sistema de tributação que dê fim à acumulação de impostos e priorize a desoneração dos investimentos e exportações. “A melhoria do sistema tributário é chave. Primeiro lugar porque ele tributa o investimento. Como a indústria precisa se transformar, quanto mais alto for essa tributação, mais difícil é o investimento. Mas, existe outro problema mais grave, que é a imperfeição do sistema de crédito do Brasil”, explica José Augus-

37

2005

to. Segundo ele, o sistema de crédito adotado no país prejudica mais ainda a competitividade por não deduzir tudo o que o competidor de outro país (que adota o sistema de crédito financeiro) consegue, sem falar de toda a burocracia que envolve a tributação. “O competidor não tem essa ineficiência doméstica e por isso se beneficia”, afirma. Para os empresários, o quesito tributo é realmente uma pedra no sapato que incomoda investidores no Brasil. “As nossas legislações tributária e trabalhistas precisam de uma reforma urgente. Essas questões são causadoras de grandes demandas judiciais nas indústrias e isso como consequência gera custos, desmotiva a contratação de mão de obra e atrapalha o desenvolvimento”, arremata João Kepler, empresário e investidor anjo (pessoa física ou empresa disposta a investir em outras empresas). Para a economista Tânia Bacelar, o sistema de tributação do Brasil é um dos mais complicados. “O sistema tributário brasileiro é muito complexo e ruim para a produtividade. Ele cobra mais impostos indiretos (sob a renda e patrimônios) e cobra menos impostos indiretos (que incide sob a produção). Isso torna o nosso produto mais caro e menos competitivo aqui dentro e lá fora. Os empresários precisam defender uma reforma”, explica, acrescentando que outro grande agravante é a “burocracia infernal”.

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12%


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Os gargalos do Nordeste Um dos maiores obstáculos da expansão da economia no Nordeste é a insuficiência na logística e infraestrutura adequada. Para se ter uma noção, é mais barato transportar grãos para a China que trazer milho e soja do Sul para a região. Segundo o empresário João Kepler, o Nordeste vem sofrendo uma queda na produção industrial, com baixa produtividade e carência de mão de obra qualificada, mas é a infraestrutura deficiente o grande gargalo que emperra o crescimento da região. “Muita coisa precisa ser feita na área de educação, capacitação e condições básicas para a população, mas uma infraestrutura eficiente pode atrair investimentos e melhores condições para todos. No Nordeste, existe a necessidade de se investir R$ 26 bilhões em mais de 80 projetos prioritários para modernizar e ampliar rodovias, ferrovias, hidrovias e portos da região que fazem parte dos eixos logísticos de integração. Os que já existem, precisam de reformas e melhorias e outros precisam ainda serem desenvolvidos. Caso fossem concluídas essas obras, garantiríamos o desenvolvimento industrial na região”, pontua. José Augusto da CNI acredita que a região tem uma situação crítica e recomenda pensar o Nordeste como um todo quando se fala em solução logística

e infraestrutura. Para a região, a organização sugeriu que os investimentos se concentrem nos setores ferroviário e portuário. As obras preferenciais somam R$ 25,8 bilhões e merecem destaque a Hidrovia São Francisco, as BRs 020 e 116, a Ferrovia Transnordestina e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste. São 12 projetos rodoviários, 3 hidroviários, 18 ferroviários e 50 portuários, de acordo com as Propostas da Indústria para as Eleições 2014 . José Augusto destaca que é necessário, além do apoio federal, o posicionamento dos governos estaduais. “Os governos estaduais também têm um papel importante na hora de criar um clima favorável para investimentos”, declara. Para a economista Tânia Bacelar, o Nordeste precisa criar um ambiente propício para investimentos de grande porte, que sejam realmente relevantes para a macroeconomia. “O perfil econômico do Nordeste é de pequena e média empresa, o que temos aqui são apenas filiais de grandes empresas. O mercado do Nordeste é menor do que o mercado do Sul e Sudeste. É preciso montar indústria aqui, patrocinar a vida aqui”, explica Tânia, exemplificando casos bem sucedidos de incentivos que trouxeram a Fiat para Pernambuco e a Ford para a Bahia.

TEMAS ESPECÍFICOS Entre as 42 propostas da CNI, o órgão sugere a revisão da política de gás natural, o aperfeiçoamento da política de concessões em infraestrutura e a mudança dos currículos dos cursos de engenharia. A confederação vem desde 1994 entregando propostas aos candidatos à presidência. “Tivemos algumas melhorias incrementais. Quando nós começamos nossa primeira agenda, o Brasil vivia a hiperinflação, em 1994. As agendas eram um pouco mais conceituais, apresentávamos as linhas gerais. A diferença para esse ano é que nós optamos por enfrentar o detalhe. Em muitas áreas estamos apresentando projeto de lei, instrução normativa. O desafio é melhorar a capacidade de execução e implementação das politicas”, explica José Augusto, da CNI. As propostas foram construídas com base nas diretrizes do Mapa Estratégico da Indústria 2013/2012, que estabelece as ações necessárias para fazer o Brasil crescer economicamente. As sugestões estão divididas em dez pontos fundamentais: educação; ambiente macroeconômico; eficiência do Estado; segurança jurídica e burocracia; desenvolvimento de mercados; relações de trabalho; financiamento; infraestrutura; tributação; inovação e produtividade.


Infraestrutura fortalecida O Brasil investe atualmente R$ 73 bilhões por ano em infraestrutura. Para a CNI, o ideal seria alcançar um percentual de 5% do PIB de investimentos nessa área, um volume que somaria R$ 175 bilhões por ano. “A infraestrutura é o que impulsiona o mercado. É preciso de infraestrutura para atrair investimentos. Se não tem um sistema de transporte eficiente a indústria funciona mal”, pontua José Augusto, diretor de Políticas e Estratégia da instituição. De acordo com a CNI, o Brasil ainda apresenta gargalos que impedem a expansão, como o custo do atraso das obras, por exemplo, e por isso defende o aumento da qualidade das licitações, a construção de um banco de projetos, a obrigatoriedade dos projetos básicos detalhados e licenciamento ambiental prévio de grandes projetos, o aperfeiçoamento do Regime Diferenciado de Contratação (RDC), além do aumento da participação do setor privado por meio de concessões e PPPs. As Propostas da Indústria para as Eleições 2014 identificaram e selecionaram os sistemas logísticos de menor custo, voltados para o mercado interno e externo. Foram realizados estudos

para as regiões Norte, Sul, Nordeste e Centro-Oeste, em que analisaram 31 cadeias produtivas e identificaram centenas de projetos prioritários para alavancar a logística do país, a partir de mais de 700 entrevistas pessoais realizadas em empresas, autarquias e associações produtivas. O empresário João Kepler afirma que todos os 42 projetos apresentados pela CNI são emergenciais e importantes para proteção do desenvolvimento econômico, mas dentre os pontos, ele destaca o quesito que mais precisa de atenção: a infraestrutura. “Eu destaco o que eu acredito que possa ser priorizado de imediato sem maiores polêmicas e votações no Congresso, seria a infraestrutura brasileira. Precisamos de um eficiente sistema logístico integrado. Um estudo também da CNI identificou os eixos estratégicos para o escoamento da produção na indústria brasileira, com importantes informações para o planejamento das redes de transporte de impacto imediato, só esse estudo já pode servir de base para ajudar o futuro presidente a resolver essa questão que impede o desenvolvimento e atrapalha a economia”.

ECONOMIA CRIATIVA A decisão de investir no Nordeste vai além das já citadas dificuldades que afetam a indústria nacional. Para o empresário João Kepler, os investimentos dependem muito do segmento, do tipo de indústria, da localização, entre outros fatores. Mas, por outro lado, na região existe uma forte indústria que cresce à margem dos problemas do setor tradicional que tem chamado atenção de investidores nacionais e internacionais, que é a indústria do capital intelectual,

Fotos: Shutterstock Ilustração: Felipe Headley

feita por empreendedores da economia criativa. “Essa tem se destacado nacionalmente, são designers, arquitetos, programadores, engenheiros e business development, são empreendedores que desenvolvem projetos, soluções e negócios digitais na região. Uma indústria que depende basicamente do conhecimento e capital humano, uma indústria limpa e inovadora que não gera milhares de empregos em uma única empresa, mas milhares de empregos em muitas empresas”, completa

o empresário João Kepler, premiado como um dos maiores Incentivadores do ecossistema Empreendedor no Brasil. A economista Tânia Bacelar também afirma que, além do investimento em infraestrutura, é necessário incentivar inovação, ponto chave para o fortalecimento econômico. “O mundo está mudando o padrão técnico e o Brasil precisa correr atrás. O governo precisa investir em inovação e os empresários também”.


Diálogo com a indústria As Propostas da Indústria para as Eleições 2014 foram apresentadas aos presidenciáveis em um encontro que reuniu 500 empresários na sede da CNI, em Brasília, no fim de julho. Durante o evento, o Diálogo da Indústria com

Em defesa da educação

40

AGOSTO / 2014

A atual presidente da República e candidata à reeleição, Dilma Rousseff (PT), apontou a educação como o melhor caminho para a competitividade do setor industrial no Brasil. Durante seu discurso no Diálogo da Indústria com candidatos à Presidência da República, ela afirmou que é possível concretizar algumas mudanças apontadas pela CNI, mas que uma reforma tributária integral é algo ainda difícil de aprovar.

“No caso específico da reforma tributária, essa é uma questão que envolve não só o Congresso, mas a Federação, tanto os governadores quanto os prefeitos. Porque é uma repartição tributária, além de ser uma discussão a respeito da incidência de impostos sobre pessoas, famílias e empresas. No primeiro ano de governo, os governos têm maior força política, então é possível fazer essa tentativa”

candidatos à Presidência da República, representantes da CNI e empresários destacaram a importância das mudanças para o desenvolvimento da indústria e economia. Além disso, os presidenciáveis fizeram observações.

O encontro, coordenado pelo presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, contou com a participação da presidente Dilma Rousseff (PT) e dos candidatos Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).

Reforma tributária em pauta Macroeconomia fortalecida Durante seu discurso, o candidato à Presidência, Aécio Neves (PSDB), afirmou que a política econômica deve ser orientada pelos fundamentos da macroeconomia, como metas de inflação, superávit fiscal e câmbio flutuante. Além disso, ele observou que a agenda comercial brasileira precisa ser alinhada à política externa, e assegurou uma proposta que simplifica o sistema tributário brasileiro, unificando tributos indiretos, por exemplo.

“A política econômica deve ser orientada pela solidez de nossos fundamentos macroeconômicos – metas de inflação, superávit fiscal e câmbio flutuante. O superávit será o possível, deverá sempre existir, mas será o possível. E será feito de forma absolutamente transparente, diferente do que ocorre hoje”

Quem defendeu uma reforma tributária no evento da CNI foi o então candidato Eduardo Campos pelo PSB, focando na simplificação, desoneração dos investimentos e exportações e na eliminação da cumulatividade dos tributos. As propostas deverão ser adotadas por Marina Silva que assumiu a cabeça de chapa da legenda, substituindo Eduardo, que sofreu acidente de avião, em Santos (SP), junto com cinco pessoas de sua equipe de assessoria, chegando a falecer.

“Quando se fala em cumulatividade tem dois tributos extremamente importantes, o PIS/COFINS, que tem que ser uma ação mais imediata, e o ICMS. Vamos fazer com que não haja cumulatividade no sistema brasileiro. É possível ter um processo de transição. Zero em 2015 é impossível, mas precisamos desde 2015 reduzir até a implantação da reforma que vamos implantar” Fotos: Divulgação



Economia

Mais rotas aéreas regionais Novo Programa de Desenvolvimento da Aviação Regional cria rotas entre cidades que estão hoje fora da malha áerea Por Isadora Lira isadora@revistanordeste.com.br

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N

atural de Mossoró (RN), Luana Rosado se mudou para a capital paraibana na metade de 2010 ao passar no vestibular de medicina. Desde então, tem feito o trajeto João Pessoa - Mossoró a cada mês e meio. São 418 km de estrada e cerca de 6h dentro de um ônibus ou carro. Embora não seja uma grande adepta do transporte aéreo, Luana diz que se existisse um voo regular preferiria fazê-lo, ao ter que passar pelo desconforto do ônibus ou pela tensão de dirigir por tanto tempo. Luana Rosado “ Também tenho medo da estrada. Viajar de avião seria um medo por menos tempo”, falou. Ela conta que logo que se mudou para João Pessoa cogitou a possibilidade de fazer o traslado de avião até Mossoró, inclusive porque a passagem era só um pouco mais cara. No entanto, o aeroporto de Mossoró fechou para esse tipo de voo. O terminal está na lista dos contemplados pelo Programa de Desenvolvimento da Aviação Regional (PDAR) que, no primeiro momento, receberá um montante de R$ 7,3 bilhões para serem in-

vestidos em infraestrutura para reformas e construção dos aeroportos regionais. A ideia do governo é aumentar o acesso da população brasileira ao sistema aéreo de transporte, bem como integrar comunidades isoladas à rede nacional de aviação civil, com intuito de facilitar a mobilidade de seus cidadãos e o transporte de bens fundamentais. Uma malha aérea regional também facilitaria a proximidade familiar para o engenheiro de computação Dann Medeiros. Desde que se mudou com seus pais para Natal (RN), em 2002, tem ido para Patos (PB) a cada três meses visitar familiares e amigos. Entretanto, considera o translado desconfortável. Geralmente, Dann vai acompanhado pelos pais e acha a viagem muito cansativa se feita de carro. “Se for de feita de ônibus é muito longa.Nesse trajeto, há duas opções: ir por João Pessoa, o que duraria 8h, ou passando por Caicó (RN) e de lá pegando um alternativo para Patos”, contou. A cidade de Patos também é um dos municípios contemplados pelo PDAR e deverá receber um aeroporto regional. Dann está esperançoso com a possibilidade de ter à sua disposição voos domésticos saindo do município. Assim, poderá se deslocar mais vezes. “Não só eu, como

Dann Medeiros

meus pais também viajariam mais. Um dos motivos de eles não irem com maior frequência é o cansaço do trajeto”. Substituir viagens terrestres pelas aéreas já é uma realidade para muitos brasileiros. Essa popularização se deve a fatores como o aumento na renda do brasileiro e barateamento de passagens. Isso pode ser constatado no levantamento da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), que percebeu um aumento de 51,2 milhões de passageiros domésticos, entre 2005 e 2013. Ou seja, uma média de 17,5 mil pessoas por dia. No mesmo período, as empresas de transporte rodoviário perderam 7,1 milhões de usuários, segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Mas a Secretaria de Aviação Civil (SAC) almeja um percentual ainda maior. A meta para o programa é que 96% da população brasileira esteja a, no máximo, 100 km de distância de um aeroporto que tenha voos regulares, e não apenas para aviões particulares ou outros pousos esporádicos.


Investimento nos aeroportos regionais Norte

R$ 1,7 Bilhão 67 aeroportos

Centro-oeste

Subsídio para voos

Fotos: Acervo pessoal | Divulgação

Nordeste

R$ 2,1 bilhões 64 aeroportos

Sudeste

R$ 1,6 bilhão 65 aeroportos

Sul

R$ 994 milhões 43 aeroportos

Ano

Ônibus

avião

2005

62,7

38,7

2006

60,1

43,2

2007

58,8

47,4

2008

56,7

50

2009

57,3

57,1

2010

57,5

70,1

2011

56

82,1

2012

57,9

88,7

2013

55,6

90

AGOSTO / 2014

Aeroporto Petrolina

mas ainda aguarda a efetivação das ações. “Ainda não temos informações de como serão feitas estas melhorias”. No Juazeiro do Norte (CE), o aeroporto Orlando Bezerra de Menezes realiza seis voos diariamente, um pouco menos que o terminal Senador Nilo Coelho, em Petrolina (PE), faz sete voos diários. A expectativa para ambos é a de que aumente o fluxo de passageiros, embora os aeroportos não tenham uma meta específica. A proposta de subsídios para rotas entre cidades pequenas e médias do interior, condicionando o valor aos assentos ocupados, chega em boa hora. Ela vai estimular a oferta e intensificar a malha aérea regional. A Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear) está avaliando a medida juntamente com as companhias aéreas associadas. Elas deverão, quando da regulamentação, ver a viabilidade de operações e rotas que podem ser complementares às suas malhas atuais.

43

O Brasil tem hoje 5,6 mil municípios e aproximadamente 700 aeroportos regionais, destes, apenas 100 com operações regulares de voos de passageiros. De acordo com a SAC, o número ainda é tímido, já que não atende as necessidades do país. “Estamos trabalhando para mudar essa realidade. As expectativas são as melhores possíveis. A maior conectividade aérea possibilitará o incremento da economia no interior do país, aproximando os municípios de cadeias produtivas nacionais e globais e facilitando o turismo”, informa a assessoria de comunicação da secretaria. Nos aeroportos regionais em atividade, como o João Suassuna, em Campina Grande (PB), o número de voos ainda é pequeno, apenas três por dia. Com a efetivação do programa, espera-se que aumente a quantidade de embarques e desembarques. Roberto Germano, superintendente do aeroporto de Campina Grande, também está otimista com o programa,

R$ 970 milhões 31 aeroportos


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Opinião

Frente única do terror

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Brasil nunca teve boa vida sob a égide do sobrenome Quadros. Por exemplo: Jânio da Silva Quadros, reconhecido no pedaço (devido ao pernosticismo verbal) pela alcunha de “Fi-lo porque qui-lo”. Tipo do alcoólatra contumaz, eleito presidente da República com quase seis milhões de votos, uma enormidade para a época, Jânio, embora considerado como de “direita”, idolatrava Fidel Castro e, em Brasília, depois de um porre federal, chegou a condecorar (com a Ordem do Cruzeiro do Sul) o sanguinário Che Guevara – este, tido e havido pelos guerrilheiros cubanos como “El Chancho” (porco, em espanhol). Pois muito bem: eleito presidente, Jânio Quadros, demagogo tropical de vocação autoritária, renunciou ao cargo depois de sete meses de mandato, lançando o País na voragem de uma era política tempestuosa ao permitir, de forma maquiavélica, que Jango, um boneco nas mãos do comunista Carlos Prestes, chegasse à presidência da República. O tempo passou, mas a sina do sobrenome Quadros continua. Hoje, 43 anos depois da renúncia de Jânio, resplandece no cenário político tupiniquim a luz negra da ativista Elisa Quadros, a Sininho, que converge para si a liderança dos Black Blocs, grupo terrorista que, desde junho de 2013, por força da alardeada “ação direta”, pretende liquidar com o capitalismo e a democracia representativa no Brasil. Na prática, sob a chama da escatologia política de Sininho, são agredidas e assassinadas pessoas, incendiados ônibus e outros veículos (oficiais e privados), destruídas agências bancárias, supermercados, lojas, postos, estabelecimentos comerciais, bens do patrimônio público, o próprio direito de ir e vir e tudo mais que venha atrair a sanha do receituário terrorista. Para a consecução da dita “ação direta”, expressão grata ao fanatismo de esquerda cultivado no meio universitário, o bando mascarado se arma com ouriços, porretes, bombas e, com mais frequência, os indefectíveis coquetéis molotov. De fato, por trás de tudo prevalece a

idéia insana de intimidar e destruir. E há a questão do dinheiro para financiar a violência do grupo terrorista. Afinal, quem paga a conta e quem financia o terror? Os próprios terroristas dão a entender que são financiados e nutridos por ONGs ambientalistas nacionais e estrangeiras, em especial suíças e francesas, além de receberem pródigos recursos de fundos sindicais, associações de classe, “movimentos sociais” e, sobretudo, partidos políticos da esquerda (todos eles, sem exceção, viabilizados por infindáveis verbas públicas, em última analise sacadas do bolso do contribuinte, a real vítima do terror). O terrorismo moderno é uma criação russa. Ele nasce na segunda metade do século 19 com a figura de Sergei Netchaiev e o seu “Catecismo Revolucionário”, um repositório doutrinário escrito em letras de sangue, tido como a bíblia das organizações terroristas. Súdito dissidente do anarquista Bakunin (1814-1876), Netchaiev, para “acordar as massas”, apostava, tal como Sininho hoje, na virulência da ação destrutiva para criar o caos e multiplicar o sofrimento do povo, levando-o, pela cólera e impaciência, à ira revolucionária. No resumo da ópera, o terrorismo amoral de Sininho e asseclas é mais uma componente da frente única comunista que, de forma estratégica, articula a associação da “guerra de movimento”, preconizada por Lenin, e a “guerra de posição”, proposta pelo corcunda Antonio Gramsci nos seus “Cadernos”, para consolidar a marcha do pensamento monolítico entre nós – marcha estratégica que envolve o PT, PSOL, PSTU, PC do B, PSDB, Black Blocs e tutti quanti, parceiros, cada um a seu modo e no seu devido lugar, na implantação da utopia totalitária incensada pelo charlatão Karl Marx. Não é por outro motivo que ninguém segura os integrantes do Black Blocs na cadeia e o pessoal da OAB, partidos, movimentos sociais e da mídia amestrada os considera, tão somente, ‘‘ativistas’.e coquetéis molotov.

Ipojuca Pontes Escritor e cineasta

Para a consecução da dita “ação direta”, expressão grata ao fanatismo de esquerda cultivado no meio universitário, o bando mascarado se arma com ouriços, porretes, bombas e coquetéis molotov. De fato, por trás de tudo prevalece a idéia insana de intimidar e destruir.


Economia

Empresas procuram uma nova saída para fugir do aumento no custo de energia, caso contratos com Chesf não sejam renovados

Fotos: Adilson Andrade (Flickr)

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este primeiro semestre, o setor industrial, a Chesf e a bancada dos estados do Nordeste no Congresso Nacional sentaram-se para discutir soluções negociadas em torno do fim dos contratos que a Companhia Hidroelétrica do São Francisco (Chesf) e as usinas eletrointensivas mantêm para o fornecimento de energia elétrica a preços reduzidos em relação ao mercado livre. A preocupação da indústria se justifica pelo fato de que as usinas comprometem, em média, até 40% dos seus custos de produção com energia e, caso os contratos não fossem renovados, esses custos poderiam triplicar. O legislativo, por sua vez, teme que o aumento das despesas do setor acarrete em demissões massivas. A emenda que garantia a manutenção do fornecimento de energia nas condições atuais foi retirada da Medida Provisória 641/2014, que modifica a lei 10.848/2004 sobre comercialização de energia elétrica. Agora, as indústrias apostam em emenda semelhante incluída na MP 643. Os contratos vigentes, que vencem em junho de 2015, poderão ser aditados por mais 20 anos. Eles envolvem um bloco de energia de 800 megawatts (MW) para unidades de produção de Gerdau, Braskem, Vale do Rio Doce,

Dow Química, Ferbasa, Paranapanema e Mineração Caraíba nos estados da Bahia, Alagoas, Ceará e Pernambuco. Hoje, estas indústrias eletrointensivas recebem energia elétrica diretamente da Chesf ao custo de R$ 110 por MWh, em média, enquanto o leilão de energia realizado em abril deste ano sinalizou preços de R$276 por MWh. Assim, se a emenda não passar, as empresas terão que buscar contratos de energia no mercado livre por preços quase três vezes superiores aos praticados através do contrato com a subsidiária da Eletrobrás. O Engenheiro Clóvis Badaró, diretor da empresa Lumina, especializada em Gestão de Energia Elétrica para Grandes Clientes Industriais e Comerciais, explica que as indústrias eletrointensivas são empresas do setor industrial que usam muita energia - caso de companhias de alumínio, aço, petroquímica, papel e celulose – e que elas consomem hoje cerca de 7 milhões de MWh/ano. “É como se essas empresas eletrointensivas consumissem a Usina Hidroelétrica de Sobradinho com 1.050 MW instalados e 531 MW médios de energia, mais a Usina Hidroelétrica de Três Marias com 396 MW instalados e 239 MW médios de energia”, ilustra o engenheiro Clóvis.

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Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

AGOSTO / 2014

Setor elétrico espera decisão


Indústria busca medida A proposta de manutenção dos contratos de fornecimento de energia da Chesf para as indústrias do Nordeste foi, durante reunião da Comissão Mista que analisou a Medida Provisória 641, acatada no relatório do senador Vital do Rêgo (PMDB-PB). Mas, sem o aval do Governo Federal, logo em seguida retirada. A Medida, que contava com 54 emendas, perdeu eficácia em 22 de julho. As indústrias eletrointensivas tentam um novo recurso legislativo buscando a renovação dos contratos através de emenda similar na Medida Provisória 643, que trata da extensão do mandato do diretor-geral da ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Hermes Chipp, por mais dois anos. De autoria do Senador Romero Jucá (PMDB-RR), a emenda prevê que a energia proveniente destes contratos permaneça vinculada a essa modalidade de contratação específica e não

destinada a alocação de cotas para as distribuidoras, como prevê a legislação da renovação das concessões de geração de energia. A Revista NORDESTE apurou que o entendimento do governo é de que a renovação do contrato especial da Chesf com as grandes indústrias vai onerar o consumidor convencional. Por isso, pretende tratar a questão através de uma política específica para o segmento, com o objetivo de evitar o “subsídio cruzado”, ao que se chama o cenário em que uma parcela de consumidores paga preços mais elevados para subsidiar outro grupo específico, seja de usuários ou um grupo de empresas. O problema da elevação dos custos ficar com o consumidor convencional é o fato de que ele terá de comprar um volume maior de energia nova, produzida por usinas cujo custo de construção ainda não foi amortizado.

Tarifa é criticada

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Clovis Badaró, engenheiro eletricista

O engenheiro Clóvis Badaró, no entanto, vai além e questiona se a manutenção do fornecimento de energia em tarifas reduzidas é mesmo interessante para a Chesf, já que a venda subsidiada deixa de arrecadar R$ 1,2 bilhão ao ano. Segundo ele, a questão é saber o que mais interessa ao país: os empregos que essas empresas privadas mantêm em seus quadros de funcionários ou o lucro da Eletrobrás. “A nossa presidente quase causou a falência da Eletrobrás com a medida provisória de 2013, dando o desconto de energia elétrica de 20% que não podia dar”, critica Clóvis Badaró. Clóvis se refere à redução anunciada, em janeiro de 2013, pela presidente Dilma Roussef em cadeia nacional de rádio e televisão sobre redução do custo de eletricidade. Para os consumidores residenciais, o corte foi de 18% na conta de luz, já para as indústrias o corte anunciado foi de até 32% para todos os estados. Neste período, o governo anunciou que as concessões do setor elétrico em geração,

transmissão e distribuição que vencem entre 2015 e 2017 serão renovadas por um prazo de 30 anos. O Grupo Eletrobrás tem 24% dos clientes de distribuição cujas concessões venceriam a partir de 2015. Empresas estaduais correspondem a 67% e grupos privados a 9%.

Para os consumidores residenciais, o corte foi de 18% na conta de luz, já para as indústrias o corte anunciado foi de até 32% para todos os estados

Fotos: Antônio Florêncio (Flickr) e Acervo pessoal


Renovação de contratos A assessoria de comunicação da Gerdau, uma das empresas que seriam beneficiadas com a renovação antecipada dos contratos de concessão de energia, afirma que a companhia tem capacidade de geração própria de cerca de 40% da energia que consome no Brasil, produzida em suas usinas hidrelétricas Caçu e Barra dos Coqueiros (GO), Dona Francisca Energética (RS) e pela cogeração na usina Ouro Branco (MG).

Usina Hidroelétrica de Xingó-SE (UXG-Chesf)

Segundo a empresa, esse portfólio diversificado possibilita à Gerdau ter flexibilidade de alocação de recursos de energia para suas unidades industriais e a garantia de atendimento à demanda de seus clientes. Apesar disso, a assessoria da Gerdau diz que uma eventual não renovação dos contratos que a empresa possui com a Chesf poderá trazer significativa perda de competitividade nas usinas da multinacional nos estados da Bahia e Pernambuco. E, consequentemente, uma adequação dos planos de produção dessas unidades. Apesar disso, a assessoria da Gerdau ainda acredita na criação de uma solução conjunta para essa situação e na manutenção da sua competitividade nesses estados. Procurada pela Revista Nordeste, a Chesf não se pronunciou.


Conexão América Como é bom voltar ao Nordeste! A primeira vez que morei no Nordeste brasileiro foi no ano de 1993. Na época, o Consulado dos Estados Unidos no Recife tinha apenas três diplomatas. Continuamos no mesmo endereço, no bairro da Boa Vista, mas com uma equipe bem maior e mais conectada com a região: somos 22 americanos trabalhando para fortalecer as relações entre povos dos dois países. Minha base é Pernambuco, mas também quero conhecer estudantes e profissionais que movimentam a economia e a cultura do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Alagoas e Sergipe. Como tenho família no Brasil - sou casado com uma pernambucana - nunca deixei de acompanhar as notícias da região. Quero ver de per to os pólos Farmacêutico, Petroquímico e Portuário de Suape em Pernambuco; visitar o porto de Pecém e celebrar o comércio entre

o Ceará e os EUA, onde é crescente o consumo de castanhas e crustáceos cearenses; e incentivar mais estudantes a conhecerem universidades americanas e fazerem parte desta rede de educação global. Estou também feliz em poder fazer parte de uma comemoração especial: em 2015 vamos celebrar os 200 anos da presença diplomática dos EUA no Nordeste do Brasil. É incrível poder fazer parte dessa história juntos com vocês. E é com muita alegria que escrevo minha primeira coluna para a Revista NORDESTE e dou continuidade a essa parceria. Espero, em breve, poder compar tilhar aqui minhas experiências nessa região que faz parte da minha vida há 21 anos. E mostrar aos norte-americanos a força do nordestino. Richard Reiter, cônsul dos EUA no Recife (PE)

Personalidade

Turismo

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Bob Dylan: Bob Dylan é um cantor e compositor americano que nasceu no estado de Minnesota. Ele é conhecido como um símbolo do movimento dos direitos civis e também do movimento hippie. Dylan escreveu varias canções contra a guerra, tais como “Blowin’ in the Wind” e “A Hard Rain’s a Gonna Fall.” E também canções clássicas como “The Hurricane” e “Maggie’s Farm”, contra o racismo. Bob Dylan tem 40 anos de carreira e continua sendo um dos músicos mais queridos dos EUA. mexicana.

A expressão geralmente se refere a uma pessoa que é tão presa nos detalhes de uma situação que perde de vista o quadro geral. Equivale a dizer em português: “As árvores não te deixam ver o bosque.” Exemplo: They were so caught up in the negotiation that they lost sight of the big picture. They couldn’t see the forest for the trees.

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“See the forest for the trees.”

Minneapolis pode não ser muito conhecida como destino turístico, no entanto, a “Cidade dos Lagos”, é um desses lugares cheios de charme e coisas interessantes para fazer. A prova disso é que, fora Nova York, Minneapolis tem mais assentos de teatro per capita do que qualquer outra cidade nos EUA, com uma variada programação de peças, concertos e festivais. Para os que gostam de explorar todos os cantos da cidade, Minneapolis oferece mais 90 quilômetros de ciclovias urbanas, cercadas de belas paisagens, como ao longo das margens do Rio Mississipi. Para os mais boêmios, a pedida é uma visita a um dos vários restaurantes do Nicollet Mall, que também é um ótimo local para compras.

Consulado dos EUA no Recife: Rua Gonçalves Maia, 163, Boa Vista. Recife-PE / CASV: Av. Herculano Bandeira, 949- Pina Recife-PE



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Economia

De olho em novos negócios Expo-Fórum internacional INVESTE NORDESTE ajuda a criar atmosfera favorável para investidores nos nove estados e atrai olhares de estrangeiros

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ano de 2014 movimentou o Brasil no segmento de eventos. A Copa do Mundo superou as expectativas e permitiu mostrar ao exterior a potência do país. O Nordeste também foi palco das atenções no Mundial quando sediou importantes partidas, além de também trazer a reunião da Cúpula dos BRICS (Brasil, a Rússia, Índia, China e África do Sul), sediado em julho em Fortaleza (CE), e a copa de robótica de repercussão mundial, Robcup em João Pessoa (PB). O calendário de importantes eventos se completa com o INVESTE NORDESTE que acontecerá em novembro e promete atrair mais ainda os olhares para a região, nos dias 26 e 27 de novembro. O evento procura criar uma atmosfera


Fotos: Shutterstock

Brasil e Portugal. ZPEs, especialmente no Nordeste, como um instrumento central no processo de atração de investimentos, especialmente estrangeiros, as oportunidades de franquias, oportunidades imobiliárias para o Nordeste, oportunidades de investimentos para o setor hoteleiro, construção civil, portos, mobilidade urbana, energias renováveis, como lidar melhor com o problema da burocracia, abertura de empresas, informação sobre tributação brasileira etc.”, explica Erik. Cada estado do Nordeste estará presente mostrando o que tem a oferecer de melhor para quem for investir na região. Será um evento aberto somente aos empresários executivos e pessoas que tomam decisões e comandam os destinos das suas empresas.

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mundo”, afirma Erik Norat, empresário diretor da 3 Uno Business Associates e organizador do evento juntamente com José Lourenço, seu sócio. Um dos objetivos principais do evento é proporcionar a interação com investidores internacionais e empresas líderes nacionais interessadas em novas oportunidades. A proposta é ser uma grande vitrine de negócios com um formato de fórum e exposição, onde muitos terão a chance de mostrar suas experiências, produtos e serviços. Serão abordados vários temas relevantes para o crescimento da economia nordestina, nas suas mais diversas áreas.“Teremos palestras de autoridades europeias falando sobre o processo de internacionalização e estreitamento de laços lusófonos entre

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favorável para investidores internacionais interagirem melhor com altos executivos nacionais e entidades governamentais brasileiras. A expectativa é que sejam formalizadas parcerias com entidades nacionais e internacionais que tenham interesse em investir no Nordeste brasileiro e também assinando um número significativo de protocolos de entendimento entre as partes presentes. “No segmento dos eventos de grande importância, segue-se o INVESTE NORDESTE, um Expo-Fórum dedicado ao Nordeste, feito no Nordeste, mas para todos os brasileiros e virado também para empresas do exterior, assim, como para investidores que sabem que o Brasil vai continuar a crescer e continuará a ser uma das economias mais fortes do


Terra de investimentos

Erik Norat, coordenador do fórum

José Lourenço, organizador do evento

A região Nordeste tem se fortalecido no segmento de turismo de eventos e está se consolidando na pauta de investimentos federais. Um dos principais investimentos do Ministério do Turismo no Nordeste é neste segmento. Dos R$ 461 milhões autorizados e empenhados via PAC do Turismo para construção e reforma de centros de convenções em todo o país, R$ 160 milhões foram destinados para a região Nordeste, em Teresina (R$ 40 milhões), Maceió (R$ 20 milhões), João Pessoa (R$ 50 milhões), Natal (R$ 30 milhões) e Aracaju (R$ 20 milhões), além do investimento no Centro de Convenções de Fortaleza, que são outros R$ 62 milhões. A intenção do Investe Nordeste é ampliar mais ainda os horizontes para a região. “Para colher, precisamos sempre plantar. E isso é o que mais temos feito ultimamente. O Nordeste tem muito a oferecer para quem vem de fora investir. Um local apaixonante de viver e agora, mais que nunca, um local ideal para investir. Esperamos dar continuidade às parcerias e negócios que serão criados a partir de novembro DE 2014. Muitos projetos de negócios serão iniciados neste encontro. A ideia

é dar prosseguimento ao que for criado durante o encontro”, afirma o coordenador do evento, Erik. Projetando os frutos que serão colhidos no futuro, ele diz que é preciso esperar, observar tudo e consequentemente avançar naquilo que for estrategicamente viável. Além disso, assegura que a região pode ser ponto chave para o crescimento da economia brasileira. “Estarmos sempre sintonizados como o mercado reage diante das possíveis turbulências e constantemente posicionar nossas velas conforme a direção dos ventos. Por isso será de vital importância termos uma participação ativa do empresariado Nordestino no nosso Fórum de negócios, pois lá, mais do que em qualquer outro local, será o palco ideal onde serão discutidos vários temas relevantes da realidade econômica brasileira, sobretudo a do Nordeste e nos seus mais variados setores”, explica. Erik afirma também que a oportunidade abre espaços para o empresariado nordestino aprender interagindo com as experiências econômicas passadas pelo empresariado europeu, como eles estão lidando com as dificuldades geradas com a crise lá fora, nos seus próprios países de origem.

Fotos: Divulgação



Economia

O mar está para peixe Com grande potencial no crescente mercado mundial de pescados, o Brasil precisa de medidas para fortalecimento do setor. Ministério da Pesca tem o desafio de explorar as possibilidades do país no contexto global e retomar o crescimento da economia primária

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Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

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s discussões em torno do futuro político e da sustentabilidade econômica brasileira invariavelmente desembocam nas discussões em torno do enxugamento da máquina pública e, como instrumento para tal, a reforma administrativa. Tema recorrente entre os presidenciáveis nas campanhas eleitorais de 2014, a pesada estrutura administrativa do país já conta com 39 Ministérios/Secretarias Especiais e 25 Autarquias Federais com status ministeriais, dos quais sempre são elencados aqueles que no consciente popular não justificam sua existência. Dentre eles, figura o Ministério da Pesca e Aquicultura, criado em 2009 pelo então presidente Lula. Passados cinco anos de sua criação, as potencialidades brasileiras para a produção de pescado chamam atenção, mas ainda são pouco exploradas enquanto objeto de políticas públicas do governo federal. O Brasil possui 13,7% da água doce disponível no planeta, 4,5 milhões


Fotos: Shutterstock | Divulgação

6º lugar no contexto global de sua produção, se destacando como líder mundial de produtividade em 2003 e, logo após, assistiu esse desempenho decrescer para 10º lugar. Na interpretação de Itamar Rocha, para se compreender melhor a dimensão das oportunidades que a carcinicultura pode proporcionar ao Brasil, basta vislumbrar o contexto em que o Brasil está inserido. Ele cita o exemplo do atual desempenho da criação de camarões do Equador, um país que possui apenas 600 km de costa, igual à do Estado do Ceará, cuja exploração de 180 mil hectares de viveiros, contribuiu para uma produção de 280 mil toneladas de camarão, com exportações superiores a 215 mil toneladas e captação de US$ 1,67 bilhão de dólares de divisas em 2013. Enquanto isso, o Brasil explorou apenas 22 mil hectares, de 1 milhão disponível, com uma produção de apenas 85 mil toneladas e exportações de 612 toneladas e US$ 4,1 milhões no mesmo período.

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ca”, aponta o engenheiro que preside a Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC). Itamar lembra que, mesmo tendo sido responsável pelo desenvolvimento da tecnologia que revolucionou a piscicultura mundial, a reprodução induzida através da hipofisação (baseada na desova a partir da aplicação de hormônios naturais nos peixes maduros), ainda no início da década de 1920, no tocante à produção mundial de peixes de água doce cultivados, o Brasil continua amargando uma insignificante posição (responsável por 1,52% da produção mundial) mesmo com um volume de água doce 2,8 vezes maior que o da China e 9,2 vezes que o do Vietnã. Países que, em 2011, produziram cerca de 21 milhões e 500 mil toneladas e 2 milhões e 25 mil toneladas, respectivamente, enquanto a produção brasileira no mesmo ano resultou em pouco mais de 541 mil toneladas. O mesmo acontece em relação ao cultivo do camarão marinho, quando o Brasil chegou a ocupar o

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de km² de Zona Econômica Exclusiva, nove milhões de hectares de águas doces represadas (barragens, lagos e açudes), um milhão de hectares de áreas apropriadas para a exploração da carcinicultura marinha (criação de camarão em viveiros), afora as áreas salitradas, já sistematizadas, do médio São Francisco, aptas para o cultivo de peixes e camarão. Diante desta abundância de recursos naturais, o engenheiro de pesca Itamar Rocha, considera fundamental a manutenção de um instrumento institucional como o Ministério da Pesca para o fortalecimento da economia primária do país. “Esse invejável acervo ecológico natural, que inclui favoráveis condições climáticas, associadas a uma significativa produção de grãos e uma estratégica localização geográfica em relação aos mercados americano e europeu, coloca o Brasil em posição privilegiada no tocante à produção e exportações de moluscos, peixes e camarões cultivados, para o que demanda uma sólida política públi-


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Mercado à vista A China, maior produtora mundial de pescado, já ocupa a terceira posição dentre os principais importadores do produto. Seu consumo per capita dobrou de 10 para 20 quilos entre 1980 e 2000. E, em 2010, o consumo alcançou os 28 quilos. O objetivo dos chineses, entretanto, é chegar aos 60 quilos per capita por ano. O país precisa, portanto, de fornecedores para atender sua crescente demanda. O Brasil é um potencial candidato e possui recursos naturais para tal mas, para isso, precisa superar determinados entraves ambientais, políticos e burocráticos. A outra opção para a China seria o continente africano, mas este precisa superar seus graves conflitos sociais e ainda os problemas sanitários e políticos. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a demanda reprimida de pescado, projetada para 2030, será de 30 milhões de toneladas/ano, a qual só poderá ser atendida mediante a exploração da aquicultura. “Uma atividade para a qual o Brasil detém invejáveis recursos naturais, localização geográfica privilegiada e uma sólida infraestrutura básica para viabilizar essa exploração e ocupar a liderança mundial desse setor”, afirma Itamar Rocha.

Frutos do mar brasileiro O mercado interno também se constitui um fato positivo para o setor, que apresenta um aumento do consumo de camarão, peixes e moluscos cultivados. Em 2012, o consumo per capita de carne vermelha foi de 55,5 quilos, de aves foi 44 quilos, enquanto de pescado foi de 8,5 quilos e de camarão 0,6 quilos. Além dos preços do camarão, peixes e moluscos oriundos de cultivos estarem tornando-se mais competitivos em relação ao da carne vermelha, há uma divulgação mais ampla dos benefícios do consumo regular de pescado à saúde dos indivíduos. Amparado por uma estrutura mercantil favorável ao crescimento brasileiro no setor, cabe ao Ministério da Pesca e Aquicultura aproveitar as possibilidades que existem no mercado interno e internacional. Fazer de sua atuação um instrumento imprescindível na condu-

ção das políticas governamentais e de crescimento da economia é, aliás, uma forma de assegurar a manutenção da sua existência nos quadros do Planalto. Para o presidente da ABCC, Itamar Rocha, o MPA precisa ser dotado de uma maior profissionalização em sua estrutura administrativa para evitar o retrocesso do país no comércio mundial de pescado. “Naturalmente, o que precisa ser mudado no atual contexto do MPA, é o enfoque das políticas e a forma de administrar essa verdadeira joia da coroa (...), pois tem sido exatamente o predominante desconhecimento da realidade setorial e a falta das indispensáveis competências técnico-setorial, que levaram a um desempenho do setor pesqueiro e aquícola brasileiro, em desacordo com as reais potencialidades naturais brasileiras para a produção de pescado”, conclui. Fotos: Divulgação





Geral

Amor

Amor além do tempo

As rugas não atingem o coração, por isso a Revista NORDESTE foi atrás de histórias de romance que superam o quesito idade Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

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corpo não é só feito da pele que fica traçada pelo tempo. As marcas inevitáveis da vida, conhecidas por rugas, se espalham pelo rosto, mas não chegam ao coração. Idalba Lopes parece ter percebido isso quando decidiu experimentar algo típico da adolescência: uma paixão. Com mais de 70 anos, ela se jogou nos braços da sorte quando enviou um e-mail para o seu primeiro amor. Às 19 horas e 47 minutos de uma segunda-feira de 2011, em uma carta digital intitulada “Tentativa de comunicação além do tempo”, ela escreveu: “João (nome fictício), não sei se vou conseguir realizar esta aventura, mas só tentando é que saberei de verdade se isto é possível. Se conseguir chegar até você, saiba que foi uma alegria imensa

localizar a sua história intelectual e parabenizá-lo por tanta contribuição ao mundo do saber. Eu, Maria Idalba Lopes, que morava no Joaquim Távora (Fortaleza), irmã do falecido João Alberto Lopes (os anos são tantos que é muito natural a memória falhar) vou lhe enviar meu e-mail. Se o acaso permitir esta aventura ficarei feliz...” O acaso permitiu. Em menos de um minuto a resposta já estava na caixa de e-mail dela. “Caríssima Idalba, você não imagina a minha felicidade ao receber seu e-mail. Lembro-me, em razão de ter boa memória, de todos os nossos momentos comuns que, infelizmente, foram pouquíssimos. Você ainda lembra do ‘maestro’ que morava em frente de sua casa, que regia orquestras inexistentes? Confesso-lhe, sem qualquer vacilação

ou temor, que você foi o grande amor da minha vida. O pior – ou, com mais sinceridade, o melhor- é que continua sendo, sabia? Vamos fazer um trato, tendo como testemunha o saudoso João Alberto, que até os nossos últimos dias iremos nos corresponder? E, quem sabe, marcarmos um encontro para matar saudades dos tempos que não soubemos aproveitar? Responda-me, minha querida. Depois trocaremos os telefones, tá? Um caloroso e saudoso beijo”. A comunicação além do tempo continuou por mais inúmeros e-mails até o encontro tão esperado. “A minha filha mais velha foi pra São Paulo e eu fui junto, e consegui me comunicar com ele. Em São Paulo passamos dois dias juntos”, conta Idalba, depois de três anos, como recomeçou essa história de afeto.


Histó ria Uma história antiga

Idalba Lopes vive romance

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ta”, conta Idalba rindo, perdida em uma lúcida memória de amor de juventude. Nunca esperava reencontrá-lo, ainda mais nessa altura da vida, já viúva com cinco filhos, 11 netos e seis bisnetos. Mas, para ela, o amor nessa idade é um sentimento sublime. “É um amor na sua manifestação mais pura. É um amor tranquilo, que não envolve ciúmes, maduro, sem as sequelas da juventude, de ansiedade, de dúvida. É um sentimento muito bom por que não causa ansiedade e conforta a gente saber que é amada e que ama alguém”. A comunicação além do tempo continua até hoje por e-mail, telefonemas, correspondências e encontros esporádicos em viagens, já que ele mora em São Paulo e ela em Fortaleza.

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A relação entre Idalba Lopes e João começou há muito tempo. Ainda jovens eles namoravam, mas ela decidiu seguir uma vida de celibato. “As freiras botaram na minha cabeça que eu tinha que ser freira e ele ficou rondando a minha casa. Ele era amigo das minhas amigas e começamos a namorar. Teve um retiro interno no colégio das Dorotéias e a primeira coisa que fiz foi acabar o namoro. Eu disse que não queria mais namorar por que minha vocação era religiosa e agente se afastou. Aí ele foi embora para o Rio de Janeiro”, conta Idalba, que não se tornou freira e se casou anos mais tarde. Ela também lembra que o pai dele era comunista e que isso era um dos empecilhos para o namoro na época. “Um dia ele foi lá em casa e levou um monte de santo para mostrar que não era comunis-


Lentes Através das lentes

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José e Josefa estão juntos há 50 anos

A paixão pode sim ressurgir em olhos marcados por rugas, como também pode ser mantida por longos anos e continuar forte na velhice. O fotógrafo Rizemberg Felipe já presenciou esse amor maduro em vários casais que fizeram álbum de fotos com ele para comemorar o tempo de união. Segundo ele, esse amor na terceira idade demonstra a mesma alegria e vivacidade num ensaio fotográfico que um casal de jovens. “Se um casal de recém-casados faz um ensaio, um de 50 anos faz do mesmo jeito, com o mesmo brilho no olhar como se tivesse começado agora”, conta. O fotógrafo também conta que o romantismo partiu muitas vezes do homem, na hora de tomar a iniciativa de fazer um álbum em conjunto. “Ultimamente vem vindo uma demanda de casais por iniciativa do homem e não da mulher. Em geral são as mulheres quem procuram. Com os casais mais antigos isso parte do homem, até pelo orgulho de manter uma relação duradoura por tanto tempo. Fiz dois casais com esse perfil”, lembra o fotógrafo. Um exemplo desse romantismo é José Moura Diniz (68), que acabou de completar bodas de ouro com a esposa, Josefa Moura (69). Em 50 anos de união eles afirmam que o segredo de continuar se amando por tanto tempo é a paciência e renúncia, mas que o amor na terceira idade em nada difere de um amor na juventude. “Para mim, o amor é a mesma coisa, nada muda. E tem que permanecer do começo até o fim”, afirma Josefa. Diniz conta que sempre sonhou em casar com uma mulher que lhe amasse por muito tempo e com quem pudesse constituir uma família. Com Josefa conseguiu isso, criando três filhos e quatro filhas. Mas ele, depois de todo esse tempo, conquista sua esposa a cada dia, com elogios e segurando sua mão por onde anda. E ainda assegura: “Agora está melhor que antes”.


Remédio para autoestima

Um dos grupos de turismo da Terramar

A alegria de viver não acaba depois dos 60 anos. Pelo menos para as turmas de turistas da terceira idade que José Carlos acompanha. Ele trabalha como guia turístico para uma empresa especializada em pacotes voltados para grupos de idosos, a Terramar. Nessa função, José Carlos está há mais de 15 anos viajando dentro e fora do Brasil. Com esse público maduro ele sempre compartilha momentos divertidos. Este ano, em uma festa de São João na cidade de Galante na Paraíba, José Carlos acompanhava um grupo de 38 pessoas. “E de repente me chamaram”,

conta ele, lembrando que as pessoas estavam observando um senhor de 92 anos dançando e beijando uma senhora. O romance foi tão grande que a senhora não queria deixar o paquera ir embora. “Ela foi até o ônibus para se despedir”, lembra. A paixão na terceira idade, para José Carlos, não é igual à de adolescente. “É algo até maior. Uma pessoa dessas às vezes não tem esperança e isso ajuda a ter mais vontade de viver”, completa o guia afirmando que não há nada melhor que um romance para aumentar a autoestima. Além disso, ele explica que viajar é melhor do que qualquer remédio. “Antigamente, esse público tinha dinheiro, mas não sabia aproveitar, guardava tudo debaixo do colchão. Hoje, eles sabem usufruir e viajar faz bem para a saúde. Quantos estavam deprimidos e ficaram bons!”, conta José Carlos.

A esposa conta que José não consegue ficar longe dela. “Nunca vi um nome tão doce, Vanda”. Ele é muito romântico, e sempre quando pode faz os mimos da mulher. Antigamente, quando não tinha dinheiro para comprar um buquê, trazia um março de sabugueiro como agrado. “Ele toda vez trazia chocolate, pastel”, conta ela. Dessa bonita união surgiram seis filhos, 15 netos e dez bisnetos. A filha caçula, Valéria Meira, conta que a família faz questão de comemorar a união dos dois. “É todo mundo muito unido. É muito bonito isso. Poucos têm uma família tão bonita”, conta. Pelos grupos de viagens, eles já foram para Gramado (RS), São Paulo, Minas Gerais, Ceará e vários outros lugares. E contam que começaram a viver mais depois dos 60 anos. “Agora é que se curte mesmo”, conta José com bom humor, prometendo que esse amor vai durar muito mais. “Quando completar 100 anos a gente manda fechar a casa aqui e faz uma festa”, jura.

Casal Meira sempre comemora a união

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Quem já curtiu muito a vida viajando foram os eternos namorados José Meira Neves e Vanda Moraes Meira. Ela, uma senhora de 92 anos, mas que esbanja um brilho juvenil no olhar, conta que sempre viajava com turmas de amigos do Clube da Melhor Idade Juventude Prateada, em João Pessoa. Hoje em dia, as horas estão sendo gastas com prosas na varanda. Vizinhos já chegaram a perguntar o que o casal tanto conversa, já que passaram uma vida juntos. “Ah, coisas da vida”, diz ele ainda apaixonado. Esse amor já dura muito tempo, só de casamento são 65 anos de união. Ainda lúcido, ele resgata a memória do primeiro encontro com Vanda como se tivesse acontecido ontem. “Ela abriu a porta do refeitório do Juliano Moreira, me viu e ficou lá ‘estatelada’ me olhando”. Isso foi na época em que ele ainda trabalhava nos telégrafos e Vanda na Secretaria de Saúde. O encontro aconteceu por que ela trabalhava com a mãe de José, e desse dia em diante o romance aconteceu sem hora para acabar.

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Bodas de diamante


Geral

Da tanga à toga Demarcação dos territórios indígenas, corrupção e imigração são algumas das questões polêmicas na agenda do dia do Ministério da Justiça. A Revista NORDESTE conversou com o Ministro José Eduardo Cardozo sobre como resolver tais problemas

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Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br


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Foto: Ascom | Ministério da Justiça

o visto para a Copa do Mundo e não querem retornar mais para Gana, o que, para algumas cidades do Sul do país, acabou trazendo um problema seríssimo. Quais os comportamentos que estamos adotando?

“Você não tem efetivamente alternativa para combater a corrupção que não colocá-la sob a luz do sol”

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NORDESTE: O senhor acha que a presidente tem a imagem de que é uma gestora que combate a corrupção? Cardozo: Eu não tenho a menor dúvida disso. A presidente Dilma tem como característica de sua ação de governo um compromisso profundo com a ética, ou seja, ela não tolera maus feitos e desvios éticos, não importa de onde venham. NORDESTE: No norte do Brasil existem situações ainda desconfortáveis

em relação aos estrangeiros no país. Como o Ministério da Justiça está tratando disso com os governos estaduais? Cardozo: Nós tivemos uma inversão da postura do Brasil no cenário mundial no que diz respeito ao fenômeno da imigração. Antigamente, nós tínhamos os brasileiros querendo morar em países estrangeiros e quando se falava em imigração, significava tentar viabilizar que eles pudessem morar em outros países sem as restrições que porventura lá se faziam. O cenário se inverteu, o Brasil é um país que cresceu economicamente e socialmente. Hoje, os estrangeiros de todos os continentes querem vir para o Brasil. Eu dou o exemplo dos haitianos, que têm no Acre uma das portas de entrada, e que trouxeram para nós um problema a ser equacionado. Tiveram também agora o problema dos ganeses, que tiraram

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ORDESTE: Um dos aspectos que está no imaginário coletivo da sociedade brasileira e que mais incomoda é a exploração do tema corrupção. O que o governo Dilma produziu de forma concreta para enfrentar essa chaga que inquieta a sociedade? Cardozo: Você não tem efetivamente alternativa para combater a corrupção que não colocá-la sob a luz do sol. A corrupção quando não é conhecida floresce e ninguém pode combatê-la. Uma série de institutos foram criados ao longo do governo do presidente Lula e aplicados durante o governo da presidente Dilma, que permitem uma maior fiscalização da sociedade e enfrentamento da problemática. Isto eu acho que é um grande êxito do governo federal nos últimos anos. Um exemplo do que falo é a criação da CGU (Controladoria Geral da União), em uma feição que não existia antes. No governo Dilma, foi criada a lei de Acesso à Informação, permitindo que qualquer cidadão tenha acesso a informações do governo federal e, portanto, podendo agir em relação a elas. Há uma série de medidas que foram tomadas. A política que foi desenvolvida foi de autonomia da Polícia Federal, que investiga, e uma política também de garantia à atuação independente do Ministério Público, com a nomeação de pessoas que não engavetam processos.


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como um dos grandes problemas do país. Há um enfrentamento por parte do Governo Federal? Quais são os indicadores que o Ministério aponta em relação ao tema? Cardozo: Nós temos um órgão hoje no Ministério da Justiça que é a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), que traça a política sobre drogas e tem uma interface muito grande com os ministérios da Saúde, do Desenvolvimento Social e com as nossas polícias. Partimos de uma premissa muito clara: em relação a traficantes e organizações criminosas, o que se propõe é a aplicação da lei de forma rigorosa, com investigações e enfretamento do crime organizado e ações da Polícia Federal em associação com a polícia dos estados.

“Antigamente, nós tínhamos os brasileiros querendo morar em países estrangeiros [...] Hoje, os estrangeiros de todos os continentes querem vir para cá”

Em primeiro lugar, o Brasil sempre teve uma postura acolhedora e não mudará. Nós garantimos direitos, respeitamos e não discriminamos. Em segundo, precisamos melhorar nossa legislação. Para isso, criamos uma comissão de juristas que já elaborou um projeto que garanta direitos, que seja mais respeitosa e que seja mais consentânea com aquilo que acontece no mundo hoje. Em terceiro lugar, nós estamos criando uma política governamental em relação a isso. Como não era uma característica nos últimos anos você ter imigrações para cá, nós não temos um órgão para lidar com isso. Fizemos várias reuniões interministeriais, coordenadas pelo Ministério da Justiça, para verificarmos que nós temos que ter políticas já cristalizadas em relação à imigração, seja para obtenção de emprego, seja obtenção de documentos, seja obtenção de vistos de permanência, seja de inserção social. NORDESTE: A droga tem sido pautada

NORDESTE: Qual sua opinião sobre a descriminalização da maconha? Cardozo: É um tema em debate no mundo e nós não podemos nos furtar de debatê-lo, porém com a clareza de que nenhuma proposta deve ser avançada sem que exista um amplo consenso social sobre ela. A presidenta Dilma propôs uma ampla pesquisa na Organização dos Estados Americanos (OEA) em relação aos efeitos das situações liberalizantes que ocorreram no mundo. Então nós temos que refletir, debater e ter políticas de enfrentamento aos traficantes e de acolhimento aos dependendes químicos, porque são discriminados e precisam de tratamento de saúde e programas de reinserção social. NORDESTE: A presidente Dilma está retomando agora a remarcação das terras indígenas. Qual a orientação que ela tem dado a um tema tão especial como esse? Cardozo: Posso afiançar que a maior parte das terras já foi demarcada. As que ficaram são terras produtivas ou que têm títulos de propriedade, às vezes expedidos até por estados. O que, claro,


traz um potencial de conflito muito grande em relação à demarcação de terras indígenas, porque quando você demarca uma terra indígena, ela passa a ser considerada Patrimônio Público Federal, passa a pertencer à União e aí, pela própria Constituição, títulos de propriedade que estão sobre a terra não são indenizados. Só são indenizados benfeitorias por aqueles que lá as fizeram de boa fé. O governo Dilma tem seguido a seguinte linha: primeiro, nós queremos aperfeiçoar o processo de demarcação, porque a maior parte deles são judicializados, e quando você vai para a Justiça, demora décadas às vezes para resolver o problema, ampliando a insegurança jurídica e a tensão. Segundo, estamos introduzindo o instrumento da mediação, ou seja, buscamos o diálogo para verificarmos quais alternativas podem garantir de um lado o direito dos indígenas e do outro o direito das pessoas que estão instaladas nessas áreas.

sentar na sua área nos debates com os outros candidatos à presidência? Cardozo: É muito comum se brincar e dizer que o Ministério da Justiça vai da tanga à toga. Da tanga, porque a Fundação Nacional do Índio (Funai) faz a política para os índios do país e pertence aos nossos quadros. À toga porque cabe a nós fazermos a relação entre o poder judiciário e o Ministério

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NORDESTE: Como o ministro de uma pasta estratégica avalia o papel que o Ministério da Justiça teve ao longo desses anos, e que saldo o senhor acha que a presidente Dilma vai apre-

“Não podemos nos furtar de debater (sobre a maconha), porém com a clareza de que nenhuma proposta deve ser avançada sem que exista um amplo consenso social”

Público. Entre essas duas situações, da tanga e da toga, nós temos a segurança pública, que tem de ser tocada através da Secretaria Especial de Segurança para Grandes Eventos, que nós criamos exatamente para termos um padrão de excelência na Copa do Mundo, na Copa das Confederações, na visita do Papa, entre outros. Nós temos a Secretaria de Defesa do Consumidor, que também é uma atuação do Ministério da Justiça. Temos a Secretaria Nacional de Justiça, que cuida da política de estrangeiros e que faz classificação indicativa das faixas etárias para programas de televisão. Temos a secretaria de assuntos legislativos, que faz a apreciação de projetos de lei no Congresso Nacional. Temos a parte relativa aos corpos policiais da União - a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal -, temos Departamento Penitenciário Nacional, que cuida das penitenciárias federais e fiscaliza o sistema penitenciário no país. Ou seja, muita coisa. Em todas essas áreas, a condução de políticas dos últimos anos, e neles eu englobo também a gestão do presidente Lula, foi muito profícua e com muitos resultados concretos para a população.

Foto: Ascom | Ministério da Justiça




Geral TÉCNICA É USADA NO EXTERIOR

Tropas de elite do ar Pioneiro no Nordeste, o curso de paraquedismo objetiva formar policiais baianos capacitados para operações em locais de difícil acesso Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

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enas de soldados descendo dos céus de paraquedas são relativamente comuns. Na televisão, pelo menos, é possível ver situações como estas, seja em treinamentos reais das forças armadas ou em filmes – especialmente os estadunidenses. A prática, na verdade, é tipicamente militar, remontando ao período da II Guerra Mundial. O paraquedismo no contexto policial, no entanto, já é uma situação mais incomum e, para muitos, até inusitada. Não para a PM baiana, que em maio deste ano concluiu o primeiro Curso de Operações Paraquedistas Policiais, capitaneado pelo Batalhão de Polícia de Choque e pelo Grupamento Aéreo. O curso foi ministrado pela Escola de Paraquedismo Skydive Itaparica e a prática aconteceu no aeródromo de Vera Cruz, na Ilha de Itaparica (BA), com lançamentos entre 16 mil e 10 mil pés de altitude.

“Agora sabemos por que os pássaros cantam”. Foi o que afirmou o Tenente Coronel Paulo Coutinho, Comandante do Batalhão de Polícia de Choque, durante a solenidade de formatura dos militares paraquedistas, se referindo ao sentimento de êxito dos 25 profissionais que concluíram o curso. Todos policiais militares, dentre oficiais e praças, já formados em operações especiais, pilotos ou tripulantes operacionais, pois apenas esses profissionais participarão de missões com as características necessárias para a utilização do paraquedismo. De acordo com a Polícia Militar da Bahia, os paraquedistas formados no curso serão utilizados em situações em que o acesso por via terrestre impossibilite uma ação com surpresa e rapidez, a fim de combater a criminalidade no local, principalmente em ambientes rurais. Mas também pode ser necessário, segundo a PM, nas situações de combate a quadri-

Este é o primeiro curso do tipo realizado não só na Bahia, mas na região Nordeste. No entanto, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Paraná, Distrito Federal e Roraima já utilizam esse tipo de transporte de tropa em missões de altíssimo risco em seus estados. Segundo a PM da Bahia, a técnica de paraquedismo com policiais já é uma prática consolidada também há muito tempo em efetivos de operações especiais policiais de vários países, tais como o GIGN na França, GSG9 na Alemanha, GEO na Espanha, GOPE no Chile, COPES na Colômbia e GOE em Portugal. De acordo com Arnaldo Sobrinho, que é instrutor da disciplina Temas Fundamentais da Segurança Pública na Polícia Militar da Paraíba, o intuito de treinar policiais para uso de paraquedas é dotá-los de conhecimento que possam ser útil à sociedade, que é a destinatária final dos serviços policiais. O tenente coronel afirma que o paraquedismo é uma atividade muito praticada no meio policial, mas tem uso em operações muito restrito. Para ele, a prática é benéfica para o policial, já que desenvolve o controle emocional, a disciplina e outros atributos. A PM da Bahia prevê a abertura de vagas para a formação de uma nova turma no fim do segundo semestre deste ano.

lhas bem armadas e equipadas em regiões no interior do estado. “Essas ocorrências podem ser em cidades pequenas de estrutura limitada, por isso a necessidade de emprego do grupamento de policiais militares paraquedistas”, explica a Assessoria de Comunicação da instituição. O Tenente Coronel Arnaldo Sobrinho, pós-graduado em segurança pública, considera louvável a iniciativa da PM baiana. “Sabe-se que se trata de um estado de grandes dimensões, com diversidade de vegetação e clima, onde é possível imaginar a aplicação, em casos muito especiais, de tropas da PM com esse tipo de conhecimento”, esclarece o militar. O efetivo só atua por determinação do Comandante Geral da Polícia Militar da Bahia. Foto: Grupamento aéreo PM-BA 3 | Grupamento aéreo PM-BA



Saúde

Aguenta coração

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Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

Insuficiência cardíaca mata mais que câncer no Brasil. Pesquisa revela que o país tem 100 mil novos casos diagnosticados por ano e uma das maiores taxas de mortalidade da doença no mundo

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or minuto, um jovem coração bate em média de 60 a 90 vezes. O compasso em um ritmo saudável, sem chiado ou sopro distribui a quantidade de sangue necessária para o resto do corpo. Mas, quem sofre de insuficiência cardíaca (IC) tem dificuldades com esse bombeamento. No Brasil, o problema é mais comum do que se pensa e a doença já se tornou uma espécie de epidemia. De acordo com uma pesquisa inédita realizada pelo Departamento de Insuficiência Cardíaca (DEIC) da Sociedade Brasileira de Cardiologia, em parceria com o Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital do Coração (HCor), 100 mil novos casos de IC são diagnosticados por ano, além de confirmar que a doença mata mais que câncer no país. A taxa de mortalidade da doença no Brasil é uma das maiores do mundo. De acordo com os dados da pesquisa, dos brasileiros internados com o problema, 12,5% morrem no hospital, uma taxa de mortalidade muito superior a outros países, como na Europa (6,7%) e nos Estados Unidos (4,2%). O estudo também apontou que 40% dos pacientes internados por IC voltam ao hospital em até seis meses. Destes, em torno de 40% retornam por causas que poderiam ser prevenidas como interrupção do uso de

medicamentos e resistência a medidas adicionais, segundo a pesquisadora Sabrina Bernardez do HCor. O levantamento acompanhou 1.263 pacientes de 57 centros de referência, públicos e privados, de 17 estados por um ano e meio. Desses, 477 morreram em seis meses, 298 voltaram a ser internados em menos de três meses e 220 foram internados novamente em até seis meses. “Estes dados alertam para a necessidade de políticas públicas que foquem na disponibilização do arsenal terapêutico da IC na rede pública de saúde e capacitação profissional para o atendimento a esta doença, com constituição de equipes multiprofissionais” afirma Sabrina. A médica alerta também para a ocorrência da doença em pessoas mais jovens. Embora seja mais comum em idosos, com os hábitos inadequados a tendência é a IC se tornar cada vez mais comum entre pessoas de pouca idade. “A insuficiência cardíaca representa a via final das cardiopatias, se tornando uma epidemia mundial tanto em decorrência do envelhecimento populacional como em decorrência de inadequada prevenção cardiovascular assim como aderência ao tratamento proposto”, explica a pesquisadora do HCor, Sabrina Bernardez.


Grupo de risco

Luzia Teles

Fatores de risco

pressão alta

34%

diabetes

27%

histórico de infarto

24%

insuficiência renal crônica

as causas mais comuns estão a doença das artérias coronárias, principalmente, na ocorrência do infarto agudo do miocárdio e a hipertensão arterial não controlada. A IC também pode ser decorrente de alterações nas valvas cardíacas, doença de Chagas, arritmias cardíacas, miocardite (inflamação do coração), abuso de álcool, cocaína ou outras drogas ilícitas, toxicidade cardíaca por quimioterápicos, entre outras causas. De acordo com a pesquisa do DEIC dentre os fatores de risco dos pacientes monitorados estão: pressão alta (70%), diabetes (34%), histórico de infarto (27%) e insuficiência renal crônica (24%). A abrangência dos pacientes também era maior entre o público feminino. Cerca de 60% eram mulheres acima dos 60 anos.

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70%

Aos nove anos de idade, a engenheira Luzia Teles (39) sofreu com uma febre reumática, uma doença inflamatória que se desenvolve após uma infecção pela bactéria estreptococo. “Essa bactéria se alojou em uma válvula do meu coração e na época não foi diagnosticada em tempo hábil e danificou minha válvula mitral”, explica. Até os 24 anos tudo era normal. Quando chegou a hora do checkup médico. Fazendo os exames para auscultar o coração, foi diagnosticado um sopro. Era a falha na válvula mitral, algo que também enfraquece a potência de bombeamento do sangue. A médica Sabrina Bernadez explica que se não tratado, esse tipo de problema pode ocasionar mais tarde a Insuficiência Cardíaca. “Com o tempo vai dilatando o coração”, explica. Dentre

Fotos: Shutterstock


Prevenir é preciso

Sabrina Bernardez

Não adianta fazer somente o check-up anual e fingir que está tudo bem, antes de tudo devemos mudar nosso comportamento

Os sintomas mais comuns da Insuficiência Cardíaca, que podem ocorrer com menor ou maior intensidade, dependendo de cada caso são: falta de ar durante a atividade física ou mesmo em repouso, com piora ao deitar-se e tosse persistente (devido ao acúmulo de líquidos no pulmão), inchaço (edema) nas pernas, tornozelos e pés, inchaço no abdome (ascite), ganho de peso repentino devido ao acúmulo de líquidos no corpo, fadiga, entre outros. Para Sabrina Bernardez, prevenir a IC é se preocupar com fatores cardiovasculares de um modo geral. “O controle de fatores conhecidos como hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia, tabagismo, drogas ilícitas, alcoolismo, por si só, reduz de forma importante os riscos de desenvolver a IC. Desta maneira, a alimentação saudável, atividade física regular com prevenção de estresse devem não só estar no receituário médico como ser seguidas com todo rigor”.

Ela alerta também que outras ações são essenciais para a prevenção, como a eliminação de focos do inseto popularmente conhecido como “barbeiro” para prevenir a Doença de Chagas e o tratamento adequado das infecções bacterianas (estreptocócicas), principalmente as faringoamigdalites pode prevenir a febre reumática e suas consequências às valvas cardíacas. Por conta da febre reumática que teve na infância e do problema adquirido na válvula mitral, Luzia Teles faz sempre o checkup. Todo ano realiza ecocardiograma, procura se exercitar, balancear sua alimentação e evitar exercícios brutos. “A dica parece repetitiva, mas funciona na maioria dos casos: Não adianta fazer somente o check-up anual e fingir que está tudo bem, antes de tudo devemos mudar nosso comportamento. Qualquer mudança gera um sofrimento inicial, mas a recompensa do bem-estar e de anos bem vividos e com qualidade, vale todo e qualquer esforço”, enfatiza Sabrina.

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Pequenos corações Os problemas cardíacos estão se tornando cada vez mais frequentes em crianças. Uma pesquisa realizada no Canadá, pelo Hospital Infantil British Columbia, detectou o aumento de pressão arterial e rigidez na aorta de 118 adolescentes de 13 anos, dentre os quais 53% apresentavam obesidade. O sintoma diagnosticado neles é típico de pessoas mais velhas. A obesidade infantil atinge hoje 42 milhões de crianças com menos de cinco anos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Para a cardiologista pernambucana Sandra Mattos, a obesidade é uma das grandes causas dos problemas cardíacos em crianças, inclusive a Insuficiência Cardíaca. “A prevenção na infância é provavelmente a forma mais eficiente de evitar a Insuficiência Cardíaca. Muitas vezes ela acontece por conta de doenças que

são mal tratadas na infância”, afirma Sandra. A médica explica também que é importante desde cedo procurar se preocupar com a alimentação, fazer exercícios físicos e acompanhamento médico. Sandra Mattos é fundadora da ONG pernambucana Círculo do Coração, que oferece tratamento a crianças carentes, portadoras de doença cardíaca em algumas cidades do Nordeste. Na Paraíba, só este ano, com o projeto Caravana do Coração a ONG já passou por 13 munícipios realizando consultas e exames em crianças de zero a 12 anos, priorizando as que apresentam cardiopatia, febre reumática, sopro, cianose, taquicardia e desmaio. Os atendimentos foram estendidos também às gestantes a partir de 28 semanas, que apresentem sintomas de diabetes clínica, cardiopatia, ultrassonografia com suspeita, outro filho com cardiopatia ou má formação fetal.

doença em números

118 adolescentes apresentaram aumento da pressão e rigidez na aorta

53% destes apresentavam obesidade

42 MI de crianças sofrem com a obesidade


Fotos: shutterstock


Tecnologia em favor da saúde Em atividade desde 2012, o Sistema Integrado de Zoonoses tem diminuído o número de infectados por dengue em Salvador

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m todo começo do ano os brasileiros ouvem, assistem e leem notícias referentes aos surtos de dengue por todo o país. As chuvas torrenciais que atingem o sul e sudeste derrubam não só dezenas de casas e pontes, mas aumentam a população do Aedes Aegypt em qualquer canto de água parada, como alertam as milhares de campanhas de prevenção. Esse ano, entretanto, o Ministério da Saúde divulgou uma redução de 80% nos casos de dengue registrados no país no primeiro bimestre de 2014 em relação ao ano anterior. No Nordeste, a dengue espera até junho para começar a dor de cabeça aos agentes de saúde, já que as chuvas só ocorrem nesse período do ano. Se opondo à tendência regional, a Bahia tem diminuído seus números de doentes e óbitos por dengue nos últimos dois anos. De acordo com o monitoramento feito pelo Ministério da Saúde até o dia 19 de julho, a Bahia foi o estado que apresentou

a queda mais expressiva, esse ano foram 108,3 infectados a cada mil habitantes, ao contrário dos 381,8 registrados no ano passado. Enquanto os outros estados não apresentam dados tão otimistas, como, por exemplo, o Ceará, que mostrou uma taxa de 285,3 infectados por mil habitantes. No ano anterior esse índice era de 257,6. Um dos fatores que contribuem para a melhora nos índices baianos é o projeto Sistema Integrado de Zoonoses (SIZ), em vigor desde 2012 e desenvolvido pelo Núcleo de Gestão da Informação (NGI), em parceria com o Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o sistema permite que o cidadão, através do protocolo de serviço gerado após as visitas dos agentes de combate às endemias, possa visualizar pela internet a situação do seu domicílio e das casas vizinhas, dinamizando assim, o combate direto aos focos do mosquito.

O sistema foi o vencedor do 18º Prêmio Nacional de Inovação e Informática na Gestão Pública 2014, realizado no dia 14 de agosto, em São Paulo, trazendo reconhecimento à medida que tem contribuído para a queda dos focos de dengue na região do Centro Histórico da capital baiana. O sistema utiliza 4 mil equipamentos com sistema GPS com a base cartográfica da capital baiana pelos 1,8 mil agentes de endemias para coletar e organizar informações. Os aparelhos são os mesmos utilizados para a realização do censo demográfico do IBGE e foram doados para auxiliar no combate à doença. O grande diferencial da plataforma é a agilidade na consolidação das informações coletadas em campo. Em depoimento à Tribuna da Bahia, Ariovaldo Junior, coordenador de Tecnologia de Informação da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, declarou que “com a tecnologia, os dados que os agentes coletam nas ruas são armazenados automaticamente no sistema, o que gera uma economia de tempo. Antes, tudo era feito no papel, manualmente, e os dados eram consolidados muito tempo depois, quando a realidade dos focos da doença já poderia ser outra”. Ilustrações: Felipe Headley



Meio Ambiente

Parque do Jacaré ameaçado Um dos principais pontos turísticos da capital paraibana vai sofrer intervenções. Local tem ocupação irregular de bares e falta de licenciamento ambiental. Ministro do Turismo tenta resolução do impasse Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

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uem já foi a João Pessoa ou ouviu falar da cidade, provavelmente, conhece o famoso pôr do sol da praia fluvial do Jacaré (embora a praia pertença à cidade de Cabedelo, na região metropolitana da capital). Além do espetáculo natural promovido pelo astro-rei, tornou-se tradição assistir o cair do sol nos bares e restaurantes do local ao som do bolero de Ravel, executado no saxofone todos os dias pelo músico Jurandy do Sax, que faz suas apresentações em um barco às margens do rio Paraíba. Agora, os comerciantes que trabalham na área enfrentam uma polêmica em torno da ocupação da praia, que é território da União. Na primeira quinzena de julho, o

Ministério Público Federal recomendou a retirada de cinco bares e restaurantes ribeirinhos. Segundo o MPF, os proprietários podem retirar as estruturas de forma consensual, mas em caso de resistência dos donos a demolição pode ser adotada pela Secretaria do Patrimônio da União. Além disso, o Ministério Público afirma que os comerciantes devem pagar multa pela ocupação irregular do local, a qual deve ser de 10% do valor dos terrenos em valores atualizados. De acordo com o Secretário de Turismo de Cabedelo, Omar Gama, além do uso irregular do terreno e da ameaça ambiental que representa o comércio à beira do rio, o Ministério Público Federal questiona também o fato de que não há uma socialização do pôr do

sol no local, já que vê-lo só é possível se o turista entrar em um dos bares localizados na lâmina d’água. “Vamos a luta! A Paraíba não pode voltar no tempo! E o meu sax se recusa a calar!”. Foi o protesto feito por Jurandy do Sax em sua página no facebook no dia em que completou 5.005 apresentações no crepúsculo do Jacaré. O músico e proprietário de um dos bares da praia fluvial afirmou que se a retirada acontecer, será um desastre para o turismo paraibano e completou: “precisamos nos unir e lutar, não queremos continuar infringindo as leis ambientais! Mas, queremos solução e não destruição!” A praia do jacaré é ocupada hoje por bares, restaurantes, lojas e feiras


Foto: Divulgação?????????????

ambiental existe, mas deveria existir um esforço do poder público no sentido de relocar o comércio do local, ao invés de retirar de lá uma estrutura que já se consolidou no mercado turístico do estado. Fábio Dutra, gerente de vendas da Luck Viagens diz que a retirada dos bares e restaurantes do Jacaré significaria uma queda de demanda para a agência de receptivo e reduziria drasticamente o fluxo turístico do local. De acordo com Fábio, a agência leva ao Jacaré, na baixa temporada, em média, 1.500 pessoas por mês e, em alta temporada, esse número dobra. Sobre a questão ambiental do parque do Jacaré, o geógrafo Arimatéia Almeida afirma que o problema reside

na poluição física do local, mas também da poluição visual, já que os bares, segundo ele, chegam quase à metade do leito do rio. Arimatéia destaca ainda os problemas sanitários - devido ao descarte inapropriado do esgoto proveniente dos estabelecimentos comerciais, e o sombreamento da margem do rio. Segundo o geógrafo, a sombra que os bares e restaurantes gera na margem do rio afeta a vida de animais próprios do mangue, como os caranguejos, e pode extinguir a vegetação nativa pela falta de luz solar no local. Arimatéia Almeida afirma que o impacto ambiental na praia do Jacaré é forte, mas acredita que, embora a área esteja sendo explorada indevidamente, pode haver uma solução plausível para o lugar.

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de artesanato. De acordo com dados da Secretaria de Turismo de Cabedelo, aproximadamente 30 mil pessoas frequentam o local nos finais de semana na baixa temporada e mais de 50 mil na alta temporada. O pôr do sol ao som de Jurandy do Sax é um dos programas mais vendidos pelas agências de receptivo de João Pessoa. Por isso, a ação do Ministério Público envolve não só os comerciantes, mas a estrutura turística paraibana. Hélio Augusto Júnior, proprietário da Classic Turismo, afirma que o atrativo já é conhecido a nível mundial e que nas convenções que sua empresa participa fora do estado, o ponto turístico que ele apresenta para representar a Paraíba é o pôr do sol na praia de Jacaré. Para Hélio, o impacto

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Jurandy do Sax teme intervenção


Patrimônio do litoral

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O ministro do Turismo, Vinícius Lages, visitou João Pessoa para uma agenda abrangente, mas o enfoque foi a polêmica em torno da medida judicial para a retirada dos bares e restaurantes do parque do Jacaré. O titular da pasta se reuniu com o trade turístico paraibano para, segundo Lages, ter uma noção dos desafios que possui do ponto de vista de infraestrutura e de venda do destino. Ele visitou ainda o Centro de Convenções, que recebe verba de mais de R$50 milhões do Ministério do Turismo, e se reuniu com integrantes do Sebrae para discutir o turismo rural na Paraíba. A visita à praia do Jacaré e a discussão em torno da resolução do conflito - que envolve União, município, governo e empresários – foi a demanda prioritária do ministro na Paraíba. Vinícius Lages ressaltou a potencialidade da área afirmando que a praia do Jacaré é um patrimônio do litoral brasileiro que deve ser requalificado. Para ele, é preciso pensar não só no conflito existente, mas em um projeto de otimização do local a médio e longo prazo. “Nós apoiamos, numa primeira etapa, um projeto de requalificação dessa área, mas acho que temos que pensar de forma mais ampla nessa área que tem um potencial enorme. Portanto, eu quero estar perto não para pensar apenas esse conflito de bares que estão ocupando área de Marinha, mas pensar de uma forma integrada”, disse. Como existem entes públicos fede-

rais envolvidos, o ministro do Turismo afirmou esperar ser um mediador desse caso. “Eu sou um crente na negociação, na escuta das partes, da moderação. Há uma determinação da Justiça e determinação judicial cumpre-se, mas se é possível fazermos parte de um processo de negociação para evitar que essa medida possa comprometer a médio e longo prazo uma intervenção que transforme essa área, nós vamos fazer”, ponderou. A presidente da PBTur (Empresa paraibana de turismo), Ruth Avelino, considera o ministro Vinícius Lages o melhor meio de interlocução desse conflito e acredita que ele pode auxiliar bastante. “Ele tem um entendimento técnico do assunto e sabe o valor do equipamento para a Paraíba e o Brasil”. Ruth disse que o governo do estado se integrou à discussão do assunto porque o parque turístico do Jacaré interessa a todos e a situação aflige quem trabalha com turismo no estado. “A área é municipal e o conflito é federal, porque a área ribeirinha pertence à federação. Mas nós não podemos fechar os olhos e dizer que isso não interessa ao governo do estado, então estamos integrados nessa luta”, pontuou a representante do poder estadual. O MPF ainda não se manifestou sobre o pedido do ministro de estender o prazo para a remoção do comércio no local, mas não foi cumprida até agora a ordem judicial de retirada imediata dos bares e restaurantes após o fim do

Vinícius Lages debate turismo em JP

prazo estabelecido pela SPU, que era até o fim de julho. Ruth Avelino demonstrou ainda preocupação em relação ao prazo estabelecido pelo MPF, de apenas um mês, e das consequências para a alta temporada no litoral. Ela explicou que o impasse não pode prejudicar o verão. “Estamos a quatro meses do verão, em que teremos 95% de ocupação em toda rede hoteleira do litoral, e o Jacaré é um atrativo que interessa a todo mundo, não pode acabar de uma hora para outra”. A presidente da PBTur espera que o Ministério Público Federal dê de três a seis meses para que a prefeitura inicie um novo projeto, que vai tirar todos os bares da lâmina d’água e já tem a verba inicial aprovada para execução da reforma.


Paraíba na rota

ba também com a realização dos JoAssim, o Ministério faz um gos Olímpicos de trabalho de aproximação 2016. “Uma coisa maior com o trade turístico é ter praia, montanha, pantanal, para ajudar o estado a se outra coisa é ter posicionar no mercado. cidades muito boas com brasileiros. Foi isso que o mundo aprovou. Nós vamos sustentar essa imagem junto a Embratur para poder posicionar ainda mais esse produto brasileiro no mercado internacional, e articular melhor o mercado interno que Dé já vú cresce cada vez mais com a expansão dos aeroportos, melhorias na mobilidade, Em 2011, os bares e investimentos em hotéis, restaurantes, restaurantes do parque etc”, avaliou o ministro. Lages acedita turístico do Jacaré também que João Pessoa pode se beneficiar do sofreram ameaça de serem calendário esportivo no Brasil.

Omar Gama, secretário de Turismo de Cabedelo, garantiu que já foi aprovada a execução de um novo projeto para o parque turístico do Jacaré. Segundo ele, o ponto turístico tem apenas 20% do seu potencial explorado. “ O Jacaré, como um parque municipal, deve ser explorado, por exemplo, o dia inteiro, ao invés de apenas entre às 16h30 e 18h”. De acordo com o secretário, o projeto do parque vai torná-lo ainda mais atrativo,

Omar Gama defende mudanças

Ilustrações: Marinelson Almeida Silva (Flickr) | Divulgação | Ismael Farias

para além do pôr do sol. A intenção é abranger outras potencialidades do local, que poderão ser utilizadas pelos turistas durante todo o dia. A concepção desenvolvida pela Prefeitura de Cabedelo, através das secretarias Municipais de Turismo, do Meio Ambiente, Pesca e Aquicultura (Semapa) e do Planejamento do Uso do Solo, está orçado em R$13 milhões, sendo que está empenhado até agora na Caixa Econômica Federal R$2 milhões para o início das obras, provenientes de recursos do Ministério do Turismo. O projeto prevê a retirada dos bares da lâmina d’água, que vão passar para o outro lado da rua, tornando a área ribeirinha livre de qualquer estabelecimento comercial. Nas margens do Rio Paraíba serão feitos dois píers públicos, o que resolverá, segundo Omar Gama, o problema das embarcações e do público, que vai poder mirar o crepúsculo sem problema. O projeto aguarda aprovação da Sudema (Superintendência de Administração do Meio Ambiente do estado da Paraíba).

Outros casos A praia do Jacaré não foi o único alvo do Ministério Público Federal em João Pessoa. Uma medida semelhante já foi tomada na Praia do Poço, também em Cabedelo. O processo ainda tramita na Justiça. Por determinação judicial, já foram retirados sete bares e há a previsão para a retirada de outros 23 que ainda estão no local. O mesmo aconteceu na Praia de Intermares, com a demolição do Bar do Surfista, tradicional da região, onde funcionava um projeto social com crianças carentes e também uma ONG de proteção às tartarugas marinhas, que desovam na faixa de areia próximo ao local do estabelecimento.

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O novo Jacaré

retirados do espelho d’água. No entanto, a Secretaria do Patrimônio da União decidiu suspender a retirada dos estabelecimentos, aceitando a proposta apresentada pela Prefeitura de Cabedelo para reordenamento do parque. O projeto, no entanto, não evitou que a situação se repetisse em 2014.

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O ministro Vinícius Lages exaltou o potencial turístico do estado e garantiu que irá tentar solucionar não só os impasses imediatos, mas discutir questões de longo prazo para o turismo paraibano. Para ele, a Paraíba entra em um esforço de promoção compartilhada. “Assim, o ministério faz um trabalho de aproximação maior com o trade turístico para ajudar o estado a se posicionar no mercado”. Lages disse que o intuito é inserir o estado em uma estratégia de venda do Brasil, que foi um produto aprovado pelo turista internacional. “A copa nos deu a certeza de que o Brasil tem um produto turístico de qualidade”. Com o sucesso da Copa do Mundo 2014, Vinícius Lages apontou novos caminhos que se abrem para a Paraí-


Tecnologia

Capital de m谩quinas e rob么s Jo茫o Pessoa foi palco do maior evento mundial de rob贸tica durante uma semana Por Isadora Lira isadoralira@revistanordeste.com.br


locais de competição e incontáveis mesas para que cada equipe ajustasse seus robôs e aperfeiçoasse os detalhes em seus computadores. Via-se passos apertados, ajustes aqui e acolá, conversas entre os membros e muita concentração por trás das telas. Nas competições, disputaram todas as ligas da categoria Measuring, ou seja, alunos de graduação, pós-graduação e pesquisadores. Ao atravessar o corredor, que dividia as áreas das competições, outros stands atraíam o público. O da empresa francesa Aldebaran apresentava um simpático robô de 58 cm, chamado Nao. Revendido no Brasil pela Somai, o Nao é voltado para as escolas que queiram incentivar a robótica na sala de aula. Suas peças arredondadas e com detalhes coloridos tornam a máquina mais atrativa do que os outras. Maíra Cordeiro, doutoranda em linguística na Universidade Federal da Paraíba, se interessou pela função educacional do robô e saiu do torneio pensando em como aplicar isso em sala de aula: “Pesquiso no doutorado a utilização de jogos digitais no ensino-aprendizagem de língua portuguesa, mas ainda não conhecia o trabalho com robôs nas escolas. Acredito que a aula pode ser mais dinâmica com a utiliza-

ção deles, além de integrar o aluno no mundo da informática e da robótica, que geralmente fascinam os nativos digitais”. A professora da Universidade Federal do Espírito Santo, Carmen Faria Santos, que participa regularmente deste evento, foi uma das organizadoras do Robocup Junior, a modalidade para participantes de até 19 anos. Carmen ficou animada com resultado do que viu: “Tudo que é feito aqui não é feito só de brincadeira. É uma forma interessante de avançar nas pesquisas. A cada ano, a gente percebe como os estudantes estão mais velozes, mais sabidos. É interessante de ver”. No Brasil, o torneio é organizado pela Sociedade Brasileira de Computação, em parceria com dezenas de universidades nacionais. Também há empenho de mais de 400 professores voluntários, com o apoio do Ministério do Turismo. Ao todo, são mais de 400 times inscritos, que somam 4 mil competidores de 45 países. O campeonato de robôs é um projeto organizado mundialmente pela RoboCup Federation, que equivale à Fifa para o futebol. O evento acontece em um país diferente a cada ano. Quando há Copa do Mundo, o torneio é realizado, preferencialmente, na nação sede do mundial.

As máquinas

O Pepper, outro robô desenvolvido pela empresa Aldebaran, tem 120 cm, 28 kg e usa uma bateria com 14 horas de duração. Construído para ser inserido no cotidiano humano, ele conversa, reconhece pessoas e reage às emoções humanas - um companheiro programado para ser amigável e possível de ser desligado. A Mathworks disponibilizou um computador com webcam para que o público pudesse enxergar como os robôs. A empresa é responsável pelo Matlab, um sistema que pode ser utilizado tanto em 2D como em 3D, e é comercializado para os laboratórios e empresas de robótica.

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O Nao é capaz de ser programado em 25 idiomas, mas ao ser configurado utiliza apenas dois, sendo o inglês a língua materna. Útil para iniciar os estudantes na programação, ele também pode ser utilizado para auxiliar o professor nas aulas, lendo histórias e perguntando as crianças questões referentes à leitura realizada. As escolas interessadas recebem auxílio técnico para capacitar e orientar os professores na utilização dessa máquina.

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obôs que andam, correm e até jogam futebol. Oficinas, simpósios, exposições interativas e workshops. Isso é uma pequena mostra do que foi a RoboCup 2014 - um dos maiores eventos tecnológicos do mundo que aconteceu na capital paraibana no mês de julho. Durante uma semana, mais de 2 mil estudantes de ensino fundamental, médio, graduação, pós-graduação e pesquisadores de 45 países puderam testar e aprimorar seus conhecimentos. Na entrada do pavilhão principal do Centro de Convenções, do lado direito, um robô enorme medindo 1,60m de altura e apoiado por um suporte de metal dava as boas vindas aos visitantes. O Thormang, robô humanoide da empresa sul-coreana Robotis, foi criado para executar os movimentos humanos. Ali, ele podia apenas ser contemplado pelo público. No mesmo espaço, outros dois humanoides, com aproximadamente 50 cm de altura, dividiam a atenção dos que entravam no universo robótico do evento.O pavilhão foi dividido em duas grandes áreas delimitadas: uma para os experimentos humanos e robôs e outra para as arquibancadas para o público. Em cada área havia demarcações dos

Fotos: Valdecir Becker


Arenas lotadas e muitos gols A cada gol, a torcida aplaudia como se estivesse assistindo a uma disputa em um estádio de futebol. Uma bola na trave, um ‘drible’ e até uma defesa do goleiro eram motivos para uma reação das arquibancadas. Foram assim as partidas disputadas entre as seleções de robôs que lotaram as arenas montadas na RoboCup 2014, em João Pessoa (PB). Considerado um dos maiores eventos tecnológicos do mundo, este campeonato foi criado em 1997 no Japão com o propósito de construir até o ano 2050 uma equipe de robôs capaz de ganhar uma partida contra a seleção vencedora do Mundial da Fifa. Até lá, esses humanoides terão que treinar

muito e disputar muitas bolas. Na liga Soccer humanoide, categoria KidSize (a que as máquinas medem entre 40 e 90cm), os robôs participaram de competição de gols. As partidas foram lentas e as máquinas precisaram de ajustes. Por isso, os “reservas”, como acontecem com humanos em jogos de futebol. Na final da Middle Size League, Trustees contra Teech United, as máquinas interceptavam lances e arremessavam rapidamente, despertando a curiosidade de dezenas de espectadores que se amontoaram ao redor da arena. A cada gol marcado, o público gritava e se levantava, atento ao que acontecia em campo.

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Independência robótica Nas competições, os robôs são completamente autônomos. A máquina é responsável pela tomada de decisão no campo. O robô olha a bola, percebe o gol, decide para onde vai chutar e se posiciona. “A gente não pode pôr a mão nele. A gente faz a programação fora e o coloca ele lá dentro para tomar a decisão sozinho. Ele é feito para detectar a bola (na cor laranja) e o formato”, afirma Cláudio Vilão, mestrando do Centro Universitário FEI e um dos quatro membros da equipe RoboFEI-HT. O estudante de graduação Victor Tee Sin Loong, da equipe CIT-Brains do Japão, veio para a competição com mais de 11 colegas e nove robôs. “As máquinas precisam de ajustes e de

serem substituídas”, disse. Razão pela qual ele eliminou o time RoboFEI-HT dos brasileiros de São Bernardo do Campo, que só trouxe três robôs funcionais para o mundial. Cláudio justificou a derrota ao afirmar que a falta de recursos prejudicou sua equipe, que trouxe poucos robôs para o torneio. O mesmo problema foi apontado por Débora Tahara, estudante da Universidade Federal de Uberlândia e integrante da Edrom, um time formado por graduandos. “Nós fomos classificados na KidSize e na TeenSize, só que por falta de recurso, tivemos que escolher entre uma das competições e optamos ficar com a TeenSize”, contou Débora. Sua equipe ficou no 6º lugar da liga.


Missões mais complexas Mas nem só de futebol essa copa é feita. A liga Rescue apresentou máquinas que fazem resgate de pessoas em lugares de difícil acesso. No desafio, o robô participante não conhece a arena, então ele precisa analisar e mapear o terreno no qual ele se encontra. A área é dividida em etapas. Na primeira (amarela), o robô é autônomo e se guia através dos papéis com QR Codes espalhados no caminho. Na segunda etapa, (vermelha), eles podem ser guiados à distância, se baseando

unicamente nas imagens que a máquina capta com sua câmera. Nessa liga a pontuação é computada através da realização das missões. Os robôs devem resgatar “vítimas”, ou seja, bonecos com sensores térmicos, simulando a temperatura humana. Ao detectar uma vítima, ele para de explorar o local, envia o sinal para a cabine e faz o resgate. Caso detecte uma falsa vítima, a equipe perde pontos. Nessa categoria, a equipe alemã Hector Darmstadt venceu a competição.

Outra modalidade é a @Home. Trata-se de robôs destinados a realizar atividades domésticas. Num ambiente que representa uma casa, delimitado fisicamente por uma parede, a máquina deve reconhecer pessoas e interagir com elas. A equipe alemã ToBI levou um robô que apresentava um semblante sorridente na tela. Na competição, ele mostrou ser capaz de buscar água ou kit de primeiros socorros. Ele também é habilitado a recolher objetos deixados na mesa após uma festa.

Fotos: Valdecir Becker

explica Carmen Faria Santos, uma das organizadoras do evento. Lucas Cavalcanti, 19 anos, estuda robótica desde 2008. Este ano participou pela quarta vez do evento em duas ligas: Soccer e Resgate. Ele conta que começou a se interessar pela área na escola. “A escola a qual eu estudava tinha um projeto de robótica, então todos os alunos eram obrigados a participar. Era como a matéria de informática. A partir daí, fiquei fascinado. Eu achava que aquilo era complicado, mas descobri que eu podia fazer aquilo e foi uma grande descoberta para mim”, relembra. O jovem explica que pensava em fazer aquilo apenas para se divertir,

mas acabou tendo um grande aprendizado. Lucas mudou de colégio e de equipes, mas o interesse pela robótica só tem crescido. Este ano, veio para a Robocup com dois times diferentes, um com conterrâneos de Pernambuco, e o outro de São Paulo, que desenvolve a pesquisa se comunicando virtualmente e realizando viagens eventualmente. Lucas trabalha com a elaboração do modelo 3D. “Às vezes a gente faz só o modelo estrutural, que é para descobrir onde a gente vai colocar os furos, o parafuso, onde vai encaixar cada coisa. A gente faz o modelo para apresentação, que é o robô completo. Isso leva uns dois ou três meses”.

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O pavilhão central do Centro de Convenções foi tomado de estudantes. Vários deles, das redes municipais e estaduais de ensino. Curiosos, eles queriam ver o desenvolvimento dos robôs e entrar no mundo das máquinas. Na fase júnior, os estudantes puderam conhecer três ligas, uma delas a Measuring. Uma espécie de dança de robôs. “Em um cenário montado, os humanos também dançam e interagem. Não se trata de um humano tentando imitar o que o robô faz, nem o contrário disso. É simplesmente uma interação. Uma dança entre eles e contextualizado dentro de um tema. Tem até figurino. Tudo tem de estar em harmonia”,

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Experiência compartilhada


Tecnologia

Juventude on-line Pesquisa americana, do Havas Media, aponta que jovens ficam mais ansiosos longe do celular

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cena é comum. Eles circulam de um lado para o outro com seus aparelhos nas mãos. O mundo ao seu redor parece desinteressante e só merece umas olhadelas ao que acontece em volta de si, que duram poucos segundos e só servem como intervalos de realidade entre momentos de entretenimento absoluto no mundo virtual. O celular tornou-se para o jovem uma extensão do seu corpo, por isso, o acompanha onde quer que vá. Seja na cama, no banheiro, na escola, no ônibus, na rua ou até no velório. A vida que se desenrola nos ambientes sociais parece não significar nada diante das próprias redes sociais, às quais tem acesso através do telefone celular. Desse modo, lhes parece preferível a morte física do que a morte online. Estar offline não é opção, irrita, incomoda e já não é condição natural da sua existência.

Diante do diagnóstico, passível de ser percebido por qualquer um, a organização Havas Media resolveu pesquisar o assunto entre os jovens. O estudo aponta que aproximadamente 74% dos jovens no mundo são dependentes do celular. Publicada pelo jornal Daily Mail em agosto, a pesquisa conclui que o uso do aparelho celular e, sobretudo, das redes sociais através dele, se tornou obsessão nesta geração. A pesquisa foi feita com jovens entre 16 e 24 anos do mundo inteiro e conclui que a maioria se sente ansiosa quando não está com seu celular por perto. Além disso, 68% dos jovens admitem que usam as mídias sociais para acompanhar a vida dos ex-namorados e 75% acreditam que as redes sociais podem arruinar um relacionamento. Quase dois terços dos jovens contaram que têm o hábito de checar o celular quando estão em

uma roda de amigos, causando assim uma interrupção na conversa. Ainda segundo o estudo da Havas Media, a obsessão pelo dispositivo é tão grande que pelo menos 79% julgam aceitável o uso dele no banheiro. Além disso, a organização concluiu que o uso desmedido do celular e das mídias sociais tem estimulado um comportamento narcisista: metade dos entrevistados afirmaram que fazem publicações com o objetivo de provocar uma reação nos amigos. “Ao longo dos últimos dez anos, o impacto dos telefones celulares e das mídias sociais mudou o pensamento humano drasticamente. Por causa disso, o marketing também muda. As marcas que compreendem as complexidades desse novo consumidor narcisista e dependente do celular, que vai se destacar”, destacou um porta-voz da companhia que realizou o estudo em entrevista ao Daily Mail. Ilustrações: Shuttersotck



Mostra Internacional de Teatro

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Durante dez dias a capital onde o sol nasce primeiro será palco de mais de 30 espetáculos, oficinas, palestras, debates entre outras experiências estéticas e sensoriais com a 5ª arte: o teatro. A Mostra Internacional de Teatro (MIT) “João Pessoa Encena” é um evento que tem o intuito de possibilitar o contato de toda a sociedade com bens artísticos e culturais. O evento, com programação totalmente gratuita, começa no

Trinta e uma canções de artistas baianos ou produzidas na Bahia irão integrar os volumes seis e sete do Bahia Music Export (BMEX) – Coletânea 2014. Promovido pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA), através do Programa de Mobilidade Artística e Cultural e a Fundação Cultural do Estado (FUNCEB), o BMEX visa impulsionar a internacionalização da música da Bahia, além de promover a mobilidade de artistas e conteúdos musicais no exterior.

dia 12 de setembro seguindo com as atividades até o dia 21 do mesmo mês. A programação acontecerá por diferentes pontos da cidade, incluindo as regiões mais afastadas de onde fervilha a produção cultural, e não será raro encontrar aglomerado de pessoas em praças, teatros e espaços alternativos, assistindo a espetáculos, participando de oficinas, palestras e debates. O evento contará com mais de 30 apresentações teatrais, sendo 10 da Paraíba e 16 de outros estados, uma musical, além de quatro atrações internacionais vindas da Argentina, Chile e Espanha. Com patrocínio da Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) e da Caixa Econômica Federal, a mostra é realizada pelo Instituto Artemanha de Artes e tem correalização da Dupla Face Companhia de Teatro. A cerimônia de abertura da MIT será realizada no dia 11 de setembro, começando com o lançamento do livro ‘Revelando Artemanhas’, organizado

A loja Amazon anunciou recentemente que irá comercializar livros físicos. O site O Globo afirmou que a marca americana, que está presente no Brasil desde o fim de 2012 e era especializada apenas em vendas de e-books, já começou no mercado com um catálogo de 150 mil títulos em língua portuguesa, com obras de todos os gêneros de autores nacionais e internacionais. Hoje a Amazon tem um catálogo com 35 mil e-books no Brasil, no início da eram apenas 13 mil.

por Luciano Santiago – curador e coordenador da Mostra e integrante do Instituto Artemanha. Bag Lady, do grupo de teatro The Bag Lady Theater (Espanha/Polônia), é apenas um dos espetáculos internacionais que a mostra terá. A peça trabalha com expressão corporal e fantoches interagindo com uma cena musical. Entre outros grupos internacionais haverá a Compañía de Titiriteros de la Universidad Nacional de San Martín (Argentina), com “La Vida Es Sueño”; a La Compañía La Mona Ilustre (Chile), com os espetáculos “Los Peces no Vuelan” e “Juan Salvador Tramoya” e a Cia de Teatro Circo y Patos Mojados (Argentina), com a peça “PatoLogias”.

Os 417 municípios baianos estão participando de um censo cujo objetivo é identificar a realidade relacionada ao patrimônio cultural. O resultado vai servir de base para as propostas do ICMS Cultural, que propõe a inserção do critério patrimônio cultural na Lei para a redistribuição do ICMS baiano. Além disso, os dados irão ajudar no fortalecimento do Sistema Estadual de Cultura e do Sistema de Informações do Patrimônio Cultural da Bahia (Sipac).

A cultura indígena está mais perto do universo infantil. O livro Histórias da Terra e do Céu, lançado recentemente pela Editora Moderna, conta com lendas de como surgiram os cinco elementos principais na cultura brasileira: da planta vitória-régia, da mandioca, das pedras preciosas existentes nos rios, do surgimento do uirapuru e da constelação do Sete-Estrelo. A obra é do autor paulistano Douglas Tufano e ilustrada por Rogério Borges, indicada para crianças a partir de 9 anos.


Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

Bob Dylan lança novo álbum O novo disco do cantor americano de folk music, Bob Dylan, já está movimentando os fãs. O álbum Lost On The River: The New Basement Tapes será composto por canções de Dylan descobertas recentemente e gravadas por diversos artistas. Uma das canções já foi divulgada na voz de Jim James, Nothing To It, lançado na internet. O novo disco de Bob, que chega às lojas apenas em novembro, terá 20 faixas, com canções compostas em 1967 e entre as participações nas gravações está Marcus Mumford, Elvis Costello e Taylor Goldsmith.

Homenagem a Ariano O grande homenageado da 10ª Festa Literária Internacional de Pernambuco, a Fliporto, será o escritor paraibano, radicado em Pernambuco, Ariano Suassuna. O autor, conhecido pela defesa da cultura nordestina, através do movimento armorial, e de grandes obras como O Auto da Compadecida e a Pedra do Reino, morreu em Recife depois de sofrer um acidente vascular cerebral hemorrágico em julho. Este ano, a Fliporto também homenageará o jornalista e ficcionista Raimundo Carreiro, e Adriana Falcão, escritora brasileira. A Feira irá acontecer nos dias 13, 14, 15 e 16 de novembro e terá como tema Literatura é coisa de cinema.

“Ex-Crônicas de uma ex-aborrescente” (Editora Perse) obra da autora de Aracaju (SE), Priscilla Johnson, é o início de uma série com histórias surpreendentes, onde é apresentado uma nova linha, um novo tipo de escrita caracterizado por finais imprevisíveis. De acordo com a autora, o livro transmite uma leitura agradável para aqueles momentos em que tudo que se quer é deleitar-se no mundo da fantasia. A obra foi lançado durante a 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, durante agosto, mas quem estiver interessado em adquirir a obra, pode fazer isso por meio do portal PerSe, que disponibiliza a versão impressa, com envio postal, ou a edição eletrônica, em e-book.

Lendas do Sol Nascente Integrando a coleção Reconto da Tradição Popular, da Biblioteca Walcyr Carrasco, coletânea em que o autor narra com familiaridade histórias e lendas folclóricas que compõe a diversificada identidade brasileira, o escritor lançou a obra Lendas do Sol Nascente (Editora Moderna). O livro resgata memórias de sua infância, em que teve contato com a cultura nipônica, e reconta algumas lendas e histórias da cultura japonesa que ouviu quando criança, ou mesmo de antologias orientais que conheceu na vida adulta.

Mês das flores Depois dos ventos de agosto, surgem as brisas primaveris que exalam os perfumes das flores de setembro. É nessa época que vem a primavera e o dia 23 de setembro é também o dia da Ikebana (arte milenar japonesa de confecção de arranjos florais) na Paraíba. A prática surgiu na Índia e os arranjos eram destinados a Buda, mas foi na cultura nipônica que se consolidou. A arte é considerada uma prática zen que procura elevar os sentimentos. Dentre os vários estilos, destaca-se a Academia Sanguetsu, desenvolvido por Mokiti Okada, que tem como princípio básico chegar ao equilíbrio, à paz e à harmonia através da apreciação da beleza da natureza.

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Imagens de Nova Iorque captadas por 20 anos estão agora em exibição em Natal. A Exposição N.Y. Emotional landscapes – The Incertitude Principle, que começou em meados de agosto, está aberta para visitação no Teatro de Cultura Popular (TCP) até o dia 23 de setembro. As imagens expostas são do fotógrafo português Luis Pereira que retratou o cotidiano da maior cidade do mundo, revelando o teor emocional das paisagens urbanas. Na exposição o público pode adquirir algumas das obras, com tiragem limitada, que estarão disponíveis para venda, certificadas e assinadas pelo autor.

Destaque de Sergipe

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De N.Y para Natal


Cultura

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UM ‘BICHO SOLTO’ Ney Matogrosso possui uma personalidade fugaz. Saiu de casa aos 17 anos e jogou-se no mundo artístico. Com 40 anos de carreira e uma imagem inconfundível, continua - e, talvez, mais do que nunca - a se sentir à vontade para expressar-se do jeito que quer, tanto em suas conversas como em seus shows


pessoas muito diferentes de mim e estou gostando muito disso e quero dar trela pra isso ir longe. Eu não tenho nenhuma intenção de ser galã, então eu acho que posso ter 100 anos e trabalhar no cinema.

Nordeste: E em relação ao documentário? Como ele está sendo recebido, como estão as críticas?

Ney Matogrosso: Estou surpreso com o grau da crítica positiva. Porque eu imaginei que agradaria a poucas pessoas, que era uma coisa cult. Porque ele vai pra cinema muito pequeno e não fica muito tempo em cartaz. As críticas que eu tenho recebido são tão maravilhosas que eu estou até desconfiado. Eu não esperava que entendessem, mas estão entendendo, captando a mensagem.

Nordeste: Você está filmando alguma coisa, rodando algum filme?

Ney Matogrosso: Sempre haverá. Não tenho expectativas, como muita coisa que aconteceu na minha vida eu não esperava, não procurei. Mas eu acho que muita coisa vai acontecer. O que está acontecendo com mais frequência é o cinema, que eu estou adorando. Para mim, é um exercício interessantíssimo de contenção, já que a minha manifestação é toda extrovertida. E o cinema é nada. É o mínimo, quanto menos melhor.

Nordeste: E o que te inspira a ter tantas facetas?

Ney Matogrosso: Antes de ser cantor eu achava que era ator. Um ator que cantava e que, portanto, talvez fosse útil como ator eu cantar. Só que a coisa se inverteu no meio do caminho e me transformei num cantor, mas eu não deixei de ser ator. Enquanto eu puder exercitar esse ator porque eu sentia muita necessidade, além do que eu faço no palco, estou eu lá como um personagem. Eu queria interpretar Foto: Divulgação

Ney Matogrosso: O que me surpre

Nordeste: Mas você não acertou com a Ana Carolina?

Ney Matogrosso: Não, ela me disse que é um filme que se passará em Cabo Verde e que ela me quer. Tudo bem, eu não perguntei nem o que ela quer. Eu gosto muito dela e do cinema que ela faz e quero ir com ela. Ela me disse: ‘posso filmar aqui, com você’ e eu respondi que quero ir com ela, filmar lá em Cabo Verde.

Nordeste: Então você vai fazer um filme dela? Ney Matogrosso: Vou. Cinema é assim, estamos falando disso agora para acontecer daqui a cinco anos.

Nordeste: Apesar desse tempo todo de estrada, você é um artista que não se acomoda. Está sempre se reinventando, inclusive fazendo parcerias com novos artistas que estão despontando, como o Criolo e o Pedro Luís. Como você busca essas parcerias? Ney Matogrosso: De várias maneiras. Quando viajo pelo Brasil recebo muitos

“Não sou uma pessoa que só reclama da vida. Muito pelo contrário, sou uma pessoa muito otimista. Procuro achar que isso tudo o que a gente está vivendo é um processo natural pelo qual tem que passar”

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ordeste: Em 40 anos de carreira, você já foi cantor, ator, trabalhou num musical de base... O que falta realizar? Algum projeto pessoal?

Nordeste: Você já produziu muita coisa na sua carreira. Algum sinal ainda te surpreende?

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Por Isadora Lira isadora@revistanordeste.com.br

Ney Matogrosso: Nesse momento não. Eu já fiz outro filme com a Helena Inês, um média-metragem. Recebi agora outra proposta da Ana Carolina, com quem eu fiz o primeiro filme, na década de 80, o Sonho de Valsa.

discos de gente que não conheço. Não ouço tudo que vai chegando, mas vou ouvindo a partir do momento em que pretendo fazer algum trabalho. Outros discos eu procuro. Por exemplo, o Vitor Pirralho é uma dessas pessoas que procurei. Em passagem por Maceió para fazer o ‘Beijo bandido’ me deram no hotel um jornal na hora de viajar, e aí eu li uma matéria sobre o trabalho dele e fiquei curioso. Pedi para a produtora local que conseguisse um disco dele para mim. Para minha surpresa, algumas horas depois ele e a esposa estavam no hotel e ele me entregou pessoalmente o seu disco. Isso foi em 2009. Em 2013 eu gravei. Então eu tenho coisas guardadas que pretendo fazer, eu não sei aonde ou em que trabalho caberá. Mas tem algumas músicas que eu tenho vontade de cantar. Há muitos anos eu penso em gravar ‘Roendo as unhas’, por exemplo.


ende é a loucura do mundo, que quando você pensa que vai melhorar, piora. Que quando você acha que pior não fica, pior fica. Isso é o que mais me perturba.

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Nordeste: Enquanto artista, qual é o seu papel?

Ney Matogrosso: O papel é comentar essas coisas. Procuro colocar dentro do meu trabalho e não só dentro do meu trabalho, mas também nas conversas que eu tenho com as pessoas. Me manifesto a respeito das coisas que me incomodam e que me agradam também. Não sou uma pessoa que só reclama da vida. Muito pelo contrário, sou uma pessoa muito otimista. Procuro achar que isso tudo o que a gente está vivendo é um processo natural pelo qual a humanidade tem que passar. Mas fico muito chocado.

Nordeste: O que diferencia o ser humano Ney Matogrosso do artista?

Ney Matogrosso: Primeiro, eu não tenho necessidade de viver daquela maneira. Não tenho nenhuma necessidade de ser observado pelas pessoas. Se me derem opção eu prefiro observar a ser observado. Mas no palco não. No palco é outra

situação. As pessoas saíram de suas casas e pagaram para me ver. E eu vou me exibir pra elas da melhor maneira possível. Agora, elas já sabem que eu não sou normal (risos). Já tenho essa liberdade antecipada, eles já sabem que sou capaz de chegar com um trabalho como esse, que as pessoas achavam que eu não tinha mais idade para isso.

Nordeste: Atento aos sinais é mais enérgico que sua antiga turnê. Por que você sentiu a necessidade de voltar para essa extravagância em seus shows? Ney Matogrosso: Porque tinha acabado de ficar três anos fazendo ‘Beijo Bandido’, que era uma coisa que eu não saía do canto.

Nordeste: O que o público deve esperar dos shows dessa turnê? Ney Matogrosso: Agora é Rock’n’roll. Agora é tudo solto. Bicho solto.

Nordeste: Estava faltando movimento? Ney Matogrosso: Sim. Estava faltando ritmo na minha vida.

Nordeste: Você se sente mais confortável sendo bicho solto?

Ney Matogrosso: Olha, eu gosto dos dois, mas eu surgi bicho solto. Surgi no universo de música do Brasil sendo bicho solto. E é muito agradável. É muito interessante, por que não? Tenho 73 anos e daí? Quando eu não puder, não poderei. Mas enquanto eu puder vou atravessar, vou derrubar o que eu puder.

Nordeste: Ney Matogrosso com 100 anos faria um show desses?

Ney Matogrosso: Não sei se fisicamente eu teria possibilidade. Mas posso estar cantando. Não sei se conseguirei cantar. Tantos artistas chegam cantando com oitenta anos. E oitenta está pertinho.

Nordeste: Nas suas músicas você sempre faz referências à natureza.


Nordeste: Você acha que o Brasil está passando por um retrocesso no sentido moral?

Ney Matogrosso: Hoje, o Brasil é muito mais careta do que era nos anos 70. Naquela época existia uma euforia, um desejo de libertação pessoal, liberação de costumes. Mas eu acho que foi a AIDS que gerou esse recuo. Mas está tudo certo. Não se caminha só pra frente, é impossível. Você dá dois passos pra frente e um para trás. E estamos nesse passo para trás agora. Quando falo isso não quero dizer que seja um ano uma coisa, e no outro muda. Alguns anos você consegue ir e muitos anos você vai pra trás. Não tem como parar também, existe muita informação liberada no mundo. Não adianta essa mentalidade repressora. A gente vive numa pseudodemocracia, que diz que é democracia, liberdade, mas não é bem assim. Isso não é isso. É mentira. Faço a minha parte: não respeito isso. Porque eu percebo que não existe essa democracia. Ela é um esboço de uma coisa, mas se puder fechar e diminuir os direitos, fechará e diminuirá sim. E um trabalho de todos nós é manter a coisa aberta. É não se submeter a isso. É não omitir isso.

Nordeste: Você acha que essa pseudodemocracia reflete no cenário artístico do Brasil? Ela modifica de alguma forma? Foto: Divulgação

Nordeste: O país é ainda conservador. O que fazer para mudar esse pensamento?

Ney Matogrosso: Ah, não sei. Porque o movimento que a gente está vivendo agora é de retração. As religiões impondo normas dentro da política. As religiões muito poderosas financeiramente. O Brasil é um país laico, não tem que ter relação entre religião e governo. E aqui nós estamos submetidos às religiões dentro da política. Com grande poder e influência.

Nordeste: E sobre o futuro...

Ney Matogrosso: Não penso muito no futuro, mas sei que haverá um momento em que eu terei obstáculos físicos. Não poderei fazer o que estou fazendo agora quando estiver com noventa anos. Sei que haverá um declínio físico e tento conviver com essa possibilidade com tranquilidade. Haverá um momento que eu morrerei e convivo com essa possibilidade. Não vou viver assustado diante da única certeza que a vida oferece.

Nordeste: Aposentadoria nem pensar?

Ney Matogrosso: Não, não penso nisso.

Nordeste: Você foi considerado um ícone andrógino quando surgiu no Secos e Molhados. O que acha de ser essa referência? Ney Matogrosso: Em 1973 quando me chamaram de andrógino, me chamaram assim porque queriam dizer outra palavra, mas não podiam. Existia uma censura que não permitia. Mas eu sabia exatamente o que eles queriam dizer. Na época eu era tão largado que nem sabia o significado de andrógino. Quando vi pensei: ‘é, é o mais próximo. Passaram perto. Mas não sou andrógino, eu sou livre. Gosto de ser

do sexo masculino, não renego isso. E não

acho que por ser do sexo masculino eu tenha que me restringir. Um gesto assim é masculino e outro daquele jeito não é. Não respeito essas regras. Gosto de ter o peito cabeludo. Gosto de ser homem.

Nordeste: Nos palcos você sempre buscou trazer a questão da sensualidade. Por que essa escolha? Ney Matogrosso: Sim, essa era mais uma coisa que ao homem era vetada e à mulher era exigida. Como assim, por que vetado? Se existe, eu vou esconder? Aqui, agora, está todo mundo caladinho e sereno, mas existe esse impulso de sexualidade. Só que o meu, eu expus descaradamente.

Nordeste: E essa postura é proposital ou ela é sua? Ney Matogrosso:Eu não sei ser de outro jeito. Talvez se fosse de outro jeito, fosse mais fácil viver. Apenas aspirava me expressar com liberdade num país que vivia uma ditadura assassina que não permitia nenhum pensamento diferente deles.

Nordeste: Tem espaço para sonhos?

Ney Matogrosso: Não tenho sonhos pessoais, o que eu vou sonhando vou vivendo. Ser artista é uma realização de ego, mas pra mim é muito mais uma

afirmação humana. Exijo o direito de ser diferente e respeitado por ser quem eu sou. Não trocaria minha vida por nenhuma outra.

Nordete: Você se sente realizado, então?

Ney Matogrosso: Sou uma pessoa que se realiza.

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Ney Matogrosso: Quando eu fiz as músicas com essa abordagem urbana não tinha acontecido nada no nosso país. Eu comecei a fazer o show em fevereiro e os acontecimentos foram em junho (manifestações de rua). Então, senti a necessidade de falar dessas coisas e as coisas estavam ali. Quer dizer, antes de acontecer ninguém sabia. Quando eu comecei talvez estivesse me referindo ao mundo. Apontei para onde via e acertei onde não esperava, que era aqui. Se bem que o “Rua da Passagem” é uma crítica bem explícita ao preconceito e à falta de educação, o trânsito… Eu estava falando do Brasil naquele momento.

Ney Matogrosso: Olha, ela modifica o pensamento das pessoas. Elas se acomodam. As pessoas ficam submetidas a isso. É subliminar, não é uma coisa imposta. Esse pensamento conservador é algo que vem se alastrando. Eu não sou conservador. Eu sou pelas liberdades absolutas. Agora, você tem direito a sua liberdade absoluta e toda a responsabilidade sobre ela. E quando eu digo todas, é porque são todas.

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Mas o seu último álbum tem uma pegada mais urbana. Por que você sentiu a necessidade de abordar esse aspecto?


Pelo

Rivânia Queiroz

Mundo

rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br

Influência italiana O litoral paraibano ganhou um novo equipamento turístico no setor de hospedagem. A pousada Oásis Tajaja, localizada no município do Conde e distante 20 quilômetros de João Pessoa, traz um conceito europeu, com influencias italiano-austríaco. A sua ambientação foi projetada unindo o rústico ao sofisticado. Isso pode ser visto em detalhes como objetos decorativos, mobiliários e piso. As confortáveis suítes trazem temáticas que simbolizam os elementos terra, fogo, mar e ar. De frente à piscina e ao jardim, os quartos oferecem ar condicionado, cama king size, secador de cabelos, cofre e tv led 48’. O nome da pousada faz homenagem ao som da flauta indígena.

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Capital do turismo Voltado exclusivamente a agentes e operadores de turismo, o Festival do Turismo de João Pessoa apresentará em sua quarta edição uma estrutura com mais de 150 stands. Este ano, o evento receberá importantes empresas do setor de hotelaria, companhias aéreas, consolidadoras e operadoras de viagens – regionais, nacionais e internacionais. Ainda contará com capacitações, fórum acadêmico e empresarial, rodada de negócios, além de atividades sociais, culturais e de lazer em sua programação. Acontece de 17 a 18 de outubro, no Centro de Convenções Ronaldo Cunha Lima.

Serviço: Endereço: Praia de Carapibús, PB Telefone: (83) 3192-212 / 9820-5752 Email: info@oasistajaja.com

Refúgio de charme É no litoral Sul do Rio Grande do Norte, na praia do Sagi, que se localizada a pousada que recebeu o mesmo nome deste balneário deserto e arrodeado por Mata Atlântica. A Pousada do Sagi Iti reúne bom gosto, requinte e tranquilidade. Serve de refúgio para quem está querendo fugir do barulho e estresse dos centros urbanos. São apenas 4 bangalôs, sendo cada um para 2 pessoas, o que garante o sossego que se confunde com o silêncio da mata. Os quartos são bem equipados e têm camas Queen Size. Os lençóis de 500 fios de puro algodão Egípcio oferecem mais conforto e aconchego aos enamorados.

A piscina fica situada na parte mais alta do terreno, de onde se tem uma vista incrível de toda a praia. É possível almoçar e jantar na pousada, já que a cozinha fica aberta diariamente, até às 20hs. Outro diferencial é o serviço na tenda montada em frente ao mar. Elas ficam disponíveis aos hóspedes diariamente. Caso ele deseje um jantar especial, há toda uma decoração nas tendas para que o ambiente fique ainda mais acolhedor. O ambiente recebe mesa, cadeiras, velas e lamparinas, além de ser decorado com flores espalhadas em sua volta. Serviço Telefones: (84) 32445036 Na baixa temporada, o valor da diária pode sair por R$ 325,00, com café da manhã para 1 casal.


Águas do mar caribenho inúmeros encantos naturais são ótimas para relaxar ou curtir as noites quentes e agitadas à beira mar. Há ótimos pacotes para esses lugares, com saídas até dezembro deste ano. A Meu Mundo Viagens oferece opções que incluem passagens aéreas; traslados; seguro viagem, passeios e outras opções. Há preços a partir de R$ U$ 1.532,00 por pessoa, em apartamento duplo.

Serviço: Mais informações pelo site www. meumundoviagens.com.br Telefone: (11) 5041-3962

Surf naturista

Gastronomia cinco estrelas

Uma competição pouco convencional vai atrair surfistas de várias regiões do país. A 7ª Edição do Tambaba Open acontece entre os dias 06 e 07 de setembro e destina-se aos praticantes do surf naturista. A ideia também é chamar a atenção dos visitantes para a preservação deste pedaço de praia paraibano. O “Projeto SurfNU” quer difundir o naturismo através do surf, esporte que representa muito bem a filosofia naturista – “liberdade, interação e respeito pela natureza”. No campeonato serão disputadas três categorias: Local, Open e a Expression Session. Ao final da competição, serão premiados os quatro melhores de cada categoria. A primeira colocação receberá prancha, troféu e brinde, enquanto que as demais serão premiadas com troféus. Na Expression Session, apenas a manobra de maior grau de dificuldade será contemplada com troféu e brinde.

A gastronomia é um dos destaques do Sheraton Reserva do Paiva Hotel & Convention Center. Inaugurado em junho, o cinco estrelas da Reserva do Paiva, em Pernambuco, conta com o Restaurante Paiva Grill, comandado pelo renomado chef português Fernando Fonseca. Fernando tem uma longa carreira profissional e foi chef executivo de importantes hotéis cinco estrelas no Brasil e no exterior. Sua culinária é marcada pelas raízes portuguesas, pela tradição europeia e pela valorização dos produtos locais. A arte do chef português pode ser comprovada nos deliciosos pratos

Serviço: Tel. (83) 8874-9365 E-mail: movimento.nu@gmail.com

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que são servidos no Restaurante Paiva Grill, que conta com um ambiente elegante e contemporâneo. Entre os destaques do cardápio estão um frango picante, feito de forma diferente, e o leitão preparado como em Portugal. O rico cardápio inclui, além das carnes especiais, pratos deliciosos feitos com frutos do mar. “Meu objetivo é dar um destaque especial aos crustáceos, uma perspectiva diferente, pois gosto do que vem do mar. Quero fazer uma gastronomia dirigida não só aos hóspedes do hotel, mas ao público em geral, especialmente o das cidades vizinhas”, conta o chef.

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Essa é a época perfeita para desfrutar das águas caribenhas, já que a baixa temporada favorece a economia na viagem e evita os altos preços com passagem aérea e hospedagem. Uma boa dica é a Jamaica, famosa por ser o berço do reggae e pelas belas praias, além do que conta com cachoeiras e lagoas de águas cristalinas. O Panamá encanta pela arquitetura modernizada e impressiona por sua rara beleza. O Canal do Panamá é reconhecido internacionalmente como uma das maiores construções civis do mundo, dado a sua grandeza e importância nas navegações. O lugar tem praias paradisíacas com águas mornas e translúcidas. Boca del Toro é um arquipélago com cerca de nove ilhas e algumas ilhotas, todas repletas das belezas caribenhas. Havana, capital de Cuba, carrega um peso histórico por conta da revolução e parece estar parada no tempo com carros que, para o mundo moderno, são grandes relíquias. A arquitetura antiga dá o toque charmoso na cidade. Os cubanos costumam ser grandes festeiros e os ritmos como salsa e mambo fazem parte das noitadas. Varadero é o paraíso em Cuba. Suas belas praias com


Nordeste Agito

Jornalista Alexandre Garcia com casal Nancy e Pedro Trombeta

agitonordeste@revistanordeste.com.br

Ex-deputado federal Francisco Evangelista com esposa Maria Emilia no lançamento do livro “Catolé Que Eu Vi”

Médicos Eustáquio Vieira e José Aécio na solenidade do hospital

Sid Vasconcelos, Jorge Peixoto e Marta Lima

Médico Carneiro Arnaud com casal Alberto Sales

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José Aécio com filhos Bruno, Marília e José Aécio Filho na festa dos 25 anos do Hospital Memorial São José (PE)


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Perfeição, religiosidade, requinte, bom gosto e muita descontração foram os predicativos do casamento do produtor rural Thiago Mendonça e Fernanda Júlia Cândido Menezes na Igreja do Carmo, em João Pessoa, seguido de festa na casa de Recepções Casa Róccia


Cultura

Temporada de música Festival pernambucano Mimo se espalha pelo Brasil com várias atrações musicais até outubro Por Isadora Lira isadora@revistanordeste.com.br

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á um ditado pernambucano que diz que em meados de 2004, uma produtora se pôs de frente à igreja da Sé e conjeturou: “Oh, linda situação para se fazer um festival”, e assim nasceu a Mostra Internacional de Música em Olinda, mais conhecido como Mimo, transformando as praças, ruas e igrejas em palcos para grandes artistas de todo o mundo, oferecendo ao público desde a música erudita até a popular, passando também por jazz, blues e música eletrônica. Além de grandes nomes nacionais como Gilberto Gil, João Bosco, Bnegão, Arnaldo Baptista, Hermeto Pascoal e Jards Macalé, o festival já trouxe também os grupos franceses Nouvelle Vague e Gotan Project, os cubanos do Buena Vista Social Club e o americano Philip Glass. E outros excelentes artistas que permaneciam desconhecidos para o público brasileiro como o francês Richard Galliano ou o grupo português Madredeus. Mas nem só de concertos é feito o Mimo. Em 2010, o evento realizou

Programação

do

Mimo

ouro preto a de

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Olinda

uma mostra com 28 filmes dedicados à música, fazendo o público lotar o Mercado da Ribeira e, desde então, traz uma seleção apurada para suas sessões de cinema. E realiza também a chamada Etapa Educativa, com cursos, oficinas e workshops voltados ao ensino da música. Celebrando em 2014 uma década de existência, o Mimo se orgulha de ter recebido 630 mil espectadores nos seus 240 concertos, beneficiou 16.500 alunos e exibiu 120 filmes. Pernambucano de nascença, o festival também é realizado em outras cidades como Ouro Preto (MG), Paraty (RJ) e Tiradentes (MG). A cidade histórica mineira recebeu o evento no fim de agosto, com 14 filmes e nove concertos realizados nas praças e igrejas tradicionais da cidade. Pela primeira vez será realizado o Circuito Mimo no Rio de Janeiro e o lançamento do Prêmio Mimo Instrumental, um edital que escolherá jovens instrumentistas de todo o Brasil para a programação oficial de concertos do festival.

04 a 07

de setembro

Paraty

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tiradentes a de

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Quem abriu o evento foi o violonista mineiro Toninho Horta & Orquestra Fantasma, trazendo para o público a música popular brasileira. O Mimo trouxe também a violoncelista franco-americana Sonia Wieder-Atherton, tocando Nina Simone, com participação de Bruno Fontaine e Laurent Kraif, a orquestra Chaarts, o indiano Trilok Gurtu Band e outros artistas. Foto: Divulgação




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