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“Diplomacia e Saúde Global”

A SAÚDE COMO UM “BEM COMUM SUPERIOR”

LIVRO COORDENAÇÃO DE FRANCISCO PAVÃO E DELFIM RODRIGUES

‘Diplomacia e Saúde Global’

“Diplomacia e Saúde Global” reúne contributos de diplomatas, académicos, políticos e representantes de organizações sobre os desafios globais em saúde, os esforços diplomáticos no contexto da saúde e o papel e posicionamento das instituições. O livro, coordenado por Francisco Pavão e Delfim Rodrigues, foi apresentado no dia 25 de outubro na SRNOM.

Texto Catarina Ferreira › Fotografia Medesign

Uma iniciativa da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), da Ordem dos Médicos e do Instituto Diplomático, e com a coordenação de Francisco Pavão e Delfim Rodrigues, o livro “Diplomacia e Saúde Global” reúne contributos essenciais para o bom desempenho das organizações de saúde e dos seus gestores. A apresentação da obra aconteceu no dia 25 de outubro, no Salão Nobre do Centro de Cultura e Congressos da Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos (SRNOM). O livro trata o tema da saúde global e da diplomacia da saúde apresentando oportunidades, estratégias perante os desafios e orientações programáticas para o país, tendo diversos especialistas sido convidados a contribuir com a sua reflexão e ideias sobre os desafios globais em saúde, as influências diplomáticas no contexto da saúde, assim como o papel e posicionamento das instituições. Na sessão de apresentação, Francisco Pavão reforçou que “trabalhar a área da saúde global e promover a diplomacia através de projetos de colaboração com outros países” faz parte do papel dos médicos. “Este livro verte a necessidade de, num momento crítico para todo o mundo, pedir a inúmeras instituições e representantes da área política, saúde e gestão, para refletirem sobre a importância da diplomacia na saúde e dos desafios da

saúde global. Pode não estar completo, mas inclui muito daquilo que é importante a ser considerado na nossa atualidade”, declarou. Também Delfim Rodrigues, vice-presidente da APAH deixou algumas palavras nesta “casa da Medicina” aos “ilustres médicos que tanto têm dado a Portugal e a países de Língua Portuguesa” pelo “bem comum superior”, a saúde dos portugueses. “Devemos entender que a saúde também se globaliza, não é só a economia. E precisamos de falar também de uma nova ordem económica e social internacional, em que o principal vetor será a saúde. Em que cada cidadão do Mundo tenha acesso universal e garantido a este bem”, acrescentou.

SAÚDE PÚBLICA NÃO CONHECE FRONTEIRAS A apresentação da obra ficou a cargo da jurista e embaixadora Ana Gomes, que partilhou uma reflexão sobre o tema principal deste “importante livro, que fazia falta e pode ser muito útil”, e o seu trabalho enquanto deputada, entre 2004 e 2019 no Parlamento Europeu. “É um assunto tão importante, tendo sido necessário atravessarmos uma pandemia para a maioria dos cidadãos perceber que falar de saúde e saúde pública é também falar de diplomacia. Porque a saúde pública não se confina às fronteiras de um só estado, é de interesse transnacional, não conhece fronteiras. É de interesse global e universal, precisamos de facto de uma nova ordem, que institua procedimentos, reforce cooperações. Porque é essencial haver uma articulação e preservação da saúde global dos nossos povos”, salientou. O lançamento contou ainda com intervenções dos representantes das instituições que “deram a oportunidade de levar esta obra para a frente”, entre eles Xavier Barreto, presidente da APAH, Graça Gonçalves Pereira, representante do Instituto Diplomático do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos.

As atuais circunstâncias sanitárias em que vivemos desde 11 de março de 2020, data em que foi declarada a pandemia por SARs-CoV-2 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), permitem-nos retirar muitas e importantes ilações, no espaço interno e externo, sendo que neste cenário deve Portugal, aproveitando o seu posicionamento geoestratégico e geopolítico, criar uma agenda conjunta de diplomacia e de saúde. Este pretende ser o nosso real objetivo e grande contributo com a edição de Diplomacia e Saúde Global, no qual reunimos distintos diplomatas, reputados especialistas, políticos experientes, mas sobretudo sugestões e reflexões que nos ajudarão a pensar e a delinear estratégias para o futuro próximo.

Coordenadores (excerto da Nota Introdutória)

“Durante a pandemia, a OMS destacou-se como uma organização internacional incontornável, pelo seu papel no apoio aos Estados, pela procura de uma resposta coordenada e como fórum de informações e concertação. Ganhámos também uma maior perceção da relevância da diplomacia da saúde global como experiência e prática política e diplomática, que deve ser conjugada com o conhecimento e os dados de saúde pública. Por fim, tivemos consciência de que a saúde é uma área crucial para a estabilidade social, económica e política, e de como a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável não é uma abstração retórica. Pelo contrário: todos os 17 objetivos desta Agenda são importantes e estão interligados. Devemos pugnar por todos, mas, aqui, recordar em particular o objetivo n.° 3 - Saúde de qualidade. Como a COVID-19 demonstrou, os desafios da saúde não ficam limitados por fronteiras ou por divisões geopolíticas ou ideológicas. A realidade impõe-nos a adoção de respostas abrangentes, inclusivas e coordenadas. E a diplomacia da saúde global é parte do sistema multilateral, uma vez que consiste em negociar instrumentos internacionais, como acordos e tratados, que sejam cientificamente confiáveis e politicamente exequíveis. A presente obra é, sem dúvida, um contributo oportuno e relevante para uma das maiores urgências do nosso tempo.”

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