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GENTE
Vacinar é diferente de imunizar
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MARCUS REZENDE
Consultor de Empresas do Agronegócio www.marcusrezende.com Insta: marcus.rezend
Sim, é exatamente isso! Para o animal ser imunizado é necessário que a vacina seja aplicada sob condições ótimas e provoque uma resposta competente do organismo animal. Não basta colocar o produto debaixo do couro do boi, é preciso fazer com excelência, em animais hígidos, sem estresse e bem nutridos.
As vacinas são uma “provocação” ao organismo, que identifica o do agente agressor (não próprio) e cria de memória imunológica para que possa ter uma resposta rápida e específica contra a doença em questão. Diferente do que muitos imaginam, as vacinas não são a certeza de que os animais estarão protegidos contra determinada doença, e por isso porque a verdadeira proteção somente acontecerá se o organismo animal reagir adequadamente ao antígeno.
Para uma boa resposta imunológica é necessário que o animal esteja saudável, bem nutrido e livre de estresse. Justamente por isso que as bulas de vacinas vêm com a recomendação de “não vacinar animais com febre, estressados ou enfermos”. O motivo dessa restrição se dá pelo fato de que organismos animais sob essas condições podem não responder da maneira adequada, e a formação de anticorpos poderá não suficiente para conferir a devida proteção.
Vacinas com vírus inativado “morto”
As vacinas com vírus inativado, ou como preferem alguns: com vírus morto; contêm um antígeno incapaz de se replicar no organismo animal e não induzem imunidade celular e por isso tem período de proteção mais curto. Essas vacinas exigem o reforço vacinal entre 21 e 30 dias após a primeira dose, e somente podemos dizer que o animal está efetivamente protegido após passado o tempo de resposta à dose de reforço. Essas vacinas exigem maior quantidade de antígeno e até mesmo de porções estruturais do vírus para que o sistema imunológico identifique o agente agressor e crie a resposta imunológica contra doença.
Muitos defendem o uso das vacinas inativadas devido sua segurança frente as vacinas de vírus vivo modificado ou atenuados termossensíveis, o que no passado poderia até ter alguma relevância, mas atualmente a tecnologia das vacinas está tão avançada e os relatos de problemas causados pelas vacinas atenuadas são tão raros que penso ser esse um ponto superado.
ZONA RURAL
Vacina de vírus vivo modificado e atenuado termosenssíveis
As vacinas com vírus vivo modificado ou atenuado termossensíveis são as únicas com capacidade de promover dois tipos de imunidade, a celular e a humoral. A primeira que identifica e ataca as células infectadas, impedindo a replicação do agente agressor no organismo animal, e a segunda; que produz anticorpos circulantes que vão neutralizar o agente agressor na corrente sanguínea.
Essas vacinas contêm uma forma atenuada (enfraquecida) do um vírus, que permanece vivo, mas incapaz de provocar a doença clínica. A resposta imunológica induzida por essas vacinas é competente e duradoura, ainda assim não é capaz de provocar a doença clínica. Em animais primovacinados também são necessárias duas doses, com intervalo mínimo de vinte e um dias, e após esse período é necessário apenas o reforço anual.
A todo momento destaco a vacina com vírus vivo atenuado termossensível, mas o que é isso? Trata-se da evolução da vacina com vírus vivo modificado, com capacidade de promover uma resposta imunológica semelhante à do vírus vivo atenuado, mas com a segurança de se poder ser feita em vacas prenhes.
Como ponto de atenção temos o fato de as vacinas vivas, tanto atenuadas como as termossensíveis, serem mais sensíveis à variação de temperatura; exigindo maior cuidado com a armazenagem, transporte e manejo de curral. Durante a vacinação a equipe deve ficar atenta para o tempo de exposição da pistola de vacinação ao ambiente, que deve ser o menor possível. Sempre que o fluxo de vacinação for interrompido, a pistola com vacina deverá ser devolvida à caixa térmica para a devida refrigeração e proteção à luz solar direta.
Considerações
Precisamos entender que todas as tecnologias de vacinas disponíveis no mercado brasileiro são aprovadas pelo MAPA (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) e isso já garante que são competentes para induzir resposta imune nos animais. O alerta fica para a escolha correta da vacina para cada desafio enfrentado. Há sempre uma vacina e uma tecnologia mais adequada para auxiliá-lo no enfrentamento do seu desafio sanitário. Conver-
se com seu veterinário, com o seu lojista de confiança e contemple a diferença entre as tecnologias na hora de elaborar o calendário sanitário da sua propriedade. E lembre-se de que o mais importante é não deixar seu rebanho sem vacinar; a vacina é o seguro dos seus animais.
#pecBR GENTE
PECUARISTAS . ESPECIALISTAS . CRIADORES
Criadores
A CONSAGRAÇÃO DA FAZENDA FUNDÃO
A consagração da
Fazenda Fundão
WELLINGTON VALERIANO E MIRELLY MUNIZ
O criatório entrou para a história da raça Gir Leiteiro ao quebrar o recorde mundial de produção de leite em torneio leiteiro e de valorização de um animal
em nas previsões mais otimistas do criador mineiro Roberto Horta, ele chegou a vislumbrar uma retomada às exposições tão exitosa. Há pouco mais de um ano, quando iniciou os preparativos de suas vacas para o torneio leiteiro da 87ª ExpoZebu, ele acreditava que elas teriam potencial para atingir uma produção média capaz de garantir uma premiação. “Na fazenda, a vaca Iluminada chegou a produzir 53 kg/N
dia, com um manejo direcionado para a competição, mas sem uso de hormônio. Isso nos fez acreditar que ela chegaria a uma média de 70 kg/dia na ExpoZebu. Nunca imaginei que ela quebraria o recorde da raça”, lembra o médico-veterinário Roberto Horta, que comanda a Fazenda do Fundão, localizada no município de Pains/ MG, há 220 km da capital mineira Belo Horizonte.
Filha do consagrado touro Gir Leiteiro Teatro, Iluminada Teatro FIV do Fundão foi além do esperado. Alcançou a impressionante marca de 80,150 kg/leite/ dia, sagrando-se Grande Campeã do Torneio Leiteiro da 87ª ExpoZebu. Com isso, tornou-se a nova recordista mundial da raça, superando o recorde anterior de 77,800 kg/leite/dia, registrado na Exposição Nacional do Gir Leiteiro (Expogil), em 2017. Um segundo recorde foi quebrado por Iluminada na ExpoZebu. Durante leilão, ela teve metade de sua posse comercializada pelo valor de R$ 915 mil (valorização total de R$ 1,830 milhão) para a Fazenda Mutum e a Estância K.
Por trás do título conquistado, está um trabalho de seleção da raça que vêm de muitas décadas, alicerçado em tecnologias e em uma base genética provada. “Iluminada vem de uma família de campeãs, todas crioulas da Fazenda Fundão. Sua avó, Nogueira do Fundão, foi Grande Campeã Nacional de 2006. A mãe América do Fundão foi Grande Campeã do Torneio Leiteiro da Exposição de Franca, em 2013.
No dia a dia da fazenda, Iluminada, de oito anos de idade e quatro partos, sendo três lactações encerradas, vem mostrando ser uma excelente mãe, tanto de bezerros Gir Leiteiro quanto de Girolando. Em sua última lactação, atingiu 10.300 kg/leite em 305 dias. A expectativa é de que ela encerra sua quarta lactação acima dos 12 mil kg/leite.O animal possui o PTA Leite de 684 kg de leite. “Esse título vem de um planejamento criterioso e feito com bastante antecipação. Quando decidi o acasalamento que resultou na Iluminada, busquei um touro capaz de melhorar o sistema mamário da mãe. Por isso, optei pelo Teatro da Silvânia, que tem uma grande capacidade de transmissão de produção de leite. Com isso, consegui aliar produção de leite e beleza racial”, destaca Roberto.
Segundo o médico e criador Dr. José Ricardo Fiuza Horta, fundador da Fazenda Fundão e pai de Roberto Horta, ganhar na ExpoZebu tem um sabor especial. “É a maior exposição de zebuínos do mundo. Já tivemos oportunidade de fazer outras campeãs, em 1997, 2006 e duas reservadas campeãs em 2005 e 2011, mas nada se compara ao feito atual. A Iluminada é um presente de Deus e meu filho soube identificar todo esse potencial dela e apostar em sua vitória na ExpoZebu”, emociona-se José Ricardo Fiuza Horta.
Apesar de hoje dedicar-se mais à medicina e ir à fazenda para momentos de lazer, foi ele que iniciou há quase 40 anos o plantel puro. Na época, a aposta era no Gir padrão, raça que já vinha sendo criada por seu tio
Sidnei Adolfo Costa, em Pains, e com o seu auxílio.
ROBERTINHO E JOSÉ RICARDO NO MOMENTO DA PREMIAÇÃO
ROBERTINHO E DR. JOSÉ RICARDO COM OS NOVOS SOCIOS FELIPE, BRANQUINHO, FRED, BRUNO E LÉO “Meu tio faleceu justamente no ano em que o Roberto nasceu. Dois anos depois, comprei uma fazenda para dar continuidade ao trabalho de seleção dele. Era um trabalho com foco maior em padrão racial. Em 2002, por influência do grande selecionador de Gir Leiteiro, Gabriel Andrade, decidi direcionar a seleção para o Gir Leiteiro. Foi justamente na época em que houve a separação da raça por aptidão, conforme determinação da ABCZ”, lembra Fiuza Horta.
A fazenda passou a fazer controle leiteiro oficial do rebanho e a utilizar nos acasalamentos touros provados, como o Sansão e outros provadamente mais leiteiros. Com o tempo, foi incorporando outras características em seus critérios de seleção visando produzir um Gir Leiteiro completo e longevo. “A longevidade é extremamente importante em uma raça leiteira, assim como bons aprumos, bom úbere, dentre outras características, mas sem deixar de lado o padrão racial. A vaca precisa dar muitas crias em sua vida produtiva, pois isso é que gera rentabilidade para o negócio”, explica Roberto. A Fundão ainda participa como rebanho colaborador do Teste de Progênie da raça, além de ter touros avaliados pela prova, e do PMGZ Leite. Também genotipa todo o rebanho. “Apesar de ser uma ferramenta nova e que deve ser combinada com as mais tradicionais, o genoma futuramente deve trazer grandes saltos genéticos para a raça. Além disso, procuramos utilizar touros jovens, em teste, para sair lá na frente futuramente”, destaca o criador. Segundo Roberto Horta, a raça evoluiu muito nos últimos anos e o próprio torneio mostra isso. Na ExpoZebu, concorreram vários animais de primeira cria, com úberes sensacionais, e que passaram da média de 60 kg/dia, algo que seria impossível antigamente. A Fazenda Fundão também seleciona a raça Girolando, produzida com base na genética Gir Leiteiro que seleciona. Nas competições de Girolando, já conquistaram 18 melhores Fêmeas Jovens e várias Grandes Campeãs. A
seleção segue a mesma linha da raça zebuína, que é a longevidade dos animais. “Agora, estamos preparando o time das duas raças para a Megaleite 2022, em junho. A Iluminada estará lá com certeza”, garante.
Para José Ricardo Fiuza Horta, os resultados alcançados pelo criatório mostram que a gestão de seu filho está no caminho certo. “Desde que ele assumiu a fazenda, a qualidade do rebanho melhorou muito, pois ele é um estudioso da raça e gerencia tudo como uma empresa. “Por conta da minha dedicação à medicina, não teria tempo para fazer isso. Antes a fazenda era um hobby, mas, sob a administração do Roberto, tornou-se um negócio rentável. É uma vocação que ele tem desde criança”, lembra o pai.
Nessa tarefa, Roberto conta ainda com a ajuda da mãe Maria Elizabeth. É ela quem batiza todos os animais e foi quem escolheu o nome da Iluminada. “Cada ano trabalhamos com uma letra para definir o nome dos animais. Nós três fazemos uma lista e minha mãe escolhe qual nome batizar cada bezerra”, conta Roberto.
MOMENTO DA COMERCIALIZAÇÃO RECORDE DA ILUMINADA
ILUMINADA TEATRO FIV DO FUNDÃO – JRR 913
Teatro da Silvania x América FIV Fundão (C.A.Sansão) Recorde Mundial de produção de leite em torneio leiteiro e de valorização
Maestro das pistas
Referência como jurado, Luiz Martins Bonilha Neto acredita que pista e campo estão em constante evolução e precisam estar sempre em sintonia
Uma das figuras tradicionais das pistas de julgamento, Luiz
Martins Bonilha Neto, segue contribuindo para o avanço das raças zebuínas. Aos 73 anos de idade, foi um dos profissionais responsáveis pela escolha dos campeões da raça Nelore Mocho na 87ª ExpoZebu.
Com um olhar calibrado para identificar animais equilibrados, capazes de reunir racial e desempenho, Bonilha acredita que a pista vem em constante evolução. “No início da minha atuação como jurado, valorizava-se muito o tipo e a caracterização racial. Havia a necessidade de padronizar uma determinada raça. À medida que a pecuária de corte foi priorizando as características de desempenho, os direcionamentos de um julgamento também mudaram. E não podia ser diferente. Havia a necessidade de melhorar outras qualidades, como fertilidade, por exemplo. Antes, o touro começava a servir aos quatro anos. Hoje, essa idade cai pela metade e temos reprodutores jovens de excelente qualidade no mercado”, explica Bonilha. Formado em Engenharia Agronômica, com especialização em Zootecnia, pela Esalq, ele tem vasta experiência nos dois universos, pista e melhoramento. Em 2022, está completando 50 anos de profissão, com uma trajetória pautada no melhoramento genético de bovinos. De família de pecuaristas, iniciou em 1973 como pesquisador na Estação Experimental de Zootecnia de Sertãozinho/SP do Instituto de Zootecnia (IZ), por onde atuou por 40 anos. “A expansão da agricultura levou a pecuária para solo de pior qualidade, mas, felizmente, temos o zebu, que produz a pasto e a um custo menor. O zebu evoluiu demais. Já vi muita moda na pecuária passar, mas o gado produtivo nunca perde mercado”, avalia. Bonilha vê a predominância do zebu na pecuária brasileira como resultado dos constantes investimentos dos criadores e pesquisadores em ferramentas de seleção. “Na época do meu avô, que era pecuarista, o zebu não podia entrar nas exposições realizadas no Parque da Água Branca, em São Paulo. Só as raças europeias participavam dos eventos. Já na minha época de estudante na Esalq o zebu era preterido nos cruzamentos”, lembra Bonilha. Segundo ele, as pesquisas sobre eficiência alimentar, fertilidade e acabamento de carcaça vêm comprovando o potencial das raças zebuínas para produção de carne de qualidade.
E ele vem atestando isso em suas propriedades, onde seleciona Nelore em duas realidades bem distintas. No Norte de Minas, cujo clima é marcado por temperaturas mais elevadas e menor índice pluviométrico, produz touros Nelore para todo o Brasil. A Fazenda Serra Morena fica no pequeno município de Pedra de Maria da Cruz, banhado pelo rio São Francisco. “A fertilidade do solo é boa, mas como as chuvas são irregulares, é preciso investir em pastos mais tolerantes à seca e que rebrotam bem. É preciso ter uma boa gestão do negócio, um bom planejamento nutricional, e uma genética de qualidade para garantir maior rentabilidade”, orienta.
A outra propriedade fica no estado de São Paulo e, por estar em uma região de maior índice pluviométrico, o manejo do gado é diferente do aplicado no Norte de Minas. Bonilha cresceu em terras paulistas, é natural de Tietê, município próximo à Piracicaba, e sempre acompanhou o pai e o avô na lida da fazenda.
Além do trabalho como criador, pesquisador do IZ e jurado, também é técnico de registro credenciado pela ABCZ. Casado com a engenheira agrônoma Maria Alice Figueiredo Martins Bonilha, não pretende, por agora, parar de atuar na pecuária, seja no campo ou nas pistas. “Pretendo continuar julgando, claro que hoje, por conta das minhas atividades nas fazendas, não tenho tanto tempo para participar das exposições. Mas quero seguir atuando como jurado, independentemente do tamanho da exposição, pois para mim o que importa é o efeito do evento, ou seja, o quanto ele vai contribuir para o fomento do zebu”, destaca.
Segundo ele, a ExpoZebu deste ano foi uma retomada em alto nível. “Os criadores continuaram preparando seus animais, apesar da pandemia, e a pista da ExpoZebu provou isso. Quem vai para Uberaba só leva o melhor do seu plantel porque sabe que a competição tem um nível muito alto”, conclui Bonilha.