O Rato #3

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Editorial O tema “ocupação de espaços públicos” está na boca do povo quando se trata de políticas públicas culturais. A discussão está frequentemente nos jornais, revistas, botecos e há séculos em escritórios de arquitetura. Nas entrelinhas, o que queremos é a democratização, o acesso e o fim do descaso com os espaços de lazer e a memória da cidade. Não há dúvidas de que sua estrutura influencia socialmente nos passos do cidadão pelas ruas. É essencial sentir-se familiarizado e confortável, pois é nessa seiva que estão os bens culturais e a troca afetiva entre os cidadãos. Festivais, shows, eventos, exposições e qualquer outra movimentação artísticacultural ao ar livre, criam uma integração lúdica entre a cidade e o seu morador. Garantindo valores fundamentais: a liberdade e a cidadania. Por isso o Rato é totalmente a favor de invadir a rua e dar a ela mais encanto e harmonia. Nada de abaixo-assinado contra manifestações dessa natureza. Como diz Cristiano Castilho, “Curitiba chama, e ignorar é um risco”. ANO 1 // FEVEREIRO 2012 // Nº 03

O foco da nossa terceira edição é a rua, os festivais, os espaços de livre comunicação e expressão. Seja na fazenda do Psicodália, no calorão de Recife, nos paralelepípedos do São Francisco, nos pés dos sambistas das escolas de samba, na pegada do Psycho Carnival, na ousadia do Prosa ou na arte de João Francisco Paes. Uma ótima leitura.

expediente Paulo Souza

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Colaboradores Alice Rodrigues, André Feiges, Carolina Goetten, Leandro Aislan, Lucas Valério, Júlio Garrido, Priscilla Scurupa, Ricardo Borges e Rosano Mauro Jr. Comercial comercial@orato.com.br Anuncie n’O Rato anuncie@orato.com.br Agenda – Shows, festas e eventos contato@orato.com.br

Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião desta revista. / 4 - o rato /

errato - Esquecemos dos crédito nas fotos da ARRR! na ED 2. Na pág. 13, de cima para baixo, as fotos são de Maria Mion e Alessandro Reis. - Na pág. 17 da ED 2, o Cimples não estava entre os integrantes iniciais da galeria A Casa, mas sim Deivid Heal, Leandro Cínico, Paulo Auma, Tatiana Alves e Thiago Syen.

A revista O Rato é uma publicação de caráter informativo com circulação gratuita. Todos os direitos reservados.


INDICE RATOEIRA 06 HUMOR DO RATO 09 PSICODELIA BRASILEIRA 10 RATO BEACH 11 ARRR! 12 ZOOM 14 DO METÁ AO METAL:

DOIS DISCOS, TRÊS ELEMENTOS E UMA IMENSIDÃO SONORA PAG 16

19 SÓTÃO 20 O SÃO FRANCISCO DOS POETAS CARNAVAL. LADO A E B. PAG 22

DOMINGO NO LARGO 28 NO ROLÊ 30 JOÃO FRANCISCO PAES UM ARTISTA DE MUITAS FACES PAG 32

36 PRETO COM UM BURACO NO MEIO 42 RATPHONE PSICODÁLIA 2013 PAG 46

EMBAIXO DA POLTRONA 50 CLIPES 51 ROMÃ 53 FINALEIRA 54


Pisando no Desacelerador André Feiges, o Pedalador Geral da República

Já fomos beatniks e botamos o pé na estrada de carona, de ônibus, de trem e até de carro roubado (vide Neal Cassady). Depois viramos hippies e largamos a escola, o emprego, a casa dos pais e fomos andando até a comunidade mais próxima. Por um tempo, pegamos em armas e rastejamos na lama do Araguaia, na luta contra o “sistema”. Com saudades do conforto, nos tornamos yuppies individualistas, cheios da grana, e voltamos pra nossa cobertura num helicóptero. Agora lúcidos e loucos, preferimos manter distância de extremos e trilhar o caminho do meio, de preferência a bordo de uma bike. Nosso guru da vez é André Feiges, incansável defensor das bicicletas. Pegue uma carona no texto desse cidadão exemplar, sem se deixar intimidar por seu tom quase jurídico. O cara é advogado, mas sua causa é legal. Boa pedalada! A cultura do medo talvez seja a maior responsável consistente, por sua vez capaz de produzir uma pelo espírito agressivo que assombra nossas sensação indescritível de plenitude. Quem escolhe cidades. O quanto somos responsáveis pela este caminho, despido de fobias desnecessárias, manutenção e reprodução desta situação que nos faz algo não apenas por si mesmo, mas por toda torna reféns de nossas próprias mentes? Não é uma sociedade assustada. preciso encontrar a resposta a esta pergunta para Nesta perspectiva tento levar romper com tal paradigma, pelo “Pedalar pela cidade a vida, sem medos que não contrário, é preciso negá-la. Já passamos do tempo em que é respirá-la de fato, encontram razão de ser. Um dos receios que já superei e que a nossos pais nos passavam a ideia, cada dia me esforço para que na infância, do medo de circular com seus frios e pessoas sintam é o de livremente nas ruas, praças e calores, suas chuvas menos ocupar as ruas a pé e de bicicleta. parques. Esse medo não pode A desumanização das relações ser maior do que nosso desejo de e seus odores.” sociais na cidade é encabeçada ocupar os espaços públicos de convívio. pela máquina automotiva e pelo planejamento A verdade é que crescemos recebendo orientações urbano, que tem no carro sua referência central. de como nos portar para evitar sermos vítimas. Desligar-se das máquinas para (re)experimentar as Sejam as mulheres na forma de vestir, os jovens dimensões humanas talvez seja o desafio capaz de evitando insurgir-se contra uma autoridade que nos proporcionar um retorno a um convívio mais abusa do poder, ou mesmo crianças no simples humanizado. ato de atravessar a rua. A cada passo, um medo É claro que o acúmulo de conhecimento, o domínio diferente nos preenche. A libertação destes sobre a natureza e o desenvolvimento da técnica temores é um processo que nos exige uma atitude nos trazem benefícios, mas sua exploração / 6 - o rato /


indefinida ou desarrazoada também tende a nos despertar cautela, que por sua vez acaba por limitar a experiência da vida. Certas vezes a técnica renegada, tida por obsoleta ou já não tão mais conveniente, pode resgatar alguma humanidade em nós esquecida. Eis a razão pela qual, cada vez mais, jovens e adultos optam pela bicicleta como tecnologia de transporte, cuja eficiência de aproveitamento da energia traz vantagens, mas um eventual excesso não ocasiona prejuízo.

incompatível com a segurança própria ou alheia é medida tida por certa, seu tempo é não-tempo, no sentido de que a duração desejada para perfazer o trajeto é sempre tendente a zero. O que estiver em nosso caminho, neste intuito insólito, será sempre um obstáculo a ser transposto e a objetificação das pessoas torna-se uma necessidade.

Até quando a ansiedade e a pressa de um sobrepujará a vida de outro? Interromper esta prática urbana de deslocamentos acelerados, Fundamental é lembrar que o uso da bicicleta é individualizados e mecanizados é uma necessidade muito comum naquela fase da vida em que menos crescente para não perdermos nossa própria estamos tomados pelos medos, incutidos em nós humanidade. O espaço urbano, se puramente não apenas pela educação familiar e formal, mas entregue à lógica da máquina descolada da também pela cultura de massas, seja na mídia ou finalidade humana, torna-se hostil e belicoso. nas artes. Pois é neste ponto que pretendo chegar. Movimentos como a Massa Crítica ou a Bicicletada É preciso libertar novamente a criança, que outrora tentam reacender a chama viva dentro de nós. vivia em si, para alegrar-se com Provocativos, claro, mas sempre “Quer sentir também bem humorados e simpáticos. Afinal, pequenas sensações como o vento contra o rosto ou o de um carro, uma um pouco de sangue diferentemente experimentar a velocidade bicicleta jamais será usada como nas veias, lembrar numa medida compatível com arma. Seu comportamento segue a a vida; e por vida aqui me refiro das aglomerações animais, que as distâncias são lógica não apenas à individual, mas pois juntos tendemos a nos sentir também à coletiva. mais protegidos. Se os pequenos superáveis a partir nos rios de asfalto tornam-se do esforço? Arrisque- peixes Aqueles que se arriscam (pois vítimas fáceis para o carro predador, sabemos, é um risco!) a retornar se! Retome a velha unidos fazem-se também temidos. às bicicletas para se deslocar É óbvio que o intuito não é se tornar magrela e coloque-a temível, mas aquele que imprime revivem também uma vida que há muito temos deixado de lado: medo no outro, por seu porte físico para circular.” a vida da cidade. Pedalar pela ou aporte econômico, não pode cidade é respirá-la de fato, com seus frios e calores, sentir outra coisa se não a inversão de papéis. suas chuvas e seus odores. Circular sobre duas rodas estreitas, movidas por seus próprios pés, é Para além das aglomerações esporádicas, experimentar a textura do chão que se pisa, é sentir os ciclistas participantes destes movimentos o suor que brota da pele e fazer-se novamente sentem-se reanimados a ocupar as ruas, mesmo humano. Reconhecer as limitações próprias e quando isolados. Sentem que o ambiente em que alheias, condição inseparável para uma boa muitos convivem também lhes pertence e que pedalada, é encontrar-se a si mesmo no outro. seu espaço está lá, bastando fazer-se notado. Os encontros ocasionais, os olhos que se cruzam, o Em oposição a isto, encontramos aquilo que se reconhecimento de quem os vê passar é alimento torna o maior temor do ciclista diário: o motorista para batalha diária contra os violadores incautos do cansado e automatizado. Dentro de uma cápsula tráfego. Quer sentir também um pouco de sangue de fibra, metal e vidro, isolados e protegidos, fácil nas veias, lembrar que as distâncias são superáveis e comumente ignoramos o outro e o ameaçamos a partir do esforço (e não apenas da riqueza)? displicentemente. A velocidade Arrisque-se! Retome a velha magrela e coloque-a para circular. A experiência, asseguro, é gratificante. E mesmo que você não se arrisque a fazê-lo, deixo outro convite para que efetivamente não arrisque a perder a humanidade em si mesmo ao ameaçar a vida dos outros. Desacelere! Mantenha um ritmo em que você possa tomar conhecimento do que está se passando em seu caminho, pois vivendo nas grandes cidades o que mais fazemos, por mero descuido, é ignorar a vida alheia.

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O Rato no Condomínio.

Roteiro: MacGregor | Ilustração: Victor Harmatiuk


ALCEU VALENÇA E GERALDO AZEVEDO Quadrafônico (1972)

É isso mesmo. Bem antes de embalarem multidões e levarem o som do Nordeste a todo o Brasil, Alceu e Geraldo estreavam juntos nesta histórica bolacha. Com músicas curtas e cheias de originalidade, Quadrafônico é provavelmente o melhor representante da psicodelia nordestina daquela época. Isso porque une ótimas letras e ritmos dançantes aos arranjos orquestrais do mestre dos mestres, sempre imprevisível e magnânimo Rogério Duprat. Dos frevinhos (Cordão do Rio Preto) aos rocks mais desbundados (Mister Mistério), o disco todo é uma surpresa para quem só conhece os sucessos da dupla. Talismã, por exemplo, foi a primeira música que eles compuseram juntos, logo que se encontraram no Rio de Janeiro. Já conhecidos dos tempos de Recife, Geraldo intimou o amigo para fazer um som no seu apartamento. Sem perder tempo, no outro dia de manhã lá estava Alceu Valença batendo na porta.

“As pessoas gostam muito de chorar: choramos principalmente o nascimento de nossos mitos necessários, um dia depois do outro. Um morto depois do outro. O Che Guevara morre apenas para que se cante (chorando) o seu mito. Jimi Hendrix morre também: logo pousamos como urubus sobre o cadáver do bicho, e choramos pelo vazio que acabamos de ganhar.” Torquato Neto, escritor tropicalista que se suicidou em 1972, um dia após completar 28 anos.

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Torquato Neto em cena do filme “Nosferatu no Brasil”.

Pena que, dentre tantas canções sensacionais, quase nenhuma sobreviveu no repertório solo dos pernambucanos. Cada um seguiu o seu caminho, e pouco se sabe sobre o que os uniu, ou porque se separaram depois.


Rato-Beach Recife é longe, mas não para um rato esperto. Quando descobrimos que a Uhlala! estava confirmada para tocar no Rec-Beat 2013, nosso roedor pediu uma carona. Calor, praia, carnaval e música? Não tinha como ficar de fora. O nordeste realmente dá um pau na quantidade de festivais de música perto do que realizamos aqui. Enquanto o Rec-Beat acontecia no Cais da Alfândega, com músicos da cena alternativa vindos até mesmo da Bulgária, lá no Marco Zero, a algumas quadras dali, tocavam figuras como Caetano Veloso, Milton Nascimento, Elba Ramalho e Alceu Valença. Tudo isso na mesma semana, meu rei. Unbelievable! E não só isso, a recepção calorosa dos nordestinos deixa qualquer banda energizada. A Uhlala! deixou o palco com o pessoal pedindo bis, suado de tanto dançar. As atrações eram tantas, que ficou difícil acompanhar tudo. Mesmo assim, o Rato trouxe entrevistas na mochila: Tulipa Ruiz, que arrepiou com sua voz absurdamente excepcional, e B Negão e Os Seletores de Frequência. Os caras trouxeram o novo CD Sintoniza Lá e fizeram a geral dançar ao som de uma groovezeira animal. O Rato perguntou sobre a carreira dos músicos. A resposta, você confere aqui.

TULIPA RUIZ: O nosso amor é movimento...

Foto: Isabela Fausto

“Eu quis montar uma banda porque a música era algo muito paralelo na minha vida, e começou a atrapalhar minha carreira como jornalista. Aí falei: vamos ver o que acontece se eu começar a fazer música. Então, meu principal desafio era montar minha banda e fazer com que os caras tocassem instigados. E isso aconteceu muito rápido. No meu primeiro show lá no Auditório Ibirapuera, vendi quase toda a minha primeira prensagem. Essa foi a minha grande surpresa. Hoje, vamos tocar pela primeira vez o Tudo, Tanto aqui. E já vi que um monte de gente conhece o disco. Isso é uma alegria muito grande para mim, é gostoso demais de sentir.”

Foto: Isabela Fausto

B NEGÃO: Funk até o caroço! “A gente não para nunca. Tem um monte de coisa surgindo, ideia nova... E pô, a banda tá felizona de conseguir fazer esse disco. A gente mesmo produziu a parada, a galera toda se juntou. Foi clássico. Mas acho que dá pra fazer ainda mais legal. Porque cara, assim, eu só paro quando eu desencanar. E acho que o negócio é buscar sempre a melhor qualidade possível, até o último minuto que eu respirar”.

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Rato de Brechó

O Rato e o brechó sempre tiveram uma forte relação. Não há, no armário do nosso roedor, uma ou outra peça que não tenha vestido outro extra-humano-rato-terrestre em épocas passadas. A roupa roída, o preço camarada e as peças bizarras com tecidos estampados sempre lhe caíram muito bem.

Foto: Isabela Fausto

Usar a roupa do vovô já não faz mais de você um bundão. Isso porque a ratarada se desprendeu, nos últimos anos, da ditadura da moda de passarela. O brechó deixou de ser “aquele antro” bagunçado, com energias negativas, que só o sal grosso e a macumba salvam, para dar lugar a lojas estilizadas e com peças selecionadas.

Esse é o caso da Colete Corselet, brechó criado por Márcio Oliveira, que busca um novo conceito para moda. Tudo começou porque a galera vivia perguntando de onde ele tirava aquele visú bacanérrimo. Como sempre curtiu usar brechó e estava de saco cheio do trampo, resolveu investir no seu bom gosto. Uma das preocupações da marca, além da qualidade, é a reciclagem: não gerar mais consumo desnecessário. A loja inteira é montada com artigos encontrados na rua ou doados por amigos. Ali, tudo se transforma. Suas clientes têm hora marcada e dispõem de uma hora inteira para provar os looks selecionados por ele, com atenção exclusiva e atendimento personalizado. Isso se não acabarem ficando para o cafezinho... A loja conta também com uma mãozinha de Giba Lima, do Lolitas. O Rato deu um pulo nessa toca e saiu de lá com um papo que dá pano pra manga: O Rato: Você sentiu mudança, desde quando começou com a Colete Corselet, no público e no estilo de peças que consomem? Márcio: Sim, no começo era muito vestido. Aquela coisa com cara de brechó mesmo, com mais estampas. Agora as pessoas ainda procuram isso, mas com uma pegada mais moderna. Eu, particularmente, tenho uma mania de comprar muita camisa (risos). E o público cresceu, porque virou moda comprar peças vintage, com estilo retrô. Hoje em dia só dita e segue a moda comercial quem tem grana mesmo. O Rato: Roupa pra homem ou mulher, o que é mais difícil de achar e quem consome mais? / 12 - o rato /

Márcio: No início só comprava looks femininos baseados no estilo das minhas amigas. Pra homem é sempre mais difícil de achar, porque tem o costume de usar a mesma roupa até o fim da vida. Então, soltava um ou outro garimpo masculino. Um dia, montei um terno impecável, lindo. Acharam que seria estranho, porque mulher consome mais. No outro dia ele estava vendido. E normalmente, num bazar, se tem uma arara masculina, ela some. Giba: As pessoas pensam em brechó e tem como referência a Rua Mateus Leme e a Riachuelo. Aquela coisa com cheiro de mofo. Com exceção da Balaio de Gato e do Libélula, o resto vende roupa usada sem o cuidado de ter peças antigas, com tecidos bons, pra vender.


Foto: Isabela Fausto

O Rato: Eles misturam desde a peça mais chulé, tipo calcinha, até casacos e acessórios de valor. Nos últimos anos, os brechós começaram a meter a faca, mesmo com a peça acabada, quando deveria ser totalmente o oposto. Márcio: É, aqui com menos de 100 pilas você sai com um look completo dos pés à cabeça. É normal ter uma ou outra peça roída, por ser velha mesmo. Avisamos o cliente, mas eles não se importam e levam, porque as peças são bonitas e têm uma modelagem diferente. Eu cuido da peça antes de colocá-la na arara. Se tiver de trocar um botão eu troco, costuro se for preciso e faço ajustes também. O Rato: E o teu garimpo, como ele é feito? Márcio: Então, essa é a parte mais divertida. E nessa hora é preciso ter olho clínico pra encontrar o que eu quero. Frequento direto os bazares que rolam por aqui, até os da Região Metropolitana, tipo Piraquara. Sexta é um dia bom de fazer compras, mas tem que ir looonge pra encontrar essas peças mais exclusivas. O Rato: Vocês sempre vestem o look do dia em manequins e postam no Facebook. Qual a história delas? Tô sabendo que essas manequins são famosas! (risos) Márcio: Vários amigos pedem pra gente colocar o look do dia em modelos reais. Mas ah, nossas manequins são tão legais... Não incomodam, não bebem, não comem. (risos) Giba: Não vão te pedir um troco no final, né colega?

Márcio: E elas são a marca registrada da Colete. Tudo surgiu no nosso antigo apê. Numa brincadeira com duas amigas nossas, a Gisê e a Michelle. Começamos a pirar e tirar fotos com as manequins até criarmos a história delas. São três manequins: a Judite e a Samantha são prostitutas e tem um caso, e o Batista é escravo sexual das duas. Mas não uso muito ele porque é difícil de vestir. Aí, inventamos o dia em que as duas abriam o guarda roupa pra vender algumas peças. Fazíamos as fotos com os looks, como hoje, e postávamos no Facebook uma história sobre a rotina delas. Uma vez fiz uma cirurgia, daí colocamos o Batista deitado de macacão do meu lado e a Judite de enfermeira, me dando injeção. Foi um sarro! Já publiquei uma foto dela na banheira, tomando banho relaxante no Natal. (Meus senhores, uma pausa. O Rato estava se rachando de rir nessa hora.) O Rato: Vocês e os outros ateliês daqui do São Francisco são uma espécie de irmandade. A galera sempre se reúne pra juntar forças. Como é a inserção da Colete Corselet nos eventos de rua? Márcio: Então, daqui para a Álbum (loja de roupas) é só atravessar a rua. O Lolitas tá do lado. A Vinil Velho também. A Lisa (Agente Costura) é só descer umas quadras... Às vezes, a gente combina de fazer algumas coisas ali na frente no domingo. Cada um leva sua arara de roupas e a Vinil Velho coloca um som pra gente. Além de somar forças, é superdivertido. Giba: A gente senta, toma uma cerveja, troca uma ideia... E os curiosos aparecem.

Serviço: Colete Corselet (41) 3076 4700/ 9986 3260 Ligue para agendar seu horário. Bairro São Francisco

Foto: Isabela Fausto

E aí, sacou a onda? Chute o balde! Crie seu próprio estilo, use brechó!



Foto: Isabela Fausto


Do Metá ao MetaL: dois discos, três elementos e uma imensidão sonora Juçara Marçal tem uma voz aveludada de extrema força e serenidade plena. Ela passa longe da característica estereotipada de uma diva, como diz Kiko Dinucci. Ele, por sua vez, é plural ao ponto de suas letras e suas músicas terem rendido diversas encomendas musicais e visuais pelo seu trabalho com gravuras. Logo, para arquitetar a sonoridade musical das letras de Kiko e a voz da Juçara, a tríade se fecha com o músico instrumental Thiago França. Juntos, eles possuem uma sintonia de entrega displicente no meio das artes. Isso se dá por diversos fatores. Estes sete anos de parceria resultaram em dois discos que estiveram presentes nas principais listas dos dez mais em todo o Brasil. Por: Lucas Cabaña

Foto: Divulgação

Do Metá Metá (2011) ao MetaL MetaL (2012), ambos os trabalhos estão permeados de singularidade. A voz e a avassaladora utilização de sons graves e densos são características notórias de diferenciação entre os dois discos. Fora do sistema mainstream, a tríade dos Metás desenvolveu por conta própria todo o sistema de divulgação. Os dois discos foram lançados pelo selo Desmonta e estão na rede para download. Aproveite e baixe os discos no nosso blog para ouvir após ler a entrevista exclusiva concedida ao Rato, em São Paulo.


O Rato: Quando eu ouvi o Metá Metá pela primeira vez, foi algo extasiante. Por diversas questões: pelas melodias, letras, pela relação com o candomblé e a forma como tudo se amarra. Esta experiência e o processo de construção do disco se deram de forma intuitiva ou improvisada?

Juçara Marçal: Sem expectativas. Fazemos o disco porque sentimos que há um repertório ali que precisa ser registrado, caso contrário, vai virar outra coisa. Porque é tudo muito móvel no que fazemos… É o desejo simples de ter um registro daquele momento, daquelas canções, daquela forma de tocá-las.

Kiko Dinucci: O resultado é fruto de muita vivência, troca de experiências e, sobretudo, por tocar inúmeras vezes ao vivo juntos.

Thiago França: A preocupação que a gente tem é a mesma de sempre: subir ao palco e tocar como se fosse a coisa mais importante do mundo, porque de fato é.

Juçara Marçal: O processo de trabalho seguiu o caminho das afinidades. As músicas, as pessoas que fazem parte da banda e a maneira de amarrar os arranjos seguem o caminho da afinidade. Conhecemos, gostamos, experimentamos músicas, as formações e arranjos. O que vai fazendo sentido pros nossos encontros e alimenta nossas buscas musicais, fica. Thiago França: A história começou por nossa vontade de tocar e de tocar junto. Não houve planejamento de discos, shows, carreira. Foi tudo muito espontâneo. Tanto no primeiro quanto no segundo disco, entramos no estúdio pra registrar as músicas que estávamos gostando de tocar. O Rato: Quando a referência do candomblé está na música, ela incorpora uma atmosfera muito particular, eu penso. Mas, intrinsecamente e poeticamente sem interferência do âmbito religioso, para vocês, quando a música é apenas letra, e quando a junção dos dois elementos se torna uma oração? Ou não há essa diferenciação? Kiko Dinucci: A referência do candomblé é estritamente religiosa. Praticamos o culto e estamos envolvidos com a liturgia yoruba. Não separamos nunca do universo religioso. Não citamos Orixá por achar legalzinho, cultuamos Orixá mesmo e isso envolve música, dança, culinária, oráculo, sacrifícios e etc. Juçara Marçal: É o que ela é. Inteira. Com tudo o que ela traz. Uma cantiga de um rito ou remetente a uma divindade. O Rato: Ano retrasado o Metá Metá esteve em diversas listas dos melhores discos do país. Embora o MetaL MetaL seja decorrente do primeiro disco. Existe, de certa forma, uma expectativa ou até mesmo uma preocupação de que o atual trabalho tenha a mesma repercussão do primeiro? Kiko Dinucci: Não temos expectativa porque não temos tempo pra isso. Fazemos e criamos vários shows. Os nossos discos são gravados ao vivo, com erros, sem correções e com uma merreca de dinheiro. A Expectativa realmente não cabe nesse ritmo de trabalho.

“A referência do candomblé é estritamente religiosa. Praticamos o culto e estamos envolvidos com a liturgia yoruba. Não separamos nunca do universo religioso. Não citamos Orixá por achar legalzinho” O Rato: Ouvindo os dois discos seguidamente (Metá Metá e MetaL MetaL), me soa que as letras no segundo disco ficam em segundo plano (estou certo ou errado?), e isso chega a ser um tanto óbvio, até pelo nome do álbum que já anuncia o que está por vir. Para vocês, quais são as principais distinções entre os dois discos? Kiko Dinucci: Sim. Ao contrário do primeiro, MetaL MetaL valoriza mais a sonoridade do que a letra da canção. E Juçara aparece mais como músicocriadora do que como porta voz de uma letra. Ela se comunica com os instrumentos, subverte o modelo de ‘cantar’ que as cantoras em geral seguem. Juçara é a anti-diva, preza sempre pela arte e criatividade. Juçara Marçal: Acho que é isso mesmo. O MetaL MetaL é mais pesado. No primeiro, vários arranjos deixavam a letra mais em relevo. Mas tudo o que está no MetaL já se anuncia no Metá. Assim como várias coisas do Metá já estavam em Padê. Isso sem falar em todas as relações que podemos encontrar entre MetaL e Marginals e Sambanzo, Na Boca dos Outros, Barca etc, etc e etc.

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Foto: Divulgação

Thiago França: Tirando o que é ululantemente óbvio, esse é um exercício que o ouvinte deve fazer. É mais legal deixar cada um tirar suas conclusões do que ficar direcionando o público a achar isso ou aquilo. Até porque, do ponto de vista da intenção e vontade de fazê-los, eles são iguais. O Rato: Tive a impressão, quando falei com o Dinucci pelo Facebook, que vocês são independentes de uma assessoria de imprensa. Isso facilita o processo? Digo isso porque, de certa forma, são vocês que selecionam para quem dão entrevistas, sendo vocês os empresários da banda. Dentro disso, compreendendo a forma como o mercado se desenvolve, a questão de mídia é uma preocupação latente para vocês? Kiko Dinucci: A assessoria é boa pra vários artistas, pra gente não é necessário. Chegamos em muitos canais em comum, revistas e jornais por conta própria e na maioria das vezes pelo próprio interesse dos jornalistas. Mas alcançamos os blogs, algo que a assessoria ainda não deu atenção, nos meios digitais. Os blogs tem muito mais voz do que a dita imprensa oficial. Temos também a oportunidade de selecionar melhor o material, não desgastar a nossa imagem. Revista de culinária falando de macarrão, coluna social, realmente não interessa. Nem à gente e nem ao nosso público. Está ótimo assim. Juçara Marçal: Nosso principal meio de divulgação é o nosso trânsito por conta do trabalho. Postamos no Facebook e vamos em frente. Thiago França: O lance é você estar à vontade com os seus processos. Vai da nossa personalidade. A gente gosta de estar em contato com isso. Tem / 18 - o rato /

artista que não curte. Não tem certo ou errado, não é juízo de valor. Cada um tem o seu jeito, mas a nossa grande preocupação é fazer música. Todo o resto é consequência. O Rato: O resultado do Metal Metal é teve início lá no Padê? Essa parceria entre vocês começou de que maneira? Kiko Dinucci: Padê é muito diferente do Metá como proposta e sonoridade, mas enxergo lá um embrião do nosso estilo na faixa Imitação, do compositor baiano Batatinha. Isso foi misturado à presença do Thiago e trocas de experiências durante três anos. Juçara Marçal: A parceria começou em 2005. Chamei o Kiko pra gente fazer um show de sambas, sem maiores preocupações. Já conhecia algumas canções dele e já as considerava muito inventivas. A afinidade nasceu ali e não parou mais. Amo cantar as músicas do Kiko. Tem um entendimento entre nós que é algo que nunca tinha vivenciado. E por isso, seguimos. Porque o entendimento continua e se propaga. Thiago França: Se você analisar mais profundamente, tudo o que você ouve te influencia. Desde as coisas que ouviu quando criança, até o som da semana passada que você encontrou sem querer no YouTube. O importante do encontro entre eu, Kiko e Juçara é o encontro do trio com as músicas que completam a banda. É que existe espaço pra toda e qualquer experimentação musical, pra cada um expor suas ideias, e o resultado é único. Acesse +EXTRA em www.orato.com.br e baixe os CDs do trio.


E se contorce igual a um dragãozinho ferido. Este livro tem frases tão visuais que dá até pra ver o dragãozinho literário Leprevost fazendo suas palavras soltarem labaredas. Você sente até o gosto do sal quando ele fala de Ipanema.

Apostando em imagens inusitadas, associações quase surreais e situações que beiram o inverossímil em alguns momentos, este jovem autor curitibano consegue driblar o que poderia descambar para apenas uma história de amor a mais. Esperto, nos entrega algo muito mais interessante: seu estilo pretensamente informal, mas carregado de implicações e sutilezas. A costura entre passado e presente, Curitiba e Rio de Janeiro, sempre em contraponto, é feita com habilidade. Uma pena que o autor quase derrape no melodrama quando as dores de cotovelo ameaçam azedar o romance do curitibano Júlio com a carioca Nanda, a ponto de diminuir um pouco nosso interesse inicial. Felizmente, a narrativa retoma sua força após o sumiço da mocinha. E as pitadas de humor certeiras garantem nossa diversão.

E se contorce igual a um dragãozinho ferido Luiz Felipe Leprevost Arte & Letra – Livraria e Editora 120 pags.

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O São Francisco dos poetas Batista de Pilar escreve para quem é cidadão do mundo, e expressa sem esforço sua maior virtude: a simplicidade

João Antônio Batista Nasceu em Dois Vizinhos, de Pilar declamou em 1960, e se descobriu Mesmo que a vítima adormeça este poema enquanto poeta durante o primeiro A corda enlace o pescoço caminhava pelo bairro grau. Uma apresentação São Francisco. Ele tem de teatro no dia da árvore, A voz se perca no grito uma mania gostosa em que representava E o circo desapareça... de declamar poesia um guatambu, rendeuno meio da conversa, lhe a oportunidade de Ainda haverá espetáculo. como se fosse parte criar os primeiros versos, do que ele tem a dizer. preservados na memória. Em vez de contar como “Nas mãos sempre crio criou “o poema da calos / direitos como Clarice” (oficialmente bambu / ajudo a rasgar intitulado “O mundo os valos / o meu nome é mudo fala”), soltou os versos com aquela voz de guatambu”, recita. declamador, que faz a poesia parecer um teatro e Não ter emprego fixo, nem carteira assinada, não extrapola as palavras, criando um cenário quase faz de Batista um tipo à toa. Encontrar-se com vivo no imaginário de quem ouve. “Esse poema é ele demanda hora rigorosamente marcada, já demais de lindo, né? A vida é bem assim, muda tudo que o poeta vive por todos os cantos, vendendo de uma hora pra outra”. camisetas, agendas artísticas, cumprimentando Poeta de rua, ex-garçom, ex-chapeiro e eterno velhos conhecidos e executando seus projetos. boêmio da cidade, Batista é desses que conhecem Agora aguarda a aprovação de um projeto inscrito todos os botecos e todos os outros boêmios. Com no Mecenato, com cuja verba deve realizar 80 seis livros publicados, fala da poesia com carinho oficinas de poesia pelo Paraná e produzir, para de pai. “Escrever é uma viagem”, define. venda, mil bolsas com ilustração da desenhista Rita Solieri Brandt. / 20 - o rato /

Foto: Carolina Goetten

Por Carolina Goetten


minha poesia, podem fazer o que quiserem”.

Deusa andarilha A palavra caminha não tem morada certa chega de surpresa quando está de partida recém é descoberta.

O poeta mantinha um bar na Alameda Cabral – o café Bartista –, onde reunia os colegas. “Já teve muito evento por lá. Vinham todos os meus amigos, a gente fazia música, feijoada e declamava poesia”, conta o poeta. Agora, um cartaz com anúncio de “Vende-se este ponto”, em frente à porta do Bartista, sinaliza a dificuldade para manter o bar em meio às despesas e tarefas. Um dos projetos envolve declamação, que para Batista é tão prazerosa quanto escrever. “No palco, e mesmo que o palco seja a rua, eu simplesmente subo e declamo. Não importa se há duas mil, quinhentas ou três pessoas assistindo. Tem que ter a mesma postura”, ensina. Experiente, dispensa a preparação ou rituais prévios. “A gente é poeta de rua. Não tem que se preparar”. Numa apresentação com o multiartista curitibano João Gilberto Tatára, já enfrentou problemas com o aparelho de som, mas Batista parece ser imune a imprevistos. “Eu falei pro Tatára: ‘improvisa aí, você é puta véia’. E a gente improvisou, ficou tão bonito. Tem que ser assim”, lembra. Batista tem muita vida para conseguir contar tudo em uma, duas ou três conversas. “Não pergunta nada pra ele, que ele vai te enganar. Se quiser saber umas verdades sobre o Batista, tem que perguntar pra mim”, cutuca o garçom, enquanto troca o copinho americano do amigo poeta por outro, três vezes maior. “Não gosto de copo pequeno”, justifica, servindo a cerveja. Valoriza os amigos com o valor que dá à própria vida; conheceu Helena Kolody e Paulo Leminski. Interrompe a toda hora o caminho para cumprimentar donas de brechós e feirantes da José Bonifácio. “Os artistas de rua se conhecem e se ajudam. Esses dias uns amigos fizeram uma música sobre mim. Eu fingi que fiquei brabo, disse que deveriam ter me mostrado antes – vai que eu não gosto? Depois dei risada. Com a

O quartinho modesto na Rua Paula Gomes, as refeições com prato feito e o jeito sincero de conversar só confirmam que Batista é um cara genuinamente simples. “Eu sou poeta pobre. Poeta rico era o Vinícius de Morais”. Afasta a poesia de aspecto literário-elitista e escreve para os operários, os bêbados e os vagabundos, para os cachorros e vendedores ambulantes, para quem vive feliz apesar da tristeza. É o poeta de quem conhece a intensidade da vida e traz no olhar a cara de hoje, do tamanho do futuro que ainda existe depois que o mundo muda todo. Cada um de seus seis livros são os filhos que nunca teve. “Mas eu queria arranjar uma mulher pra mim”, conta. “Pode até estar numa camisa de força, que eu não me importo, mas eu tenho algumas exigências”. Para conquistá-lo, uma mulher deve atender a três requisitos: Tem que ser caprichosa, tem que gostar de poesia, e tem que amar o Batista de Pilar. Simples assim.

O mundo mudou muito desde ontem às seis horas da tarde. Meu vizinho comprou um carro Madalena foi pro convento Pedro José morreu enforcado. Aumentaram várias tarifas usuais diárias o rádio transmite futebol ainda se fala de política. Vamos Clarice! não me olhe com esta cara de ontem.

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Carnaval lado A Desde que o samba é samba, o carnaval, de longe não se remete à cultura curitibana. Mas essa é uma característica para quem observa de fora. Porque a cultura envolta do festerê durante o mês de janeiro e fevereiro rola solta por todos os cantos da cidade.

Foto: Julio Garrido

Por Lucas Cabaña

Tem o famoso pré-carnaval comandado pelo bloco Garibaldis e Sacis, passando pelos bailinhos nos bairros da cidade, até os tradicionais bailes em clubes. E ainda há a opção para os foliões alternativos que podem curtir o Psycho Carnival e a passeata do Zombie Walk. Porém, nesse fuzuê carnavalesco, as escolas de samba de Curitiba ainda vivem reféns da municipalidade. O descaso do poder público e a estrutura desadequada para o desfile em si deixam as escolas à sombra no colorido do nosso carnaval. Em 2004, por exemplo, os recursos liberados para as escolas de Curitiba foram de aproximadamente

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R$140 mil. No ano seguinte, o investimento foi inferior, com uma redução de 20% no orçamento (R$112 mil). Enquanto isso, uma única escola de samba de São Paulo recebe em torno de R$ 1 milhão para realizar o desfile. Neste âmbito cultural, Curitiba é uma capital onde, desde o século XIX, a festa é realizada todos os anos. Em 2013, outra tradição se confirmou: houve novamente o habitual atraso do repasse financeiro para as escolas. “A gente teve um problema sério com o atraso da verba. Tivemos que remodelar todo o projeto”, ressalta a presidente da escola de samba Acadêmicos da Realeza, Barbara Murden. Além disso, a escola, que prestou uma homenagem ao


antigo fundador, Fernando Lamarão, finalizou a montagem dos carros alegóricos no próprio local de concentração para o desfile. “A fiação da luz não permite que a gente chegue com o carro montado na avenida. É uma loucura”.

Perspectivas para 2014? Ainda há muito para avançar e consolidar o carnaval sem nenhum contratempo estrutural. Mas a cidade não deixa a desejar. Neste ano, o desfile das escolas reuniu aproximadamente 5 mil pessoas. Porém, ainda não há um respaldo adequado para os espectadores após os desfiles. Muitos dependem de ônibus para poder voltar para seus bairros e ficam madrugada adentro à espera do transporte.

Foto: Julio Garrido

Todas as escolas da cidade passaram pela mesma situação em relação ao repasse. Embora essa situação ocorra desde outros carnavais, esse fato influencia, naturalmente, na pontuação. Pois, muitas vezes, as agremiações fazem a remodelagem de suas alegorias apenas um mês antes do carnaval. “A gente teve que se adaptar à realidade dos fatos. Não é a primeira vez que a gente passa por um aperto desses. Então, diminuímos um pouco a nossa ambição sobre a quantidade de componentes. Tivemos que buscar soluções para o carro, porque queríamos quatro carros e utilizamos três. Corremos atrás do prejuízo”, desabafa o presidente da escola de samba Embaixadores da Alegria, Alberto Neumann.

“Curitiba é uma capital que tem como referência os poloneses, ucranianos e italianos. Por isso não tem muito essa tradição do carnaval. Mas a metade da população gosta. Se fizermos uma comparação com o sambódromo do Rio de Janeiro, lá eles têm 900 m2 e cabem 70 mil pessoas. Aqui nós temos 180 m2 e no carnaval de 2012 havia mais de 20 mil pessoas. Se você fizer a proporção, o povo gosta de carnaval!”, afirma orgulhosamente o presidente da escola de samba Leões da Mocidade, Vilmar Alves.

Foto: Alice Rodrigues/FCC

Nas últimas semanas, se falou muito sobre a construção de um sambódromo em Curitiba. Mas na verdade, se trata de um centro cultural que abrigaria os carros e alegorias das escolas. Para Vilmar Alves, o espaço impulsionaria o desenvolvimento técnico de cada agremiação. “Isso facilitaria muito. Porque poderíamos guardar os carros alegóricos e todo o material. Seria ótimo, principalmente para a cultura de Curitiba, não apenas para o carnaval. No Rio Grande do Sul eles têm essa cultura muito grande e o paranaense não tem essa tradição. E muita gente vem pra cá, por ser uma cidade atrativa”, incita. Contudo, as opiniões divergem nesta questão. Bárbara Murden acredita que a prefeitura poderia ceder alguns dos espaços abandonados da cidade para as escolas utilizarem como sede de produção. “Eu acho que o sambódromo é o último passo desse processo todo. Não tem o menor cabimento um sambódromo em Curitiba sem uma estrutura profissional. E sozinhos nós não conseguiríamos ter essa estrutura se a prefeitura não nos ajudar. Construir um sambódromo é jogar dinheiro fora”, pressupõe. / o rato - 23 /


Além dessas possibilidades, outra opção para as escolas não ficarem à mercê da municipalidade no próximo ano será a busca de recursos com patrocínio da iniciativa privada. A lei sancionada em novembro de 2012 poderá ser regulamentada pela

Fundação Cultural. Com essa viabilidade, as agremiações não chegariam ao ponto de um possível endividamento, como a Leões da Mocidade. “A coisa ficou mais difícil. Tivemos que fazer um financiamento no banco e nos ajustamos. Mas isso é reflexo da edição anterior, porque era para eles terem entregado o dinheiro em agosto. E a documentação toda mudou”, explica. Contudo, problemas à parte, todo o trabalho apresentado na avenida mostra o quanto cada escola faz com o amor o seu samba e o trabalho com a sua comunidade. Em 2014, se tudo caminhar conforme a dança, o carnaval em Curitiba começará a impulsionar os próprios cidadãos a ficar na cidade, ao invés de fugir para o litoral paranaense.

Foto: Julio Garrido

“Eu acho que o carnaval de Curitiba desse ano mostra, mais uma vez, que existe e é forte. É feito por uma porção de pessoas que não desistem, porque é a maior festa popular. E queiram ou não, é contra a própria cultura de Curitiba essa ideia de não ter carnaval. Mas tem, sim! E não vai ter nada que faça a gente desistir”, instiga Bárbara, presidente da escola Acadêmicos da Realeza, a grande bicampeã do carnaval 2013.

“Estou na luta para criar as parcerias do bem. Convidei a companhia de ballet Jair Moraes para a comissão de frente (nota máxima), a Perverts de cenografia especial e também o premiadíssimo grupo teatral Ave Lola, entre outras pessoas incríveis. Todos esses artistas têm nos “adotado” de forma especial. Não queremos ser o Rio de Janeiro, muito menos São Paulo. Nosso carnaval é único e diferente, seria loucura fazer comparações. Em Curitiba, as famílias tradicionais do carnaval seguram a festa há mais de cinquenta anos, mesmo com o descrédito do poder público. Mas finalmente, o desfile se fortalece a cada ano como a maior manifestação de arte popular na cidade. Une do gari ao médico em uma sintonia mágica”, conta Felipe Guerra, arquiteto e carnavalesco responsável pelas alegorias de frente da Acadêmicos da Realeza. Felipe está há dois anos na equipe, e há seis meses vinha trabalhando para chegar ao resultado final que somou ao sucesso da Escola na avenida. As duas ilustrações são de sua autoria. / 24 - o rato /


Carnaval lado B Quando o rock caipira, chamado de hillbilly por conta da sua pegada country-folk acelerada, deu as caras nos anos 50, jovens do mundo todo se embalaram ao som dos slap-blacks dos contrabaixos e finger-pickings das guitarras acústicas. Chuck Berry, Jerry Lee Lewis, Johnny Cash e tantos outros que influenciaram o nascimento dos movimentos rockabilly e psychobilly, jamais imaginariam que essa música sairia do Tenessee para desembarcar em Curitiba, onde deu origem ao maior carnaval rock’n’roll do planeta. Por Isabela Fausto

Há 14 anos, Vlad Urban, músico da banda Sick Sick Sinners, deve ter ficado muito puto, de saco cheio mesmo do sambão globeleza. Tanto que resolveu encarar uma bagunça mais da pesada: reuniu amigos e simpatizantes para celebrar a existência da música psychobilly. A onda pegou legal e, hoje, não há mais como separar carnaval, Curitiba e Zombie Walk de Psycho Carnival. Vlad precisou ralar muito para que o Psycho Carnival chegasse onde chegou. Sozinho, sem verdinhas do município e com ajuda apenas dos parceiros, esteve na correria durante todos esses anos, garantindo a felicidade geral dos rockers e dos beberrões que não tinham onde cair mortos na data festiva.

“O psychobilly não é um estilo de música que aparece na TV, não é uma cena comercializada. Pra você conhecer, tem que estar muito dentro do underground. Você tem que ter passado por um punk rock, um heavy metal, até descobrir o que é o psychobilly. E como a cena é pequena no Brasil e em todo mundo, quando rolam esses festivais e encontros, o pessoal viaja e veste a camisa mesmo”, conta Vlad.

Foto: Ricardo Borges

Em 2013, Vlad e sua equipe conseguiram trazer oito bandas internacionais para o festival. Sendo que 50% do público vem de outras cidades e até de outros países. Além disso, abre espaço para bandas locais e nacionais. Resgata e reafirma a existência do movimento psychobilly. Nesses 14 anos, Curitiba esteve ainda mais rock’n’roll e deveríamos ter orgulho de abrigar um evento como esse, conhecido internacionalmente.


Foto: Leandro Aislan

O Rato: Como funcionam as escolhas das bandas? Vocês abrem inscrições ou são os próprios organizadores que definem o line up do evento? Vlad: Então, a gente faz uma curadoria. Não é um festival aberto para qualquer banda se inscrever. Vemos quais delas estão mais ativas, quais bandas internacionais são possíveis e que tenham equipamentos interessantes para o festival trazer. A gente procura fazer um line up interessante para a cena e que traga público. Porque tem toda a questão comercial do evento. Ele não é totalmente patrocinado. Conta principalmente com a quantidade de ingressos vendidos. Quem paga o festival não é o município, nem os patrocinadores, é a “porta”, o nosso público. O Rato: Como é o apoio da prefeitura ao Psycho Carnival. Rola verba, divulgação?

Foto: Leandro Aislan

Vlad: Hoje, graças a Deus, depois de tanto tempo se fodendo, o município está vendo o Psycho como uma coisa legal. Afinal, são 14 anos trazendo cultura pra cidade e colocando o nome dela em evidência. São 14 anos movimentando o setor

Curitiba foi assustadoramente invadida por mais 6 mil zombies em 2013 durante a Zombie Walk. É, Walking Dead que se cuide... / 26 - o rato /

hoteleiro e comercial da região. A gente recebe pessoas do Brasil inteiro e agora está chegando público de outros países pra participar do festival. Então, o município viu, nessa última gestão, essa importância. Também o vereador Stica já tinha de algum jeito apoiado, no ano anterior. Esse ano, mesmo com o rombo na prefeitura, eles estão de certa forma apoiando na divulgação. A Fundação Cultural está de parabéns por ter percebido a relevância do festival. Porque fazer sempre na unha, sempre no pêlo, chega uma hora que o cansaço pega... E poxa, a gente tá mexendo com cultura. São oito bandas internacionais vindo. As bandas curitibanas estão indo viajar. As Diabatz e o Sick Sick Sinners fizeram turnê internacional e o Hillbilly tá indo agora também. A gente percebe que, pras bandas, o festival funciona como um farol, sinalizando que a cena está ativa, que as bandas estão circulando. Sabem que poderão ou não tocar no festival, mas que a cena delas está sendo bem representada. É quase um timão pra eles. O Rato: O Psycho Carnival chegou a ter alguma “invasão” da polícia, como ocorreu no desconfortável episódio durante a apresentação dos foliões do Garibaldis e Sacis? Vlad: Nunca rolou, nem na Zombie Walk que une bastante gente. O Garibaldis tem essa coisa de ficar ali, descendo e subindo por longas horas no Largo. A Zombie Walk é quase como uma peregrinação. Tem início e fim. E são dois perfis diferentes de evento. É completamente compreensível que essa ação policial aconteça durante o Garibaldis. O que é uma pena, porque eles são muito bons, ainda mais porque resgatam a festa carnavalesca em Curitiba também. Entendo e é normal, sendo uma festa ao ar livre durante tantas horas. O que acontece é que a policia tem que estar mais preparada pra receber essa demanda de público. E essa é uma questão organizacional do município, de ter um diálogo com o pessoal pra todos curtirem a festa numa boa. Sabe, todos os envolvidos tem que estar cientes


do que está acontecendo. Porque é bacana pra caramba, as pessoas estão voltando pra rua, saindo de casa. O Rato: E com relação à Zombie Walk, o evento nasceu junto com o festival ou é uma espécie de filho bastardo? (risos)

O Rato: Quais são os lugares de encontro desse pessoal aqui na cidade?

Foto: Ricardo Borges

Vlad: Mais ou menos isso. Quem organiza mesmo a Zombie Walk é o Doca e a Flávia. Então, o evento não nasceu junto com o Psycho. Faz cinco anos que ela existe. Se a gente quisesse chamá-la de filho bastardo, diria que é um filho bastardo prodígio, que deu muito certo. É muito legal porque a família curitibana gostou. A moçada adora, vai a família inteira: a mãe, o pai, os filhos e até o cachorro vestido de zombie. É muito bacana esse diálogo, essa identificação de Curitiba com a Zombie Walk.

época efervescente da humanidade como um todo. E é um primeiro momento de uma época tão terrível que foi a escravidão. Na cultura americana, tão gigante, influenciando todo mundo, os negros e os brancos começam a se juntar pra fazer música. Isso é uma representação muito bonita, dessa passagem contra a escravidão, com mais liberdade, contra o status quo, com a rebeldia. O rockabilly tem muito dessa pegada e o psycho é ainda mais rebelde. Porque ele desafia o rockabilly quadrado, do punk rock. O psycho tá falando que não é só isso. Tem que ter o punk, mas tem que ter o metal também. É um cara mais avançado, e é por isso que vive até hoje. Por ser mais atual, ele conversa com todas as vertentes.

E não deixa de ser carnaval, porque é um bloco, só que com uma trilha sonora diferente. É um momento em que as pessoas saem da sua realidade e entram na fantasia mesmo. E a Zombie Walk tá crescendo, daqui a pouco vai ter até carro alegórico também. O Rato: Como você vê o movimento rockabilly e psychobilly aqui dentro da cidade, e a importância das características desse movimento? Vlad: O psychobilly tem um pouco dessa coisa lúdica da Zombie Walk, que é o que mais aproxima os dois. O psycho é uma arte por si só, das pessoas se identificarem com a música, com o estilo de vida e a rebeldia que ele representa. Tem um pouco do punk rock e um pouco do rockabilly. O rockabilly sempre foi uma música muito de protesto, numa

Vlad: O Lado B é um dos pontos, o Chinasky, o Linu’s, por aí. Os lugares que a gente toca são o próprio Lado B, o Jokers e o 92GRAUS. É uma cena bem underground, apesar de Curitiba ter o Psycho Carnival, ela ainda é escondida. Se você abrir uma Rolling Stone, não vai encontrar matérias sobre o movimento, sobre as bandas de psycho. Não é algo que está na mídia. Por exemplo, os Ovos Presley estão tocando por todo o Brasil, os Kráppulas estão lançando CD... O que falta é alguém estar documentando isso, discutindo. Por isso que eu dou o maior apoio para o Rato. Até tentei fazer uma revista um tempo atrás. Sabe, uma entrevista, um artigo, é algo fundamental pra cena poder se encontrar, poder se ver e se enxergar. Saber o que está acontecendo.

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O Artesanato morreu. Viva o Artesanato! O rumor se espalhou e o Rato, curioso que só, investigou Por Priscilla Scurupa www.domingonolargo.com.br

O fato é que a notícia era mesmo alarmante. Algum louco ou profeta (nunca se sabe, na Feirinha tem de todo tipo), havia espalhado por lá que o Artesanato tinha batido a caçoleta, juntado as canelas, dado o último suspiro, vestido o paletó de madeira... Enfim, morrido. Para a maioria dos feirantes, era como perder um filho, um membro da família ao qual, até então, dedicavam suas vidas para manter vivo, saudável e, com certas dificuldades, forte o suficiente para encarar um inimigo invisível que cada vez mais parecia ser o algoz da atrocidade: a tal Globalização. O Rato sabia de quem eles estavam falando e a danada tinha mesmo um histórico suspeito. Já havia sido acusada de causar desigualdades sociais, padronizar culturas e massificar indivíduos. Dizem até que feriu seriamente uma das moças mais bonitas que pelas ruas e becos circula, a Diversidade Cultural. Quem a defendeu, contam, foi um grupo chamado / 28 - o rato /

Comunidade Local que, com muitas ideias na cabeça, habilidade de integração e respeito às tradições, derrotou a malfeitora. “Pois eu confirmo que o artesanato não morreu e isso tudo foi plano mal sucedido da Globalização para derrotá-lo”, revelou um feirante que preferiu não ser identificado. “O sujeito é forte demais, e dele muita gente depende para sobreviver. É um saberfazer único, que existe há séculos, e jamais morrerá. Sua preservação é feita por homens e mulheres comprometidos em transmitir para as gerações futuras os ritos, crenças e técnicas que são símbolos de suas culturas”, acrescentou. Essa turma toda, ele

Foto: Priscilla Scurupa

Dias atrás, o Rato foi convidado a investigar um boato que corria solto pela Feirinha do Largo. Disfarçado e dotado de sua vocação para reunir informações sobre os bastidores do que rola em Curitiba, o roedor foi ao local em busca de depoimentos. “Quem me contou foi um cara lá de baixo”, dizia um feirante, enquanto era rodeado por curiosos afoitos por saber do que se tratava aquele bafafá todo. “Nada disso, foi um gringo que trouxe a notícia de além-mar”, vociferava outro, “e dessa gente de primeiro mundo não se duvida!”, apoiava o colega ao lado.

explicou, também são os heróis que constituem a resistente Comunidade Local. Elementar, meu caro feirante. E O Rato ainda diz mais sobre esse sujeito imprescindível que é o Artesanato. Agregado a este valor cultural da atividade, há também


um viés econômico, com impacto crescente na inclusão social, geração de trabalho e renda, e potencialização de vocações regionais. A carga simbólica do Artesanato é tão significativa quanto a da arte. A diferença entre uma coisa e outra se dá na forma de apropriação da cultura. Ao Artesanato, cabe a função utilitária do fazer manual, de transformar matérias primas em objetos comercializáveis, de preservar tradições pela repetição de técnicas vindas dos nossos antepassados. Ou seja, o Artesanato materializa a cultura. E, justamente por se tornar produto, sobrevive às investidas da Globalização. Isso enquanto soubermos valorizar e entender que, além de funcionais, os objetos artesanais carregam em si identidade, signos e símbolos de um local.

“Sua preservação é feita por homens e mulheres comprometidos em transmitir para as gerações futuras os ritos, crenças e técnicas que são símbolos de suas culturas”

Pessoal da Feirinha, o Rato garante: podem ficar tranquilos! Enquanto houver vocês, haverá Artesanato. E cá entre nós, a Globalização, com seus produtos inexpressivos e sempre iguais, bem que merecia umas aulas de criatividade com vocês.

Não tem como perder o Seu Antônio Leal, da barraca de móveis em madeira, no meio da multidão de pessoas na Feira do Largo: ele tem uma cabeleira cacheada e sempre usa um jaleco de cor azul-caneta-bic. Seus produtos são dispostos de maneira igualmente descontraída: com bancos, mesinhas, chapeleiras e baús uns em cima dos outros.

Fotos: Priscilla Scurupa

A marcenaria criativa do Seu Antônio

Para começar, Seu Antônio é um marceneiro que nunca foi à madeireira. Se dependesse dele, nenhuma árvore seria derrubada. Tudo o que ele comercializa vem de pedaços de madeira daqui e dali, de um ou outro canto da cidade. Ele resgata caixas abandonadas na rua, dá um lar para móveis quebrados que ninguém mais quer. Não sem antes dar uma boa reformada no material, claro. Mas o estilo é aquele mesmo: rústico, com todo o charme da imperfeição.

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No Rolê Graffiti e Muita Prosa Prosa: série de palavras dispostas sem obediência ao método nem a rima. Lábia; palavreado. O mais vulgar, o mais ordinário. Por Matheus Dumsch Para o grafiteiro curitibano que leva esse nome, não há explicações no dicionário. Mas bem que poderia. Quem é ele? O que ele faz? Conheça um pouco mais sobre o autor da conhecida frase “Cadê o nosso metrô?”. O primeiro contato entre o Prosa e o graffiti foi em 1999, durante um evento que aconteceu no bairro Olaria, divisa entre o Santa Cândida e Colombo. Lá, ganhou de seu primo a sua primeira lata de spray. “A lata não tinha bico e eu decidi pôr um prego na ponta. Na hora em que apertei saiu um jato de tinta azul que manchou todo o meu CD dos Mamonas Assassinas”. Mesmo com esse brutal e traumatizante acidente, Prosa continuou fascinado por graffiti e pixação. “Eu saía de carro com a minha coroa e ficava olhando os tags nos muros. Eu tinha muita vontade de ver o meu nome junto com o dos caras”. Foi no colégio Zacarias que Prosa conheceu seus primeiros parceiros de rolê: Pulga Fit e Note. “Fiquei bem amigo do Pulga e com ele comecei a sair mesmo para o rolê. O Fit, irmão do cara, já fazia uns bombes nas ruas. Foi aí que comecei a fazer thraw-up”. A partir daí, Prosa nunca mais parou. Hoje, seus trampos estão espalhados por toda a cidade, e até mesmo fora de Curitiba.

O Rato: Prosa, mano véi, o que leva você a pintar? Prosa: Cara, eu não sei. Graffiti pra mim é um vicio, é uma droga pesada, eu não consigo viver sem. Eu não ligo se alguém vai ver meu trampo, se vão apagar ou se ele vai durar. Não ligo mais para o Ibope. Hoje só penso em pintar, em fazer. É uma realização minha. Na hora que eu tô ali, fazendo, sinto quase um orgasmo. É uma realização da minha alma, algo visceral mesmo, nada se compara. / 30 - o rato /

O Rato : E como é a sua atuação nas ruas? Você pinta em muros autorizados ou parte para o vandalismo? Prosa: Mano, graffiti pra mim é vandal. Se for autorizado é pintura artística. Tem gente que me critica por isso, mas pra mim graffiti tem que ser igual a sua raiz. Os caras pintavam metrô e não pediam autorização de ninguém. Claro que tem exceções: se um cara vem pedir para eu pintar a casa dele,


eu pinto. Mas não vou bater palminha na porta de ninguém pedindo muro. O Rato: Por qual motivo você prefere o graffiti vandal? Prosa: Graffiti vandal pra mim tem emoção, tem graça, tem adrenalina. Quanto mais difícil, melhor. Quanto mais câmera, melhor. Você se disfarça e pinta de boa. Rola pintar qualquer muro nessa cidade. Eu chego com um jaleco sujo de tinta em um casarão abandonado, vou ali pintando de boa, depois faço o contorno em três minutos e tá pronto. Não dá tempo de os caras perceberem que você está fazendo um trampo. O cara vai achar que você é pintor ou artista, sei lá o que. O Rato: Então você se apropria de todo e qualquer lugar? Sai pra pintar na louca? Prosa: Não é bem assim. Eu me planejo antes de fazer um trampo. Todas as vezes que eu saí na louca, deu merda. Você tem que estar ciente do que está fazendo. Tem que saber onde você está se enfiando e usar da estratégia. No graffiti, você tem que encontrar a sua chave, para dominar a cidade, sem essa chave a cidade te domina. Hoje, meu rolê é mais pico abandonado. Eu não pixo mais a casa de ninguém. Pode ver que não tem tag meu por aí. Não curto mais pintar a casa dos outros. Tive minha época, curti, acho massa, mas não é mais pra mim. O Rato: E o que são essas suas frases? O que você quer passar com elas?

Prosa: Eu procuro ter conteúdo nos meus bombes. Passar uma informação ou uma indignação minha, sabe? Não quero só escrever meu nome no muro. Eu acho que no Brasil existe muita promessa e pouca ação. O Brasil não mete a cara. O povo não se toca. A galera aqui é acomodada. Essas minhas frases estão ai para mostrar minha insatisfação com esse governo de bosta. Os caras só pensam no bolso. Cara, você acreditou no Lula? Ele gastou milhões no cartão de crédito que o governo paga. Pra mim esse lance de eleição é lorota, todo mundo vota e não muda bosta nenhuma. Só tem canalha lá dentro. O cara pode entrar bom, com a ideia de ajudar a sociedade; quando vê, já está fazendo parte do esquema. O Rato: Como você cria os seus bombes? Prosa: Eu curto criação, eu não paro, desenho 24 horas por dia. Sento na praça e começo a desenhar. Do nada, eu vejo uma estampa de uma camiseta e penso em um S. No trabalho, às vezes eu fico olhando pra parede e, de repente, penso numa letra. Já jogo no papel para não esquecer. Sou fissurado em letras. Sempre estou me renovando. Tenho minha crew BPodre, e participo também da grife de throw upeitors caligrafia afiada. Meu foco é nas letras, letra me fascina. O Rap é a palavra cantada e o graffiti é a palavra escrita. Por isso gosto das letras.

Não existem dúvidas de que muitos grafiteiros utilizam a cidade para se expressar. Por mais que às vezes os graffitis sejam intimidadores, por trás desses desenhos sempre existe uma mensagem. Nem que seja apenas um grito de “eu existo”, uma afirmação da existência de alguém. Essas manifestações estão nas ruas, não temos como fugir delas. Então é melhor entendê-las, e para isso precisamos afinar nosso olhar para o que a rua quer nos dizer. Só assim iremos captar as mensagens dessa “prosa urbana”. A cidade pulsa e fala com você. Esteja atento, mano!

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João Francisco Paes Um artista de muitas faces

Quando cheguei para entrevistar João Francisco Paes o cara estava encharcado. Tinha acabado de pegar uma daquelas chuvas tropicais com sua magrela no caminho. Quando sentamos para um café no seu estúdio, comentou: Por Isabela Fausto / 32 - o rato /


“Arte tem que dar tapa na cara, tem que ser provocativa. Criar é uma maravilha, em todas as áreas possíveis!”

“Ahá, agora você vai escrever que me viu secando as meias no ventilador, andando descalço, secando o cabelo, que sou um cara humilde...” E não é? Chico não tem medo de mostrar seu trabalho. Muito menos de se arriscar. João Francisco Paes não é curitibano, mas é morador de longa data. Deixou a família no interior de São Paulo para estudar Gravura na Faculdade de Música e Belas Artes do Paraná. Mas, não para por aí. Ele é um artista nato. Compositor e músico 24h por dia, trabalha criando animações – inclusive suas respectivas trilhas sonoras - no estúdio Peixes Delirantes. Vive no meio de artigos miúdos de artesão: cola, borracha, tecidos e ferramentas. Maquetes e bonecos ganham vida e movimento em suas mãos. Quem se ligou nas animações da RPC durante o Natal e o Ano Novo, conferiu um exemplo do trabalho minucioso que ele realiza com seus colegas. Nosso amigo tem uma pegada artística efervescente. “Arte tem que dar tapa na cara, tem que ser provocativa. Criar é uma maravilha, em todas as áreas possíveis. Para mim é assim. Gosto muito de criar, essa é a verdade!”, diz. Suas letras são cheias de metáforas e outras brincadeiras linguísticas. Falam de amor, especialmente. Mas procuram fugir da poesia pop, incluindo em seu trabalho elementos da rotina curitibana, do corre-corre, do tempo. DÊ UM PLAY EM: Cíclica, Xaxim, Já Deu, Rosinha e Colombo CIC Catedral.

Fotos: Rosano Mauro Jr.

“Bolhas pelo ar, fuma devagar, tosse por querer, é pra aumentar a sensação. É, pode crer. Folha de enrolar-te feito fumo novo, nova planta a crescer. E se arrancar, volta a crescer? Volta a querer ser ou querer outro ser? Ser outro...” Letra de Cíclica. Há quem diga que nessa, unzinho ficou no ar... www.soundcloud.com/joaofranciscopaes

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Fotos: Rosano Mauro Jr.

Também criou a chamada Gravura de Guerrilha. Afinal, Chico é uma espécie de Rato. A rua é seu laboratório. É lá que ele faz contato direto com a nossa realidade mais dura ou mais sensível. Leva seu material, suas ferramentas, deixa a inspiração cotidiana chegar e manda brasa. Quando o Rato tentou acompanhar uma dessas missões litográficas, lá no MON, durante a LAB MODA - Chico aceitou a proposta de guerrilhar durante o evento –, nos deparamos com uma entrance de 3 pilas (algo assim). Mas estava com o bolso furado e esperava um evento gratuito. Infelizmente, teve que cair fora. Ainda assim conseguiu uma palhinha do que foi feito por lá. Suponho eu, que essas sejam as nossas madames curitibanas... Saca só:

“A maioria dos alunos, durante a faculdade, escolhia as técnicas mais fáceis da gravura, como a xilogravura. Eu era do tipo que enchia o saco dos professores, queria ir pelo lado mais difícil. Queria trabalhar em cima da litografia, que é a técnica mais utilizada por mim hoje. Gosto de trabalhar com coisas grandes, blocos de calcário. Mas, lá em casa uso placas de metal, para suprir a falta de pedras”. Algumas de suas obras podem ser conferidas e compradas na galeria de arte virtual Underprint (www.underprint.com.br). / 34 - o rato /


Fotos: Rosano Mauro Jr.

“Pedra e cimento, história e matéria, nada digital, nada virtual...” – Paes comenta sobre sua exposição “Muro das Lamentações” no Facebook.

O Rato: Você está diariamente migrando entre as gravuras, as animações, os escritos... Principalmente no trabalho. E o lado músico? Em que hora ele aparece mais no seu dia a dia? JF Paes: O tempo todo. Eu penso cantando! É isso que realmente sei fazer, o resto é sobrevivência! O Rato: Sobre as suas composições: o lance é a eterna procura pela Marília de Dirceu? Sofre, ama e não desiste? (risos) JF Paes: Creio que sofrer por algo ou alguém seja, sim, uma das temáticas que desenvolvo dentro da música. As relações humanas entre casais, separações, essas coisas. Tento realmente fazer disso apenas uma atividade natural, e realmente é assim que ela se dá. O Rato: Gosto de assistir aos seus vídeos mais “caseiros” no Youtube. A impressão é de que tudo aquilo saiu há pouco. Rola isso, de a ideia vir e, no meio daquela ansiedade toda, aproveitar para subir um vídeo? JF Paes: Geralmente esses vídeos são colocados para os amigos que gostam da canção, ou por vezes apenas para mostrar certa música nova ou algo do gênero. É como um duto que pode ser visto por aqueles que gostam. Isso certamente é muito bacana de fazer!

O Rato: Como você vê o espaço e o incentivo que a cidade e o governo dão para expor os trabalhos dos artistas? A Fundação Cultural faltou com a verba na cultura em 2012. A responsabilidade ficou para a pra gestão atual. Pelo que entendi, o seu primeiro álbum será lançado pela própria Lei do Mecenato. Você se prende a essas questões políticas ou chuta o balde e segue adiante? JF Paes: Olha, eu nunca dei bola para essas Leis de Incentivo. Esta é a primeira vez que mando um projeto. Mas não julgo ser um bom mecanismo. Não pela impossibilidade de movimentar e realmente fazer algo pela sociedade, mas pela forma com que o sistema em si é organizado. Acho que as formalidades excessivas prejudicam no momento de analisar certo trabalho ou artista, ou qualquer coisa que seja. Afinal, como julgar a arte? Como dizer realmente que certo trabalho tem mais mérito que outro? Difícil dizer... Além do trabalho solo, Chico está junto com Carol Pisco e Biel Carpenter em um novo projeto musical: a “tupi” Eletroveracruz. Guarde esse nome, vocês ainda vão ouvir falar...

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ENTREVISTA DO ALÉM

Noel Rosa O entrevistado dessa zoação é figurinha fácil de encontrar no carnaval. Sai em tudo quanto é bloco. Está em todos os bailes. Pensou em folia, olha ele lá. Boêmio incorrigível, malandro por vocação, o Poeta da Vila nunca sai de moda. Passa o tempo, passa escola, mas ele não passa: desfila. O Rato bem que tentou se esconder do cara este ano, mudando temporariamente pra uma toca maneira lá em Antonina. Bastou botar o pé na rua pra comprar um cigarro e lá estava o bacharel Noel de Medeiros Rosa, na esquina, apoiado na parede do boteco pra não cair, mandando aquela: “Seu garçom, faça o favor de me trazer depressa...”. Não teve saída. O jeito foi sentar, pingar uma pro santo e deixar o poeta cantar. Fala, Noel!

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O Rato: Véi, é verdade que você era machista pra cacete? Noel: Meu Deus do céu, que palpite infeliz! O Rato: Calma, poeta. Foi aquela ativista do Femen quem falou... Noel: Êta, mulher indigesta! Merece um tijolo na testa. O Rato: Assim você me complica, véi. Fico mal na fita com a mina. O qué queu digo pra ela agora? Noel: O melhor castigo que eu te dou é não te bater, pois sei que gostas de apanhar. O Rato: Piorou... melhor mudar de assunto. Vamos falar de samba. Você ainda torce pela Vila Isabel? Noel: A vila não quer abafar ninguém, só quer mostrar que faz samba também. O Rato: Sei. E você curte essa levada moderna que mistura samba com hip-hop? Noel: Esse papo de alô, alô, boy, alô, alô, Johnny, só pode ser conversa de telefone. O Rato: E o que você acha dessa onda sertaneja que tomou conta até dos universitários? Noel: Quem acha, vive se perdendo. O Rato: Tô ligado. É verdade que você era pobre de marré de si? Noel: O dinheiro não tá fácil de ganhar. Mesmo sendo um cabra trapaceiro, não consigo ter nem pra gastar. O Rato: Mas pra se divertir não precisa muito... Que tal vir junto com a gente curtir o Psycho Carnival ou a Zombie Walk? Noel: Agora eu te pergunto com que roupa, com que roupa eu vou ao samba que você me convidou? O Rato: Se quiser eu te empresto meu paletó que eu comprei no brechó. Simbóra? Tô windows. Noel: Se não mandei você embora, enfim foi porque me faltou a coragem. Mas se você vai dar o fora, então passe bem, boa viagem!

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O RATO NO SEBO Por MacGregor Fotos: Isabela Fausto

Salve, gente boa! Dessa vez rolou uma inversão de papéis quando nos dispusemos a fazer nossa já tradicional visita mensal a um dos incríveis sebos de nossa bela cidade. Ao invés do roedor ir até o sebo, o sebo veio até o roedor!

Foto: Isabela Fausto

Jovem, antenado e bem falante, o Hamilton - mas pode me chamar de Camarão! - chegou aqui na toca do Rato na boléia de uma komboza pra lá de maneira, recheada de livros, discos e muita história pra contar. O cara não é o Jack, mas vive on the road. Quando cruzar com essa figura nas estradas da vida, não perca a oportunidade de “dar uma volta” nas suas ofertas. Só tem coisa quali da melhor finalidade. Embarque na prosa e boa viagem:


Foto: Isabela Fausto

O Rato: De onde você tirou essa ideia malucaça de cair na estrada com um sebo ambulante? Camarão: Eu já vendia bem pela Internet. Pensando em expandir sem ter que pagar aluguel por um lugar fixo, me veio essa ideia do sebo-móvel. O Rato: E quando você começou a rodar por aí? Camarão: Faz uns quatro meses. É bem recente. Não esperava toda essa repercussão. Achei que era só mais uma ideia... Era pra ser mais planejado, mas quando a gente adesivou a Kombi, um pessoal tirou uma foto e colocou na Internet. Acabou vazando. Daí, pensei: agora vou ter que assumir. Então mandei uma sugestão de pauta pro Alessandro Martins, um jornalista aqui de Curitiba que tem o blog Livros e Afins. Pessoas do Brasil inteiro começaram a mandar recados e a me parabenizar, dizendo que a ideia era legal. O Rato: Como você faz seu trabalho agora que está motorizado? Tem um roteiro? Ou as pessoas chamam você e pedem uma visita? Camarão: Agora temos um roteiro, mas no começo as coisas foram acontecendo sem planejamento. As reportagens foram surgindo, aparecemos na TV e começamos a receber convites. O Rato: Você sai de casa e estaciona num determinado local? Como você decide onde vai expor sua mercadoria? Camarão: A gente está priorizando mais os eventos. Coisas fechadas. O Rato: Tipo, tá rolando uma festa e você cola na balada? Camarão: É. Por exemplo, agora vai ter a Quadra Cultural. A gente vai participar. É uma coisa que já tá pronta. Outro exemplo é o Bazar da Canecaria. É num lugar fechado, já tem propaganda, já tem público. É um evento que já está organizado. Como a gente é móvel, é só chegar e abrir as portas. Também já fizemos alguns bares, como o Parangolé, Dom Max, BelleVille... O Rato: Estaciona na calçada, na frente do bar, e fica por ali de boa?

Camarão: Temos dois sistemas. Quando é evento fechado, temos nossas mesas dobráveis que colocamos pra fora, com as caixas em cima. Quando é na frente de um bar, ficamos na rua, então fazemos a loja dentro da Kombi. Colocamos uma cadeirinha e a pessoa entra. Nesse caso é um atendimento mais personalizado. Na parte de trás tem os vinis, dentro ficam os livros, CDs e DVDs. O Rato: Você abre a porta de trás e a pessoa pode escolher seu vinil à vontade. Camarão: Isso. E temos até uma radiolinha. A pessoa pode escutar o vinil. O DVD também dá pra assistir. Tudo que temos é à pilha, pra termos liberdade e não dependermos de eletricidade, nem de gatos... O Rato: Tudo à pilha, pra não gastar a bateria, né? Já imaginou ter que empurrar a Kombi pra pegar no fim da festa? Heheheh... Camarão: Heheh... Temos até iluminação de emergência, para a noite. O Rato: Massa. E você fica on the road só em Curitiba ou chega a sair por outras cidades? Camarão: Tô querendo fazer essas feiras literárias aí. Pensando em ir pra Parati. A ideia é fazer um planejamento pro ano inteiro, fazer umas viagens. A gente já foi pra Guaratuba. Teve uma festa literária lá, de quase uma semana. Ficamos dentro da universidade. E também fomos pra São Paulo. Um amigo tem lá o Espaço Zebra, que é um espaço de arte. Faz exposições, comidas e tal. Era pra ficarmos uma semana, acabamos ficando mais, porque no caminho o pessoal do Metro ligou, depois a Trip, o Enfoque... O Rato: Uia! Pô, então vocês estão bombando na mídia... Camarão: É, e tudo mídia espontânea. O Rato: Porque é uma ideia original e muito interessante mesmo. Mas então você já tá se espalhando... é uma tendência ir além das fronteiras de Curitiba e até do Estado? / o rato - 39 /


Camarão: Tivemos alguns convites pra ir pro Nordeste, Ubatuba, interior de São Paulo. Devemos fazer algumas viagens. Queremos voltar pra São Paulo este mês ainda, porque lá tem um mercado bom, o pessoal tem bastante essa cultura de... consumir cultura. O Rato: E você aproveita pra cair na estrada e vender. Camarão: Meio que por acaso, juntou um monte de coisa que tá na moda. Não foi pensado, mas aconteceu naturalmente. Esse negócio de vender fora tá na moda, né? Tem cabeleireiro, tatuador... Kombi voltou com tudo. Vinil, as novas gerações estão redescobrindo. Então, parece que tem um plano de marketing, mas foi mais intuição mesmo, heheh.

Foto: Isabela Fausto

O Rato: Fala um pouco do teu público. Quem é que “pega carona” no sebo-móvel?

Camarão: Temos pouco espaço, né? Então procuro fazer um recorte das coisas que eu gosto e isso atrai o pessoal que gosta de ler, que gosta de arte. Nosso pessoal é mais o universitário, esperto, alternativo, que gosta de contracultura, underground... gente que sabe das coisas, em qualquer ramo: MPB, rock, jazz... que curte livros de literatura beat ou os clássicos mesmo... não tem essa de livro de autoajuda, nem de best-seller. Resolvi trabalhar com o que eu gosto, porque é mais fácil vender o que você conhece. O Rato: Tem uma identificação, né? Daquilo que você conhece e aprecia, você fala com mais propriedade e entusiasmo, com certeza. Camarão: O gostoso desse trabalho é isso: conhecer pessoas interessantes, trocar informações, conversar sobre cultura. Você trabalha e se diverte ao mesmo tempo.

II A PRÉZA Moçada, meu camarada Camarão mandou muito bem na sua préza para o Rato. Não se deixou levar pela onda fácil das fórmulas batidas e trouxe logo o Greed, um vinilzão muito massa dos Ambitious Lovers. Lançado em 1988, trata-se de um quitute para iniciados. Biscoito fino que a massa dificilmente há de comer. Sem paciência para o pop digestivo, a dupla americana formada por Peter Scherer e Arto Lindsay é chegada em experimentalismos e misturas inusitadas, como na faixa King, que junta o slap tipicamente anos 80 de um baixão funkaço com uma quase-bateria de escola de samba, arregimentada por Mestre Marçal. Imagine se não rola até uma cuíca. Tem uma força do Vernon Reid, do Living Colour, em algumas faixas. E tem ainda Naná Vasconcelos, o saci encapetado da percussão, que dá aquela mãozinha certeira em Copy Me, Love Overlap, Admit It, Quasi You, e inclusive assina como parceiro a mal-assombrada It Only Has to Happen Once. E quando você pensava que os caras não poderiam ir mais longe, cai o seu queixo com a ousadia de tentarem um flerte com a bossa nova em Caso, com letra em português macarrônico e tudo. Pra completar, os caras ainda encontram cara de pau suficiente pra mandar uma cover de Para Não Contrariar Você, do Paulinho da Viola. Agora me diga, caro leitor: que nota você vai dar pra um maluco que te presenteia um disco desses? Melhor não contrariar e dar logo uma nota 10, concorda? Valeu, Camarão!

Serviço

SEBO-MÓVEL ON THE ROAD | (41) 9912-8584 | sebonaestrada@gmail.com www.facebook.com/SeboMovelOnTheRoad / 40 - o rato /



Música para seus ouvidos

Lemoskine, Toda a casa crua Depois de se debruçar um tempo sobre o ukelelê, instrumentinho coqueluche dos anos dez, Rodrigo Lemos lança o elogiado Toda a casa crua. As guitarras voltaram bem e os computadores, muuuito românticos. Apesar da engenhosa música de abertura, Nessa Mulher, o disco é pautado mesmo pela suavidade e uma poesia confessional que expõe certa dor de cotovelo. Como em muitos trabalhos pop do ano passado, os recursos eletrônicos e ambiências acertam em cheio, dando o clima de experimentação e novidade ao longo do álbum. 2012 | CURITIBA | INDIE POP

Dorgas Hortência facebook.com/ dorgasbanda

Silva, Claridão O lance “bonitinho” é a nova onda. Tem muita gente surfando, e fica difícil identificar os que realmente valem a prancha neste mar de açúcar. Talvez Silva seja um dos quase bons. Mesmo com tanta delicadeza que chega a virar as tripas, esse disco tem uma qualidade pop inegável. Por ser detalhista, Claridão esta acima de seus pares e serve muito bem pra ler umas revistas no dentista. Importante ponderar também que as letras fazem o grande favor de não incomodar, já que se excluem da responsa de realmente dizer alguma coisa. 2012 | ESPÍRITO SANTO | INDIE POP

Father John Misty Hollywood Forever Cemetery Sings fatherjohnmisty. bandcamp.com

À primeira orelhada, esta pode parecer uma canção de raiva gratuita, mas fala mesmo é dos atrasados espíritos de porco que ainda dominam o nosso país. / 42 - o rato /

Foto: Divulgação

Cabeça Dinossauro (Titãs)


Céu, Caravana Sereia Bloom A MTV fez um bom trabalho com o seu programa Show Na Brasa. Um dos melhores episódios foi com Céu e sua banda, provando que ela está entre as melhores artistas que temos hoje no País. Claro que não é tarefa fácil entender o que ela canta, mas tá tudo bem. A dicção da garotona é só um dos seus charmes. Céu é tropicaliente, nunca abre os olhos e sua saia é uma canga. Brazil pra inglês ver e babar, pedir um dengo, torrar em Copacabana. Os inferninhos nordestinos já têm nova trilha sonora. Homens de verdade não resistirão. 2012 | SÃO PAULO | MPB

Mentekpta Do outro lado da Boca Maldita

Going Inside (John Frusciante)

soundcloud.com/ mentekpta

Reabilitado das farras e em profunda jornada ao autoconhecimento, o mais inventivo dos Chilli Peppers conseguiu transmitir os ensinamentos e a desilusão desse período numa gravação espetacular.

tramavirtual.uol.com.br/ mordida

Foto: Divulgação

Mordida Sofá Psicobélico

Alabama Shakes, Boys and Girls Esse disco não é nenhuma novidade, mas é tão bom que devemos reforçar a sua existência sempre que possível. Boys and Girls foi capaz de trazer grandes músicas e dar nova roupagem ao estilo sulista de se fazer rock’n’roll. As influências do gospel americano e do blues são óbvias, mas o disco é basicamente soul e bastante sentimentalismo. A particularidade está na estupenda voz de Brittany Howard, que faz referência tanto à rasgante Janis Joplin quanto aos maneirismos vocais de Amy Winehouse. 2012 | EUA | SOUL ROCK / o rato - 43 /


You’re my best friend (Queen)

Humanish, Humanish Trabalho muito interessante que surgiu em Curitiba em 2011. Mesmo escolhendo alguns caminhos difíceis, a banda não esqueceu, pelo menos em disco, de permanecer assimilável a um público mais amplo. Mas não se engane com a gravação limpa e bem ritmada. Quem já viu ao vivo, sabe que o Humanish transforma tudo numa força gigante e cheia de performance. A faixa “Eu acredito em você”, por exemplo, é muito mais pop em disco do que no show. Por isso mesmo, tem grande potencial pra virar nas rádios.

Foto: Divulgação

Pode parecer uma declaração desavergonhada de amor ao seu melhor amigo, mas a verdade é que o baixista John Deacon compôs esta linda música para sua própria mulher.

2011 | CURITIBA | ROCK

Paul McCartney Junk #youtube #paulmccartney #junk

The Strokes One Way Trigger soundcloud.com/ thestrokes

tUnE-yArDs, w h o k i l l As mulheres deste século continuam dando um banho em termos de sonzeira. O tUnE-yArDs é só mais uma prova disso. Não ligue para a gRafiA EsTiLiZaDa do nome, entregando talvez o vício internerds da rapaziada. O importante é que se trata de um som de muita personalidade. Capitaneados pela simpática e um tanto maluca Merrill Garbus (mais uma amante do ukelelê), eles se utilizam de combinações sonoras pouco convencionais para dar vazão à sua música divertida e questionadora. Para entender melhor do se trata, é imprescindível conferir pelo Youtube as apresentações ao vivo. 2011 | EUA | AFROPOP EXPERIMENTAL

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Cássia Eller Marginal

Vivendo do Ócio Nostalgia

#youtube #cassiaeller #omarginal

#youtube #vivendodoocio #nostalgia

Os Sertões, A Idade dos Metais Estamos sabendo, esta é a milésima capa a parodiar o Sgt. Peppers. Mas não se enjoe assim de primeira que a coisa é boa. Diretamente de Pernambuco, a banda é o novo projeto de Clayton Barros, ex-Cordel do Fogo Encantado. Desta informação já podemos sacar bastante do som que faz Os Sertões. Intercalando rebuscada instrumentação com canções alegres e carregadas de metais (surpresa!), os sertanejos trazem nova perspectiva para a música nordestina, sem forçar a barra para um regionalismo tosco e caricato. 2012 | RECIFE | MPB

Macedônia, Sobretudo A gurizada do Macedônia são os legítimos representantes do som de Seattle na capital paranaense há pelo menos uns 10 anos. Com letras cavernosas e um instrumental fiel ao estilo, lançaram em 2012 o seu primeiro disco, compilando as melhores canções da sua extensa carreira. Mas é difícil saber o real apelo que a banda pode ter nestes tempos, quando o revisionismo crítico ao gênero anda sendo implacavelmente depreciativo. Então, se pra você o grunge não morreu em 94, este disco pode ser o responsável por te fazer tirar a flanela xadrez do armário. 2012 | CURITIBA | GRUNGE

The Jack (AC/DC) Nosso amigo Bon Scott se deu mal nessa jogada. Pensou que a mina era fácil de enganar no buraco, mas no final foi ele quem saiu trapaceado. E com uma bela dose de... gonorreia. Perdeu, playboy! Foto: Ricardo Nunes Produções / Divulgação

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Fotos: 3 - 5 - 6 Luca Valério, 1 -2 - 4 Isabela Fausto

Por Gabriel Fausto

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Estar no Psicodália exige presença de espírito. Demanda fervura, esquecimento e nem um tanto de frescura. Você pode ir pelas bandas. Não precisa engolir tudo de uma vez só. Deixe alguém falar com você, pise numa poça d’água e durma sem lavar o pé. De manhã, você poderá contar de boca cheia que na verdade não lembra o porque nem quando, mas o som estava foda e a Pizzadália (generoso pedaço de pizza vendido full time no festival) te salvou as baterias. / 46 - o rato /


Foto: Lucas Valério

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[3]

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Desde 2004 incentivando a cultura autoral, o Psicodália vem se notabilizando também por trazer de volta grandes nomes do rock brasileiro. Já passaram por estes palcos: Made in Brazil, Ave Sangria, O Terço, Patrulha do Espaço, A Bolha, Traditional Jazz Band, Casa das Máquinas, Tom Zé e mais uma centena de bandas sedentas por apresentar a sua própria música a um público divertido e interessado.

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Mais que isso, o evento se tornou a principal alternativa ao Carnaval para pessoas que preferem partilhar dias de convívio pacífico, em meio a muita arte e natureza verdejante. Pela 2ª vez, a organização optou por fazer uma edição de Ano Novo, o que deixou o evento com 6 dias e muito mais atrações. A sacada em escolher lugares fora da rota dos intermináveis trânsitos de feriado é outro fator a ser elogiado. Se há 14 anos o Psicodália tem sido um festival itinerante dentro do sul do Brasil, com edições na Lapa, Antonina e São Martinho, nos últimos tempos a casa é mesmo a Fazenda Evaristo, em Rio Negrinho – SC. Lugar de araucárias, lagos e, pelo menos uma vez por ano, da música boa que não se encontra mais nas rádios. / o rato - 47 /


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Vou começar de trás pra frente e me perdoem a falta de cronologia: Tivemos, por exemplo, nada menos que Hermeto Pascoal, aquele senhor geniozinho que hoje reside em Curitiba. No show da tarde, fez uma plateia lotada cantar em coro, homenageou Gonzagão e conversou com os mortos. Tocou água, vento. Até lama. Não pude ver todas as bandas que queria. Normalmente o que acontece é que você pensa em ver Leandro Lopes e a Gaita Mágica e sabe que será demais, só que está numa rodinha de violão ou num churrasco na beira do lago. Ou está dormindo porque emendou o nascer do Sol com uma descida na Tirolesa e precisa estar vivo para a noite. Ou você precisa estar numa coletiva de imprensa com os Mutantes:

“Não existia naquela época o nome Progressivo. Eu sei lá que diabo é isso. Mas o Tudo Foi Feito Pelo Sol é muito sério, verdadeiro. O festival Psicodália é muito verdadeiro”. Sérgio Dias. Com a formação original que gravou o disco Tudo Foi Feito Pelo Sol, os Mutantes deram uma aula de técnica e sentimento, detonando o repertório desta clássica bolacha na íntegra. Teve gente chorando mais do que em parto de gêmeos. Aguenta, coração! [8]

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Logo após, subiu ao palco a Bandinha Di Da Dó, com a sátira Tudo Foi Feito pelo Clown. Música de palhaços. Todos juntos numa lama só, o público pulava e mudava de roda, de gole, de sorte. Devo dizer que não sou chegado na somatória rock + circo, mas bah... que apresentação guris, memorável! O refrão “doce, doce, doce, doce” é o mais próximo que se pode chegar dum culto psicodélico/carismático. Se formos falar só de música, temos que dar a Alceu Valença e seu infalível repertório o troféu do certame. Combinando canções dos fundamentais lp’s Espelho Cristalino e Vivo, o cabeludo foi danado pra catende como um Cavalo de Tróia enfurecido. Prometeu e entregou. A virada de ano novo ficou reservada para a banda que mais cresceu junto ao festival nestes anos: os piratas da Confraria da Costa. A organização não deixou por menos e providenciou aquela chuvarada de fogos para a meia-noite. E o réveillon fechou com o rock divertido e bem tocado do Cadillac Dinossauros. Na madrugada, a boa era o Palco dos Guerreiros, que abrigou doideras instrumentais como The Skrotes e a curitibana Goya, além do mais puro rock’n’roll das bandas O Trilho e Pallets. Minha banda também estava lá! Mas fomos desfalcados de uma guitarra, o que dá ao show do Pão de Hamburguer uma nota 7.

É claro que nem tudo foi perfeito. As quedas no sistema do caixa trouxeram contratempos, como as filas na entrada do festival, mas nada que o pessoal esquentasse a cabeça. A história do Psicodália foi feita com as suas próprias pernas, e os frequentadores sabem disso. A relação entre público e organização é tão amistosa, que eles mesmos se defendem entre si e resolvem na cerveja. Uma zona saudável e festejada!

[11]

No mais, é preciso agradecer aos grandes Klaus Eira, Ju Henriques, Xande Osiecki e todos os demais responsáveis pela moral de ter mantido este evento ao longo de tantos anos, fundamental para a nossa vida cultural e inspirador de tantos novos projetos musicais aqui pelo sul. Que venha o Psicodália da Copa! / o rato - 49 /

Fotos: 7 - 8 -10 Luca Valério, 9 - 11 Isabela Fausto

Também se deve louvar o Palco do Sol, que voltou a se posicionar numa área confortável para as pirações da tarde. Ali, bandas como Velho Bandido, Davi Henn e Cabeçote mostraram shows ensaiadíssimos e com o timing perfeito para o horário.


Papo de Cinema

RUBY SPARKS : A NAMORADA PERFEITA Direção: Jonathan Dayton e Valerie Faris, Estados Unidos , 2012

Retorno do casal Jonathan Dayton e Valerie Faris de um hiato de seis anos. Depois de terem se tornando um hit mundial, ganhado um Oscar e transformado o indie em grife com Pequena Miss Sunshine, Ruby Sparks é um prato cheio para o público que adora esse cinema independente afetado que os americanos fazem em proporções industriais hoje em dia. Lançado em home vídeo no começo de fevereiro, o filme trata de um pequeno conto de amor em tons surreais, onde um jovem escritor consegue, sem bem saber o porquê, dar vida e controlar através da escrita a personagem do título, pela qual é apaixonado. O casal Paul Dano e Zoe Kazan funciona na medida do excêntrico e do disfuncional que o segmento pede, mas o grande problema vem da irregularidade do roteiro que tropeça no ato final com as soluções de sempre do gênero. Sobra fofura e falta honestidade.

CÉSAR DEVE MORRER

Direção: Paolo Taviani e Vittorio Taviani, Itália, 2012 Rompendo alguns limites entre ficção-documental e cinema-teatro, o novo filme dos irmãos Taviani parte de um projeto que, a princípio, fora concebido para documentar os ensaios de um coletivo de teatro formado por detentos de uma prisão de segurança máxima de Roma. Superando o tom elogioso da arte enquanto forma de redenção que se espera de um filme como esse, os diretores criam uma brilhante reflexão dos ensaios da peça Julio César de Shakespeare, relatando o motim que eliminou o tirano, com as angústias e a trajetória violenta, e em grande parte das vezes sem volta, que levaram seus personagens aonde se encontram: uma penitenciária cujos espaços se transformaram numa sombria e selvagem Roma à beira da revolução.

MARINA ABRAMOVIC: A ARTISTA ESTA PRESENTE Direção: Mattew Akers, Estados Unidos, 2012

Eficiente enquanto um registro sobre a retrospectiva da avó da arte performática, a ioguslava Marina Abramovic, no Museu de Arte Moderna em Nova Iorque, o grande problema do documentário dos americanos Matthew Akers e Jeff Dupre reside justamente em cair nos inúmeros chavões dos documentários elogiosos e pouco dimensionais sobre artistas. O filme perde a chance de descobrir a personagem rica que tem em mãos, ao não utilizar recursos de linguagem mais rebuscados, permanecendo quase sempre em entrevistas e material de arquivo. E só funciona mesmo por Marina ser uma dessas figuras interessantes por si só.

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Já viu?! Ah, não?! Joga no youtubis! ANACRÔNICA – TARDES EM GUADALAJARA

http://youtu.be/c6EmxZ3Z7tI

CABES - O CÉU PARECE O MAR

http://youtu.be/6hBj0A3dMtk

WANDULA - LE FLÂNEUR

http://youtu.be/CUawDsxlW1E

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www.romatiras.blogspot.com.br

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Essas sĂŁo algumas das belezuras que vocĂŞ tambĂŠm encontra em nosso site ...

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