Revista Nordeste Ed. 94

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DELFIM NETO

SEM fome

armorial

“Fatiamento de operadoras é truque”

Relatório da FAO mostra que Brasil supera miséria

Sem Ariano, cultura popular se reinventa

Quanto custa e quem financia as campanhas Vícios levam disputas a atrair dinheiro de Caixa 2 Veja o cenário político da disputa presidencial

Sociedade se mobiliza e consolida PLEBISCITO




ÍNDICE ENTREVISTA

POLÍTICA

ECONOMIA

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Ministro quer reforma radical Luis Felipe Salomão defende mudanças no poder Judiciário e apoia a Reforma Política

Dois lados da moeda Quais são as dez campanhas mais caras nos estados e quem são os políticos que lutam por maior visibilidade

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Um novo pré-sal O óleo utilizado em frituras de cozinha está sendo uma das fontes ecologicamente corretas para a produção de biodiesel, combustível com potencial sustentável até mesmo para o setor agrícola

Reviravolta nas eleições Dilma volta a liderar pesquisas, enquanto Marina e Aécio disputam vaga pelo segundo turno

38 CAPA

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Sociedade exige mudança Reforma Política surge como alternativa de transformação do país e uma das propostas é o financiamento público das campanhas

Personagens inusitados Com o Guia Eleitoral na casa dos eleitores, candidatos aproveitam os holofotes para aparecer. Há de tudo, desde covers de artistas famosos a super-heróis

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Golpes online Com o aumento de compras na rede, número de fraudes na internet tem crescido

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Remédio contra fraudes Empresas privadas investem em tecnologia para combater ações fraudulentas dos planos de saúde


COLUNAS

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O pensamento de Rômulo Um dos maiores economista do país é lembrado em seu centenário de nascimento

CULTURA

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Cultura popular se reinventa Qual a herança deixada por Ariano Suassuna e como fica o movimento armorial após sua morte

GERAL

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Cartas e E-mails

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Plugado | Walter Santos

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Delfim Neto

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Brasil supera fome Programas sociais do Governo Federal têm ajudado o país a se distanciar da miséria. Relatório mostra que Brasil foi um dos países que mais avançou no enfrentamento da subalimentação

Ipojuca Pontes

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Di Cavalcanti

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Digestivo | Flávia Lopes

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Fé cantada A cantora gospel da Paraíba, Juliana de Paula, segue turnê pelo Brasil

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Felicidade sobre duas rodas Pesquisa dos Estados Unidos conclui que andar de bike deixa a pessoa mais feliz

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Vida de músico O regente de corais Onivaldo Júnior fala da sua carreira musical

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Corrida de cores e festa Maratona Run or Dye acontecerá em João Pessoa e em outros lugares do Nordeste

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Pelo Mundo | Rivânia Queiroz


NORDESTE revistanordeste.com.br

Ano 8 | Número 94 | Setembro | 2014

Diretor Presidente Walter Santos Diretora Administrativa/Financeira Ana Carla Uchôa Santos Diretor Comercial Pablo Forlan Santos Diretor de Marketing Vinícius Paiva C. Santos Logística Yvana Lemos COMERCIAL Gerente Comercial Marcos Paulo Atendimento Comercial Jone Falcão REPRESENTANTES Pernambuco Gil Sabino g.sabino@uol.com.br - Fone: (81) 9739-6489 REDAÇÃO Editora Rivânia Queiroz Subeditora Fávia Lopes Repórteres Grazielle Uchôa e Isadora Lira Editoria de Arte e Tratamento de imagem Danielle Trinta e Felipe Headley Capa Felipe Headley Projeto Visual Néctar Comunicação ATENDIMENTO/ FINANCEIRO Supervisora e Contas a Pagar Kelly Magna Pimenta Contas a Receber Milton Carvalho Contabilidade Big Consultoria ASSINATURAS (83) 3041-3777 Segunda a sexta, das 8 às 18 horas www.revistanordeste.com.br/assinatura CARTAS PARA REDAÇÃO faleconosco@revistanordeste.com.br

SETEMBRO / 2014

PARA ANUNCIAR Ligue: (83) 3041-3777 comercial@revistanordeste.com.br SEDE Pça. Dom Ulrico, 16 - Anexo - Centro - João Pessoa / PB Cep 58010-740 / Tel/Fax: (83) 3041-3777 Impressão Gráfica JB - Av. Mons. Walfredo Leal, 681 - Tambiá - João Pessoa / PB - Fone: (83) 3015-7200 Circulação DPA Consultores Editorias Ltda dpacon@uol.com.br - Fone: (11) 3935 5524 Distribuição FC Comercial

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A Revista NORDESTE é editada pela Nordeste Comunicação, Editora e Serviços Ltda-ME CNPJ: 19.658.268/0001-43

EDITORIAL O preço do nosso voto Quanto custa a suposta democracia brasileira? O pressuposto básico do sistema político democrático, as eleições - que em teoria funcionam como um meio de escutar as vozes da sociedade- valem ouro. Não só por que é um passo importante no processo político de qualquer país, mas porque custa caro, no sentido mais transparente que a palavra “caro” quer dizer. A transparência dessa carestia, no entanto, passou a apresentar flashes de obscuridade a partir do momento em que o financiamento privado começou a ser utilizado nas campanhas eleitorais. Em 1994, ano do primeiro pleito em que empresas privadas puderam financiar as campanhas, o valor total estimado pelos presidenciáveis totalizou R$ 190 milhões. Já em 2014, o montante declarado pelos candidatos alcançou o limite de despesas de R$ 916 milhões. Ou seja, um aumento de quase 80% em 20 anos. Na última década, o limite de gastos da disputa eleitoral presidencial aumentou 380% no Brasil. Isso, falando só dos números declarados. Há quem defenda que a corrupção já começa daí: na barganha do financiamento da campanha em troca de tráfico de influência. Por isso, o tema é um dos principais pontos da proposta da Reforma Política, aclamada pelas multidões que saíram às ruas nos mani-

Rivânia Queiroz

editora-chefe da Revista NORDESTE rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br

festos de junho e julho do ano passado. A insatisfação do povo brasileiro era (e ainda é) tanta que o Plebiscito para saber a opinião dos brasileiros acerca de uma reformulação política no país já tem, hoje, assinaturas suficientes para tramitar no Congresso Nacional sob forma de Projeto de Decreto Legislativo (PDL). Inicialmente, as propostas da presidente Dilma Rousseff lançadas logo após a onda de protestos pautavam a definição do sistema eleitoral (voto distrital e em lista), suplência do Senado, fim das coligações partidárias e voto secreto no Congresso Nacional, além dos únicos três temas que protagonizam hoje o decreto da reforma: maior atuação popular na apresentação de propostas por internet, realização de todas as eleições no mesmo ano e o financiamento das campanhas eleitorais. O passo foi dado. A proposta está no Congresso, mas até agora faltou vontade dos nossos políticos de aprovar a mudança no processo eleitoral brasileiro. Resta saber se agora, passada as eleições, e diante da grita das ruas, os políticos vão finalmente se debruçar em cima da reforma para fazer valer o desejo dos brasileiros. O tema é urgente e carece de prioridade absoluta. Caso contrário, vamos continuar nadando na corrupção.


CARTAS E E-MAILS

“A NORDESTE é a única em todo o país que traz qualidade de conteúdo sobre problemas e potencialidades dos nove estados do Nordeste. Sou leitor e atesto que ela faz história incomum. Espero, depois das eleições, estar mais próximo dela para incentivar seu indispensável crescimento”

João Alves Prefeito de Aracajú - SE

Nos meus sessenta e tantos anos de jornalismo nunca vi uma publicação resistir e se afirmar no difícil mercado editorial brasileiro como a Revista NORDESTE. A região há tempo precisava de um órgão de comunicação assim”

Fiquei surpreso outro dia, aqui em São Paulo,vendo a NORDESTE exposta entre as demais publicações. E com qualidade.”

Cremos que está chegando a hora da elite econômica do Nordeste atentar e contribuir para a expansão da revista pelo nível de comprometimento que tem com as nossas lutas”

Pedro Venceslau Jornalista e Repórter de Política do Estadão | São Paulo – SP.

Renato Cunha Executivo da Sindiaçucar Recife - PE.

Willis Leal Escritor e Jornalista João Pessoa – PB.

As edições da Revista que temos acessado geram a compreensão de que o mercado editorial está provido de um produto de qualidade agora precisando se envolver mais nas plataformas digitais”

Achamos a entrevista com o senador Romero Jucá (Edição 91) com profundidade nos temas instigados ao líder do PMDB. Daí qualificarmos a NORDESTE por um conceito de quem está fazendo jornalismo sério e relevante na abordagem das questões ligadas aos estados nordestinos”

Em nossa área, a da Medicina, sempre tivemos um feedback muito interessante de nossos clientes quando expomos as edições da Revista NORDESTE, por isso o interesse em renovar assinatura para acessar conteúdos importantes de diversas áreas”

Roberto Carvalho Empresário Recife - PE.

Levi Leite Professor Brasilia - DF.

Francisco Mendonça Médico da Clínica CLIM João Pessoa.

Particularmente, tenho acompanhado mais as reportagens e entrevistas sobre a sucessão presidencial e nos estados, razão pela qual tenho me inspirado em construir conceitos sobre todo o processo a partir das informações de todos os candidatos, o que favorece a termos uma avaliação mais precisa”

SETEMBRO / 2014

NORDESTE On-line Facebook Revista Nordeste Twitter @RevistaNordeste E-mail faleconosco@revistanordeste.com.br Site www.revistanordeste.com.br

REVISTA NORDESTE N.º 93

Paulo Roberto Fragoso Engenheiro Natal – RN. 7

Nota da Redação: Sugestões de pauta ou matérias podem ser enviadas para o endereço eletrônico da editora: rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br. Agradecemos a sua participação.


Entrevista

Ministro quer reforma radical

O

poder judiciário enfrenta problemas de morosidade e tem uma taxa de congestionamento de 70%, com mais de 90 milhões de processos em andamento. Em entrevista exclusiva à Revista NORDESTE, o Ministro Luis Felipe Salomão, do Supremo Tribunal de Justiça, defende mudanças no direcionamento da Justiça do Brasil e aponta soluções para a desobstrução do poder judiciário, além de defender uma reforma política radical

Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

NORDESTE: Quais os programas que o senhor destaca para o melhoramento da nossa Justiça? Luis Felipe Salomão: Eu acho que

não é uma só solução, acho que é um conjunto de soluções que pode ser implementado para que nós possamos sair desse atoleiro de 70% de taxa de congestionamento. Soluções extrajudiciais de conflitos, mediação, arbitragem, marco legal para mediação, marco legal que amplia arbitragem. Nós temos que pensar em eficiência de gestão de pessoal, temos que pensar em qualificar bem o servidor e os juízes, isso é um ponto importante para o avanço da jurisdição. O orçamento participativo é um dado importante, privilegiando a primeira instância, que é quem recebe a demanda; controle maior dessas demandas repetidas que entopem o judiciário e sacrifica o judiciário, uma espécie de utilização predatória do sistema. Enfim, temos um conjunto de soluções e precisamos arregaçar as

Ministro Luis Felipe Salomão


mangas e partir para elas e acho que com o ministro Ricardo Lewandowski na presidência, temos todo potencial do mundo para desenvolver isso agora. Por que ele consegue motivar a magistratura que está muito desmotivada, consegue capitalizar dialogando com outros atores, como Ministério Público e a Advocacia, e creio que ele tem condição de retomar o processo de solução dos problemas.

NORDESTE: No julgamento do caso do mensalão não foram poucas as críticas direcionadas à atuação do ministro Joaquim Barbosa, em referência a atitudes muito mais justiceiras do que justas. Qual a sua opinião sobre esse assunto? Luis Felipe Salomão: É difícil comentar julgamento judicial, mas eu acho que para um presidente do Supremo, seja ele quem for, o fundamental é o diálogo. Ele tem que dialogar com diversos atores, sem nenhum tipo de preconceito ou pré-julgamento a quem participa do sistema. Quem se beneficia com esse diálogo é a sociedade brasileira, que não quer um judiciário entupido, que quer um judiciário ágil, que resolva os seus problemas, porque o papel do judiciário é restabelecer a paz social. Se ele falha nisso é toda a sociedade que perde. Então, esse chefe do poder judiciário tem que ser uma pessoa apta ao diálogo, que ouça os diversos setores e imprima uma diretriz centro desse conjunto. É preciso cativar e motivar, porque ele mais do que qualquer pessoa é o símbolo do poder judiciário. As críticas que se fazem são justamente por esse motivo, falta de diálogo, que eu creio que agora nós temos de sobra. NORDESTE: O senhor acha que Joaquim Barbosa falhou no diálogo?

Luis Felipe Salomão: Eu creio que esse diálogo não existia.

NORDESTE: O Brasil é um dos

poucos países que tem quatro instâncias de julgamento, e isso é uma das causas da morosidade no andamento dos processos. Este é um

Fotos: Divulgação

dos grandes problemas do sistema judiciário aqui no Brasil? Luis Felipe Salomão: Sim, claro. A morosidade é um problema para qualquer sistema judiciário. Uma pesquisa mundial revela que em alguns países, uma causa cível pode demorar para ser julgada quase oito anos, que é o caso da Itália. Isso não é um sistema judicial adequado. Justiça boa é Justiça que funcione e que seja rápida. Então a morosidade é sim, um problema para nós e para o mundo. Precisamos e temos ferramentas para começar a debelar isso.

NORDESTE: As agências regulado-

ras brasileiras não funcionam e estão na lista das maiores litigantes. Como encarar essa problemática? Luis Felipe Salomão: Empresário normalmente faz o cálculo do custo para o processo, se ele está calculando hoje que mais vale ficar no judiciário é porque presumidamente está melhor para a visão dele. Nós precisamos inverter essa questão do custo do processo para quem é litigante. Então, nesse contingente de quase 30% do poder público litigando, 92 milhões de processo em andamento, tem que identificar quem é que está entupindo, como está entupindo, e começar a aplicar sanções para que se sinta no bolso o resultado disso.

Uma reforma política tem que ser radical, e é urgente que seja debatida no primeiro ano da próxima gestão do Presidente da República” NORDESTE: Tem alguma ação atualmente no combate dessa situação? Luis Felipe Salomão: É um conjunto de ações. Não há varinha mágica para resolver de uma hora para outra o problema do judiciário. Sim, esse é um dos problemas, fazer as agências reguladoras funcionarem para evitar essa multiplicação de processos. Ao lado disso, desestimular que as empresas que estão no topo e o poder público sejam litigantes, tem que ficar mais caro litigar do que não litigar. Tem que adotar esse conjunto de medidas, que juntos podem minimizar esse drama que estamos vivendo.


NORDESTE: O senhor defende uma Reforma Política?

Luis Felipe Salomão: A Reforma Po-

tema penitenciário aqui no Brasil?

Luis Felipe Salomão: Eu acho

A sociedade brasileira não quer um judiciário entupido, quer um judiciário ágil, que resolva os seus problemas, porque o papel do judiciário é restabelecer a paz social” NORDESTE: O Conselho Nacional

de Justiça está fazendo mutirões carcerários ao redor do país com a intenção de dar maior andamento a processos de presos. O senhor acha que essa ação está servindo efetivamente para ajudar essa crise do sis-

Fotos: Divulgação

que alivia a crise, mas não resolve o problema. O problema é muito mais fundo do que isso e precisa de novas penitenciárias, soluções legislativas que imponham penas mais adequadas e dignidade para os presos. É um conjunto de medidas para resolver de fato o problema. O mutirão é um paliativo importantíssimo, talvez se isso não existisse, o sistema já teria explodido, mas ele não pode ser a única ação e nem parar por aí. Eu conheço o sistema de mutirões a nível nacional e eu vejo que eles são eficazes sim, para aliviar essas tensões, resolver de imediato o contingente de processos que aguardam na fila uma decisão judicial, mas não pode parar por aí.

NORDESTE: O que um preso pode esperar do sistema carcerário brasileiro? Luis Felipe Salomão: Eu acho que ele tem que controlar os seus direitos e seus benefícios, fazer uso de um defensor público, por intermédio de familiares ou por ele próprio. E confiar que as políticas publicas virão para que esse sistema penitenciário seja ainda, numa virada média ou a longo prazo, eficaz de aplicação das penas.

lítica é urgente. O sistema é deturpado de processo de escolha de representação, como está hoje, onde o poder financeiro tem uma influência muito grande. Uma primeira medida, que se o parlamento não fizer o Supremo Tribunal Federal vai terminar de fazer, é proibir o financiamento de campanhas por parte de empresas. O outro sistema é uma opção que tem que ser discutida no seio da sociedade, que é adotar o voto distrital misto, que eu acho que vai selecionar melhor os representantes do povo e daquela comunidade sem prejuízo da funcionalidade e da atuação dos partidos. Uma Reforma Política tem que ser radical. E é urgente que seja debatida no primeiro ano da próxima gestão do Presidente da República, seja quem for o vencedor do pleito. É preciso começar e terminar essa reforma.

Justiça boa é Justiça que funcione e que seja rápida. A morosidade é um problema para nós e para o mundo. Precisamos e temos ferramentas para começar a debelar isso”



Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

Polo Cabo Branco: 32 anos de atraso em investimentos

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SETEMBRO / 2014

O processo eleitoral no Brasil, de sorte também no Nordeste, vai terminar com registros históricos que provam a necessidade de se acabar com a descontinuidade das políticas de governo nos estados. Na Paraíba, especificamente, desde o Governo de Tarcisio Burity, em 1982, até os tempos atuais, a capital João Pessoa abriga uma grande área para implantação de Projeto Polo Cabo Branco, visando atrair grandes resorts, hotéis, pousadas e equipamentos turísticos, entretanto, não sai do papel efetivamente. São 32 anos de governos continuados sem conseguir destrinchar pendências jurídicas em torno de 16 condôminos que têm a outorga da área, entretanto, o ano de 2014 está chegando ao fim sem

nenhuma edificação sendo feita para deslanchar o projeto. Trata-se de investimento em área nobre de João Pessoa, próximo ao Centro de Convenções, sem perspectiva de se saber quando será deflagrado com a construção dos hotéis e a implantação da infraestrutura por parte do governo. No segundo semestre ainda houve anúncio de que, enfim, o projeto sairia do papel, entretanto, já se chega ao final do ano sem nada acontecer. Especialistas pontuam que a implantação do Polo Cabo Branco terá impacto não só na Paraíba, mas na região Nordeste como um todo, por estar próximo da área mais oriental da América do Sul.

DE OLHO NO BOLSHOI

INVESTIMENTOS ADIADOS

Está em contagem regressiva a fase seletiva para a escola Bolshoi Brasil, cuja sede está em Joinville (SC). Nos últimos anos, ela tem chamado a atenção e recebido a participação de jovens bailarinos dos nove estados do Nordeste, em duas faixas etárias. Dados chegados à coluna revelam que a audição de ballet se dará dias 17, 18 e 19 de outubro e a seleção se volta para bailarinos sem conhecimento entre 9 e 11 anos e, com conhecimento, entre 12 e 17 anos. Todo o processo acaba se constituindo em ponte cultural entre o Brasil e a Rússia, permitindo que bailarinos anônimos possam ser convocados para a companhia internacional em Moscou.

Grandes marcas do Brasil, a exemplo da Hyundai e de indústria de bebidas, resolveram transferir novos investimentos nos estados nordestinos somente depois da posse dos novos governadores, temendo descontinuidade de acordo operacionais. O empresário Carlos Alberto de Oliveira Andrade disse à coluna que mantém o interesse em trazer nova planta entre Pernambuco/ Paraíba, mas considera esta fase desestimuladora. Ele se queixa de que alguns líderes políticos quando enxergam a presença dele logo desperta interesse em buscar apoio financeiro – na atualidade com mais rigor na efetivação.


Glauber e o Maranhão 48 anos depois Amigo de José Sarney, o revolucionário cineasta Glauber Rocha – o mesmo do Cinema Novo, foi autor de documentário datado de 1966, “Maranhão 66” registrando o começo da dinastia Sarney no Governo do Maranhão criando dessa fase até a presente data o domínio político absoluto, mas que chega em 2014 com real possibilidade de não mais existir diante da candidatura do deputado federal Flávio Dino ao Governo.Todas as projeções de pesquisa de opinião pública apontam para a vitória do ex-presidente da Embratur sobre o senador Edison Lobão Filho por uma larga margem de votos. É que chegou à exaustão a fase de domínio absoluto da família Sarney naquele estado.

Outra disputa muito acirrada no Nordeste se dá na Bahia com a posição do candidato Paulo Souto como favorito da disputa, mesmo assim já começam a existir projeções de que o crescimento do candidato do PT, Rui Costa, possa levar a eleição para o segundo turno. Os aliados de ACM, do Carlismo – como se diz em Salvador – apostam na vitoria já no primeiro turno, entretanto, as novas avaliações de institutos diferentes admitem a hipótese de segundo turno. Neste novo cenário, se acontecer, Rui tem condições de vencer a disputa.

Mulheres da cena potiguar Quem acompanha as eleições no Rio Grande do Norte sabe que o enfrentamento entre a ex-governadora Wilma Faria e a deputada federal Fátima Bezerra se revestirá de componente especial porque tende a ser muito acirrado. Todos os apontamentos, através de institutos de pesquisa, revelam que a vitória deve ser apertada, mesmo levando em conta que Wilma saiu muito mais na frente, mas no decorrer do processo, Fátima Bezerra recuperou o espaço perdido. Pode ser Senadora.

SETEMBRO / 2014

O deputado federal Renan Filho desde quando tomou a dianteira na disputa para o Governo de Alagoas, dali em diante até a reta final de campanha tem se apresentado como candidato com mais chances de se eleger governador de Alagoas sobre o senador Benedito de Lyra. Renan Filho tem feito dobradinha com o candidato à reeleição, Fernando Collor de Melo.

Pode haver segundo turno na Bahia

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Alagoas do primeiro turno


Capa

SOCIEDADE exige

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SETEMBRO / 2014

MUDANÇA MU Se promover eleições de voto obrigatório em um país com grandes dimensões como o Brasil custa caro, pleitear um cargo público nesse processo é tão ou mais custoso. A Reforma Política surge como uma esperança para a insatisfação dos brasileiros e procura modificar uma das principais fontes de corrupção: o financiamento privado das campanhas eleitorais. O plebiscito exclusivo para 2015 já foi aprovado pela sociedade Por Grazielle Uchôa e Flávia Lopes grazielle@revistanordeste.com.br flavia@revistanordeste.com.br


Foto: Shutterstock | Divulgação

“Outro problema é que nós temos mais de 35 partidos políticos atuando no país, 25 só no Congresso Nacional”

SETEMBRO / 2014

Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski. “Precisamos de uma Reforma Política”, decretou em palestra proferida no Seminário “Justiça e Democracia; perspectivas de efetividade” promovido pelo Tribunal de Justiça da Paraíba, em João Pessoa no fim de setembro. Durante a palestra, o ministro afirmou que uma das necessidades do país é a diminuição do número de partidos políticos que existem atualmente. “Outro problema é que nós temos mais de 35 partidos políticos atuando no país, 25 só no Congresso Nacional”, destaca. Segundo ele, esse quadro dificulta a governabilidade. Inicialmente, as propostas da presidente Dilma Rousseff lançadas logo após a onda de protestos pautavam a definição do sistema eleitoral (voto distrital e em lista), suplência do Senado, fim das coligações partidárias e voto secreto no Congresso Nacional, além dos únicos três temas que protagonizam hoje o decreto da reforma: maior atuação popular na apresentação de propostas por internet, realização de todas as eleições no mesmo ano e o financiamento das campanhas eleitorais, assunto mais debatido pela sociedade.

Ricardo Lewandowski 15

N

ão é comum e habitual a relação direta de amor à Pátria e nacionalismo entre brasileiro e Brasil. Talvez a alegria e espontaneidade se sobressaíam à famosa síndrome do vira-lata, termo criado pelo anjo pornográfico Nelson Rodrigues referente ao sentimento de inferioridade dos tupiniquins. Uma pesquisa do Pew Research Center apontou que 72% dos brasileiros estão insatisfeitos com o país. E uma das cenas mais recentes desta insatisfação popular foram as manifestações de junho de 2013, quando a coletividade gritou “vem para a rua”, movimentando milhares de pessoas que não estavam felizes com a realidade: corrupção ativa e desleixo em setores de base como saúde, segurança, educação e transporte. Logo depois da onda de manifestações foi acionado o socorro e a esperança para tantos: a Reforma Política, proposta engavetada várias vezes. Hoje, o Plebiscito sobre a reforma, já aprovado para 2015, já tem assinaturas suficientes para tramitar no Congresso Nacional sob forma de Projeto de Decreto Legislativo (PDL). As mudanças foram ressaltadas e apoiadas pelo presidente do Supremo


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SETEMBRO / 2014

O Preço da democracia Na última década, o limite de gastos da disputa eleitoral presidencial aumentou 380% no Brasil. Enquanto em 1994, primeiro pleito no qual empresas puderam financiar as campanhas, o valor total estimado pelos presidenciáveis totalizou R$ 190 milhões, em 2014, o valor declarado pelos candidatos alcançou o limite de despesas de R$ 916 milhões. O número, que nem de longe é irrisório, deve superar o gasto estimado pelo Tribunal Superior Eleitoral para a promoção das eleições em todo o país este ano. Pressuposto básico do sistema político democrático, as eleições são, em tese, o instrumento capaz de aproximar do cidadão a noção de pertencimento à sociedade em que habita, onde ele se sente capaz de proporcionar mudanças através do seu voto. No Brasil, a chamada “festa da democracia”, que acontece este ano no dia 5 de outubro, é um evento complexo e trabalhoso, mas especialistas afirmam ser eficiente em sua estruturação. Promover eleições em um país com voto obrigatório, de dimensões continentais, com mais de 200 milhões de habitantes não é uma tarefa fácil afinal. Para o cientista político Filipe Alves, do Mato Grosso do Sul, a infraestrutura eleitoral no Brasil cumpre sua função muito bem. “Os TREs são sem dúvida um exemplo de serviço público que funciona em nosso país. Nosso know-how em infraestrutura e logística é fantástico e não são poucos os países que mandam delegações para aprender conosco”, justifica Filipe. Apesar disso, ele hesita em dizer que temos um sistema avançado, já

que não existe uma escala linear na qual possamos comparar os diferentes processos eleitorais que existem no mundo. De todo modo, Filipe Alves afirma que não existe um sistema eleitoral perfeito e que até os modelos mais criticados, como o estadunidense, tem seus méritos. Para o cientista político, que também é diretor de uma ferramenta de gerenciamento online de campanhas e mandatos políticos, nosso modelo é bom, porém pode melhorar. “Mas, não se enganem acreditando que mudar o processo eleitoral mudará a cultura de participação democrática no Brasil, para isto só existem dois remédios, educação e tempo”, pondera o especialista. Se a participação democrática ainda está em vias de mudança, a participação dos brasileiros nos dispêndios para que o processo eleitoral seja possível já é uma realidade concreta, já que são os cidadãos os maiores patrocinadores da “festa da democracia”. Embora o promotor do evento, o Tribunal Superior Eleitoral, ainda não tenha divulgado o valor total a ser gasto para a realização das eleições 2014, o montante deve superar os gastos das eleições anteriores. Só o plano de mídia distribuído pelo TSE prevê um custo de R$851,1 milhões em 2014, destinado às emissoras de rádio e TV e pago, claro, com recursos públicos. De acordo com dados fornecidos pela Assessoria de Comunicação do TSE, em 2010, a Justiça Eleitoral teve um gasto estimado de R$ 490 milhões. No primeiro turno da última eleição, as despesas com toda a preparação para o recebimento do


EDUCAÇÃO VÁLBER ALVES DE ARAÚJO (25) Analista de Sistemas

Fonte: Livro “Democracia, Partidos e Eleições: os custos do sistema partidário no Brasil”, do cientista político Mauro Campos.

Foto: Ricardo Puppe

19,89

EUA

10,93

Brasil

3,42

México

2,21

Alemanha

0,77

Reino Unido

0,45

França 17

Custo per capta do voto nas eleições para o legislativo e governos de estado, em 2010, no Brasil e nas mais recentes eleições gerais nos países listado (em dólares americanos)

SETEMBRO / 2014

“Não existe progresso de uma hora para outra. Mas, primeiramente deve vir a educação, só ela dá condições de ver o mundo de outra forma. São gastos milhões e não muda nada na vida dos brasileiros. O dinheiro bem aplicado criaria uma nova geração de brasileiros mais conscientes, que sabe escolher os seus candidatos e o Brasil só cresceria”


TRANSPORTE VCÉLIA DE OLIVEIRA (50) Técnica de Enfermagem

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SETEMBRO / 2014

“O que a gente precisa é melhorar o transporte. Tem muitos ônibus quebrados, sem cadeiras para as pessoas deficientes. Ir à urna eu vou, mas é sempre nulo ou branco. Eu me decepcionei e já faz muitos anos que não voto” voto de 135,8 milhões de eleitores foram previstas em R$ 480 milhões, o que equivale a uma média de R$ 3,56 por eleitor. Com o segundo turno, essa média passou para R$ 3,60. Esses valores, segundo o TSE, são destinados à logística dos transportes de urnas até os locais de votação, às despesas com a alimentação dos mesários e, em alguns casos, à locação de geradores de energia para as zonas eleitorais onde a rede elétrica é precária, com a finalidade de eliminar o risco de interrupções na transmissão dos resultados. O retorno para o cidadão brasileiro de tamanho investimento, além da promoção de uma eleição aparentemente segura e eficiente, é pouco notável. O que é nítido, na realidade, é a crescente descrença da população em relação à classe política e ao descrédito dado ao processo eleitoral. O cientista político Filipe Alves não considera essa desconfiança como um fator negativo. Para ele, o Brasil ainda

passa por um processo de adaptação ao mecanismo democrático. “Estamos vivendo um momento particularmente volátil, de manifestações, de repressão e de descrédito da classe política. Não penso que isto é um movimento ‘para pior’, acho que estamos tentando nos acostumar com a nossa democracia”, afirma. As manifestações que aconteceram em todo país no ano passado marcaram uma reviravolta da cena política brasileira. Os partidos políticos de esquerda e os próprios movimentos sociais ficaram à margem dos protestos que tomaram as ruas das cidades e foram a expressão de uma insatisfação generalizada dos cidadãos comuns. Pessoas que no lugar de bandeiras, exibiam cartazes de papel feitos em casa, e no lugar das cores partidárias, levavam no rosto as cores da bandeira brasileira. As muitas reivindicações

foram tratadas por vezes como fator de enfraquecimento dos protestos, mas foi justamente a multiplicidade delas a maior expressão do quanto a população está insatisfeita com os mais diversos setores do serviço público ou, como foi possível perceber, com o serviço público como um todo. Neste ano atípico, a Copa do Mundo fez com que os debates em torno do certame político fossem minimizados. Apenas algumas semanas após o fim da competição, as eleições lentamente foram voltando à pauta e às mesas de discussão. Se aproxima a hora, então, do brasileiro colocar em cheque (ou não) a máxima de que possui memória fraca. A Revista NORDESTE foi às ruas ouvir a opinião das pessoas e saber o que elas pensam a respeito dos custos das eleições e das campanhas eleitorais no Brasil. Além de demonstrarem descrença em relação à política e às eleições, elas nos contaram em quais setores gostariam de ver os milhões gastos no processo eleitoral.


O mercado das campanhas milionárias nestas campanhas? Os gastos de campanha são definidos pelo Tribunal Superior Eleitoral como todas as arrecadações que servem para efetivar os investimentos dos pleitos, ou seja, são todos os bens, valores e serviços aplicados no processo eleitoral por partidos políticos, comitês financeiros e candidatos. De acordo com o TSE, os recursos legais, passíveis de serem utilizados como recursos de campanha são aqueles provenientes de doações financeiras ou estimáveis em dinheiro de pessoas físicas ou jurídicas; recursos do próprio candidato; doações de outros candidatos, comitês financeiros ou partidos políticos;

recursos próprios dos partidos políticos; repasses de recursos provenientes do Fundo Partidário; receitas decorrentes da comercialização de bens/serviços e/ ou da promoção de eventos, bem como da aplicação financeira dos recursos de campanha. Os recursos públicos hoje provêm do Fundo Partidário, que são utilizados, em parte para custear as despesas com as campanhas, de acordo com o que estabelece a Lei 9.096/95. Já o horário eleitoral, embora seja gratuito para os partidos e candidatos, é custeado com recursos públicos através dos subsídios fiscais concedidos a emissoras que cedem espaço para a veiculação da propaganda.

Jader Toscano, corretor de imóveis, critica transporte Foto: Ricardo Puppe

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SETEMBRO / 2014

Este é o ano dos brasileiros elegerem deputados, senadores, governadores e Presidente da República. Naturalmente, trata-se de uma eleição mais intensa em todo o país, já que estão em jogo os mais importantes cargos políticos. É o que se chama de “briga de cachorro grande”. Nela, os políticos se utilizam de todas as armas disponíveis para saírem vitoriosos. Dentre elas, o dinheiro, uma das mais importantes ferramentas para investir em uma campanha de peso no Brasil. Mas por que os recursos financeiros são determinantes no processo eleitoral? E quais serão os caminhos utilizados pelos partidos brasileiros para levantar cifras


Cifras são milionárias comitês eleitorais (cada vez mais substituídos por palanques eletrônicos, que demandam equipamentos caros), viagens, advogados, especialistas em marketing eleitoral e os cabos eleito-

A cada real investido nas campanhas, as empresas obtêm R$ 8,50 em contratos públicos rais pagos, que entram em cena no lugar dos tradicionais e ideológicos militantes políticos. Todas despesas de grande monta, que dão corpo à corrida eleitoral e à ideia preponderante

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Além de todas as fontes de arrecadação apresentadas pelos partidos políticos à Justiça Eleitoral, é inevitável trazer à memória que os números oficiais estão aquém das cifras despendidas pelos partidos na corrida eleitoral. Seria ilusório imaginar que não, infelizmente. O que transpassa a contabilidade oficial e a prestação jurídica das contas são as inúmeras doações que tomam lugar por debaixo dos panos, utilizadas corriqueiramente como moeda de troca entre os patrocinadores de candidaturas e os futuros dirigentes do legislativo no país. Nesta conjuntura, se somam aos milhões declarados ao TSE, outros milhões, que engordam os caixas dos partidos e viabilizam as despesas com pessoal, impressão de material,

Vanessa Cruz, vendedora, reclama na fila do hospital

no marketing político nacional de que quem gasta mais, vence a eleição. O cientista político Filipe Alves ressalta que não são todas as campanhas que são milionárias e que a maioria das candidaturas é de candidatos que estão ali apenas para preencher a quota e que tem pouca ou nenhuma representatividade. No entanto, para as candidaturas majoritárias, existem muitos interesses em jogo e as doações de pessoas jurídicas são substanciais, de acordo com ele. As empresas são, assim, as grandes financiadoras das campanhas eleitorais no Brasil e as eleições são um mercado muito disputado e lucrativo. Segundo pesquisa do Instituto Kellog Brasil, a cada real investido nas campanhas eleitorais, as empresas obtêm R$ 8,50 em contratos públicos.


SAÚDE HILDERALDO OLIVEIRA (45) Estilista

“O hospital está com as portas abertas, mas tem a fila, né? Tem a espera, todo mundo sofrendo, e é muita gente com muita doença. Amo meu país, mas não acredito mais, não confio (na política)”.

Foto: Ricardo Puppe

onde quem tem o maior orçamento tem as melhores campanhas, a situação atual das campanhas faz sentido. O problema, segundo ele, é que esse marketing tradicional já não é tão efetivo. Eduardo justifica: “Essa falta de atualização no marketing político brasileiro tem gerado gastos desnecessários e incoerentes. Até porque os eleitores estão recebendo esse tipo de comunicação de uma forma cada vez mais negativa, o que tem gerado ainda mais repulsa pela classe política”. Para o especialista, a saída seria a implementação de novas formas de

marketing na política, o que tornaria as campanhas mais efetivas e mais baratas. O que impediria esse avanço é o conhecimento enraizado dos profissionais de campanha, que repetem as mesmas estratégias há muitos anos e se orgulham disso. Independente das estratégias de marketing, fato é que os candidatos financiados, ao serem eleitos, adquirem automaticamente uma dívida que será paga sem que se leve em conta o interesse público ou a capacidade técnica das empresas contratadas para atender a sociedade nos mais diversos setores de serviços.

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Eduardo Lyvio, especialista em marketing político, afirma que a razão de as empresas fazerem grandes doações é algum tipo de favorecimento posterior e que esse é o grande problema do modelo atual, porque a partir disto, funciona como se as doações para as campanhas fossem, na verdade, uma compra de influência para o futuro. “Esses altos valores são fruto de uma disputa entre os candidatos com alto poder econômico, em que o maior orçamento vence”, explica. Para Eduardo, analisando a situação sob a ótica do marketing tradicional,

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Uma moeda de troca


REFORMA SEM CONSENSO

SEGURANÇA PÚBLICA IVAN DE LIMA (51) Pedreiro

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“O dinheiro das campanhas deveria ser mais fiscalizado e o Ministério Público deveria cair em cima disso, porque não é deles, é do povo. Se esse dinheiro fosse para a segurança pública o país estaria melhor, com certeza. O cidadão ia ter um pouco de paz, pelo menos para ir e vir, e nem isso tem”.

PT, PSDB, PSB e PMDB, desde o início da votação da ADI 4.650 no STF, se posicionaram contra a vigência da medida nas eleições deste ano. Se as regras já estivessem em vigor em 2014, os candidatos à Presidência, Governo do estado, Senado e Câmara dos deputados teriam à sua disposição apenas ¼ do valor orçado para as candidaturas deste ano. Dos partidos majoritários, só o PMDB e o DEM declararam serem contra o financiamento exclusivamente público das campanhas. Eduardo Cunha (PMDB-RJ), líder da segunda maior bancada na Câmara Federal, durante as discussões sobre as propostas de Reforma Política em abril deste ano, afirmou que trabalharia para derrubar a iniciativa. Isso porque, além da medida que tramita no STF, o financiamento público das campanhas também está inserido no Projeto de Lei do Senado 268/2011, apresentado como conclusão dos trabalhos da Comissão de Reforma Política da Casa e que serve de referência para as discussões sobre o tema no Congresso. No Partido dos Trabalhadores, embora o vice-presidente nacional do partido, José Guimarães (CE), afirme que a legenda defende o financiamento público para combater a corrupção, existem dissensões. O petista Cândido Vaccarezza (SP) se uniu ao PMDB nas articulações em favor do financiamento privado em meio à movimentação dos parlamentares que tentam dar sobrevida ao modelo atual de financiamento, se contrapondo ao entendimento do STF. A primeira etapa da Reforma Política brasileira, então, já gera conflito entre Congresso e Judiciário, e parece estar longe de uma definição. Caso o Congresso aprove novas regras, contrárias ao entendimento do STF, o Supremo só pode se pronunciar novamente se provocado. A OAB já anunciou que, caso isto aconteça, entrará com uma nova ação no Tribunal.


Financiamento privado?

Foto: Ricardo Puppe

Não há modelo perfeito O professor de Direito Eleitoral da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Renato César Carneiro, lembra que o financiamento de campanhas eleitorais não é um problema exclusivamente brasileiro e que países como França, Alemanha e Estados Unidos enfrentam as mesmas questões. Não é preciso forçar a memória para remeter-se ao Caso Wattergate nos Estados Unidos, que culminou na renúncia do presidente Nixon, por exemplo. O professor destaca ainda que não existe um modelo perfeito – público ou privado - de sistema eleitoral e que não há uma fórmula ideal de financiamento de campanha, mas confirma que o modelo atual, predominantemente privado, favorece a corrupção na arrecadação de recursos. Para Renato César Carneiro, a legislação brasileira é hipócrita quando restringe a doação de recursos, por

exemplo, de associações de classe ou sindicatos. “É preciso que não se gere muitas expectativas de que o financiamento público vai acabar com a forma ilícita de arrecadação de recursos para as campanhas eleitorais. A legislação eleitoral atual limita bastante a atuação da Justiça Eleitoral, no que diz respeito à análise das prestações de contas de campanha, que devem ser meramente formais”, alerta. Renato César afirma que o financiamento exclusivamente público de campanhas não assegura a igualdade entre os candidatos, já que a divisão dos recursos financeiros favorecerá o partido majoritário, o do governo, e a distribuição interna entre os próprios filiados do partido será feita de forma desproporcional. Ele arremata: “Creio que, devido à cultura de corrupção do nosso processo eleitoral, que já está impregnada, poucas mudanças ocorrerão, na prática”.

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contraponto Os críticos deste modelo de financiamento afirmam que só os partidos maiores sairão beneficiados pelo fundo partidário, diminuindo as possibilidades das pequenas agremiações. Além disso, alegam que impedir doações de pessoas físicas que acreditam em determinados projetos políticos é antidemocrático e que a proibição não tem resultados contra a corrupção.

De todo modo, é difícil imaginar que a proibição por si só interrompa o forte fluxo de transações financeiras estabelecidas entre empresas e partidos. É do interesse delas a influência política adquirida e, mais ainda, o retorno financeiro ao qual terão direito pelo seu “investimento”, e é do interesse dos partidos a captação do máximo de recursos possíveis para o acirramento da batalha de cifras milionárias em busca da candidatura bem sucedida. Há no horizonte a possibilidade de que parte dos fluxos que antes circulavam no Caixa 1, a partir da proibição, passem a engrossar os fluxos do Caixa 2.

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A discussão em torno do financiamento privado surge, assim, a cada eleição. Ao fim de 2013, o debate ganhou força quando o Supremo Tribunal Federal iniciou a votação da ADI 4.650, movida pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que pretende proibir as doações de empresas a campanhas eleitorais e partidos políticos. O último julgamento, que aconteceu em abril deste ano, foi suspenso porque o ministro Gilmar Mendes pediu vistas do processo. No entanto, a votação dos ministros do STF já conta com seis votos a favor e um contra a mudança da lei e a proibição do financiamento por empresas, o que já garante a aprovação da matéria. Ainda faltam os votos de quatro magistrados, por isso o fim do julgamento ainda não possui data prevista para acontecer.

PONTO Os defensores do financiamento público de campanhas acreditam que a proibição de doações de pessoas físicas e jurídicas vai reduzir a corrupção, já que o candidato não assumirá uma dívida com seus financiadores – em sua maioria, empresas - a ser paga através de contratos públicos fraudulentos.


Política

DOIS LADOS

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DA MOEDA

Em época de campanha, milhões vão para propagandas eleitorais e algumas candidaturas custam o orçamento previsto para o ano inteiro de um município. Outras, porém, lutam para aparecer na disputa e acusam o processo eleitoral de antidemocrático Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

O

cenário da segunda-feira após as eleições já é conhecido e se repete a cada dois anos na história da democracia brasileira. Geralmente, se torna pauta dos noticiários televisivos, que mostram a cada eleição as ruas das cidades tomadas por pilhas de santinhos ilustrados com as faces sorridentes dos candidatos, às vezes até arremessados aos montes de helicópteros. Além da educação ambiental e do senso coletivo, que parece faltar aos candidatos e seus apoiadores, este panorama é a expressão de que na campanha eleitoral brasileira tudo é válido e o dinheiro, também proveniente dos cofres públicos, pode ser – e é – desperdiçado de todas as formas possíveis. Isso porque dinheiro não lhes falta. Pelo menos não aos políticos e partidos majoritários.


Eleitor deve ser impactado

Paulo Skaf

UF

GASTO ESTIMADO

SP

R$ 95.000.000,00

PT

SP

R$ 92.000.000,00

PSDB

SP

R$ 90.000.000,00

RJ

R$ 85.000.000,00

DF

R$ 70.000.000,00

CE

R$ 67.000.000,00

BA

R$ 65.000.000,00

CE

R$ 64.000.000,00

MG

R$ 60.000.000,00

RJ

R$ 60.000.000,00

PMDB

Alexandre Padilha Geraldo Alckmin

Luiz Fernando Pezão Agnelo Queiroz

PT

Eunício Oliveira Rui Costa Camilo

PMDB

PMDB

PT

PT

Pimenta da Veiga Lindbergh Farias

PSDB PT

No mês passado, o Tribunal Superior Eleitoral divulgou os gastos estimados pelos próprios partidos para as candidaturas em todo Brasil. Governos dos 26 estados e Distrito Federal têm 169 candidatos que gastarão em suas campanhas R$2,43 bilhões. A cifra equivale ao valor do orçamento previsto para 2015 de uma cidade como Niterói (RJ), que tem quase 500 mil habitantes. Na lista das 10 campanhas para governador mais caras do Brasil, figuram candidatos dos três maiores partidos políticos da cena brasileira: PT, PMDB e PSDB, que se dividem entre os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Minas Gerais. Do Nordeste, aparecem dois candidatos ao governo do Ceará e um da Bahia. Somados, os gastos estimados das 10 campanhas ultrapassam os R$740 milhões. A soma das despesas previstas com as 10 campaFoto: Shutterstock

nhas mais caras corresponde a 30% do total de gastos de todos os candidatos a governador no Brasil. Os três orçamentos mais caros vêm do maior estado do país, São Paulo, cujo governo é disputado por Paulo Skaf (PMDB), Alexandre Padilha (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB). Os três preveem os gastos na casa dos R$90 milhões. Proporcionalmente, no entanto, as despesas estimadas estão entre as quatro menores do país, já que no ranking de gastos por eleitor o valor do estado de São Paulo é de R$10,13. Maior apenas que Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Eunício Oliveira (PMDB-CE), Camilo Santana (PT-CE) e Rui Costa (PT-BA) são os representantes do Nordeste na lista, com orçamentos que variam em torno dos R$ 60 milhões. No Ceará, o valor unitário de um voto chega

a R$22,45, enquanto na Bahia o gasto por eleitor é de R$13, 12. O cálculo para chegar ao valor per capita é feito a partir da proporção entre o valor estimado pelos candidatos e o número de eleitores do estado. No ranking dos gastos por eleitor, os estados mais pobres da federação figuram entre os que o voto custa mais caro. Segundo os especialistas, isso acontece porque na cultura política desses estados cresce a importância do cabo eleitoral na dinâmica das campanhas e, assim, crescem os gastos com a remuneração de pessoal que mobiliza o eleitorado. Além disso, embora seja importante fugir de uma perspectiva estigmatizada de que a corrupção é monopólio deles, há que se destacar que nos estados mais pobres há um controle maior dos votos pelas lideranças políticas e, por isso, a venda de votos ainda é uma prática generalizada.

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CANDIDATO

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AS DEZ CAMPANHAS PARA GOVERNADOR MAIS CARAS DO PAÍS

O publicitário especializado em Marketing Político de Pernambuco, José Nivaldo, afirma que, embora os números relacionados aos gastos das campanhas sejam altos, as cifras milionárias não representam tanto no mercado publicitário tradicional. Para ele, a verba de R$90 milhões utilizada em uma campanha política, comparada ao orçamento de campanhas comerciais de uma grande empresa, não chega a ser significativa. José Nivaldo explica: “É um número que assusta, mas não é nada demais do ponto de vista técnico. Mesmo a nível estadual, porque você abrange todos os eleitores de todos os municípios, e o eleitor para formar seu conceito tem que ser impactado diversas vezes pelas diversas mídias”. O também especialista na área, Jefferson Fernandes, concorda com José Nivaldo e diz que a contratação de uma boa produtora em São Paulo, por exemplo, pode ultrapassar os R$ 20 milhões. Sem contar com outros custos, como gráficas, advogados, logística, aluguel de veículos, cabos eleitorais e imóveis.


No outro extremo do eixo e longe da perspectiva técnica, os candidatos de partidos com pouca representatividade encontram inúmeras dificuldades para a arrecadação de fundos da campanha. A maior parte nem sequer alimenta muitas ambições em relação ao processo eleitoral, porque o veem como desigual, portanto, improvável de haver inversões reais na cena política dos estados. Lourdes Melo (PCO-PI) se candidata pela segunda vez ao governo do estado do Piauí. A professora de Educação Física - que nunca exerceu nenhum cargo eletivo, mas há 30 anos está à frente dos movimentos sociais - admite não ter chances de se eleger, mas diz que seu partido utiliza a campanha eleitoral como forma de divulgar as lutas dos trabalhadores e alertar a população. A candidata acredita que ganha a eleição quem tem maior tempo nos meios de comunicação para expor suas ideias. “A população não está mais confiando, mas vota mesmo em quem eles veem na televisão. Ninguém vota em quem não conhece. Você não vota em quem nunca viu na vida”.

O gasto estimado de Lourdes Melo, de acordo com o site do TSE, será de R$1 mil. Para a candidata, que considera o sistema eleitoral antidemocrático, sua participação nas eleições 2014 deve acontecer dentro da normalidade da luta dos trabalhadores, sem que haja o uso de outdoors, cartazes ou carros de som. Ela afirma que a arrecadação das suas campanhas, feita através de feijoadas e almoços, geralmente vem de contribuições de pessoas que se identificam com a luta do PCO. “A gente ainda não teve tempo de fazer esses eventos, porque é uma burocracia tão grande com o TRE para poder fazer. Os outros gastam milhões e milhões para comprar voto, para pagar marqueteiros e mercenários, e nós temos que ficar nessa situação”, explicou. Lourdes Melo complementa: “A eleição é feita pra quem já esta no poder ganhar. Eles são fortes porque pegam indevidamente recursos de seus patrocinadores de campanha e também tem muito marketing, muita propaganda enganosa. Se tivesse democracia, eles não estariam no poder”.

Campanhas desiguais

Os outros (candidatos) gastam milhões para comprar voto, para pagar marqueteiros e mercenários

Lourdes Melo

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Falta de visibilidade

Antônio Radical

Na Paraíba, o historiador Antônio Radical (PSTU-PB) é figura conhecida das campanhas eleitorais de esquerda. Além da candidatura ao governo, ele já participou de duas campanhas para a prefeitura de João Pessoa. Antônio Radical declarou ao TSE uma candidatura com gastos estimados em R$40 mil, mas ele diz que é improvável que consiga arrecadar esse valor e que o financiamento do PSTU vem dos trabalhadores e pessoas que reconhecem o trabalho dele e do partido. “É uma batalha muito grande fazer com que nossa campanha tenha visibilidade. Nós queremos fazer um governo para os trabalhadores, então nós não aceitamos dinheiro de empresários. Queremos é representar nossa classe nesses espaços”, pontua o candidato.

Radical atribui ao processo eleitoral o início da corrupção no Brasil e diz que as campanhas eleitorais são a ponta do iceberg nesse processo. “Como esses camaradas vão torrar esses valores em 90 dias? O dinheiro vem exatamente dos empresários, do agronegócio, e no final das contas esse dinheiro vai ter que ter um retorno. Assim os senhores, ao chegarem ao palácio do governo, vão governar para esses empresários”. O historiador afirma que o dinheiro arrecadado muitas vezes não entra na conta oficial da campanha e que o financiamento privado coloca em cheque as candidaturas milionárias. “Porque, ao assumir o cargo, essas candidaturas não vão representar o nosso povo e sim alguns grupos econômicos”, explica Antônio Radical.


Estrutura mínima

Para o publicitário José Nivaldo, sem recurso é muito difícil que a candidatura se torne efetiva, porque ela dificilmente conseguirá a exposição necessária para se tornar competitiva em relação aos demais. O especialista em marketing político, no entanto, afirma que não é um fato que mais ou menos dinheiro determina o sucesso de uma campanha. Para justificar seu pensamento, ele cita o exemplo da campanha bem sucedida que fez, em 1998, para a candidatura de Eduardo Suplicy ao Senado. De acordo com José Nivaldo, os gastos dessa campanha, em valores não corrigidos, foram de R$38 mil reais, enquanto a do outro candidato tinha orçamento muito superior. “O dinheiro tem sua influência inegável, mas o fato determinante é a politica e não comunicação. A comunicação complementa a politica para levar a mensagem, mas o que define é a política”, arremata. Fato é que o dinheiro disponível na campanha potencializa a imagem do político e abre um leque de possibilidades para a comunicação com o seu eleitorado e o envio de suas propostas. Isto quando nos referimos especialmente ao montante declarado e utilizado para fins lícitos.

Foto: Divulgação | Marian de Sá (Flickr)

ranking de gasto por eleitor RR

R$ 90,30

RO

R$ 71,42

AL

R$ 71,40

TO

R$ 70,72

DF

R$ 64,82

MS

R$ 60,70

MT

R$ 50,24

AP

R$ 40,02

AC

R$ 31,48

SE

R$ 28,23

GO

R$ 28,03

PB

R$ 27,70

RN

R$ 25,66

AM

R$ 25,34

CE

R$ 22,45

PI

R$ 20,55

SC

R$ 17,40

RJ

R$ 15,31

MA

R$ 14,25

PR

R$ 13,73

BA

R$ 13,12

PA

R$ 12,05

ES

R$ 11,31

SP

R$ 10,13

PF

R$ 7,87

MG

R$ 7,46

RS

R$ 6,42

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“O que define a política”

mínima e ter muita organização em sua campanha, segmentando a comunicação para conversar com as pessoas de maneira mais individualizada”, explica. É possível que a estratégia funcione, mas, como apontam os especialistas, são raras as exceções. Quando se trata de eleições, a classe política que ocupa os maiores espaços de poder não arrisca e prefere apostar na relação direta entre os recursos da campanha e o sucesso do pleito. Enquanto isso, os partidos menores correm à margem da disputa, desejando ser a exceção à regra e levando a frente “candidaturas de protesto” que nada parecem afetar a dinâmica do processo eleitoral. (Até o fechamento da edição, nenhuma das assessorias dos 10 candidatos listados no ranking das campanhas mais caras deu resposta aos nossos e-mails ou ligações).

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Jefferson Fernandes

Jefferson Fernandes, que trabalha com comunicação e marketing político no Mato Grosso do Sul, diz que, embora o fator determinante para a vitória não seja necessariamente o maior volume em verba para a campanha, nas eleições majoritárias (para prefeituras, Senado, governos e Presidência), pode-se dizer que ela é possível, porém rara. Uma vitória sem muitos recursos, segundo ele, depende de uma série de fatores, dentre eles, o desgaste de material (que é como os marqueteiros chamam o político ou partido com muitos anos no poder), como é o caso do PSDB em São Paulo, cujo pleito na capital culminou na vitória de um “desconhecido”, Fernando Haddad. “O cansaço de imagem destes políticos pode favorecer os pequenos candidatos, mas para isso ele precisa contar com uma estrutura


Política

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REVIRAVOLTA O NAS ELEIÇÕES Dilma volta a liderar as pesquisas diante dos seus oponentes. Marina e Aécio brigam pela vaga do segundo turno Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

s mais cautelosos alertaram: o desempenho avassalador de Marina Silva nas pesquisas de intenção de voto não permaneceria constante até o fim do processo eleitoral. Muito do expressivo resultado numérico alcançado pela mais nova candidata do PSB foi decorrente da comoção nacional em torno da trágica morte do ex-governador de Pernambuco e candidato a Presidência, Eduardo Campos. Eles estavam certos. Marina que, nas pesquisas, chegou a empatar tecnicamente com Dilma Rousseff e, em simulações de segundo turno, até vencer a atual presidente com 10 pontos de diferença, tenta agora frear sua sequência de queda nas intenções de voto.


Foto: Divulgação

Dilma. Em uma semana, Dilma manteve 39%, enquanto Marina oscilou para baixo, de 40% para 38%. Para quem esperava uma reviravolta considerável no cenário nacional a partir da candidatura de Marina Silva, os resultados não alcançaram as expectativas e a candidata perde força a cada nova pesquisa que se aproxima do dia 5 de outubro. Em partes, porque o calor da emoção pela morte de Campos passou e, em partes, porque sua campanha não foi capaz de administrar os ataques desferidos contra ela e suas diretrizes – que oscilaram tanto quanto os números nas pesquisas – ao contrário do PT, que conseguiu retomar o fôlego e assegurar a consistência da campanha da presidente até, é o que parece, o fim das eleições.

desafiadas a lidar com a velocidade impressionante com que mudanças bruscas no cenário eleitoral aconteceram. Se as projeções atuais se mantiverem a partir de agora, no entanto, Dilma tem uma vantagem de 11 milhões de votos sobre Marina Silva. A candidata do PT terminaria o primeiro turno com 43 milhões de votos contra 32 milhões da concorrente e 20 milhões do tucano. Nesta conjuntura, em um possível segundo turno, a disputa será determinada sobre a vantagem que uma colocar sobre a outra no primeiro turno e quanto cada uma vai converter de votos de Aécio. Com a vantagem que Dilma tem hoje, a candidata do PSB teria que converter mais de 70% dos apoia-

dores do tucano em eleitores seus no segundo turno e torcer para que a petista não alcance 15% dos votos de quem, na primeira etapa, votou no político mineiro. Mas, de acordo com pesquisa do Ibope, Marina está convertendo 51% dos eleitores tucanos em seus na simulação de segundo turno contra Dilma. Esse indicador vem caindo nas últimas semanas, já que chegou a ser de 66% no começo de setembro. Já a taxa de conversão de Dilma se mantém constante. Desde o fim de agosto a petista tem, segundo o Ibope, conseguido manter de 15% a 18% a estimativa dos votos para si de quem votou no candidato do PSDB no primeiro turno.

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Pesquisa Vox Populi/Carta Capital divulgada no último dia 25 de setembro mostra que a candidata Dilma abriu vantagem de oito pontos percentuais em relação à presidenciável pelo PSB. Dilma está na liderança com 38% das intenções de voto, enquanto Marina aparece com 25%, seguida por Aécio Neves com 17%. Na última pesquisa, do dia 10, Dilma tinha 36%, Marina tinha 28% e Aécio, 15%. É a primeira vez que um instituto aponta a possibilidade da eleição ser definida ainda no primeiro turno. A campanha vai chegando ao fim com uma marca: a cada semana, o eleitor traz indicações diferentes, por isso, as coordenações de campanha foram

Esses resultados trazem preocupação para a campanha de Marina, que precisa correr atrás para diminuir a vantagem de Dilma Roussef e ainda vê Aécio Neves cada vez mais próximo no retrovisor. As pesquisas Ibope mais recentes mostram que a ambientalista caiu ou oscilou para baixo nos oito maiores estados do Brasil (que representam 70% do eleitorado do país). Em São Paulo, a queda foi expressiva: em duas semanas, as intenções de voto de Marina passaram de 38% para 32%. Em números absolutos, é como se a candidata do PSB tivesse perdido o voto de 1,6 milhões de eleitores. Em Pernambuco, estado onde Marina Silva herdou maior parte do eleitorado de Eduardo Campos, os socialistas ainda preservam certo equilíbrio com

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Marina perde força


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UMA MINA DE VOTOS Segundo maior colégio eleitoral do país, o Nordeste representa uma mina de 38,2 milhões de votos. Essa região ainda tem muitos gargalos a serem solucionados e que têm chamado a atenção dos presidenciáveis nestas eleições. A Revista NORDESTE faz um levantamento das propostas de Dilma, Aécio e Marina para áreas estratégicas e mostra as promessas contidas nos programas de governo petista, tucano e socialista


REDUTO DE VANTAGENS A presidente Dilma Rousseff e o PT têm no Nordeste um reduto eleitoral importante, cuja ampla vantagem dificilmente será ameaçada. Todas as diretrizes listadas no programa de governo de Dilma são direcionadas para as cinco regiões do país. Mas, em sua gestão, o Nordeste tem sido objeto de todos os programas do Governo Federal e, em alguns casos, de programas específicos. “O programa de governo da campanha da presidenta Dilma Rousseff tem uma proposta nacional de continuidade da transformação que ocorreu no país nos últimos 12 anos, que entre outros avanços, conseguiu tirar 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza e levar 45 milhões à classe média. Estamos propondo um novo ciclo de mudanças assentadas em três pilares básicos: solidez econômica, amplitude das políticas sociais e a competitividade produtiva”, afirma o Comitê de campanha da presidente, que explica à Revista NORDESTE algumas das principais propostas que envolvem a região.

SEGURANÇA HÍDRICA “Pelas suas especificidades, para o Nordeste o programa de governo prevê que a segurança hídrica será tratada com prioridade na próxima gestão. A ideia é mobilizar ações compartilhadas e concatenadas das três esferas de governo para que as necessidades de uso múltiplas da água – consumo humano, irrigação, hidroelétricas, pecuária e outros – sejam levadas em conta de forma racional e sustentável”, diz o Comitê. O plano tem uma proposta que é de continuidade ao esforço de investimento em segurança hídrica, que somente nos últimos três anos contou com recursos superiores a R$ 32 bilhões, para avançar ainda mais na garantia de oferta de água com qualidade e regularidade em regiões historicamente carentes desse recurso, como o semiárido”.

INFRAESTRUTURA

Foto: Divulgação

“O segundo mandato da presidente Dilma Rousseff buscará consolidar um país de direitos e oportunidades para os mais pobres ampliando as conquistas já feitas, com o reforço dos programas sociais e a inclusão produtiva rural e urbana, seja no mercado formal de trabalho, seja via economia solidária ou empreendedorismo. O Cadastro Único do Bolsa Família será a ferramenta utilizada para identificar as carências dos indivíduos para além da renda, e a via de acesso da população pobre e extremamente pobre a programas e serviços como Minha Casa Minha Vida, saneamento básico, equipamentos de segurança pública, esporte, cultura e lazer. Vamos universalizar a matrícula e acompanhar a frequência de crianças de 4 a 6 anos do Bolsa Família na educação infantil”.

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PROGRAMAS SOCIAIS

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“Com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e com o Programa de Investimento em Logística, os governos do PT assumiram a histórica tarefa de investir na infraestrutura logística brasileira, fundamental para o crescimento e a competitividade da economia. Um dos alicerces do programa de governo da candidata Dilma Rousseff é o compromisso com o Brasil Produtivo. As políticas industrial, científica, tecnológica e agrícola vão atuar para reduzir os custos de investimento e produção, estimulando nossa capacidade de inovação, reduzindo os custos logísticos e melhorando o ambiente de negócios do país”.


ATENÇÃO ESPECIAL À REGIÃO REVITALIZAÇÃO DO SÃO FRANCISCO Uma das principais metas do plano Nordeste Forte é a conclusão da transposição do São Francisco e sua revitalização. Também está prevista a ligação entre as bacias do Parnaíba e do São Francisco, para levar benefícios ao semiárido do Piauí, além da conclusão do Canal do Sertão Alagoano. “O Plano Nordeste Forte tem um compromisso claro com a revitalização do São Francisco. Isso é fundamental, até para que o processo de transposição seja concluído de forma adequada”.

Aécio Neves (PSDB) foi o único dos candidatos a lançar um programa específico para o Nordeste. Isto porque, se no início da campanha conquistar votos nos noves estados e impedir que Dilma abrisse larga vantagem já era uma preocupação, após a morte de Eduardo Campos tornou-se ainda mais urgente, para que o tucano não fosse ultrapassado por Marina Silva após a comoção pela morte do ex-governador de Pernambuco. Fruto dessa preocupação é o Plano Nordeste Forte, que contempla ações em áreas estratégicas, como infraestrutura, combate à pobreza, segurança pública e educação. Em entrevista à revista NORDESTE, o Comitê de campanha do candidato mineiro falou sobre temas importantes do programa, que poderiam viabilizar o crescimento sócio-econômico e ainda reduzir as desigualdades entre as regiões do país. “Só há uma forma de diminuir as desigualdades: tratando regiões desiguais de forma desigual. É isto que estamos propondo aqui, políticas específicas que permitirão que as potencialidades do Nordeste, que são inúmeras, em várias áreas, possam se desenvolver”, declara o Comitê.

SAÚDE

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SEGURANÇA PÚBLICA Reduzir em 30% as taxas de homicídio no Nordeste é o compromisso de Aécio com os nordestinos para os próximos anos na área de segurança pública. A Política Nacional de Segurança Pública a ser desenvolvida pelo já anunciado Ministério da Segurança Pública e Justiça de Aécio teria um braço específico na região, chamado de Centro Regional de Inteligência. “O plano também prevê a ampliação dos recursos federais para segurança pública no Nordeste acima da média per capita nacional. A partir do primeiro ano do governo não haverá contingenciamento dos recursos de segurança pública, e o foco será no Nordeste”, explica o Comitê de campanha.

O Nordeste Forte pretende universalizar o “Programa Saúde da Família” e ampliar os recursos federais enviados para a região com o intuito de melhorar os serviços públicos em saúde, passando pelo abastecimento de água e tratamento de esgoto. “A meta é igualar os gastos per capita à atual média nacional e ampliar os leitos hospitalares em todos os estados do Nordeste para alcançar a atual média nacional de 2,4 leitos por cem mil habitantes em quatro anos”.


VISÃO ALÉM DO NORDESTE Com a morte de Eduardo Campos, o xadrez político se embaraçou, especialmente no Nordeste. A dúvida era se Marina conseguiria captar os votos do candidato pernambucano. A ambientalista cresceu na região, mas debilidades na estrutura de sua campanha dificultaram a disseminação do seu nome. Para melhorar sua visibilidade, ela adotou a estratégia de percorrer a região. Esteve em vários estados nordestinos e em todas as oportunidades reafirmou seu compromisso com a região. Marina deixou claro que ações voltadas ao Nordeste seriam prioridades no seu governo. As propostas apresentadas por Marina, no entanto, não estão, em sua maioria, diretamente direcionadas a esta região.

EDUCAÇÃO É na área de educação que o programa de governo da candidata mais cita o Nordeste, já que 7,2 dos quase 13 milhões de analfabetos do Brasil estão em território nordestino. Seu plano de governo inclui a criação de um programa para estados e municípios para acabar com o atraso escolar, tendo como meta zerar a distorção idade/série.

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Foto: Divulgação

A violência doméstica no Nordeste figura no programa de governo de Marina. No entanto, sua abordagem é genérica e pouco apresenta sobre planos práticos de enfrentamento à violência e aos maus tratos contra mulheres, embora alerte sobre a necessidade de otimização do atendimento às vítimas. O programa apresenta ainda o plano de oferecer, nas regiões atingidas por estiagem, programas de convivência com o semiárido específicos para mulheres.

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POLÍTICA PARA MULHERES

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“O desenvolvimento econômico precisa de uma compreensão de que o Nordeste não é problema, mas solução. A maior parte das soluções já estão colocadas e precisam ganhar escala como, por exemplo, os programas que façam as pessoas terem acesso à água em relação à transposição do São Francisco, que ajudará, em muito, o desenvolvimento econômico no semiárido nordestino”, disse Marina Silva em entrevista, destacando também que o desenvolvimento do Nordeste passa pela utilização de fontes de energia alternativas, como a solar, além da agricultura familiar e da valorização da cultura e do artesanato local.


Opinião

Competição sem truques

U

ma rede moderna de transmissão de dados e informações é tão importante quanto a quantidade e qualidade da infraestrutura (transporte, energia, portos, etc.) para a ampliação da produtividade total dos fatores, o que significa que ela influi decisivamente na determinação da taxa de crescimento do PIB. A estrutura do nosso sistema de comunicações, com quatro grandes operadoras que representam 99% e o outro segmento 1% com 5 operadoras, parece adequada, ainda que a qualidade dos seus serviços seja mal avaliada pelos usuários, talvez porque o volume de investimentos, mesmo significativo, não tem acompanhado o aumento da demanda. As quatro “grandes” apresentam estruturas de capital, endividamento e capacidade de explorar seu “poder de monopólio” em níveis muito diferentes. O sucesso da competição e o avanço tecnológico são fenômenos interdependentes que se retroalimentam. A concorrência obriga atenção prioritária à pesquisa e inovação que são a essência do avanço tecnológico. Pesquisa e inovação procuram soluções que atendam melhor, em quantidade e qualidade, à dinâmica da demanda dos consumidores, o que determina o sucesso competitivo. Na transferência de monopólio público ao setor privado, é fundamental controlar o poder econômico, particularmente no setor de comunicações - onde a tecnologia matura à cada seis meses - com agências reguladoras tecnicamente bem preparadas para garantir um razoável equilíbrio entre os competidores, assegurar a liberdade de

escolha dos consumidores e exigir investimentos eficientes em inovação. Justifica-se plenamente, portanto, o enorme esforço do ministro Paulo Bernardo para a rápida implantação da tecnologia 4G. Recentemente surgiu – quase do nada – uma sugestão de “fatiamento” de um dos pouco competidores, a TIM, que claramente tem problemas, mas não tem dívidas. Se for o caso e se a TIM desejar, que se encontre outro concessionário com capital próprio – sem empréstimo do BNDES – suficiente e com competência tecnológica adequada. Reduzir ainda mais o número de concorrentes como se propõe, será um erro trágico e aumentará o poder econômico dos restantes, que já prestam serviços de qualidade duvidosa. Não devemos nos enganar com a reapresentação da rejeitada ideia de “fatiamento” com o elegante nome de “integração”, pois ela dá rigorosamente no mesmo: concentração de poder econômico e redução de pressão para o avanço tecnológico. As operadoras concessionárias, herdeiras do sistema do monopólio que foi a Telebrás, já têm muito poder de mercado sobre as pouquíssimas “operadoras autorizadas” que sobreviveram à tendência do “peixe grande comer o pequeno”. É por isso que “integrar” numa concessionária uma “autorizada” sobrevivente representa um retrocesso ao desejado aumento do processo competitivo. O que o sistema precisa é de forças novas que gerem uma maior sinergia entre mais atores. O caso mexicano é um exemplo vivo de como a alta concentração foi danosa para o consumidor que agora aquele país tenta.

Antonio Delfim Netto Professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento

As operadoras concessionárias, herdeiras do sistema do monopólio que foi a Telebrás, já têm muito poder de mercado sobre as pouquíssimas “operadoras autorizadas” que sobreviveram



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Política


Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

Ilustração: Danielle Trinta

H

orário eleitoral ou show de humor? Pouco mais de um mês depois do início da propaganda eleitoral na televisão, alguns personagens ganharam destaque nas redes sociais e vídeos pela internet. São aspirantes à classe política que se utilizam de nomes, propostas e postura às vezes divertidas, às vezes bizarras, mas sempre inusitadas. A maioria desse grupo disputa uma vaga nas Câmaras estaduais e federal. Frases engraçadas e a promessa de acabar com a “palhaçada de Brasília”, se referindo à corrupção na capital federal, caracterizam os candidatos que arrancam risos do eleitorado, propositalmente ou não. São usados nomes que fazem referência desde a atividade desempenhada pelo candidato, como André O Cobrador (PMN-BA), Irmão Ronildo Motoboy (PHS-PE) e Empreguete (PV-AL), até os apelidos mais curiosos, como Cara de Hambúrguer (PT-BA), Buchudo (PEN-AP), O Galo Cego (PSOL-BA) e Pão Torrado (PR-AM). Nem o presidente dos Estados Unidos escapou. Barack Obama Claudio Henrique (PT-RJ) e Cosme Barack Obama (PMDB-SP) foram alguns dos que se aproveitaram da sua leve semelhança física com o chefe de Estado norte-americano. Mas, também tem aqueles que se apropriaram do nome do terrorista e maior arquirrival estadunidense: foram eles Roberto Bin Laden (PSB-MG), Bin Laden (PEN-SP) e Osama Bin Laden (PTN-AM). A semelhança física com personalidades famosas (ou a impressão do candidato de que ela exista) foi o critério para os covers de Neymar (PV-SP), Michael Jackson

(PCdoB-MS), Gretchen (PTdoB-SP) e Ronaldinho Gaúcho (PTdoB-AL), além dos candidatos Helder Agostinho Carrara (PPL-MG) e Madonna da Campesina (PRP-AM). O plano espiritual não fica de fora das eleições. O artista de circo e cineasta Toninho do Diabo (SDD-SP) diz ser enviado de Lúcifer e, candidato a deputado federal, promete “tacar fogo”. Em seu blog, Toninho garante “infernizar todos os políticos burocratas, medíocres e corruptos que encontrar”. Vestido de camisa de cetim vermelha, capa e chapéu pretos, Toninho do Diabo amedronta, mas apresenta ideias claras e liberais: regulamentação da maconha, respeito às diversidades religiosas, estado laico e direito dos homossexuais, entre outras. Se o Diabo tem seu emissário no processo eleitoral de 2014, o filho de Deus também não perde a chance de aparecer. Pedro Renan de Oliveira Luna, de 31 anos, usa o nome de Jesus para pleitear o cargo de deputado estadual de Pernambuco pelo PMN. Não por acaso, o número do candidato é 33.333, uma alusão à idade de Cristo quando crucificado. Na propaganda eleitoral da TV, ele aparece como “Jesus”, tal como no imaginário popular: vestes brancas e túnica vermelha, cabelos longos e castanhos e uma “coroa de espinhos” na cabeça. Ao fundo, um coro angelical dá o tom e “Cristo” pede o voto “contra as regalias políticas e pela paz em Pernambuco”. Se eleito, o candidato promete cortar o próprio salário pela metade e reduzir a verba do gabinete. Ele defende ainda que os filhos da classe política usem as escolas públicas e o SUS para gerar uma revolução nas duas áreas.

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Com o Guia Eleitoral na casa dos eleitores, alguns candidatos viram motivo de piada na internet. Os partidos abrem as cortinas para eles na esperança de conquistar votos, seja atraindo a atenção do telespectador ou conquistando os “votos de protesto”

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Personagens inusitados


Heróis em ação Da terra dos super-heróis, saíram o Batman (PRP-ES), a Mulher Maravilha (PHS-DF) e ainda o Super-Homem, mas em sua versão sem fantasia. Ao invés de Clark Kent, ele se chama Clark Crente e é, na verdade, Ewerson Alves da Silva. Candidato pelo PSC-PR, afirma estar cansado de ver os mesmos políticos se perpetuando no poder e se coloca como uma alternativa de renovação, mesmo enfrentando dificuldades de ordem financeira para a campanha. “A postura dos que governam deve ser o reflexo, a imagem e semelhança daqueles que são governados por Jesus”, diz o paranaense, que tem 33 anos e é empresário. Segundo Clark Crente, sua imagem não chega a ser extravagante, mas é chamativa, e tem ajudado sua campanha e atraído atenção para a página no facebook, por exemplo, onde divulga propostas e interage com eleitores. Ele disputa este ano sua primeira eleição. Depois de não conseguir lançar candidatura como vereador em 2012 por outro partido, Ewerson procurou o PSC e teve a oportunidade de disputar

a vaga de deputado na Assembleia Legislativa do Paraná. “Quero mostrar que não é pelo nome diferente que vou me eleger, mas sim pelos propósitos que tenho em meu coração, em respeito à minha terra”, adverte. Para ele, a corrupção deve ser tratada como um problema de todos e a sociedade não pode se tornar refém do sistema corrupto. “Chega de ser espectador, quero ser protagonista de um projeto político transformador, com o nível de responsabilidade que Deus nos deu”, assegura Ewerson Silva. Sobre a escolha do Super-Homem como identidade de sua campanha, Clark Crente conta que, como toda criança, um dia sonhou em ser super-herói e poder voar. “É um personagem que por detrás de suas roupas têm uma capa um “S” de super no peito e que sente quando o mal está para acontecer. Como já vimos nos filmes, ele tem habilidade de voar, super força, resistência de aço, raios laser disparados dos olhos e sopro congelante, mas também foi o primeiro personagem a conquistar os triunfos do bem, combatendo crimes urbanos, e seus valores

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Performance Segundo o cientista político Alexandre Gouveia, normalmente, em sua maioria, estes candidatos não possuem mandato e nunca foram eleitos. Para ele, esses personagens utilizam uma estratégia de marketing, conhecida como deslocamento da concorrência. “São personagens que entendem que a sua maior estratégia é se deslocar da concorrência e de se destacar através do inusitado, do inédito e utilizam o humor como ferramenta mais adequada”, explica. Alexandre acredita que os votos em aspirantes considerados inusitados e de conotação humorística se materializam mais em candidatos que possuem um maior poder de recall midiático e que esta estratégia, ao ser utilizada por personagens que não têm

essa característica midiática, inviabiliza o sucesso da candidatura. Ele cita Tiririca como um candidato turbinado pelo seu perfil midiático nas eleições de 2010. Alexandre Gouveia não considera esse tipo de candidatura como benéfica para o processo eleitoral, já que, segundo ele, não dá opção concreta para o eleitor efetivar uma mudança na realidade política. “Uma candidatura como esta elimina uma vaga de um possível candidato mais consistente, mais hábil e alinhado com as demandas de um político realmente representante dos interesses do coletivo, da sociedade, orientado para a produção de leis e projetos de profunda transformação social e da realidade atual vivida no Brasil”.

são inspiradores”, explica o candidato, que apesar de ver o personagem dos quadrinhos como herói considera que sua verdadeira inspiração vem de Jesus.

Candidatos Conheça alguns dos personagens citados na matéria e escolhidos para a ilustração da capa.

Jesus Deputado Estadual | PE

Toninho do Diabo Deputado Federal | SP

cara de hamburguer Deputado Estadual | BA

clark crente Deputado Estadual | PR


Interesse partidário Os engraçados, irreverentes e, porque não dizer, bizarros inevitavelmente chamam atenção e atraem uma parcela dos eleitores. Existe, por trás disso, um interesse claro dos partidos no sentido de aglomerar esse segmento de candidatos, já que no sistema de votação proporcional para deputados, a massa total de votos é fundamental. Ele acontece da seguinte forma: a quantidade total de votos válidos (sem nulos e brancos) é dividida pelo número de vagas na Câmara. O resultado aponta quantos votos um partido precisa para eleger um deputado. Se forem 100 mil votos e dez vagas, por exemplo, o quociente eleitoral é de 10 mil. Assim, se um partido ou coligação consegue o quociente de 40 mil votos, independentemente de quem está sendo votado, ele pode eleger quatro deputados, que serão os mais votados do partido ou coligação. Entram em cena, então, os chamados puxadores de voto. Caso de Tiririca (PR-SP) em 2010, que angariou a aprovação de mais de um milhão de eleitores nas urnas. Naquele ano, foram 21 milhões de votos válidos e 70 vagas disponíveis na Câmara. Dessa forma, os partidos precisavam obter cerca de 300 mil votos para eleger um deputado. Com a atuação arrasadora do humorista no pleito, a coligação PR/PRB/ PT/PR/PC do B/PT do B pôde eleger três deputados além de Tiririca, que não teriam votos suficientes para entrar. O jargão “pior do que está não fica” utilizado por Tiririca nas eleições de 2010 conquistou o eleitorado e teve para ele direcionado muitos dos “votos de protesto”. Sua atuação cômica, semelhante à de tantos outros nesta eleição, felizmente não comprometeu seu desempenho na Câmara Federal. Considerado um dos melhores parlamentares pelo Congresso em Foco, o humorista e palhaço é um dos nove deputados (são 513 no total) que participou de 100% das sessões de votação da Câmara. Acusado no início do seu mandato de ser analfabeto, Tiririca se fez presente em 90% das reuniões da Comissão de Educação e Cultura, nas quais sua presença nem sequer era obrigatória. A atuação do deputado federal se destacou ainda por representar, através de vários projetos de lei para o setor cultural, os interesses da classe circense, da qual faz parte. Fotos: Divulgação


Opinião

O

Sinuca de bico

Brasil está numa sinuca de bico. Diante dela, como na fábula do sapo e do escorpião, não há salvação à vista. A razão é simples: embora se conte mais de uma dezena de concorrentes, todos fanatizados pela “presença do Estado”, as candidatas Marina Silva e Dilma Roussef lideram as intenções de votos para as eleições presidenciais de 2014, deixando o social-democrata Aécio Neves na rabeira da disputa. Diante da realidade incontornável, a pergunta que se impõe é a seguinte: quem é pior para varar nos próximos anos o barco do “Florão da América” ? A ambientalista Marina (cujo verdadeiro nome de batismo é Maria Osmarina Silva) ou a terrorista Dilma? Páreo duro. Basta recapitular: Dilma tem uma vida pregressa mais negra do que asa de graúna. Integrante da VAR-Palmares, gang comandada pelo terrorista Lamarca, a “gerentona” do PAC, para “salvar o Brasil”, fez o diabo em matéria de “malfeitos”: invadiu quartéis, assaltou bancos, manipulou o arsenal da guerrilha, “entregou” companheiros de viagem (notadamente, o operário Antonio Perosa) e, já na chefia da Casa Civil do Dr. Lula, permitiu, pela conivência, a divulgação de currículo mentiroso em que se lhe conferia títulos de Mestrado e Doutorado em Economia - uma prática de rotina na vida pública brasileira. (Dentre todos os “malfeitos” listados no longo prontuário de Dilma, destaca-se o bem-sucedido roubo do cofre da amante do governador Ademar de Barros, Ana Capriglioni, em 1969. Com o saque, a gang se apossou de US$ 2,5 milhões, fortuna que, até hoje, ninguém sabe direito onde foi parar) Já o currículo de Osmarina, digo Marina, tem sua poderosa carga de nitroglicerina. Cabeça-feita pelas mãos de bispo terceiromundista de Porto Velho, Dom Moacyr Grechi, ela principiou por se fazer membro do Partido Comunista Revolucionário, organização leninista, que se agregaria ao PT, então presidido pelo mensaleiro José Genoíno. Atraída pelo sindicalismo militante, logo se filiou ao corporativismo da CUT, passando a atuar, ao lado do falso mártir Chico Mendes, na fértil seara do ambientalismo selvagem. Juntou-se a fome com a vontade de comer. Por sua vez, contando com o apoio financeiro do establishment europeu, composto por nobres ociosos (entre eles, o indefectível Príncipe Charles e a Rainha Sofia, da Noruega),

Marina, depois de aderir à guerrilha rural do MST, passou a agitar a bandeira ambientalista. Ela aponta o ser humano como responsável pela destruição da camada de ozônio e o aquecimento global, hipóteses fraudulentas repudiadas por estudiosos e instituições internacionais. No PT, facção monitorada pelo tirano Fidel e regulada pela máfia comunista imperante na América Latina, Marina, cujo “physique du role” se encaixa à perfeição nos padrões do inconsciente coletivo nacional, subiu como rabo de foguete: foi vereadora, deputada estadual, senadora e ministra do Meio Ambiente, quando se pontificou como inimiga do agronegócio, até ser forçada a retirar-se do cargo em face dos arreglos de Lula com o caricato Mangabeira Unger, o verdadeiro Dr. Fantástico de Kubrick. Em 2010, para confrontar o PT, ingressou no vermelho Partido Verde e se fez candidata a presidente. Dominando o jargão do “mudancismo revolucionário”, a ambientalista, com a “simplicidade das pombas e a sagacidade das serpentes”, quer destronar Lula, seu antigo mentor. Mordida pelo não registro de sua Rede Sustentabilidade, um natimorto aglomerado de ONGs corporativistas, a Filha do Acre foi duplamente bafejada pelos fados da roleta política. Em pouco tempo ganhou uma legenda, o PSB de Miguel Arraes e, com a morte de Eduardo Campos, tornou-se séria ameaça à permanência do PT no governo. Marxista engajada, a mulher faz da ambiguidade sua arma de atuação: ora se diz evangélica, mas com formação católica, ora professa o criacionismo, mas com direito ao ensino público da Teoria da Evolução. Foi contrária ao casamento gay, mas depois se declarou favorável à “união civil homoafetiva”. Pior: no Congresso, votou contra a Lei de responsabilidade Fiscal. Na verdade, Dilma e Marina não passam de farinha do mesmo saco. Ambas aspiram corroer a democracia representativa e suas precárias instituições em favor de uma “democracia participativa”, dominada, de um lado, por “conselhos de políticas públicas” formados pela horda remunerada dos “movimentos sociais”, e de outro, por manipuláveis ONGs internacionalistas a serviço da sovietização coletivista. Resumo: Marina, macaca velha, se diz porta-voz da “nova política”. E Dilma quer mudar para que tudo continue na mesma. É trocar seis por meia dúzia.

Ipojuca Pontes Escritor e cineasta

Diante da realidade incontornável, a pergunta que se impõe é a seguinte: quem é pior para varar nos próximos anos o barco do “Florão da América” ? A ambientalista Marina (cujo verdadeiro nome de batismo é Maria Osmarina Silva) ou a terrorista Dilma? Páreo duro



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Economia


Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

M

ais de 1400 bilhões de litros de óleos e gorduras residuais são descartados ao ano no Brasil. Segundo estudo da Casa Civil da Presidência da República, cerca de 50 milhões de residências e pequenos estabelecimentos do ramo da alimentação despejam o produto. Porém, o material tem destinações sustentáveis. Além da conhecida produção de sabão, ele também pode ser reutilizado para a produção de biodiesel, alternativa que já está aparecendo como uma solução no uso de máquinas agroecológicas. Algumas já trabalham com soluções compostas por 100% de biodiesel. “O óleo de fritura é um resíduo do Fotos: Divulgação

consumo humano de uma matéria-prima originada do agronegócio, desta forma, fecha o ciclo ao ser transformado em biodiesel. Seu uso no campo pode permitir ao agricultor reduzir o impacto ambiental e, mesmo dentro de determinadas condições, diminuir seu custo operacional”, afirma Rossano Gambetta, pesquisador da Embrapa Agroenergia. Segundo ele, mesmo com uma qualidade inferior o baixo custo do óleo de fritura o coloca como uma matéria-prima em potencial. No entanto, o fato dela estar dispersa agrega custos logísticos. Nos dias de hoje, a conscientização ambiental tem facilitado seu recolhimento em maior escala. Hoje, um dos insumos mais caros na

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O destino dos óleos utilizados em frituras não é mais o ralo. Agora, o produto está servindo para a produção de biodiesel, combustível com potencial sustentável até mesmo para o setor agrícola. Mas, a utilização da matéria-prima ainda acontece em pequena escala

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Um novo pré-sal

lavoura é o combustível e o biodiesel chega como uma alternativa. Além de ser gerado através de fontes renováveis, o próprio agricultor pode produzi-lo em sua propriedade. “Quando falamos do biodiesel gerado através do óleo de fritura, pensamos que só vamos ter em grandes cidades, com grandes restaurantes, mas se lembrarmos que esse óleo é feito da soja semeada e colhida pelo agricultor na sua lavoura, vemos que o ciclo da sustentabilidade se fecha”, completa Eder Pinheiro, coordenador de marketing de produto trator da Massey Ferguson, empresa que já trabalha com máquinas que utilizam 100% de biodiesel em suas operações. Atualmente, apenas 1% da matéria prima utilizada para a produção de biodiesel é proveniente dos óleos residuais, uma realidade que pode ser alterada com a constituição de Arranjos Produtivos Locais (APL’s), logística reversa, inclusão produtiva, educação ambiental e aumento da consciência da população. De acordo com a Biotechnos Projetos Auto-Sustentáveis, organização que pesquisa alternativas de negócios ecologicamente corretos, se considerarmos a transformação deste resíduo altamente poluente em Biodiesel, teríamos como atender 02% de biodiesel em toda a frota de veículos a diesel mineral de petróleo do país. É um pré-sal que está indo pelo ralo da pia. “A utilização dessa tecnologia é de fundamental importância. Até alguns anos atrás, o óleo não tinha destinação e o grau de contaminação dele nas redes de esgoto era muito grande. Hoje a gente fala muito da questão do saneamento básico, e um litro de óleo contamina 12 litros de água”, explica Márcia Werne, presidente da Biotechnos. Ela explica que as águas das redes também ficam poluídas com os produtos químicos utilizados para fazer a limpeza das redes de esgotamento, contaminadas com o óleo, e que, além disso, os produtos são os grandes vilões do entupimento das redes, carregando uma parte da responsabilidade da falta de escoamento das cidades.


Márcia Werne

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TUDO SE TRANSFORMA Desde o século XVIII, o químico Lavoisier afirmava o poder transformador dos elementos da natureza. A ideia de transformação do óleo de fritura em biodiesel não é nova. “Um exemplo é uma microusina que opera desde 2009 em Santa Cruz (RS). Usinas de biodiesel, como no caso da Granol, utilizam uma pequena fração de sua produção baseada no óleo de fritura residual”, afirma Rossano Gambetta, pesquisador da Embrapa Agroenergia. O biodiesel produzido a partir de óleos e gorduras residuais - o óleo de fritura - deixa de ser um resíduo e passa a ser um combustível renovável através de um processo produtivo que consiste no beneficiamento dos óleos residuais, através do aquecimento, filtragem e limpeza do óleo, processo de produção através da Transesterificação, decantação, recuperação do catalizador e saída do biodiesel. Nas Usinas de Biodiesel Biotechnos não se utiliza ácidos ou água, assim não geram efluentes. O Biodiesel é certificado pela ANP, que confere 27 parâmetros de análise para assegurar à sua qualidade. Os laudos são realizados pelo Instituto Nacional de Tecnologia (INT), entre outros.

Menos poluição no ar O diesel atualmente é um dos maiores vilões do meio ambiente. Quando há a queima nos automóveis, como ônibus e caminhões, ele chega a ser mais poluente que a gasolina e o álcool, já que sua composição apresenta metais pesados e altamente nocivos. O biodiesel surgiu como uma ferramenta para amenizar o grau de poluição do produto. A Lei nº 11.097, de 13 de janeiro de 2005, estabelece a obrigatoriedade da adição de um percentual mínimo de biodiesel ao óleo diesel comercializado ao consumidor, em qualquer parte do território nacional. Esse percentual obrigatório era de 5% oito anos após a publicação da norma, havendo um percentual obrigatório intermediário de 2% três anos após a publicação da lei. Mas, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), desde 1º de julho deste ano, a porcentagem de biodiesel no diesel é 6% e esse número subirá para 7% em novembro deste ano. A instituição também afirma que no Brasil o uso automotivo do biodiesel ocorre apenas misturado no diesel. Segundo Márcia Werne, presidente da Biotechnos, com

a mistura dessas duas soluções há uma redução de até 20% da emissão de gases poluentes. Segundo pesquisas da Universidade de São Paulo (USP), o uso de 20% de Biodiesel em veículos reduz em até 60% as emissões de gases poluentes. O Biodiesel é um combustível renovável e pode ser produzido a partir de fontes vegetais e gorduras animais. Em síntese, substitui o óleo diesel mineral de petróleo e oferece muitas vantagens. Entre as mais importantes está a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE), a inclusão social, com a geração de renda no campo e na cidade, contribuindo também para diminuir a dependência econômica, sem falar no seu custo de produção, que é menor que a dos combustíveis fósseis. O produto pode ser utilizado na construção civil como desmoldante para formas de concreto, é biodegradável e não é toxico. Atualmente, o Biodiesel produzido nos APL’s constituídos pela Biotechnos - em sua maioria em cadeia fechada de valor, para consumo próprio - tem sido utilizado em veículos de transporte e geradores de energia elétrica. Foto: Divulgação


Destinos mais conscientes No ano passado, o óleo de fritura passou a responder por 1% da produção de biodiesel, já em 2012 a matéria prima não possuía nenhuma representatividade na cadeia produtiva do combustível. De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no cenário da mistura obrigatória vigente desde 2010, esse percentual corresponde a cerca de 30 milhões de litros. Segundo os dados mais recentes da ANP, a utilização do óleo de fritura para a produção de biodiesel corresponde a 0,44% da produção nacional, um reaproveitamento que ainda deixa a desejar, já que no Brasil apenas 2% do óleo de fritura é reaproveitado uma proporção inversa ao reuso das latinhas de alumínio, que alcança 98%

encaminhadas para a reciclagem, como afirma a União Brasileira de Biodiesel e Bioquerosene. “Certamente o consumo humano é algo que gera impacto sobre o nosso planeta. No entanto, somente a remoção do resíduo “óleo de fritura” do meio ambiente pela sua transformação em biodiesel já produz um efeito positivo”, diz o pesquisador Rossano Gambetta. Para o recolhimento da matéria-prima a Biotechnos desenvolveu em 2007, em parceria com instituições de ensino e pesquisa, um conceito de sustentabilidade denominado Bioplanet, que consiste em mobilizar a sociedade para aproveitar mais e melhor resíduos poluentes e transformá-los em soluções ambientais.

De acordo com a empresa, a tecnologia de produção de biodiesel a partir de óleos e gorduras residuais segue o mesmo padrão de outras matérias-primas, como as gorduras animais e os óleos vegetais. A inovação tecnológica está no processo e na constituição de APL’s com selo social urbano, que inclui catadores de materiais recicláveis e realiza a educação ambiental de crianças e adolescentes. São elementos estratégicos para enfrentar o descarte inadequado dos óleos de fritura e, especialmente, produzir biodiesel, mesmo que em pequena escala, baseado no aproveitamento de resíduo gerado, transformação e destino local do produto, no caso a produção e uso local do combustível.


Opinião

Pernambuco nunca será desenvolvido

E

nquanto perdurar a atual situação socioeconômica do estado, traduzida na classificação de 25,95% dos seus municípios como baixa renda e 47,03% como de média estagnada, totalizando 73,98%, de acordo com dados do Ministério da Integração Nacional, e concentrando-se, praticamente, todo o desenvolvimento na Região Metropolitana do Recife (RMR) e faixa litorânea, Pernambuco continuará sem qualquer perspectiva de crescimento em cerca de 79,63% de sua área geográfica. Visando um estado menos heterogêneo e com um mínimo de integração econômica, é indispensável que exista um desenvolvimento menos desequilibrado, eliminando a inexistência de qualquer perspectiva de crescimento na grande maioria dos seus municípios. É inadiável que sejam implementadas políticas de desenvolvimento em função da realidade de cada município, ao invés de programas para regiões, como agreste e sertão. Até nessas regiões estão sendo geradas concentrações econômicas excessivas, tendo como exemplo, Caruaru e Petrolina, em relação aos demais municípios do semiárido Nordestino. O Governo do Estado tentou propiciar uma interiorizarão do crescimento através de um ajuste no Programa de Desenvolvimento de Pernambuco (Prodepe), concedendo incentivos maiores para quem decidisse se instalar fora da RMR, onde estão localizados os 135 municípios de baixa ou estagnada renda. Com a alteração, passou a conceder 75% de crédito presumido do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS) para empreendimentos da RMR, 85% para os municípios da Zona da Mata, 90% para o agreste e 95% para o sertão, tentando motivar as empresas a escolherem outras regiões, além de Suape e cidades circunvizinhas da RMR. Independentemente da modificação do Prodepe, tentando a interiorização para alguns setores, foram criados incentivos para alguns polos, como o automotivo, vidreiro e farmoquímico na faixa litorânea do estado, concedendo 95% de crédito presumido, percentual idêntico ofertado ao sertão. É oportuno ressaltar que a interiorização ocorrida em municípios vizinhos a RMR foi

devido, também, a oferta de áreas/terrenos em distritos industriais com preços subsidiados, visando compensar a falta ou inexistência de infraestrutura, e não apenas pelo diferencial de alíquota de crédito presumido de ICMS, ofertado pelo Prodepe – 10% em relação a RMR. Algumas gestões municipais fronteiriças da RMR tiveram êxito na atração de indústria pelo oferecimento de áreas/terrenos que fizeram, tendo como exemplos, Vitória de Santo Antão e Escada. Assim, se não houver um programa complementar de atração de Empresas ao Prodepe existente, os municípios de baixa renda ou estagnada, independente da macro-região, perpetuar-se-ão em atraso econômico. A criação de distritos privados - industrias e de logística - em conjuto com os governos municipais, induzidos e estimulados pelo Estado, poderá proporcionar um efeito multiplicador favorável para as empresas de pequeno e médio porte se implantarem nos municípios de baixa renda. Os incentivos fiscais existentes precisam ser rediscutidos, afim de que haja uma combinação entre esses benefícios conjugados com investimentos em infraestrutura de maneira que passe a existir uma desconcentração da renda, geração de novos empregos com o mínimo de justiça socioeconômica evitando uma maior aglomeração e concentração das atividades econômicas somente no litoral pernambucano o que gera também inúmeros inconvenientes como a falta de mobilidade, sacrifício do meio ambiente e excesso de valorização de imóveis. Uma alternativa pode ser a concessão de crédito presumido de 99% para toda e qualquer atividade industrial que se implante, se relocalize ou se amplie nos municípios desfavorecidos, objetivando um mínimo de harmonia espacial no crescimento das atividades econômicas enquanto não for extinta a Guerra Fiscal. Além disso, que o Prodepe reduza a exigência do mínimo de 5% de recolhimento ICMS de CD’s (Centrais de Distribuição) para 3%, caso seja implantado nos municípios de baixa renda ou renda estagnada.

Por Ricardo Di Cavalcanti Economista e consultor empresarial

Uma alternativa pode ser a concessão de crédito presumido de 99% para toda e qualquer atividade industrial que se implante, se relocalize ou se amplie nos municípios desfavorecidos...


Economia

Golpes online compradores. Entre os principais produtos procurados, segundo a E-bit, estão os eletrônicos e artigos de informática. Mas, assim como cresce o número de internautas consumidores, cresce também o número de pessoas mal intencionadas, que utilizam informações privadas, como dados e números de cartões de crédito, para realizar transações ilegais. Para Omar Jarouche , coordenador de Inteligência Estatística da ClearSale, empresa especializada em prevenção e detecção de fraude para diversos segmentos de mercado, entre eles e-commerce, embora sejam de diferentes tipos e meios, as fraudes geram danos aos lojistas, enfraquecendo suas vendas pelo chargeback, termo aplicado quando a administradora do cartão cancela uma compra não reconhecida por seu titular, direcionando o prejuízo do pedido ao comerciante.

O EXECUTIVO APONTA OS TRÊS TIPOS MAIS COMUNS DE GOLPES EM COMPRAS PELA INTERNET: 1. Fraude efetiva ou deliberada – É o tipo de golpe que mais gera impacto negativo ao lojista, pois normalmente é aplicada por pessoas com algum

tipo de experiência em fraude. Desde um único indivíduo até quadrilhas focadas neste tipo de crime, ocorre quando uma compra é efetuada em um site com dados roubados. Com isso, o pedido é entregue no endereço do fraudador, mas a loja fica com o dano financeiro. 2. Autofraude – Se antes o dono original do cartão desconhecia a compra feita em seu nome, neste caso a fraude ocorre pelo próprio titular. Após concluir a transação e receber o produto, ele contata a administradora não reconhecendo o valor, propositalmente, para receber o estorno depois. É o segundo tipo mais comum e o mais difícil de ser detectado, pois todos os dados são verdadeiros. 3. Fraude amigável – Embora nem sempre exista má fé, este tipo acontece quando uma pessoa conhecida do titular do cartão realiza a compra, sem o consentimento do original. Na maioria dos casos a transação não é reconhecida, causando despesa ao lojista.

Foto:Shutterstock

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Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

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advogada Tamara Aureliano começou a visitar lojas online ainda no ensino médio, quando passou a comprar livros, que eram mais baratos na internet e que muitas vezes ela não encontrava em João Pessoa, onde vive. Hoje, ela compra desde peças de vestuário até eletrodomésticos. “Eu consegui comprar coisas mais baratas e com variedade maior do que encontro em minha cidade. Na minha casa, já compramos até geladeira e sofá”, conta. Tamara é uma das pessoas que, ao comprarem na internet, em 2013, movimentaram R$ 28,8 bilhões. Esse dado é da E-bit, responsável por avaliar o crescimento do e-commerce na América Latina. De acordo com a empresa, já no primeiro semestre deste ano, o faturamento atingiu a marca de R$ 16,06 bilhões e trouxe 5,5 milhões de novos

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O consumidor brasileiro tem usado mais a internet para fazer compras, seja pela comodidade ou pelos preços atrativos. Contudo, o número de fraudes tem crescido consideravelmente


Economia

Remédio contra fraudes Planos de saúde brasileiros têm cerca de 20% das despesas de atendimento por ano ocasionadas por golpes. Sistemas de segurança com tecnologia avançada aparecem como solução de problemas Tarciso Machado

Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

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mprestar a carteira pessoal do seguro ou plano de saúde para uso de terceiros, tentar receber mais do que o devido das seguradoras através de artimanhas, omissões, falsas declarações, sinistros forjados, entre outros, são desafios corriqueiros que os planos de saúde enfrentam no Brasil. As fraudes, cometidas pelos próprios usuários ou por prestadores de serviços conveniados, representam um total estimado em 20% das despesas de atendimento por ano, de acordo com estimativas da Associação Brasileira das Empresas de Medicina de Grupo (Abramge). A entidade também acredita que só com o combate do empréstimo de carteirinhas é possível diminuir em até 3,5% o preço dos planos. “O maior custo que existia dentro do plano de saúde era a fraude. Ainda temos esse problema, mas muito reduzido”, conta Tarciso Machado, superintendente da Tecnologia da Informação do Hapvida.

Ele explica, que há 16 anos, época da instalação da operadora, para cada pessoa que tinha plano, nove não tinham, e quem não possuía ou procurava o Sistema Único de Saúde (SUS), ou estava propício a burlar os planos. “Como acesso ao serviço público era mais difícil na época, as pessoas que tinha uma carteirinha do plano emprestavam para outras pessoas, parentes, amigos, vizinhos. E o controle era apenas a assinatura de um papel”, conta Tarciso. Ciente disso, o superintendente de TI do Hapvida decidiu investir em tecnologia também como forma de combate às fraudes. A empresa criou uma plataforma tecnológica que acompanha todas as suas unidades em tempo real. Ativado pela biometria do paciente, o Núcleo de Controle e Qualidade acompanha todo o trajeto dele nas unidades do Hapvida, desde o momento da chegada, até a saída, monitorando principalmente o tempo de espera. São acompanhados

todos os hospitais, clínicas, pontos de atendimentos, laboratórios de análises clínicas e unidades de diagnósticos por imagem da operadora, que possui mais de 3 milhões de clientes e 20 hospitais próprios distribuídos nos 11 estados onde possui rede própria. O idealizador do sistema, explica que desde o momento em que o paciente chega a qualquer clínica, pega a senha ou coloca sua digital nos sistema de identificação biométrica, está sendo monitorado. Anualmente, a operadora Hapvida investe mais de R$ 17 milhões em tecnologia. O Núcleo de Controle e Qualidade foi criado há nove anos e funciona na Matriz Administrativa do Hapvida em Fortaleza. Lá também funciona o monitoramento do atendimento dos pacientes, que tem prazo máximo de espera de 15 minutos. Caso o usuário demore a ser atendido, a central entra em contato com a unidade para agilizar o procedimento. Foto: Divulgação


Na lista de desejos

a fraude. Para poder baixar o preço do plano, e oferecer a mais pessoas”. De acordo com os dados da operadora, o número de ocorrências fraudulentas por ano antes da implementação do sistema era cerca de 20% a 30%. E depois da implantação do Núcleo de Controle e Qualidade as fraudes são nulas. Antes da biometria, porém, a fraude mais frequente era o empréstimo da carteira para dar entrada nos hospitais e consultas.

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Com o sistema, a operadora, além de reduzir custos e diminuir as fraudes por parte de usuário, também conseguiu diminuir ocorrências de prestadores. “A fraude também acontecia por parte dos prestadores. As recepcionistas assinavam a guia e apresentavam para pagamento. Como é que a gente ia saber se aquela pessoa tinha feito aquele procedimento ou não? Então a primeira coisa que foi mentalizada foi isso: vamos eliminar o custo eliminando

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Tecnologia é solução

Poder contar com um plano de saúde está no topo da lista de desejos dos brasileiros. De acordo com a pesquisa do Datafolha, a pedido do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar, 96% dos entrevistados concordam totalmente ou em parte com a premissa de que “quem conta com plano de saúde tem mais segurança, no caso de doença ou acidente”. O índice também foi constatado para as frases de que o plano “é essencial” e “é essencial para quem tem filhos pequenos”. Dos entrevistados 47% afirma que o desejo de ter um plano está na qualidade do atendimento dos planos de saúde. Já 39% declararam que a saúde pública é precária e que o cidadão não quer depender do SUS. Outros 18% afirmaram que o principal motivo para desejar um plano é para se sentir seguro e tranquilo em caso de doença. As respostas da pesquisa eram múltiplas e o entrevistado podia indicar mais de uma razão.


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O pensamento F de Rômulo Um dos grandes impulsionadores da economia nacional e regional, o baiano Rômulo Almeida é lembrado em seu centenário de nascimento. Ele foi um dos mais influentes ícones econômicos dos anos 50 Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

oi na década de 1950 que o debate sobre o potencial produtivo da nação tomou grandes proporções. A intenção era fazer o país decolar economicamente, transcendendo por várias outras áreas como, política, cultura, etc., alargando as estruturas sociais proporcionando um quadro social mais homogêneo. O discurso, hoje, é conhecido como desenvolvimentista, mas, na época, os economistas que encabeçavam essa linha de pensamento se denominavam nacionalistas. Dentre eles, estava um dos grandes defensores da economia do Brasil e até mesmo nordestina: Rômulo Almeida (1914-1988). O economista protagonizou importantes projetos econômicos que colhemos frutos até hoje. “Ele foi um dos ícones do Governo Vargas no ideário desenvolvimentista nacionalista e ampliação do Fotos: Divulgação


Expansão do Nordeste “Ele pesava o Nordeste como região dinâmica e competitiva e achava que tinha que ter projetos de indústria de base”, afirma o professor Alexandre de Freitas Barbosa. Ele conta que Rômulo Almeida, mesmo antes de ser secretário da Fazenda na Bahia, se preocupava com as questões econômicas nordestinas. “Ele foi o primeiro a criar um conjunto de atividades de combate à seca”, ressalta o professor. “E sempre estava nessa relação dialética de complementação entre região e nação”, pontua. Rômulo esboçou o “Plano Federal para o Nordeste”, o primeiro estudo a encarar a região por meio de uma solução não exclusivamente hidráulica. “Rômulo atuou fortemente no planejamento regional econômico do Nordeste em decorrência das secretarias de estado que ocupou, tendo participado inclusive da criação do Polo de Camaçari, na Bahia, e da criação do Banco do Nordeste como financiador da industrialização local”, ressalta o professor Alessandro Bernardo. Para ele, existe sim um legado econômico desenvolvimentista e de fortificação

do Estado deixado pelo baiano, mas faz ressalvas dessa linha de pensamento para a economia brasileira. “O legado desenvolvimentista por meio da atuação do Estado ainda é bem presente nos dias atuais, sobretudo em partidos de esquerda. Embora na década de 50 esta fosse considerada a única via para o desenvolvimento de regiões com menor poder de industrialização, promover a economia pela mão única do Estado tornou-se uma opção perigosa a longo prazo. Basta verificarmos a situação econômica de algumas empresas estatais hoje”. O professor pontua que a auto dependência do poder estatal para o desenvolvimento de uma região coloca-a como eterno refém do poder local, além de prejudicar a captação de investimentos externos. “Em tempos de internet, onde a velocidade da informação é cada vez maior, o ideário de Rômulo Almeida fica apenas na memória como uma opção governamental de um passado distante, a meu ver com restrições, mas que não cabe mais na atual economia moderna”, ressalva. Já o professor Alexandre de Freitas, em

seu artigo, defende um retorno a preceitos desenvolvimentistas. “Quem sabe se sem que se perceba - já não se está prestes a ultrapassar a linha que separa a atual geração do pré-desenvolvimentismo? Isso quer dizer que ainda se tem muito chão pela frente se houver interesse realmente, por parte dos segmentos que compõem o tecido social da nação, de inaugurar um ‘novodesenvolvimentismo’”.

poder do Estado como única via da industrialização brasileira. Foi responsável pela criação de diversos órgãos regionais. A questão do desenvolvimento regional pela mão do Estado sempre foi um de seus principais ideários, mesmo quando não participava diretamente do poder estatal. O Polo de Camaçari, na Bahia, e sua atuação no Banco do Nordeste são exemplos de como Rômulo Almeida defendia uma industrialização baseada, sobretudo no poder do Estado sobre a economia”, contextualiza o Professor Mestre de Economia e Investimentos do Centro Universitário Anhanguera de Santo André, Alessandro Bernardo. De acordo com Alexandre de Freitas Barbosa, professor de História Econômica e Economia Brasileira do Instituto de Estudos Brasileiros - Universidade de São Paulo (IEB/USP), no artigo “Rômulo

Almeida e o Brasil desenvolvimentista (1946-1964): ensaio de reinterpretação”, explica que o desenvolvimentismo, é mais que um conjunto de políticas econômicas aplicadas em determinado período histórico, associado a um estilo de reflexão e a uma concepção de planejamento democrático e redutor das desigualdades. Em entrevista à Revista NORDESTE, Alexandre explica que Rômulo Almeida procurou erguer os alicerces sociais e econômicos ancorados na ideologia de uma civilização brasileira. “Ele viu no crescimento econômico a possibilidade de enraizamento produtivo, com pensamento sistêmico, de inclusão social, redução da pobreza, crescimento. Ele acreditava no projeto de desenvolvimento inclusive na questão ambiental”, conta o economista. Rômulo ocupou lugares estratégicos no serviço público durante muito tempo

e sempre trabalhou sob a perspectiva de mudanças econômicas e os conflitos sociais e políticos que acometiam o país. Ainda quando o Brasil vivia uma situação econômica dominada pela agricultura, surgiram suas diretrizes para industrializar o Estado. Durante o segundo governo Vargas, ele, que chefiava a Assessoria Econômica, elaborou um conjunto de projetos e instituições que sobrevivem até os dias de hoje. Rômulo Almeida é citado como um dos criadores da Petrobras, do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), entre outras instituições fundamentais, além de ser um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento econômico da Bahia, com a criação do Polo Petroquímico de Camaçari, do Porto e do Centro Industrial de Aratu - bases da industrialização baiana.

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Alexandre de Freitas Barbosa


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BRASIL SUPERA FOmE Flagelo político e social, a fome crônica submete a dignidade humana e faz vítimas ao redor do mundo. O Brasil se distancia dessa realidade e, segundo relatório apresentado pela FAO, é um dos países que mais avançou no enfrentamento da subalimentação, graças à intervenção estatal através de programas sociais de combate à fome e pobreza extrema Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

crescimento da população mundial e a alta nos preços dos alimentos são alguns dos fatores atribuídos à subalimentação, no entanto é a pobreza extrema, fruto das disparidades sociais, a principal causa pela qual a cada três segundos uma pessoa morre de fome no mundo. A morte, em qualquer circunstância, é cruel. Mas, a morte proveniente da desnutrição é ainda mais desoladora. O estado da pessoa faminta piora por etapas. Ao fim, seu sistema imunológico entra em colapso e a morte chega de forma lenta, acompanhada de uma dor insuportável. Em 2000, ao analisar os maiores problemas mundiais, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu oito “Objetivos do Milênio”, que no Brasil ganhou o nome de “8 Jeitos de Mudar o Mundo”. Acabar com a fome e a miséria é o primeiro dos oito objetivos, que devem ser atingidos pelos países, segundo a ONU, até o fim de 2015. Não à toa, as profundas desigualdades na distribuição de riqueza no mundo preocupam e apresentam números alarmantes. A fome crônica, mais do que a falta de insumos para todos, é resultado da tolerância política, afinal, existe produção de alimentos suficiente para nutrir a população mundial, no entanto, ela está concentrada nos países mais desenvolvidos. De acordo com o relatório “O estado da insegurança alimentar do mundo”, divulgado no dia 16 de setembro pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), cerca


Segundo a FAO, contribuíram para o resultado do Brasil no relatório:

de 805 milhões de pessoas no mundo ainda passam fome. O estudo aponta, entretanto, uma redução de mais de 100 milhões de pessoas subnutridas na última década e em mais de 200 milhões desde o período de 1990. Segundo o documento, a redução da fome nos países em desenvolvimento significa que os objetivos do milênio estão sendo atingidos e serão alcançados “se apropriados e imediatos esforços forem intensificados”. O Brasil é um dos 63 países em desenvolvimento que já cumpriram, segundo a FAO, com o objetivo de reduzir no mínimo pela metade a fome até 2015. O relatório é uma publicação conjunta da FAO, do Programa Mundial de Alimentos (PMA) e do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA). “Isto prova que podemos ganhar a guerra contra a fome e devemos inspirar os países a seguir adiante, com a ajuda da comunidade internacional se for necessário”, dizem no relatório o diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano, que foi ministro do governo Lula; o presidente do FIDA, Kanayo Nwanze, e a diretora executiva do PMA, Ertharin Cousin. “Substancial e sustentável redução da fome é possível com comprometimento político”, ressaltaram. Segundo a cientista política Raquel Marinucci, a erradicação da fome requer um projeto político que vislumbre especialmente a proteção social dos mais Foto: Geraldo Furtado

vulneráveis, além de programas nutricionais específicos. Para a professora do Centro Universitário de Brasília, não há como imaginar uma mudança estrutural em assuntos como a fome e a miséria sem o caráter protagonista do Estado. “Como a história mostra, a caridade e a solidariedade individuais atuam pontualmente em situações de emergência, mas são ineficazes em produzir mudanças significativas a longo prazo”, explica. É justamente o projeto político coordenado a partir de 2003, através de programas de assistência social, a causa apontada pela organização das Nações Unidas para a diminuição da fome e da miséria no Brasil. O relatório mostra que o país reduziu a pobreza extrema – classificada como o número de pessoas que vivem com menos de U$1 dólar por dia – em 75% entre 2001 e 2012. No mesmo período a pobreza foi reduzida em 65%. Neste quadro, o Brasil sai do Mapa da Fome das Nações Unidas, que compõe o relatório da insegurança alimentar. O documento mostra que o Indicador de Prevalência de Subalimentação, medida empregada pela FAO há 50 anos para dimensionar e acompanhar a fome em âmbito internacional, atingiu no Brasil nível menor que 5%, abaixo do qual a organização considera que um país superou o problema da fome. Apesar disso, o país ainda tem 8,4% de sua população vivendo com menos de U$2 dólares por dia, ou seja, são 16 milhões de pessoas vivendo na pobreza.

O estudo da FAO explica o desempenho do Brasil ao apontar o crescimento da renda da parcela mais pobre da população brasileira. Entre 2001 e 2012, a renda dos 20% mais pobres cresceu três vezes mais do que a dos 20% mais ricos. Para o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, esse movimento foi garantido por políticas de valorização do salário mínimo e de geração de emprego e renda no país. A ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello, comemorou o desempenho do país ao afirmar que sair do Mapa da Fome é um fato histórico para o Estado. “A fome que persistiu durante séculos no Brasil, deixou de ser um problema estrutural”, completou. De acordo com a ministra, atualmente a subalimentação é um fenômeno isolado e existe ainda apenas em grupos específicos, que são alvos de busca ativa. Para o MDS, a superação da fome no Brasil, apontada pelo relatório da FAO, é resultado da prioridade do Estado brasileiro no combate à miséria e da consolidação de uma rede de proteção social no país. Segundo o órgão, desde a criação do Plano Brasil Sem Miséria, 22 milhões de pessoas deixaram a condição da extrema pobreza em decorrência da transferência de renda e, atualmente, nenhuma família vive com menos do que R$ 77 mensais por pessoa. Como fato causador, os dados da FAO mostram também a ampliação no abastecimento do mercado interno de alimentos, com o aumento de 10% da oferta de calorias no país em 10 anos. Em média, a disponibilidade diária de calorias passou de 2.900 para 3.190, entre 2002 e 2013. A estatística da organização considera a oferta de alimentos produzidos no país, descontadas as exportações e consideradas as importações. Neste cenário, a agricultura familiar tem papel preponderante, já que 70% do abastecimento do mercado alimentício brasileiro é proveniente dela. Segundo o MDS, os investimentos em políticas para apoiar os agricultores familiares somaram R$17,3 bilhões no ano passado e a renda de seus trabalhadores aumentou 52% acima da inflação em 10 anos.

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•Aumento da oferta de alimentos: em 10 anos, a disponibilidade de calorias para a população cresceu 10%; •Aumento da renda dos mais pobres com o crescimento real de 71,5% do salário mínimo e geração de 21 milhões de empregos; •Programa Bolsa Família: 14 milhões de famílias •Merenda escolar: 43 milhões de crianças e jovens com refeições •Governança, transparência e participação da sociedade, com a recriação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea)

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Mais renda e alimentos


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Assistência e transformação O historiador Ricardo Posso afirma que a origem dos programas sociais brasileiros é nítida. “Somos um país onde boa parte da sociedade não consegue ter suas necessidades básicas atendidas, a má distribuição de renda e o desemprego também estão na origem desses programas”, justifica. Ricardo diz que diversos países já tomaram medidas como essas: a Inglaterra durante o século XIX, os Estados Unidos durante o século XX, e agora o Brasil, no século XXI. As políticas de proteção social têm como principal representante hoje no país o Bolsa Família, que faz parte do programa Fome Zero. O Bolsa Família atualmente atende 14 milhões de pessoas e consiste na ajuda financeira às famílias mais pobres, mas o Fome Zero abrange, além desse auxílio financeiro, a criação de cisternas no Sertão nordestino, construção de restaurantes populares, instrução sobre hábitos alimentares e distribuição de vitaminas e suplementos alimentares. Para o cientista político de Pernambuco, Michel Zaidan, as políticas de transferência de renda são fundamentais para a redução da miséria e a fome no Brasil, embora 32 milhões de famílias ainda aguardem na fila do cadastro. “O programa tem uma enorme importância social e política, sobretudo entre os mais pobres da região Nordeste. Não defendo sua extinção, mas sua conjugação com outras políticas universalizadoras, estruturantes e que combatam a desigualdade social”, argumenta Zaidan, ao afirmar que esses programas são emergenciais, mas provisórios. Raquel Marinucci ressalta a importância da diferenciação entre políticas de distribuição de caráter assistencialista daquelas com caráter emancipatório. Para a cientista política, as últimas têm o que se pode chamar de prazo de validade. “No momento, todos os candidatos afirmam que irão continuar com o Bolsa Família, por exemplo. Na verdade, a ideia é que tais programas deixem de existir ou, pelo menos, restrinjam o grupo alvo, uma vez que os efeitos da distribuição comecem a ficar

Historiador Ricardo Posso

...“o assistencialismo é uma política de governo. No entanto, as políticas de assistência social visam distribuir renda e garantir direitos sociais básicos aos cidadãos”... visíveis”, comenta. Raquel lembra que uma das críticas feitas ao programa é a incapacidade de sustentá-lo, já que a longo prazo políticas que dependam tanto do financiamento estatal, devido aos próprios limites fiscais que afligem os Estados atualmente, são danosas. “A possível dependência que as famílias possam ter em relação à renda distribuída depende do modo como a política é conduzida. É, aliás, a crítica mais tradicional que os defensores da distribuição de renda recebem, afirmando-se que a caridade pública geraria a ‘preguiça social’. Por isso, é importante valorizar as experiências das famílias que conseguiram melhorar sua condição, podendo dispensar os programas sociais”, afirma a professora. O historiador Ricardo Posso refuta o termo assistencialismo, mas defende políticas de assistência social. “O assis-

tencialismo é uma prática clientelista, onde os candidatos buscam fidelizar seus eleitores apenas para tirar proveito próprio e beneficiar-se politicamente. Ou seja, o assistencialismo é uma política de governo. No entanto, as políticas de assistência social visam distribuir renda e garantir direitos sociais básicos aos cidadãos, como saúde, alimentação, moradia e educação. Nelas, há uma responsabilidade do Estado e uma obrigação do cidadão”, explica. O professor de História diz também que sob a perspectiva histórica, é possível perceber mudanças profundas no país a partir da implantação das políticas de assistência social. “Podemos observar que determinadas parcelas sociais, antes desprovidas de direitos básicos, hoje foram incluídas na economia, possuem alguma fonte de renda (mesmo que mínima) e integram uma nova classe de consumidores, outras não são mais exploradas como mão de obra barata, mercados consumidores foram criados ou mantidos, principalmente em zonas sertanejas assoladas pela seca, até mesmo a mulher passou a ocupar uma posição social e familiar que antes pertencia ao homem, como tradição de uma sociedade patriarcalista, herdada dos tempos coloniais” argumenta Posso.

Professora Raquel Marinucci


Programa Restaurante Popular no Maranhão

Foto: Divulgação | Geraldo Furtado

qualidade. Não vale a pena comer em outro lugar”, justifica. Ednei é mais um frequentador diário de um dos seis restaurantes populares existentes na capital maranhense, construídos pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e Agricultura Familiar (Sedes) em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social. De acordo com o MDS, atualmente 89 restaurantes populares se encontram em funcionamento em 73 municípios brasileiros, servindo um total de 123 mil refeições por dia. A rotina é a mesma em praticamente todos eles: trabalhadores, estudantes, moradores de rua, aposentados e famílias de baixa renda comem nestes locais. Antes da abertura do restaurante, começa a se formar uma fila e, às 11 horas, os frequentadores vão entrando aos poucos e pagam apenas R$1 real para desfrutar do cardápio que, segundo Maíra Sousa, nutricionista do programa no Maranhão, tem como

objetivo garantir segurança alimentar e nutricional das pessoas. A dona de casa Ana Lúcia da Conceição Sousa, moradora de uma área de invasão, também frequenta os restaurantes populares de São Luís e diz que sempre vai até o local acompanhada da filha e dos netos. “Não se faz uma alimentação em casa com apenas R$ 1,00. Além disso, a comida é boa, tem suco, fruta e um ótimo atendimento”, declarou. De acordo com a Secretaria de Comunicação do Governo do Maranhão, em média, são servidas mil refeições por dia nos restaurantes populares da capital. A gestora do programa no estado, Raissa Fonseca diz que a ação é mantida desde 2012 como política pública da administração estadual. “O governo estadual já disponibilizou no orçamento recursos para manutenção dos restaurantes populares no ano de 2015. A meta é que a iniciativa seja mantida mesmo após a mudança de governo”, esclarece.

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A implantação de políticas públicas voltadas para o enfrentamento da pobreza e da fome é marcada hoje no país por ações em vários eixos de atuação, geralmente com a parceria dos governos estaduais e federal. Como mencionado, o Bolsa Família, do programa Fome Zero, é o mais lembrado e discutido. Contudo, outras ações que integram o programa também colaboram com a redução dos índices de subalimentação e desnutrição e são apontados no relatório da Organização das Nações Unidas. Os restaurantes populares, por exemplo, já fazem parte do cenário das cidades e é difícil encontrar opositores à iniciativa, ao contrário do que acontece com o Bolsa Família. Todos os dias o marceneiro Ednei Manoel Azevedo faz suas refeições no Restaurante Popular do Coroado, bairro de São Luís (MA). Solteiro, sem tempo para cozinhar, prefere almoçar no local. “A comida é barata e de excelente

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Refeição para todos


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FELICIDADE SOBRE DUAS RODAS Saúde, lazer e mobilidade urbana não são os únicos benefícios do ciclismo. Pesquisa estadunidense conclui que quem anda de bicicleta também é mais feliz e pessoas que aderiram a esse meio de transporte confirmam que pedalar é uma das melhores alternativas para se locomover com menos estresse Por Grazielle Uchôa grazielle@revistanordeste.com.br

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A Luann Soares

ndar de bicicleta é, além de brincadeira de criança, uma prática esportiva e, cada vez mais, um meio de transporte. Dizem que, depois que se aprende, não se esquece. O ditado popular, que se refere ao saber equilibrar-se em cima das duas rodas, é verdade, mas também pode remeter às experiências inesquecíveis que um passeio de bicicleta pode proporcionar. Foto: Shutterstock | Divulgação


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Luann Soares (23) é vendedor em uma concessionária de carros de João Pessoa e sua primeira experiência inesquecível com a bicicleta foi negativa, pois sofreu um acidente aos 15 anos e fraturou a mandíbula. “Cheguei a passar 60 dias com a boca fechada, sem poder me alimentar direito”, lembra. Aos 22 anos, para vencer o sedentarismo e também o receio em subir novamente na bicicleta, Luann voltou a pedalar com um grupo de amigos. “Enfrentei meu medo e criamos um grupo que se reúne aos domingos. Conhecemos lugares incríveis e temos contato direto com a natureza nas trilhas e estradas de terra que nos levam a objetivos em comum”, conta o vendedor, que afirma não se imaginar mais sem acordar às 4h30 da madrugada para ver o amanhecer do dia

montado em sua bike. Com a experiência positiva das trilhas acompanhado do seu grupo de pedal nos finais de semana, Luann agora quer usar a bicicleta como meio de transporte. Ele pretende ir trabalhar pelo menos duas vezes por semana de bicicleta. “Hoje tenho que acordar relativamente cedo pra chegar ao trabalho no horário certo, tendo em vista o trânsito que enfrentarei com os carros. Imagino que se já estou acordando cedo pra ir de carro, porque não poderia acordar um pouco mais cedo e ir de bike?”. Para ele, os trajetos em cima da bicicleta fazem seu corpo e sua mente funcionarem melhor, em um compasso diferente daquele imposto pelo trânsito interminável de automóveis. Mas de que modo emoções como a felicidade, a dor, o estresse, a fadiga e a tristeza variam durante um trajeto e de acordo com o meio de transporte utilizado? É o que os pesquisadores da universidade estadunidense Clemson University buscaram entender através do estudo Mood and mode: does how we travel affect how we feel?(Humor e modo: Como viajamos afeta como nos sentimos?). A mobilidade urbana e os benefícios à saúde são temas recorrentes quando o tema ciclismo é abordado, no entanto, a pesquisa, que foi feita com mais de 13

mil pessoas, aponta para resultados que sugerem benefícios além daqueles geralmente associados ao uso da bicicleta. As discussões em torno da mobilidade são importantes, mas, para os responsáveis pelo estudo, valorizar a experiência emocional no trânsito pode ser tão relevante quanto melhorar os recursos de serviços tradicionais, como rodovias e tempo de viagem. Ao avaliar como o meio de transporte afeta o humor dos indivíduos, os pesquisadores concluíram que as pessoas que usam a bicicleta nos seus deslocamentos diários são mais felizes do que aquelas que utilizam o carro e o transporte público. Na escala do estudo, logo em seguida estão os passageiros de carros. “Menos felizes” que estes são os condutores dos automóveis e, nas últimas posições, estão os passageiros e motoristas de ônibus e trem. Segundo a psicóloga Luciana Kotaka, quando precisamos enfrentar o trânsito nos locomovendo de ônibus ou trem, estamos sujeitos a nos estressar mais, devido à superlotação, aos empurrões, a falta de educação em algumas situações, além dos atrasos. No caso do carro, há a necessidade de atenção constante, tanto por parte do motorista como do passageiro. Assim, para a psicóloga, todos os meios de transporte podem causar estresse, até mesmo o avião, que para algumas pessoas seria a última escolha a ser realizada. “Desta forma, precisamos lidar com os atrasos, imprevistos, superlotação, além de problemas pessoais, de trabalho e financeiros. Um simples atraso ou um olhar atravessado do colega no banco ao lado podem ser suficientes para o mal humor se instalar”, diz Luciana.


Aida Pontes

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Pedal encurta distâncias A arquiteta Aida Pontes (34) resolveu, em 1999, adotar a bicicleta como meio de transporte. Hoje, ela usa a bike em 80% dos trajetos que faz no seu dia a dia. Aida conta que usava a bicicleta apenas como lazer nos finais de semana, mas quando entrou na universidade percebeu que gastaria menos tempo entre sua casa e a faculdade se utilizasse a bicicleta, ao invés do ônibus. “Eu passava ao menos 50 minutos dentro do ônibus. Como a universidade não era tão longe da minha casa, testei ir um dia de bicicleta, meu trajeto durou 20 minutos. A partir daí comecei a ir com frequência de bicicleta e hoje faço tudo para não usar o carro”, comenta. Aida concorda com a conclusão da pesquisa estadunidense e diz que no Brasil a classe média se acostumou com a mobilidade ser sempre dentro

do carro, geralmente fechado com ar condicionado, e não percebe o quanto esse hábito é desagradável. “Quando preciso usar o carro hoje em dia, especialmente em horas de pico, fico me perguntando como tem tanta gente que consegue viver aquela agonia todos os dias”, afirma a arquiteta. “Usar a bicicleta como transporte cotidiano não estressa, você não fica preso no trânsito, sabe exatamente que horas vai chegar não importa se haverá mais ou menos congestionamento. Ter esse planejamento já é tranquilizante. Você faz exercício. (...) Além disso, na bicicleta você está respirando ar natural, vendo a paisagem, tendo contato com pessoas. Isso tudo facilita para você ter uma vida mais feliz”, elenca a arquiteta sobre os benefícios de andar sob duas rodas.

Porque pedalar?

- Sensação de liberdade - Economia de tempo em trajetos congestionados - Liberação de endorfina, substância que dá sensação de prazer - Economia financeira - Fortalecimento dos músculos do corpo e melhora do sistema cardiorrespiratório - Diminuição do estresse, ansiedade e da depressão - Perda de peso - Melhora para quem tem déficit de atenção

Foto: Shutterstock | Divulgação


Fugindo do estresse De acordo com o neuropsicólogo Fábio Roesler, da Clínica de Cefaleia e Neurologia Dr Edgard Raffaeli, de São Paulo, o meio de transporte realmente afeta o humor das pessoas de várias formas, através da questão intrapsíquica, que envolve o desejo de se locomover por um meio específico de transporte e se ele é satisfeito ou não. “O prazer de pedalar, além de satisfazer um determinado desejo, por ser uma atividade física, envolve a liberação de endorfina, ligada às sensações de prazer”, exemplifica. Para Fábio, os passageiros dos transportes públicos, que foram apontados pela pesquisa como os mais infelizes durante seus trajetos cotidianos, devem tentar desconcentrar-se do ambiente que causa desconforto. Para isso, ele aconselha o uso de fones de ouvido com músicas do gosto do indivíduo ou, se possível, jogos de celular ou tablets. “Eles favorecem um retraimento da atenção para o seu próprio mundo interno e um consequente descaso ao que ocorre no mundo exterior”, explica o neuropsicólogo.

Já a psicóloga Luciana Kotaka acredita que o estresse nos transportes públicos deve ser encarado de frente. Para ela, é necessário se adaptar ao tipo de transporte de acordo com sua situação financeira, obrigações e facilidades de deslocamento. “Muitas vezes, o ônibus ou trem acaba sendo a saída mais prática, até porque estacionamentos nas grandes cidades são caros e às vezes é impossível de se conseguir uma vaga. Desta forma, avaliar os custos e benefícios de cada meio são escolhas assertivas. A partir do momento que fazemos essa reflexão e optamos por um meio ou outro, sabemos a que estamos sujeitos no trajeto, podendo assim lidar melhor com as situações que podem ocorrer”, justifica a psicóloga. Luciana Kotaka argumenta que quando olhamos para as situações de estresse sob outro ângulo, conscientes de que não é possível mudá-las, mas visando resolvê-las, evitamos o estresse e nos tornamos mais resilientes com as situações do dia a dia.

e que, em contrapartida, é preciso um pouco mais de planejamento, como levar sempre água, toalha e lanche. Quando morava em João Pessoa, a arquiteta paraibana fazia seu trajeto de 7km até o trabalho em 28 minutos. “Claro que eu chegava bastante suada mas tinha um chuveiro ótimo no trabalho e tomava banho por lá. No caso de trajetos longos, é necessário uma infraestrutura de chuveiro como apoio. Conheço pessoas que não tem essa estrutura e não se incomodam com isso. Há formas de amenizar o calor: pedalar mais devagar, lavar o

rosto quando chega ao destino”, explica. Hoje, trabalhando em Campina Grande, ela não tem chuveiro no trabalho, mas continua com a bicicleta. “Levo uma toalha e troco de blusa quando chego por lá. O calor não me incomoda muito, mas sei que isso muda de pessoa pra pessoa. Achar um chuveiro disponível é sempre a melhor opção”, conta. Sobre seu temperamento, Aida diz que fica péssimo quando tem que sair de carro e que depois que começou a se locomover de bicicleta seu humor melhorou muito. “Uns amigos do trabalho brincavam comigo porque eles percebiam claramente o dia que eu tinha ido de carro. De bicicleta você chega com muita energia para trabalhar”, afirma, garantindo que o ganho em qualidade de vida para quem anda de bicicleta é incomensurável. “Quem dera mais gente pudesse perceber isso”, conclui sorrindo.

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Aida diz ainda que a bicicleta possibilita uma liberdade maior de horários, sem que seja necessário ficar presa no trânsito ou perder tempo estacionando o veículo

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Qualidade de vida


Cultura

Cultura popular se

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reinventa

Com a morte de Ariano Suassuna, as discussões a cerca do legado do movimento armorial vieram à tona. A Revista NORDESTE conversou com artistas nordestinos ligados às várias manifestações culturais para saber qual foi a herança cultural e artística desse movimento e qual a importância dele para o cenário cultural da região

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Por Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br


Ilustração: Danielle Trinta

Uma obra imortal “O movimento encantou e encanta plateias que não tiveram a oportunidade de ter conhecido uma feira livre. De não ter visto o casamento perfeito do rural com o urbano. De não ter visto os mais ricos matizes pendurados ao sol, a refletir o simples demasiado simples. De não ter degustado as broas, os alfenins e as raspadinhas coloridas sob o gelo incomum do dia-a-dia. De não ter sentido a força da terra nos grãos colhidos em sacos abertos e ofertas de força”, afirma Marco di Aurélio. Mas, o debate em defesa da cultura popular nordestina foi pontual. Para o jornalista e poeta Astier Basílio, o movimento em si já findou. “Na última entrevista que eu tive com ele (Ariano Suassuna), ele mesmo disse que o movimento já tinha acabado, o que ficava era um legado de uma arte brasileira, com fundamento na cultura popular. Enquanto movimento isso já se desfez. De certa forma, o que fica é essa inspiração de retornar os elementos da cultura brasileira”, explica Astier, co-autor da peça Ariano, montada pela companhia Epigenia, do Rio de Janeiro, em 2007. Porém, apesar do momento do armorial já ter passado, o músico paraibano Xisto Medeiros afirma que tudo que fez parte da obra que Ariano deixou é imortal. “O Brasil é um país que não tem memória e entra num modismo. Com isso a gente perde muito. O mundo também é assim, mas acho que temos grandes estudiosos e que vão continuar lutando. O movimento armorial não acabou, tem uma frase que eu não sei de quem é, que diz que ‘morre o homem e fica a obra’ e outro que fala que ‘vão os anéis e ficam os dedos’. Ariano passou para a outra dimensão, mas a obra dele não morre. Tudo que ele pensou e organizou se eternizou”. Mesmo com o impacto da morte de Ariano Suassuna, a cultura popular não tende a ficar órfã. “A tendência é o vazio ser ocupado. Há figuras de proa nesse imenso país, e tomara que não apareça um aproveitador sem qualidade para prover tal situação. Acho que a fluência do tempo nos dirá, ou nos mostrará um novo Ariano”, espera Marco di Aurélio.

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que o grande padrinho do manifesto foi Ariano Suassuana. “Ele provocou de forma inteligente um grupo de escola, na música, literatura, gravura e tantas outras artes. E teve o privilégio de ver ainda em vida toda uma pujança telúrica e regionalista. E, diga-se de passagem, um regionalismo que não se conteve em peculiaridades paroquiais, mas que rompeu com o local se transformando em universal”, acrescenta. O manifesto teve seu ápice na década de 70, período também marcado por outra memorável manifestação cultural: o tropicalismo. Dois movimentos antagônicos em suas defesas, já que o tropicalista surgiu sob a influência de correntes da cultura pop nacional e estrangeira e o armorial prezava pela promoção de uma cultura popular originalmente nordestina. Lançado oficialmente em Recife, no dia 18 de outubro de 1970, com a realização de um concerto e uma exposição de artes plásticas no centro da cidade, o movimento armorial teve apoio do Departamento de Extensão Cultural da Pró-Reitoria para Assuntos Comunitários da Universidade Federal de Pernambuco e da Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco, mas se espalhou com diversas manifestações culturais pelo Nordeste brasileiro.

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“A

cultura popular não perde força, apenas se transforma como a maioria das manifestações de um povo, principalmente aqueles que não alimentam uma tradição travada no tempo e no espaço”. A posição em defesa da flexibilidade das culturas, em suas várias formas, do poeta Marco di Aurélio, é unânime dentro dos discursos de artistas em defesa dos processos culturais da sociedade. Em relação ao movimento armorial, surgido para manter a tradição das produções artísticas populares nordestinas com a intenção de formalizá-las, não é diferente. Há quem afirme a morte do movimento, outros que alegam a longevidade eterna dele, mas o ponto em comum sempre recai sobre o mesmo conceito de herança póstuma deixada pelo grande defensor da “nordestinidade”: Ariano Suassuna. “Não acredito que, com a morte de Ariano, o movimento se dilua. Devemos apenas reconhecer que em vida ele foi um defensor a altura de tal empreitada. Observando-se que ele, como agente especial de cultura, em um cargo institucional em Pernambuco, tinha privilegiada forma para defender e manter tal movimento”, defende Marco di Aurélio. O poeta explica que a cultura popular é uma ação viva, que está sempre em evolução, mas as tradições têm uma resistência à parte. “Com figuras que são e continuam apologistas aos vates e cancioneiros. A globalização mata certas particularidades, mas há uma fração que se apresenta como brincantes de suas necessidades e desejos. E tais grupos mantêm certa aura de originalidade guardando sentimentos ainda refogados nas veredas do tempo”, completa. Com a intenção de fortificar e preservar a cultura popular nordestina, o movimento armorial se propôs a fazer uma releitura de várias manifestações populares artísticas, colocando-as em formatos eruditos. “E, que na verdade, transformou-se em uma bela encadernação para apresentação em palcos do mundo todo. A semente foi plantada a partir de pesquisas de José Generino de Luna e de José Maria Tavares de Andrade, fonte esta onde se bebeu muito do que se formou o conteúdo de tal movimento”, explica Marco, acrescentando


Ariano e Marco di Aurélio na Universidade Leiga do Trabalho, em Taperoá

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Herança se estende Em geral, os movimentos populares têm importância circunscrita aos momentos em que surgem. No caso do armorial, a figura principal era Ariano, o pai que sustentava ideologicamente o formato do manifesto. Com o tempo, o que fica é apenas o legado e a história. “É muito difícil que um programa estético tenha uma validade por muito tempo”, comenta Astier, que apesar de creditar o fim ao armorial, afirma que a herança ainda se estende pelas obras de outros artistas. Astier Basílio conta que ainda há quem estabeleça uma releitura do movimento armorial com a luta pelo reconhecimento de uma arte da cultura popular nordestina. “No Brasil, tem artistas que sempre olharam para a arte

de criação popular, Villa Lobos, por exemplo. De tempos em tempos houve quem assim procedesse”, comenta. O jornalista explica que vários artistas ainda mantêm uma linha artística ligada aos preceitos do movimento armorial, que é a cultura nordestina. “A gente tem hoje um grande expoente, que é o músico Antônio Nóbrega. No cinema, Luiz Fernando Carvalho, que com a minissérie A Pedra do Reino estabelece uma linha de diálogo com o armorial. Na literatura temos Raimundo Carrero, que trabalha também com outras linhas. Nas artes plásticas temos Giovan Samico, um gravador muito importante. E na Paraíba, tem Miguel dos Santos, pintor e ceramista”, exemplifica Astier.


Morte e renascimento

Fotos do Quinteto da Paraíba

Os discursos que levantam a morte da cultura popular existem desde sua concepção. A própria cultura inventa sua morte para se reinventar, pelo menos é o que afirma o jornalista Astier. “Esse discurso da morte da cultura popular começou desde que ela surgiu. É quase como um discurso para que as pessoas olhem para ela e participem desse velório. Algumas modalidades vão sendo alteradas durante um tempo”, declara. De fato, a sociedade vive na eminência da missa de sete dias da cultura popular, e por isso a luta persistente de artistas populares para manter algumas tradições artísticas. “O poder público deveria ser uma ferramenta dessa pulsão de vida cultural, mas não lhes resta nada além do interesse eleitoreiro ou pecuniário. Portanto cabe a nós, artistas e brincantes, sustentar a bandeira de nossas diferenças, aquelas que nos distinguem quanto às origens e territórios. Com certeza vivemos tempos incertos, mas nos alimentando em quimeras poéticas sobre um tempo que ainda nos faz desejar o bom e o belo”,

afirma Marco di Aurélio. O poeta confia no potencial eterno, por exemplo, do cordel. “Costumo dizer que cordel é um suporte de reposição de nossas expressões mais nordestinas. Um tanto de palavras e expressões de nossa terra ainda é sustentada, lembrada e alimentada por tal sustentáculo. Tal literatura não morrerá tão cedo. Persistirá enquanto houver simpatizantes e saudosistas, versejadores e apreciadores de nossa história”. Para ele a realidade pode se representar em simples poemas, e nessa simplicidade é que está o segredo da longevidade da arte. “O elemento mais alimentador de tal literatura é o poder de se contar indefinidamente, e sem medidas, as nossas mais diversas histórias. Tudo pode caber dentro de um folheto, de um jogo de futebol a uma sentinela de um querido decujo. As sete ou oito histórias que se repetem furiosamente na vida humana sobre a terra são e serão lenha para uma estrela brilhar por anos luz. Portanto o cordel não sucumbirá”, declara.

Foto: Divulgação

Ariano sobre sua posição avessa à cultura pop e astros internacionais. Ariano censurava sim o estrangeirismo da cultura popular, mas não por pensar que o que vinha de fora fosse inferior, mas por defender a ideia de valorização do imaginário cultural local. Para o músico Xisto Medeiros as posições dele não eram assim tão ditatoriais. “Ariano foi o cara que com aquela postura dele sempre fazia questão de preservar o que era raiz, o que era da nossa cultura, aquilo que era coisa boa, que veio nos primeiros gravadores, que trouxeram suas influências e foram se enraizando e criando essas culturas dos vaqueiros. Nosso vaqueiro seria nosso Dom Quixote”. O músico afirma também que muita gente confundia e achava que Ariano era contra a cultura importada ou outros tipos de ressignificação da própria cultura

nordestina, como o forró universitário por exemplo. “Mas, ele não era contra essas coisas, ele queria apenas preservar a cultura nordestina”, pontua. Com o disco A Pedra do Reino, gravado em 2000, pelo Quinteto da Paraíba, Xisto teve a oportunidade de trabalhar com composições armoriais. “Só com musica armorial. E quem escreveu o texto de apresentação do disco foi o próprio Ariano. E ao longo de toda a minha carreira fiz vários trabalhos onde a identidade nordestina fosse fundamental, que se tornasse uma coisa real”, completa, citando outro trabalho que seguiu a mesma linha de resgate cultural, o CD Armorial e Piazzolla, também gravado com o mesmo grupo, em 1994. “Foi um disco muito importante que aparece num momento que o movimento armorial estava adormecido”, lembra.

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“Não troco meu oxente pelo OK de ninguém”, a frase se consagrou na boca de Ariano e eternizou-se na memória dos nordestinos. O imortal conhecido pela defesa das figuras imaginárias do povo do Nordeste, como cangaceiro brabo, a beata que vivia a luxúria, a mocinha virgem, o “pé rapado do Sertão”, personagens que ganharam vida em suas obras, foi alvo de críticas e elogios pela sua defesa convicta da preservação cultural dos sertões e outros territórios nordestinos. Além das discussões acerca do legado deixado pelo movimento armorial, a partida do defensor do Nordeste abriu brechas para críticas das suas concepções, muitas vezes tidas como conservadoras. Foi assim no texto publicado pelo jornalista e produtor cultural Alex Antunes, em seu blog no site Yahoo. Com o título “Suassuna, velho e burro”, ele criticou as opiniões de

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Crítica ao conservadorismo


O poeta do Rock Brasília

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“É preciso amar, as pessoas como se não houvesse o amanhã”. A frase é uma releitura dos 10 mandamentos, mas se eternizou em canção na boca de um dos maiores compositores brasileiros, conhecido pela profundidade de suas letras regadas ao som do rock tipicamente brasiliense: Renato Russo (1960-1996). Batizado com o nome de Renato Manfredini Júnior, o carioca consagrou-se como vocalista e fundador da banda de rock Legião Urbana. O músico está em 25º lugar na Lista dos Cem Maiores Artistas da Música Brasileira, organizada pela revista Rolling Stone, em outubro de 2008. Este ano, nesse mesmo mês, o calendário está marcado com o aniversário de 18 anos da morte da lenda do rock de Brasília, morto por complicações causadas pela AIDS. Seu legado musical e artístico ganhou adaptações cinematográficas. Em 2013, o produtor Luiz Fernando Borges, lançou o filme Somos tão Jovens, uma obra biográfica sobre a juventude do cantor Renato Russo. O longa foi produzido

As eleições para escolher os representantes que irão contribuir para as políticas de cultura do Estado da Bahia já estão abertas. Serão três eleições para as seguintes entidades: os Colegiados Setoriais de Cultura, os Colegiados Setoriais das Artes e o Conselho Estadual de Cultura da Bahia (CEC-BA). O pleito ocorre via internet e é realizado pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA). Para participar basta acessar o endereço www.cultura.ba.gov.br.

O estudo “Contribuição Econômica do Setor Audiovisual Brasileiro” revela que o segmento audiovisual foi responsável por 0,57% do PIB brasileiro em 2009, contribuindo diretamente para a economia com R$19,8 bilhões, e indiretamente com R$ 15 bilhões (em valores de 2013, corrigidos pelo (IPCA/ IBGE). O documento também aponta que o setor obteve no mesmo ano um faturamento bruto de R$ 42,8 bilhões, também a valores corrigidos.

por Canto Claro Produções Artísticas, dirigido por Antonio Carlos da Fontoura, escrito por Marcos Bernstein e estrelado por Thiago Mendonça, Laila Zaid, Sandra Corveloni, Marcos Breda, Bianca Comparato e Bruno Torres. Uma de suas canções mais conhecidas, Faroeste Caboclo, também ganhou adaptação para o cinema. A canção foi composta em 1979, e lançada oficialmente em 1987. E o longa conta a história de João de Santo Cristo, que se rebela depois de ver toda a sua família assassinada, virando traficante de drogas em Brasília. O filme foi dirigido por René Sampaio com roteiro de Victor Atherino. Em 2006, artistas de vários estilos fizeram uma homenagem ao ícone no álbum “Renato Russo - Uma Celebração”. Já em 2013, trechos de suas composições mais famosas foram usadas durante os protestos que mobilizaram o país entre junho e julho, levando a ideologia e luta social sempre presentes nas letras do poeta musical.

O Conjunto Arquitetônico da cidade de Palmeiras, localizada a 443 quilômetros de Salvador, na Chapada Diamantina, foi tombado como patrimônio cultural do Estado da Bahia. O Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), da Secretaria de Cultura do Estado (SecultBA), iniciou o processo no mês passado com a entrega da notificação de tombamento provisório ao executivo e legislativo municipais. O próximo passo é a elaboração de um estudo para traçar a área exata que será contemplada.

A Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) lançou o Prêmio Walfredo Rodriguez de Produção Audiovisual. Com investimentos de R$ 3,375 milhões, do Fundo Setorial de Audiovisual (FSA), alocados pela Agência Nacional de Cinema (Ancine), e do Fundo Municipal de Cultura (FMC), administrado pela Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), o edital privilegiará a produção de curtas, médias e longasmetragens locais.


Flávia Lopes flavia@revistanordeste.com.br

Jazz em alta A herança da última parceria entre o cantor de jazz Tony Bennett e a cantora pop Lady Gaga, com a gravação do clássico “The Lady is a Tramp”, para o álbum Duets II (2011) , foi o disco “Cheek to cheek”. O álbum traz canções clássicas de grandes compositores de jazz, como Cole Porter, Duke Ellington e outros. Em entrevista ao jornal Chicago Tribune, Bennet explicou que a sua intenção de gravar o álbum com Gaga foi introduzir o jazz padrão para um público mais jovem, acreditando na universalidade e atemporalidade do som. O disco foi lançado no fim de setembro.

Patrimônio imaterial Uma das tradições mais expressivas do Brasil e característica da região Norte, o carimbó do Pará, foi considerado Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. O ritmo é famoso pela batida do chamado “curimbó”, que ao soar, movimenta os adeptos com que usam figurinos chamativos, como as saias coloridas e rodadas das mulheres A decisão pelo registro foi aprovada por unanimidade em votação no Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, vinculado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em Brasília.

Na categoria ilustração, o quadrinista paraibano Emir Ribeiro está concorrendo ao Prêmio Jabuti. A obra indicada foi Fantasmagorias (Devaneio), uma coletânea de contos fantásticos escrita por Rubens Francisco Lucchetti e ilustrado pelo paraibano, que está concorrendo com grandes nomes da cena quadrinista brasileira como José Aguiar (por Reisetagebuch – Uma Viagem Ilustrada Pela Alemanha), Ziraldo (Os Homens Tristes e Outros Desenhos) e Laerte (Storynhas).Os dez finalistas das 27 categorias do prêmio já foram divulgados e os vencedores serão conhecidos no dia 18 de novembro de 2014, em São Paulo.

Boa educação Os segredos e fórmulas do sucesso na educação de algumas escolas públicas brasileiras são revelados no documentário Educação.doc, codirigido pelos cineastas Luiz Bolognesi e Laís Bodanzky, que ganhou espaço nas páginas do livro “Educação.doc – Registros da série de documentários sobre educação pública de qualidade”. A obra explora a importância e contribuição de gestores, professores, comunidades e alunos para o sucesso escolar, mostrando que é possível mudar a realidade da educação no país.

Universo feminino Com o intuito de abordar o papel feminino na sociedade através das artes – fotografia, teatro e audiovisual, o Núcleo de Arte Contemporânea (NAC/UFPB) está trazendo trabalhos de diversos artistas da Paraíba com a exposição “Universo Feminino”. Com curadoria de Isabelle Ingrid (artista cênica e visual), a exposição está aberta até o dia 10 de outubro, no NAC. Haverá trabalhos de 11 artistas visuais do cenário paraibano, performance da Cia. de Teatro Perfil, mesa-redonda com artistas e representantes de órgãos e segmentos da causa feminina, além de exibição de filmes tendo como personagens mulheres brasileiras.

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O Museu Histórico e Artístico do Maranhão é um dos vencedores do Prêmio TripAdvisor por Excelência 2014, concedido pelo TripAdvisor for Business, no setor de hospitalidade. Esta é a segunda indicação do site ao Solar Gomes de Sousa, erguido em 1836, foi transformado em museu em 1973. Antes de entrar para uma visita guiada, aprecie a fachada, um belíssimo exemplar da arquitetura colonial portuguesa. O prêmio de prestígio é dado a instituições a partir de informações de feedbacks dos viajantes do site baseado nas boas avaliações e opiniões que recebeu no ano de 2013, a partir de pontuações.

Fantasmagorias

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Destaque internacional


Cultura

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FÉ CANTADA Com melodias voltadas para a MPB e letras dedicadas a Deus, a paraibana Juliana de Paula segue turnê pelo Brasil trazendo para os palcos suas crenças de vida Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

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indústria fonográfica não vem passando por um bom momento há algum tempo. A pirataria virtual é tanta que já tentaram implantar programas que gerou uma crise sem precedentes nesse mercado, que tenta a todo custo podar o já tão intrínseco hábito de fazer download de músicas na internet. Segundo uma pesquisa de 2011, da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, na sigla em inglês), 45% das músicas são consumidas a partir de downloads ilegais e 52% dos discos vendidos são piratas. Mas confrontando isso, há uma esperança: a música gospel se mantém como um dos pilares da indústria fonográfica no Brasil. Estilo em que se enquadra


Foto: Divulgação

fé para mais lugares. O terceiro álbum da carreira de Juliana e primeiro pela gravadora Canção Nova dá fim a um hiato de dez anos entre sua última obra. Seu primeiro CD, intitulado “Bendito seja Deus que está no meio de nós”, foi lançado em 2000 e, em 2004, a cantora gravou o seu segundo trabalho, o “Obra de Arte”. Composto por 13 faixas e a linha voltada para a MPB, Juliana interpreta, em sua maioria, canções de autoria de seu marido, Alexandre Santos. Há 20 anos vivenciando a rotina do Ministério da Música na comunidade Canção Nova, a cantora acredita que pode, através do seu CD, levar seu ministério a mais lugares e, assim, restaurar a fé de quem está desacreditado.

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gravadora da Canção Nova. A artista está envolvida na música desde quando começou a participar do grupo de jovens da Igreja Católica, ainda adolescente. Numa atividade no retiro de jovens, Juliana fez seu primeiro “show” e, desde então, percebeu qual era a sua vocação. Desde que saiu de João Pessoa, em 2005, ela tem se colocado a serviço das missões da Canção Nova, juntamente com seu marido, Alexandre Santos, também missionário. Primeiramente, em São Paulo, e hoje em Cachoeira Paulista, onde serve no Ministério de Música e canta no Terço Mariano. Embora Juliana conte que não esperava chegar tão longe, acredita poder levar sua mensagem de

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a cantora paraibana Juliana de Paula. É só observar as listas de CDs mais vendidos no país para perceber a clara polarização entre a música gospel e a sertaneja. Afinal, que o nosso país é majoritariamente cristão não é novidade para ninguém. De acordo com o Censo Demográfico 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 64,4% da população se considera católica e 22,2% se diz evangélica. E assim, divididos entre católicos e evangélicos, o mercado gospel movimenta milhões anualmente no Brasil. A cantora Juliana de Paula busca trazer para o público a sua fé, e segue turnê com seu terceiro álbum, intitulado “Faça-se”, lançado em junho pela


Cultura

VIda de músico

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Por Walter Santos ws@revistanordeste.com.br

Regente de corais em João Pessoa, o músico Onivaldo Júnior fala sobre sua trajetória musical em entrevista à NORDESTE

NORDESTE: Como você avalia a formação musical, em especial o Nordeste?

Onivaldo Jr.: Restringindo o debate à esfera acadêmica, a Paraíba está muito bem posicionada. Basta saber que, desde 2011, a Universidade Federal da Paraíba figura no ranking dos quatro melhores cursos de música Santander, junto com Minas Gerais, Goiás e Rio Grande do Sul. Claro que o foco dos cursos é incentivar a pesquisa em música como performance ou docência. Mas, ao mesmo tempo, vejo colegas de curso fazendo sucesso em bandas baile ou tocando na noite por aí. A UFPE também teve um bom reforço, com um professor de canto muito gabaritado, Luiz Kleber Queiroz, dando aula naquela Instituição.

NORDESTE: Quais as dificuldades que os músicos locais enfrentam na nossa região?

Onivaldo Jr.: O que vejo é que aqueles que fomentam a cultura precisam reconhecer e valorizar mais os talentos que têm em casa. Eventos públicos pagam fortunas para trazer grandes nomes do rock/pop nacional - e isso deve continuar acontecendo -, mas que também sejam justos com as bandas locais que abrem o show, que muitas vezes recebem menos de 10% do cachê das atrações principais, e ainda demoram meses a fio pra que o pagamento seja efetuado.

NORDESTE: Quem são os novos músicos eruditos do Brasil que se destacam internacionalmente?

Onivaldo Jr.: A gente não precisa ir muito longe para encontrar esses nomes. A própria universidade possui o


“Aqueles que fomentam a cultura precisam reconhecer e valorizar mais os talentos que têm em casa” Compomus – Laboratório de Composição Musical – que tem nomes internacionalmente referendados, como Eli-Eri Moura, Marcílio Onofre, Didier Guigue, o saudoso José Alberto Kaplan... nomes que fazem história no cenário da composição erudita. Ainda hoje lembrava do Requiem Para Um Trombone, uma das obras primas de Eli-Eri para homenagear o eterno Radegundis Feitosa. E a Cantata para Alagamar, que é um híbrido de erudito e popular, não cai no esquecimento de jeito nenhum.

NORDESTE: Embora com pouca visibilidade, o movimento de canto coral resiste no país. Em nível de Nordeste e Paraíba como você avalia a resistência desse importante segmento cultural? Onivaldo Jr.: Em todo o Brasil, existem festivais nacionais e internacionais de Foto: Divulgação

Onivaldo Jr.: Nada fácil! No meu caso, em questão, como venho de um curso de Licenciatura, tenho no meu leque de opções a prática docente – hoje sou professor de canto na SPACC, uma escola particular dirigida pela maestrina Rosinete Ferrer – e sou concursado da Prefeitura Municipal de João Pessoa, aguardando a convocação para tomar posse como professor de Música na educação básica II. Mas volta e meia surgem trabalhos como freelancer – um casamento aqui, outro ali, uma apresentação paga do coral que rejo –, embora reconheça que eu posso e devo investir mais nesse nicho, porque oferta há.

NORDESTE: Você está acabando de se formar em Música e anuncia um concerto que marca sua nova fase de cantor solista. Qual será seu repertório e como foi o critério de

Onivaldo Jr.: O Recital de Conclusão de Curso é uma etapa importante no currículo de todo estudante de Música da UFPB. Para este concerto, que acontece no dia 12 de outubro, às 18h, na Sala de Concertos Radegundis Feitosa (UFPB), optei por relembrar, no palco, um pouco da história que ajudei a contar no decorrer de minha graduação. E – ousado que sou – não quis ficar ancorado na margem de segurança, daí encarei desafios como uma ária da ópera “Il Guarany”, de Carlos Gomes, que ultrapassa os limites agudos da minha extensão vocal, ou um oratório da Paixão Segundo São Mateus, de Bach, que tem longos trechos para voz, que exigem domínio total da capacidade respiratória e apoio diafragmático. Mas também coloquei um pouco do meu gosto pessoal, como samba de Noel Rosa, bossa nova, e até musicais da Broadway e obras corais de grande peso – uma verdadeira diversidade musical.

NORDESTE: Você deixou o jornalismo, em que trabalhou como editor qualificado no Portal WSCOM e na Revista NORDESTE, para seguir carreira musical. Mas, a música lhe tirou de vez da mídia, como profissional?

Onivaldo Jr.: Não deixei o jornalismo de todo. Faço, ainda hoje, trabalhos freelancer para alguns veículos e assessoria de imprensa de eventos. Então, a música hoje ocupa uma posição de relevância – como ocupou o jornalismo durante minha passagem pelo Grupo WSCOM de Comunicação, mas não conseguiu me tirar completamente da mídia. Aliás, essas duas habilidades se agregam muito, pois posso produzir e divulgar os eventos musicais a que me atrevo realizar. Ter bons contatos na imprensa é de suma importância, principalmente aqueles que reconhecem o valor da cultura enquanto editoria – na Paraíba, isso ainda é meio sufocado pelo “rame-rame” político. Talvez seja o pontapé para eu pensar em projetos que possam unir música e mídia, comunicação e cultura, enfim, artes que, antes de concorrer, podem dialogar muito bem entre si.

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NORDESTE: Em termos práticos, o que é viver do gogó em nossas região?

escolha das músicas?

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coros, que reúnem grupos de todos os lugares do mundo pra compartilhar o prazer de se cantar em conjunto. Na minha trajetória coral, pude conhecer cidades como Maceió (AL), Aracaju (SE), Salvador (BA), Vitória (ES), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ) e Londrina (PR). Haja chão! Esse ano, vamos para Natal (RN), aqui pertinho, mas não menos importante, sem contar com o já tradicional Festival Paraibano de Coros (Fepac) que acontece em novembro, sob a coordenação de Eduardo Nóbrega, um verdadeiro guerreiro que luta, mesmo com pouquíssimos recursos, para não deixar essa manifestação se acabar por aqui.


Pelo

Rivânia Queiroz

Mundo

rivaniaqueiroz@revistanordeste.com.br

Entre os melhores do mundo O Instituto Ricardo Brennand ficou em primeiro lugar na lista dos dez melhores museus brasileiros e na 17ª posição mundial na avaliação do Travellers’ Choice 2014, que reconhece os melhores museus de acordo com a opinião dos 280 milhões de usuários mensais do site TripAdvisor. Instalado no bairro da Várzea, área da periferia recifense, o museu foi inaugurado em 2002 pelo colecionador e empresário pernambucano Ricardo Brennand. Hoje, atrai turistas de todos os cantos do Brasil e do mundo, que vão lá apreciar não somente a coleção de objetos histórico-artísticos, mas o complexo arquitetônico em estilo medieval, que reúne o Museu Castelo São João, a Pinacoteca e a Galeria. Cercado por lagos e jardins, o espaço chama atenção pela sua beleza e exuberância, o que lhe rendeu posição de destaque, ficando na

frente de equipamentos turísticos internacionalmente conhecidos, como o Louvre, em Paris, um dos mais famosos do mundo (recebeu a 19ª posição). O Art Institute Of Chicago arrematou o primeiro lugar no hanking.

Sabores e aromas paraibanos

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Os sabores e aromas da culinária paraibana serão os principais ingredientes da terceira edição do Inova Gastronomia Paraibana. O evento será realizado entre os dias 21 e 23 de outubro, na cidade de

João Pessoa (PB). Pelo menos 40 chefs da região, nacionais e estrangeiros estarão reunidos na Escola de Gastronomia e Hotelaria do Senac, no bairro do Cabo Branco, durante três dias. O público terá uma vasta programação, que compreende Fórum de Gastronomia, aulas shows, exposições, feira cultural e gastronômica, além da apresentação de um restaurante modelo, chamado de “Restaurante da Eugênia”, o qual terá consultores do Sebrae e do Senac para orientar os empreendedores sobre cada setor e etapa para se montar um empreendimento deste tipo. As atividades do Inova Gastronomia Paraibana acontecerão das 14h às 21h e terão ainda palestras, colóquio, mesas redondas, cases de sucesso e debates. Serviço: www.inovagastronomia.com.br


Destino para chineses O Brasil tem ganhado a preferência de estrangeiros quando o assunto é desbravar novos destinos. Os chineses, por exemplo, estão cada vez mais frequentes por aqui. No ranking de lugares que esses viajantes mais gostariam de conhecer, o nosso país é o representante latino-americano melhor colocado, ficando na 18ª posição em todo o mundo e até ganhando para destinos conhecidos como Argentina (25ª), México (26º) e Colômbia (27º). Ainda de acordo com os dados do Monitor de Viagem Internacional dos Chineses (Chinese International Travel Monitor – CITM, sigla em inglês), da Hoteis.com, o Brasil também é considerado um dos países mais acolhedores para os chineses, aparecendo em 16º lugar. Essa é a melhor colocação entre os países da América Latina.

Chefs de cozinha e cozinheiros que atuam em todos os estados brasileiros participaram da semifinal do concurso gastronômico Estrelas do Sabor, que teve início em setembro e segue até este mês. Além da maratona de treinamentos, eles trarão à mesa toda a criatividade e inovação nos cardápios a partir do tema “A influência estrangeira na culinária brasileira”. Desde junho, 540 inscritos participaram de seletivas e, neste período, cada estado promoverá sua etapa semifinalista. Em novembro, apenas 12 profissionais receberão a premiação, além de terem a oportunidade de preparar seu respectivo prato na grande final, que ocorrerá durante o encontro de líderes da GRSA – Soluções de Alimentos em Serviços de Suporte, em São Paulo. Um júri especializado degustará os pratos e indicará os três campeões com uma nova premiação. No total, mais de R$ 30 mil serão distribuídos em reconhecimento.

Vinhos do Brasil na Disney O Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) participa este ano do Epcot International Food & Wine Festival, que ocorre anualmente no parque Epcot, na Disney, e se estenderá por 53 dias, indo até 10 de novembro. O festival tem representantes de 25 países e a presença do Brasil está sendo organizada pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil). Em um quiosque caraterizado com mensagens sobre o Brasil, serão vendidas porções de alimentos inspirados na culinária nacional, além de cervejas, cachaça e vinhos brasileiros elaborados por empresas participantes do projeto Wines of Brasil (o espumante Monte Paschoal Tannat Reserve e o vinho Aurora Carnaval Sparkling Moscato). Os rótulos também serão vendidos em garrafas na loja The Cellar, no pavilhão central do festival. O Wines of Brasil é realizado pelo Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin) e pela Apex-Brasil.

SETEMBRO / 2014

São Paulo recebeu a 42ª edição da ABAV Expo Internacional de Turismo. Pela primeira vez, a maior feira do setor nas Américas apresentou o ‘Festival Food Truck nas Ruas’, organizado pelo Guia Food Truck – aplicativo pioneiro que mapeia esses serviços. O objetivo foi surpreender os visitantes e mostrar o novo conceito gastronômico, que começa a ser difundido por todo o país. A ABAV reuniu mais de três mil expositores, com representantes de 65 países, durante a feira, que aconteceu em setembro. O público experimentou quitutes gourmet, que agradam a todos os paladares, a um preço acessível.

Influências na cozinha

71

Comidas de rua


Cultura

Corrida de cores e festa

SETEMBRO / 2014

CONFIRMADA A corrida também já está marcada em mais duas outras cidades nordestinas:

Evento cria uma atmosfera lúdica ao espalhar tinta em pó a cada quilômetro percorrido na maratona

Natal (RN)

Por Isadora Lira isadoralira@revistanordeste.com.br

14

J

72

AGENDA

á imaginou participar de uma corrida e, ao invés de voltar para casa coberto de suor, estar completamente colorido como se tivesse se banhado em um arco-íris? Parece trote universitário, mas não é. Essa é a proposta da Run or Dye. Correr é só um pretexto nesse evento que é realizado em diversas cidades por todo o mundo, que ocorrerá pela primeira vez em João Pessoa, no dia 7 de dezembro. Marcando cada um dos 5 km da corrida, existe a chamada “Zona Dye”, que é um ponto no qual a equipe de cores do evento estará disposta para lançar corantes (seguros, ecológicos e à base de plantas em pó) nos participantes. É a vez de deixar o orgulho sedentário de lado e se arriscar. E essa corrida

é para qualquer pessoa. Não precisa ser lento, rápido, jovem, velho, cansado ou enérgico. Nem mesmo se preocupar com trajes específicos para o esporte. Pode-se usar roupas brancas para ressaltar as cores ou, quem sabe, ir fantasiado mesmo (de pirata à princesa, de mascote de marca de refrigerante a Fuleco, fica a critério do participante). Quando parece que acabou, o Run or Dye está só começando. A linha de chegada recebe os participantes com uma “tempestade de cor” ao som de Dj’s, o que justifica o preço de R$ 55 para se inscrever no evento. É, definitivamente, uma corrida que não vai passar em branco. Para os que nunca ouviram falar, o evento surgiu nos Estados Unidos, em 2012, com o nome de The Color Run.

de DEZEMBRO DE 2014

Recife (PE)

18

de JANEIRO DE 2015

As inscrições são feitas na página oficial do evento: http://br.runordye.com/

Com o conceito de promover a saúde como algo divertido, a corrida cria uma atmosfera lúdica ao espalhar cor (literalmente, com saquinhos de tinta em pó) a cada quilômetro percorrido. E como os organizadores garantem que o corante espalhado é ecológico e à base de plantas em pó, não precisa se preocupar se for alérgico. Foto:Divulgação



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