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Memória de Jorge Mira Coelho

ONDA DE CARIDADE

Perpetuar a memória de Jorge Mira Coelho

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Texto Catarina Ferreira › Fotografia Medesign

PEÇA DE ESCULTURA DOADA À SRNOM

No mês em que se assinala o aniversário de nascimento e morte de Jorge Mira Coelho, a família fez a doação de uma obra muito especial à SRNOM. “Onda de Caridade” dá nome à escultura da autoria do médico psiquiatra e representa uma dádiva simbólica, que ilustra o carácter humanista dos médicos e a entrega de quem pratica a Medicina.

Com o objetivo de perpetuar a memória e o legado do psiquiatra Jorge Mira Coelho enquanto médico e artista, a Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos (SRNOM) recebeu uma doação de grande simbolismo e de valor inestimável. Em representação da família, a filha do autor, Alda Mira Coelho, entregou uma escultura que personifica o carácter humanista dos médicos e a entrega de quem pratica a Medicina. Considerada uma “dádiva simbólica”, “Onda de Caridade” dá nome à peça em mármore que pode agora ser apreciada por todos no Centro de Cultura e Congressos da SRNOM. “É sempre um gosto para o CRNOM receber este tipo de doação, trabalhos elaborados por médicos, principalmente peças tão bonitas quanto esta. É uma mais-valia para o acervo da SRNOM e para a memória futura. Porque o que os médicos fazem transcende a Medicina e estende-se a outras áreas da sociedade, incluindo as artes”, adiantou António Araújo.

“Ondas” em traço único tornaram-se uma característica distintiva da arte de Jorge Mira Coelho

A par da pedopsiquiatria, Jorge Mira Coelho sempre dedicou parte da sua vida às artes, tendo participado em diversas exposições. Em janeiro de 2011, então a celebrar os seus 75 anos, 50 dos quais como médico, a SRNOM inaugurou uma exposição de desenho e escultura em sua homenagem. Era também um participante assíduo nas exposições de Arte Médica. As “ondas” em traço único tornaram-se uma das características mais distintivas nos seus desenhos. Para sustentar esta ideia, o presidente do CRNOM deu o exemplo das mostras realizadas na Casa do Médico, como a Arte Médica e a Arte Fotográfica, e as várias exposições que aí têm lugar ao longo do ano, que bem revelam o talento dos colegas. “O autor quis deixar-nos esta obra que reflete a caridade e a esperança. Atualmente vivemos tempos tão conturbados que faz falta termos esperança no dia de amanhã e esperança de que, forçosamente, tudo tem que melhorar para bem de todos nós”, agradeceu. A escultura representa o milagre da Rainha Santa Isabel a doar o pão que se transforma em rosas. “Representa aquilo que o autor chamava de transformação, o ato de transformar as coisas más em coisas boas, tal como faz, no fundo, um psiquiatra, ajudar as pessoas a transformar os problemas e obstáculos em oportunidades para evoluir. Esta transformação sempre foi importante para o meu pai no processo terapêutico e, de alguma forma, ele representou esse gesto nesta escultura. A pensar no bem dos outros, um espírito que toda a Medicina partilha”, confidenciou Alda Mira Coelho. A especialista em Psiquiatria da Infância e Adolescência reforçou que esta é também uma forma “bonita” de Jorge Mira Coelho estar presente nas exposições da SRNOM, “um local especial para o meu pai que expunha aqui sempre com muito carinho”. Jorge Mira Coelho era uma figura ímpar, reconhecido por todos pelo seu trabalho na área da Psiquiatria, tendo sido um dos pioneiros da Psiquiatria Infantil em Portugal e da especialidade de Pedopsiquiatria no Norte do país; criou e dirigiu o Centro de Saúde Mental Infantil e Juvenil do Porto durante vários anos. A dualidade entre a arte e a Medicina acompanhou-o desde sempre, uma vez que já em Coimbra, enquanto estudante, se dedicou às artes, revelando talento e originalidade no seu trabalho e um estilo pessoal de desenho, num só traço ondulante, que designou de “ondas”.

BIO :: JORGE MIRA COELHO nasceu na Figueira da Foz, em 20 de Março de 1935. Licenciou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra em 1959. Especializou-se em Psiquiatria e Pedopsiquiatria pela Ordem dos Médicos. Foi um dos pioneiros no desenvolvimento da especialidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência, tendo contribuído para a autonomização da especialidade em relação à Psiquiatria de adultos. Fundou, em Coimbra, em 1957, o Círculo de Artes Plásticas, em colaboração com outros estudantes artistas, entre os quais o seu amigo Mário Silva, que se refere a ele como «génio livre, independente, criador de uma técnica própria do movimento em linha». Participou em diversas exposições coletivas e individuais, onde obteve vários prémios importantes em escultura e desenho. Publicou vários trabalhos de relevo e editou outros dois livros: “Psicoterapia e Interimagem” e “Temas de Pedopsiquiatria”, que assina em coautoria com a filha, Alda Mira Coelho. Enquanto esteve em Moçambique, colaborou com desenhos e textos nos jornais Diário de Moçambique e Moçambique Ilustrado. Regressado a Portugal, foi absorvido pela atividade médica mas continuou a participar em várias exposições, chegando a vencer vários prémios nas áreas da escultura e do desenho. n

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