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ENTREVISTA
OLAVO FRANCO BOTTINO
O AVANÇO DOS CONFINAMENTOS
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ARQUIVO PESSOAL
As propriedades dedicadas à pecuária de corte intensiva estão cada vez mais profissionais e com investimentos crescentes em técnicas modernas, como confinamento e semiconfinamento. É o que garante o médico-veterinário, Olavo Franco Bottino, coordenador técnico da expedição Confina Brasil, organizada pela Scot Consultoria. Ele vem rodando o Brasil nos últimos anos para avaliar como os confinadores têm feito a gestão do negócio, dos indicadores zootécnicos, da nutrição, do uso de tecnologia e equipamentos. Para Bottino, nos próximos anos o número de confinamentos será muito maior, o que exige de quem quer atuar nesse segmento ou já atua um bom planejamento e uma gestão eficiente. Em entrevista à Pecuária Brasil, ele fala do cenário para 2022, dos avanços alcançados e desafios.
Pecuária Brasil- O confinamento continuará sendo um bom investimento em 2022, em que pese todos os últimos acontecimentos, como alta dos insumos, seca no Sul, conflitos internacionais? E que balanço faz dos confinamentos em 2021?
Olavo Bottino- Tudo vai depender da gestão. Nas visitas que realizamos de norte a sul do Brasil, vimos que cada confinamento tem um desempenho diferente, com alguns apresentando rentabilidade e outros não. A forma como é feito ou utilizado dentro do negócio é que determinará se o investimento é bom. Percebemos que os confinadores têm se profissionalizado muito no Brasil, e nos últimos ano isso ficou muito evidente. Antes, era uma alternativa apenas para aproveitamento de preço de boi magro e de grãos em baixa. Hoje, existem vários confinamentos extremamente profissionais, inclusive com alguns fazendo prestação de serviço, que são chamados de boiteis, mas na verdade atuam como parceiros dos pecuaristas na engorda do gado. São confinamentos que trabalham com acompanhamento diário de mercado financeiro, fazem hedge, travamento na bolsa, seja na B3 ou nos Estados Unidos, parcerias com os pecuaristas, travamento do grão para garantir um preço fixo na produção da arroba. O planejamento bem executado é que faz a diferença em um confinamento com rentabilidade garantida. Porém, é preciso deixar claro que nem tudo é bom para todo mundo. Não podemos generalizar. Para saber se o confinamento é um bom negócio, o produtor precisa primeiro definir o que é melhor para seu próprio negócio. Ele tem de conhecer os pontos fortes e os fracos da sua propriedade, ter objetivos bem claros, e só assim decidir se investir em confinamento será realmente bom para ele.
Pecuária Brasil- Isso vai exigir uma mudança de percepção sobre a pecuária enquanto negócio?
Olavo Bottino- Com certeza. Como no confinamento o animal tem hora para sair, ou seja, precisa estar preparado para o abate no período certo, se o produtor não tiver um bom planejamento, ele perderá esse tempo de abate e ainda a oportunidade de fazer dinheiro. A verdade é que nem sempre a pecuária foi vista como uma atividade produtora de carne. Por volta das décadas de 80 e 90, ela era focada mais na quantidade de cabeças, encarando o boi como uma reserva de capital. Mas isso vem mudando. A pecuária de 2022 é vista como uma atividade altamente profissional na produção de carne, basta ver os números do segmento e seu desempenho no mercado externo, liderando as
exportações. E como tal, precisa atender várias regras internacionais para alcançar mais mercados. Foi o caso da China, que importa somente carne de animais jovens. E o confinamento, apesar de não ser o único meio, é uma grande ferramenta para atingir esses objetivos e que está vindo para agregar na nossa pecuária de corte.
Pecuária Brasil- O Brasil é um país que confina pouco se comparado a seus concorrentes internacionais. Essa realidade tende a mudar nos próximos anos e por quê?
Olavo Bottino- Atualmente, no país, 20% do gado é confinado, o oposto dos Estados Unidos. Nos próximos 10 anos, os confinamentos tendem a aumentar bastante no Brasil por questões de mercado. Hoje, enquanto commodity, a carne brasileira é exportada para inúmeros países, mas à medida que passarmos a exportar para mercados mais exigentes, como ocorreu em relação a forma como o milho é ofertado no cocho. O grão ainda é muito desperdiçado por falta de gestão eficiente dessa fonte de carboidrato. Ele precisaria estar mais úmido, mais quebrado, mais esmagado, misturado com outros ingredientes e em proporções corretas, ou seja, precisa planejar melhor essa parte. Por exemplo, se o produtor ofertar o grão reidratado já vai melhorar bastante o aproveitamento pelo bovino.
com a China, mais precisaremos dos confinamentos. E até mesmo para atender o mercado interno, pois a demanda por carne premium vem crescendo bastante. E o Nelore já provou que vai muito bem em confinamento, em muitos casos, com desempenho superior ao de raças taurinas, pois temos linhagens excelentes. Vale destacar ainda a questão ambiental, já que o bovino tem sido acusado de provocar o efeito estufa. No confinamento, por conta do ciclo reduzido e da dieta, há uma menor emissão de metano.
Pecuária Brasil- Os resultados zootécnicos apresentados pelas propriedades visitadas mostram que têm melhorado a cada edição do Confina Brasil?
Olavo Bottino- Tem havido uma eficiência maior e os números do ganho médio diário (GMD) comprovam isso. Em média, o GMD das fazendas analisadas em 2021 ficou em torno de 1,450 kg, bem acima da média nacional a pasto, que é de 0,5 kg. Por outro lado, uma das coisas que precisa melhorar nos confinamentos brasileiros é
Pecuária Brasil- Quais as previsões para o confinamento em 2022?
Olavo Bottino- Quando o assunto é mercado pecuário, fazer qualquer previsão é difícil, pois existem vários fatores que influenciam. É esperado um crescimento, pois há muito mercado para atender. Basta ver o tanto que os três maiores frigoríficos do país vêm investindo em confinamento nos últimos anos. Agora, como o preço do bezerro começa a cair, o que consequentemente leva a maior abate de matrizes e a uma redução do preço do boi gordo, é esperado que confinamentos pequenos, sem planejamento ou sem capacidade de troca saiam do mercado, ficando aqueles mais
profissionais. Nessa hora é que surge oportunidade para quem quer jogar sério.
Pecuária Brasil- Qual a expectativa para o Confina Brasil 2022?
Olavo Bottino- Estamos iniciando os planejamentos das rotas, mas vamos visitar áreas que não de sustentabilidade do negócio, adotando práticas para melhor aproveitamento de dejetos, mais treinamento para as equipes, pois mão de obra qualificada tem sido um problema. Além disso, a idade de abate dos animais vem caindo.
fomos nos anos anteriores. Devemos começar as visitas a partir de maio e elas devem ir até setembro. A expectativa é ampliar o número de locais visitados. O que temos notado nas últimas edições é que os confinamentos estão evoluindo. A preocupação com bem-estar animal vem crescendo, assim como a parte