O Rato #5

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Editorial Quinta edição, oba! Galera, que massa. O Rato está mais do que feliz. Ter sobrevivido até aqui já é um feito. Sem uma migalha sequer de ajuda do poder público, e apenas alguns raros e heroicos anunciantes dispostos a contribuir financeiramente para a difusão da nossa cultura, este veículo existe graças à garra de seus editores e à colaboração - essa sim, profusa e abundante – dos muitos e talentosos profissionais que nos apoiam e abrilhantam com suas matérias, fotos, tirinhas, sacadas e ainda - o que mais valorizamos entre todas essas coisas - sua inestimável amizade. Um obrigadaço aos artistas, filósofos, ativistas, gênios e outros loucos que nos emprestam o fogo de sua fúria para que nossas páginas possam incendiar as ideias de nossos leitores com a sua criatividade. O Rato está vivo. Isso por si só já é motivo de alegria para quem, como nós, quer mais é ver a nossa produção cultural tomando o mundo de assalto. Bóra curtir mais esta edição! ANO 1 // MAIO 2013 // Nº 05

expediente Paulo Souza

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A Revista “O Rato” é uma publicação mensal da Editora Money Marketing Eventos Ltda CNPJ 03997834/0001-01 e Resposta Direta Agência de Comunicação.

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Colaboradores Ricardo José, Natasha Durski, Braian Buguszewski e Matheus Dumsch Dutra. Comercial comercial@orato.com.br Anuncie n’O Rato anuncie@orato.com.br Agenda – Shows, festas e eventos contato@orato.com.br

Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião desta revista. / 4 - o rato /

errato Ops! Na matéria Palco x Plateia da edição passada, a última página escorregou na revisão. Ricardo Nolasco disse “injetar” ao invés de “ejetar”.

A revista O Rato é uma publicação de caráter informativo com circulação gratuita. Todos os direitos reservados.


INDICE RATOEIRA 06 PSICODELIA BRASILEIRA 08 HUMOR DO RATO 11 ARRR! 12 ZOOM 14 GIRLS ON DRUMS 16 SÓTÃO 19 A GENTE SE VÊ NO LADO ESCURO DA LUA PAG 20

GLAUCO CARUSO,

O FRANCO ATIRADOR DA ARTE PAG 22

BORN TO BE ARTIST PAG 28

CURITIBA NO MAPA DA ARTE URBANA PAG 32

37 PATRÍCIA PALUMBO E SUAS VOZES 38 PRETO COM UM BURACO NO MEIO 44 RATPHONE 48 EMBAIXO DA POLTRONA 53 ROMÃ 54 FINALEIRA


Apostando na cultura local Foto: Rodrigo Zebronski

Laércio Demarch, o agitador cultural da fnac.

Há muito que a responsabilidade pela disseminação da cultura brasileira deixou de ser atribuição exclusiva do Estado, e ainda bem. Boa parte dos recursos e espaços destinados ao incentivo das nossas produções artísticas depende da iniciativa privada. Algumas poucas empresas e raros profissionais tomaram a dianteira e vêm exercendo o importante papel de agitadores culturais, indo muito além das nem sempre bem utilizadas Leis Rouanet da vida. Laércio Demarch é um desses caras que fazem a diferença. Sua trajetória impressiona. Começou na Savarin Discos, passou pela Megahertz, pela Saraiva e está há nove anos à frente da fnac, sempre abrindo espaço para os artistas mostrarem seu trabalho. Muitas das suas estratégias bem sucedidas - como a sacada genial de fazer pocket shows dentro da loja - são copiadas pelos concorrentes, o que não o incomoda em absoluto. Muito ao contrário, Laércio gosta e até incentiva a concorrência a fazer como ele. Na visão generosa desse profissional pra lá de antenado, quanto mais empresas incentivando a cultura, melhor. Essa é uma atitude que o Rato admira e faz questão de apoiar. Por isso, fomos bater um papinho muito maneiro com esse cidadão fundamental para quem curte a arte feita aqui, como você e eu. Segue um resumo da ópera: O Rato: Laércio, como você define quem participa dos pocket shows da fnac? Você convida ou os artistas te procuram? Laércio: As duas formas. A maioria vem até a gente. Nosso filtro é muito democrático. Não selecionamos apenas um estilo. A gente é bem eclético. Pra poder dar espaço a todos. Vem até banda de metal... O Rato: Rola até uma metaleira aqui dentro?! Num formato mais acústico ou você deixa os caras ligarem as guitarras no talo? Laércio: O shopping reclama um pouco, mas a gente faz. Os bateristas não têm pena, descem a cepa... É legal. Até os clientes já estão acostumados. A gente trabalha dentro de um controle dos decibéis, mas sempre extrapola um pouco. Tem gente que tem a mão mais pesada... (risos).

Eu, particularmente, gosto muito da ideia de novas bandas. Dar espaço a quem está surgindo, começando a mostrar seu trabalho. E tem também esse trabalho de cutucar aqueles que estão meio parados, meio sumidos. O Rato: Por exemplo, o resgate que você está fazendo agora do João Lopes, o nosso bicho do Paraná. Laércio: O João é um parceiraço nosso, camarada mesmo. É um cara que representa bem nosso estado. Se a gente pudesse definir um som como tendo uma característica “paranaense” acho que seria o João Lopes, o Blindagem... esse folk rock pinhão. O Rato: Folk rock pinhão! Essa eu nunca tinha ouvido... Laércio: Inventei agora.

O Rato: Teu filtro é a qualidade.

O Rato: Boa! Essa eu vou anotar para a posteridade... (risos).

Laércio: Exatamente. É claro que a imagem da loja tem que ser preservada. A banda tem que somar pra marca.

Laércio: Ele me falou que está lançando disco novo, depois de sete anos. Eu falei: opa! Vamos lançar na fnac.

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Acho que ele está numa fase mais tranquila. Tá curtindo. Eu gosto muito dessa fase dos artistas, a maturidade. Veja o Bob Dylan. Os últimos discos são muito bons. O cara está mais músico. Faz o que quer. O João também. Parece que idade traz um tempero diferente. Eu falo que o Dylan agora tem aquela voz rouca, sofrida, curtida em carvalho... O Rato: Em Jack Daniel’s, você quer dizer... Laércio: Deve ser... (risos). O Rato: Você também faz um trabalho importantíssimo de dar espaço ao cara novo, né. Como essas coisas novas chegam pra você? Laércio: Eu sempre estou de olho em tudo, acompanhando o movimento da cidade. Não só na música, mas também na literatura. A gente promove eventos na área da música e da cultura em geral. O Rato: Que outros eventos você faz, além de trazer música pra dentro da loja? Laércio: Fazemos debates, lançamento de livros, sessão de autógrafos... até dança já trouxemos aqui. A gente faz pocket shows de humor também... O Rato: tipo stand up comedy? Laércio. Sim. Inclusive o Fábio Lins tá vindo aí. O Rato: Legal! Tô vendo aqui na programação: tem eventos de tecnologia, marketing... Laércio: É bem diversificado, pra atender a todos os públicos. Mas a música é o que aparece mais. Até porque, toda vez que uma banda toca aqui, o shopping inteiro sabe. Um escritor talvez passe despercebido, mas uma banda... O Rato: Faz um barulho maior, com certeza... (risos). Laércio: As bandas novas, a gente acaba garimpando. A cena toda é, de certa forma, unida. Um indica o outro. O Rato: A gente sente isso nessa nova geração de músicos da cidade. Ainda existem as panelinhas, é normal. Mas rola uma brodagem, um respeito maior pelo trabalho do outro. Laércio: Existe a crítica, sempre. Mas existe também uma espécie de cooperativismo entre as bandas. Esse é um momento especial, acredito, para a cena curitibana. A garotada tá vindo aí, e tem muita gente fazendo coisa boa. O reconhecimento vem de muito trabalho. Curitiba é legal. E tem espaço. Mas precisa trabalhar. O Rato: O músico curitibano parece ter certa vergonha de cantar a sua cidade. Quando Tom e Vinícius fizeram Garota de Ipanema, falaram de seu bairro, e isso virou sinônimo de Brasil. Mas aqui, cantar a sua aldeia é considerado brega. É

constrangedor cantar o Largo da Ordem, o Parque Barigui... Laércio: Temos vergonha. A gente sempre acha que lá fora é melhor. O estrangeiro, ou mesmo Rio e São Paulo. Não tem que ir embora pra fazer sucesso. As bandas podem acontecer aqui. Já passou o tempo de ter ir pra outros centros pra poder estourar. Hoje em dia tá tudo na rede. O que o pessoal tem que entender é que precisa muito trabalho. Aquela ideia do mega artista, o superstar, que ainda ficou no nosso imaginário, está meio fora de moda. Isso não acontece mais. Tem gente grande que passa por aqui pra divulgar o seu trabalho. Sem nenhum tipo de frescura ou estrelismo. O Rato: Cite alguns. Laércio: Los Hermanos foi um evento grande. Público histérico, todos cantando em coro junto com eles. Até quem não gosta da banda acabou se contagiando. Foi marcante. Em termos de show, o que mais me marcou foi o show do Otto, quando laçou o DVD MTV Apresenta. Veio de Floripa com uma super banda e chegou aqui sem voz, afônico. Pensei que não ia conseguir cantar. Não saía a voz do cara. Mas tomou um vinho e foi melhorando ao longo do show, tirando força lá do fundo. O cara renasceu. Parecia uma fênix. Eu via gente lacrimejando. Eu mesmo me emocionei. Depois ele falou que foi o melhor show da vida dele. E teve ainda Lemoskine, que fez um show lindo, de pura sensibilidade. Um artista local, que produz aqui. Outro show que me deixou muito feliz foi o Duofel. Fizeram uma homenagem ao Waltel Branco, que estava na plateia. Foi de chorar. Reverenciaram o cara o show inteiro. O Waltel também foi um que nos emocionou. Lançamos aqui o documentário que fizeram sobre ele há uns seis anos. Acho que nós ainda estamos devendo o reconhecimento que essa figura extraordinária merece. O Rato: Sensacional! Laércio: A nossa posição aqui é de iniciativa privada. Uma empresa que tem no seu escopo a promoção cultural. Eu acredito muito nisso. A sociedade precisa de várias frentes de promoção da cultura. O Rato: Não pode ficar só a cargo do Estado. Laércio: Não pode. Limita muito. Segrega demais, porque nem todo mundo consegue passar nos projetos do governo. Por isso fazemos nossa parte. É lógico que queremos também atrair mais público. Tem que ter a contrapartida comercial. Trata-se de uma loja. O Rato: Essa estratégia dá bom resultado pra vocês? Laércio: Dá um ótimo resultado, mas não é o que vem antes. O que importa mesmo pra gente é esse apoio à produção cultural local. De alguma forma, contribuir com a sociedade na qual a gente vive. Uma marca tem que se integrar, tem que participar e viver sua comunidade.

E muito mais foi dito, mas temos que ficar por aqui. O Rato nem devia comentar, mas o Laércio também é músico e está preparando uma surpresa de arrepiar para muito breve. Só posso adiantar que envolve o fandango e tem a ver com Guaraqueçaba. Uma coisa posso garantir: vocês não perdem por esperar. Obrigadaço, Laércio! / o rato - 7 /


GIL E JORGE OGUM, XANGÔ (1974) Segundo Jorge Ben, tudo começou numa festa organizada por André Midani, então presidente da Polygram. A ocasião especial era a vinda de Eric Clapton ao Brasil. Foram convidados todos os artistas importantes da gravadora: Gal, Caetano, Chico, Gil, etc. Midani bem que tentou, mas o Deus da Guitarra se negou terminantemente a dar uma palhinha para a rapaziada. Talvez o inglês estivesse com o senso de humor meio travado naquele dia, sabe como é, anos 70... A festa foi minguando, enquanto Gil e Jorge iam destruindo os violões numa jam session de arrepiar os cabelos. Há quem demonize as gravadoras por vários motivos, mas sem esta estrutura nunca teríamos este disco. Foi a visão do presidente que colocou este improviso no estúdio, uma semana depois, acompanhados apenas por baixo (Wagner Dias) e percussão (Djalma Corrêa). Tudo gravado ao vivão, sem cortes! Versões de músicas conhecidas, como “Taj Mahal”, foram estendidas a 15 minutos de puro delírio, o que obrigou Ogum, Xangô a sair em tiragem dupla. Já as inéditas, como “Filhos de Ghandi” e “Quem Mandou (Pé na Estrada)”, se situam entre os grandes achados.

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Foto: Detalhe da capa do disco / Divulgação

A interação divertidíssima que vemos neste disco nunca mais foi repetida na história da nossa música. São dois mestres do violão swingado e da improvisação vocal na sua melhor forma. Doidos de Jurubeba e imersos numa batida hipnótica, o resultado não poderia ser diferente de sua despretensão inicial: uma festa.




O Rato no Condomínio.

Roteiro: MacGregor | Ilustração: Victor Harmatiuk


Três décadas de Rock’n’Roll que contaminaram a moda ELVIS PRESLEY Love me tender O excepcional topete sensual do rei Elvis Presley foi um marco do rock’n’roll. Tornou-se febre entre os garotos da época, assim como as suas costeletas, copiadas ainda hoje. A jaqueta de couro e a calça jeans ajustada compunham o estilo do jovem rebelde, repetido várias vezes no cinema por Marlon Brando e James Dean.

THE BEATLES I’m a mocker O cabelo por cima das orelhas e o terninho bom moço foi um estilo copiado inclusive pelos Rolling Stones no seu início de carreira. A mistura do rock com mod (paletós justos, uso de parkas e scooters) chegou inclusive a ter o seu revival com o britpop dos anos 90 e, por que não?, com as bandas gaúchas. Mas não foi só isso. Os garotos de Liverpool praticamente ditaram a moda dos anos 60, se transformando em psicodélicos, hare krishnas e até mendigos de luxo.

JOVEM GUARDA E aí, broto? Junte o iê-iê-iê com uma pitada de malandragem e chegaremos ao breganight, moda na época da Jovem Guarda no Brasil. Aqui a pegada era o colorido, a camisa com desenhos geométricos e anéis extravagantes. Sorte dos caras. Com o sucesso das minissaias e hot pants, as saias longas e os vestidos rodados foram excluídos do guarda-roupa das garotas e nunca mais voltaram.

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50’s 60’s


Os movimentos pela paz e o amor se espalharam pelo mundo todo, principalmente entre os jovens. A psicodelia trouxe com ela o desapego material e a liberdade total. Calças boca de sino, acessórios artesanais, lenços, saias, roupas coloridas e floridas criaram um universo mais sensível e descontraído. O legal era parecer um lavrador classudo, capaz de tirar leite e não sujar a bota. Veja o caso dos Novos Baianos, que pareciam sempre estar morrendo de fome. Led Zeppelin e Jimi Hendrix são os exemplos mais extravagantes do flower power. Encontramos malucos como eles por aí o tempo todo pela rua... Peace and Love, man!

RAMONES e SEX PISTOLS No future Se os hippies de São Francisco aplaudiam o pôr-do-sol, os punks de Nova York vomitavam deselegância. De Iggy Pop a New York Dolls, o jeito desleixado e esburacado de se vestir era uma afronta a qualquer flor no cabelo que aparecesse perto do Chelsea Hotel. Não demorou para o espertalhão Malcon MacLaren juntar estes elementos e diagramar os Sex Pistols. Antes disso, Johnny Rotten (Joãozinho Podre) já andava pelas ruas de Londres com uma camiseta do Pink Floyd toda suja, onde ele mesmo pixou: I HATE! Calças rasgadas, jaquetas de couro customizadas, cabelos coloridos, coturnos, tênis All Star e correntes faziam parte do estilo de quem, justamente, não queria se enquadrar na moda, muito menos seguir as regras. Segundo Dee Dee Ramone, em sua biografia “Coração Envenenado”, Joey Ramone o obrigava a usar jaquetas de couro a contragosto, caso contrário, ele seria convidado a sair da banda.

DAVID BOWIE e KISS Androgenia criativa Quem não era nem hippie e nem punk, entrou pra trupe dos alienígenas. Aqui valia de tudo para simplesmente parecer de outro planeta. Maquiagens pesadas, muito gliter e tecidos metálicos compunham roupas que mais lembravam figurinos de festa infantil. Exemplo clássico são aquelas ombreiras do Kiss e as botas de salto plataforma, verdadeiro sucesso do Glam Rock. Bowie manteve-se camaleônico durante décadas. Ora isso, ora Ziggy Stardust, fez mais a linha pós-punk. Já os integrantes do Kiss continuam por aí, eternos super-heróis do rock, tipo Power Rangers da terceira idade. O estilo rock’n’roll all night and party everyday ainda rende plateias mais lotadas do que os desfiles da alta costura parisiense...

Fotos: Divulgação / Capas dos Discos

70’s

LED ZEPPELIN, JIMI HENDRIX E NOVOS BAIANOS Tinindo trincando...

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Foto: Ricardo Foto: JosĂŠ Isabela Fausto


GIRLS ON DRUMS O festival que reúne mulheres bateristas e percussionistas chega a sua 4ª edição Por Isabela Fausto

O festival Girls On Drums tornou-se referência entre as bateristas da América Latina por incentivar a carreira das mulheres no mundo da música. O festival está na sua quarta edição e já é um sucesso. Joel Jr, idealizador do festival, também é professor e baterista da banda Paranoika. Anos atrás ele percebeu que algumas alunas ainda enfrentavam grandes preconceitos, até mesmo com a família. Procurando ajudá-las, ele trabalhou em cima do festival durante dois anos até chegar ao formato atual. As bateristas tem a oportunidade de se relacionar, trocar experiências e técnicas com musicistas de todo o Brasil, inclusive internacionais e de diferentes estilos. As participantes compõe uma apresentação solo especial para o público. O evento é aberto para bateristas profissionais, amadores e, inclusive, admiradores do instrumento.

O Rato: Como vocês escolhem as participantes do Girls On Drums? Joel: A produção sempre procura colocar duas bateristas de maior renome, duas que chamamos de “up and coming”, ou seja, que estão começando a aparecer mais no cenário e ao menos uma para dar aquela alavancada. Todavia todas têm que ter um nível e experiência razoável. Não temos como colocar uma menina que começou mês passado. Girls On Drums não é um concurso. Neste festival todas são vencedoras, estrelas e são tratadas como tal. Recebemos vários contatos de meninas que querem tocar e ficamos felizes com isto. Respeitamos muito todas e elas terão a sua hora, com certeza. / 16 - o rato /

O Rato: Entre os homens, existem preconceitos do tipo - “Eu sou o cara, tenho mais pegada...”, ou os bateras baixam a bola e reconhecem que tem muita gata mandando ver no ataque? Joel: Certa vez uma amiga baterista me contou que um ex-professor disse a ela que “para tocar bateria, tem que ter pinto”. Achei esta frase uma das coisas mais ridículas e machistas que já ouvi na vida! Mulheres têm físico diferente, força diferente, fato. Mas isso as torna menos capaz de tocar bateria ou percussão? A resposta está aí para quem vai ver Girls On Drums. Venham e confiram a “patada” da Roberta Kelly nas congas ou o punch da Silvana ou da Lari. Hoje em dia, o cara fechar os olhos e dizer que não tem mulher tocando bem bateria, guitarra,


as t is r e t a b s a o ã s Quem ? 4 s m u r D n O ls do Gir

baixo e etc. é uma ofensa ao sexo feminino. Já tive alunas que botavam qualquer aluno no chinelo! Elas têm mais garra, mais vontade. Pelo menos para começar. Depois, o que os diferencia é quem mantém essa garra mais longe. O Rato: Para as bateristas que não estão acostumadas a tocar longe das suas bandas, deve ser uma baita responsabilidade subir em um palco sozinha. Nervosismo na lata! E muito divertido também! Qual é o repertório que elas trazem na bagagem para o público? Joel: Ah sim, normalmente elas não estão acostumadas a tocar sem suas bandas. A maior parte delas se sente bem nervosa sem a banda junto. Mas é um aprendizado para todas. Sabe, todo o processo de pré-evento traz uma sabatina para elas. Muitas coisas devem ser entregues, feitas e a maioria nem sonhava com tal nível de exigência. Tudo é muito cobrado, mas o intuito é que elas brilhem. Isso eleva o nível delas. O propósito final é a alegria, tocar

Camila Teixeira com prazer para o público. Este deve ser o repertório principal: prazer e alegria. O Rato: Agora, homens. Você é da linha Bonzo, Charlie Watts ou Neil Peart? Joel: Na verdade, sou da linha do bom gosto musical e baterístico. Muitas vezes escuto bandas que não têm uma linha difícil de bateria, mas são sons bacanas. Curto mais acústico e eletrônico. Mas Bonzo é o rei absoluto do hard rock, o som de bateria dele é definitivo para o estilo. Charlie Watts... Prefiro ele na ABC&D Boogie Woogie Band, que é a banda dele fora dos Stones. Muito boa mesmo. Ali ele toca com outro batera junto. Vale a pena conhecer. Neil Peart... Curto mais o Rush de 80 e 90. Fui ao show deles no Rio em 2010. Para mim uma lenda, uma inspiração constante e dos meus favoritos desde sempre! Mas e as bateristas mulheres? Quem eu prefiro? São tantas!

Fotos: Divulgação

Babi Age

Biba Meira


Quem são as bateristas do Girls On Drums 4? “As meninas de outros estados pedem, inclusive, para levar o evento para suas cidades. Nós tentamos fazer o possível”, explica, Joel, que já realizou edições do Gilrs on Drums em Curitiba e São Paulo.

Leticia Santos Lari Constantine

Silvana Colagiovanni / 18 - o rato /

Fotos: Divulgação

Roberta Kelly


Poe(Try)

Cara nova na poesia de Curitiba Por Braian Boguszewski

Lançado de forma independente, Leo Gaede acerta a mosca na sua primeira tentativa. Com seus miúdos 22 anos de vida, o guri retrata com maestria a experiência de Curitiba, o flerte com São Paulo, suas paixões e seus amores.

Foto: Divulgação

O poeta é jovem, mas nem parece. Passeia por diferentes estilos sem perder o passo. Dono de uma bagagem invejável, de Maiakovski a Augusto dos Anjos, seu repertório é vasto e heterogêneo. A palavra, sua protagonista, é vítima de desconstruções inusitadas. Suas ferramentas de linguagem conectam apresentações visuais às interpretações poéticas, dando ao livro um caráter artístico plural. Ideias, palavras e suas representações comungam num resultado único de significados.

Poe(Try), Leo Gaede Editora VER S.O.S Pode ser adquirido através do e-mail: bra.boguszewski@gmail.com

O livro começa com versos de gentileza. Convida-nos a entrar, sentar e beber. Deixando-nos à vontade. Ora prolixo, ora haicai. Suas notáveis influências estão logo ali, escancaradas, em Papagaio de Poeta, pra quem quiser ver. O concretismo aparece nítido em algumas das páginas pretas, e a malemolência do seu vocabulário nos propõe exercícios de ‘tirar o chapéu, antes de perder a cabeça’ com malabarismos métricos e visuais. Quando a obviedade das sacadas poéticas nos espanta, significa que temos um poeta. Estar a par desta obra é reconhecer um artista ímpar. Tentar ser poeta é pra qualquer um. Ser é outra história!

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A GENTE SE VÊ NO LADO ESCURO DA LUA. Por MacGregor

Dark Side of the Moon é o momento em que a banda mais underground do mundo se torna a banda mais mainstream do mundo por força da grana. Money, it’s a gas. Agora temos grana pra pagar um puta produtor. Agora vamos ter grana pra comprar um time de futebol. New car, caviar. Podemos comprar uma porrada de luzes psicodélicas e transformar nosso show na performance mais alucinante desde o último arco-íris duplo que vimos no caminho de Oz. High-fidelity first class. O lado escuro que ninguém vê, mas todo mundo sabe que está lá é o caminho para o sol do sucesso absoluto.

Quando era criança, pirava com a vinheta de abertura de um seriado de televisão que era simplesmente um pedaço da música Time do Pink Floyd. Mais especificamente, o começo da música, com aquele pulsar do relógio que torna a percepção da passagem do tempo uma ameaça. O seriado se chamava, se não estou mais louco do que eL SyD, Sexto Sentido. Mas nada tinha a ver com esse filme no qual um menino vê gente morta o tempo todo. Basicamente, eram histórias de um detetive que solucionava seus casos mediante seu sexto sentido. Uma faculdade paranormal que permitia ao nosso herói a visualização de cenas acontecidas em determinado ambiente pela simples imposição de suas mãos em algum objeto tipo um livro, por exemplo, que a vítima costumava ler. Anos mais tarde descobri que a música daquele seriado que me assombrava quando criança era Pink Floyd. Syd Barret, o vulcão cri-ativo que definiu a estética do Pink Floyd, e ao mesmo tempo os conceitos básicos da chamada “música para viajar”, parece ter sido vítima de si mesmo. Ou de sua própria incapacidade de se deter diante de nada e coisa alguma. Os outros construíram o muro, mas foi ele quem se mudou lá pra dentro e nunca mais saiu pra roubar roupas femininas dos varais. Hobby estranho esse de não parar de pirar. / 20 - o rato /


Ainda assim, os caras que sobraram até hoje não conseguiram se livrar de certo complexo de culpa em relação a seu ex-líder. Pelo modo como se apropriaram do formato inovador com que ele introduzira ao mundo o autêntico conceito de música psicodélica e o abandonaram num sanatório, porque não aguentavam mais sua mania de meter o pé na jaca full time, a ponto de não conseguir mais se apresentar como músico profissional. Depois de alguns vexames no palco porque o disco da mente de Syd parecia ter engatado no mesmo sulco, tal como ocorre às vezes com um disco de vinil, Waters e os demais simplesmente tiveram que deixá-lo para trás. Money, get away. Sai pra lá mano que agora tá na hora de faturar aquela grana e você tá embaçando o lado, véi. Vai morrer louco, gordo e careca aos sessenta anos depois de passar quarenta deles num sanatório, que eu tenho muita grana pra ganhar.

God only knows it’s not what we would choose to do. Mas não havia muita opção, vamos combinar. The lunatic is on the grass. Quando o cérebro trava a mente entra em Eclipse. Por mim tudo bem botar o cara no pinel. O problema é que o lunático não sai da minha cabeça. Por mais que tranque a porta e jogue fora a chave. Tem alguém na minha cabeça, mas não sou eu. Respiro o ar e corro como um coelho. Cavo um buraco e esqueço o sol, mas o lunático continua lá. Se você prestar atenção, praticamente todos os discos do Pink Floyd são dedicados ao Syd Barret. Wish You Were Here é apenas o mais óbvio. The Wall. Pense. É sempre o mesmo cara. O gênio do rock que armou o circo e fez todo mundo de palhaço saindo de cena logo no início da festa. De repente sua banda começa a tocar em tons diferentes e você é obrigado a sacrificar justamente a galinha dos ovos de ouro. Putz. E você corre e corre pra acertar o passo com o sol, mas ele se põe. E a música surge como única sanidade possível em um mundo onde a grana é um crime. Allan Parsons foi o George Martin dessa obra prima. Money, it’s a hit. Acertaram em cheio na contratação. O criador do excelente Tales of Mystery and Imagination, baseado na obra de Edgar Allan Poe, caprichou na produção. Deu ao Floyd uma coesão e limpidez que eles nunca tinham atingido antes. E o mundo caiu a seus pés. Nós e Eles. Eu e Você. Enchemos o rabo do Pink Floyd de dinheiro. Enquanto algum velhote morre por conta do preço do café com pão.


GLAUCO CARUSO, O FRANCO ATIRADOR DA ARTE Por Isabela Fausto Fotos: Natasha Durski Glauco é um baita baterista. Veio lá de Rio Grande, morou longos anos em Curitiba, mas recentemente mudou-se para o Vidigal, no Rio de Janeiro, para tocar com a banda Iggy e os Traidores. Ex-integrante do Júpiter Maçã e do DeFalla, ele também já foi modelo internacional, é ex-presidiário, ilustrador e agora interpreta o escritor Caio Fernando Abreu, em fase terminal, no documentário de Paula Dip, baseado no livro de sua própria autoria: “Para sempre teu, Caio F.”. O filme conta com a parceria de Candé Salles e seu lançamento ainda não tem data marcada. Irmão de outros dois grandes músicos, Emerson Caruso e Giovanni Caruso, Glauco nos recebeu na casa da sua mãe. A trilha sonora que ecoava de um cômodo lá dos fundos vinha da sua vitrola. Assim ficamos, envolvidos pela música clássica enquanto Glauco, sentado numa das suas três bateras – tá bom ou ou quer mais? - nos contava das suas aventuras. Inclusive, nesse dia, faltavam poucas horas para ele completar 40 anos. Ganhou carona e tudo mais do Rato até o Blues Velvet Bar, onde comemorou a data com a rapaziada da Red Floor Blues Band. Velho de guerra no rock curitibano, Glauco sempre fez parte da cena underground e esteve presente em alguns dos momentos mais marcantes da nossa música. Segue um resumo da sua vida louca vida em suas próprias palavras:

TRAJETÓRIA O RATO: Como começou a sua caminhada no mundo da música? Glauco: Minha mãe me deu um acordeão quando tinha uns onze anos. Depois entrei pra Belas Artes, mas fui expulso porque desenhei um caralho na bandeira do Rio Grande. Eu e meu irmão, o Emerson Caruso, começamos muito novos no punk-rock, tocando Cólera, Ratos de Porão, Dead Kennedys... Formamos a primeira banda de hard-core do Rio Grande, chamava-se Ataque Epilético. Depois passamos pro Rock’n’Roll e fomos pra Porto Alegre, tentar fazer música na capital. A gente era muito fã dos Cascavelletes na época. Batemos na porta da casa do Frank Jorge, do Graforréia Xilarmônica e ele soltou que o Flávio (Júpiter Maçã) estava lá, sem banda. Isso na época do Júpiter Maçã e os Pereiras Azuis. Pô, daí batemos na porta da casa dele também e nos oferecemos. Ele foi fazer um teste com a gente lá em casa. Deu certo! Entramos pra banda e ainda gravamos o disco Sétima Efervescência, que é um clássico dele. O RATO: Como foi trabalhar com um maluco desses? GLAUCO: Pá, fantástico! Foi maravilhoso. Quando Isso aconteceu eu tinha uns 20 anos. Imagine... Mas antes me alistei na Aeronáutica pra poder ir pra / 22 - o rato /

Porto e ter onde morar. Só que ninguém mais da banda lá do Rio Grande veio comigo. Acabei ficando sozinho lá, servindo o exército... O RATO: Tudo meio estratégico... GLAUCO: Sim! Foi bem divertido. Gravamos em 95, 96 com o Júpiter. Daí quando estava em Chapecó resolvi sair da banda e vim pra Curitiba. Sentia muita falta da minha mãe. Ela que mostrou Chuck Berry pra gente, Alice Cooper, Tchaikovsky, Beethoven... Atitude Rock’n’Roll (risos). Grande mãe! O RATO: Já dá pra sacar, mãe de três músicos... E aqui em Curitiba, como você se encaixou na cena? GLAUCO: Eu conheci o Fábio Elias do Relespública. Nós montamos a Parkas Verdes, primeira banda mod de Curitiba. Foi num desses shows que chegou o Edu, um booker da Ford Models, e me chamou pra ser modelo. Bah, eu quase matei ele lá no dia, né – Viadinho! Quer me dar o rabo? Qualé a tua? Eu sou músico... Pá, quando vi, fui pra São Paulo, tava em Nova York, Londres, Milão, Paris. Viajei o mundo umas três vezes desfilando. Comprei vários instrumentos musicais com esse dinheiro, pros meus irmãos também. Fui conhecendo a cultura


O primeiro disco solo do Júpiter Maçã, Sétima Efervescência, foi lançado em 1997 pelo selo Antídoto/Acit. Na gravação, Glauco tomou as rédeas da bateria e seu irmão, Emerson Caruso, abraçou o baixo. Em 2007, a revista Rolling Stone fez uma lista com os 100 melhores discos brasileiros dos últimos tempos... Esse está lá, número 96 da lista, antes mesmo do experimental “Araçá Azul” do Caetano Veloso.

dos outros lugares. Fui umas quarenta vezes no Louvre, onze no Rotterdam, na casa do Da Vinci. Sempre pesquisando, adoro arte. Até que me enchi o saco... O RATO: Você foi preso em Sampa, depois. Confere? Foi acusado por tráfico... As manchetes da época ligavam o caso ao maior laboratório de ecstasy do país... Será que não sobrou nada pro Rato aí? Brincadeira... (risos) GLAUCO: Pô, lá em São Paulo conheci o ecstasy. Pá, era bom demais. Aí comprava cem comprimidos pra mim, tomava bera todo dia, morava num flat super chic em Sampa, ganhava uma fortuna como modelo... Mas consegui provar minha inocência depois. Quem me livrou dessa foi minha mãe. O RATO: Como foi passar um tempo enquadrado? GLAUCO: Cara, fiquei quatro meses e oito dias preso num tubo de concreto. A gente dormia de valete, um com a cabeça no pé do outro. Convivi com 37 pessoas. Tinha latrocida, ladrão de banco, tinha de tudo. Saí amigo de todo mundo... Porque também desenho, sou ilustrador. Escrevia as cartas pras namoradas e pras mulheres dos caras.

Desenhava vários tipos de flores pra enfeitar. Eu gostei porque curto estudar a mente humana, acho fantástico. Eles contavam as histórias dos crimes... Nossa! Ducaralho. Talvez um dia eu lance isso. Sabe, pra mim tudo vem da fome, tudo. Alguns anos atrás, tu tinha fome, tu caçava um bicho. Hoje não tem bicho pra tu caçar na rua. O cara tira a grana do outro e come. O RATO: Nunca voltou pra visitar os amigos? GLAUCO: Não, tá louco?! Nunca mais quero voltar pra aquele lugar. Foi horrível... (risos) O RATO: Hoje em dia você toca todos os estilos e ritmos na batera, mas como você começou? GLAUCO: Comecei no punk-rock e no hard-core. Até que o Emerson conheceu o Solon Fishbone, o maior guitarrista de blues do Rio Grande do Sul. Daí pilhou-se nisso do blues. E eu fui conhecendo, sempre junto do meu irmão, né. Acabamos fazendo várias bandas de blues depois. Gravamos uns discos, Blues Del Fuego, Blues Driver e o Emerson Caruso Trio. O RATO: Você e teu irmão sempre juntos... / o rato - 23 /


GLAUCO: Pô, toquei com ele desde os 11 anos de idade. Até uns 3 anos atrás tocamos juntos, no TUC, pela Grande Garagem que Grava. Ah, tem o Giovanni, ele é nosso irmão também. Gravei Acontece Nas Melhores Famílias, do Giovanni Caruso e o Escambau. Mas hoje em dia cada um tem o seu trampo em paralelo... O RATO: Agora você está na ativa com o Iggy e os Traidores lá no Rio... GLAUCO: Isso! Conheci o Igor (vocalista) aqui em Curitiba também. Os piás do Chuvas chamaram ele pra ficar aqui na casa deles, mas abandonaram o guri ali, de fronte o Lado B... Chamei o cara pra ficar aqui em casa. Ele topou e nós viramos amigos. / 24 - o rato /

O RATO: No Iggy e os Traidores você tem liberdade de compor as letras e os arranjos. Nas outras bandas era assim também? GLAUCO: Compunha minhas baterias. Quando cheguei no Rio de Janeiro, o Igor só compunha em inglês e lá tem essa coisa da brasilidade. Eu percebia que as pessoas vinham pro show, mas estranhavam. Daí eu falei, cara, tenho muita composição em português. Vamos fazer? Vamos! Então tá... Só que tem uma coisa: eu componho o baixo, a bateria e a guitarra. Sou bem ciumento... (risos) O RATO: Andei lendo nas manchetes que vocês estão apavorando o morro do Vidigal com as


festanças... GLAUCO: É... ali o pessoal é bacana demais. Melhor que o povo da zona sul. A diferença é que o lixo da zona sul é bem mais interessante. Você acha coisa boa pra caramba... (risos). O RATO: E você chegou a fazer um som com o DeFalla também. Inclusive veio aí pro show deles que rolou no Jokers, mês passado... GLAUCO: Sim, conheci o Edu K lá em Porto Alegre. Acabei fazendo um som junto com o DeFalla por uns 2 anos. Naquela época do Popozuda Rock’n’Roll. O RATO: Só no requebra legal... Rará! Velho, e

esta história de você ser um dos únicos escudos brasileiros que foram pro Iraque? GLAUCO: Vixe! Eu sempre gostei de estudar política e essas coisas. Sou anarquista. Estudo Bakunin, Proudhon, Kropotkin. Eu tava em Londres com um amigo meu, o Flávio Ravara. Ele estava indo e me convidou. No dia eu decidi: vou junto. Saímos de Londres e descemos em três ônibus double-decker. Passamos pela França, Itália, Grécia... Mas na fronteira com a Turquia nós desistimos. Estávamos no meio do deserto e organizador, um ex-soldado, começou a dar aulas de árabe pra gente... Pô, eu não fui pra defender ninguém na guerra, né. O papo ficou estranho, parecia terapia em grupo... (risos). Pulamos fora! / o rato - 25 /


O RATO: Agora falando em novidades. Quer dizer que você vai interpretar o Caio Fernando Abreu num documentário em homenagem ao escritor? GLAUCO: Então, fizemos o filme sobre o Caio Fernando Abreu, que é um grande escritor gaúcho. Eu amo ele demais. Morreu de AIDS em 96... Eu faço justamente essa fase terminal dele. Perdi quase 10 kg pro personagem... O Candé Salles, que é um ótimo diretor e também amigo meu, me chamou. O roteiro é escrito com base no livro “Para sempre teu, Caio F.”, da Paula Dip. Maravilhosa ela. O RATO: Caramba! Quem mais está no elenco? GLAUCO: Então, serão 4 Caios. Eu, o Caio Blat, o Alexandre Borges e o sobrinho Caio F. Olha em que bocada eu me enfiei... O RATO: Como conseguiu perder esses 10 kg, cara? GLAUCO: Ah... Sintético! (risos)... E não comer muito. O RATO: Você já tinha outras experiências com filme? GLAUCO: Não, só com comercial de TV, essas coisas, quando eu era modelo. O RATO: Não foi pesado pegar um papel desses assim...? GLAUCO: Ah, o Candé é chato. Chato de ser bom demais, sabe? Cobra muito. E é bom trabalhar sob pressão. Eu gosto. O RATO: Neste último Festival de Teatro de Curitiba você atuou em duas peças... GLAUCO: Então, o Jota Eme me chamou pra fazer a peça Para Inocentes que Ficaram em Casa, do Mário Bortolloto - de quem eu sou fã, ele é lá de Londrina. Também fiz Vampiros de Curitiba, junto com o diretor Guilherme Durães, que fez Opus 69 sobre o Regime Militar. Fantástico! Acabei caindo nessa do teatro e ficamos ali, dois meses ensaiando no Guairão... O RATO: Pô, maravilha! Então, nesses últimos anos você acabou encarando trampos bem diferentes...

GLAUCO: Ah, cara. Eu sou um franco atirador da arte. Topo tudo. O RATO: E qual é a diferença de você estar no palco como músico, tocando pra galera que está dançando, e no palco como ator, com a plateia quieta e observando... GLAUCO: Ah, isso me lembrou de uma parada chata do blues que é tocar nesses restaurantes pra rico jantar. É horrível! Os caras soltam o talher e... (clap, clap) – Glauco bate palmas – É insuportável! A grande troca é sempre entre os artistas que estão em cima do palco. Eu amei fazer teatro e acho que vou fazer pro resto da minha vida. O RATO: Massa que você esteja livre para experimentar as outras expressões da arte... GLAUCO: Então, eu tô lendo pela terceira vez O Nascimento da Tragédia, do Nietzsche. Ele fala um monte sobre Apolo e Dionísio... Apolo é o Deus das artes e Dionísio é o da embriaguez. Ele fala sobre essa mistura na arte, que é fantástica. E eu já tinha lido duas vezes, mas como músico. Agora tô lendo como ator e, nossa, totalmente diferente... O RATO: Você passou por várias paradas, experimentou, vivenciou de tudo e ainda vai longe... Como você se sente profissionalmente? GLAUCO: Eu me sinto mais apolínio... Mais sonhador do que embriagado. Tá tudo muito efervescente pra mim. Tenho mais certeza do que quero fazer, mesmo sendo tudo ao mesmo tempo. Quanto mais você vive a arte, mais você a interioriza em ti. Aí você consegue exteriorizar tudo muito melhor enquanto guri, bêbado e louco na rua... Você faz as coisas mais pra ti, portanto, mais pros outros, porque você consegue se expressar melhor. O RATO: Sexo, drogas e rock’n’roll. É uma vida que vicia? GLAUCO: Eu sou experimentalista, então... Quanto a drogas, eu nunca me viciei em nada porque eu sempre gostei de todas. Não é um vício, é mais um prazer. Sexo eu adoro (risos). Tô numa fase mais tranquila, mais de solidão, porque tô fazendo muita coisa e tô adorando. Não sei se eu teria tempo de fazer uma vida com alguém que não seja com a minha família. Eles me dão liberdade pra tudo... E rock, pô... não vivo sem!

Glauco finaliza a entrevista citando alguns dos escritores que mais gosta, entre eles, Fernando Pessoa. “Leitura portuguesa é uma maravilha. É o que há de poesia! Nós, brasileiros, temos muito a agradecer”. / 26 - o rato /



BORN TO BE ARTIST Filho de um arquiteto com uma ceramista, irmão de um cineasta e de outro músico, André Coelho não poderia ter se envolvido com outra carreira além da área artística. Arranjou um canto no ateliê da sua mãe e se instalou por ali. Localizado numa pacata rua do bairro São Lourenço, em Curitiba, o ateliê é silencioso e iluminado, com grandes janelas e plantas. Vira e mexe, recebe a visita dos passarinhos. O lugar perfeito para desenvolver as suas habilidades como ilustrador. Por Isabela Fausto


Foto: Isabela Fausto

Seu trabalho tem uma pitada boa de espontaneidade. Parece sempre que a caneta gruda no papel e só se desliga da folha quando o traço se entrelaça nele mesmo ao ponto de ir criando imagens. Muitas delas nascem da caneta nanquim. Ganham vida com a aquarela e destaque com a caneta Posca, a mesma utilizada por grafiteiros para pintar muros. Uma ou outra ilustração ganha um toque digital a mais.

O Rato: André, seu traço é muito minucioso, detalhista e parece que improvisado também. Como chegou até ele? André: Ele veio muito naturalmente. Desde pequeno frequentava o ateliê da Elizabeth Titon, grande artista plástica paranaense. Ali desenvolvi meu lado criativo, ainda criança. Depois entrei na faculdade de Designer Gráfico. Automaticamente, entrei para o teatro da PUC, o Tá na Hora. E eu sempre lidei com a carreira de ator e de designer paralelamente. Desenhava pra mim, era muito particular. Por uns bons anos, senti que me compartimentava pra dar conta das atividades. Sentia que, em cada trabalho como ator ou designer, eu acessava canais diferentes dentro de mim. Não me sentia inteiro. Foi depois de um trabalho de meditação que comecei a me ver como uma pessoa só. Comecei a criar como se tudo partisse da mesma fonte. A coisa começou a acontecer de uma maneira diferente e até comecei a desenhar mais. Engraçado. Sempre fazia cartaz pra teatro e cinema, mas eu nunca usava as minhas ilustrações. O Rato: Por que será? André: Acho que tem muito essa coisa do ator, de você criar a partir de um espaço vazio do palco. Comecei a pensar, “Péra, aí! Eu posso fazer um cartaz como um ator e também posso estar no palco como um desenhista, como um designer. Eu posso ser tudo isso. Sem culpa”. Foi muito legal esta descoberta da unidade. Comecei a realmente mostrar meus desenhos, a expor, fazer trabalhos de designer gráfico com ilustrações minhas.

O Rato: Você é mais da intuição do que da técnica, então? André: Sim. Eu sempre trabalhei de maneira mais intuitiva do que estudando técnicas. Faço o básico. Por certa preguiça de um lado e, por outro, porque eu queria tentar trabalhar a partir do canal da criança, que vem lá de trás. Tento ao máximo manter esse olhar, que vê tudo pela primeira vez. A referência teórica acaba estando gravada no meu corpo. Mas eu procuro não pensar, ”Ah, quero agora falar sobre isso, então será assim”. Não. A não ser que seja um trabalho encomendado, que já venha com o tema pronto. Como é o caso do livro Vermelho Amargo. O Rato: Mas ainda assim é um tanto intuitivo porque parte da sua observação da leitura. André: Sim, exatamente. Então, o traço vai se desenvolvendo a partir daí. Dessa relação com o espaço vazio do papel, que é o mesmo do palco ou da mente, quando a gente trabalha o autoconhecimento. O Rato: Vermelho Amargo é o seu trabalho mais recente? André: Um dos... Estou fazendo toda a parte gráfica do espetáculo de uma companhia do Rio de Janeiro, que é baseado no livro Vermelho Amargo. A coisa mais linda do mundo! A criação é coletiva. Então, estou participando da montagem desde o começo, o que está sendo diferente pra mim. Esse é o primeiro trabalho que acompanho à distância e tenho uma interação maior. Eu, aqui, faço / o rato - 29 /


os desenhos baseados na minha impressão do livro. E eles, lá, acabam se contaminando também pelos desenhos que vou enviando. Durante a temporada vamos ter uma exposição minha com esses trabalhos. O Rato: E como é o seu momento de concentração quando você vai desenhar? André: Aqui no ateliê é uma delícia. Enche de passarinhos. Dou comida pra eles todo dia. Então, essa harmonia pra mim é fundamental. Mas também quando estou puto ou cansado, eu gosto de ir à Rua XV. Vou naquele corredorzão e ando do começo ao fim. Gente passando o tempo todo. Gosto muito da cidade. Ela é uma fonte pra mim muito forte. A minha relação com Curitiba está muito no meu trabalho. O Rato:Você trabalha muito com plantas também... André: Sim, sempre trago essa referência. É assim com desenho: você planta a semente e ela vai crescendo, vai tomando forma. Às vezes nasce algo mais bonitinho, às vezes um pouco mais intenso e às vezes mais infantil.

André: Engraçado, todo mundo fala, “É você, é você! Você fica se desenhando...”. Na verdade, é como se eu absorvesse essas pessoas pra mim. Por exemplo, vou na XV e vejo uma mulher falando sozinha. Mas se você parar pra pensar, a nossa mente está falando com a gente o tempo todo. É muito tênue esse espaço entre a loucura e a sanidade. Então, aquilo fica gravado em mim e vai estar no papel. Não ela como um personagem, não vou retratá-la, mas ela está em mim, como você também ficou agora. Acho que os meus desenhos são muito sensitivos. Faço os retratos de acordo com o meu universo.

Foto: Acervo Pessoal

O Rato: Você esteve na Índia há pouco tempo. Foi em busca de autoconhecimento?

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Ilustrações: André Coelho

O Rato: Seus desenhos levam título, como “Menino com Crocodilo”, “Meditação”, “Flores da Noite”. Estes são personagens que você encontra pela cidade ou é você?


Dirário de viagem - Foto: Isabela Fausto

André: Então, deixa eu te mostrar o caderno de viagem que eu fiz (André busca e mostra o caderno pra gente). Então... Fui pra Índia, e fiz esse caderno. Fui por Amsterdã e passei por Paris. Foi uma viagem muito especial. E eu sempre desenhava nos lugares. São retratos das experiências. Na Índia, fiquei 18 dias. Fui com uns amigos pra ficar no sul do país. Pra ter essa experiência de autoconhecimento, sim. A gente andava nas montanhas dos Himalaias e a coisa mais linda do mundo eram aqueles monges com as roupas bem avermelhadas. De repente, me chegou um, mais adiante, com um guardachuva de arco-íris. Ele me parecia uma aparição colorida. Foi muito legal! Sabe, você vai pra lá pra aprender a relaxar num lugar que é, na verdade, uma loucura. É muito intenso. O Rato:Você sentiu a que a experiência mudou seu traço? André: Sim, alterou bastante. Se você comparar, a sua mente é como o papel, nesse processo de limpar a mente e fazer só o que é necessário. Fazer o que tem que ser feito. Estar presente no aqui e agora. Quando eu desenho, percebo que estou mais conectado ao meu traço. Essa é a minha relação com a folha em branco. Como eu gosto muito de trabalhar com detalhes, com delicadezas, isso acontece de maneira muito positiva. O Rato: Além dos quadros e dos cartazes, você fez uns trabalhos tridimensionais também. A linha do desenho é a mesma? André: Numa época, eu fiz uns porquinhos. Fiz bem de brincadeira e o pessoal adorou. Acabei fazendo milhares. Fiz uma máscara pra uma exposição de carnaval que vendeu também. E que tem a ver com essas plantas que eu faço, que nascem do espaço vazio. Eu não programo,

Foto: Isabela Fausto

elas vão acontecendo. Se programar, não tem o jogo do entrelaçamento entre elas. Precisa ser muito espontâneo. O Rato: Seu trabalho conta com uma mão do seu lado designer também? André: Sim. Alguns desenhos eu faço em nanquim e depois uma finalização digital no computador. Faço montagens e dou alguns efeitos. Outros já estão só à caneta mesmo. O RATO: O cartaz que você fez recentemente para a peça “Eu não Sou Cachorro Não” mostra um outro estilo de desenho do André, não? André: Eu tenho alguns canais que eu trabalho, de estilos diferentes. Tem a linha dos florais. É mais preto e branco e tem um traço mais controlado. Tem começo, meio e fim. E tem a linha dos rabiscos, que é uma coisa que estou trabalhando mais agora. É um traço mais sujo, coloco manchas, uso aquarela. O que geralmente o artista tem de fases, comigo é uma coisa meio maluca. Faço paralelamente vários tipos de trabalho. Os novos e os outros também. O Rato: Quais são os artistas que você gosta e que tem como referência? André: Tenho algumas influências e elas acabam contaminando o meu traço. É autoral, é! Mas tem muito daquilo que eu gostava quando criança: Ziraldo, Turma da Mônica, Spirit. Lia muita coisa de super-herói. Hoje em dia compro muita coisa de HQ adulta, adoro. No meu desenho, vejo muita coisa dos nanquins do Miran, da Denise Roman... muito Poty também. São pessoas que nasci vendo e que ficaram gravadas em mim. / o rato - 31 /


CURITIBA NO MAPA DA ARTE URBANA

MOTION LAYERS Texto e Fotos: Isabela Fausto Londres, Berlim, Nova York e São Paulo são só algumas das grandes metrópoles a receber a arte urbana como parte do seu cenário arquitetônico. Grandes murais e outras expressões do movimento podem ser vistas nos tijolos da famosa rua londrina Brick Lane, por exemplo. Banksy, renomado artista da cena, tem suas obras preservadas até mesmo pelo conselho municipal de Bristol e reproduzidas por milhares de cidadãos do mundo inteiro. Em Berlim, não é diferente. O lado Oriental do Muro de Berlim foi transformado em uma verdadeira galeria de arte ao ar livre em nome da liberdade nos anos 90. Mais conhecida com “East Side Galery”, tem certa de 1,3 km de extensão e foi pintada espontaneamente por cerca de 106 artistas de diferentes países. Obras como essas, mas ainda maiores, em escala monumental, estão espalhadas pela cidade inteira. Já aqui no Brasil, Eduardo Kobra e os irmãos Gêmeos são uns dos nossos monstros com obras espalhadas pelo mundo todo. Algumas chegam a ter mais de 50 metros de altura. Em abril deste ano, o projeto Motion Layers, contemplado via Lei de Incentivo à Cultura, pela Fundação Cultural de Curitiba, colocou a capital paranaense no mapa da arte urbana. A ação contempla a realização de quatro murais públicos, em superfícies arquitetônicas de Curitiba, utilizando o stencil como principal linguagem gráfica. As obras tem o cinema como forte influência criativa e levam as assinaturas dos artistas Celestino Dimas, Eduardo Melo aka Artstenciva e Leandro Lesak aka Cinico, atuantes e reconhecidos no circuito cultural contemporâneo da capital paranaense. Dois murais já estão prontos e podem ser vistos por quem caminha pelo centro da cidade. O restante deve ser concluído ainda em maio. Além dos murais, haverá mais dezesseis telas para exposição e um filme curta metragem sobre o Motion Layers.

DIMAS

ARTSTENCIVA / 32 - o rato /


O Rato: Conta aí, como é que vocês se conheceram?

O Rato: O 4º mural é aonde?

Dimas: Eu era curador e um dos fundadores da Galeria Lúdica, junto com a Michele Micheletto. A gente coordenava a parte de design junto com o Felipe Pedroso, por acaso assessor de imprensa do Motion Layers. Essa equipe compunha o coletivo que coordenava a galeria na época. Ele se dissolveu, mas a equipe continuou. Aí, na época eu já acompanhava o trabalho do Eduardo Mello (Artstenciva). Ele já tinha participado de algumas exposições nossas. Eu comentei com ele que estava afim de fazer algumas artes muralistas em Curitiba, mas que não tinha como financiar de forma independente. Foi quando surgiu a oportunidade deste edital, decidimos tentar a sorte. A gente pensou numa coisa até super romântica, grandiosa, com impacto cultural e social na cidade.

Dimas: É supresa. Tanto o local quanto o tema...

Artstenciva: Isso foi em 2009, quando rolou o boom de artes muralistas pelo mundo inteiro... Aí, eu e o Dimas pensamos em pegar o gancho que já estava rolando e trazer pra cá. Porque se você for ver, no Brasil, isso começou faz uns 2 anos mais ou menos. Michele: É bem recente... Dimas: A gente achou que iríamos conseguir tudo em 2009 mesmo. Ia ser explosivo... Artstenciva: Não, tá sendo, né... Dimas: Total! Mas demorou. A gente conseguiu o patrocínio no último semestre que o edital dava pra gente capitar a verba. Mas enfim... Nessas o Eduardo indicou o trabalho do Cinico, o Leandro. Eu achei sensacional e fechamos esta equipe. São quatro murais, cada um tem o seu. Já o 4º mural é coletivo, assinado por todos, de autoria dos três.

O Rato: O impacto visual dos murais é muito grande. É uma experiência nova vivenciada por nós aqui em Curitiba... Dimas: É, realmente. O pessoal não esperava. Me parece que foi uma boa surpresa. O Rato: Vocês acham que o projeto Motion Layers abriu a cabeça da galera pra arte de rua? Artstenciva: Eu acho que isso não dá pra saber, tá ligado? A gente sabe que a recepção é boa. Dimas: É um começo, né! Abrimos as portas com os dois pés... Agora vamos ver o que vai rolar mais pra frente. O Rato: Como funciona a relação da arte de rua com a arquitetura da cidade? Dimas: Pô, essa região do centro, onde estão concentrados os três murais autorais e também o quarto, que é na região do centro histórico, ela é turística. Curitiba está ficando cada vez mais cosmopolita. Quem vem de fora já começa a se sentir cidadão do mundo. Aqui também é uma região que precisa de uma revitalização visual, de um frescor e de um respiro. A gente precisa oxigenar essa região porque está virando tudo prédio. Os espaços estão todos abandonados. A gente viu daqui de cima que o Teatro Guaíra está com o telhado todo quebrado. Estão querendo privatizar o teatro, o que eu acho um absurdo... O Rato: Absurdo completo!

CINICO


Dimas: Então estamos tentando chamar a atenção de certa forma para este lugar. Tem uma coisa bacana, todos os murais estão alinhados em face leste, eles pegam o sol da manhã nascendo. É lindo demais... Todos estão em prédios relativamente antigos já. A gente está até vendo com o nosso amigo, que está fazendo o vídeo do projeto, se a gente não consegue pegar uma imagem aérea com os três murais no mesmo quadro. Talvez seja possível. O Rato: Ficaria genial... Dimas: Então é isso. Seria essa preocupação, a da alfabetização visual. Fazer uma provocação estética pra cidade, até sobre esta escala monumental... O Rato: A escolha dos locais onde estão os murais foi escolhida por vocês ou foi uma indicação dos patrocinadores? Dimas: Os patrocinadores e a galera que está apoiando, na verdade, não estão interferindo em nada. Estamos fazendo exatamente aquilo que queremos... Já queríamos trabalhar nessa região. O primeiro lugar que conseguimos é o meu, depois começamos a procurar os outros. O Rato: Qual legado vocês acham que o Motion Layors vai deixar na cidade? Artstenciva: Acho que não é só o legado. O projeto vai abrir bastante caminho pra gente poder fazer mais coisas também, pela experiência que ganhamos. Vamos poder fazer mais murais... Cinico: Cara, abre caminho pra todo mundo. A gente tá na rua, faz parte do movimento, e tá abrindo a porta pro resto da galera que faz parte também. Dimas: Amplia, principalmente, essa relação curiosa aqui do Brasil sobre o que é grafitti e pichação. Aumenta o diálogo, dá mais munição pra todas as partes envolvidas nessa questão. Estamos super alinhados nessa tendência visual das grandes metrópoles, nessa cultura do cinema e de uma linguagem contemporânea do vídeo. Curitiba precisava se afirmar mais nessa área. O nível de inteligência daqui é altíssimo, de técnica, conceito. Taí! Comprovado através de vários artistas. Na música e no teatro acontece a mesma coisa. No entanto, não temos um mercado que consome os artistas daqui. Você vê que no MON, todas as exposições legais vêm de fora. Então é uma coisa de importar a inteligência de São Paulo, da Europa... Falta implantar nossa bandeira. Curitiba tá no mapa também! O Rato: Recentemente a Prefeitura disponibilizou o Disque Pichação... Cinico: Pra encorajar a denúncia, né... O Rato: Como vocês encaram esta medida? Cinico: Acho que é gasolina na fogueira, não, é... Lenha na fogueira (risos). Era o que eles queriam, né! Os pichadores queriam atenção, agora eles estão tendo. Acho que é uma coisa de psicologia infantil, de você tentar desestimular. Eu gosto da pixação, me sinto super bem nesse ambiente. Esse ruído é próprio da cidade. Ele faz parte da humanidade. Existem coisas escritas na parede desde que a civilização se constituiu... Existem desde a pré-história. Isso nos define enquanto cultura. O direito de se expressar livremente é / 34 - o rato /


fundamental pra democracia. Dimas: Eles não sabem como lidar. É meio ingênuo da parte deles achar, ah, vou criminalizar os caras, dar uma multa, ou sei lá... Apanhar da polícia. Cara, vou começar a punir os motoristas porque eles poluem o ar. Isso não faz sentido, né? No entanto eu sou ciclista e eu preciso de um ar puro pra respirar... Então, por que vão punir alguém por estar sujando um espaço visual? Sei lá, a questão do crack é muito mais séria do que isso. O Governo tem muito mais coisa com o que se preocupar... E a área da cultura está muito sucateada. As verbas destinadas são muito curtas e tal. É difícil a gente esperar que exista um trabalho de educação, de trazer referências pra comunidade. Que os moleques parem de pixar e comecem a grafitar, vamos dizer assim... Esse é o tipo de coisa bacana. Trazer referências pras pessoas se expressarem e incitar menos revolta na população, saca? Isso ia conter a pichação... O Rato: Vocês já levaram um corre da polícia? – Cri, cri, cri... silêncio na roda. Rárárá! Você, Cinico, o que acha do disque denúncia? Cinico: Idiota. Acho uma bosta... Acho que existe coisa muito mais importante pra se dar foco na cidade do que chamar a população que paga imposto pra sair de casa e limpar o muro. A cidade tá cheio de ladrão, cheio de viciado em crack na rua... E aí, fazem o que com eles? Tem coisa mais importante pra se preocupar. O foco é outro... Artstenciva: O foco tá errado. Não é isso que vai interferir na vida das pessoas. É o que eu sempre falo: o que é da rua vai ser sempre da rua. O pixo é da rua, esse é o lugar dele. Por isso pouca coisa vai pra galeria. O pixo é do concreto, do tijolinho à vista... Aí os caras querem recriminar todo mundo, pô?! Cinico: O lance é: o governo tira o foco dos problemas reais e foca num problema minúsculo. Aparece na televisão e a mídia manipula, né, cara. Dimas: Não é nem um problema, é uma característica... O Rato: Esse é o grande lance. O primeiro contato da maioria que faz grafitti é a pixação, certo? Cinico: A maioria. Eu vim da pixação, cara. Eu não faço isso direto, mas quando rola de sair, eu pixo... Artstenciva: Eu não vim da pixação, mas eu vim de um tagzinho... (risos) Dimas: Um tagzinho aqui, um tagzinho ali... Não faz mal a ninguém, né, véio? (risos) Cinico: Mas também é questão de evolução, né, cara. Eu já tinha comentado em outras entrevistas, pô, eu vim da pixação e agora estou fazendo um lance mais artístico. Tem toda essa caminhada da rua até essa evolução... Artstenciva: A gente já está tudo com exposição marcada. Essa já é outra ponte que estamos buscando. Estamos fazendo uns quadros também, que é uma outra válvula de escape. Dimas: Tem uma pesquisa de trabalho autoral seríssima. Na hora de firmar o grupo, este era um critério. A gente tinha um portfólio convincente. A pixação na verdade é o novo / o rato - 35 /


hype. Porque o grafitti, o desenho colorido e bonito já foi assimilado, já está na mídia. Está sendo financiado pelo governo. Claro, ainda é transgressor, mas o que ainda tem essa coisa da energia questionadora é o pixo. A gente tem que tirar um proveito positivo disso. Pixação não é arte no sentido clássico e nem precisa ser. Acho legítimo...

chega lá em cima com o braço tremendo já, e tu tem que fazer a pincelada mais fina da tua vida. Aquele recorte em branco de stencil. Tem que ter a mão fina e pesada ao mesmo tempo...

O Rato: Da parte técnica. Vocês estão usando qual tinta?

Michele: Sim. Foram 20 latas de 18 litros e spray foram 23 caixas.

Dimas: É acrílica exterior a base d’água. Tinta de parede, mesmo...

Cinico: Vai dar quase uns mil litros de tinta até o final do projeto...

Artstenciva: Foi até estranho, porque esses dias aí eu e o Cinico fomos pintar lá no evento, cara, e fazia umas três semanas que não pegava numa lata. Daí eu - Ô Cinico, não viu como tá estranho pintar com lata hoje? Porque fazia um mês que a gente tava só no pincel e no rolo...

O Rato: Uau! Galera, solta um recado aí pros nossos leitores...

O Rato: Tá mais difícil, então? Dimas: Cada prédio tem uma condição técnica diferente e a gente tem que adaptar no nosso orçamento (risos). Então, no meu prédio e no do Eduardo é o balancinho que fica suspenso, ancorado por cabos. É manual! Cê tem que ficar pedalando pro bagulho subir e descer, cara. Aí você

/ 36 - o rato /

O Rato: Vocês já tem ideia de quanto usaram de tinta?

Cinico: Curtam a nossa página no facebook... (risos). Dimas: Vá nas exposições e compre uma obra! Dimas: Deixe o carro em casa... Michele: Caminhe pela cidade e veja essas obras maravilhosas... Artstenciva: Venha tirar foto e tagueie... (risos).


PATRÍCIA PALUMBO E SUAS VOZES Patrícia Palumbo é mãe, ciclista, adora a simplicidade da vida e é naturalmente vidrada pela música brasileira. Há 15 anos à frente do programa Vozes do Brasil, já entrevistou os principais artistas da nossa música. Confira um trecho da conversa que ela teve com O Rato:

Foto: Natália Lima de Castro

Por Lucas Cabaña e Natália Lima Castro

O Rato: O Vozes do Brasil tem vários formatos, e agora você faz o programa em casa mesmo. Como é que se deu isso? Patrícia Palumbo: Isso seu deu porque o Programa é todo feito por mim. E com essa coisa da tecnologia, eu não preciso ir na rádio. E ainda assim, a rádio mudou lá para a Marginal Tietê, e eu detesto ter que pegar o carro para ir trabalhar, eu acho contraproducente. Aí eu consultei os técnicos lá da Rádio, me ajudaram a montar essa mesa de som. E é uma delícia, porque aqui eu tenho os meus livros, discos, toda a minha trajetória. E todo mundo gosta de vir. Uma vez o Pedro Luís brincou comigo, porque eu coloco as fotos no Instagram, e ele via, e ficava dizendo “por que você não me chama”, e eu dizia, “Pedro, vem, tá chamado faz tempo”. E ficou meses nessa história. Então o pessoal quer vir, eles ficam com essa vontade. O Nando Reis, quando veio ficou super à vontade, ficou descalço. O Kassin trouxe sonho para gente tomar com café. O Lenine quando veio tentou arrumar umas caixas de som antigas que eu tenho aqui na sala. Então é gostoso, a gente fica bem à vontade. É uma delícia. Eu tenho que confessar que às vezes eu cometo uma falha técnica, mas eu conserto. E agora eu já estou inquieta de novo, já quero fazer algo diferente para esse ano. O Rato: E como você monta a sua pauta, você sempre entrevista os artistas que estão com um trabalho novo no mercado? Patrícia Palumbo: Isso também. Tem o que eu estou escutando na semana, o que está me mobilizando é tudo do que está aqui. Mas eu também gosto de colocar

um Caetano de 1967, uma Elizeth Cardoso. Às vezes eu colocava até uma Carmem Miranda. É importante, porque se eu for tocar o que todo mundo toca na rádio, que sentido faz eu ter esse programa? Nenhum. O Rato: E lá nos primórdios, tem alguma entrevista que ainda mexe contigo de alguma maneira? Patrícia Palumbo: Foi a primeira entrevista que eu fiz na vida, que me colocou nesse caminho. Eu era estagiária na Rádio Cultura, e o Cazuza ia fazer um show, e eu sou louca por ele. Durante os anos 1980, na minha juventude, eu achava o rock brasileiro chato, aquelas letras não tinham nada a ver comigo. Eu não tinha aquela rebeldia. Eu era uma garota de praia. Aí Marina [Lima], eu já gostava, Cazuza no Barão Vermelho, e aí depois ele sozinho, pra mim ele era o cara! E ficava imaginando de onde ele tem essas referências, imaginava se ele escutava Lupicínio Rodrigues, Dalva de Oliveira, e pirava. Eu era fã. Aí pintou uma coletiva e eu pedi para a repórter me levar, e ela só concordou se eu ficasse calada. E coletiva é aquela coisa, sempre as mesmas perguntas, enfim, e não aguentei, levantei a mão e fiz uma pergunta: “eu ouço suas músicas e eu acho que você ouve muito Lupicínio Rodrigues e Dolores Duran. Eu estou viajando ou isso é verdade?” E ele disse que era total verdade, que adorava eles e começou a conversar comigo, contar essas experiências, e foi uma delícia. Estraguei um pouco a coletiva (risos), porque ninguém queria saber daquilo, só da doença dele, do show. Aí a gente se deu uma paqueradinha, ele falou para eu ir ao show, me pediu para ficar depois da apresentação, mas eu não fiquei (risos).

Na seção +Extras no site do Rato você confere ainda: as histórias sobre o contato de Patrícia Palumbo com o Renato Borghetti, as suas impressões sobre o mercado fonográfico e sobre a nova geração da música brasileira. / 37 - o rato /


ENTREVISTA DO ALÉM

John Lennon

Ilustração: Victor Hugo Harmatiuk

Well, well, well, amigo leitor. Essa história de ser ghost writer de fantasma já está deixando o roedor que vos digita meio biruta, aê. Agora o Rato não consegue mais nem ler o jornal sossegado sem que apareça um falecido famoso querendo se escalar para estas muy mal traçadas... É bem verdade que a entrevista deste mês aconteceu espontaneamente, logo após o almoço, bem quando o sofazão lá da minha toca estava me chamando. Entre mais um escândalo de corrupção e as últimas informações sobre o preço do tomate, lembro-me de ter dado duas ou três piscadas bem lentas, daquelas que fazem até o cachimbo cair da boca. Foi nessa hora que, no canto do Caderno de Cultura, apareceu o John Lennon em desabalada carreira, perseguido por um bando de mulheres divorciadas que já vinham no seu encalço, aos gritos, desde o Caderno de Ofertas. Uma espécie de beatlemania protagonizada exclusivamente por balzaquianas parecia prestes a irromper daquelas páginas. As mais distintas damas da nossa sociedade atiravam os sapatos para o alto e saíam correndo das colunas sociais atrás do nosso bom e velho John. Mas por que agora ele estava rasgando o anúncio do HSBC enquanto gritava desesperadamente na minha direção?


John: Socorro! Preciso de alguém! Alguém, por favor, me ajude!

John: Eu sei como é estar morto. E você me faz sentir como se nunca tivesse nascido.

O Rato: Quê que tá pegando, véi? Algum problema?

O Rato: Por falar em estar morto, você riu muito ou pouco daquele pastor que atribuiu a Deus a culpa pelo seu assassinato?

John: Eu tô de saco cheio de ler mentiras de políticos neuróticos, psicóticos, espíritos de porco... e de caretas míopes, hipócritas de mente estreita... Só quero a verdade... Me dá um pouco de verdade! O Rato: Eu também quero a verdade, cara. Mas a mentira tomou conta. E nem vamos comentar a cara de pau, a falta de vergonha, o abuso de poder... John: Poder para o povo! Queremos a revolução, e melhor que seja agora. Pois fique de pé e vá para a rua, cantando Todo Poder ao Povo! O Rato: É nóis, véi. Tamo junto, tipo altogether now! John: O amor é a resposta e você sabe disso, com certeza... O amor abriu os meus olhos. O Rato: Você continua firme nessa de que só precisamos de amor?

John: Você pode ir pra igreja e cantar o hino, me julgar pela cor da minha pele. Você pode viver uma mentira até morrer. Uma coisa não pode esconder: é quando você é aleijado por dentro. O Rato: Bem isso. Vem cá, explica de uma vez por todas: por que raios você foi brigar com o Paul? John: É que eu sou um cara ciumento. O Rato: Ciúmes da Yoko? John: Ela não é uma mina que sente muita falta... Mas manja tudo do toque da mão de veludo, tipo um lagarto na janela... A felicidade é uma arma quente. O Rato: Não brinca com arma que é fria... Diz uma coisa, brother John: curtiu a revista O Rato? John: O mundo estava só esperando por você.

John: A única coisa que precisamos é de água. Uma bela duma aguinha gelada.

O Rato: E não é? Entonces, come together, dominar o mundo...

O Rato: Bom, eu confesso que prefiro uma bera...

John: Porque o mundo é redondo... Isso pira a minha cabeça.

John: Tô tão cansado... Será que eu me levanto e faço um drink pra mim? O Rato: Eu não pensaria duas vezes. Mas sempre é bom pingar uma pro santo antes de beber... John: Nunca entendi as superstições dos outros... Parece suicídio. Mas quando estou muito pra baixo, a mágica da música parece iluminar o caminho. O Rato: E as guerras, John? Por que não acabam? Será que um dia a paz terá uma chance? John: Bom, eu não quero ser soldado, cara. Eu não quero morrer.

O Rato: A minha também. Por falar em pirar, você pirava na sua mãe, né? John: Minha mãe era do céu, meu pai era da Terra. Mas eu sou do universo, cê sabe o que isso vale. O Rato: Tô ligado, bro. Também tenho um lance meio Édipo com a Mãe Terra... Que tal a gente vazar lá pro Tamanduá, ver se as vaquinhas estão fazendo boa merda? John: Quanto mais fundo você vai, mais alto você voa. Quanto mais alto você voa, mais fundo você vai. Vamu que vamu!

O Rato: Putz, véi... Desculpe te falar... É que... Bom... Você já morreu, man... Caiu fora bunitu... Bateu com as dez, sacou? Foi...

/ o rato - 39 /


O RATO NO SEBO EM LONDRINA Por MacGregor

Amigos, como diria Mallarmé, um lance de dados jamais abolirá o acaso. Pois não é que o Rato tinha negócios em Londrina e acabou encontrando, entre um compromisso e outro, um sebo show de bola por lá! Vejam vocês como são as coisas. Às vezes você chega numa parada sem muita expectativa... E ali é que rola o esquema. A Livraria Sebo Capricho é um oásis para os ratos de sebos de qualquer lugar. Logo na entrada encontramos o Alex, o proprietário. Gente finíssima, num instante simpatizou com o roedor e saiu apresentando sua loja: enorme, muito organizada, limpa, climatizada, e o melhor: cheia até a tampa de livros, revistas, gibis, CDs e, claro, vinil, muito vinil! Direto ao ponto, como sempre, o Rato entrevistou o cidadão na mesma hora e traz a essência desta prosa maneira pra vocês. Sente a vibe: O Rato: Showzaço de bola sua loja, Alex. Conta como você começou... Sebo é uma coisa antiga na tua vida ou você é novo no negócio? Alex: Na verdade, meu pai começou a trabalhar com livros usados há 40 anos, com uma banca de revistas. Com o tempo, ele adquiriu muita coisa. Guardou em casa... Aí surgiu a ideia de abrir a loja. O Rato: Ele era colecionador também? Alex: Sim. Algumas coisas ele colecionava... O Rato: Há quanto tempo você está aqui nessa loja maneira, bem de frente para o Royal Plaza Shopping?

Alex: Sinto, sim. Até a molecada hoje procura bastante. O Rato: Como você explica isso: gente jovem, que tem à disposição MP3, Internet bombando... Por que estes caras estão voltando para o vinil? Alex: Eu acho que é o seguinte: por influência dos pais, dos amigos... É legal você procurar algo mais rústico. Depois que você conhece o vinil, acaba vendo a qualidade do som, que é diferente, se você tiver um aparelho bom pra tocar... O CD, na minha opinião, não chega nem perto da qualidade sonora do vinil... O Rato: Concordo com você.

Alex: A gente tava aqui do lado, depois mudamos para esta esquina, faz treze anos.

Alex: Acho que um passa pro outro essas informações. Acaba aumentando a procura.

O Rato: Qual é o teu forte? O que vende mais aqui no Sebo Capricho? Tô vendo muita revista...

O Rato: Em função da qualidade do som mesmo.

Alex: Na verdade é livro. A gente tem um acervo de 250 mil livros. É o que gira mais. Mas tem crescido muito a procura por vinil. Revista também tem o seu público... O livro tá em primeiro lugar, em segundo a música: o CD, o vinil...

O Rato: O item colecionável...

O Rato: Vinil nos interessa particularmente. Você falou que a procura tá aumentando. Você sente mesmo um momento de valorização do vinil? / 40 - o rato /

Alex: Isso e o lance do negócio rústico, de ser antigo...

Alex: Algo cultural, né? O Rato: E o tipo de vinil que a moçada procura mais em Londrina, qual é? Lá em Curitiba o pessoal procura muito rock...


O Rato: Como é que funciona a aquisição do vinil pra você? Como eles vêm parar na sua mão antes de você oferecer ao público?

O Rato: Qual é o disco mais raro que você tem hoje na sua loja? Um disco que a galera considera assim difícil de achar? Alex: Vendi há pouco tempo o primeiro disco do Roberto, o Louco Por Você. O Rato: Você tinha esse disco aqui?! Aquele com uma rosa na capa?

Alex: O pessoal costuma trazer pra nós. A gente divulga que tá comprando. Tem gente que tem o vinil em casa, como algo que não serve pra nada... Enquanto outras pessoas já veem como uma raridade, uma relíquia, algo de valor, né?

Alex: Esse mesmo. Tava todo estourado.

O Rato: Acontece de você comprar coleções inteiras? O cara tem em casa, era do avô, do pai, algum falecido... Ele não valoriza, chama você pra avaliar?

O Rato: Quinhentos reais por um disco estourado?

Alex: Acontece muito. A gente vai fazer avaliação em domicílio, de coleções. Você chega e se depara com vários discos de um determinado cantor... O cara tem um de cada... Aqui em Londrina tem muito colecionador de música sertaneja de raiz. O Rato: Tipo Tonico e Tinoco. Alex: Isso. Tonico e Tinoco têm em torno de uns 75 LPs, não sei com certeza. Às vezes você chega e a pessoa tem 50 discos do Tonico e Tinoco, um diferente do outro, tudo conservadinho... O Rato: Tem um valor hoje, né cara? Tenho visto vinis aí por preços estratosféricos... Como é a questão do preço aqui em Londrina, comparando com Curitiba? Você tem um irmão lá que tem sebo também... É mais ou menos na mesma faixa? Alex: Os discos mais comuns costumam ser mais baratos aqui em Londrina. Tipo Roberto Carlos, discos de novela... Coisas que estão sempre chegando, que venderam muito na época do vinil e que ainda tem bastante cópia... Aqui é mais barato. Mas os discos raros, aí o preço é universal...

Foto: José Marcelo de Aguiar

Alex: Aqui também. Muito rock. A galera que gosta do vinil dá preferência ao rock, jazz, blues... Aí tem a galera mais social, assim, que gosta de Bossa Nova, MPB... Mas de todo gênero tem o que é bom e o que é ruim. Então, de todo gênero tem o que vende.

O Rato: Caraca! E só por curiosidade, por quanto você vendeu? Alex: Vendi por 500 reais.

Alex: Não tinha nem condições de uso. Acho que só daria pra estragar a agulha ali... Uma ou outra faixa talvez o cara tenha aproveitado... O Rato: Cara, esse disco é uma lenda... Segundo consta, o próprio Roberto tratou de sumir com as cópias existentes, depois que fez sucesso com a Jovem Guarda, porque nesse disco ele meio que imitava o João Gilberto... Era meio bossa nova... Alex: Pouca qualidade musical, eu achei. Irreconhecível. Uma pessoa que não conhece não diz que é o Roberto Carlos. O Rato: Você é um consumidor de vinil? Curte? Alex: Eu sempre gostei. Lembro que comecei a gostar de rock’n’roll com uns dez anos de idade. Na época tinha os Titãs, rolava os Guns N’ Roses... Conheci o João Gordo naquela época dos Ratos de Porão... O Rato: Conheceu o João Gordo? Alex: Sim. Lembro quando o Raul veio em Londrina, eu tinha uns doze anos... O Rato: Foi assistir? / o rato - 41 /


Foto: José Marcelo de Aguiar

Alex: Não. Fiquei doido pra ir. Quase pulei a janela de casa, mas não podia sair... heheh. Pessoal da rua onde eu morava, todo mundo ia, né? Eu andava com um pessoal mais velho. Eu curtia o Raul demais, mas não deu pra mim, era muito moleque... E o Raul morreu naquele ano que esteve aqui... Em 89. O Rato: E você continua ouvindo vinil em casa? Alex: Eu tenho ainda alguns vinis, mas a minha coleção... Achei alguém que pagou bem nela... heheh. O Rato: Vendeu sua alma, cara?! Alex: Eu não tinha só rock’n’roll, também gosto bastante de MPB. Eu tinha Elizeth Cardoso, uma coleção dela, bem bacana. O Rato: Elizeth Cardoso? Ó, o cara... Alex: Samba. Ataulfo Alves, Cartola, Jamelão... O Rato: E como é essa cultura do vinil aqui em Londrina, é um negócio que está ficando mais forte do que já foi? Alex: Então, quando a gente começou, há treze anos, aqui só existia um sebo pequeno, tinha pouco vinil. Tinha o Faquir ali na Galeria, perto da Concha Acústica. Era a loja mais forte, só que era padronizada: só rock. Ele não saiu de lá, continuou dentro da galeria, com pouco movimento. Até que fechou a loja. A gente continuou. Ampliamos o mercado do vinil aqui em Londrina. De treze anos pra cá, cresceu bastante. O Rato: Tem muito sebo em Londrina?

Alex: Londrina chegou a ter treze sebos, uns dez anos atrás. Hoje tem uns seis que trabalham com vinil. O Rato: Legal. Isso é bom informar pra quem gosta de cavocar por aí. Eu sou um que, aonde vou, estou sempre revirando tudo. Às vezes o cara tem uma portinha aberta, parece que não tem nada... Ali é que você encontra uma preciosidade. Alex: Eu também sou mais ou menos igual ao Rato... Às vezes passo num brechó... Não trabalham com disco, mas tem uma caixinha lá num canto... Posso dar uma olhada? Aí você vai mexer, acha coisa rara ali no meio. O Roberto Carlos eu achei num monte de disco assim. E nem vi na hora. Olhei por cima, tinha um monte de disco ruim, alguns mais ou menos... O cara falou: dá um déizão aí. Levei aquela pilha pra casa... O LP do Roberto tava no meio. O Rato: Nóóóóssa! Isso que é legal dessa busca, dessa pesquisa... Você nunca sabe o que vai achar. Alex: Uma coisa legal também, desse tempo de vida da nossa loja, são as figuras que aparecem... O Ed Motta já teve aqui, duas vezes. Vendi disco pra ele. O Rato: Que legal! Esse cara manja de música. Alex: Ele quase comprou o disco do Roberto, mas tava tão estourado que deixou. Segundo ele, já tem o disco. O Rato: O pessoal vem procurar disco raro aqui na tua loja? Alex: Bastante. Procuram muito os mais

/ 42 - o rato /


O Rato: O Rebu, trilha de novela... Tá valendo quanto? Alex: Vendi por duzentos reais, mas vale mais. O Rato: Caraca! Que mais é raridade? Alex: Moacyr Santos... E tem também a procura por sertanejo de raiz... Tonico e Tinoco têm um dez polegadas muito raro, o Jubileu de Prata. Nunca vi

esse disco. Todo mundo procura... O Rato: Quando aparecer, você vai vender por milão... Alex: Ouvi dizer que vale mais de quinhentos reais. Da música sertaneja tem ainda as duplas Campanha e Cuiabano, Tuta e Tota... é mosca branca. O Rato: A mosca branca dos vinis em Londrina é Tuta e Tota! Então, leitor amigo... Tem o Tuta e Tota aí pra vender? Bóra pra Londrina!

|| A PRÉZA Viva! Finalmente alguém se ligou de fazer a préza de um disco de hard rock para o roedor. O londrinense Alex é chegado no roquenrrou e mostrou que manja do jogo: Playing The Game é o oitavo disco dos escoceses do Nazareth, banda que detonou grandes hits nos anos 70 - e que continua por aí, fazendo shows e embalando a galera, como aconteceu há poucos dias em Curitiba (ainda que alguns músicos já tenham sido substituídos, Dan McCaferty, responsável pelo vocal rascante e característico da banda, continua firme no leme e vale o ingresso).

Foto: José Marcelo de Aguiar

comentados, tipo o Paêbiru do Lula Cortes e Zé Ramalho, o primeiro do Raul, o Rebu...

Lançado em 1976, Playing the Game não emplacou um mega hit nas rádios, como acontecera anteriormente com a baladona visceral Love Hurts e a pulsante Hair of the Dog – essa última ganhou até versão cover do Guns, nos anos 90. Mas a pegada é a mesma dos anos iniciais, com todos os músicos originais no auge do domínio técnico dos seus talentos. A pancadaria come solta em Somebody to Roll, Born to Love e L. A. Girls. O andamento fica mais arrastado e viajandão em Flying, depois cai no power blues à la AC/DC em I Want To Do Everything For You. Os caras até arriscam um funk em Waiting for the Man. E gravaram ainda, quem diria, uma bela cover de Wild Honey, dos Beach Boys. Quem curte as baladas chorosas do Nazareth, vai pirar com I Don’t Want To Go On Without You. A preferida do Rato é Down Home Girl, composta por I. Butler, com letra de Jerry Lieber, lendário compositor de obras primas como Hound Dog, Stand by Me e Jailhouse Rock. Se não é o melhor disco do Nazareth, é melhor do que 90% dos lançamentos de rock que ouço por aí. Muitíssimo obrigado, Alex. Esse vai pra coleção do Rato com mutcho gusto!

Serviço

Livraria Sebo Capricho Rua Mato Grosso, 211 – Praça 7 de Setembro, 50 B – Londrina - PR. Loja 1: (43) 3324-9460 - Loja 2: (43) 3322-8485 – Loja 3: (41) 3079-1949. sebo.capricho@hotmail.com - sebocapricho@sercomtel.com.br - livros@sercomtel.com.br / o rato - 43 /


Música para seus ouvidos

Satanique Samba Trio, Sangrou Como dizem os próprios, este disco é “elogiado até por evangélicos”. A ideologia certeira desses caras vem em ótima hora. Não bastasse o diabólico samba instrumental, sem nenhuma linearidade, a apresentação do grupo em seu site é muito bem sacada: “Satanique Samba Trio é a afronta definitiva aos dogmas da MPB”. O caso aqui não é escutar este disco, mas escutar todos. Só estando morto para não ir atrás de músicas com nomes tão retardados como: “Auto-Retrato em Tripas de Cachorro”, “Todos os Santos na Grelha” e “Peça para Pó, Pele e Osso em Dez por Oito”.

Plexo Solar Desaprendendo

Rodrigo Amarante Tardei

2007 | BRASÍLIA | INFERNAL JAZZ

Native Brazilian Music Em 1940, o Maestro Leopold Stokowski veio em turnê ao Brasil e resolveu coletar canções para um disco que descreveria como o legítimo representante da música popular brasileira. Com a ajuda de Heitor Villa Lobos, ele reuniu no navio Uruguai toda a sorte de músicos e compositores, fazendo numa noite só mais de 100 gravações. Contando com Pixinguinha, Donga, Cartola e outros gênios do tipo, este é um raro documento da nossa história musical que você não deve ignorar. Das cômicas emboladas aos lindos cantos de terreiro, só foram lançadas mesmo 17 faixas. Nenhum músico foi pago, e o Maesto zarpou do Brasil sem dar nem tchau. Procure na rede! 1942 | RIO DE JANEIRO | MPB ANTIGA

Políticos falastrões e jogadores de futebol sem cérebro são os personagens desta divagação bêbada de Bob Dylan. O sonho americano estimulado pela televisão é absurdo e não merece atenção. O lance é arranjar uma mina e encher a cara. / 44 - o rato /

Foto: Divulgação

I Shall Be Free (Bob Dylan)


Bong Bong (Manu Chao )

Gal Costa, Recanto Com Caetano compondo todas as canções, Gal barbarizou na modernidade. A tarefa de radicalizar os arranjos ficou para o filhão Moreno Veloso (afilhado da cantora). No hit dark-dance “Neguinho”, a letra fala sem rodeios sobre a superficialidade do brasileirinho shopping center. Já em “Tudo Dói”, lembramos que os tropicalistas também sofrem com a degradação física na 3ª idade. O resultado de Recanto foi tão bem sucedido em termos de estranheza que a cantora vem até se “retratando”, cantando “Meu bem, Meu Mal” a torto e a direito nos programas televisivos. Afinal, é preciso vender ingressos.

Foto: Divulgação

É foda sair de uma cidade pequena onde você é o rei, chegar na capital e ninguém dar uma pelota pro seu jeito louco de tocar bongô. Pelo menos dá pra ficar hanging loose no centrão, curtindo uma ilegalidade.

2011 | BAHIA | MPB EXPERIMENTAL

The Strokes, Comedown Machine

e/ou Tela Voraz

Guilherme Arantes Condição Humana

O novo disco dos Strokes tem de tudo: plágios descarados (One Way trigger), tentativas forçadas de fazer um punk rock (50/50) e retornos ao próprio passado (All the Time). O que está claro é que as raízes da banda não estão no punk novaiorquino pré-Sex Pistols (como celebravam os críticos em Is This It). Julian Casablancas e seus amigos gostam mesmo é de um sintetizador. Se o fracasso de Angles foi acertar apenas certos trechos de cada música, aqui o romantismo oitentista está bem resolvido e rendeu ótimos frutos, como “Tap Out” e “80′s Comedown Machine”. isso não exclui o fato da parte final do disco ser surpreendentemente chata. 2013 | EUA | ROCK / o rato - 45 /


Red Foot, The Road Blueseira forte, guri! Formada por paranaenses dos mais diversos lugares, a Red Foot já é uma banda bem conhecida por quem frequenta os bares de Curitiba. Eles cantam em inglês e apostam num heavy blues cheio de climas e explosões. A música de abertura, “Keep on Going”, conquista qualquer fã do velho rock’n’roll. Peso, gaitas frenéticas, sotaque redneck e bases triturantes dão vida a letras sobre não ter grana e tomar os piores goles. Não se trata daquela chatice rockeira ultrapassada. Os caras são excelentes e fazem a festa, pode confiar! 2013 | CURITIBA | HARD BLUES

As Diabatz, Riding Through the Devil’s Hill Mais uma banda de garotas tocando o terror. Inspiradas no Psychobilly dos anos 80, elas já rodaram pela Europa e agora tem até patrocínio da cervejaria curitibana Diabólica. O som é duca, mas a princípio, a gente fica desconfiado: “essas músicas são todas iguais!” Talvez sejam as guitarrinhas surf music. Só que o feeling da coisa toda vai te pegando. O lance trash de filme de terror, os cabelos malucos, o baixolão gigantesco. É a “doença psychobilly”, como elas chamam. Comece pelas faixas “Witches Stomp” e “Wide Awake” e tente não sair vendo caveiras por aí... 2007 | CURITIBA | PSYCHOBILLY

Agora Só Falta Você (Rita Lee)

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Foto: Divulgação

Marco Polo ft. Big Daddy Kane Nite & Day

Japandroids The Nights of Wine and Roses

Junto com a dissolução dos Mutantes originais, veio a separação de Rita e Arnaldo, ambos cansados de tanto “amor livre”. Enquanto Arnaldo chorava por ela no clássico disco Lóki, Rita se libertou daquela vida vulgar e foi andando na buena, sem pensar em voltar.


Merda, Indio Cocalero Cambaleando num discurso abobalhado e adolescente, o nosso rock nacional está sofrido de aguentar. Até velhos lobos estão patinando na rebeldia esquizofrênica pra ganhar capa de revista. O mesmo não se pode dizer da gritaria que faz o grupo Merda. São 25 músicas em menos de meia hora. “Nem Todo Brasileiro que Gosta de Futebol Gosta do Neymar”, por exemplo, representa os mais profundos pensamentos da nossa nação. Outras imbecilidades como “Parabéns pra Você” e “O Dinheiro eh Meu” são exatamente a tal atitude rock’n’roll que não existe mais por aí.

Dona Onete Boi Guitarreiro

2012 | ESPÍRITO SANTO | HARDCORE PUNK

Foto: Divulgação

Gang do Eletro Velocidade do Eletro

Supernaut (Black Sabbath)

Os pais do heavy metal vêm ao Brasil neste ano. Não perca esta oportunidade de se sentir um SuperSabbathNauta: ciborgue imortal que nunca dorme e sobrevoa o espaço pela noite com um sorriso branco na cara.

Vanguart, Boa parte de Mim Vai Embora

O revival da música brega que se apoderou da cena paulistana vem sendo refletido em vários lançamentos recentes. É com esse ar de rádio AM que “Mi Vida Eres Tu” abre esse tão esperado disco. Na levada muito bem construída de “Desmentindo a Despedida”, cresce a esperança de boas músicas. Não demora para a voz chorosa de Helio Flanders e os arranjos melancólicos brocharem a expectativa. Mais do que isso, a importância desmedida que o compositor dá ao seu próprio trabalho resulta em entrevistas pra lá de prepotentes, jogando totalmente contra a imagem do grupo. 2012 | SÃO PAULO | INDIE / o rato - 47 /


FILMES

EVIL DEAD

Direção: Fede Alverez, Estados Unidos, 2013. Em 1981, a mistura assertiva entre gore e humor canastrão não só tornou a versão original de EvilDead um clássico da cultura pop, como também ajudou a definir o subgênero dos ‘filmes de cabana’. Em 2011, O Segredo da Cabana subverteu, com a mesma inventividade e humor, as regras dominantes de um gênero agora saturado. A nova versão de A Morte do Demônio não tem algo suficientemente interessante, original ou inventivo a mostrar. O uruguaio Fede Alverez realiza um filme de terror que, pretensamente, se leva a sério. Um ótimo show de membros decepados e sangue jorrando pela tela, mas prejudicado pela história (ou mesmo o elenco) sem qualquer credibilidade ou carisma.

IN THE FLESH

BBC Drama Production, Inglaterra, 2013. Longe da linha que move o sucesso de The Walking Dead - a luta pela sobrevivência humana numa América decaída – a pequena pérola britânica In The Flesh, minissérie de três episódios exibida em meados de março pela BBC, subverte mais de 40 anos da história dos zumbis no cinema, trazendo em contornos dramáticos o ponto de vista de um morto-vivo inserido de volta à sociedade. A história se passa num universo onde os humanos não só venceram a guerra contra os zumbis - mais conhecidos como portadores da Síndrome do Falecimento Parcial - como também encontraram uma espécie de ‘cura’ para os infectados. A série se situa num pequeno vilarejo reacionário no interior da Inglaterra e é uma grande parábola sobre a intolerância.

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SOMOS TÃO JOVENS

Direção: Antônio Carlos da Fontoura, Brasil, 2013. Somos Tão Jovens é o tipo de cinebiografia que não tem o mínimo interesse pelo seu personagem. Não vai além da superfície ou do mito criado pela mídia e fomentado pelos fãs. Dirigido pelo veterano Antônio Carlos da Fontoura, o filme tem um senso gigante de folhetim televisivo, seja pela opção cafona de criar pontes para a utilização das músicas por meio de diálogos constrangedores, seja pelo próprio roteiro que não teve culhão para trazer à tona a homossexualidade nunca negada pelo próprio Renato. Talvez por isso não exista uma progressão que desenvolva essa a figura conhecida como Renato Russo para além dos seus cacoetes e frases de efeito romantizadas. Renato, em síntese, era uma figura anárquica, mas o filme faz questão de enxergá-lo apenas como um adolescente chato.

CLIPES AUDAC - BACK TO THE FUTURE

FILARMÔNICA DE PASÁRGADA - O SEU TIPO

IMOF - UM SILÊNCIO NOVO NA CASA

ABRASKADABRA - SING ‘TIL THE END

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Foto: EmiPhotoArt

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